sexta-feira, 27 de maio de 2011

CARTA DE UM NOBEL DA PAZ A BARACK OBAMA

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.

Carta de um Nobel da Paz a Barack Obama

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”. No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. O artigo é de Adolfo Pérez Esquivel.

Estimado Barack, ao dirigir-te esta carta o faço fraternalmente para, ao mesmo tempo, expressar-te a preocupação e indignação de ver como a destruição e a morte semeada em vários países, em nome da “liberdade e da democracia”, duas palavras prostituídas e esvaziadas de conteúdo, termina justificando o assassinato e é festejada como se tratasse de um acontecimento desportivo.

Indignação pela atitude de setores da população dos Estados Unidos, de chefes de Estado europeus e de outros países que saíram a apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado por teu governo e tua complacência em nome de uma suposta justiça. Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes supostamente cometidos, o que gera maior dúvida: o objetivo foi assassiná-lo.

Os mortos não falam e o medo do justiçado, que poderia dizer coisas inconvenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa que incrementá-la.

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”.

No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fez nada disso. Pelo contrário, decidiu começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAM e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes.

A base fundacional da ONU é a defesa e promoção da paz e da dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: “Nós os povos do mundo...”, hoje ausentes deste alto organismo.

Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsemani, em Kentucky, Tomás Merton, que diz: “a maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.

Você era muito jovem, Barack, durante a guerra do Vietnã e talvez não lembre a luta do povo norteamericano para opor-se à guerra. Os mortos, feridos e mutilados no Vietnã até o dia de hoje sofrem as consequências dessa guerra.

Tomás Merton dizia, frente a um carimbo do Correio que acabava de chegar, “The U.S. Army, key to Peace” (O Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem a paz”.
Acompanhei e compartilhei com os veteranos da guerra do Vietnã, em particular Brian Wilson e seus companheiros que foram vítimas dessa guerra e de todas as guerras.

A vida tem esse não sei o quê do imprevisto e surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade e que devemos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, reestabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra.

Se não reagirmos para mudar a situação atual de soberba suicida que está arrastando os povos a abismos profundos onde morre a esperança, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor. Você sabe que a esperança é como o lótus que cresce no barro e floresce em todo seu esplendor mostrando sua beleza.
Leopoldo Marechal,
esse grande escritor argentino,
dizia que: “do labirinto, se sai por cima”.

E creio, Barack, que depois de seguir tua rota errando caminhos, você se encontra em um labirinto sem poder encontrar a saída e te enterra cada vez mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado pelas grandes corporações, pelo complexo industrial militar, e acredita ter todo o poder e que o mundo está aos pés dos EUA porque impõem a força das armas e invade países com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.

As atrocidades cometidas por teu país no mundo são tão grandes que dariam assunto para muita conversa. Isso é um desafio para os historiadores que deverão investigar e saber dos comportamentos, políticas, grandezas e mesquinharias que levaram os EUA á monocultura das mentes que não permite ver outras realidades.

A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gêmeas, o identificam como o Satã encarnado que aterrorizava o mundo e a propaganda do teu governo o apontava como “o eixo do mal”. Isso serviu de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar necessitava para vender seus produtos de morte.

Você sabe que investigadores do trágico 11 de setembro assinalam que o atentado teve muito de “auto golpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévios de escritórios das torres; atentado que deu motivo para desatar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão, argumentando com a mentira e a soberba do poder que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da “liberdade e defesa da democracia”, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são “danos colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Bagdá, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico e no refúgio de crianças que foram vítimas desses “danos colaterais”.

A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte” e que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não trato de justificá-lo sob nenhum conceito, sou contra todas as formas de terrorismo, desde a praticada por esses grupos armados até o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para manter-se pelo terror no eixo do poder mundial. Há um só eixo do mal? Como o chamarias?

Será que é por esse motivo que o povo dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles que chamam de “eixo do mal”? É simplismo e hipocrisia querer justificar o injustificável.

A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio à consciência da humanidade, seu caminho é trabalhoso, cotidiano e portador de esperança, onde os povos são construtores de sua própria vida e de sua própria história. A Paz não é dada de presente, ela se constrói e isso é o que te falta meu caro, coragem para assumir a responsabilidade histórica com teu povo e a humanidade.


Não podes viver no labirinto do medo e da dominação daqueles que governam os EUA, desconhecendo os tratados internacionais, os pactos e protocolos, de governos que assinam, mas não ratificam nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas pretendem falar em nome da liberdade e do direito. Como pode falar de Paz se não quer assumir nenhum compromisso, a não ser com os interesses de teu país?

Como pode falar da liberdade quanto tem na prisão pessoas inocentes em Guantánamo, nos EUA e nas prisões do Iraque, como a de Abu Graib e do Afeganistão?

Como pode falar de direitos humanos e da dignidade dos povos quando viola ambos permanentemente e bloqueia quem não compartilha tua ideologia, obrigando-o a suportar teus abusos?

Como pode enviar forças militares ao Haiti, depois do terremoto devastador, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?

Como pode falar de liberdade quando massacra povos no Oriente Médio e propaga guerras e tortura, em conflitos intermináveis que sangram palestinos e israelenses?

Barack, olha para cima de teu labirinto e poderá encontrar a estrela para te guiar, ainda que saiba que nunca poderá alcançá-la, como bem diz Eduardo Galeano. Busca a coerência entre o que diz e faz, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.

O Nobel da Paz é um instrumento ao serviço dos povos, nunca para a vaidade pessoal.


Te desejo muita força e esperança e esperamos que tenha a coragem de corrigir o caminho e encontrar a sabedoria da Paz.

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.
Buenos Aires, 5 de maio de 2011


 Carta Maior
08/05/2011 | Copyleft
 Sejam felizes todos os seres  Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O PANTEÍSMO - Arthur Schopenhauer

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Arthur Schopenhauer
A controvérsia contemporânea entre teísmo e panteísmo travada pelos professores de filosofia pode ser apresentada alegórica e dramaticamente mediante um diálogo ocorrido na plateia de um teatro em Milão, durante a representação. Um dos interlocutores, convencido de se encontrar no grande e famoso teatro de marionetes de Girolamo, admira a arte com que o diretor fez os marionetes e dirige o espetáculo.

O outro contradiz: De modo algum! Estamos no teatro della scalla, o próprio diretor e seus ajudantes participam do espetáculo, e realmente constituem as pessoas que enxergamos; até mesmo o poeta participa.

É divertido ver, porém, como os professores de filosofia namoram o panteísmo, qual fruto proibido, sem coragem de prosseguir em sua ação. Este seu comportamento já o relatei em meu ensaio sobre filosofia universitária, e recordava o tecelão Botton no sonho da noite de São João. — Ah, é um pão amargo, o pão da docência de filosofia!

Primeiro há que dançar conforme o apito dos ministros, e, feito isto com suficiente graça, ainda se corre o risco do ataque dos selvagens antropófagos, os verdadeiros filósofos: estes são capazes de prender e arrastar alguém para, qual polichinelo de bolso, mostrá-lo para diversão em suas apresentações.

Contra o panteísmo, sustento principalmente que ele não diz nada. Chamar Deus ao Mundo não significa explicá-lo, mas apenas enriquecer a língua com um sinônimo supérfluo da palavra Mundo. Se dizeis “o Mundo é Deus” ou “o Mundo é o Mundo”, dá no mesmo.

Quando partimos de Deus como se ele fosse o dado e o a-ser-explicado, e dizemos portanto: “Deus é o Mundo”; então numa certa medida existe uma explicação, ao se reconduzir ignotum a notius: mas trata-se somente de uma explicação de vocabulário. Porém, quando se parte do efetivamente dado, portanto o mundo, e se afirma “o Mundo é Deus”, então se torna claro que com isto não se diz nada, ou ao menos que se explica ignotum per ignotius [O desconhecido pelo mais desconhecido].

Justamente por isto o panteísmo pressupõe o teísmo como precedente: pois apenas enquanto partirmos de um deus, e portanto já o temos e com ele estamos familiarizados, podemos por fim chegar a identificá-lo com o mundo, para eliminá-lo de uma maneira decente. Porque não partimos imparcialmente do mundo como o a-ser-explicado, mas de deus como o dado; como contudo em pouco tempo não mais sabíamos o que fazer com este, seu papel deveria ser assumido pelo mundo.

Eis a origem do panteísmo. A ninguém ocorrerá de imediato e despojadamente considerar este mundo um deus. Pois deveria se tratar de um Deus muito mal esclarecido, incapaz de algo melhor do que se transformar num mundo como este, tão faminto, e para aqui suportar, na figura de inumeráveis milhões de seres vivos, porém aterrorizados e maltratados, que em sua totalidade conseguem existir momentaneamente apenas um devorando ao outro, a miséria, a necessidade e a morte, sem medida nem objetivo, por exemplo, na figura de seis milhões de escravos negros a receber diariamente em média sessenta milhões de chicotadas sobre o corpo nu, e para vegetar debilmente na figura de três milhões de tecelões europeus, com fome e desgosto, em catres obscuros ou sinistras salas de fábricas etc. Que passatempo para um deus! Como tal, deveria estar acostumado com coisas inteiramente diferentes.*

Em consequência, o pretenso progresso do teísmo ao panteísmo, encarnado com seriedade e não apenas como negação mascarada, como acima, é uma transição do improvado e pensado com dificuldade ao propriamente absurdo. Pois por mais indeciso, oscilante e difuso que seja o conceito associado à palavra de deus, dois predicados lhe são inseparáveis: o mais alto poder e a mais alta sabedoria. Que um ser assim ditado se tenha transferido à situação acima descrita, constitui um pensamento absurdo, pois nossa situação no mundo é tal que nenhum ser inteligente, e muito menos um ser onisciente, a adotará.

Panteísmo é necessariamente otimismo, e por isto falso.  ( ?)

O teísmo, por seu lado, simplesmente carece de provas, e se há uma certa dificuldade em pensar que o mundo infinito é obra de um ser pessoal e individual, como conhecemos somente na natureza animal, também isto não é propriamente absurdo.

Que um ser onipotente e onisciente crie um mundo sofrido, ainda pode ser pensado, mesmo que não conheçamos o porquê para tanto; por isto, ainda que lhe atribuamos também a propriedade da maior bondade, a imperscrutabilidade de sua decisão se torna a saída pela qual uma tal doutrina escapa à acusação de absurdidade.

Mas com a aceitação do panteísmo, o próprio deus criador é o infinitamente atormentado, e somente neste pequeno mundo, o que morre uma vez em cada segundo, e isto por atos livres, o que constitui um absurdo.

Muito mais correto seria identificar o mundo com o demônio, o que aliás fez o autor da Teologia Alemã, ao afirmar na p. 93 da sua obra imortal (conforme o texto reconstruído, Stuttgart, 1851): “Por isto o espírito do mal e a natureza são unos, e onde a natureza não foi subjugada, também o atroz inimigo não o foi”.

Estes panteístas aparentemente conferem ao Sansara o nome Deus. Por outro lado, os místicos dão o mesmo nome ao Nirvana. Deste, porém, contam mais do que podem saber: o que não fazem os budistas; motivo porque o seu nirvana é precisamente um relativo nada. Em seu sentido correto e apropriado, a palavra Deus é utilizada pela sinagoga, pela igreja e pelo islão.

Se há entre os deístas os que entendem pelo nome deus o Nirvana, então o nome não seja motivo para discussão. São os místicos que assim parecem entendê-lo. Re intellecta, in verbis simus faciles [Uma vez compreendida a coisa, sejamos simples nas palavras].

A expressão “o mundo é um fim em si mesmo”, atualmente de uso frequente, conduz a uma indecisão quanto à sua explicação; se através do panteísmo ou do simples fatalismo, mas de qualquer modo permite apenas um significado físico, e não moral, da mesma, na medida em que, sob esta última hipótese, o mundo sempre se apresentaria como meio para um fim mais elevado. Porém justamente o pensamento de que o mundo possui apenas uma significação física e não moral constitui o mais grave engano, originado pela pior perversidade do espírito.

* Nem o panteísmo 
nem a mitologia judaica são suficientes,
se pretendeis explicar o mundo; 
antes há que encará-lo de frente.
http://ateus.net/artigos/filosofia/algumas-palavras-sobre-o-panteismo/

terça-feira, 24 de maio de 2011

O TEMPO É REAL OU É UMA ILUSÃO?



Kate Becker -
O tempo é real ou é uma ilusão?
Einstein descartou o relógio-mestre de Newton quando demonstrou que não há dois eventos verdadeiramente simultâneos a menos que entre eles haja uma relação de causalidade. [Imagem: FQXi] 
 
A realidade do tempo
Muitos físicos argumentam que o tempo é uma ilusão. Lee Smolin prefere discordar.

E se o tempo for mesmo algo real?
Se você não é um físico teórico, a pergunta colocada por Smolin pode soar como uma grande bobagem, como se alguém lhe perguntasse: "E se os seus sapatos e meias fossem reais?"

Afinal, você os usa todos os dias, assim, como não poderiam ser reais?
Dentro do mundo da física fundamental, porém, a noção de que o tempo possa ser real é praticamente radical.

A sensação do tempo
Sim, como seres humanos, vivenciamos o tempo como uma coisa que flui; nós marcamos uma linha divisória entre o passado imutável e o futuro ainda a ser escrito; e nós acreditamos que vivemos em um momento especial que chamamos de presente, que está sendo constantemente atualizado.
Ainda de acordo com a sabedoria convencional - ou, pelo menos, de acordo com aquele tipo peculiar de sabedoria pouco convencional que governa a física quântica e a cosmologia - o tempo é uma ilusão que emerge de uma física mais profunda.

Nesse ponto de vista, o tempo é uma representação ficcional para o comportamento em larga escala de algo mais fundamental.
"É comum na filosofia e na ciência presumir que as coisas que são mais profundas e mais verdadeiras sobre o mundo estão fora do tempo," resume Smolin, físico teórico do Instituto Perimeter em, Ontário, no Canadá. "A questão fundamental é, o tempo é real ou é uma ilusão? Nós experimentamos a vida como uma sequência de momentos, mas é assim que o mundo realmente é?"

"Não há dúvida de que o tempo existe, nós o usamos todos os dias," acrescenta Sean Carroll, físico do Instituto de Tecnologia da Califórnia. "Mas não temos certeza se o tempo é realmente fundamental, se é uma parte necessária de uma compreensão profunda da física, ou se é apenas uma aproximação útil."

A realidade do tempo
Smolin prefere continuar defendendo a realidade do tempo.
Mas, para isso, ele deve superar um grande obstáculo: as teorias da relatividade especial e geral parecem implicar o oposto.
Na visão clássica de Newton, a física funciona obedecendo ao tique-taque de um relógio universal invisível.

Mas Einstein descartou esse relógio-mestre quando, em sua teoria da relatividade especial, ele argumentou que não há dois eventos verdadeiramente simultâneos a menos que entre eles haja uma relação de causalidade.

Se a simultaneidade - a noção do "agora" - é relativa, o relógio universal deve ser uma ficção, e o próprio tempo é uma aproximação para o movimento e a mudança dos objetos no universo. O tempo está literalmente descartado da equação.

Embora tenha passado grande parte de sua carreira explorando as facetas de um Universo atemporal, Smolin se convenceu de que isto está "profundamente errado", diz ele. Ele agora acredita que o tempo é mais do que apenas uma aproximação útil, que ele é tão real quanto a fome que sentimos nos diz que é, mais real, na verdade, do que o próprio espaço.

Física quântica e relatividade geral
A noção de um "tempo real e global" é a hipótese de partida para os novos trabalhos de Smolin, que ele vai realizar este ano com a ajuda de dois estudantes de pós-graduação, financiado pelo Instituto FQXi, uma entidade sem fins lucrativos cuja proposta é discutir as questões fundamentais da física e do Universo.

Smolin espera que este estudo possa permitir-lhe superar um dos maiores problemas não resolvidos da física e da cosmologia - unir as leis da física quântica com as leis da relatividade geral.

A física quântica funciona maravilhosamente bem quando aplicada aos átomos e suas partes constituintes; a relatividade geral é uma descrição testada e comprovada do espaço-tempo na escala macro dos planetas, estrelas e galáxias.

Quando estes dois conjuntos de leis se encontram, porém, como devem fazer para descrever o que acontece dentro de um buraco negro ou como o universo era na época do Big Bang, surge o conflito e o desentendimento.
Poderia o tempo ser a linha que irá costurá-las em uma peça única?
O tempo é real ou é uma ilusão?
O Telescópio de Raios Gama Fermi revela emissões brilhantes no céu: poderiam essas emissões revelar a verdade sobre o tempo? [Imagem: NASA/DOE/Intl. LAT Team]
 
Relógio cósmico
Smolin espera que o levar o tempo a sério vai ajudar a desvendar o que aconteceu no cosmo primordial.

Até agora, é difícil distinguir as leis da natureza atuais das condições iniciais do universo - Em comparação, é fácil distinguir entre dois experimentos no laboratório porque estes testes podem ser repetidos com diferentes condições de partida. Os cosmólogos, entretanto, não podem reinicializar o universo.

Se ele puder lidar com as leis da física com a ajuda de um relógio cósmico fundamental, Smolin pode examinar a possibilidade de que essas leis possam ter sido diferentes no passado. A ideia de que as leis da física podem evoluir com o tempo só faz sentido num quadro em que o tempo é fundamental, afirma ele.

Para entender o porquê, imagine um jogo de futebol no qual as regras são programadas para mudar a cada minuto. Se o próprio relógio não for fundamental, mas também for governado por essas regras flutuantes, os pobres jogadores e árbitros estariam presos em um loop lógico infinito.
As idéias de Smolin podem ser pouco convencionais, mas outros cientistas admiram suas tentativas para salvar o tempo.

"Não fazer isso é negar os dados mais fundamentais que coletamos na vida diária - que estão na base da nossa capacidade de realizar experimentos e analisar teorias," diz George Ellis, um matemático da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

Entretanto, Carlo Rovelli, um físico da Universidade de Marselha, na França, é de opinião contrária: "Nós não devemos forçar as teorias à nossa intuição: nós mudamos a intuição para entender as teorias."

Além da filosofia
Smolin tem consciência de que suas teorias devem ser mais do que filosoficamente agradáveis para que possam ser consideradas científicas.
Ele observa que os astrônomos já estão usando telescópios de raios gama e observatórios de raios cósmicos para investigar se as leis da relatividade especial ainda se mantêm sob energias extremas. 

"Embora eles não resolvam a questão de saber se o tempo é real," diz Smolin, "esses experimentos limitam as opções para teorizações sobre a natureza do tempo."
Fonte:
FQXi 
INOVAÇÃO Tecnológica
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=tempo-realidade-ou-ilusao&id=010130110


Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.

Sejam abençoados todos os seres.