domingo, 17 de outubro de 2010

DO REAL E DO IDEAL



Manuel Garcia Morente
Fundamentos de Filosofia
Lições Preliminares
Lição XXI
DO REAL E DO IDEAL

179.   Categorias ônticas e ontológicas.
Na nossa primeira visão de conjunto sobre o campo todo da objetividade, encontramos quatro regiões em que a totalidade dos objetos se pode dividir. Numa primeira região colocamos as coisas reais; numa segunda região pomos os objetos ideais; na *erceira os valores, e na quarta região, os objetos metafísicos, dos quais pelo menos um, a vida, está imediatamente em nosso próprio poder e ao nosso alcance.
Essas quatro esferas de objetos são intuídas imediatamente por nós. Imediatamente nos pomos em relação com as coisas; também de um modo imediato com os objetos ideais, como a igualdade ou o círculo; também de um modo imediato com os valores. Com o objeto fundamental da metafísica que é a vida, nossa vida, também estamos num contacto imediato, visto que a vida nos abrange a nós mesmos no mundo.

Assim, esta imediatez de nossa relação com os objetos nos permite facilmente descobrir, numa primeira visão, que entre estas quatro classes de objetividade existe uma diferença notória. Não é o mesmo ser coisa que ser objeto ideal; não é o mesmo ser objeto ideal ou ser coisa que ser valor. E quando nos referimos diretamente à vida, também advertimos, nessa referência direta e imediata, que se trata de um objeto de qualidade completamente diferente à dos anteriores.

Não poderemos por enquanto, assim de início, determinar por meio de conceitos aquilo que há de peculiar em cada uma dessas esferas de objetividade; não poderemos, na nossa intuição direta de cada um desses grupos de objetividade, encontrar, sem reflexão prévia, a característica diferencial de cada um dos grupos. Porém imediatamente notamos que são, na sua própria raiz, distintos. Assim como intuímos diretamente que entre este peso para papéis e esta lâmpada do ponto de vista do ser, não há uma diferença radical, intuímos também imediatamente que entre esta folha de papel e a raiz quadrada de três há, do ponto de vista do ser, uma diferença radical
Por conseguinte, apresenta-se-nos agora o problema de tentar determinar conceptualmente, por meio de conceitos, de noções, de pensamentos, em que consistem as diferenças radicais entre essas quatro modalidades da objetividade.

Suspeitamos, pois, somente com a intuição dela, que cada uma tem sua estrutura própria; que cada região do ser, cada região da objetividade tem sua própria forma. O problema ontológico que se nos apresenta em seguida é o de descobrir e definir, enquanto for possível, essas características próprias de cada região ontológica; tem que havê-las, visto que intuitivamente distinguimos entre os objetos de uma e os objetos da outra.

Pois bem; chamaremos categorias ônticas a essas estruturas próprias de cada região do ser; a essas estruturas que marcam com um tipo característico, com um modo característico do ser, cada uma dessas regiões ontológicas. Dar-lhes-emos o nome de categorias, porque com este nome ressuscitamos o sentido que seu autor, Aristóteles, lhes deu primitivamente. Para Aristóteles as categorias eram, com efeito, os estratos elementares e primários de todo ser. Chamá-las-emos ônticas para sublinhar que estas categorias são as estruturas mesmas das regiões objetivas.

A palavra "categoria" foi novamente usada por Kant, mas num sentido completamente distinto daquele de Aristóteles. Kant usa o termo de "categoria" para designar não a estrutura do próprio ser, mas aquelas condições que tornam o conjunto dos dados das sensações objeto do conhecimento, aquelas condições que o objeto recebe quando é pensado como objeto de conhecimento.

Por conseguinte, já em Kant as categorias não são propriamente ônticas, mas antes ontológicas. A diferença que se deve estabelecer entre estes dois termos é a de que empregamos o termo "ôntico" para designar aquelas propriedades características, estruturas e formas que são dos objetos enquanto seres. Ao contrário, empregamos o termo de objetividade "ontológica" para designar aquelas formas, estruturas ou modalidades que convém aos objetos enquanto que foram incorporados a uma teoria científica ou filosófica.

O objeto, enquanto ser, tem sua estrutura própria; a essa chamamos ôntica. Mas logo o objeto é elaborado de uma certa maneira pelo esforço do conhecimento; é elaborado pela filosofia, pela psicologia, pelas ciências particulares; e essa elaboração faz sofrer ao objeto algumas modificações; e as modificações que o objeto sofre pelo fato de ingressar na relação específica do conhecimento, essas modificações são as que chamaremos ontológicas. Porém, por debaixo das modificações ontológicas, perduram sempre as estruturas ônticas; porque estas não podem ser modificadas nem transformadas pelo fato de entrar o objeto a formar na relação do conhecimento.

Kant vê muito bem que o objeto, ao entrar na relação de conhecimento, tem  que sofrer modificações pelo fato de ingressar nessa relação; e a elas chama categorias. Porém o erro de Kant, como o erro do idealismo em geral, é acreditar que o objeto não é objeto senão enquanto ingressa na relação de conhecimento; como se o homem não tivesse uma relação com objetos distinta, anterior e mais profunda que a relação de conhecimento.

O homem trata com os objetos, trata com as coisas, tem-nas, deseja-as, rejeita-as, maneja-as, manipula-as, independentemente de conhecê-las, antes de conhecê-las, depois de tê-las conhecido.

A relação de conhecimento é somente uma das muitas relações em que o homem pode entrar no mundo. Mas o idealismo é uma filosofia que atua desde o começo com a condicionalidade histórica de procurar um conhecimento indubitável, de iniciar-se numa teoria do conhecimento; por isso assenta como indiscutível um princípio que esteve valendo durante três séculos, e é que a única relação entre o homem e as coisas é a relação de conhecimento.

Tanto o idealismo quanto o realismo exagerados adotam, pois, um ponto de vista parcial e limitado no conjunto total do ser e da realidade. Esse ponto de vista parcial é o que devemos superar na metafísica atual, na ontologia atual; e por isso temos de nos colocar ingenuamente diante das diversas regiões do ser, e tentar fixar, com a maior precisão, as estruturas ônticas de cada uma dessas regiões.
De outra parte, este intento ou ensaio de determinar as estruturas ônticas, essas estruturas que chamamos categorias, tem outra conseqüência de uma importância fundamental.

Quando tivermos visto quais são as categorias estruturais próprias de cada região da objetividade, então advertiremos que essas estruturas pertencem aos objetos mesmos, ao grupo dos objetos mesmos; que impõem suas características aos métodos que o homem, como sujeito cognoscente, empregar para tomar conhecimento desses objetos. E checaremos facilmente à conclusão de que cada região ontológica tem suas características ônticas próprias; e que se a inteligência humana, desejosa de conhecer os objetos dessa região, não tomar em conta a estrutura ôntica peculiar dessa região e aplicar a ela métodos que não lhe são próprios ou peculiares, porque são métodos tirados de outras regiões em que há outras estruturas distintas, então, daqui, desta aplicação de métodos inadequados às estruturas peculiares de uma região, nascerão forçosamente equívocos, falhas ou más interpretações, que conduzirão as ciências a erros crassos.

Assim, por exemplo, poder-se-ia mostrar que durante mais de um século permaneceu o estudo da biologia detido nas simples descrições ou enumeração daquilo que se vê e se toca, pelo fato de que, ao iniciar o trabalho explicativo, os biólogos pensavam que não podiam aplicar mais métodos que os próprios métodos da física. Porém como os métodos da física são métodos que estão adequados a uma determinada região ôntica, a uma determinada região do >ser, e se ajustam às estruturas dessa região, resulta que ao serem aplicados sem discernimento ao objeto da biologia, tropeçam com impossibilidades que não se puderam evitar até finais do século XIX, quando finalmente os biólogos perceberam que é necessário aplicar ao método da biologia métodos adequados às estruturas próprias desse setor ou pedaço da realidade.
Isto é o que significa a frase, tão freqüente na filosofia atual, das "categorias regionais".

Os que forem leitores de livros atuais de filosofia terão visto, em Husserl sobretudo e em muitos outros filósofos, empregado o termo de "categorias regionais". O que isto significa é o que acabo de dizer, ou seja: que cada uma das regiões em que a totalidade dos objetos pode dividir-se tem sua estrutura própria que não é mais do que a expressão, em palavras, da estrutura mesma dessa região ôntica. Pelo contrário, as categorias intelectuais ou categorias ontológicas são aquelas que não respondem à estrutura mesma do objeto que se trata de estudar, antes respondem à transformação que esse objeto sofre tão logo entra na tarefa especifica do conhecimento científico.

180.   Estrutura dos objetos reais.
Pois bem: se com essas prevenções iniciamos o estudo da primeira região que delimitamos no vasto campo da ontologia, verificamos que as coisas que chamamos coisas reais constituem um conjunto ao qual damos o nome de mundo; constituem um conjunto que é o mundo das coisas reais. Esse mundo das coisas reais tem uma estrutura õntica. Qual é esta estrutura? O que de início encontramos nessa estrutura é, evidentemente, o ser. Esse mundo de coisas reais é um mundo que é.

E, que significa aqui ser? 
 Significa uma coisa muito simples, muito evidente, muito imediata: significa aquilo que "há" na minha vida. Está aí, na minha vida; tropeço com ele constantemente na minha vida; se fecho os olhos ao caminhar bato a cabeça no tronco de uma árvore. A árvore é, está aí, na minha vida. Existe. Nesse sentido, esse mundo das coisas reais possui essa primeira estrutura característica: ser. Possui o ser. Porém essa estrutura não será suficiente, nem de longe, para definir o conjunto das categorias ônticas deste mundo das coisas reais, visto que, além disto, este ser é um ser real.

Que significa real? 
Vamos tomar aqui a palavra "real" no seu sentido estrito; seu sentido estrito é aquele que se deriva da voz latina res, que significa coisa. Este mundo de objetos, que é o mundo que é, que tem que ser, é, ademais, real. Seu ser é desse tipo especial que chamamos ser real. Quer dizer que não somente está aí, mas que está aí de um modo especial, à maneira como as coisas estão aí, como as res estão aí; independente do meu pensamento, perceba-as eu ou não; está como está esta coisa, essa outra coisa, aquela outra coisa, todas as coisas. Está com uma individualidade de presença, da qual, quando a percebo, me aposso direta e imediatamente; com uma presença individual que é a que designamos com a palavra "real".

Temos, pois, duas categorias ou determinações dessa primeira esfera de objetos: o ser e a realidade. Podemos acrescentar outras duas, que são também categorias ônticas dessa região. Podemos acrescentar a duração. As coisas do mundo em que vivemos que são reais, que têm ser, e precisamente ser real, necessariamente são reais no tempo. Isto é, têm um ser que começa a ser, que está sendo e que deixa de ser; têm um ser inserido no tempo; é, pois, o estar no tempo um dos caracteres desse mundo que chamei de coisas reais. A duração limitada ou temporalidade é, pois, a terceira das estruturas ônticas desse mundo das coisas reais, entre as quais vivemos.

À temporalidade acrescenta-se a causalidade. Nesse ser real no tempo, nesse ser que começa, que dura, que termina, que se transforma sucessivamente no tempo, todas essas transformações sucessivas acontecem numa forma de seqüência pressupostamente inteligível que se chama causalidade.
A categoria de causalidade está, por assim dizer, a cavalo entre as categorias ônticas e as ontológicas. De um lado, expressa a sucessão das transformações dos entes reais no tempo. De outro lado, expressa já uma posição de possível conhecimento, por quanto manifesta que essa sucessão de transformações no tempo é inteligível, é redutível a leis, é cognoscível. Deste lado, a categoria de causalidade não é só ôntica, mas também ontológica.

Temos, pois, em conjunto, quatro categorias ônticas fundamentais nas quais se expressa a estrutura dessa primeira região da objetividade, que são: o ser, a realidade, a duração e a causalidade.

181.   O físico e o psíquico.
Está terminado com isto tudo o que podemos dizer ontologicamente deste mundo das coisas reais? Não, não terminou, liste mundo dos objetos reais tem a particularidade ôntica de que não é um só mundo, mas pode encontrar-se nele, com suas quatro categorias estruturais e fundamentais, uma variedade e, ao mesmo tempo, uma superposição de camadas. Variedade, porquanto podemos, dentro dessas quatro categorias estruturais, dividir os objetos deste mundo em dois grandes grupos: os objetos físicos e os objetos psíquicos. Os objetos físicos são; são reais; são reais no tempo e se sucedem em causalidade.

Os objetos psíquicos também são; também são reais; também são reais no tempo e também obedecem a uma determinação no campo de nossa consciência. Todavia, existe entre eles uma diferença ôntica que percebemos intuitivamente. Em que consiste esta diferença de relação? Pois consiste simplesmente em que os objetos físicos são espaciais, enquanto que os objetos psíquicos não o são. Os objetos psíquicos não têm localização no espaço. Respondem estritamente às quatro categorias ônticas fundamentais, enquanto que os objetos físicos têm ademais uma localização no espaço.

O espaço é, pois, uma categoria regional do físico dentro do real. Dentro do real, o físico se distingue do psíquico por uma categoria ôntica regional que é o espaço; e até mesmo dentro do espaço, as divisões que fizermos entre objetos químicos, objetos físicos, objetos biológicos.

Terá cada uma delas sua categoria regional ôntica. Assim, por exemplo, o objeto físico, além de estar no espaço, é mensurável; o objeto biológico, além de estar no espaço, não é mensurável, mas tem finalidade, algo intrínseca que rege seu desenvolvimento.
Atendendo somente às categorias ônticas estruturais de cada região, de cada sub-região, de cada sub-sub-região, até chegar, se se quiser, ao indivíduo, pode a ciência aplicar os métodos congruentes e convenientes para o conhecimento do grupo ontológico.

182.   Mundo à mão.
Mas, além dessa divisão em sub-regiões, este mundo das coisas reais apresenta-nos camadas de profundidade. A primeira camada é aquela que chamaríamos o mundo "à mão". A palavra é esquisita. É um pouco esquisita; porém é talvez a maneira menos ruim de traduzir um termo forjado por Heidegger, que é das zuhandene Welt, ou "o mundo que está à mão". .

O pastor;o empregado de Banco, o moço que passeia pela rua, o filósofo enquanto não é filósofo, nas horas do dia em que não é filósofo (que são a maioria), o matemático enquanto não é matemático, mas homem como todo mundo, os homens no mergulho de sua própria vida, vivem num mundo "à mão"; quer dizer, para eles o mundo, o primeiro aspecto deste mundo de objetos reais, é simplesmente uma enorme coleção de coisas que manejam, que têm "à mão", com as quais vão fazendo umas coisas ou outras: móveis, ruas, casas, passarinhos de papel, e até mesmo comendo-as.

O’ homem fundamentalmente é isto; é aquele que vive nesse mundo que está à mão. Ninguém pergunta por quê, ou que é isto, ou que é aquilo, enquanto está vivendo e manejando o mundo, é a relação vital, imediata, em que este mundo se nos oferece. Este mundo à mão constitui, pois, a primeira camada.

183.   Mundo problemático.
Mas este mundo de coisas com as quais vivemos apresenta às vezes resistência aos nossos desejos. Eu vou caminhando pela rua e me choco com algo; eu como uma fruta no bosque e resulta que me faz mal, causa-me dor; e então esta resistência que o homem sente nesse mundo cria ao homem problemas; então, o homem diz: o que é isto? Tão logo o homem pronuncia estas palavras: o que é isto? desaparece a primeira camada deste mundo, do mundo que maneja, e então já não são coisas que há, mas pontos d interrogação, problemas. Aparece outro mundo; esse mesmo de antes, o mesmo, porém agora já problemático, em que cada coisa se tornou um problema.  
O que é a árvore? 
O que é o fruto?
O que é a pedra? 
O que é o ar?
O que é a luz? 

Tudo se tornou um problema; e o homem então, nele, dá-se conta que procura aquilo que é cada uma dessas coisas, e cada uma dessas coisas apresenta agora duas faces: uma face. a de coisa no mundo "à mão"; mas outra face, a de isso que ela 6, e que ainda não sei o que é, e que está oculta na coisa primária no mundo "à mão". Aí está a árvore; eu me refugio nela, eu como seus frutos. Porém agora me digo:

O que é árvore? 
E então o ser da árvore, que não tenho e ando procurando, aparece-me como algo que está dentro da árvore; e eu tenho que ir lá, literalmente, a descobri-lo, como se as coisas do mundo à mão fossem outros tantos véus que, tão logo se faz a pergunta: que é? se levantassem, se descobrissem. E no fundo dessa descoberta está a essência.
Este segundo mundo de perguntas e de problemas poderíamos chamá-lo o mundo teorético, empregando a palavra no sentido contemplativo que tem em grego; ou poderíamos chamá-lo o mundo problemático, o mundo dos problemas; ou então o mundo proposto à pesquisa, ao pensamento.

184.   Mundo científico.
Porém com esta segunda camada não termina tudo, antes uma vez que descobri que as coisas têm um ser, uma essência, interessa-me descobrir essa essência que as coisas têm. Esse ser, no sentido de essência, que descobri que têm, quisera eu conhecê-lo. Então vêm os esforços seculares do homem para conhecer. E a terceira camada é o mundo científico. Para o pastor no campo a árvore é uma coisa que maneja, com a qual trabalha, com a qual convive. Mas para o biólogo é outra coisa. A biologia conhece a essência. A botânica conhece a essência da árvore; a física, a essência de cada coisa, e assim temos a terceira camada, que é o mundo científico. Mundo de essências descobertas depois que as coisas se tornaram problemas e que tais problemas foram resolvidos. Essas essências podem chegar a ser sensivelmente distintas do mundo manejável primitivo. Assim, por exemplo, do ponto de vista da física, este mundo, o mundo de que falamos, o mundo das coisas reais, temporais e causais, lesse mundo não é mais do que um sistema de números métricos; fórmulas matemáticas que expressam medidas e relações entre medidas. Nem mais, nem menos.

185.   Estrutura dos objetos ideais.
Assim, pois, esta esfera das coisas reais vê-se que é complexa no sentido das camadas sucessivas. Nessa série das camadas do mundo das coisas reais passamos da coisa no mundo "à mão" ao problema, e do problema ao conceito da essência. Porém esse conceito já não é uma coisa no mundo das coisas reais; já a essência assim não é uma realidade; não está no tempo e não é mutável e perecível.

Já ao chegar a esse fundo do mundo das coisas reais tropeçamos, sem solução de continuidade, com um dos elementos de que está constituído o outro mundo, o das coisas ideais. Porque as essências assim são coisas ideais; elas constituem como que a segunda esfera dos seres e dos objetos. Coisas reais são cada um dos cavalos; porém a essência "cavalo" já não é real; é um objeto ideal.

Chegamos, pois, ao segundo grande grupo, ã segunda região, que é  a  região  dos objetos  ideais.   Quais  são  estes   objetos  ideais?    Pois principalmente são três os que conhecemos agora (pode ser que haja mais, porém a filosofia até hoje não pode comprovar mais do que estes três grupos de objetos ideais). Primeiro, as relações, as relações entre coisas. Se eu digo que duas coisas são iguais, a igualdade não é uma coisa, mas algo que não se parece nada com a coisa. É um objeto ideal. Se eu digo que duas coisas são semelhantes ou dessemelhantes, ou que uma é o dobro da outra, ou que é a metade da outra, o ser o dobro, a metade, ser semelhante ou ser dessemelhante, todas essas relações são objetos ideais.

As coisas são cada uma aquilo que são; porém somente por comparação pode-se dizer metaforicamente que uma coisa é a metade da outra; pois ser não é metade de nada. De modo que, primeiro, temos as relações. Segundo, os objetos matemáticos. Os objetos matemáticos também são ideais. O ponto, a linha, o círculo, os números, as raízes, os duplos, os triplos, os quádruplos, as razões, as proporções, os quadrados, os cubos, as diferenciais, as integrais; todos esses objetos matemáticos são também objetos ideais. E, por último, as essências são objetos ideais.
        
186.   Ser.
Perguntemos agora: Qual é a estrutura ôntica, quais são as categorias ônticas dessa região que chamamos objetos reais? E temos que a primeira é comum a essa região com a anterior, e é o ser. Estes objetos são, têm ser. Que significa que têm ser? Pois significa que estão no meu mundo, estão aí; não no mundo das coisas reais; porém estão aí e eu saio a procurá-los, do mesmo modo que posso ir procurar um amigo pela rua. Ponho-me a procurá-las e as encontro. E quando as encontro, quando encontro um desses objetos, me encontro com um complexo e com os pensamentos que eu tenho desse objeto. Os pensamentos que eu tenho que ter acerca desse objeto não serão quaisquer uns ou caprichosos, antes serão aqueles que o objeto for. Eu, do círculo, não posso dizer o que quiser. Tenho que dizer que os pontos estão a igual distância do centro. Tenho que dizer que um hexágono regular inscrito dentro do círculo tem seus lados iguais ao raio. Não posso, pois, dizer o que quiser.

Os objetos ideais são, e nesse sentido são independentes de mim. Não são fenômenos psíquicos, como veio acreditando meia história da filosofia até hoje. Não são fenômenos psíquicos nem são vivências. Necessitamos talvez vivências para apreendê-los, como o coxo necessita muletas para caminhar. Necessitaremos provavelmente vivências para ir a esses objetos ideais. Necessitaremos, entre outras vivências, símbolos: escrever numa lousa uma letra V e um risco, e debaixo o numero três, que significa "raiz quadrada de três".

Mas é esse o objeto ideal? 
Não, esse é o sinal com que eu designo esse objeto ideal. Necessitaremos talvez imagens para pensar nesses objetos ideais. Porém eles, pensados mediante essas imagens, são o termo mencionado, o representado pelas imagens, mas não as imagens mesmas. As imagens são vivências, mas o objeto ideal representado pelas imagens é distinto das imagens que o representam.

187.   Intemporalidade.
Têm, pois, estes objetos ideais ser, do mesmo modo que os objetos reais; porém o ser desses objetos ideais não é a realidade; e não é a realidade, porque esses objetos ideais — e aqui vem seguidamente a categoria correspondente — são intemporais. Não nascem no tempo, nem perecem no tempo, nem se transformam ao longo do tempo. O triângulo é fora do tempo, de qualquer tempo. Não começa a ser um belo dia no sul da Itália, quando os Pitagóricos começam a pensar em geometria; não começa a ser então, mas quando então o descobriram os Pitagóricos, como Colombo descobriu a América. Descobriram o triângulo que não terminará de ser; mas se algum dia, por catástrofe miraculosa, deixasse de haver homens sobre a terra, deixaria de haver quem pensasse no triângulo, porém não deixaria de haver triângulo. Deixaria de haver quem pensasse nisso, porém nem por isso deixaria de haver triângulo.

Da mesma forma, se se destruir a humanidade e venha a surgir outra nova humanidade, que tenha esquecido por completo a nossa própria história, ninguém neste mundo saberá sequer que existiu um homem chamado Péricles. E todavia, existiu.
Assim é que a intemporalidade é característica -destes objetos ideais, que não estão no tempo, nem começam a ser num momento, nem deixam de ser noutro momento, antes são fora do tempo. Não digamos eternamente porque é um conceito, o da eternidade, cheio de dificuldades. Digamos somente fora do tempo, intemporal.

188.   Idealidade.
Chegamos à terceira categoria deste grupo, que é a idealidade. O que se entende por idealidade? Pois entendemos por idealidade o contrário de causalidade. Como se explica, ou melhor dizendo,] em que consistem as variações temporais das coisas no mundo dos objetos reais? Consistem em que se empurram e sucedem umas às outras; os fatos de consciência sucedem-se uns aos outros e a causalidade expressa, de um lado, o caráter ôntico dessa sucessão, e, de outra de suas fases, o caráter ontológico da inteligibilidade dessa sucessão. Mas os objetos ideais não se causam uns aos outros; o ponto não causa a linha, a linha não causa o triângulo, nem o círculo causa a esfera, antes esses objetos ideais são uns com relação aos outros numa conexão que não é a causai, mas é a de implicar-se idealmente, como a conclusão está implicada na premissa de um silogismo. Essa implicação é aquilo que chamamos idealidade.

De maneira que para estudar os objetos matemáticos não serve para nada o conceito de causa; o que unicamente serve é intuir como cada objeto matemático é implicado ou implica outros objetos matemáticos na pureza de sua própria definição ideal. Isto é o que chamamos Idealidade, que se opõe à realidade. A realidade, que no começo nos resultou algo difícil de explicar e que expliquei dizendo que era a presença individual, a realidade está intimamente enlaçada com a causalidade. Porém aqui, onde não há causalidade, a conexão entre os indivíduos deste grupo de objetos ideais é uma conexão ideal.

Por isso chamamos àqueles reais, e a estes ideais, porque tínhamos tomado para designá-los aquela categoria ôntica típica da região. Na região anterior era típica a categoria de presença individual., causai, efetiva, no pleno sentido da palavra "efetiva", e por isso os chamávamos objetos reais, de res, coisa. E a estes, tomando também a categoria mais típica e própria da região, temos que chamá-los objetos ideais, porque nesta região a terceira categoria deles, a idealidade, é propriamente a mais característica.
Antes de prosseguir no estudo e exame ôntico das outras duas esferas ou regiões da objetividade, convém uns minutos de detenção sobre um problema que nesse momento se apresenta.

189.   A unidade do ser.
Um certo número de filósofos censura gravemente esse tipo de ontologia que está em formação na filosofia atual. Está inacabado. É o conjunto dos problemas em que trabalham atualmente os filósofos. E censuram esta tentativa e a própria idéia de "categorias regionais" e de estruturas regionais do ser". Censuram-na acusando-a de que divide e parte em dois, ou em três, ou em quatro, a fundamental unidade do ser. Dizem: essa ontologia é uma ontologia dua-lista ou pluralista; toma o ser e o parte em dois; de um lado, as que se chamam coisas reais, e de outro lado os objetos ideais. Porém isto não é assim, tem que haver uma unidade do ser.

Esta censura é completamente injusta; esta crítica é completamente infundada. Os que isto dizem, não têm a menor razão e, sobretudo, não se inteiraram daquilo que a novíssima ontologia se propõe e pretende. Como se pode dizer que nossa ontologia destrói a unidade do ser, quando, pelo contrário, acabamos de ver que a primeira coisa que fizemos, ao enumerar as categorias estruturais e ônticas de cada uma dessas duas regiões, foi começar pela mesma, o ser? De modo que encontramos a mesma categoria, o ser, como primeira categoria de objetos ideais. Aquilo que distingue uns de outros não é, pois, que uns sejam e os outros não sejam; os dois são; aí está a unidade do ser. Porém uns são reais e outros são ideais.

Ou por acaso pretendem estes filósofos monistas ou identificistas que não haja mais do que um só modo de ser? Mas então tornaria-mos a recair infalivelmente em todas as complicações e contradições do ultra-realismo e do ultra-idealismo. Porque a única unidade não pode ser uma unidade de identidade, antes tem que ser uma unidade de analogia, de conexão, de compenetração, que permita a diversidade; porque o ser é, porém é ao mesmo tempo diverso.
 
Mas não somente vimos que na nossa enumeração das categorias, nas duas regiões, a primeira das categorias, em ambas regiões, foi o ser, senão ademais, vimos que nossa chegada à região dos objetos ideais se deu porque a ela nos levou o aprofundamento na camada dos objetos reais. Quando descrevemos as camadas sucessivas do mundo dos objetos reais, passamos das coisas com que vivemos e manejamos, que temos à mão, a torná-las problemas: o que é isto?

O problema era o anúncio de que havia uma essência por descobrir lá dentro. A ciência vem depois descobrir essa essência, e isto que a ciência adquiriu, o que é? Pois isto é objeto ideal. Fomos conduzidos à segunda região pela simples penetração na profundidade dentro da primeira, ao término da qual e sem solução de continuidade, nos encontramos já na segunda. Isto quer dizer que entre as duas regiões há uma homogeneidade. Esse algo que já haviam visto Aristóteles e os escolásticos quando falavam do "ente"; que o termo "ser" não é como um gênero que tenha espécies, senão que cada uma das espécies do ser está incluída no ser, não como a espécie no gênero, mas por analogia entitativa.

O único momento um pouco difícil, ou dramático, vai ser quando cheguemos aos valores, a essa região ontológica que chamamos valores. Porque aí vamos tropeçar com uma estrutura ôntica tão particular, que é a estrutura ôntica em que a categoria de ser não se dá. Os valores não são. De modo que essa categoria estrutural do ser, que é a primeira que enumeramos para os objetos reais e para os objetos ideais, vamos ter que negá-la aos valores, sem que isso queira dizer, como talvez presumam os monistas ou identidistas, que tais valores se reduzem ao "não-ser".

 Fonte:
CONSCIÊNCIA:ORG

DEUS - Prova Metafísica



Régis Jolivet


Curso de Filosofia 
Capítulo Segundo
PROVAS   METAFÍSICAS   DA   EXISTÊNCIA   DE   DEUS
201     

   Podem-se distinguir dois grupos de provas da existência de Deus: o das provas metafísicas e o das provas morais, conforme estas provas partem da realidade objetiva do universo, ou da realidade moral. Na realidade, toda prova de Deus é metafísica, uma vez que a existência de Deus não é, propriamente, objeto de apreensão intuitiva e não pode ser demonstrada a não ser com a ajuda de princípios metafísicos. É possível, contudo, e ressalvada esta observação, conservar a divisão em provas metafísicas e provas morais.
ART.    I.    OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE AS PROVAS METAFÍSICAS
1. A experiência, nas provas metafísicas. — Estas provas também são chamadas muitas vezes provas físicas, por assinalar o fato de se apoiarem na experiência objetiva. Mas toda prova da existência de Deus, seja metafísica ou moral, deve necessariamente partir dos dados de experiência, quer dizer, deve ter sua origem ou seu ponto de apoio nos seres e fatos concretos que a experiência nos revela, para elevar-se daí a um Ser real, sem o qual estes seres e estes fatos e todo o universo permaneceriam inexplicados e inexplicáveis.
202      2. Visão geral das provas metafísicas. — Antes de expor os diversos argumentos, é útil tomá-los em conjunto, de forma sintética, a fim de tornar mais claramente acessível à inteligência o que constitui o eixo comum de uns e outros.
a) O fato do condicionamento universal. Tudo o que vemos em torno de nós, e tudo o que a ciência, cada vez mais, nos ensina, aparece-nos como um encadeamento de seres ou fenômenos que se sucedem e se imiscuem uns nos outros e assim formam séries que têm os seus anéis sòlidamente articulados. É a isto que podemos chamar fato do condicionamento universal, pelo qual todos os seres e todos os fenômenos do universo encontram sua condição, quer dizer, sua causa ou razão de ser, num outro ser ou outro fenômeno.
b) A causa primeira incondicionada. O princípio que nos orienta neste ponto é o de que, de condicionado a condicionante, é preciso necessariamente chegar a um princípio ou a uma causa absolutamente primeira, absolutamente incondicionada e, conseqüentemente, colocada fora da série causai. De nada adiantaria, com efeito, prosseguir o infinito, uma vez que a série causai, mesmo concebida como infinita, seria ainda condicionada no conjunto, quer dizer, composta unicamente de intermediários que transmitissem simplesmente a causalidade. Na ordem causai, é o primeiro termo incondicionado que produz tudo, pois o resto não tem por função senão transmitir o movimento ou o ser. (Um canal, por mais longo que seja, não é a explicação da água que nele circula; apenas a fonte explica a corrente. Da mesma forma, não se explica o movimento das bolas de bilhar, multiplicando o número das bolas, mas unicamente recorrendo, qualquer que seja o número de bolas, à mão, que é a causa primeira do movimento que as bolas transmitem umas às outras.)
203 c) A causa universal absolutamente primeira. Nossa investigação só pode terminar numa causa única e por isto mesmo universal, pois a causa absolutamente primeira não pode ser senão única. Se ela fosse múltipla, seria necessário supor que as causas absolutamente primeiras são independentes umas das outras (senão, elas não seriam absolutamente primeiras). Ora, esta suposição é incompatível com a unidade e a ordem que reina no universo, e inconciliável com as exigências da razão, para a qual o inteligível, o ser e o uno são convertíveis (192). Se assim não fosse, seria necessário admitir que a lei absoluta das coisas não coincide com a de nosso pensamento e que, apesar do absurdo ser inconcebível, pode contudo constituir o cerne das coisas. Ora, nisto existe uma incompatibilidade radical, uma vez que, como já vimos  na Crítica  do conhecimento   (177), os princípios da razão não são nada mais do que as próprias leis do ser.
É necessário, portanto, concluir que só existe uma Causa absolutamente primeira e que esta Causa, que, pela própria definição (sendo absolutamente primeira) não depende de nenhuma outra e domina todas as séries causais, deve ser um Ser necessário, quer dizer, de tal ordem que não possa não ser, exista por sua própria essência e tenha em si a razão total de sua existência.
204      3. Objeção kantiana. — Kant levantou contra o valor das provas da existência de Deus uma objeção geral que devemos examinar aqui. Todas estas provas, diz ele, apóiam-se no princípio da causalidade, pelo fato de que procuram mostrar que Deus é causa do universo. Ora, o princípio da causalidade não tem valor a não ser na ordem da experiência sensível. As provas de Deus são, portanto, ineficazes.
A esta objeção devemos opor o seguinte: em primeiro lugar, que o princípio da causalidade, como nós o empregamos aqui, não nos serve mais do que para provar que o universo exige uma causa, e isto em virtude mesmo do que apreendemos no universo, e de forma alguma para definir o que é ou deve ser em si esta causa, — depois, e de acordo com o que estabelecemos na Crítica do conhecimento (177), que o princípio de causalidade não é uma-forma subjetiva, quer dizer, a priori e arbitrária, de nossa razão, mas uma evidência objetiva, apreendida no próprio ser dado à experiência, e por conseguinte válida proporcionalmente para a universalidade do ser. Segue-se que, ao contrário do que afirma. Kant, o uso transcendente do princípio de causalidade é legítimo-e rigorosamente válido.

ART. II.    AS CINCO  VIAS
205    Uma vez que se aprendeu bem o esquema geral das provas, físicas (ou metafísicas) da existência de Deus, é fácil compreender os cinco argumentos (ou as cinco vias que conduzem a Deus) propostos por Santo Tomás. Estes argumentos partem das diferentes ordens de condicionamento ou de encadeamento que podemos observar no universo, e cada um nos conduz ao mesmo Princípio absortamente primeiro, que é Deus.

 1.   Prova pelo movimento
Santo Tomás considera esta a prova mais manifesta de todas. Para bem compreendê-la, é importante ter bem presentes ao espírito ao mesmo tempo a noção de movimento e o princípio geral em que se baseia a prova.
1.    O princípio do argumento.
a)         A noção de movimento. O termo movimento não designa apenas o deslocamento de um lugar para outro, mas, em geral, toda passagem da potência ao ato, isto é, de uma modalidade de ser a uma outra. Como vimos em Cosmologia (73), o que há de essencial no movimento é propriamente a passagem enquanto passagem, o que faz do movimento uma realidade que participa a um tempo do ato e da potência. O movimento é, então, o sinal e a forma do que se chama em geral o vir-a-ser.
b)         A inteligibilidade do vir-a-ser. Toda a questão estará então em descobrir o que torna inteligível (quer dizer, o que explica) o vir-a-ser. Para isto vai-se recorrer ao princípio, estabelecido na Ontologia (194), segundo o qual "tudo o que se move é movido por outro", quer dizer que nada passa da potência ao ato a não ser sob a ação de uma causa já em ato, o que significa, mais resumidamente, que nada pode ser causa de si mesmo.

2.         O argumento. — Em virtude do princípio precedente, Santo Tomás estabelece que o movimento exige um primeiro motor (o que não é mais do que uma aplicação do princípio geral da inteligibilidade do vir-a-ser). "Com efeito, diz ele, é evidente (e nossos sentidos o atestam) que, no mundo, certas coisas estão em movimento. Ora, tudo o que está em movimento é movido por um outro. É impossível que, sob o mesmo aspecto, e do mesmo modo. um ser seja a um tempo movente e movido, quer dizer que se mova a si mesmo e passe por si mesmo da potência ao ato. Logo, se uma coisa está em movimento, deve-se dizer que ela está movida por uma outra (81). E isto porque, se a coisa que move por sua vez se move, é necessário, por outro lado, que ela seja movida por uma outra, e esta por uma outra ainda. Ora, não se pode ir assim ao infinito,  porque não existiria  então  motor primeiro, e daí se seguiria que não existiriam tampouco outros motores, pois os motores intermediários não movem a não ser que sejam movidos pelo primeiro motor, como o bastão não se move a não ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um motor primeiro que não seja movido por nenhum outro. E este primeiro motor é Deus."
3.    Objeção. — Certos filósofos julgaram poder fugir a esta conclusão admitindo uma série infinita e eterna de motores e móveis. Se o mundo e o movimento, pensam eles, são eternos, não há por que procurar um primeiro motor.
Mas Santo Tomás responde que esta objeção não poderia atingir o argumento, porque não o toma no seu verdadeiro sentido. Com efeito, o argumento manteria toda a sua força na hipótese da eternidade do mundo, uma vez que o que se considera não é a série de motores acidentalmente subordinados no tempo, mas a série de motores atualmente e essencialmente subordinados: atualmente, a planta cresce, e seu crescimento depende do Sol; mas o Sol, de que depende? Seu movimento atual, de onde provém? Se o recebe de um outro astro, este astro, por sua vez, de onde recebe atualmente o seu movimento? É impossível prosseguir ao infinito, porque isto seria suprimir o princípio e a fonte do movimento, e, portanto, o próprio movimento. Ora, o movimento existe. Logo, existe um primeiro motor. E se o mundo fosse eterno, seu movimento exigiria eternamente um primeiro motor.
4.    Corolários. — Da noção de primeiro motor imóvel, quer dizer, de um ser imutável na perfeição que lhe pertence por sua própria essência, podem-se deduzir imediatamente os corolários seguintes:
a) O primeiro motor imóvel é infinitamente perfeito. Com efeito, toda mudança implica imperfeição, uma vez que mudar é adquirir o ser que não se tem. Se, pois, o primeiro motor é absolutamente imóvel é que ele possui toda a perfeição, quer dizer, a plenitude do ser.   Em outras palavras,  ele é Ato puro.
b) O primeiro motor imóvel é um ser espiritual, pois a matéria é corruptível, portanto essencialmente imperfeita. Sendo espiritual, o primeiro motor deve ser também inteligente e livre, pois inteligência e liberdade são propriedades essenciais dos seres espirituais.
c)         O primeiro motor imóvel é eterno, uma vez que é absolutamente imutável.
d)         O primeiro motor imóvel é onipotente, pois, sendo princípio do movimento universal, está presente por seu poder a tudo aquilo que move, quer dizer, a todo o universo.
§ 2.   Prova pela causalidade
206      1.    O argumento.
a)         Há uma Causa absolutamente primeira. Na prova pelo movimento, colocando-nos do ponto-de-vista do vir-a-ser fenomenal. Aqui, encaramos a causalidade propriamente dita. Tudo o que se produz, como dissemos, é produzido por outra coisa (senão, o que é produzido seria causa de si mesmo, quer dizer, anterior a si, o que é absurdo). Concluímos daí, por exclusão da regressão ao infinito, que há uma Causa absolutamente primeira, fonte de toda causalidade.
b)         Esta Causa primeira é transcendente, a todas as séries causais. Em outras palavras, ela não pode ser um elemento da série das causas. Com efeito, se ela não fosse mais do que o primeiro elemento da série causai, seria necessário explicar como este primeiro elemento teria começado a ser causa, quer dizer que, em virtude do princípio de que nada se produz a si mesmo, seria necessário recorrer a uma causa anterior a que se desejaria considerar como primeira, o que é contraditório. É preciso, então, necessariamente, que a Causa primeira transcenda (quer dizer, ultrapasse absolutamente e domine) todas as séries causais, que ela seja causa por si, incausada e incriada.
2. Objeção. — Tem-se pretendido muitas vezes opor a este argumento a hipótese de uma causalidade circular, quer dizer, de uma causalidade recíproca dos elementos do universo, em que a matéria se transformasse em energias diversas, para voltar em seguida a seu estado original e assim por diante, indefinidamente (hipótese defendida por  certos  filósofos   gregos, que  não tinham a noção de criação, e, entre os modernos, por Nietzsche).
Ora, mesmo que se encontrasse um fundamento para esta hipótese, ela não alteraria em nada o alcance da prova pela causalidade : que a evolução seja circular ou linear, isto não se refere senão à transmissão, e não à fonte de causalidade. Ficaria por explicar a existência do Universo, concebido  como  um Todo.
§ 3.    Prova pela existência de seres contingentes
207 1. O argumento. — Esta nova prova parte do fato de que o mundo físico é composto de seres contingentes, quer dizar, de seres que são, mas poderiam não ser, pois estes seres, ou nós OS vimos nascer, ou então a ciência nos mostra que eles foram formados, ou ainda a sua composição exige, para explicá-los, uma causa de sua unidade.
Ora, os seres contingentes não possuem em si mesmos razão de sua existência. Com efeito, um ser que tivesse em si, quer dizer, na sua própria natureza, a razão de sua existência, existiria sempre e necessariamente. Os seres contingentes devem, portanto, ter, num outro, a razão de sua existência, e, este outro, se também é contingente, também tem a sua num outro. Mas não é possível prosseguir assim ao infinito: de ser em ser, devemos chegar, afinal, a um ser que tenha em si mesmo a razão de sua existência, quer dizer, a um ser necessário, que exista por si, e pelo qual todos os outros existam.
Este ser necessário, que existe por sua própria natureza, e que não pode não existir, é Deus.
2. Objeção panteísta. — Os panteístas admitem, efetivamente, este raciocínio, mas não a sua conclusão. Para eles, o ser necessário não seria um Deus pessoal, mas o próprio mundo, tomado no seu conjunto, e concebido por eles como um ser único e infinito.
Mas esta doutrina vai, evidentemente, contra a razão. Com efeito, o todo, que é a soma das partes, não pode ser de uma natureza diferente das partes. Ora, o mundo é composto de seres contingentes. Logo, ele também é contingente e, assim como cada uma das suas partes, não existe por si mesmo. Portanto, sua existência, para ser inteligível, postula a existência de um ser que existe por si e que é Deus.
§ 4.    Prova pelos  graus de perfeição dos seres
208      1.    O argumento.  — Parlamos do  aspecto de beleza   que as coisas manifestam diferentemente. Diremos: se a beleza se encontra em diversos seres segundo graus diversos, é necessário que ela seja produzida neles por uma causa única. É impossível que esta qualidade comum a seres múltiplos e diversos pertença a estes seres em razão de sua própria natureza, pois, do contrário, não se compreenderia por que a beleza se encontraria neles, ora em maior, ora em menor quantidade. Eles seriam esta beleza por sua própria essência, quer dizer, necessariamente a possuiriam perfeita, sem limite, nem restrição. O fato de que há diferentes graus de beleza obriga então a que os diversos seres em que descobrimos estes graus participem simplesmente de uma Beleza que existe fora e acima desta hierarquia de beleza, e que é a Beleza absoluta e infinita.
Este argumento se aplicaria validamente a todas as perfeições ou qualidades, que podem ser levadas ao absoluto: ser, unidade, verdade, bondade, inteligência e sabedoria. O primeiro Princípio deve, então, ser necessariamente Ser perfeito, Unidade absoluta, Verdade, Bondade, Beleza, Inteligência e Sabedoria infinitas.
2. Alcance do argumento. — Este argumento não exige, apenas, uma Beleza ideal, mas uma Beleza subsistente, nem, apenas, uma Verdade ou uma Bondade ideal, mas uma Verdade e uma Bondade subsistente (e assim por diante para as outras perfeições), quer dizer que ele conduz, como os argumentos precedentes, a um Ser que existe em si e por si, e que é, por essência, Verdade, Bondade, Beleza, Unidade etc, absolutas e infinitas.
É que este argumento, como os precedentes, também é investigação de uma razão de ser, a saber, investigação da razão ou da causa da semelhança ou hierarquia dos seres compostos. Sob esse aspecto, estabelece que os seres que possuem graus desiguais de perfeição não têm  em  si mesmos a razão última  desta perfeição, e que esta não pode explicar-se senão por um Ser que a possui absolutamente e essencialmente, enquanto que todo o resto a possui apenas por participação.

§ 5.    Prova pela ordem do mundo
209      1.    O argumento.
a)         Princípio do argumento. A prova pela ordem do mundo (ou argumento das causas finais) se apóia no princípio de finalidade, e toma a seguinte forma: a organização complexa, objetivando um fim, exige uma inteligência ordenadora. Com efeito, apenas a inteligência pode ser razão da ordem, quer dizer, da organização dos meios objetivando um fim, ou dos elementos tendo em vista o todo que compõem: os corpos ignoram os fins e, por conseguinte, se os corpos ou os elementos corporais conspiram em conjunto, é necessário que sua organização tenha sido obra de uma inteligência.
b)         Forma do argumento. O argumento parte do fato da ordem universal. Esta ordem é evidente: considerado no seu conjunto, o universo nos aparece como uma coisa admiràvelmente ordenada, em que todos os seres, por mais diferentes que sejam, conspiram para um fim comum, que é o bem geral do universo. Por outro lado, cada um dos seres que compõem o universo manifesta uma finalidade interna, quer dizer, uma exata apropriação de todas as suas partes, objetivando o bem deste mesmo ser.
Ora, esta ordem é inteligível unicamente pela existência de um princípio inteligente, que ordena- todas as coisas a seu fim, e ao fim do todo que elas compõem. É isto que resulta do princípio1 demonstrado mais acima. Ê necessário, então, admitir que existe uma Causa ordenadora do universo.
210      2.    Objeções.
a) O argumento não conduziria, a ima Inteligência infinita. É a objeção de Kant. O mundo, diz ele, não é infinito, e, se, de fato, é necessário uma inteligência ordenadora para explicar sua unidade interna, seria suficiente, a rigor, uma inteligência de um poder   seguramente prodigioso,  mas não formalmente infinito.
A objeção não procede, pois incide no erro de supor que a ordem do mundo resultaria de uma simples arrumação de materiais preexistentes. Neste caso, uma inteligência não infinita seria uma explicação suficiente da ordem do mundo. Mas tudo muda de figura se a ordem não é mais do que um aspecto do ser, sendo uma ordem interna, que resulta da essência e das propriedades-mesmas das coisas, ainda mais que o autor da ordem é, necessariamente, por isto mesmo, o criador do ser universal, a um tempo.. Poder infinito e Inteligência infinita.
b)    Fruto do acaso. É difícil negar que a ordem reine no mundo. Mesmo os ateus não o contestam. Mas para escapar à
conclusão do argumento, afirmam que a ordem do mundo pode ser explicada pelo acaso. O mundo atual, dizem eles, é o produto
de forças inconscientes e fatais; passou por fases extremamente diferentes da que conhecemos, e esta não se perpetuou a não ser graças à harmonia que estas forças misteriosas acabaram por gerar fortuitamente.
É fácil ver que esta explicação é, na realidade, fuga de uma. explicação. O acaso tem por caracteres a inconstância e a irregularidade, o que é o contrário mesmo da ordem. O acaso pode, a rigor, explicar uma ordem acidental e parcial, mas não uma ordem que governa inumeráveis casos, e que se perpetua, seja no interior dos seres, seja em suas relações mútuas, com uma constância invariável.
c)    A evolução. Invocou-se, também, a evolução, para explicar a ordem do mundo. Mas a evolução, longe de estabelecer a ordem, a supõe, uma vez que se faz de acordo com leis e leis necessárias. A evolução exige, portanto, de forma absoluta, uma inteligência. É que as causas eficientes não excluem de forma alguma as causas finais: ao conutrário, o mecanismo não tem sentido, ou mesmo existência, senão pela finalidade. Por isso, já mostra mos (84) que as causas que podem explicar a evolução dos seres do universo não fazem mais do que obedecer a uma idéia, imanente, e, por conseguinte, supõem a existência de uma ordem anterior e superior a elas.
 Fonte:
CONSCIÊNCIA:ORG 

CONSTELAÇÃO DO TOURO

"Constelação de Taurus"

Touro
Taurus constellation map.png
Nome latino
Genitivo
Taurus
Tauri
Abreviatura Tau
 • Coordenadas
Ascensão reta
Declinação
4 h
15°
Área total 797° quadrados
 • Dados observacionais
Visibilidade
- Latitude mínima
- Latitude máxima
- Meridiano

-65°
+90°
15 Jan (21h)
Estrela principal
- Magn. apar.
Aldebarã (α Tau)
0,85[1]
Outras estrelas
- Magn. apar. < 3
- Magn. apar. < 6

3
-
 • Chuva de meteoros
 • Constelações limítrofes
Em sentido horário:

Taurus (Touro) é uma constelação do zodíaco. O genitivo, usado para formar nomes de estrelas, é Tauri. As estrelas mais brilhantes são: Aldebarã (Alfa do Touro) de magnitude aparente 0,85, Alnath (Beta do Touro) de magnitude aparente 1,65 e Hyadum I (Gama do Touro) de magnitude aparente 3,63. Próximo a Teta do Touro encontra-se uma célebre nebulosa, a Nebulosa do Caranguejo.[1][2]
A constelação também é notável por possuir dois belos aglomerados: Híades e Plêiades.[2] As constelações vizinhas, de acordo com as fronteiras modernas, são: Auriga, Perseus, Aries, Cetus, Eridanus, Orion e Gemini.

Tabela de estrelas

Carregue em [Expandir] para visualizar a tabelaNa mitologia grega, este é o touro em que Zeus se transformou para seduzir Europa, uma princesa fenícia. A representação é formada apenas pela cabeça, ombros e membros anteriores do touro. Na literatura grega foi chamada o Busto, representando o touro que raptou Europa, e sua parte posterior estava submersa nas ondas. As estrelas são representadas como um touro em posição de ataque, os chifres enormes abaixados.
No antigo Egito, os dois aglomerados de estrelas da constelação do Touro, as Híades e as Plêiades, eram associados à chegada das chuvas.[3]

"Constelação de Taurus"

Esta Constelação contém 27 Objetos celestes

História e Mitologia


Desenho feito por Johannes Hevelius da constelação do Touro.
Na mitologia grega, este é o touro em que Zeus se transformou para seduzir Europa, uma princesa fenícia. A representação é formada apenas pela cabeça, ombros e membros anteriores do touro. Na literatura grega foi chamada o Busto, representando o touro que raptou Europa, e sua parte posterior estava submersa nas ondas. As estrelas são representadas como um touro em posição de ataque, os chifres enormes abaixados.
No antigo Egito, os dois aglomerados de estrelas da constelação do Touro, as Híades e as Plêiades, eram associados à chegada das chuvas.[3]
 

Alcyone (estrela)



 Alcione espiral









Eta Tauri conhecida como Alcyone é a estrela mais brilhante do aglomerado aberto das Plêiades (M45), na Constelação do Touro. Está a 130 parsecs (425 anos-luz) da Terra; Acredita-se que se originou de uma nebulosa há 100 milhões de anos.

Mitologia

Assim como as outras seis estrelas que compõem as Plêiades da astronomia grega, esta estrela é associada a uma das Plêiades da mitologia grega. Na mitologia grega, Alcíone (filha de Atlas) é uma filha de Atlas, foi possuída por Posidão, com quem teve o filho Hirieu[1].

Descrição

Alcyone é um sistema quádruplo composto de:
Alcyone A - Estrela gigante azul com magnitude aparente de +2.85. Tem uma luminosidade de 1.400 vezes maior que a do sol e uma temperatura superficial de quase 13.000 K. O tipo espectral do B7 III indica que é uma estrela da emissão. Sua velocidade de rotação elevada (215 km/s) criou na altura de seu equador um disco dos gases arremessados na órbita.
Alcyone B e Alcyone C distam de Alcyone A em 117 e 181 arcseg respectivamente; são Anãs Brancas com magnitude +8, formam um sistema duplo com a distancia entre si de 0.031 arcseg.(aproximadamente a distancia do Sol a Júpiter).
Alcyone D com magnitude of +8.7. orbita Alcyone A em 191 arcseg.

Aldebarã

– Aldebarã aparece junto ao olho esquerdo do touro
Alpha Tauri (α Tau) conhecida como Aldebarã ou Aldebaran é a estrela mais brilhante da constelação Taurus. É também designada pelos nomes de Cor Tauri; Parilicium ou ainda, pelos códigos HR 1457 e HD 29139. Na Grécia antiga era conhecida como "tocha" ou "facho".

Descrição e localização

Se imaginarmos a imagem sugerida para a constelação, a estrela ocupará sensivelmente a posição do olho esquerdo do Touro mítico. O seu nome provém da palavra árabe الدبران al-dabarān que significa "aquela que segue" – referência à forma como a estrela parece seguir o aglomerado estelar das Plêiades durante o seu movimento aparente ao longo do céu nocturno. Quase parece que Aldebarã pertence ao mais disperso dos enxames estelares (as Híades) que constitui, também, o aglomerado mais próximo da Terra. Contudo, a maior parte dos autores crê que, na verdade, está apenas localizada na mesma direcção da linha de visão entre a Terra e as Híades – sendo, portanto, uma estrela independente.

Aldebarã é uma das estrelas mais facilmente identificáveis no céu nocturno, tanto devido ao seu brilho como à sua localização em relação a uma das figuras estelares mais conhecidas do céu. Identificamo-la rapidamente se seguirmos a direcção das três estrelas centrais da constelação de Orion (designadas popularmente por “três Marias” ou “Três reis Magos”), da esquerda para a direita (no hemisfério norte) ou da direita para a esquerda, no hemisfério sul – Aldebarã é a primeira das estrelas mais brilhantes que encontramos no seguimento dessa linha. Pode ser vista em Portugal (zona média do hemisfério norte) de Outubro a Março.


Comparação do tamanho relativo de Aldebaran e do Sol
Aldebarã é uma estrela de tipo espectral K5 III (é uma gigante vermelha), o que significa que tem cor alaranjada; tem grandes dimensões, e saiu da sequência principal do Diagrama de Hertzsprung-Russell depois de ter gasto todo o hidrogénio que constituía o seu “combustível”. Tem uma companheira menor (uma estrela mais pálida, tipo M2 anã que orbita a várias centenas de UA).

Atualmente, a sua energia provém apenas da fusão de hélio, da qual resultam cinzas de Carbono e Oxigénio. O corpo principal desta estrela expandiu-se para um diâmetro de aproximadamente 5,3 × 107 km, ou seja, cerca de 38 vezes maior que o Sol (outras fontes referem que é 50 vezes maior). As medições efetuadas pelo satélite Hipparcos localizam a estrela a 65,1 anos-luz da Terra, e permitem saber que a sua luminosidade é 150 vezes superior à do Sol, o que a torna a décima terceira estrela mais brilhante do céu (0,9 de magnitude).

É ligeiramente variável, do tipo variável pulsante, apresentando uma variação de cerca de 0.2 de magnitude. Outras fontes [1] referem que se situa a 72 anos-luz da Terra e que é 360 vezes mais luminosa que o Sol (outras, ainda, referem apenas 100 vezes mais luminosa). Em 1997, uma equipa de astrónomos (incluindo Artie P. Hatzes e William D. Cochran) anunciou a descoberta de um corpo satélite que pode ser um grande planeta ou uma anã castanha que terá, no mínimo, 11 vezes a massa de Júpiter e que orbitaria a uma distância de 1.35 UA.

A descoberta não foi, contudo, ainda confirmada por outros astrónomos, sendo referidas outras explicações para os dados apresentados.

Significados místicos e astrológicos

Em termos astrológicos, Aldebarã é considerada uma estrela propícia, portadora de honra e riqueza. Segundo Ptolomeu, é da natureza de Marte. O astrólogo e alquimista Cornelius Agrippa escreveu que "o talismã feito sob Aldebarã com a imagem de um homem voando, confere honra e riqueza.
É uma das quatro “estrelas reais” (a guardiã do leste), assim designadas pelos Persas, cerca de 3000 a.C.. Também como guardiã do leste corresponde, na tradição, ao arcanjo Miguel ("o que é como Deus"), o Comandante dos Exércitos Celestes. Indicou o equinócio de outono no hemisfério norte em uma fase inicial da história a que se referem escrituras védicas.
Para os cabalistas é associada à letra inicial do alfabeto hebraico, Aleph, e portanto à primeira carta do Tarô, O Mago. Segundo a mitologia própria da Stregheria, ou bruxaria tradicional italiana, Aldebarã é um anjo caído que, durante o equinócio da Primavera, marca a posição de Guardião da porta oriental do céu.

 Plêiades M45
As Plêiades (Objeto Messier 45) são um grupo de estrelas na constelação do Touro. As Plêiades, também chamadas de aglomerado estelar (ou aglomerado aberto) M45 são facilmente visíveis a olho nu nos dois hemisférios e consistem de várias estrelas brilhantes e quentes, de espectro predominantemente azul. As Plêiades tem vários significados em diferentes culturas e tradições.

O cluster é dominado por estrelas azuis quentes, que se formaram nos últimos 100 milhões de anos. Há uma nebulosa de reflexão formada por poeira em torno das estrelas mais brilhantes que acreditava-se a princípio ter sido formado pelos restos da formação do cluster (por isto receberam o nome alternativo de Nebulosa Maia, da estrela Maia), mas hoje sabe-se que se trata de uma nuvem de poeira não relacionada ao aglomerado, no meio interestelar que as estrelas estão atravessando atualmente. Os astrônomos estimam que o cluster irá sobreviver por mais 250 milhões de anos, depois dos quais será dispersado devido à interações gravitacionais com a vizinhança galáctica.

Nomes e pronúncia

Veja também: Plêiades no folclore e literatura
Outros nomes notáveis das Plêiades incluem:

História Observacional


Comet Machholz parece passar perto das Plêiades, no início de 2005
As Plêiades podem ser vistas no Inverno do Hemisfério Norte e no verão do Hemisfério Sul e são conhecidas desde a antiguidade por culturas de todo mundo, incluindo os Maoris (que as chamavam de Matakiri), os Aborígenes australianos, os Persas (que as chamavam Parveen/parvin e Sorayya), os Chineses, os Maias (que chamavam-nas de Tzab-ek), os Astecas (Tianquiztli) e os Sioux da América do Norte.
Os catálogos de estrelas babilônicos chamavam-nas de MUL.MUL, ou "estrela de estrelas", e elas encabeçavam a lista de estrelas da eclíptica, refletindo o fato que elas estavam próximas do ponto do equinócio vernal em torno do século 23 AEC. Alguns astrônomos gregos consideraram-na uma constelação distinta e são mencionados por Hesíodo e na Ilíada e Odisséia de Homero. Eles também são mencionados três vezes na Bíblia ( 9:9 e 38:31, bem como no Amós 5:8). As Plêiades (Krittika) são reverenciadas especialmente na mitologia hindu como as seis mães do deus da guerra Skanda, que desenvolveu seis faces, uma para cada uma delas. Alguns estudiosos do Islam acreditam que as Plêiades (Al thuraya) são as estrelas em Najm, que é mencionada no Corão.

Uma imagem do Spitzer em infravermelho, mostrando a poeira associada. Crédito: NASA/JPL-Caltech
Tem sido há muito tempo conhecida por ser um grupo de estrelas relacionadas fisicamente. O reverendo John Michell calculou em 1767 que a probabilidade de um alinhamento de tantas estrelas brilhantes foi de apenas 1 em 500.000 e assim como as Plêiades, muitos outros aglomerados de estrelas devem estar fisicamente ligados.[1] Quando fizeram os primeiros estudos das Estrelas de movimento próprio verificou-se que todas iam na mesma direção do céu, à mesma taxa, o que demonstra que eles ainda estavam ligadas.
Charles Messier mediu a posição do aglomerado e incluiu-a como M45 no seu catálogo de objetos semelhantes a cometas, publicado em 1771. Juntamente com a Nebulosa de Órion e o Aglomerado Presepae, foi curioso notar inclusão das Plêiades por, tal como a maioria dos objectos Messier eram muito fracos e mais facilmente confundidos com objetos semelhantes a cometas, que parece praticamente impossível para as Plêiades. Uma possibilidade é que Messier simplesmente queria ter um catálogo maior do que o seu rival científico Lacaille, cujo catálogo de 1755 continha 42 objetos e, por isso, ele acrescentou alguns brilhantes, para aumentar a sua lista objetos.

Distância

A distância das Plêiades é um primeiro passo importante na assim chamada escada das distâncias cósmicas, uma sequência de escalas de distância para todo o Universo. O tamanho do primeiro passo calibra a escada toda, e a escala para este primeiro passo foi estimado por vários métodos. Como o cluster está bem perto da Terra, sua distância é relativamente fácil de medir. Um conhecimento preciso da distância permite que os astrônomos façam um diagrama de Hertzsprung-Russell para o aglomerado que, quando comparado para os desenhados para clusters cuja distância não é conhecida, permite que suas distâncias sejam estimadas. Outros métodos podem então estender a escala de distâncias de aglomerados abertos para galáxias e aglomerados de galáxias, e uma escada de distâncias cósmicas pode ser construída.

Fundamentalmente o entendimento da idade e evolução futura do Universo é influenciada pelo seu conhecimento da distância das Plêiades.

Os resultados anteriores ao lançamento do satélite Hipparcos apontavam que a distância das Plêiades era de cerca de 135 parsecs da Terra. O satélite Hipparcos causou uma consternação entre os astrônomos ao descobrir que a distância era apenas de 118 parsecs ao medir a paralaxe das estrelas no aglomerado—uma técnica que deve dar os resultados mais diretos e precisos. Trabalhos posteriores tem consistentemente encontrado erros na medição da distância das Plêiades pelo Hipparcos, mas ainda não se sabe por que o erro aconteceu.[2] A distância das Plêiades atualmente é aceita como sendo de cerca de 135 parsecs (praticamente 440 anos-luz).[3][4][5]

Composição

O núcleo do aglomerado tem um raio de cerca de oito ano-luz e uma raio da maré de cerca de 43 anos luz. O aglomerado inclui mais de 1.000 membros confirmados estatisticamente, embora este valor exclui estrelas binárias não resolvidas.[6] É dominada por jovens e quentes estrelas azuis, 14 podem ser vistas a olho nu dependendo da observação e das condições locais. O arranjo das estrelas mais brilhantes é algo semelhante a Ursa Maior e Ursa Menor. A massa total contida no aglomerado é estimada em cerca de 800 massas solares.[6]

O aglomerado contém muitas anãs marrons, que são objetos com menos de cerca de 8% do da massa do Sol, não possuem massa o suficiente para a fusão nuclear (para iniciar reações em seus núcleos e tornar-se estrelas). Podem constituir até 25% da população total do aglomerado, embora elas contribuem com menos de 2% da massa total.[7] Os astrônomos têm feito grandes esforços para encontrar e analisar anãs marrons nas Plêiades e de outros jovens "aglomerados", porque são ainda relativamente brilhantes e observáveis, enquanto que anãs marrons nos aglomerados são mais "apagadas" e muito mais difíceis de estudar.

Idade e futura evolução

A idade para os aglomerados estelares podem ser estimados comparando com o diagrama de Hertzsprung-Russell do cluster com modelos teóricos de evolução estelar. Utilizando esta técnica, foram estimadas idades entre 75 e 150 milhões de anos para as Plêiades. A dispersão nas idades estimadas é um resultado da incerteza nos modelos de evolução estelar. Em particular, modelos que incluem um fenômeno conhecido como superação convectiva, em que uma zona convectiva dentro de uma estrela penetra uma zona não convectiva, resultando em idades aparentes mais altas.

Outra maneira de estima a idade do cluster é olhando os objetos de menor massa. Em estrelas normais na sequência principal, o lítio é rapidamente destruído em reações de fusão nuclear, mas anãs marrons podem reter seu lítio. Devido à temperatura de ignição baixa do lítio, de 2,5 milhões de kelvin, as anãs marrons de maior massa irão queimá-lo eventualmente, assim a determinação das anãs marrons de maior massa que ainda contém lítio no aglomerado pode dar uma idéia de sua idade. A aplicação desta técnica às Plêiades dá uma idade de cerca de 115 milhões de anos.[8][9]

O movimento relativo do aglomerado eventualmente irá levá-lo, conforme é visto da Terra, muitos milênios no futuro, passando pelo pé do que é atualmente a constelação de Órion. Além disso, como muitos aglomerados abertos, as Plêiades não vão ficar conectadas gravitacionalmente para sempre, já que algumas estrelas componentes serão ejetadas depois de encontros próximos e outras serão destruídas por marés de campos gravitacionais. Os cálculos sugerem que o aglomerado levará 250 milhões de anos para se dispersar, com interações gravitacionais com nuvens moleculares gigantes e os braços espirais de nossa galáxia também precipitando sua destruição.

Nebulosa de Reflexão


Imagem do Hubble de uma nebulosa de reflexão próxima a Merope
Observando sob condições ideais, alguns indícios de nebulosas podem ser vistos em torno do aglomerado e isto revela-se em fotografias de longa exposição. É uma nebulosa de reflexão, causada pela poeira que reflete a luz azul das quentes e jovens estrelas.

Antigamente, pensava-se que a poeira foi deixada ao longo da formação do aglomerado, mas com a idade de cerca de 100 milhões de anos geralmente aceitos, quase todas as poeiras "originais" presentes teriam sido dispersos pela pressão de radiação. Em vez disso, parece que o aglomerado está simplesmente passando por uma região de poeira do meio interestelar.

Estudos mostram que a poeira responsável pela nebulosa não é distribuída uniformemente, mas concentra-se principalmente em duas camadas, ao longo da linha de visão para o aglomerado. Estas camadas parecem ter sido formadas pela desaceleração devido à pressão de radiação conforme a poeira se move entre as estrelas.[10]

Estrelas mais brilhantes

As nove estrelas mais brilhantes nas Plêiades tem os nomes das Sete Irmãs da mitologia grega: Asterope, Mérope, Electra, Celeno, Taigete, Maia e Dríope, junto com seus pais, Atlas e Pleione. Como filhas de Atlas, as híades eram irmãs das Plêiades. O nome do aglomerado é em si de origem grega, apesar da etimologia não estar clara. Algumas derivações incluem: de πλεîν plein, navegar, fazendo das Plêiades "as navegantes"; de pleos, cheio ou muitos; ou então de peleiades, bando de pombas. A seguinte tabela dá detalhes das estrelas mais brilhantes no aglomerado:

Estrela Designação longitude em 2000 classe espectral
Electra 17 Tauri 29TAU25 B5
Celaeno 16 Tauri 29TAU26 B7
Taygeta 19 Tauri 29TAU34 B7
Maia 20 Tauri 29TAU41 B9
Merope 23 Tauri 29TAU42 B5
Asterope 21 Tauri 29TAU44 B9
Alcyone Eta (25) Tauri 00GEM00 B7
Pais das Plêiades
Atlas 27 Tauri 00GEM21 B9
Pleione 28 (BU) Tauri 00GEM23 B8

Plêiades (mitologia)



As Plêiades (1885) do pintor simbolista Elihu Vedder.

Plêiade Perdida (1884), de Bouguereau
Na mitologia grega, as plêiades eram filhas de Atlas e Pleione. Cansadas de serem perseguidas pelo caçador Órion, pediram a Zeus que as transformasse em uma constelação.
As plêiades são: Electra, Celeno, Taigete, Maia, Mérope, Asterope e Dríope.
[Esconder]

 

Beta Tauri

Beta Tauri (β Tau / β Tauri) é a segunda estrela mais brilhante da constelação de Taurus, com uma magnitude aparente de 1,7.

Porque se encontra na fronteira com a constelação de Auriga, também tem a designação de Gamma Aurigae (γ Aur) (designação rramente usada hoje em dia). Também é designada por Elnath ou El Nath.
Em relação ao sol, esta estrela é notável pela elevada abundância de manganês. Pelo contrário, é pobre em cálcio e magnésio.
Esta estrela começou a divergir da sequência principal, tornando-se numa gigante laranja.

T TAURI


 .T Tauri


 

 .T Tauri

Estrela T Tauri


Representação artística de uma estrela T Tauri com um disco circumestelar
As estrelas T Tauri são um tipo de estrelas variáveis irregulares nomeadas a partir do objecto prototípico do grupo, a estrela T Tauri. São estrelas jovens que ainda não entraram na sequência principal (estrelas pré-sequência principal). Encontram-se perto de nuvens moleculares e se identificam pela variabilidade estelar e presença de linhas intensas na sua cromosfera.

 Características

As estrelas T Tauri são as estrelas mais jovens visíveis,[1] de tipo espectral F, G, K e M e com uma massa inferior a duas massas solares.[2] As suas temperaturas superficiais são similares à das estrelas da sequência principal de massa parecida, mas a sua luminosidade é significativamente mais alta dado o seu maior raio.

As suas temperaturas centrais são provavelmente demasiado baixas para iniciar reacções termonucleares. Em seu lugar, a sua fonte de energia é baseada na libertação de energia gravitacional à medida que a estrela se contrai para formar uma estrela da sequência principal, podendo tardar em alcançar este estado entre 10 e 100 milhões de anos. As estrelas T Tauri têm curtos períodos de rotação (por volta de doze dias comparado com um mês para o Sol) e são muito activas e variáveis.

Mostram emissões intensas e variáveis de raios X e de ondas de rádio, e muitas apresentam ventos solares muito fortes. Os seus espectros apresentam maior abundância de lítio que o Sol e outras estrelas da sequência principal, já que este elemento químico se destrói a temperaturas superiores a 2.500.000 K.

Aproximadamente a metade das estrelas T Tauri estudadas possuem discos circumestelares, denominados neste caso discos protoplanetários, dado que se trata dos possíveis progenitores de sistemas planetários como o Sistema Solar. A maioria das estrelas T Tauri encontram-se em sistemas binários.

Objectos parecidos com as estrelas T Tauri mas com massa maior (de 2 a 8 massas solares) são as chamadas estrelas Herbig Ae/Be, que correspondem a estrelas de tipo espectral A e B que ainda não entraram na sequência principal. Não se observaram objectos deste tipo com massa superior a 8 massas solares, pois evoluem muito rapidamente: quando são visíveis já se produz a fusão do hidrogénio no núcleo e são, portanto, estrelas da sequência principal.

Nebulosa do Caranguejo


Nebulosa do Caranguejo
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Nebulosa do Caranguejo
Descoberto por John Bevis
Data 1731
Dados observacionais (J2000)
Tipo Remanescente de supernova
Constelação Taurus
Asc. reta 05h 34m 31,97s
Declinação +22° 00' 52,1"
Magnit. apar. 8,4
Distância 6.300 anos-luz
Dimensões 6x4 minutos de arco
Outras denominações
M1, NGC 1952
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Nebulosa do Caranguejo

















































- Nebulosa do Caranguejo (também conhecida por Nebulosa da Rolha, Nebulosa da Borboleta) (catalogado por NGC 1952, M1 - Messier 1, Taurus A) é um remanescente de supernova na constelação de Taurus. A nebulosa foi observada pela primeira vez em 1731, por John Bevis.

Ela é o remanescente da supernova SN 1054, que foi registrada, como uma estrela visível à luz do dia, por astrônomos chineses e árabes em 1054. Localizada a uma distância de cerca de 6 300 anos-luz (2 kpc) da Terra, a nebulosa tem um diâmetro de 11 anos-luz (3,4 pc) e está se expandindo à taxa de cerca de 1 500 quilômetros por segundo.

A nebulosa contém um pulsar no seu centro que gira trinta vezes por segundo, emitindo pulsos de radiação, de raios gama a ondas de rádio. Esta nebulosa foi o primeiro objeto astronômico identificado com uma explosão supernova histórica.

A nebulosa age como uma fonte de radiação para estudar corpos celestes que estejam ocultos nela. Nos anos 1950 e anos 1960, a coroa do Sol foi mapeada a partir de observações de ondas de rádio da nebulosa do Caranguejo passando por ela e, mais recentemente, a espessura da atmosfera em Titã, lua de Saturno, foi medida através do bloqueio de raios-X da nebulosa.
  
Origem
Observada pela primeira vez em 1731 por John Bevis, a nebulosa foi redescoberta de forma independente em 1758 por Charles Messier, enquanto observava um cometa brilhante. Messier catalogou-a como o primeiro verbete no seu catálogo de objetos relacionados a cometas. O Conde de Rosse observou a nebulosa no Castelo de Birr, nos anos 1840, e se referiu ao objeto como a Nebulosa do Caranguejo porque um desenho que ele fez dela se parecia com um caranguejo.[1]

No início do século XX, a análise de antigas fotografias da nebulosa tiradas com vários anos de diferença entre si revelou que ela estava se expandindo. Refazendo o caminho da expansão, verificou-se que a nebulosa deveria ter sido formada cerca de 900 anos antes. Registros históricos revelaram que uma nova estrela, brilhante o suficiente para ser vista durante o dia, tinha sido registrada na mesma região do céu por astrônomos chineses e árabes em 1054.[2][3] Dada sua grande distância, a "estrela aparecida" de dia observada por chineses e árabes só poderia ter sido uma supernova — uma estrela que explodiu após ter exaurido a energia disponível para as reações de fusão nuclear e colapsou sobre si mesma.

Análises recentes dos registros históricos mostram que a supernova que criou a Nebulosa do Caranguejo provavelmente ocorreu em abril ou no começo de maio de 1054, chegando ao seu brilho máximo de magnitude aparente entre −7 e −4,5 (mais brilhante do que qualquer objeto no céu noturno, exceto pela Lua) em julho do mesmo ano.

A supernova foi visível a olho nu por cerca de dois anos após sua primeira observação.[4] Graças às observações registradas pelos astrônomos do Extremo Oriente e do Oriente Médio em 1054, a Nebulosa do Caranguejo se tornou o primeiro objeto astronômico reconhecido como sendo ligado a uma explosão supernova.[3]

Condições físicas


O Pulsar do Caranguejo. Esta imagem combina informações ópticas do Hubble (em vermelho) e imagens de raios-X do Observatório de raios-X Chandra (em azul).

Esta imagem do céu, em coordenadas galácticas, mostra a posição do Pulsar do Caranguejo (Crab Pulsar) e de outras fontes de raios gama.
No espectro visível, a Nebulosa do Caranguejo consiste de uma massa ovóide de filamentos, cerca de 6 minutos de arco de comprimento e 4 minutos de arco de largura, cercando uma região central azul difusa (em comparação, a Lua cheia tem 30 minutos de arco de diâmetro). Os filamentos são os remanescentes da atmosfera da estrela progenitora e consistem basicamente de Hélio e Hidrogênio ionizados, além de Carbono, Oxigênio, Nitrogênio, Ferro, Neônio e Enxofre. As temperaturas do filamento tipicamente estão entre 11.000 e 18.000 K e suas densidades são cerca de 1.300 partículas por cm³.[5]

Em 1953, Iosif Shklovsky propôs que a região azul difusa fosse predominantemente produzida por radiação síncrotron, que é a radiação gerada pela curva de elétrons movendo-se em velocidades acima da metade da velocidade da luz.[6] Três anos mais tarde, a teoria foi confirmada por observações. Nos anos 1960, foi descoberto que a fonte das trajetórias curvas dos elétrons era o forte campo magnético produzido por uma estrela de nêutrons no centro da nebulosa.[7]

A Nebulosa do Caranguejo atualmente está se expandindo a uma taxa de cerca de 1.500 km/s.[8] Imagens tiradas vários anos de distância entre si revelam a lenta expansão da nebulosa e, comparando sua expansão angular com sua velocidade de expansão determinada espectroscopicamente, a distância da nebulosa pode ser estimada. Observações modernas dão uma distância até a nebulosa de cerca de 6.300 anos-luz,[9] significando que ela tem cerca de 11 anos-luz de comprimento.

Rastreando sua expansão consistentemente determina uma data para a criação da nebulosa várias décadas após 1054, implicando que sua velocidade externa acelerou desde a explosão supernova.[10] Acredita-se que esta aceleração é causada pela energia do pulsar que alimenta-se do campo magnético da nebulosa, que se expande e força os filamentos da nebulosa para fora.[11]

Estimativas da massa total da nebulosa são importantes para estimar a massa da estrela progenitora da supernova. Estimativas da quantidade de matéria contida nos filamentos da Nebulosa do Caranguejo variam de cerca de 1–5 massas solares;[12] embora outras estimativas baseadas na investigação do Pulsar do Caranguejo levem a números diferentes.

Estrela central


Esta seqüência de imagens do Telescópio Espacial Hubble mostra características do interior da Nebulosa do Caranguejo mudando no período de quatro meses. Crédito: NASA/ESA.
No centro da Nebulosa do Caranguejo estão duas estrelas pálidas, uma das quais é a estrela responsável pela existência da nebulosa. Ela foi identificada como tal em 1942, quando Rudolf Minkowski descobriu que seu espectro óptico era extremamente incomum.[13] Descobriu-se que a região em torno da estrela é uma forte fonte de ondas de rádio em 1949[14] e raios-X em 1963,[15] e ela foi identificada como um dos objetos mais brilhantes do céu em raios gamas em 1967.[16] Então, em 1968, descobriu-se que a estrela emitia sua radiação em rápidos pulsos, tornando-se um dos primeiros pulsares a serem descobertos.

Pulsares são fontes de poderosa radiação eletromagnética, emitida em pulsos curtos e extremamente regulares muitas vezes por segundo. Eles eram um grande mistério quando descobertos em 1967, e a equipe que identificou o primeiro considerou a possibilidade de que ele fosse um sinal de uma civilização avançada.[17]

Porém, a descoberta de uma fonte de rádio pulsante no centro da Nebulosa do Caranguejo era forte evidência de que pulsares eram formados por explosões de supernova. Eles agora são compreendidos como estrelas de neutrôns girando rapidamente, cujo poderoso campo magnético concentra suas emissões radioativas em raios estreitos.

Acredita-se que o Pulsar do Caranguejo tenha cerca de 28–30 km em diâmetro;[18] ele emite pulsos de radiação a cada 33 milisegundos.[19] Os pulsos são emitidos em comprimentos de onda através do espectro eletromagnético, de ondas de rádio a raios-X. Assim como todos os pulsares isolados, seu período está desacelerando muito gradualmente. Ocasionalmente, seu período rotacional demonstra mudanças abruptas, conhecidas como 'glitches'. Acredita-se que são causados por um realinhamento repentino dentro da estrela de nêutrons.

A energia liberada à medida que o pulsar desacelera é enorme e ele alimenta a emissão da radiação síncrotron da Nebulosa do Caranguejo, que tem uma luminosidade total cerca de 75.000 vezes maior que a do Sol.[20]

O lançamento de extrema energia do pulsar cria uma região incomumente dinâmica no centro da Nebulosa do Caranguejo. Enquanto a maior parte dos objetos astronômicos evoluem tão lentamente que mudanças somente são visíveis em escalas de tempo de muitos anos, as partes internas do Caranguejo mostram mudanças em escalas de tempo de apenas alguns dias.[21]

A característica mais dinâmica da parte interior da nebulosa é o ponto onde o vento equatorial do pulsar atinge a parte principal da nebulosa, formando uma frente de choque. O formato e a posição desta característica muda rapidamente, com o vento equatorial aparecendo como uma série de características parecidas com nuvens que imergem, tornam-se brilhantes e então, empalidecem, à medida que se movem para longe do pulsar em direção ao corpo principal da nebulosa.

Estrela progenitora


A Nebulosa do Caranguejo vista em infravermelho pelo Telescópio Espacial Spitzer.
A estrela que explodiu como uma supernova é chamada de estrela progenitora da supernova. Dois tipos de estrelas explodem como supernovas: anãs brancas e estrelas maciças. Nas chamadas supernovas Tipo Ia, gases caindo em uma anã branca aumentam sua massa até que ela se aproxima de um nível crítico, o limite de Chandrasekhar, resultando em uma explosão; nos Tipos Ib/c e supernovas Tipo II, a estrela progenitora é uma estrela maciça que ficou sem combustível para alimentar suas reações de fusão nuclear e colapsa em si mesma, atingindo temperaturas tão fenomenais que explode.

A presença de um pulsar no Caranguejo significa que ela deve ter sido formada em um supernova de colapso de núcleo; supernovas Tipo Ia não produzem pulsares.

Modelos teóricos de explosões de supernova sugerem que a estrela que explodiu para produzir a Nebulosa do Caranguejo devia ter uma massa de entre 8 e 12 massas solares. Acredita-se que estrelas com massas menores do que 8 massas solares sejam pequenas demais para produzir explosões de supernova e terminam suas vidas produzindo uma nebulosa planetária, ao invés disso, enquanto uma estrela mais pesada do que 12 massas solares teria produzido uma nebulosa com uma composição química diferente daquela observada na Nebulosa do Caranguejo.[22]

Um problema significativo nos estudos da Nebulosa do Caranguejo é que a massa combinada da nebulosa e do pulsar somam consideravelmente menos do que a massa predita da estrela progenitora e a questão de onde a 'massa faltando' está permanece sem solução.[23] Estimativas da massa da nebulosa são feitas medindo o total de luz emitida e calculando a massa exigida, dadas temperatura e densidade medidas da nebulosa. Estimativas variam de 1–5 massas solares, com 2–3 massas solares sendo o valor geralmente aceito.[22] Estima-se que a massa da estrela de nêutrons seja de 1,4 a 2 massas solares.

A teoria predominante para entender a massa faltando na Nebulosa do Caranguejo é que uma proporção significativa da massa da progenitora foi levada embora antes que da explosão supernova em um rápido vento estelar. Porém, isto teria criado um casco em torno da nebulosa. Embora tentativas tenham sido feitas em vários comprimentos de onda diferentes para observar o casco, nada jamais foi encontrado.[24]

Trânsitos por corpos do Sistema Solar


Imagem do Telescópio Espacial Hubble de uma pequena região da Nebulosa do Caranguejo, mostrando sua intricada estrutura filamentária. Crédito: NASA/ESA.
A Nebulosa do Carangueja fica aproximadamente a 1½ ° de distância da eclíptica—o plano da órbita da Terra em torno do Sol. Isso significa que a Lua — e, ocasionalmente, planetas — podem transitar ou ocultar a nebulosa. Embora o Sol não transite a nebulosa, sua coroa passa em frente a ela. Esses trânsitos e ocultações podem ser utilizados para analisar tanto a nebulosa quanto o objeto passando em frente a ela, ao se observar como a radiação da nebulosa é alterada pelo objeto transitando.
Trânsitos lunares têm sido utilizados para mapear as emissões de raios-X da nebulosa.

Antes do lançamento de satélites observadores de raios-X, como o Observatório de raios-X Chandra, observações de raios-X geralmente tinham uma resolução angular baixa, mas quando a Lua passa em frente à nebulosa, sua posição é conhecida muito acuradamente e, portanto, as variações no brilho da nebulosa podem ser usadas para criar mapas de emissões de raios-X.[25] Quando raios-X foram observados pela primeira vez na Nebulosa do Caranguejo, uma ocultação lunar foi utilizada para determinar a exata localização de sua fonte.[15]

A coroa do Sol passa em frente à Nebulosa do Caranguejo a cada junho. Variações nas ondas de rádio recebidas da Nebulosa do Caranguejo nesta época podem ser utilizadas para inferir detalhes sobre a densidade e a estrutura da coroa. Observações primárias estabeleceam que a coroa se estendia a distâncias muito maiores do que se havia suposto antes; observações subseqüentes descobriram que a coroa continha variações de densidade significativas.[26]

Muito raramente, Saturno transita pela Nebulosa do Caranguejo. Seu trânsito em 2003 foi o primeiro desde 1296; outro não acontecerá até 2267. Observadores usaram o Observatório de raios-X Chandra para observar Titã, a lua de Saturno, enquanto atravessava a nebulosa, e descobriram que a 'sombra' de raios-X de Titã era maior do que sua superfície sólida, devido à absorção de raios-X em sua atmosfera. Essas observações mostraram que a espessura da atmosfera de Titã é de 880 km.[27] O trânsito de Saturno em si não pôde ser observado, pois Chandra estava atravessando o cinturão de Van Allen na época.

Na ficção

  • Terráqueos encontram uma raça alienígena pela primeira vez na Nebulosa do Caranguejo na história de ficção científica First Contact (Astounding, maio de 1945) de Murray Leinster.
  • No serial de Doctor Who, Colony in Space, o Mestre revela que a criação da Nebulosa do Caranguejo foi o resultado da Super Corrida do planeta Exarius (ou Uxarius) para testar sua Arma do Dia do Juízo Final, um mecanismo que podia projetar antimatéria em uma velocidade acima da velocidade da luz.
  • No filme Dude, Where's My Car? (2000), dois homens do espaço sideral convidam um culto obcecado por alienígenas para uma festa na Nebulosa do Caranguejo.
  • Na série As Tartarugas Ninjas, durante a fase onde os tartarugas e April realizam um tour pela Europa, em Roma, um casal de aliens polvo tentam roubar os tesouros de arte da Terra. Para enganar os aliens e mandá-los embora, os tartarugas pregam nos objetos uma etiqueta com os dizeres: Fabricado na Nebulosa Caranguejo. Aqui seria equivalente a uma expressão do tipo made in China.


  A

B

N

P

N (continuação)

N (continuação)   

P

U

 Fonte:
Wikipedia