sexta-feira, 16 de julho de 2010

CAMPO TRANSCENDENTAL - BERGSON



Bergson:
Presença e Campo Transcendental


Henri Bergson (1859-1941) desenvolve em seu pensamento teorias sobre a vida, a consciência, a inteligência e a criatividade. Considero que a sua contribuição é importante para a formulação de uma nova concepção do sentido de presença. A sua teoria da presença e campo transcendental não poderia deixar de ser mencionada aqui.

Numa época em que o avanço e o êxito das investigações científicas ditas positivas pareciam tornar obsole­tas as indagações e sobretudo a forma de resposta filosóficas, Bergson exalta e inova a metafísica. Ao mesmo tempo, pretende ampliar o domínio da investi­gação psicológica, propondo - para além das rotinas e dos mecanismos asso­ciativos do "eu superficial" — a sonda­gem do "eu profundo", duração pura e irreversível, permanente mudança quali­tativa, irrepetição contínua.

(SILVA, 1974:VI)
Bergson foi, portanto, uma voz da metafísica em meio à força da escola positivista que era vigorosamente defendida na segunda metade do século XIX.

Influenciou a formação de uma fenomenologia francesa. Na apresentação da obra "Presença e Campo Transcendental" de Bento Prado Júnior — um dos principais estudioso do pensamento bergsoniano no Brasil — Marilena Chauí, afirma:

Lendo este livro, perceberemos que, afinal, o que na França chamou-se existência deve menos ao Dasein heideggeriano e muito mais à duração bergsoniana; o que ali chamou-se força está muito mais próximo do impulso vi­tal bergsoniano do que da vontade de potência nietszcheana.

(PRADO JUNIOR, 1989:13)

Foi através de uma pesquisa na Internet, em uma livraria virtual, que cheguei ao livro de PRADO JUNIOR e a partir dele senti necessidade de ler os livros de Bergson.

Essencialmente, Bergson identifica uma presença interna, diferente da presença corpórea externa. Refere-se que há um campo transcendental de imagens que cria uma subjetividade da matéria quando se realiza a percepção da própria matéria.  Há no homem um movimento de captação da presença e apropriação da mesma em um processo de interiorização (ou subjetivação) para trazê-la para estar junto a si. [1]

Bergson chama a essa interioridade e o processo de interiorização de duração.  É através da duração que se forma a consciência "como uma representação no campo transcendental das imagens" [2]. Essa interiorização cria na consciência do homem uma presença interna — um campo transcendental — a percepção da própria consciência. Ou seja:

O campo transcendental das imagens nos faz ver o nascimento da subjetividade na corporeidade interiorizada ou numa presença corporal ou "o surgimento, no seio da matéria, da percepção da própria matéria".

(PRADO JUNIOR, 1989:21)
Para Bergson a presença interna é essencialmente subjetiva. Entretanto, o homem — ao interpretá-la e incorporá-la a sua consciência, ou seja, em sua percepção — cria tal campo transcendental de imagens, ou seja, um campo transcendental. Ao ter a percepção de uma consciência, ao internalizar essa consciência, o homem incorpora a subjetividade em uma presença corporal. Corporifica o subjetivo.

O pensamento de Bergson dá fundamento à chamada "filosofia da vida". Procura explicar como a vida consciente acontece.

Identifica a dimensão do mundo composto de sólidos extensos, homogêneos e com delimitações claras: uma dimensão externa. Uma dimensão essencialmente física que é o domínio da inteligência. A inteligência, no pensamento de Bergson, é uma orientação para a ação no mundo e o mundo é essa dimensão exterior.

... a inteligência humana sente-se à vontade entre os objetos inertes, mais especialmente entre os sólidos, onde a nossa ação encontra o seu ponto de apoio, e a nossa indús­tria os seus instrumentos de trabalho; que os nossos concei­tos foram formados à imagem dos sólidos; que a nossa lógi­ca é, sobretudo, a lógica dos sólidos; que, por isso mesmo, a nossa inteligência triunfa na geometria, na qual se revela o parentesco do pensamento lógico com a matéria inerte, e onde a inteligência só tem de seguir o seu movimento natu­ral, após o mais leve contacto possível com a experiência, para ir de descoberta em descoberta com a certeza de que a experiência a segue e lhe dará invariavelmente razão.

(BERGSON, 2001:7)
A inteligência é uma faculdade de sobrevivência e segurança material. Uma faculdade voltada para a captação de fenômenos, mas que é incapaz de compreender a vida. Porque a vida não está dentro da lógica física da matéria.

Constato em primeiro lugar que passo de um estado para outro. Tenho calor ou tenho frio, estou alegre ou es­tou triste, trabalho ou não faço nada, olho o que está à minha volta ou penso em outra coisa. Sensações, senti­mentos, volições, representações, são essas as modifica­ções entre as quais minha existência se divide e que a co­lorem alternadamente. Portanto, mudo sem cessar. Mas isso não é tudo. A mudança é bem mais radical do que se poderia pensar num primeiro momento.

(BERGSON, 2006b:1)
Há, entretanto, uma outra dimensão. Uma dimensão interna onde podemos observar em nós mesmos uma realidade completamente diferente. Uma realidade qualitativa composta de elementos heterogêneos que não podem ser separados uns dos outros, pois se interpenetram. Uma realidade interior livre das leis da física. Sem espacialidade mensurável, mas que, entretanto apresenta uma duração totalmente dissociada das ciências da natureza. Uma duração sem tempo definido e que está em constante fluir.

... a multiplicidade dos estados de cons­ciência, considerada em sua pureza original, não apresenta nenhuma semelhança com a multiplicidade distinta que forma um número. Haveria aí, dizíamos, uma multiplicidade qualitativa. Em suma, seria preciso admitir duas espécies de multiplicidades, dois sentidos possíveis para a palavra distinguir, duas concepções, uma qualitativa e a outra quantitativa, da diferença entre o mesmo e o outro.

(BERGSON, 2006b:12)
Essa dimensão interna é o domínio da intuição. Só através dela é que podemos entender a duração-qualidade: aquilo que é imensurável. Através da intuição é possível entender o campo transcendental das imagens e ser presença nele

Há, pois, sintetizando esse pensamento de Bergson, dois domínios:

·         o domínio da matéria que é dimensional, rígido onde nós experimentamos a nossa inteligência prática; e
·         o domínio da vida e da consciência, no qual ocorre a duração, um tempo interno (kairós), que é o domínio da intuição.

Uma filosofia é uma faculdade do pensamento. Como não se pode utilizar da inteligência para desenvolver pensamentos, a filosofia é um campo de atuação da intuição. A intuição é, portanto, um método: um método do espírito.

Bergson desenvolve também uma Teoria do Conhecimento a partir de seu método intuitivo.  Nessa teoria, desenvolve uma psicologia própria na qual nega o materialismo e o mecanicismo do pensamento. Afirma que não há ligação entre os fenômenos psicológicos e os fenômenos fisiológicos, negando a teoria que considera o pensamento como uma ação orgânica. Sua teoria é uma metafísica.

Bergson diferencia dois tipos de memória:

   1. A memória automática que é mecânica e corporal. Está é a memória da automatização de movimentos e funções que se tornaram reflexos do corpo. Pode-se considerar, também, como um efeito dessa memória o fato de decorar um texto, ou um movimento que pretendo repetir.
   2. A memória pura que se constitui por lembranças independentes.

Para diferenciar esses dois tipos de memória, Bergson criou o seguinte exemplo:

Estudo uma lição, e para aprendê-la de cor leio-a primeiramente escandindo cada verso; repito-a em seguida um certo número de vezes. A cada nova leitura efetua-se um progresso; as pala­vras ligam-se cada vez melhor; acabam por se organizar juntas. Nesse momento preciso sei minha lição de cor; dizemos que ela tornou-se lembrança, que ela se impri­miu em minha memória.

Examino agora de que modo a lição foi aprendida, e me represento as fases pelas quais passei sucessivamente. Cada uma das leituras sucessivas volta-me então ao espírito com sua individualidade própria; revejo-a com as circunstâncias que a acompanhavam e que a enquadram ainda; ela se distingue das precedentes e das subseqüentes pela própria posição que ocupou no tempo; em suma, cada uma dessas leituras torna a passar diante de mim co­mo um acontecimento determinado de minha história. Dir-se-á ainda que essas imagens são lembranças, que elas se imprimiram em minha memória. Empregam-se as mesmas palavras em ambos os casos. Trata-se efetiva­mente da mesma coisa?

(BERGSON, 1999:85-6)
Certamente não! No primeiro caso trata-se de um exemplo de memória automática, no segundo um exemplo de memória pura.

Não quero me estender demais no pensamento de Bergson aqui. Sua filosofia adentra profundamente na questão da vida e da consciência em seu livro "O Pensamento e o Movente" (BERGSON, 2006c) no qual aprofunda a sua teoria da presença interna nas relações do homem consigo mesmo, enquanto reflexiona sobre os fenômenos do mundo material e navega por sua imaginação reflexiva. Nesse livro eu fiz uma leitura bastante rápida apenas para captar o seu "espírito". O mesmo fiz com outro de seus livros: "Duração e Simultaneidade" (BERGSON, 2006a) no qual ele estuda a Teoria da Relatividade de Einstein.

O que podemos extrair de Bergson e que será importante para a fundamentação deste trabalho de pesquisa é a idéia de presença mental, ou seja, a presença em pensamento e em face disso uma presença reflexiva. E essa presença em espírito acontece em um "mundo interno" do homem.

A pergunta que se coloca é:

— Mas, dado que existe de fato esse "mundo interno" em diferentes homens reflexivos, será que não há nenhuma espécie de conexão entre esses diferentes mundos internos?

Bergson: Presença e Campo Transcendental

Henri Bergson (1859-1941) desenvolve em seu pensamento teorias sobre a vida, a consciência, a inteligência e a criatividade. Considero que a sua contribuição é importante para a formulação de uma nova concepção do sentido de presença. A sua teoria da presença e campo transcendental não poderia deixar de ser mencionada aqui.

Numa época em que o avanço e o êxito das investigações científicas ditas positivas pareciam tornar obsole­tas as indagações e sobretudo a forma de resposta filosóficas, Bergson exalta e inova a metafísica. Ao mesmo tempo, pretende ampliar o domínio da investi­gação psicológica, propondo - para além das rotinas e dos mecanismos asso­ciativos do "eu superficial" — a sonda­gem do "eu profundo", duração pura e irreversível, permanente mudança quali­tativa, irrepetição contínua.

(SILVA, 1974:VI)
Bergson foi, portanto, uma voz da metafísica em meio à força da escola positivista que era vigorosamente defendida na segunda metade do século XIX.

Influenciou a formação de uma fenomenologia francesa. Na apresentação da obra "Presença e Campo Transcendental" de Bento Prado Júnior — um dos principais estudioso do pensamento bergsoniano no Brasil — Marilena Chauí, afirma:

Lendo este livro, perceberemos que, afinal, o que na França chamou-se existência deve menos ao Dasein heideggeriano e muito mais à duração bergsoniana; o que ali chamou-se força está muito mais próximo do impulso vi­tal bergsoniano do que da vontade de potência nietszcheana.

(PRADO JUNIOR, 1989:13)
Foi através de uma pesquisa na Internet, em uma livraria virtual, que cheguei ao livro de PRADO JUNIOR e a partir dele senti necessidade de ler os livros de Bergson.

Essencialmente, Bergson identifica uma presença interna, diferente da presença corpórea externa. Refere-se que há um campo transcendental de imagens que cria uma subjetividade da matéria quando se realiza a percepção da própria matéria.  Há no homem um movimento de captação da presença e apropriação da mesma em um processo de interiorização (ou subjetivação) para trazê-la para estar junto a si. [1]

Bergson chama a essa interioridade e o processo de interiorização de duração.  É através da duração que se forma a consciência "como uma representação no campo transcendental das imagens" [2]. Essa interiorização cria na consciência do homem uma presença interna — um campo transcendental — a percepção da própria consciência. Ou seja:

O campo transcendental das imagens nos faz ver o nascimento da subjetividade na corporeidade interiorizada ou numa presença corporal ou "o surgimento, no seio da matéria, da percepção da própria matéria".

(PRADO JUNIOR, 1989:21)
Para Bergson a presença interna é essencialmente subjetiva. Entretanto, o homem — ao interpretá-la e incorporá-la a sua consciência, ou seja, em sua percepção — cria tal campo transcendental de imagens, ou seja, um campo transcendental. Ao ter a percepção de uma consciência, ao internalizar essa consciência, o homem incorpora a subjetividade em uma presença corporal. Corporifica o subjetivo.

O pensamento de Bergson dá fundamento à chamada "filosofia da vida". Procura explicar como a vida consciente acontece.

Identifica a dimensão do mundo composto de sólidos extensos, homogêneos e com delimitações claras: uma dimensão externa. Uma dimensão essencialmente física que é o domínio da inteligência. A inteligência, no pensamento de Bergson, é uma orientação para a ação no mundo e o mundo é essa dimensão exterior.

... a inteligência humana sente-se à vontade entre os objetos inertes, mais especialmente entre os sólidos, onde a nossa ação encontra o seu ponto de apoio, e a nossa indús­tria os seus instrumentos de trabalho; que os nossos concei­tos foram formados à imagem dos sólidos; que a nossa lógi­ca é, sobretudo, a lógica dos sólidos; que, por isso mesmo, a nossa inteligência triunfa na geometria, na qual se revela o parentesco do pensamento lógico com a matéria inerte, e onde a inteligência só tem de seguir o seu movimento natu­ral, após o mais leve contacto possível com a experiência, para ir de descoberta em descoberta com a certeza de que a experiência a segue e lhe dará invariavelmente razão.

(BERGSON, 2001:7)
A inteligência é uma faculdade de sobrevivência e segurança material. Uma faculdade voltada para a captação de fenômenos, mas que é incapaz de compreender a vida. Porque a vida não está dentro da lógica física da matéria.

Constato em primeiro lugar que passo de um estado para outro. Tenho calor ou tenho frio, estou alegre ou es­tou triste, trabalho ou não faço nada, olho o que está à minha volta ou penso em outra coisa. Sensações, senti­mentos, volições, representações, são essas as modifica­ções entre as quais minha existência se divide e que a co­lorem alternadamente. Portanto, mudo sem cessar. Mas isso não é tudo. A mudança é bem mais radical do que se poderia pensar num primeiro momento.


(BERGSON, 2006b:1)
Há, entretanto, uma outra dimensão. Uma dimensão interna onde podemos observar em nós mesmos uma realidade completamente diferente. Uma realidade qualitativa composta de elementos heterogêneos que não podem ser separados uns dos outros, pois se interpenetram. Uma realidade interior livre das leis da física. Sem espacialidade mensurável, mas que, entretanto apresenta uma duração totalmente dissociada das ciências da natureza. Uma duração sem tempo definido e que está em constante fluir

... a multiplicidade dos estados de cons­ciência, considerada em sua pureza original, não apresenta nenhuma semelhança com a multiplicidade distinta que forma um número. Haveria aí, dizíamos, uma multiplicidade qualitativa. Em suma, seria preciso admitir duas espécies de multiplicidades, dois sentidos possíveis para a palavra distinguir, duas concepções, uma qualitativa e a outra quantitativa, da diferença entre o mesmo e o outro.


(BERGSON, 2006b:12)
Essa dimensão interna é o domínio da intuição. Só através dela é que podemos entender a duração-qualidade: aquilo que é imensurável. Através da intuição é possível entender o campo transcendental das imagens e ser presença nele.

Há, pois, sintetizando esse pensamento de Bergson, dois domínios:

·         o domínio da matéria que é dimensional, rígido onde nós experimentamos a nossa inteligência prática; e
·         o domínio da vida e da consciência, no qual ocorre a duração, um tempo interno (kairós), que é o domínio da intuição.

Uma filosofia é uma faculdade do pensamento. Como não se pode utilizar da inteligência para desenvolver pensamentos, a filosofia é um campo de atuação da intuição. A intuição é, portanto, um método: um método do espírito.

Bergson desenvolve também uma Teoria do Conhecimento a partir de seu método intuitivo.  Nessa teoria, desenvolve uma psicologia própria na qual nega o materialismo e o mecanicismo do pensamento. Afirma que não há ligação entre os fenômenos psicológicos e os fenômenos fisiológicos, negando a teoria que considera o pensamento como uma ação orgânica. Sua teoria é uma metafísica.

Bergson diferencia dois tipos de memória:

   1. A memória automática que é mecânica e corporal. Está é a memória da automatização de movimentos e funções que se tornaram reflexos do corpo. Pode-se considerar, também, como um efeito dessa memória o fato de decorar um texto, ou um movimento que pretendo repetir.
   2. A memória pura que se constitui por lembranças independentes.

Para diferenciar esses dois tipos de memória, Bergson criou o seguinte exemplo:

Estudo uma lição, e para aprendê-la de cor leio-a primeiramente escandindo cada verso; repito-a em seguida um certo número de vezes. A cada nova leitura efetua-se um progresso; as pala­vras ligam-se cada vez melhor; acabam por se organizar juntas. Nesse momento preciso sei minha lição de cor; dizemos que ela tornou-se lembrança, que ela se impri­miu em minha memória.

Examino agora de que modo a lição foi aprendida, e me represento as fases pelas quais passei sucessivamente. Cada uma das leituras sucessivas volta-me então ao espírito com sua individualidade própria; revejo-a com as circunstâncias que a acompanhavam e que a enquadram ainda; ela se distingue das precedentes e das subseqüentes pela própria posição que ocupou no tempo; em suma, cada uma dessas leituras torna a passar diante de mim co­mo um acontecimento determinado de minha história. Dir-se-á ainda que essas imagens são lembranças, que elas se imprimiram em minha memória. Empregam-se as mesmas palavras em ambos os casos. Trata-se efetiva­mente da mesma coisa?

(BERGSON, 1999:85-6)
Certamente não! No primeiro caso trata-se de um exemplo de memória automática, no segundo um exemplo de memória pura.

Não quero me estender demais no pensamento de Bergson aqui. Sua filosofia adentra profundamente na questão da vida e da consciência em seu livro "O Pensamento e o Movente" (BERGSON, 2006c) no qual aprofunda a sua teoria da presença interna nas relações do homem consigo mesmo, enquanto reflexiona sobre os fenômenos do mundo material e navega por sua imaginação reflexiva. Nesse livro eu fiz uma leitura bastante rápida apenas para captar o seu "espírito". O mesmo fiz com outro de seus livros: "Duração e Simultaneidade" (BERGSON, 2006a) no qual ele estuda a Teoria da Relatividade de Einstein.

O que podemos extrair de Bergson e que será importante para a fundamentação deste trabalho de pesquisa é a idéia de presença mental, ou seja, a presença em pensamento e em face disso uma presença reflexiva. E essa presença em espírito acontece em um "mundo interno" do homem.

A pergunta que se coloca é:

— Mas, dado que existe de fato esse "mundo interno" em diferentes homens reflexivos, será que não há nenhuma espécie de conexão entre esses diferentes mundos internos?

[1] Ver Marilena Chauí em PRADO JUNIOR (1989:21).

[2] Ver Marilena Chauí em PRADO JUNIOR (1989:20).

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Prev: O Conceito Filosófico de PresençaNicola Abbagnano, em seu Dicionário de Filosofia, identifica dois significados principais para a palavra presença:

PRESENÇA (in. Presence, fr. Présence, al. Anwesenheit; it. Presenza).

Este termo é empregado em dois significados principais:

1º existência de um objeto em certo lugar, pelo que se diz, p. ex., "estava presente à reunião de ontem à tarde";

2º existência do objeto numa relação cognitiva imediata; assim, diz-se que um objeto está presente quando é visto ou é dado a qualquer forma de intuição ou de conhecimento imediato.

Fonte:


ATUALIDADE DE SANTO AGOSTINHO


 
ATUALIDADE DE SANTO AGOSTINHO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana – MG
Enorme o interesse que "O Mestre do Ocidente", Santo Agosti­nho vem despertando neste início de milênio.A interioridade que flui de seus escritos não deixa de ser um antídoto para a angústia metafísica do homem de hoje. Deve-se salientar como a doutri­na agostiniana impregna os documentos do Vaticano II. Uma das análises mais exploradas e ricas dos escritos do Bispo de Hipona é sobre o tempo e a eternidade, razão de ser de uma síntese feita neste texto.

Palavras chaves: interioridade, Vaticano II, tempo, eternidade.
É impressionante em nossos dias o interesse que as obras de Agos­tinho de Hipona vem despertando na juventude estudiosa, até mes­mo de outras religiões. Ele é, sem sombra de dúvida, o grande "Mes­tre do Ocidente". Para a Filosofia cristã é um referencial obrigatório. O homem moderno, porém, vai buscar no autor das "Confissões" uma resposta a seus problemas, dilemático, atônito ante as promes­sas de um progresso que não lhe satisfaz a sede do Transcendente. Ante a caducidade dos bens terrenos e o insaciável de seus desejo ante a atração irresistível de um ideal nunca realizado nas estreitezas e misérias da vida, ante o mistério insondável da eternidade, o ser racional, mais do que nunca, sofre torturas indizíveis, angustias imen­sas de uma pessoa em anelos da realização de sua plenitude. É esta insofreguidão de base metafísica, inseparável à natureza humana, seu tormento e sua glória, que faz do homem um animal glorioso, o qual possui uma alma que quer alçar vôos ao infinito. Seus anelos não estão contramurados em terrenos horizontes.

O homem de hoje, porém, assiste uns após outros no trono de suas quiméricas adora­ções subir e tombar ídolos fugazes e impotentes e, nesta queda su­cessiva das falsas opiniões dos falazes arquitetos de idéias, com a experiência repetida de desenganos dolorosos, ele sente enraizar den­tro de si a dúvida e, com a dúvida, a tortura, o desespero e com ela a grande decepção de sua inteligência embaída. Sai então à cata de uma doutrina que lhe restitua a dignidade de ser pensante na busca da Verdade e do Bem, libertando-o de seus desenganos. Para tanto nada melhor do que entrar em contato com o pensamento agostiniano, pois grande a sua modernidade. Quem estuda com atenção os Documentos do Concilio Vaticano II e conhece os es­critos de Santo Agostinho percebe ao vivo como os textos concili­ares estão impregnados da mensagem agostiniana.

Muitas vezes candentes enunciações são transcritas, como na Constituição Pas­toral "Gaudium et Spes" no capítulo primeiro que trata da digni­dade da pessoa humana, citando a famosa expressão de Santo Agostinho, que patenteia a imperiosa necessidade da abertura para o Ser Supremo: "Fizestes-nos para Vós", Senhor, "e o nosso cora­ção permanece inquieto enquanto em Vós não descansar" (Conf. 1,1) Dostoievsky num instante de pulcra inspiração, com razão, proclamou, bem na linha do Hiponense, que o incomensurável e o infinito são tão necessários ao homem como o pequenino pla­neta que ele pisa.

A Constituição Dogmática "Lumen Gentium", entre outras, traz esta belíssima assertiva da Cidade de Deus, refe­rente à Igreja que "entre as perseguições do mundo e as consola­ções de Deus avança peregrina" através da História. A "Dei Verbum" sobre a Revelação Divina várias vezes apela para este Doutor como base do ensinamento em tela. O mesmo fazem os Padres Concili­ares nos outros documentos. O Papa Paulo VI nutria uma especial admiração por Santo Agostinho que para ele era "inigualável mestre da vida espiritual e cristã em que se pode encontrar as expres­sões mais felizes, atrativas, comprometidas e confortáveis que se po­deria encontrar no vocabulário do nosso colóquio com Deus e com a alma". O Papa João Paulo II escreveu uma memorável Carta Apos­tólica por ocasião do XVI centenário da conversão de Santo Agosti­nho, ostentando que este fato foi um marco na História do cristia­nismo.

Esta influência profunda de Santo Agostinho se deve à per­sistência com que ele buscou a Verdade. Trilhou veredas eivadas de erros como o materialismo, o racionalismo, o ceticismo, mas, ilumi­nado pela graça divina que veio em ajuda à sua inteligência privilegi­ada, acabou por encontrar a autêntica doutrina. Nos seus escritos se percebe uma sinceridade fascinante, impregnada de uma humilda­de arrebatadora. Ler Agostinho é encontrar um roteiro muito huma­no de como se deve buscar o verdadeiro pábulo intelectual para a inteligência e o bem supremo para o coração. Ele deixa claro que quem não se empenha em chegar ao porto da eternidade estará sem­pre frustrado. A universalidade e a profundidade de seus ensinamentos estão unidas a uma linguagem filosófica, teológica, mística, poética que encanta a cada passo. A interioridade a que le­vam seus escritos é um dos pontos mais luminosos de toda a sua obra. Ele escreveu num de seus comentários ao Evangelho de São íoão: "Explora e reconhece o que existe dentro de ti. Desce à tua intimidade. Desce à câmara secreta da tua consciência. Se te afastas de ti mesmo, como poderás aproximar-te de Deus? " Ele declarou que só queria conhecer Deus e a alma.

Então nas profundezas da mente humana ele deparou a imagem divina. Deste modo o ho­mem então pode se elevar até Deus e encontrar nele a razão de ser da sabedoria e do amor. No campo teológico, o sentido profundo do mistério imerge o leitor numa arraigada fé, numa esperança fulgente e sobretudo num oceano de amor. Dirá Agostinho: "Ama e faze o que quiseres"! Abre-se um horizonte infinito e a alma se vê imersa num notável clima sobrenatural. Estremecimento profundo de emoção e de estupor se apossa então do estudioso de seus traba­lhos lavrados com tanta acuidade. A Verdade, porém, patenteada por Agostinho penetra suavemente o ser humano e este compreen­de então que Deus é, de fato, Amor! É que para Agostinho "o amor é a força motriz do mundo humano, a razão que governa os ho­mens e os faz dançar à sua música" (De Ord. 2,5).

Um.dos temas abordados com originalidade por Santo Agosti­nho é a questão do tempo. No livro Confissões lançou esta questão: "Que é, pois o tempo"? (XIV, 17). Ele vê na sucessão temporal uma marca da impotência humana, da miséria do ser racional diante do infinito poder do Ser Supremo. O caráter instintivo do conheci­mento humano do tempo mostra bem os limites de sua noção so­bre este assunto. Trata-se de algo muito familiar, dado que cada um vive no tempo, mas que, vertiginosamente, lhe escapa. O tempo resiste a uma explicação porque é inconcebível. Ele inscreve sua es­sência na fuga. Ninguém, a não ser Deus, o pode compreender e árduo é para o homem tentar conceitualizá-lo. Intuí-lo é o máximo que está ao alcance da inteligência. Cumpre, porém, tentar captar qual é a qüididade desta intuição. É preciso, antes de tudo, retornar à distinção entre o passado, o presente e o futuro. Aí surge de ime­diato um impasse, pois o passado não é, dado que não está presen­te. Assim também o futuro, uma vez que não existe ainda, é prová­vel. Resta o presente que flui, contudo, inexoravelmente.

Os latinos diziam: Fugit irreparabile tempus - foge o irreparável tempo, como bem se expressou Virgílio (Geórgicas III, 284). O presente é algo real que não se estabiliza nunca. Deste modo, o movimento caracteriza o tempo, é seu modo de ser. Por isto, das coisas e dos seres vivos que lhe estão submissos se diz que tudo é contingente: existe, po­deria não existir e tende a desaparecer. Tudo que começa propende a acabar. O que nasce está fadado a perecer. Este aspecto Agostinho assim o sintetizou na Cidade de Deus: "O tempo que se vive dimi­nui a própria vida e não passa de uma trajetória para a morte; com efeito, todo ser vivo está fadado a morrer, dado que, desde a ori­gem, a morte atenta contra sua vida. Daí sua assertiva em Confis­sões: "Podemos afirmar que o tempo é o que tende a não mais ser" (XI, 14).

Como o tempo é um movimento perpétuo, cumpre distin­gui-lo da eternidade. São dois opostos. Um se contrapõe ao outro como a instabilidade à constância. A eternidade é estática, imutável, estável. A eternidade não conhece nem princípio, nem fim, ao passo que o tempo não cessa de começar e de acabar. Miséria do homem que está imerso no tempo; grandeza de Deus que existe desde toda a eternidade. A Moisés Ele afirmou: "Eu sou aquele que é" (Ex 3,14).

Eis o que então diz Agostinho ao Ser Supremo: "Os vossos anos são tomo um só dia, e o vosso dia não se repete de modo que possa chamar-se cotidiano, mas é um perpétuo "hoje", porque este vosso "hoje" é a eternidade" (XIII, 15) O ser racional vive um presente mutável, fugaz, ininterruptamente incerto, eternamente irreversível. O não-ser do tempo chancela a limitação humana. A humanidade vive a inconstância temporal. Donde a eventualidade que cerca quem existe. O tempo escapa inteiramente à jurisdição do animal racional por causa de seu irreversível dinamismo que o faz irredutível. Tal é a condição humana: somos corruptíveis e finitos e somente Deus é eterno. Segundo Santo Agostinho, porém, pela memória, de certo modo, se supera o tempo, dado que pela lembrança do passado se pode ir contra a corrente do movimento temporal. Trata-se de se trazer o passado para o presente e, até mesmo, se pode fazer uma previsão com relação ao futuro. Daí Agostinho falar do "presente do passado", do "presente do presente" e do "presente do futuro".

A memória como que retém o tempo, eternizando, de certo modo, o instante vivido e antecipando o porvir. Agostinho exalta, portan­to, o poder da memória sem a qual nada se poderia imaginar nem conhecer, compreender ou apreender. Diz ele: "O pretérito longo outra coisa não é senão a longa lembrança do passado"(XI,28).. O homem que possui a memória detém a capacidade de criar sua pró­pria duração interior, que é uma equivalência de tempo, da qual ele é o senhor. A reminiscência faz existir o passado no presente e, pela projeção, até mesmo o futuro. Trata-se de uma atividade do espírito que transcende o tempo. Tudo isto infunde um otimismo antropo­lógico de grandes proporções. O homem, de fato, finito, limitado, possuindo uma alma espiritual, participa, assim, do próprio eterno "hoje" de Deus! O tempo torna-se um sinal de eternidade.
 
A CAMINHO DE DEUS
Na obra Confissões merece especial atenção o livro VII que mostra como sempre encontra a Verdade quem sinceramente a procura.

Nele Agostinho trata do problema de Deus e do problema do mal, aborda a questão da astrologia, compara o que de verdadeiro encontrara no platonismo e, posteriormente, nas Sagradas Escritu­ras, e apresenta a solução do problema do mal.

Foi difícil para Agostinho conceber o Ser Supremo como um puro espírito. Assim se dirige a Deus: "Apesar de não Vos conceber sob a forma de corpo humano, necessitava, contudo, de Vos imagi­nar como sendo alguma coisa corpórea situada no espaço, quer imanente ao mundo, quer difundida por fora do mundo, através do infinito".

Por ter seguido o maniqueísmo, grande o seu mérito em aceitar o argumento do bispo Nebrídio contra estes hereges,í cuja doutrina segundo Agostinho era "digna de abominação", por levar à conclu­são errônea de que o Verbo de Deus é corruptível. A questão envol­vendo Deus e o mal sempre preocupou a mente de notáveis pensa­dores, mas como Agostinho achasse que o mal era algo de positivo e não mera ausência de ser ou de perfeição, dolorosas foram suas dúvidas.

Antes de resolver esta questão, ele mostra que "também já tinha rejeitado as enganadoras predições e os ímpios delírios dos astrólogos".

O problema do mal

Libertado estava destes equívocos, contudo era angustiante para ele o problema do mal. Afirmava, porém, ante "um misterioso aguilhão" que o atormentava, estar o seu tumor decrescendo ao conta­do da mão oculta da medicina de Deus.

Pôde declarar que "a vista perturbada e entenebrecida da minha inteligência melhorava, de dia para dia, com o colírio das minhas dores salutares". Nos livros neoplatônicos ele não encontrou Cristo e isto lhe mostrou ainda mais o vazio que nestes escritos havia ao compará-los com o que ele passara a ler na Bíblia. Foi ao entrar den­tro de si mesmo que o mistério divino começou a aclarar para ele: "Recolhi-me ao coração, conduzido por Vós. Pude fazê-lo, porque Vos tornastes meu auxílio".

Agostinho então percebeu vivamente que todos os seres são con­tingentes, existem, mas poderiam não existir. Em Deus, unicamen­te, está o fundamento de tudo que existe.

Reconhece que Deus é o Ser absoluto e que todo ser existente é bom, sendo obra deste Deus, que, portanto, não poderia nunca ser a origem do mal. A criação, de fato, canta os louvores de Deus. Agos­tinho passou então a rever seus erros sobre o Senhor Absoluto. Conclui que todo mal é se apartar de Deus.
Ele já podia asseverar: "Procurei o que era a maldade não encon­trei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema - de Vós, ó Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência". De fato, o pecado outra coisa não é senão a aversão a Deus e a conversão para as criaturas. Faltara a Agostinho a humilda­de e conhecimento perfeito de Jesus, Deus e homem verdadeiro.

Nas cartas de São Paulo, contudo, ele aprendeu a vencer o orgu­lho e a praticar a piedade. Pôde, deste modo, no final deste livro sétimo afirmar: "Nos livros platônicos ninguém ouve Aquele que exclama: "Vinde a Mim, vós, os que trabalhais". Desdenham em aprender dele, que é manso e humilde de coração".
Como Deus se inclina para os humildes de coração, ao se deixar embalar por esta virtude, Agostinho no Livro X, capítulo 27, lançará a belíssima sentença que vem ecoando vibrante pelos anos afora: "Tarde Vos amei, ó beleza, tão antiga e tão nova, tarde vos amei!". Ele tornou-se um pedagogo da humildade, um mestre da interioridade, tendo reformulado seu modo de pensar sobre todos os problemas que o atormentavam.


Fonte:
CONSCIENCIA.ORG


quarta-feira, 14 de julho de 2010

ATUALIDADE DE SANTO AGOSTINHO



ATUALIDADE DE SANTO AGOSTINHO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana – MG
Enorme o interesse que "O Mestre do Ocidente", Santo Agosti­nho vem despertando neste início de milênio.A interioridade que flui de seus escritos não deixa de ser um antídoto para a angústia metafísica do homem de hoje. Deve-se salientar como a doutri­na agostiniana impregna os documentos do Vaticano II. Uma das análises mais exploradas e ricas dos escritos do Bispo de Hipona é sobre o tempo e a eternidade, razão de ser de uma síntese feita neste texto.

Palavras chaves: interioridade, Vaticano II, tempo, eternidade.
É impressionante em nossos dias o interesse que as obras de Agos­tinho de Hipona vem despertando na juventude estudiosa, até mes­mo de outras religiões. Ele é, sem sombra de dúvida, o grande "Mes­tre do Ocidente". Para a Filosofia cristã é um referencial obrigatório. O homem moderno, porém, vai buscar no autor das "Confissões" uma resposta a seus problemas, dilemático, atônito ante as promes­sas de um progresso que não lhe satisfaz a sede do Transcendente. Ante a caducidade dos bens terrenos e o insaciável de seus desejo ante a atração irresistível de um ideal nunca realizado nas estreitezas e misérias da vida, ante o mistério insondável da eternidade, o ser racional, mais do que nunca, sofre torturas indizíveis, angustias imen­sas de uma pessoa em anelos da realização de sua plenitude. É esta insofreguidão de base metafísica, inseparável à natureza humana, seu tormento e sua glória, que faz do homem um animal glorioso, o qual possui uma alma que quer alçar vôos ao infinito. Seus anelos não estão contramurados em terrenos horizontes.

O homem de hoje, porém, assiste uns após outros no trono de suas quiméricas adora­ções subir e tombar ídolos fugazes e impotentes e, nesta queda su­cessiva das falsas opiniões dos falazes arquitetos de idéias, com a experiência repetida de desenganos dolorosos, ele sente enraizar den­tro de si a dúvida e, com a dúvida, a tortura, o desespero e com ela a grande decepção de sua inteligência embaída. Sai então à cata de uma doutrina que lhe restitua a dignidade de ser pensante na busca da Verdade e do Bem, libertando-o de seus desenganos. Para tanto nada melhor do que entrar em contato com o pensamento agostiniano, pois grande a sua modernidade. Quem estuda com atenção os Documentos do Concilio Vaticano II e conhece os es­critos de Santo Agostinho percebe ao vivo como os textos concili­ares estão impregnados da mensagem agostiniana.

Muitas vezes candentes enunciações são transcritas, como na Constituição Pas­toral "Gaudium et Spes" no capítulo primeiro que trata da digni­dade da pessoa humana, citando a famosa expressão de Santo Agostinho, que patenteia a imperiosa necessidade da abertura para o Ser Supremo: "Fizestes-nos para Vós", Senhor, "e o nosso cora­ção permanece inquieto enquanto em Vós não descansar" (Conf. 1,1) Dostoievsky num instante de pulcra inspiração, com razão, proclamou, bem na linha do Hiponense, que o incomensurável e o infinito são tão necessários ao homem como o pequenino pla­neta que ele pisa.

A Constituição Dogmática "Lumen Gentium", entre outras, traz esta belíssima assertiva da Cidade de Deus, refe­rente à Igreja que "entre as perseguições do mundo e as consola­ções de Deus avança peregrina" através da História. A "Dei Verbum" sobre a Revelação Divina várias vezes apela para este Doutor como base do ensinamento em tela. O mesmo fazem os Padres Concili­ares nos outros documentos. O Papa Paulo VI nutria uma especial admiração por Santo Agostinho que para ele era "inigualável mestre da vida espiritual e cristã em que se pode encontrar as expres­sões mais felizes, atrativas, comprometidas e confortáveis que se po­deria encontrar no vocabulário do nosso colóquio com Deus e com a alma". O Papa João Paulo II escreveu uma memorável Carta Apos­tólica por ocasião do XVI centenário da conversão de Santo Agosti­nho, ostentando que este fato foi um marco na História do cristia­nismo.

Esta influência profunda de Santo Agostinho se deve à per­sistência com que ele buscou a Verdade. Trilhou veredas eivadas de erros como o materialismo, o racionalismo, o ceticismo, mas, ilumi­nado pela graça divina que veio em ajuda à sua inteligência privilegi­ada, acabou por encontrar a autêntica doutrina. Nos seus escritos se percebe uma sinceridade fascinante, impregnada de uma humilda­de arrebatadora. Ler Agostinho é encontrar um roteiro muito huma­no de como se deve buscar o verdadeiro pábulo intelectual para a inteligência e o bem supremo para o coração. Ele deixa claro que quem não se empenha em chegar ao porto da eternidade estará sem­pre frustrado. A universalidade e a profundidade de seus ensinamentos estão unidas a uma linguagem filosófica, teológica, mística, poética que encanta a cada passo. A interioridade a que le­vam seus escritos é um dos pontos mais luminosos de toda a sua obra. Ele escreveu num de seus comentários ao Evangelho de São íoão: "Explora e reconhece o que existe dentro de ti. Desce à tua intimidade. Desce à câmara secreta da tua consciência. Se te afastas de ti mesmo, como poderás aproximar-te de Deus? " Ele declarou que só queria conhecer Deus e a alma.

Então nas profundezas da mente humana ele deparou a imagem divina. Deste modo o ho­mem então pode se elevar até Deus e encontrar nele a razão de ser da sabedoria e do amor. No campo teológico, o sentido profundo do mistério imerge o leitor numa arraigada fé, numa esperança fulgente e sobretudo num oceano de amor. Dirá Agostinho: "Ama e faze o que quiseres"! Abre-se um horizonte infinito e a alma se vê imersa num notável clima sobrenatural. Estremecimento profundo de emoção e de estupor se apossa então do estudioso de seus traba­lhos lavrados com tanta acuidade. A Verdade, porém, patenteada por Agostinho penetra suavemente o ser humano e este compreen­de então que Deus é, de fato, Amor! É que para Agostinho "o amor é a força motriz do mundo humano, a razão que governa os ho­mens e os faz dançar à sua música" (De Ord. 2,5).

Um.dos temas abordados com originalidade por Santo Agosti­nho é a questão do tempo. No livro Confissões lançou esta questão: "Que é, pois o tempo"? (XIV, 17). Ele vê na sucessão temporal uma marca da impotência humana, da miséria do ser racional diante do infinito poder do Ser Supremo. O caráter instintivo do conheci­mento humano do tempo mostra bem os limites de sua noção so­bre este assunto. Trata-se de algo muito familiar, dado que cada um vive no tempo, mas que, vertiginosamente, lhe escapa. O tempo resiste a uma explicação porque é inconcebível. Ele inscreve sua es­sência na fuga. Ninguém, a não ser Deus, o pode compreender e árduo é para o homem tentar conceitualizá-lo. Intuí-lo é o máximo que está ao alcance da inteligência. Cumpre, porém, tentar captar qual é a qüididade desta intuição. É preciso, antes de tudo, retornar à distinção entre o passado, o presente e o futuro. Aí surge de ime­diato um impasse, pois o passado não é, dado que não está presen­te. Assim também o futuro, uma vez que não existe ainda, é prová­vel. Resta o presente que flui, contudo, inexoravelmente.

Os latinos diziam: Fugit irreparabile tempus - foge o irreparável tempo, como bem se expressou Virgílio (Geórgicas III, 284). O presente é algo real que não se estabiliza nunca. Deste modo, o movimento caracteriza o tempo, é seu modo de ser. Por isto, das coisas e dos seres vivos que lhe estão submissos se diz que tudo é contingente: existe, po­deria não existir e tende a desaparecer. Tudo que começa propende a acabar. O que nasce está fadado a perecer. Este aspecto Agostinho assim o sintetizou na Cidade de Deus: "O tempo que se vive dimi­nui a própria vida e não passa de uma trajetória para a morte; com efeito, todo ser vivo está fadado a morrer, dado que, desde a ori­gem, a morte atenta contra sua vida. Daí sua assertiva em Confis­sões: "Podemos afirmar que o tempo é o que tende a não mais ser" (XI, 14).

Como o tempo é um movimento perpétuo, cumpre distin­gui-lo da eternidade. São dois opostos. Um se contrapõe ao outro como a instabilidade à constância. A eternidade é estática, imutável, estável. A eternidade não conhece nem princípio, nem fim, ao passo que o tempo não cessa de começar e de acabar. Miséria do homem que está imerso no tempo; grandeza de Deus que existe desde toda a eternidade. A Moisés Ele afirmou: "Eu sou aquele que é" (Ex 3,14).

Eis o que então diz Agostinho ao Ser Supremo: "Os vossos anos são tomo um só dia, e o vosso dia não se repete de modo que possa chamar-se cotidiano, mas é um perpétuo "hoje", porque este vosso "hoje" é a eternidade" (XIII, 15) O ser racional vive um presente mutável, fugaz, ininterruptamente incerto, eternamente irreversível. O não-ser do tempo chancela a limitação humana. A humanidade vive a inconstância temporal. Donde a eventualidade que cerca quem existe. O tempo escapa inteiramente à jurisdição do animal racional por causa de seu irreversível dinamismo que o faz irredutível. Tal é a condição humana: somos corruptíveis e finitos e somente Deus é eterno. Segundo Santo Agostinho, porém, pela memória, de certo modo, se supera o tempo, dado que pela lembrança do passado se pode ir contra a corrente do movimento temporal. Trata-se de se trazer o passado para o presente e, até mesmo, se pode fazer uma previsão com relação ao futuro. Daí Agostinho falar do "presente do passado", do "presente do presente" e do "presente do futuro".

A memória como que retém o tempo, eternizando, de certo modo, o instante vivido e antecipando o porvir. Agostinho exalta, portan­to, o poder da memória sem a qual nada se poderia imaginar nem conhecer, compreender ou apreender. Diz ele: "O pretérito longo outra coisa não é senão a longa lembrança do passado"(XI,28).. O homem que possui a memória detém a capacidade de criar sua pró­pria duração interior, que é uma equivalência de tempo, da qual ele é o senhor. A reminiscência faz existir o passado no presente e, pela projeção, até mesmo o futuro. Trata-se de uma atividade do espírito que transcende o tempo. Tudo isto infunde um otimismo antropo­lógico de grandes proporções. O homem, de fato, finito, limitado, possuindo uma alma espiritual, participa, assim, do próprio eterno "hoje" de Deus! O tempo torna-se um sinal de eternidade.

A CAMINHO DE DEUS
Na obra Confissões merece especial atenção o livro VII que mostra como sempre encontra a Verdade quem sinceramente a procura.

Nele Agostinho trata do problema de Deus e do problema do mal, aborda a questão da astrologia, compara o que de verdadeiro encontrara no platonismo e, posteriormente, nas Sagradas Escritu­ras, e apresenta a solução do problema do mal.

Foi difícil para Agostinho conceber o Ser Supremo como um puro espírito. Assim se dirige a Deus: "Apesar de não Vos conceber sob a forma de corpo humano, necessitava, contudo, de Vos imagi­nar como sendo alguma coisa corpórea situada no espaço, quer imanente ao mundo, quer difundida por fora do mundo, através do infinito".

Por ter seguido o maniqueísmo, grande o seu mérito em aceitar o argumento do bispo Nebrídio contra estes hereges,í cuja doutrina segundo Agostinho era "digna de abominação", por levar à conclu­são errônea de que o Verbo de Deus é corruptível. A questão envol­vendo Deus e o mal sempre preocupou a mente de notáveis pensa­dores, mas como Agostinho achasse que o mal era algo de positivo e não mera ausência de ser ou de perfeição, dolorosas foram suas dúvidas.

Antes de resolver esta questão, ele mostra que "também já tinha rejeitado as enganadoras predições e os ímpios delírios dos astrólogos".

O problema do mal
Libertado estava destes equívocos, contudo era angustiante para ele o problema do mal. Afirmava, porém, ante "um misterioso aguilhão" que o atormentava, estar o seu tumor decrescendo ao conta­do da mão oculta da medicina de Deus.

Pôde declarar que "a vista perturbada e entenebrecida da minha inteligência melhorava, de dia para dia, com o colírio das minhas dores salutares". Nos livros neoplatônicos ele não encontrou Cristo e isto lhe mostrou ainda mais o vazio que nestes escritos havia ao compará-los com o que ele passara a ler na Bíblia. Foi ao entrar den­tro de si mesmo que o mistério divino começou a aclarar para ele: "Recolhi-me ao coração, conduzido por Vós. Pude fazê-lo, porque Vos tornastes meu auxílio".

Agostinho então percebeu vivamente que todos os seres são con­tingentes, existem, mas poderiam não existir. Em Deus, unicamen­te, está o fundamento de tudo que existe.

Reconhece que Deus é o Ser absoluto e que todo ser existente é bom, sendo obra deste Deus, que, portanto, não poderia nunca ser a origem do mal. A criação, de fato, canta os louvores de Deus. Agos­tinho passou então a rever seus erros sobre o Senhor Absoluto. Conclui que todo mal é se apartar de Deus.
Ele já podia asseverar: "Procurei o que era a maldade não encon­trei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema - de Vós, ó Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência". De fato, o pecado outra coisa não é senão a aversão a Deus e a conversão para as criaturas. Faltara a Agostinho a humilda­de e conhecimento perfeito de Jesus, Deus e homem verdadeiro.

Nas cartas de São Paulo, contudo, ele aprendeu a vencer o orgu­lho e a praticar a piedade. Pôde, deste modo, no final deste livro sétimo afirmar: "Nos livros platônicos ninguém ouve Aquele que exclama: "Vinde a Mim, vós, os que trabalhais". Desdenham em aprender dele, que é manso e humilde de coração".
Como Deus se inclina para os humildes de coração, ao se deixar embalar por esta virtude, Agostinho no Livro X, capítulo 27, lançará a belíssima sentença que vem ecoando vibrante pelos anos afora: "Tarde Vos amei, ó beleza, tão antiga e tão nova, tarde vos amei!". Ele tornou-se um pedagogo da humildade, um mestre da interioridade, tendo reformulado seu modo de pensar sobre todos os problemas que o atormentavam.

Mireille Mathieu chante La Marseillaise


A queda da minha Bastilha
comemoro, nua ao sol da tarde - Aqui e Agora - Viva!

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

domingo, 11 de julho de 2010

MÚSICA DNA


Choir to sing the 'code of life'

Page last updated at 15:39 GMT, Saturday, 10 July 2010 16:39 UK

Computer generated image of DNA sequences (Science Photo Library) 

A semelhança entre a música escrita e seqüências de DNA inspirou o autor
Os cientistas e compositores produziram um novo trabalho coral em que artistas cantam partes do seu próprio código genético.

O DNA humano é composto de apenas quatro diferentes compostos químicos, o que deu músico Andrew Morley a idéia de atribuir uma nota a cada um deles.
A nova peça, alelo, será executada pela New London Chamber Choir na Royal Society of Medicine, em 13 de julho.
Cada um dos 40 coro forte também teve o seu próprio DNA decodificado.

"Eu cantava bastante com coros na minha juventude e eu tenho escrito coisas eu mesmo, e assim que eu estava consciente de que as seqüências nota olhar um pouco como seqüências genéticas", explicou o Dr. Morley.
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"Levou uma consulta com um bom compositor para descobrir que era realmente o caso, e que seria possível criar algo a partir de seqüências genéticas."

O compositor "bom" abordado pelo Dr. Morley foi Zev Michael Gordon, que foi inspirado pela idéia.
"Desde o início eu vi o código genético de duas formas: como matéria-prima que poderia ser traduzido em notas, e também como uma coisa de maravilha e uma coisa de extraordinária beleza, e foi a partir de dois pontos de vista que a peça surgiu ", disse ele à BBC News.

Membros do coro de 40 fortes são todos os participantes em um estudo científico.
Cada um deles teve seu DNA decodificado para ver o que é que distingue geneticamente grandes cantores do resto de nós.

Que a ciência ainda está para ser publicada, mas, entretanto, quase como um "spin off", Michael Gordon Zev transformou uma idéia simples em uma bela obra de arte através de seu arranjo criativo e utilização de ritmo.
Para começar, há uma só voz cantando uma simples frase rítmica, mas como a peça se desenvolve, mais vozes participar - transmitindo a idéia de reprodução biológica e reprodução.
No seu auge, cada membro do coro está cantando seu código genético próprio e único - resultando em todos cantando uma canção, algo diferente.

O condutor da peça, James semanas, diz: "Para mim, é uma evocação da maravilha extraordinária que é o genoma."

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The similarity between written music and DNA sequences inspired the author
Scientists and composers have produced a new choral work in which performers sing parts of their own genetic code. 

Human DNA is made up of just four different chemical compounds, which gave musician Andrew Morley the idea of assigning a note to each of them.
The new piece, Allele, will be performed by the New London Chamber Choir at the Royal Society of Medicine on 13 July.
Each of the 40-strong choir has also had his or her own DNA decoded.

"I'd sung quite a lot with choirs in my youth and I've written stuff myself, and so I was aware that note sequences look a little bit like genetic sequences," explained Dr Morley.
"It took a consultation with a proper composer to find out that was indeed the case, and that it would be possible to create something from genetic sequences."

The "proper composer" approached by Dr Morley was Michael Zev Gordon, who was inspired by the idea.
"From the beginning I've seen the genetic code in two ways: as raw material that could be translated into notes, and also as a thing of wonder and a thing of extraordinary beauty; and it was from both points of view that the piece arose," he told BBC News.

Members of the 40-strong choir are all participants in a scientific study.
Each of them has had his or her DNA decoded in order to see what it is genetically that distinguishes great singers from the rest of us.

That science is yet to be published; but in the meantime, almost as a spin off, Michael Zev Gordon has turned a simple idea into a beautiful work of art through his imaginative arrangement and use of rhythm.
To begin with, there is a single voice singing a simple rhythmic phrase; but as the piece develops, more voices join in - conveying the biological idea of replication and reproduction.
At its climax, each member of the choir is singing their own unique genetic code - resulting in everyone singing a subtly different song.

The conductor of the piece, James Weeks, says: "For me, it's an evocation of the extraordinary wonder that is the genome."
 Fonte: