sexta-feira, 21 de outubro de 2011

DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE - A NATUREZA DO TEMPO


A NATUREZA DO TEMPO


CAPÍTULo III

A NATUREZA DO TEMPO

Sucessão e consciência. - Origem da idéia de um Tempo universal. - A Duração real e o tempo mensu­rável. - A simultaneidade imediatamente percebida: simultaneidade de fluxo e simultaneidade no instante. - A simultaneidade indicada pelos relógios. - O tempo que se desenrola. - O tempo desenrolado e a quarta dimensão. - Que sinal permitirá reconhecer que um Tempo é real.

 

Não há dúvida de que o tempo,
para nós, confunde-­se inicialmente 
com a continuidade de nossa vida inte­rior.

O que é essa continuidade?

A de um escoamento ou de uma passagem, mas de um escoamento e de uma passagem que se bastam a si mesmos, uma vez que o es­coamento não implica uma coisa que se escoa e a passa­gem não pressupõe estados pelos quais se passa: a coisa e o estado não são mais que instantâneos da transição ar­tificialmente captados; e essa transição, a única que é na­turalmente experimentada, é a própria duração. 

Ela é me­mória, mas não memória pessoal, exterior àquilo que ela retém, distinta de um passado cuja conservação ela ga­rantiria; é uma memória interior à própria mudança, me­mória que prolonga o antes no depois e os impede de serem puros instantâneos que aparecem e desaparecem num presente que renasceria incessantemente. 

 
Uma me­lodia 
que ouvimos de olhos fechados,
pensando apenas nela, está muito perto de coincidir
com esse tempo que é a própria fluidez de nossa vida interior;
mas ainda tem qualidades demais, determinação demais, e seria preciso começar por apagar a diferença entre os sons, e depois abolir as características distintivas do próprio som, con­servar dele apenas a continuação do que precede no que se segue e a transição ininterrupta, multiplicidade sem divisibilidade e sucessão sem separação, para encontrar por fim o tempo fundamental. Assim é a duração ime­diatamente percebida, sem a qual não teríamos nenhu­ma idéia do tempo.

Como passamos desse tempo interior para o tempo das coisas? Percebemos o mundo material e essa percep­ção nos parece, com ou sem razão, estar concomitante­mente em nós e fora de nós: por um lado, é um estado de consciência; por outro, é uma película superficial de matéria onde coincidiriam o senciente e o sentido. A cada momento de nossa vida interior corresponde assim um momento de nosso corpo e de toda a matéria circun­dante, que lhe seria" simultânea": essa matéria parece então participar de nossa duração conscientel.

Gradual­mente, estendemos essa duração ao conjunto do mundo material, porque não vemos nenhum motivo para limi­tá-la à vizinhança imediata de nosso corpo: o universo nos parece formar um único todo; e, se a parte que está à nossa volta dura à nossa maneira, o mesmo deve aconte­cer, pensamos nós, com aquela que a rodeia por sua vez, e assim indefinidamente. Nasce, desse modo, a idéia de uma Duração do universo, isto é, de uma consciência im­pessoal que seria o traço-de-união entre todas as cons­ciências individuais, assim como entre essas consciência e o resto da natureza2.



Tal consciência captaria numa única percepção, instantânea, acontecimentos múltiplos situados em pontos diversos do espaço; a simultaneida­de seria precisamente a possibilidade que dois ou mais acontecimentos teriam de entrar numa percepção única e instantânea. Que há de verídico, que há de ilusório nesse modo de conceber as coisas? O que importa por enquanto não é descobrir o que há de verdade ou de erro, mas perceber nitidamente onde termina a expe­riência e onde começa a hipótese. Não há dúvida de que nossa consciência se sente durar, nem de que nossa per­cepção faz parte de nossa consciência, ou de que algo de nosso corpo e da matéria que nos cerca entra em nossa percepção3: assim, tanto nossa duração como uma certa participação sentida, vivida, de nosso ambiente material nessa duração interior são fatos da experiência. 

Mas, em primeiro lugar, como mostramos outrora, a natureza des­sa participação é desconhecida: poderia estar relaciona da com a propriedade que as coisas exteriores teriam ­sem que elas mesmas durem - de se manifestar em nos­sa duração na medida em que agem sobre nós e de es­candir ou balizar, assim, o curso de nossa vida conscien­te4.

Em segundo lugar, supondo que esse ambiente" dure", nada prova rigorosamente que encontraríamos a mesma duração quando mudássemos de ambiente: durações di­ferentes, ou seja, com ritmos diversos, poderiam coexis­tir. Levantamos outrora uma hipótese desse tipo no que concerne às espécies vivas. 

Distinguimos durações com tensão mais ou menos alta, características dos diversos graus de consciência, que se escalonariam ao longo do reino animal. No entanto, na época não percebíamos e continuamos não vendo hoje nenhuma razão para es­tender para o universo material essa hipótese de uma multiplicidade de durações. Deixamos em aberto a ques­tão de saber se o universo era divisível ou não em mun­dos independentes uns dos outros; o mundo que nos épróprio, com o elã particular que nele a vida manifesta, bastava-nos. Mas, caso fosse preciso decidir a questão, optaríamos, no estado atual de nossos conhecimentos, pela hipótese de um Tempo material uno e universal.

Não é mais que uma hipótese, mas está fundada num raciocínio por analogia que devemos ter por conclusivo enquanto não nos tiverem oferecido nada mais satisfató­rio. Esse raciocínio, que mal é consciente, poderia ser formulado, acreditamos, da seguinte maneira. Todas as consciências humanas são de mesma natureza, perce­bem da mesma maneira, de certa forma andam no mes­mo passo e vivem a mesma duração. 

Ora, nada nos im­pede de imaginar quantas consciências humanas quiser­mos, disseminadas aqui e acolá pela totalidade do uni­verso, mas suficientemente próximas umas das outras para que duas delas consecutivas, tomadas ao acaso, te­nham em comum a porção extrema do campo de sua ex­periência exterior. Cada uma dessas duas experiências exteriores participa da duração de cada uma das duas consciências. E, como as duas consciências têm o mesmo ritmo de duração, o mesmo deve acontecer com as duas experiências. Mas as duas experiências têm uma parte co­mum. Então, mediante esse traço-de-união, elas se jun­tam numa experiência única, desenrolando-se numa du­ração única que será, como queiram, a de uma ou de ou­tra das duas consciências.

Uma vez que o mesmo racio­cínio pode se repetir progressivamente, uma mesma du­ração vai recolher ao longo de seu caminho os aconteci­mentos da totalidade do mundo material; e poderemos então eliminar as consciências humanas que tínhamos inicialmente disposto aqui e acolá como retransmissores para o movimento de nosso pensamento: não haverá mais que o tempo impessoal em que todas as coisas se escoarão. Nessa nossa formulação da crença da humani­dade talvez estejamos pondo mais precisão do que con­vém. 

Cada um de nós contenta-se
em geral em ampliar indefinidamente,
por meio de um vago esforço de imagi­nação, 
seu ambiente material imediato, o qual,
percebi­do por cada um de nós,
participa da duração de sua cons­ciência. 

Mas quando esse esforço se torna mais preciso, quando procuramos legitimá-Io, surpreendemos a nós mesmos desdobrando e multiplicando nossa consciên­cia, transportando-a para os confins extremos de nossa experiência exterior e depois para o fim do novo campo de experiência que ela assim se ofertou, e assim por diante indefinidamente: de fato, são consciências múlti­plas oriundas da nossa, semelhantes à nossa, que encar­regamos de montar a corrente através da imensidão do universo e de atestar, pela identidade de suas durações internas e pela contigüidade de suas experiências exte­riores, a unidade de um Tempo impessoal.

Essa é a hipó­tese do senso comum. Afirmamos que poderia igual­mente ser a de Einstein, e que a Teoria da Relatividade é feita sobretudo para confirmar a idéia de um Tempo co­mum a todas as coisas. Essa idéia, hipotética em todos os c~sos, parece-nos até ganhar um rigor e uma consistên­CIa particulares na Teoria da Relatividade, entendida como deve ser entendida. Será essa a conclusão que se extrairá de nosso trabalho de análise. Mas não é esse o ponto importante por enquanto. Deixemos de lado a questão do Tempo único. O que queremos estabelecer é que não se pode falar de uma realidade que dura sem in­troduzir nela uma consciência. 

O metafísico fará 
intervir diretamente uma consciência universal.
O senso comum pensará nisso vagamente.
O matemático, é verdade, não terá de se ocupar dela, uma vez que se interessa pela me­dida das coisas e não por sua natureza. Mas, caso se per­guntasse o que mede, caso fixasse sua atenção no pró­prio tempo, conceberia necessariamente uma sucessão e, por conseguinte, um antes e um depois e, por conse­guinte, uma ponte entre os dois (se não, haveria apenas um dos dois, puro instantâneo): ora, mais uma vez, é im­possível imaginar ou conceber um traço-de-união entre
o antes e o depois sem um elemento de memória e, por conseguinte, de consciência.

Talvez o emprego dessa palavra repugne se associa­rem a ela um sentido antropomórfico. Mas, para conce­ber uma coisa que dura, não é de modo algum necessá­rio pegar a memória que nos é própria e transportá-Ia, mesmo atenuada, para o interior da coisa. Por mais que se diminua sua intensidade, corre-se o risco de deixar na coisa algum grau da variedade e da riqueza da vida inte­rior; conservando-lhe assim seu caráter pessoal, huma­no, em todo caso. É o caminho inverso que é preciso se­

guir. Haverá que considerar um momento do desenrolar do universo, isto é, um instantâneo que existiria inde­pendentemente de qualquer consciência, e, em seguida, tentar evocar conjuntamente um outro momento tão próximo quanto possível daquele e fazer entrar assim um mínimo de tempo no mundo, sem deixar passar com ele o mais leve lampejo de memória. Verão que isso é im­possível. Sem uma memória elementar que ligue os dois instantes entre si, haverá tão-somente um ou outro dos dois, um instante único por conseguinte, nada de antes e depois, nada de sucessão, nada de tempo. 

Pode-se con­ceder a essa memória o estritamente necessário para fazer a ligação; será, se quiserem, essa própria ligação simples prolongamento do antes no depois imediato com um es­quecimento perpetuamente renovado do que não for o momento imediatamente anterior. Nem por isso se terá deixado de introduzir memória. 

A bem dizer, é impossí­vel distinguir entre a duração, por mais curta que seja, que separa dois instantes e uma memória que os ligasse entre si, pois a duração é essencialmente uma continua­ção do que não é mais no que é. Eis aí o tempo real, ou seja, percebido e vivido. Eis também qualquer tempo con­cebido' pois não se pode conceber um tempo sem repre­sentá-Io percebido e vivido. Duração implica portanto consciência; e pomos consciência no fundo das coisas pelo próprio fato de lhes atribuirmos um tempo que dura.

Aliás, quer o deixássemos em nós ou o puséssemos fora de nós, o tempo que dura não é mensurável. A me­dida que não é puramente convencional implica com efeito divisão e superposição. Ora, não se conseguiria superpor durações sucessivas para verificar se são iguais ou desiguais; por hipótese, uma não existe mais quando a outra aparece; a idéia de igualdade constatável perde aqui toda significação. Por outro lado, embora a duração real se tome divisível, como veremos, pela solidariedade que se estabelece entre ela e a linha que a simboliza, ela própria consiste num progresso indivisível e global. 

Es­cutem a melodia fechando os olhos, pensando apenas nela, não justapondo mais sobre um papel ou sobre um teclado imaginários as notas que vocês conservavam as­sim uma para a outra, que aceitavam então tomar-se si­multâneas e renunciavam a sua continuidade de fluidez no tempo para se congelar no espaço: encontrarão indi­visa, indivisível, a melodia ou a porção de melodia que terão recolocado na duração pura. Ora, nossa duração in­terior' considerada do primeiro ao último momento de nossa vida consciente, é algo parecido com essa melodia. Nossa atenção pode desviar-se dela e conseqüentemen­te de sua indivisibilidade; mas, quando tentamos cortá-Ia, é como se passássemos bruscamente uma lâmina através de uma chama: dividimos apenas o espaço ocupado por ela.

Quando assistimos a um movimento muito rápido, como o de uma estrela cadente, distinguimos muito niti­damente a linha de fogo, divisível à vontade, da indivisí­vel mobilidade que ela subtende: é essa mobilidade que é pura duração. Por mais que o Tempo impessoal e uni­versal, caso exista, se prolongue infindavelmente do pas­sado ao porvir, ele é feito de uma peça só; as partes que nele distinguimos são simplesmente as de um espaço que desenha seu rasto e que se toma a nossos olhos seu equivalente; dividimos o desenrolado, mas não o desen­rolar. Como passamos, primeiro, do desenrolar para o de­senrolado, da duração pura para o tempo mensurável? É fácil reconstituir o mecanismo dessa operação.

Se eu passear meu dedo sobre uma folha de papel sem olhar para ela, o movimento que realizo, percebido de dentro, é uma continuidade de consciência, algo de meu próprio fluxo, duração, enfim. Se, agora, abrir os olhos, verei que meu dedo traça sobre a folha de papel uma linha que se conserva, onde tudo é justaposição e não mais sucessão; tenho aí algo da ordem do desenro­lado, que é o registro do efeito do movimento e que tam­bém será seu símbolo. Ora, essa linha é divisível, ela é mensurável. Ao dividi-Ia e medi-Ia, poderei portanto di­zer, se me convier, que divido e meço a duração do mo­vimento que a traça.

Portanto, é bem verdade que o tempo se mede por intermédio do movimento. Deve-se acrescentar, porém, que, se essa medida do tempo pelo movimento é possí­vel, é sobretudo porque nós mesmos somos capazes de realizar movimentos e porque esses movimentos têm en­tão um duplo aspecto: como sensação muscular, fazem parte da corrente de nossa vida consciente, duram; como percepção visual, descrevem uma trajetória, criam para si um espaço. Digo "sobretudo", pois, a rigor, poder-se-ia conceber um ser consciente reduzido à percepção visual e que contudo conseguisse construir a idéia de tempo mensurável. 

Seria então preciso que sua vida transcor­resse na contemplação de um movimento exterior pro­longando-se sem fim. Também seria preciso que ele pu­desse extrair do movimento percebido no espaço, e que participa da divisibilidade de sua trajetória, a pura mobi­lidade' ou seja, a solidariedade ininterrupta do antes e do depois dada à consciência como um fato indivisível: fizemos há pouco essa distinção quando falamos da li­nha qe fogo traçada pela estrela cadente. 

Tal consciência teria uma continuidade de vida constituída pelo senti­mento ininterrupto de uma mobilidade exterior que se desenrolaria indefinidamente. E a ininterrupção do de­senrolar também seria distinta do rasto divisível deixado no espaço, o qual também é da ordem do desenrolado. Ele se divide e se mede porque é espaço. O outro é dura­ção. Sem o desenrolar contínuo, não haveria mais que espaço, e um espaço que, não subtendendo mais uma duração, não representaria mais o tempo.

Todavia, nada impede supor que cada um de nós tra­ce no espaço um movimento ininterrupto do começo ao fim de sua vida consciente. Poderia andar dia e noite. Rea­lizaria assim uma viagem coextensiva à sua vida cons­ciente. Toda a sua história iria se desenrolar então num Tempo mensurável.

É num tipo de viagem dessas que pensamos quando falamos do Tempo impessoal? Não exatamente, porque vivemos uma vida social e até cósmica, tanto ou mais que uma vida individual. Substituímos muito naturalmente a viagem que faríamos pela viagem de qualquer outra pes­soa, e depois por um movimento ininterrupto qualquer que lhe seria contemporâneo. Chamo" contemporâneos" dois fluxos que são para minha consciência um ou dois, indiferentemente: minha consciência os percebe juntos como um escoamento único caso queira realizar um ato indiviso de atenção, distingue-os ao contrário de longo a longo se preferir dividir sua atenção entre eles, fazendo inclusive ambas as coisas concomitantemente se decidir dividir sua atenção, mas não cortá-Ia em dois. Chamo "simultâneas" duas percepções instantâneas apreendi­das num único e mesmo ato mental, podendo a atenção mais uma vez fazer delas uma ou duas, à vontade.

Posto isto, é fácil ver que é do nosso maior interesse tomar por "desenrolar do tempo" um movimento independente da­quele de nosso próprio corpo. A bem dizer, encontramo­10 já tomado. A sociedade adotou-o para nós. É o movi­mento de rotação da Terra. Mas, caso o aceitemos, caso compreendamos que seja tempo e não só espaço, é por­que sempre há uma viagem de nosso próprio corpo, vir­tual, e ela poderia ter sido para nós o desenrolar do tempo.

Pouco importa, aliás, que seja um corpo móvel ou outro que adotemos como contador do tempo. A partir do momento em que exteriorizamos nossa própria dura­ção em movimento no espaço, o resto se segue. Doravan­te, o tempo nos aparecerá como o desenrolar de um fio, ou seja, como o trajeto do corpo móvel encarregado de contá-lo. Teremos medido, diremos nós, o tempo desse desenrolar e, por conseguinte, também o do desenrolar universal.

Mas todas as coisas não nos pareceriam desenrolar­se com o fio, cada momento atual do universo não seria para nós a ponta do fio, se não tivéssemos à nossa dispo­sição o conceito de simultaneidade. Veremos mais adian­te o papel desse conceito na teoria de Einstein. Por en­quanto, gostaríamos de deixar bem clara sua origem psi­cológica, acerca da qual já dissemos algo. 

Os teóricos da Relatividade jamais falam de outra coisa senão da simul­taneidade de dois instantes. Antes desta, contudo, háuma outra, cuja idéia é mais natural: a simultaneidade de dois fluxos. Dizíamos que faz parte da própria essência de nossa atenção poder repartir-se sem se dividir. 

Quan­do estamos sentados
na margem de um rio, o correr da água,
o deslizar de um barco ou o vôo de um pássaro,
o murmúrio ininterrupto de nossa vida profunda 
são para nós três coisas diferentes ou uma só, 
como quisermos.
Podemos interiorizar o todo, lidar com uma percepção única que carrega, confundidos, os três fluxos em seu curso; ou podemos manter exteriores os dois primeiros e repartir então nossa atenção entre o dentro e o fora; ou, melhor ainda, podemos fazer as duas coisas concomi­tantemente, nossa atenção ligando e no entanto sepa­rando os três escoamentos, graças ao singular privilégio que ela possui de ser uma e várias. Tal é nossa primeira idéia da simultaneidade.

Chamamos então simultâneos dois fluxos exteriores que ocupam a mesma duração por­que estão ambos compreendidos na duração de um mes­mo terceiro, o nosso: essa duração é apenas a nossa quan­do nossa consciência olha somente para nós, mas torna­se igualmente a deles quando nossa atenção abarca os três fluxos num único ato indivisível.

Todavia, da simultaneidade de dois fluxos jamais pas­saríamos para a de dois instantes se ficássemos na dura­ção pura, pois toda duração é espessa: o tempo real não tem instantes. Mas formamos naturalmente a idéia de instante e também a de instantes simultâneos desde que adquirimos o hábito de converter o tempo em espaço. Pois, embora uma duração não tenha instantes, uma li­nha termina em pontos5. E, a partir do momento em que a uma duração fazemos corresponder uma linha, a por­ções da linha deverão corresponder "porções de dura­ção" e a uma extremidade da linha uma" extremidade de duração": será esse o instante - algo que não existe real­mente, mas virtualmente. 
O instante é
o que terminaria uma duração 
se ela se detivesse.Mas ela não se detém. 
O tempo real não poderia portanto fornecer o instante; 
este provém do ponto matemático, isto é, do espaço.
 
E no entanto, sem o tempo real, o ponto não seria mais que ponto, não haveria instante. Instantaneidade implica portanto duas coisas: uma continuidade de tempo real, ou seja, de duração, e um tempo espacializado, ou seja, uma linha que, descrita por um movimento, tomou-se por isso simbólica do tempo: esse tempo espacializado, que comporta pontos, ricocheteia no tempo real e faz surgir nele o instante. 

Isso não seria possível sem a ten­dência - fértil de ilusões - que nos leva a aplicar o movi­momento contra o espaço percorrido, a fazer coincidir a tra­jetória com o trajeto, e a decompor então o movimento que percorre a linha assim como decompomos a própria linha: se quisermos distinguir na linha pontos, esses pon­tos irão tomar-se então "posições" do corpo móvel (como se este, movente, pudesse alguma vez coincidir com algo que é repouso! Como se não renunciasse assim, de ime­diato, a mover-se!). Então, tendo pontilhado posições sobre o trajeto do movimento, ou seja, extremidades de subdivisões de linha, fazemo-Ias corresponder a "instan­tes" da continuidade do movimento: simples interrup­ções virtuais, puras visões mentais.

5. Que o conceito de ponto matemático seja natural é, aliás, algo de que sabem muito bem aqueles que ensinaram um pouco de geome­tria para crianças. Os espíritos mais refratários aos primeiros elementos concebem imediatamente e sem nenhuma dificuldade linhas sem espes­sura e pontos sem dimensão.

Descrevemos outrora o mecanismo dessa operação; mostramos também como as dificuldades levantadas pelos filósofos em tomo da questão do movimento desvanecem-se a partir do mo­mento em que se percebe a relação entre o instante e o tempo espacializado, a relação entre o tempo espaciali­zado e a duração pura. Limitemo-nos aqui a fazer notar que, embora a operação pareça científica, ela é natural ao espírito humano; nós a praticamos instintivamente. Sua receita está depositada na linguagem.

Simultaneidade no instante e simultaneidade de flu­xo são portanto coisas distintas, mas que se compl~tam reciprocamente. Sem a simultaneidade de fluxo, não con­sideraríamos substituíveis um pelo outro esses três ter­mos, continuidade de nossa vida interior, continuidade de um movimento voluntário que nosso pensamento pro­longa indefinidamente, continuidade de um movimento qualquer através do espaço. Duração real e tempo espa­ci~izado não seriam portanto equivalentes e, por conse­gumte, não haveria para nós tempo em geral; haveria ape­nas a duração de cada um de nós. Mas, por outro lado, esse tempo só pode ser contado graças à simultaneidade no instante. É preciso essa simultaneidade no instante para 1? notar a simultaneidade de um fenômeno e de um momento de relógio, 2? pontilhar, ao longo de nossa pró­pria duração, as simultaneidades desses momentos com momentos de nossa duração que são criados pelo próprio ato de pontilhamento. 

Desses dois atos, o primeiro é o essencial para a medida do tempo. Mas, sem o segundo, haveria aí uma medida qualquer, desembocaríamos num número t que representaria qualquer coisa, não pensa­ríamos em tempo. É portanto a simultaneidade entre dois instantes de dois movimentos exteriores a nós que faz com que possamos medir o tempo; mas é a simulta­neidade desses momentos com momentos marcados por eles ao longo de nossa duração interna que faz com que essa medida seja uma medida de tempo.

Deveremos nos demorar sobre esses dois pontos. Abriremos primeiro um parêntese. Acabamos de distin­guir duas "simultaneidades no instante": nenhuma das duas é a simultaneidade que mais importa na Teoria da Relatividade, isto é, a simultaneidade entre indicações dadas por dois relógios afastados um do outro. Desta fa­lamos na primeira parte de nosso trabalho; iremos nos ocupar especialmente dela mais adiante. Mas está claro que a própria Teoria da Relatividade não poderá impe­dir-se de admitir as duas simultaneidades que acabamos de descrever: limitar-se-á a acrescentar uma terceira, aquela que depende de um acerto de relógios. 

Ora, mos­traremos com certeza que as indicações de dois relógios R e R' afastados um do outro, acertados entre si e mar­cando a mesma hora, são ou não são simultâneas segun­do o ponto de vista. A Teoria da Relatividade tem o direi­to de afirmá-Io - veremos sob que condição. Assim, po­rém, reconhece que um evento E, que ocorre ao lado do relógio R, está dado em simultaneidade com uma indi­cação do relógio R num sentido completamente diferen­te daquele - no sentido que o psicólogo atribui à pala­vra simultaneidade. 

E o mesmo pode ser dito no tocante à simultaneidade do evento E' com a indicação do reló­gio "vizinho" R'. Pois, se não se começasse por admitir uma simultaneidade desse tipo, absoluta, e que não tem nada a ver com acertos de relógios, os relógios não servi­riam para nada. Seriam maquinismos que nos diverti­ríamos em comparar uns aos outros; não seriam utiliza­dos para classificar eventos; em suma, existiriam para si e não para nos prestar serviços.

Perderiam sua razão de ser para o teórico da Relatividade, bem como para todo o mundo, pois também ele só os faz intervir para marcar o tempo de um evento. Todavia, é bem verdade que a simultanei­dade assim entendida só é constatável entre momentos de dois fluxos se os fluxos passarem "pelo mesmo lugar". Também é bem verdade que o senso comum, a própria ciência até agora estenderam a priori essa concepção da simultaneidade a eventos separados por qualquer dis­tância. Sem dúvida imaginavam, como dizíamos acima, uma consciência coextensiva ao universo, capaz de abar­car os dois eventos numa percepção única e instantânea. Mas aplicavam sobretudo um princípio inerente a toda representação matemática das coisas e que também se impõe à Teoria da Relatividade. 

Nele encontra-se a idéia de que a distinção entre "pequeno" e "grande", entre "pouco afastado" e "muito afastado", não tem valor cien­tífico, e de que, se se pode falar de simultaneidade fora de qualquer acerto de relógios, independentemente de qualquer ponto de vista, quando se trata de um evento e de um relógio pouco distantes um do outro, tem -se igual­mente o direito de dizê-Io quando é grande a distância entre o relógio e o evento, ou entre os dois relógios. Não há física, não há astronomia, não há ciência possível, se não for dado ao cientista o direito de figurar esquemati­camente numa folha de papel a totalidade do universo. 

Admite-se portanto implicitamente a possibilidade de re­duzir sem deformar. Estima-se que a dimensão não é um absoluto, que existem somente relações entre dimensões e que tudo se passaria do mesmo modo num universo apequenado à vontade se as relações entre partes fossem mantidas. Mas como impedir então que nossa imagina­ção e mesmo nosso entendimento tratem a simultanei­dade das indicações de dois relógios muito afastados um do outro como a simultaneidade de dois relógios pouco afastados, ou seja, situados "no mesmo lugar"?

Um mi­cróbio inteligente encontraria entre dois relógios "vizi­nhos" um intervalo enorme; e não reconheceria a exis­tência de uma simultaneidade absoluta, intuitivamente percebida, entre suas indicações. Mais einsteiniano que Einstein, só falaria aqui de simultaneidade se tivesse po­dido anotar indicações idênticas em dois relógios micro­bianos, acertados entre si por sinais ópticos, que teriam substituído nossos dois relógios "vizinhos".

A simulta­neidade que é absoluta a nossos olhos seria relativa aos dele, pois ele reportaria a simultaneidade absoluta às in­dicações de dois relógios microbianos que ele, por sua vez, perceberia (que, aliás, perceberia de modo igualmen­te equivocado) "no mesmo lugar". Mas pouco importa por ora: não estamos criticando a concepção de Einstein; queremos simplesmente mostrar a que se prende a ex­tensão natural que sempre se praticou da idéia de simul­taneidade, depois de tê-Ia haurido da constatação de dois eventos "vizinhos". 

Essa análise, que nunca foi ten­tada até agora, revela-nos um fato de que, aliás, a Teoria da Relatividade poderia tirar partido. Vemos que, se nos­so espírito passa aqui com tanta facilidade de uma peque­na distância para uma grande, da simultaneidade entre eventos vizinhos para a simultaneidade entre eventos longínquos, se estende para o segundo caso o caráter absoluto do primeiro, é porque está habituado a crer que se pode modificar arbitrariamente as dimensões de todas as coisas, com a condição de conservar as relações que há entre elas. 

Mas já é tempo de fechar o parêntese. Vol­temos à simultaneidade intuitivamente percebida de que falávamos inicialmente e às duas proposições que enun­ciamos: 1? é a simultaneidade entre dois instantes de dois movimentos exteriores a nós que nos permite medir um intervalo de tempo; 2? é a simultaneidade desses momentos com momentos pontilhados por eles ao lon­go de nossa duração interior que faz com que essa medi­da seja uma medida de tempo.

O primeiro ponto é evidente. Vimos acima como a duração interior se exterioriza em tempo espacializado e como este, antes espaço que tempo, é mensurável. Do­ravante, será por intermédio dele que mediremos qual­quer intervalo de tempo. Como o teremos dividido em partes que correspondem a espaços iguais e que são iguais por definição, teremos em cada ponto de divisão uma extremidade de intervalo, um instante, e tomaremos por unidade de tempo o próprio intervalo. 

Poderemos então considerar qualquer movimento que ocorra ao lado des­se movimento modelo, qualquer mudança: ao longo de ~odo esse desenrolar pontilharemos" simultaneidades no u:stante". Tantas quantas forem as simultaneidades as­SIm constatadas, tantas serão as unidades de tempo con­tadas para a duração do fenômeno. Medir tempo consis­te portanto em enumerar simultaneidades. Qualquer ou­tra medida implica a possibilidade de superpor direta ou indiretamente a unidade de medida ao objeto medido. 

Qualquer outra medida aplica-se portanto aos intervalos entre as extremidades, ainda que, de fato, nos limitemos a contar as extremidades. Mas, quando se trata do tem­po' só é possível contar as extremidades: será simples­mente uma convenção dizer que desse modo mediu-se o intervalo. Se, todavia, observarmos que a ciência opera exclusivamente com medidas, perceberemos que no que concerne ao tempo a ciência conta instantes, anota si­multaneidades, mas continua sem domínio sobre o que se passa nos intervalos.

Pode aumentar indefinidamente o número das extremidades, encurtar indefinidamente os intervalos; mas o intervalo sempre lhe escapa, mostra­lhe apenas suas extremidades. Se todos os movimentos do universo se acelerassem de repente na mesma pro­porção, inclusive aquele que serve de medida para o tem­po, algo mudaria para uma consciência que não fosse solidária dos movimentos moleculares intracerebrais; entre o nascer e o pôr do sol, ela não receberia o mesmo enriquecimento; constataria, pois, uma mudança; mes­mo a hipótese de uma aceleração simultânea de todos os movimentos do universo só tem sentido se imaginarmos uma consciência espectadora cuja duração, totalmente qualitativa, comporte o mais ou o menos sem por isso ser acessível à medida6. 

Mas a mudança só existiria
para essa consciência capaz de comparar 
o escoamento das coisas com o da vida interior. 
No tocante à ciência, nada teria mudado.
 
Avancemos mais. A rapidez do desenrolar desse Tempo exterior e matemático poderia tornar-se in­finita, todos os estados passados, presentes e por vir do universo poderiam estar dados de uma só vez, no lugar do desenrolar poderia haver apenas o desenrolado: o mo­vimento representativo do Tempo teria se tornado uma linha; a cada uma das divisões dessa linha corresponde­ria a mesma parte do universo desenrolado que a ela correspondia antes no universo desenrolando-se; nada teria mudado aos olhos da ciência. Suas fórmulas e seus cálculos continuariam sendo o que são.

É verdade que, no momento preciso em que se teria passado do desenrolar ao desenrolado, teria sido preciso dotar o espaço de uma dimensão suplementar. Fizemos notar, há mais de trinta anos7, que o tempo espacializado é na realidade uma quarta dimensão do espaço. Somen­te essa quarta dimensão nos permitirá justapor o que está dado em sucessão: sem ela, não teríamos o lugar. 

Quer um universo tenha três dimensões, ou duas, ou uma só, quer não tenha nenhuma e se reduza a um ponto, sempre se poderá converter a sucessão indefinida de to­dos os seus eventos em justaposição instantânea ou eter­ 6. É evidente que a hipótese perderia significado caso se conce­besse a consciência como um "epifenômeno" que se acresceria a fenô­menos cerebrais dos quais ela não seria mais que o resultado ou a ex­pressão. Não insistiremos aqui nessa teoria da consciência-epifenôme­no, que cada vez mais tende a ser considerada arbitrária. Já a discuti­mos detalhadamente em vários trabalhos nossos, sobretudo nos três primeiros capítulos de Matiere et Mémoire e em diversos ensaios deL'Energie spirituelle.

Limitemo-nos a recordar: I? que essa teoria de for­ma nenhuma é extraída dos fatos; 2? que é fácil encontrar suas origens metafísicas; 3? que, tomada ao pé da letra, seria contraditória consigo mesma (sobre este último ponto e sobre a oscilação que a teoria impli­ca entre duas afirmações contrárias, ver as páginas 203-23 de L'Energie spirituelle). No presente trabalho, tomamos a consciência tal como nos é brindada pela experiência, sem fazer nenhuma hipótese sobre sua na­tureza e suas origens.(7. Essai sur Ies données immédiates de Ia conscience, p. 83.) na pelo simples fato de lhe conceder uma dimensão adi­cional. Caso não tenha nenhuma, reduzindo-se a um ponto que muda indefinidamente de qualidade, pode-se supor que a rapidez de sucessão das qualidades se tome infinita e que esses pontos de qualidade estejam dados de um só golpe, contanto que para esse mundo sem dimen­são se traga uma linha onde os pontos se justaponham. Caso já tivesse uma dimensão, caso fosse linear, precisa­ria de duas dimensões para justapor as linhas de qualida­de - cada uma indefinida - que eram os momentos su­cessivos de sua história. 

Mesma observação também se tivesse duas, se fosse um universo superficial, tela indefi­nida sobre a qual se desenhariam indefinidamente ima­gens achatadas que o ocupassem cada uma por inteiro: a rapidez de sucessão dessas imagens também poderá tor­nar-se infinita, e de um universo que se desenrola passa­remos novamente a um universo desenrolado, contanto que nos seja concedida uma dimensão suplementar. Te­remos então, empilhadas umas sobre as outras, todas as telas sem fim dando-nos todas as imagens sucessivas que compõem a história inteira do universo; possuire­mos todas juntas; mas de um universo achatado teremos tido que passar para um universo volumoso.

Portanto é fácil entender como o mero fato de atribuir ao tempo uma rapidez infinita, de substituir o desenrolar pelo de­senrolado, nos obrigaria a dotar nosso universo sólido de uma quarta dimensão.

Ora, só pelo fato de que a ciência não pode especificar a "rapidez do desenrolar" do tem­po, de que conta simultaneidades mas deixa necessaria­mente de lado os intervalos, ela versa sobre um tempo cuja rapidez de desenrolar podemos supor infinita e, assim, confere virtualmente ao espaço uma dimensão adicional.

Imanente a nossa medida do tempo é portanto a tendência a esvaziar seu conteúdo num espaço de quatro dimensões onde passado, presente e futuro estariam jus­tapostos ou superpostos desde todo o sempre. Essa ten­dência exprime simplesmente nossa incapacidade de tra­duzir matematicamente o próprio tempo, a necessidade que temos de substituí-lo, para medi-lo, por simultanei­dades que contamos: essas simultaneidades são instanta­neidades; não participam da natureza do tempo real; elas não duram. São simples visões mentais, que balizam com paradas virtuais a duração consciente e o movimento real, utilizando para isso o ponto matemático que foi trans­portado do espaço para o tempo.

Mas, embora desse modo nossa ciência só encontre espaço, é fácil ver por que a dimensão de espaço que veio substituir o tempo continua chamando-se tempo. É porque nossa consciência está aí. Ela volta a insuflar du­ração viva ao tempo ressecado que virou espaço. Nosso pensamento, interpretando o tempo matemático, refaz em sentido inverso o caminho que percorreu para obtê­10. Da duração interior passara para um certo movimen­to indiviso ainda estreitamente ligado a ela e que se tor­nara movimento modelo, gerador ou contador do Tempo; do que há de mobilidade pura nesse movimento e que é o traço de-união do movimento com a duração, passou para a trajetória do movimento, que é puro espa­ço; dividindo a trajetória em partes iguais, passou dos pon­tos de divisão dessa trajetória aos pontos de divisão cor­respondentes ou "simultâneos" da trajetória de qualquer outro movimento: a duração deste último movimento acha-se assim medida; tem-se um número determinada de simultaneidades; será a medida do tempo; será dora­vante o próprio tempo.

Mas isso só é tempo porque po­demos nos reportar ao que fizemos. Das simultaneida­des que balizam a continuidade dos movimentos esta­mos sempre prontos para voltar aos próprios movirnen­tos, e, por meio deles, à duração interior que lhes é con­temporânea, substituindo assim uma série de simultanei­dades no instante, que podem ser contadas mas que não são mais tempo, pela simultaneidade de fluxo que nos devolve à duração interna, à duração real.

Haverá quem se pergunte se é útil voltar à duração e se o que a ciência fez não foi precisamente corrigir uma imperfeição de nosso espírito, afastar uma limitação de nossa natureza, esparramando a "pura duração" no espa­ço. Dirão: "0 tempo que é pura duração está sempre em via de escoamento; só apreendemos dele o passado e o presente, o qual já é passado; o porvir parece fechado ao nosso conhecimento, justamente porque o cremos aber­to à nossa ação - promessa ou espera de novidade im­previsível. Mas a operação pela qual convertemos o tem­po em espaço para medi-Io informa-nos implicitamente sobre seu conteúdo. 

A medida de uma coisa é às vezes reveladora de sua natureza, e vê-se que a expressão ma­temática tem justamente aqui uma virtude mágica: cria­da por nós ou respondendo ao nosso chamamento, ela faz mais do que lhe pedimos; pois não podemos conver­ter em espaço o tempo já escoado sem tratar do mesmo modo o Tempo inteiro: o ato pelo qual introduzimos o passado e o presente no espaço esparrama nele, sem nos consultar, o porvir. Esse porvir continua sem dúvida ocul­to por um anteparo; mas agora o temos lá, pronto, dado com o resto. Ou mesmo, o que chamávamos escoamen­to do tempo não passava do deslizar contínuo do ante­paro e da visão gradualmente obtida do que estava à es­pera, globalmente, na eternidade. 

Tomemos portanto essa duração pelo que ela é, por uma negação, por um impe­dimento incessantemente recuado de ver tudo: nossos próprios atos não nos aparecerão mais como uma oferta de novidades imprevisível. Fazem parte da trama univer­sal das coisas, dada de um só golpe. Não os introduzi­mos no mundo; é o mundo que os introduz já prontos em nós, na nossa consciência, à proporção que os alcan­çamos. Sim, somos nós que passamos quando dizemos que o tempo passa; é o movimento para a frente de nos­sa visão que atualiza, momento após momento, uma história virtualmente dada por inteiro." 

- É essa a meta­física imanente
à representação espacial do tempo.
Ela é inevitável. 

Clara ou confusa,
foi sempre a metafísica na­tural do espírito 
a especular sobre o devir. 
 
Não nos cabe discuti-Ia aqui, menos ainda pôr outra em seu lu­gar. Dissemos em outro lugar porque vemos na duração o próprio tecido de nosso ser e de todas as coisas, e como o universo é a nossos olhos uma continuidade de criação.

Era um modo de permanecermos o mais perto possível do imediato; não afirmávamos nada que a ciên­cia não pudesse aceitar e utilizar; ainda recentemente, num livro admirável, um matemático filósofo afirmava a necessidade de admitir um advance of Na tu re e vinculava essa concepção à nossaS. Por ora, limitar-nos-emos a tra­çar uma linha de demarcação entre o que é hipótese, construção metafísica, e o que é dado puro e simples da experiência, pois queremos nos ater à experiência. A du­ração real é experimentada; constatamos que o tempo se desenrola, e, por outro lado, não podemos medi-Io sem essa obra que leva em conta a Teoria da Relatividade) é certamente urna das mais pro­fundas já escritas sobre a filosofia da natureza.

74 - DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE
convertê-Io em espaço e supor desenrolado tudo o que conhecemos dele. Ora, é impossível espacializar pelo pen­samento apenas uma parte: uma vez iniciado, o ato pelo qual desenrolamos o passado e abolimos assim a suces­são real nos conduz a um desenrolar total do tempo; fa­talmente, então, somos levados a atribuir à imperfeição humana nossa ignorância de um porvir que seria pre­sente e a ter a duração por uma pura negação, uma "pri­vação de eternidade". Fatalmente voltamos à teoria pla­tônica. Mas, como essa concepção deve surgir do fato de que não temos meios para limitar ao passado nossa re­presentação espacial do tempo escoado, é possível que a concepção seja errônea e, em todo caso, é certo que é uma pura construção do espírito. Atenhamo-nos, pois, à experiência.

Se o tempo tem uma realidade positiva, se o atraso da duração com relação à instantaneidade representa uma certa hesitação ou indeterminação inerente a uma certa parte das coisas que mantém dependente dela todo o resto, enfim, se há evolução criadora, entendo muito bem que a parte já desenrolada do tempo apareça como justaposição no espaço e não mais como sucessão pura; posso conceber também que toda a parte do universo que está matematicamente ligada ao presente e ao pas­sado - ou seja, o desenrolar futuro do mundo inorgânico - seja representável pelo mesmo esquema (mostramos outrora que em matéria astronômica e física a previsão é na realidade uma visão). Pressente-se que uma filosofia onde a duração é tida por real e até por ativa poderá muito bem admitir o Espaço-Tempo de Minkowski e de

Einstein (no qual, aliás, a quarta dimensão denominada tempo não é mais, como em nossos exemplos acima, uma dimensão totalmente assimilável às outras). Ao contrá­rio, nunca conseguirão extrair do esquema de Minkows­ki a idéia de um fluxo temporal. Não valeria, então, mais a pena ater~se até segunda ordem àquele dos dois pon­tos de vista que não sacrifica nada da experiência e, por conseguinte - para não prejulgar a questão -, nada das aparências? Como, aliás, rejeitar totalmente a experiên­cia interna quando se é físico, quando se opera com per­cepções e, por isso mesmo, com dados da consciência?


A NATUREZA DO TEMPO
É verdade que uma certa doutrina aceita o testemunho dos sentidos, isto é, da consciência, para obter termos entre os quais seja possível estabelecer relações, e depois só conserva as relações e considera os termos inexistentes. Mas essa é uma metafísica enxertada na ciência, não é ciência. E, a bem dizer, é por abstração que distinguimos termos, é também por abstração que distinguimos rela­ções: um contínuo fluente do qual tiramos ao mesmo tempo termos e relações e que, além de tudo isso, é flui­dez, eis o único dado imediato da experiência.

Mas temos de fechar esse parêntese longo demais. Acreditamos ter atingido nosso objetivo, que era o de detenninar as características de um tempo onde há real­mente sucessão. Suprimam essas características e não ha­verá mais sucessão, mas justaposição. Podem dizer que ainda se trata do tempo - somos livres para dar às pala­vras o sentido que quisermos, desde que comecemos por defini-Ias -, mas saberemos que não se trata mais do tempo experimentado; estaremos diante de um tempo simbólico e convencional, grandeza auxiliar introduzida visando o cálculo das grandezas reais. Foi talvez porque não analisamos num primeiro momento nossa repre­s~ntação do tempo que flui, nosso sentimento da dura­ção real, que tivemos tanta dificuldade para determinar a sIgnificação filosófica das teorias de Einstein, ou seja, sua


76 - DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE

77- A NATUREZA DO TEMPO relação com a realidade. Aqueles que se incomodavam com a aparência paradoxal da teoria disseram que os Tempos múltiplos de Einstein eram puras entidades ma­temáticas. Mas aqueles que gostariam de dissolver as coi­sas em relações, que consideram toda realidade, mesmo a nossa, como algo matemático confusamente percebi­do, diriam de bom grado que o Espaço-Tempo de Min­kowski e de Einstein é a própria realidade, que todos os Tempos de Einstein são igualmente reais, tanto e tal­vez mais que o tempo que flui conosco. 

De ambos os la­dos, queimam-se etapas. Acabamos de dizer, e mostra­remos em breve com mais detalhes, por que a Teoria da Relatividade não pode exprimir toda a realidade. Mas é impossível que ela não exprima alguma realidade. Pois o tempo que intervém na experiência de Michelson-Mor­ley é um tempo real- real também o tempo a que retor­namos com a aplicação das fórmulas de Lorentz. Se par­timos do tempo real para desembocar no tempo real, tal­vez tenhamos feito uso de artifícios matemáticos no in­tervalo, mas esses artifícios devem ter alguma conexão com as coisas. 

Portanto, trata-se de distinguir
o que é real e o que é convencional.
Nossas análises estavam simples­mente destinadas 
a preparar esse trabalho.
Mas acabamos de pronunciar a palavra "realidade"; e, no que se seguirá, falaremos constantemente do que é real, do que não o é. Que queremos dizer com isso? Se fosse preciso definir a realidade em geral, dizer qual a marca pela qual a reconhecemos, não poderíamos fazê­10 sem classificarmos a nós mesmos numa escola: os fi­lósofos não estão de acordo e o problema recebeu tantas soluções quantas são as nuanças que o realismo e o idea­lismo comportam. Deveríamos, ademais, distinguir o pon­to de vista da filosofia do da ciência: aquela prefere con­siderar real o concreto, todo carregado de qualidade; esta extrai ou abstrai um certo aspecto das coisas e só retém dele o que é grandeza ou relação entre grandezas. Feliz­mente, só nos interessa, em tudo o que se seguirá, uma única realidade, o tempo. 

Nessas condições, será fácil se­guir a regra que impusemos a nós mesmos no presente ensaio: a de não afirmar nada que não possa ser aceito por qualquer filósofo, qualquer cientista - nada que não este­ja implicado em toda filosofia e em toda ciência.

Todo o mundo concordará conosco que não se con­cebe tempo sem um antes e um depois: o tempo é suces­são. Ora, acabamos de mostrar que ali onde não há algu­ma memória, alguma consciência, real ou virtual, cons­tatada ou imaginada, efetivamente presente ou ideal­mente introduzi da, não pode haver um antes e um de­pois: há um ou outro, não há os dois; e é preciso os dois para fazer tempo. Portanto, no que se seguirá, quando quisermos saber se estamos lidando com um tempo real ou com um tempo fictício, teremos simplesmente de nos perguntar se o objeto que nos apresentam poderia ou não poderia ser percebido; tornar-se consciente.

É um caso privilegiado; único até. Em se tratando de cor, por exem­plo, a consciência sem dúvida intervém no começo do estudo para dar ao físico a percepção da coisa; mas o físi­co tem o direito e o dever de substituir o dado da cons­ciência por algo mensurável e enumerável sobre o qual passará a operar, dando-lhe simplesmente, por uma ques­tão de comodidade, o nome de percepção original. Pode fazê-lo porque, eliminada essa percepção original, algo perdura ou ao menos se supõe que perdure. Mas que restará do tempo se eliminarem dele a sucessão? E que resta da sucessão se vocês suprimirem até a possibilida­ de de perceber um antes e um depois? Concedo-lhes o


78-DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE
direito de substituir o tempo por uma linha, por exem­plo, porque é preciso medi-lo. Mas uma linha só deveráchamar-se tempo ali onde a justaposição que ela nos oferece seja convertível em sucessão; caso contrário, será arbitrariamente, convencionalmente que vocês darão a essa linha o nome de tempo: terão de nos advertir a esse respeito para não nos expor a uma grave confusão.

Quan­to mais se vocês introduzirem em seus raciocínios e seus cálculos a hipótese de que a coisa denominada por vocês "tempo" não pode, sob pena de contradição, ser percebi­da por uma consciência, real ou imaginária. Não será en­tão, por definição, com um tempo fictício, irreal, que vo­cês operarão? Ora, é esse o caso dos tempos com que li­daremos com freqüência na Teoria da Relatividade. En­contraremos alguns percebidos ou perceptíveis; estes po­derão ser tidos por reais.

Mas há outros que, de certa for­ma, a teoria proíbe de serem percebidos ou de se toma­rem perceptíveis: caso se tomassem perceptíveis, muda­riam de grandeza - de modo tal que a medida, exata quando se aplica ao que não se percebe, seria falsa tão logo percebêssemos. Estes tempos, como não declará­los irreais, ao menos na qualidade de "temporais"? Ad­mito que para o físico é cômodo ainda denominá-los tempo - veremos mais adiante a razão disso. 

Mas, caso assimilemos esses Tempos ao outro, cai-se em parado­xos que certamente foram nocivos para a Teoria da Rela­tividade, embora tenham contribuído para tomá-Ia po­pular. Portanto, não deve causar espanto se a proprieda­de de ser percebido ou perceptível for exigida por nós, no presente estudo, para tudo o que nos oferecerem como sendo real. Não resolveremos a questão de saber se qual­quer realidade possui essa característica. Aqui, apenas tra­taremos da realidade do tempo.

CAPÍTULo N
A PLURALIDADE DOS TEMPOS
Os Tempos múltiplos e retardados da Teoria da Relatividade: como são compatíveis com um Tempo único e universal. - A simultaneidade" científica", que pode ser quebrada e transformada em sucessão: como é compatível com a simultaneidade "intuitiva" e natu­ral. - Exame dos paradoxos relativos ao tempo.

A hipó­tese do viajante 
encerrado numa bala de canhão. 
O es­quema de Minkowski. 
- Confusão que está na origem de todos os paradoxos.
Cheguemos por fim ao Tempo de Einstein e retome­mos tudo o que dissemos supondo inicialmente um éter imóvel. Temos a Terra em movimento na sua órbita. O dispositivo de Michelson - Morley está ali. Fazem a expe­riência; repetem-na em diversas épocas do ano e, por conseguinte, para velocidades variáveis de nosso plane­ta.

O raio de luz 
sempre se comporta como
se a Terra fos­se imóvel. 
Esse é o fato. 
Qual é a explicação?
Mas, para começar, que estamos dizendo quando fa­lamos das velocidades de nosso planeta? A Terra estaria, ~m termos absolutos, em movimento através do espaço? E evidente que não; estamos na hipótese da Relatividade e não existe mais movimento absoluto. Quando você fala da órbita descrita pela Terra, coloca-se em um ponto de vista arbitrariamente escolhido, o dos habitantes do Sol (de um Sol que se tomou habitável). Agrada-lhe adotar esse sistema de referência. Mas por que o raio de luz lan­çado contra os espelhos do aparelho de Michelson-Mor­ley levaria em conta a sua fantasia? Se tudo o que efetivamente se produz é o deslocamento recíproco da Terra e...(?) 

{ Pesquisar o Autor deste belo trabalho e sua continuação}.
Fonte:
USP
{ Pesquisar o Autor deste belo trabalho e sua continuação}.

Sejam fewlizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

Mozart Piano Concerto No.27 in B flat major, K595 (4) by Mariaclara Monetti









Wolfgang Amadeus Mozart (1756 † 1791)

Work: Piano Concerto No.27 in B flat major, K595

First performed in Janruary 1791

3.Movement: Allegro

Pianist: Mariaclara Monetti Soloist

Violin I: Jonathan Carney (leader); David Towse; Richard Layton; Russel Gilbert; Kevin Duffy; Charles Nolan; Ken Lawrence; Julian Cummings; Clive Dobbins; Andrew Klee; Charles Beldom
Violin II: Raymond Ovens; Michael Dolan; Christopher Laydon; Alain Petitclerc; Gil White; Peter Nutting; David Herd; Steve Merson; Stephen Kear; Guy Bebb
Violas: David Newland; Mary Samuel; Robin Del Mar; Andrew Sippings; Timothy Welch; Peter Semon; Martin Chivers
Cellos: Francois Rive; Andrew Fuller; Nigel Pinkett; Peter Vel; Christopher Irby
Double basses: Jack McCormack; Roy Benson; Gareth Wood
Flute: Robert Winn
Oboes: Lella Ward; Susan Smith
Bassoons: Michael Chapman; Alan Hammond
Horns: John Bimson; James Rattigan
Trumpets: Paul Ringham; Joe Atkins
Timpani: Michael Baker

Conductor: Ivor Bolton
The Royal Philharmonic Orchestra

Saltitante a gente 
vai levando a vida sob esta 
Alegria de mozart.
Fonte:
Enviado por em 16/03/2010
 

Mozart Piano Concerto No.24 in C minor, K.491 (1) by Evgeny Kissin



 
Wolfgang Amadeus Mozart
(1756 † 1791)

Work: Piano Concerto No.24 in C minor, K.491

1.Movement: Allegro

Performer:
Evgeny Kissin, Pianist

Conductor:
Sir Colin Davis
London Symphony Orchestra
O Concerto N* 24
faz lembrar oráculo do I Ching
- Tempo de Renovação.
 

O MISTÉRIO DA VIDA - Wolfgang Amadeus Mozart - Piano Concerto No. 22 in E flat major, K. 482 ...



Que delícia, um convite pra gente reagir,
caminhar e tranquilamente ir em frente ,
pra achar novíssimos espaços cheios de alegria!

[Genismo] 

Super: O misterio da Vida

 

O mistério da vida

Os cientistas ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a origem da vida. Mas novas descobertas estão trazendo revelações surpreendentes sobre o assunto

por Jomar Morais

Quem passa diariamente pela avenida Paulista, uma das mais movimentadas de São Paulo e do país, já deve ter notado. Bem ali, no mínimo espaço que restou entre os granitos do meio-fio, brotam diariamente pequenas plantas que ameaçam esparramar-se pela avenida, aproveitando falhas na pavimentação. 

E não é só lá que a vida irrompe num ambiente aparentemente hostil. Na Quinta Avenida de Nova York, símbolo da civilização de concreto, uma flor conseguiu recentemente desabrochar em meio à fúria do tráfego, da indiferença humana e da poluição. Improvável, não?

Imagine agora outro cenário: a inóspita região do fundo dos oceanos, um mundo de águas ferventes e envenenadas por compostos sulfúricos, o cádmio e o arsênico liberados pelo magma, o coquetel de metais liqüefeitos que jorra das camadas profundas do planeta. Enfim, um verdadeiro inferno com temperatura acima dos 400 graus centígrados, calor suficiente para extinguir em pouco tempo a fauna e a flora de toda a superfície terrestre. 

Mas acredite: mesmo aí, é possível encontrar colônias de estranhos micróbios que se alimentam de substâncias altamente tóxicas, seres que estão na tênue linha que separa a vida da não-vida. No outro extremo do termômetro, nas águas gélidas das regiões polares, amostras de gelo retiradas do fundo do lago Vostok, na Antártida, também revelaram a presença de inúmeros microrganismos, derrubando assim o antigo consenso dos cientistas de que nenhum tipo de vida poderia prosperar em local tão frio e carente de nutrientes.

A vida, enfim, é mais resistente do que se imaginava. Mesmo assim, é provável que nem sempre tenha havido vida no Universo. Em algum momento, isso que chamamos de vida surgiu.

Mesmo parecendo tão natural, os cientistas ainda estão longe de chegar a um consenso quando o assunto é a origem da vida. Afinal, séculos de pesquisas não foram suficientes para que alguém conseguisse reproduzir, em todos os seus detalhes, as condições reais da Terra primitiva. “A mais complicada máquina inventada pelo homem não passa de brinquedo diante do mais simples organismo”, escreveu o biólogo americano e prêmio Nobel de medicina George Wald. 
“A maior dificuldade 
está na minuciosa ajustagem de uma molécula 
na outra, proeza que não está 
ao alcance de nenhum químico.”
 
O que é vida? Descrita nos dicionários como “um conjunto de propriedades graças às quais animais e plantas se mantêm em atividade”, as definições da vida até hoje sempre foram genéricas. Na linguagem da maioria dos cientistas, a melhor definição de vida continua sendo a de um sistema químico auto-sustentado capaz de uma evolução darwiniana, por mutação aleatória. 

Traduzindo: uma combinação de substâncias que, em algum momento, conseguiu uma forma particular de se replicar, mudar e evoluir dando origem a todas as espécies vivas – como previu no século 19 o naturalista inglês Charles Darwin. “Mas essa explicação é também limitada”, diz o pesquisador Arnaldo Naves de Brito, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas (SP), atualmente envolvido em um estudo avançado sobre a formação dos “tijolos da vida”, como são chamados os compostos orgânicos mais simples.
“É possível que tenha existido uma vida celular primitiva, baseada em proteínas, que ainda não tinha desenvolvido uma forma de replicação dos seres vivos atuais, baseada em ácidos nucleicos”, diz Arnaldo. 

Segundo o pesquisador, essas células não teriam sido capazes de uma evolução darwiniana. Para embaralhar ainda mais as velhas definições, a descoberta de seres extremamente simples encontrados em reentrâncias de rochas, em pequenas bolhas de água quente cinco vezes mais salgada que a do mar e em poças de ácidos e metais pesados, inclusive com radiações, revelaram também que esses seres existem há pelo menos 4 bilhões de anos.

Descobertas como essa podem mudar radicalmente tudo o que sabemos até agora sobre a vida, seu início e sua razão de ser. Da mesma forma que a teoria da relatividade colocou de cabeça para baixo nossos conceitos de tempo e de espaço, essas pesquisas podem mudar a velha definição de vida.

É o caso de uma nova teoria formulada pelos pesquisadores William Martin, da Universidade Heinrich-Heine, de Düsseldorf, na Alemanha, e Michael Russel, do Centro de Estudos Ambientais de Glasgow, na Escócia. Segundo eles, os seres vivos tiveram o seu ponto de partida em “sistemas inorgânicos”, configurados como pequenos compartimentos de rochas com ferro e sulfito (sal que contém enxofre e sem oxigênio). Até aqui, acreditava-se que a vida teria se iniciado de reações químicas precipitadas pelo calor do sol e por tempestades elétricas na atmosfera primitiva, ainda pobre em oxigênio.

O processo teria produzido moléculas simples – principalmente aminoácidos – que constituíram a “sopa primordial” dos oceanos e lagos onde, mais tarde, seriam sintetizadas as proteínas, gorduras e carboidratos dos primeiros seres unicelulares. As moléculas orgânicas, portanto, teriam precedido a formação celular. Mas a teoria de Martin e Russel inverte essa ordem, considerando que “células inorgânicas” antecederam as moléculas orgânicas e incubaram a vida, como sugerem os sistemas de ferro e sulfito. “Confinados nesses compartimentos, os compostos sulfúricos brotados da crosta do fundo do mar tornaram-se concentrados e assim puderam acelerar as reações químicas que produziram moléculas complexas, como as proteínas e o material genético,” diz Martin.
O cientista agora se esforça 
para recriar essas condições em laboratório.
 
Uma das implicações dessa nova tese, se ela estiver correta, é o aumento da probabilidade da existência de vida em outros planetas – já que, até então, as temperaturas extremas e a abundância de gases tóxicos eram vistas como empecilhos para o surgimento da vida em outras regiões do cosmo. Mas a descoberta dos seres conhecidos como archaea estão mudando isso.

A existência dessas criaturas microscópicas foi confirmada, na década passada, durante prospecções realizadas em rochas vulcânicas do estado de Idaho, nos Estados Unidos, e em minas da África do Sul, a mais de 2 400 metros de profundidade. Os archaea compõem um reino biológico próprio, diferente do das bactérias, classificadas como seres procariontes (organismos formados por uma única célula sem membrana nuclear), e das demais formas vivas, incluindo fungos, plantas e humanos, classificadas como eucariontes (formados por uma ou muitas células providas de membrana nuclear).

Por mais estranho que possa parecer, esses seres inóspitos se alimentam de hidrogênio, compostos sulfúricos, manganês e outros metais pesados, dispensando totalmente a fotossíntese e a luz solar como fonte de energia. “Os archaea prepararam a base da vida, oxidando derivados de enxofre, metano, ferro e outros metais”, diz John Baross, da Escola de Oceanografia da Universidade de Washington.

Sua descoberta abalou antigas hipóteses, entre as quais a suposição de Charles Darwin e outros pesquisadores de que o ponto de partida da vida se deu na superfície de mares e lagos ricos em nutrientes.
A idéia de que a vida brota da matéria inanimada não é exatamente uma novidade. A diferença é que a nova concepção de geração espontânea por evolução parte de um raciocínio bem diverso das fantasias que sustentaram, por mais de 2 200 anos, uma tosca teoria sobre a origem dos seres vivos. 

De Aristóteles, na Grécia antiga, até a primeira metade do século 19, imaginou-se que animais complexos, como moscas, sapos e ratos, podiam ser gerados no meio do lixo, da matéria orgânica em decomposição e da lama. No século 17, o naturalista belga Jan Baptiste van Helmont chegou mesmo a difundir na Europa uma receita para a produção de ratos e escorpiões a partir de uma camisa suada, germe de trigo e queijo. 

A idéia começou a ruir quando, na mesma época, o italiano Francesco Redi demonstrou em uma experiência simples que larvas de moscas só surgiam em carne podre quando esta ficava exposta a moscas adultas, que ali depositavam seus ovos.

A carne acomodada em frascos tampados com gaze jamais geravam larvas, que nesse caso apareciam sobre a gaze, onde moscas adultas tinham pousado. Os estudos do químico francês Louis Pasteur sobre bactérias, que deram início à microbiologia, sepultaram a velha crença por volta de 1860.

A moderna teoria da geração espontânea começou com algumas pistas levantadas ainda no século 19, quando algumas substâncias orgânicas, como a uréia, foram sintetizadas pela primeira vez em laboratório. Então, logo surgiu a pergunta óbvia: se pudéssemos reproduzir as condições ambientais da Terra primitiva, não seria possível fabricar moléculas orgânicas complexas, como o fez a natureza? A constatação de que todos os seres vivos possuem os mesmos blocos construtores – açúcares simples, gorduras, 20 tipos de aminoácidos, quatro nucleotídeos de DNA e quatro de RNA – atiçou definitivamente essa idéia, fundamental na hipótese apresentada pelo bioquímico russo Aleksandr Oparin no seu livro A Origem da Vida, escrito em 1936.

De acordo com Oparin, aminoácidos e outros compostos foram produzidos numa atmosfera composta de amônia, metano, hidrogênio e vapor d’água, em reações catalisadas por radiações ultravioleta e descargas elétricas das tempestades. Tais moléculas, inicialmente precipitadas sobre rochas ardentes, foram depois arrastadas pela chuva para os mares, onde o choque contínuo entre elas deu origem a moléculas maiores (os coacervados) que, por sua vez, em algum momento do processo, teriam alcançado a organização necessária para replicar-se. As primeiras moléculas não se dissolveram na água porque, com raríssimas exceções, as moléculas de vida formam colóides, substâncias de lenta dissolução e dispersão devido a um fenômeno de natureza elétrica. Parte da teoria de Oparin foi testada em laboratório, em 1953.

Na época, o químico americano Stanley Miller, então estudante na Universidade de Chicago, recriou a provável atmosfera primitiva e, após bombardear a mistura de gases durante uma semana com fortes descargas elétricas, conseguiu produzir aminoácidos. Experiências seguintes testaram também os efeitos do calor e dos raios ultravioleta, mas a sucessão de descobertas e teorias das últimas décadas mostrou que a atmosfera original não era exatamente igual à imaginada por Oparin (não havia nela amônia nem metano) e a teoria da “sopa primordial” voltou a ser apenas mais uma entre as diversas pesquisas para se entender a origem da vida – apesar de seu peso científico considerável.

O curioso é que algumas pesquisas estão realçando o papel de um elemento citado como essencial na formação da vida na Terra, segundo o relato mitológico bíblico da criação: o barro. A argila seria a chave do mistério de como compostos orgânicos simples saltaram para a condição de material genético auto-replicante, afirma o químico Graham Cairns-Smith, da Universidade de Glasgow. Na verdade, segundo ele, o barro teria sido a primeira substância genética, que ele chama de cristal-gene. Como se sabe, cristais, inclusive os de barro, são auto-replicantes. E se a auto-replicação é um traço fundamental dos seres vivos, então dá para admitir que a vida pode ter recebido um empurrãozinho daquelas substâncias inorgânicas para obter suas primeiras cópias. Outros biólogos acham que a argila foi o meio onde se formaram moléculas de RNA (o ácido ribonucleico, que transcreve e traduz a informação genética), durante reações que permitiram o aparecimento de ligações simples entre aminoácidos.

Suspeita-se que o RNA foi o primeiro elo da vida que precedeu o DNA (ácido desoxirribonucleico), por ser ele dotado de uma importante atividade catalítica: é possível obter fitas de RNA idêntico a partir de um molde de RNA e de nucleotídeos. Os genes nus dos primórdios da vida teriam depois se fixado em estruturas maiores, como os coacervados de Oparin.

Para os cientistas Robert Williams, da Universidade Oxford, na Inglaterra, e João José Fraústo da Silva, da Universidade Técnica de Lisboa, a química do planeta teria forçado a vida a evoluir ao longo de uma progressão previsível. Uma série de reações, chamadas redutivas, levou as células primitivas a extrair hidrogênio da água, liberando o oxigênio e tornando o ambiente mais oxidante, enquanto a amônia se transformava em nitrogênio e metais eram liberados de seus sulfitos. Com isso, tais células se adaptaram ao uso de elementos oxidados e evoluíram para acumular energia por meio da fixação do nitrogênio, com o uso do oxigênio, desenvolvendo, enfim, a capacidade de fotossíntese.
Foi a reação da vida ao ambiente oxidado que conduziu o processo de formação de animais e plantas superiores, dizem Williams e Silva. 

O peróxido de hidrogênio, por exemplo, levou ao surgimento da lignina – substância rica em oxigênio que é o principal constituinte da madeira – e o cobre oxidado dos sulfitos de cobre foi usado pelas células para gerar ligações entre proteínas como o colágeno e a quitina, que contribuem para manter os nervos e as células dos músculos em seus lugares. “O acaso pode até conduzir o desenvolvimento das espécies, mas não conduz a evolução em geral”, diz Williams. “O que a vida joga fora se torna a coisa que força o passo seguinte em seu desenvolvimento.”

Quem faz pesquisa de ponta, seja na microbiologia ou na física, não esconde a surpresa diante da precisão matemática dos processos e das convergências que contribuíram para o aparecimento da vida na Terra e, ao que tudo indica, no Universo. É o caso do físico e astrônomo inglês Martin Rees, um dos defensores da tese do multiverso, segundo a qual o nosso é apenas um em uma série incalculável de universos existentes em diferentes dimensões de espaço e tempo. Para Rees, a vida, tal como a conhecemos, só se tornou possível graças à ínfima diferença de 0,001% respeitada pela natureza desde as explosões primordiais do cosmo. 

Na combustão das estrelas,
afirma o astrônomo, quando o hidrogênio 
e o hélio se fundem, só 0,007 da massa do hélio 
é transformada em energia 
– e é isso o que permite a química da vida.
 
Se fossem transformados 0,006 da massa, os dois prótons e dois nêutrons que constituem o núcleo desse elemento, fundamental à formação de planetas e seres vivos, não se uniriam e o Universo não saberia o que fazer apenas com o hidrogênio. Já se o volume da massa transformada fosse um pouquinho maior – apenas 0,008 – a fusão entre o hélio e o hidrogênio seria tão rápida que nenhum átomo de hidrogênio teria resistido às explosões da época do Big Bang e o aparecimento de sistemas solares e da vida também seria inviabilizado.
Outro capricho da natureza a favor da vida é o alvo atual de Arnaldo Naves de Brito, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron.

O cientista brasileiro quer explicar por que todas as moléculas vivas são “canhotas”, classificação decorrente da chamada quiralidade –- o fato de as moléculas de carbono que constituem os aminoácidos apresentarem-se em duas versões espelhadas. Para entender o que isso significa, basta olhar para as duas palmas das mãos. Elas são praticamente idênticas, exceto pelo detalhe de os polegares apontarem para lados opostos e os demais dedos de uma mão obedecerem a uma formação invertida em relação aos da outra. 

O enigma é que na Terra primitiva (e também nas experiências de laboratório) os aminoácidos apareceram nas duas formas espelhadas, a canhota e a destra, mas só uma delas é utilizada na composição dos seres vivos.

“A origem da vida está intimamente ligada à origem da homoquiralidade molecular, ou seja, ao fato de toda a vida no planeta conter somente aminoácidos canhotos”, diz Arnaldo. Vários estudiosos do fenômeno, incluindo o pesquisador, acreditam que o único mecanismo viável para o surgimento da homoquiralidade seria a incidência de um tipo especial de luz – a luz circularmente polarizada (LCP) – que gera um processo de fotólise assimétrica, com destruição preferencial das moléculas “destras”. Formas de LCP alcançam a Terra todos os dias, no nascer e no pôr-do-sol, e estão presentes na luz síncrotron, espécie de radiação ultravioleta canhota proveniente da explosão de supernovas.

Qualquer que venha a ser o desfecho para questões como essas, provavelmente ainda por muito tempo uma pergunta continuará no ar à espera de uma resposta entre tantas suposições: por que há vida? Qual o seu propósito? Talvez aquilo que chamamos vida seja o resultado da permanente busca de equilíbrio da natureza, conjeturam o biólogo americano Eric Schneider e seu companheiro na pesquisa de ecossistemas James Kay, um engenheiro de sistemas. Mas não seria a vida algo escancaradamente fora de equilíbrio? Nossas moléculas não se agitam permanentemente nas ondas de calor dos processos químicos?

É verdade, mas os seres vivos não são sistemas fechados e interagem com o resto do Universo, buscando a estabilidade. A vida usa qualquer mecanismo à sua disposição para mover-se em direção ao equilíbrio, afirmam Schneider e Kay. E isso inclui a criação de sistemas mais complexos, como plantas e animais superiores.

Faz sentido?
Pode ser que sim. No entanto, em um campo de estudo naturalmente polêmico, onde dificilmente se encontram duas cabeças pensando na mesma direção, só o tempo pode apontar quem está com a razão. Até lá, cenas singelas como as plantas brotando na avenida Paulista e a flor solitária da Quinta Avenida continuarão sendo bons pretextos para que nos lembremos da imponência da vida e de sua enternecedora e misteriosa beleza.
 

Frases

A vida é bem mais resistente do que os cientistas imaginavam
Alguns biólogos acreditam que a argila foi a base da vida

Para saber mais

NA LIVRARIA
Things Come to Life, Henry Harris, Oxford University Press, Nova York, 2002
Tire Origin of Life, Aleksandr Oparin, Dover, 1953
NA INTERNET
http://members.tripod.com/ñetopedia/biolog/origem.htm

Estrutura do RNA:
"O ácido ribonucleico, tal como o DNA, é um polímero de nucleótidos.
Cada nucleótido é constituído por um grupo fosfato, uma pentose (ribose), e uma base azotada (adenina, guanina, citosina ou uracilo).
Como o RNA é constituído por uma única cadeia polinucleótidica, é considerada uma cadeia simples."
http://soraiabiogeo.blogs.sapo.pt/1620.html
.
Todos os 3 componetes do RNA podem ser formados naturalmente por reacoes quimicas da natureza.

1.1.4.2. — As cinco etapas da biogênese

Foi neste contexto que se terá processado a biogênese, ou a formação da vida na Terra. É habitual considerar, neste processo, cinco etapas:

    1-A formação de uma atmosfera gasosa contendo as substâncias elementares para a formação da matéria orgânica (já referida);
    2-a síntese dos monômeros biológicos, como os aminoácidos, os açúcares ou as bases azotadas;
    3-a polimerização destes monômeros e a formação das proteínas primitivas e das cadeias de ácidos nucleicos;
    4-a individualização de microgotas com uma identidade física e rudimentares faculdades metabólicas;
    5-o desenvolvimento de um mecanismo de reprodução que garantisse a transmissão aos descendentes das capacidades químicas e metabólicas das entidades parentais.


a) Síntese de monômeros
A formação de aminoácidos e ***nucleotídeos*** a partir de uma mistura de gases, redutora, com composição semelhante à da atmosfera primitiva, foi realizada experimentalmente, em 1952, por Harold Urey e Stanley Miller, recorrendo a descargas elétricas como fonte de energia. Com esta espetacular experiência, Urey e Miller demonstraram ser possível a síntese de moléculas orgânicas por via não biótica e consolidaram a hipótese chave de Oparin e Haldane.
----
b) Síntese de polímeros

A segunda etapa da biogênese é a síntese dos polímeros que intervêm na organização da vida, por justaposição de monômeros sintetizados anteriormente. Grosso modo, podemos distinguir três tipos de polímeros:
— Uns, formam-se por ligação topo a topo, de uma série de aminoácidos; são as proteínas, que intervêm quer na estrutura dos organismos, quer no seu metabolismo como catalisadores.

— Outros, resultam da justaposição alternada de fosfatos e açúcares, aos quais se adicionam bases azotadas; são os ácidos nucleicos. Possuem faculdades catalíticas e são susceptíveis de autoduplicação.
— Outros ainda, formam estruturas ramificadas por associação de pequenos açúcares (monossacarídeos ou oligossacarídeos); são os polissacarídeos.

Experimentalmente, Aharon Katchalsky demonstrou que um certo tipo de argilas promove a polimerização de cadeias polipeptídicas (análogas das proteínas) a partir de ésteres formados de aminoácidos e de adenosina monofosfato (adenilatos de aminoácidos) adsorvidos nas suas superfícies. Os adenilatos de aminoácidos são os precursores da síntese proteica em todos os organismos, pelo que é verossímil que mecanismos semelhantes tenham presidido a polimerização dos aminoácidos no período pré-biótico.

As experiências de Oparin e de Fox mostraram que:

    a formação de emulsões de microgotas (coacervados ou microesferas) corresponde a uma tendência natural dos polímeros em solução;
    os eventos que neles decorrem fundamentam-se nas leis da química física; e
    a evolução de entidades tão simples, mas com características novas, como os protobiontes, pode ter-se baseado unicamente nas suas características físico-químicas, selecionadas exclusivamente em função da sua capacidade de sobrevivência.

http://ateus.net/artigos/ciencia/genese-da-vida/

Estrutura do RNA:
"O ácido ribonucleico, tal como o DNA, é um polímero de nucleótidos.
Cada nucleótido é constituído por um grupo fosfato, uma pentose (ribose), e uma base azotada (adenina, guanina, citosina ou uracilo).
Como o RNA é constituído por uma única cadeia polinucleótidica, é considerada uma cadeia simples."
http://soraiabiogeo.blogs.sapo.pt/1620.html

Veja que a RIBOSE eh um carboidrato (AÇUCAR) bem simples com apenas 20 atomos:( C5H10O5 ) :
Wiki: "Carboidratos, também conhecidos como hidratos de carbono, glicídios, glícidos, glucídeos, glúcidos, glúcides, sacarídeos ou ** açúcares ** , são as biomoléculas mais abundantes na natureza, constituídas principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio, podendo apresentar nitrogênio, fósforo ou enxofre na sua composição."

"...Como o espaço é cheio de açúcares que formam a ribose, a espinha dorsal do RNA, não há nenhuma razão para o sistema de DNA e RNA, que forma a vida na Terra, ser limitado a nossa biosfera....
Essa teoria dá a entender que o RNA é o que deu à estrutura primitiva celular o catalisador necessário para se tornar vida. Com um universo cheio de açúcar, não há nenhuma razão para que outros mundos (uma das 100 bilhões de galáxias estimadas no universo observável) não tenham evoluído vida com RNA à sua própria maneira original.."

Grupo Fosfato:
".É o radical fosfato, também chamado grupo fosfato, que confere à molécula de DNA as características ácidas. É formado por um átomo de fósforo que se encontra ligado por 3 ligações simples a um átomo de oxigênio (O) e a duas moléculas de óxido de hidrogênio (OH). A quarta ligação do átomo de fósforo é uma ligação dupla a um átomo de oxigênio. O radical fosfato é responsável também pelo agrupamento dos nucleótidos entre si."

Ou seja o RNA eh formado por acucar ( Ribose ) elemento muito abundante , a base azotada foi produzida na experiencia de Miller  e similares:
( "..3) Síntese de purinas

Em 1960, foi publicado o primeiro experimento relativo à síntese pré-biótica de bases purínicas, a partir do HCN. Juan Oró mostrou que quando uma solução aquosa de cianeto de amônio (1-15 mol/L) era aquecida a 70 °C por vários dias e, em seguida, submetida à hidrólise com HCl 6 mol/ L, era possível isolar adenina e outras bases purínicas..." 
http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=8

todos os 3 componetes do RNA podem ser formados naturalmente por reacoes quimicas da natureza.


Veja do texto:
"...Como o espaço é cheio de açúcares que formam a ribose, a espinha dorsal do RNA, não há nenhuma razão para o sistema de DNA e RNA, que forma a vida na Terra, ser limitado a nossa biosfera....
Essa teoria dá a entender que o RNA é o que deu à estrutura primitiva celular o catalisador necessário para se tornar vida. Com um universo cheio de açúcar, não há nenhuma razão para que outros mundos (uma das 100 bilhões de galáxias estimadas no universo observável) não tenham evoluído vida com RNA à sua própria maneira original.."

Veja que uma simples ENZIMA  ja faz copias imperfeitas:

"..Os pesquisadores começaram a estudar uma **enzima** chamada R18,
que *** pode fazer cópias de outras peças curtas *** de RNA, embora com erros..."

"....Depois de selecionar todas as mutações benéficas que tinham se acumulado a partir dos experimentos,
separar o que era útil e o que não era, e combinar tudo isso em uma única molécula,
os pesquisadores criaram a enzima de RNA tC19Z, que funciona como uma auto-replicadora...."

Outra , os aminoacidos podem se agrupar pelo calor formando polipeptideos:
"...No começo da década de 1970, o biólogo Sidney Fox aqueceu, a seco, a 60ºC, uma mistura de aminoácidos. Obteve pequenos polipeptídeos, a que ele chamou de proteinóides. A água resultante dessa reação entre aminoácidos evaporou em vistude do aquecimento. Fox quis, com isso, mostrar que pode ter sido possível a união de aminoácidos apenas com uma fonte de energia, no caso o calor, e sem a presença de água. Faltava esclarecer o possível local em que essa união teria ocorrido.

Recentemente, os cientistas levantaram a hipótese de que a síntese de grandes moléculas orgânicas teria ocorrido na superfície das rochas e da argila existente na Terra primitiva.

A argila em particular, teria sido o principal local da síntese...."
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao5.php
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Estrutura do RNA:
"O ácido ribonucleico, tal como o DNA, é um polímero de nucleótidos.
Cada nucleótido é constituído por um grupo fosfato, uma pentose (ribose), e uma base azotada (adenina, guanina, citosina ou uracilo). Como o RNA é constituído por uma única cadeia polinucleótidica, é considerada uma cadeia simples."
http://soraiabiogeo.blogs.sapo.pt/1620.html

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"Nohs somos os nossos genes"
(1.pilar genista )
Fonte:
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Para:Genismo@yahoogroups.com
Enviado por em 21/08/2010
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
Performed by Academy of St. Martin-in-the-Fields
with Ivan Moravec