sexta-feira, 27 de julho de 2012

O DRAGÃO DO UMBRAL - PROGRAMA VIDA INTELIGENTE



Publicado em 26/07/2012 por


As criações positivas, no seu conjunto, formam aquilo que chamamos o nosso Ego, nosso EU superior, nossa alma divina. Ao conjunto das criações negativas, podemos denominar de "Dragão do Umbral ". 

Por isso todos os ocultistas fazem um romance, teatralizam o Dragão do Umbral, assim como as seitas, de um modo geral fazem o Diabo, porque de modo geral é o que mais existe no homem.

 Exteriorizam aquilo como história da carochinha, mas em verdade, tudo existe em nós mesmos, é o conjunto das nossas tendências inferiores. Tanto assim que, quando o discípulo começa a ter as suas visões com a Divina Mãe, para continuar usando uma alegoria, uma deusa se apresenta de várias formas. Também se apresenta um dragão. Ele pensa que está sendo atacado por magia negra, mas é o contrário. 

Está vendo seu retrato. Ou, então, está vendo a sua fantasia. Todos já compreenderam que um representa os poderes físicos, por assim dizer, enquanto outro representa a sabedoria, a inteligência. 

E para aqueles que já alcançaram um certo grau de discernimento, é preferível ser inteligente sábio, embora aparentemente fraco do que forte, mas ignorante, porque não fosse assim o mundo estaria superlotado de Adeptos. 

É importante atentarmos para isso porque toda a nossa evolução futura, todo nosso destino depende das causas que criamos no momento presente. Jorge Antonio Oro é nosso convidado.

PROGRAMA VIDA INTELIGENTE
com Eustáquio Patounas
Quinta-Feira, 8 às 9 da noite - Ao Vivo
TV Floripa Canal 4 da NET
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quinta-feira, 26 de julho de 2012

LAWRENCE KRAUSS E PITÁGORAS

                                     

Como ter um universo inteiro, do nada

 
O físico teórico Lawrence Krauss já tomou parte em muitos tópicos complicados, da evolução até o estado das políticas científicas, passando pela física quântica e até a ciência em Star Trek. Mas em um de seus livros, ele talvez fale sobre o assunto limite: como nosso universo surgiu do nada sem uma intervenção divina.
O argumento de que Deus foi o responsável pelo toque inicial, dando vida ao cosmos, vem desde Aristóteles e Tomás de Aquino. Em debates com teólogos, “a questão ‘porque existe algo ao invés de nada’ sempre aparece como ‘inexplicável’ e implica a existência de um criador”, afirma Krauss. “Nós já fomos tão longe, que responder essa pergunta – ou fazer questões similares – virou parte da ciência”.
Ele comentou essa intrigante questão em uma palestra gravada, em uma conferência da Aliança Ateísta Internacional, em 2009. O vídeo já teve mais de um milhão de visualizações, e incitou Krauss a publicar seu mais novo livro, “A Universe From Nothing”.
Porque existe algo ao invés de nada? O cientista afirma que essa questão implica uma pesquisa que não está realmente no propósito científico. “O ‘porque’ nunca é realmente um ‘porque’… de verdade, quando dizemos ‘porque’, estamos querendo saber ‘como’”.
Ok, mas então como temos um universo do nada? Krauss traça uma série de descobertas, desde a teoria geral da relatividade de Einstein até os últimos estudos da energia escura, exemplificando como os cientistas determinaram que os espaços vazios estão preenchidos com energia, na forma de partículas virtuais. Da perspectiva da física quântica, as partículas entram e saem da existência a todo o tempo. Pra Krauss e muitos outros teóricos, o nada é tão instável que ele tem que criado algo: em nosso caso, o universo.
E ainda mais. Krauss e seus colegas tem a visão de que pode haver uma sucessão infindável de big bangs, criando muitos universos com diferentes parâmetros e leis físicas. Alguns desses volta ao nada imediatamente, enquanto outros – como o nosso – ficam por aí tempo suficiente para dar origem às galáxias, estrelas, planetas e vida. Os cientistas ainda não têm uma forma de testar essa hipótese, mas isso explicaria como temos sorte de estar vivos: ganhamos na loteria cósmica.
“Alguns dizem ‘Bom, isso é só uma escapatória’”, comenta Krauss. “Mas é uma desculpa menor do que Deus”.
Positivos e negativos
O livro de Krauss não é o primeiro a colocar que Deus é desnecessário para a criação do universo.
Stephen Hawking apresentou um ponto parecido em seu livro “The Grand Design”. O argumento chave é que a energia positiva da matéria é balanceada pela energia negativa do campo gravitacional. Da perspectiva quântica, a energia total do universo é zero e a evidência matemática disso seria o fato do universo ser plano e não esférico. Portanto, a energia do “nada” é conservada, mesmo que “algo” entre na história.
A ideia de um balanço entre a energia positiva e negativa tem gerado críticas por parte do criacionismo, mas Krauss afirma que o conceito bate com as teorias cosmológicas atuais.
“Soa como uma fraude, mas não é. Uma vez com a gravidade, o incrível é que você pode começar com zero energia e acabar com diversas coisas, e essas podem ter energia positiva, contanto que você faça o efeito contrário com energia negativa. A gravidade permite que a energia seja negativa”, afirma o cientista.
Daqui a muito tempo, quando todas as galáxias tiverem expandindo até o fim, e todas as estrelas morrido, os positivos e negativos vão se cancelar, levando nosso universo a voltar à uniformidade do espaço vazio. “O ‘algo’ talvez esteja aqui por um pequeno período de tempo”, afirma Krauss.
Acentuar o positivo
Para muitos isso pode soar um tanto suicida. O famoso evolucionista (e um dos ateus mais famosos do mundo) Richard Dawkins afirma o seguinte: “Se você acha que isso é sombrio e pouco entusiasmante, que pena. Realmente não traz conforto”. Mas Krauss não pretende ser um depressor.


“Meu objetivo não é destruir a religião, apesar de isso ser um efeito colateral interessante. Meu objetivo não é diferente do que o de Charles Darwin com seu livro “A Origem das Espécies”. Meu objetivo é usar essa fascinante questão, que todos fazem, e motivar as pessoas a aprender sobre o universo real”.


Krauss afirma que a perspectiva científica sobre as origens e o destino do universo oferece uma alternativa válida para o tradicional “consolo” que a religião propõe.
“Aqui estão estas marcantes leis da natureza que surgiram e produziram tudo que você conhece, algo muito mais interessante do que qualquer conto de fadas”, comenta Krauss. “Nós somos os beneficiários sortudos disso, e deveríamos aproveitar o fato de termos consciência para apreciar o universo. É um acidente fantástico, como temos sorte de ser parte disso! E você pode criar uma ‘teologia’ ao redor disso, se quiser”.
É claro que Krauss não se refere à teologia no sentido literal, do estudo de Deus, mas em um sentido de atitude com a vida e seus significados (ou falta de). Qual é a sua atitude? Sinta-se livre para expressar sua opinião, mas com respeito. 
Confira a palestra do físico Lawrence Krauss com legendas, em três partes:


Página:214
LIVRO VI

PITÁGORAS
Os Mistérios de Delfos

Conhece-te a ti mesmo
 – e conhecerás o Universo e os Deuses.

Inscrição do templo de Delfos
O Sono, o Sonho e o Êxtase 
são as três portas para o Além, 
de onde nos vêm a ciência da alma 
e a arte da adivinhação.

A Evolução é a lei da Vida.
O Número é a lei do Universo.
A Unidade é a lei de Deus.


Fragmentos e parte final do Livro: Os grandes Iniciados
Os-Grandes-Iniciados-Edouard-Schure.pdf

O Olimpo, 
concebido como uma esfera rolante, 
é chamado o céu dos inalteráveis, 
por ser assimilado à esfera das almas perfeitas.
Essa astronomia infantil encobre, portanto,
 uma concepção do Universo espiritual.
 

Pitágoras, formado pelos templos do Egito, tinha noções precisas
sobre as grandes revoluções do globo. A doutrina indiana e egípcia
conhecia a existência do antigo continente austral que produzira a raça
vermelha e uma poderosa civilização, chamada Atlântida pelos gregos.
Atribuía a emergência e a imersão alternada dos continentes à oscilação
dos pólos, e admitia que a humanidade tenha atravessado assim seis
dilúvios. Cada ciclo interdiluviano resulta na predominância de uma
grande raça humana. No meio dos eclipses parciais da civilização e das
faculdades humanas, existe um movimento geral ascendente.(pag.275)

Eis, pois, a humanidade constituída e as raças que seguem sua
evolução através dos cataclismos do globo. E sobre este globo que
acreditamos ser a base imutável do mundo e que flutua por si mesmo
levado no espaço, sobre estes continentes que emergem dos mares para
novamente desaparecerem no meio desses povos que passam, dessas
civilizações que se desmoronam, qual é o grande, o pungente, o eterno
mistério? 

É esse o grande problema interior, aquele de cada um e de
todos. E o problema da alma, que descobre em si mesma um abismo de
trevas e de luz, que se contempla com uma mistura de encantamento e
de pavor e se diz:

“Eu não sou deste mundo, 
pois ele não é suficiente para me explicar. 
Não venho da Terra; vou para outro lugar.
Mas para onde?” 
 
É o mistério de Psiquê, no qual se encerram todos os outros.
A cosmogonia do mundo visível, dizia Pitágoras, nos conduziu à
história da Terra, e esta, ao mistério da alma humana. Com ele
chegamos ao santuário dos santuários, ao arcano dos arcanos. Uma vez
despertada sua consciência, a alma se transforma por si mesma no mais
extraordinário dos espetáculos. Mas esta consciência é apenas a
superfície iluminada de seu ser, onde ela pressente abismos obscuros e
insondáveis. Em sua profundidade desconhecida, a divina Psiquê
contempla, com olhar fascinado, todas as vidas e todos os mundos:
passado, presente e futuro que a eternidade reúne.

 “Conhece-te a ti mesmo 
e conhecerás o Universo dos Deuses.” 
 
Eis o segredo dos sábios iniciados. Mas, para penetrar por esta porta estreita da imensidão do Universo invisível, despertemos em nós a vida reta da alma purificada e armemo-nos do facho da inteligência da ciência dos princípios e dos Números sagrados.

Pitágoras passava assim da cosmogonia física à cosmogonia espiritual. Após a evolução da Terra, ele narrava a evolução da alma através dos mundos. Fora da iniciação, esta doutrina é conhecida sob o nome de transmigração das almas. Sobre nenhuma outra parte da doutrina oculta se têm dito maiores disparates do que sobre aquela, de tal forma que a literatura antiga e moderna só a conhecem por meio de deturpações pueris. O próprio Platão que, de todos os filósofos, mais contribuiu para popularizá-la, dela nos deu apenas interpretações fantasiosas e às vezes extravagantes, talvez pelo fato de sua prudência ou de seus juramentos terem-no impedido dizer tudo o que sabia.
Poucas pessoas imaginam hoje que esta doutrina possa ter tido para os
iniciados um aspecto científico, ou possa ter aberto perspectivas infinitas e dado à alma consolações divinas.(pag.276) 


O que é a alma humana? 
Uma parcela da grande alma do mundo,
uma centelha do espírito divino, uma Mônada imortal.
 
 Mas, se seu possível futuro abre-se nos esplendores insondáveis da consciência divina, sua misteriosa eclosão remonta às origens da matéria
organizada. Para tornar-se o que é na humanidade atual, foi preciso que
ela atravessasse todos os reinos da natureza, toda a escala dos seres,
desenvolvendo-se gradualmente por uma série de inumeráveis
existências.(pag.277)

 O espírito que fermenta os mundos e condensa a matéria
cósmica em massas enormes manifesta-se com intensidades diversas e
uma concentração sempre maior nos reinos sucessivos da natureza.
Força cega e indistinta no mineral, individualizada na planta, polarizada
na sensibilidade e no instinto dos animais, ela tende para a Mônada
consciente nessa lenta elaboração. E a Mônada elementar é visível no mais inferior dos animais. O elemento anímico e espiritual existe, pois, em todos os reinos, embora somente em quantidade infinitesimal nos reinos superiores. 

As almas que existem em estado de germes nos reinos
inferiores aí permanecem sem sair, durante imensos períodos. E só
depois de grandes revoluções cósmicas é que elas passam para um reino
superior, mudando de planeta. Tudo o que elas podem fazer durante o
período de vida num planeta é subir algumas espécies.

Onde começa a mônada? 
Seria o mesmo que perguntar a hora
em que se formou a nebulosa, 
ou um sol brilhou pela primeira vez.
 Seja como for, o que constitui a essência de qualquer homem teve de evoluir
durante milhões de anos, através de uma cadeia de planetas e reinos
inferiores, conservando, porém, através de todas essas existências um
princípio individual que a acompanha por toda a parte. Esta
individualidade obscura, mas indestrutível, constitui a marca divina da
mônada, na qual Deus quer manifestar-se pela consciência.

Quanto mais ascende na série dos organismos, mais a mônada
desenvolve os princípios latentes que já possui. A força polarizada
torna-se sensível; a sensibilidade torna-se instinto, e o instinto,
inteligência. E à medida que se acende a chama vacilante da consciência
esta alma torna-se mais independente do corpo, mais capaz de levar
uma existência livre. A alma fluida e não polarizada dos minerais e dos
vegetais está ligada aos elementos da Terra. A dos animais, fortemente
atraída pelo fogo terrestre, ali permanece certo tempo após deixar seu
cadáver; depois volta para a superfície do globo, para se reencarnar em
sua espécie, sem jamais abandonar as baixas camadas do ar. Estas são
povoadas de elementos ou almas animais, que desempenham sua função
na vida atmosférica e uma grande influência oculta sobre o homem.(pag.278)

Somente a alma humana vem do céu e para lá retorna após a morte. Mas
em que época de sua longa existência cósmica a alma elementar tornouse
humana?Qual cadinho incandescente, qual chama etérea lhe teria
possibilitado t al passagem? Essa transformação só seria possível, num
período interplanetário, pelo reencontro de almas humanas já plenamente formadas, que desenvolveram na alma elementar seu princípio espiritual e lhe imprimiram seu divino protótipo como uma marca de fogo em sua substância plástica.

Mas quantas viagens, quantas encarnações, quantos ciclos planetários ainda a atravessar para que a alma humana, assim formada, se torne o homem que conhecemos! Segundo as tradições esotéricas da Índia e do Egito, os indivíduos que compõem a humanidade atual teriam começado sua existência humana em outros planetas, onde a matéria é muito menos densa do que no nosso. O corpo do homem era então quase vaporoso; suas encarnações, rápidas e fáceis. Suas faculdades de percepção espiritual direta teriam sido muito poderosas e sutis naquela primeira fase humana. A razão e a inteligência, ao contrário, estariam em estado embrionário. 


A Terra é o último degrau 
dessa descida na matéria, 
que Moisés chama de saída do paraíso, 
e Orfeu, de queda do círculo sublunar.
 
 Daí o homem pode voltar a subir penosamente os círculos em
uma série de existências novas e recuperar seus sentidos espirituais, por
meio do livre exercício do intelecto e da vontade. Somente então, dizem
os discípulos de Hermes e de Orfeu, o homem adquire, por sua ação, a
consciência e a posse do divino. Somente então ele se torna filho de
Deus. E aqueles que, na Terra, tiveram este nome precisaram, antes de
aparecerem entre nós, de descer e tornar a subir a terrível espiral.
O que é, pois, a humilde Psiquê, em sua origem?(pag.279)

 Um sopro que passa, um germe que flutua, um pássaro levado pelos ventos, que emigra de existência em existência. Entretanto, de naufrágio em
naufrágio, através de milhões de anos, ela tornou-se a filha de Deus e
não reconhece outra pátria além do céu! Eis por que a poesia grega, de
um simbolismo tão profundo e tão luminoso, comparou a alma ao inseto
alado: ora verme da terra, ora borboleta celeste. Quantas vezes tem ela
sido crisálida e quantas vezes, borboleta? Jamais o saberá, mas sente
que possui asas!

Tal é o vertiginoso passado da alma humana. Ele nos explica sua
condição presente e nos permite entrever seu futuro.
Qual é a situação da divina Psiquê na vida terrestre? A menor
reflexão mostra que seria impossível imaginar algo mais estranho e
mais trágico. Desde que, penosamente, despertou na atmosfera espessa
da Terra, a alma sentiu-se enlaçada nas sinuosidades do corpo. Não
vive, não respira, não pensa, senão através dele. Entretanto, o corpo não
é a alma. À medida que se desenvolve, ela sente crescer em si mesma
uma luz vacilante, algo invisível e imaterial que ela chama seu espírito,
sua consciência. Sim, o homem possui o sentimento inato de sua tríplice
natureza, pois que ele distingue, em sua própria linguagem instintiva,
corpo e alma; a alma e o espírito. Porém a alma cativa e atormentada se
debate entre seus dois companheiros, como no amplexo de uma
serpente de mil anéis e um gênio invisível que a chama, mas cuja
presença só se faz sentir pelas batidas de asas e por clarões fugidios.

Ora, este corpo a absorve a tal ponto que ela só vive através de suas
sensações e paixões. Ela rola com ele nas orgias sangrentas da cólera ou
na grosseira embriaguez das volúpias carnais, até que ela mesma se
espante consigo pelo silêncio profundo do companheiro invisível.
Atraída por este, a alma se perde em tal elevação de pensamento que
esquece a existência do corpo, até que ele lhe recorde sua presença
mediante um apelo tirânico. E, no entanto, uma voz interior lhe diz que
entre ela e o hóspede invisível o liame é indissolúvel, enquanto a morte
romperá sua ligação com o corpo. E, sacudida entre os dois em sua luta
eterna, a alma busca inutilmente a felicidade e a verdade. (pag.280)

Inutilmente ela busca a si mesma nas sensações que passam, nos pensamentos que lhe escapam, no mundo que se modifica como uma miragem. Não encontrando nada que dure, atormentada, arrastada como uma folha ao vento, ela duvida de si mesma e de um mundo divino que apenas se
revela por sua dor e sua incapacidade para atingi-lo.

A ignorância humana
 está escrita nas contradições dos pretensos sábios, 
e a tristeza humana, na sede insondável 
do olhar humano.
 
Enfim, qualquer que seja a extensão de seus conhecimentos, o
nascimento e a morte encerram o homem entre dois limites fatais. São
duas portas de trevas, além das quais ele nada vê. A chama de sua vida
se acende ao entrar por uma, e se extingue ao sair por outra. Dar-se-ia o
mesmo com a alma? Se não, o que lhe acontecerá?

A resposta que os filósofos já deram a esse problema pungente
tem sido muito diversa.


 Mas isto supõe sempre, no vidente, umestado nervoso especial. A sutileza, a potência, a perfeição do corpo
espiritual variam segundo a qualidade do espírito que ele encerra.(pag.281)


Isto ensinava Pitágoras, que não concebia a entidade espiritual
abstrata, a mônada sem forma. O espírito em ato, tanto no fundo dos
céus como na terra, deve ter um órgão. Esse órgão é a alma viva, bestial
ou sublime, obscura ou radiosa, mas com a forma humana, a imagem de
Deus.


 Esta fase
 da vida da alma 
tem recebido nomes diversos 
nas religiões e nas mitologias. 

Moisés denomina-a Horeb;
 Orfeu, Erebo; o cristianismo, Purgatório 
ou o vale da sombra da morte. 
 
Os iniciados gregos identificavam-na com o cone de sombra que a terra arrasta sempre atrás de si e que vai até a lua, denominando-a, por esta razão, o abismo de Hécate. Nesse poço tenebroso turbilhonam, segundo os órficos e os pitagóricos, as almas que procuram, por meio de esforços desesperados, alcançar o círculo da lua, e que a violência dos ventos torna a lançar aos milhares para a Terra. Homero e Virgílio
comparam-nas a turbilhões de folhas, a bandos de pássaros enlouquecidos pela tempestade.




Os sombrios poentes da Terra se abrasarão em radiosos clarões. Sim, que o homem só tenha vivido uma hora de entusiasmo ou de abnegação, esta única nota pura, arrancada à gama dissonante de sua vida terrestre, se repetirá em seu além em progressões maravilhosas, em harmonias eolianas. 

As felicidades fugidias que obtemos dos encantamentos da música, dos êxtases do amor ou dos transportes da caridade são apenas as notas debulhadas de uma sinfonia que ouviremos então.

 Será que esta vida é apenas um longo sonho,
 uma grandiosa alucinação?

Porém o que há de mais verdadeiro 
do que aquilo que a alma sente em si mesma
e que ela realiza mediante sua comunhão divina
 com outras almas? 

Os iniciados,  que são idealistas
 conseqüentes e transcendentes, sempre pensaram 
que as únicas coisas reais e duráveis da Terra 
são as manifestações da Beleza, 
do Amor e da Verdade espirituais. 
 
Como o Além não pode ter outro objeto que não seja essa
Verdade, essa Beleza e esse Amor, para aqueles que deles fizeram o
objeto de sua vida, eles estão persuadidos de que o céu será mais
verdadeiro do que a Terra.

A vida celeste da alma pode durar centenas ou milhares de anos,
de acordo com sua posição e sua força impulsora. Mas cabe apenas às
mais perfeitas, às mais sublimes, àquelas que atravessaram o círculo das
gerações, prolongá-la indefinidamente. Estas não somente atingiram o
repouso temporário, mas a ação imortal na verdade. Criaram suas
próprias asas. São invioláveis, porque são a luz. Governam os mundos,
porque vêem através deles. Quanto às outras, são levadas, por uma lei
inflexível, a se reencarnarem para se submeterem a uma nova prova
elevando-se a um escalão superior ou caindo mais baixo ainda, se
falharem.(pag.286)

Como a vida terrestre, a vida espiritual tem seu começo, seu
apogeu e sua decadência. Quando esta vida se esgota, a alma sente-se
dominada por lentidão, vertigem e melancolia. Uma força invencível a
atrai de novo para as lutas e os sofrimentos da Terra. Esse desejo é um
misto de apreensões terríveis e de imensa dor por deixar a vida divina.
Mas chegou a hora. A lei deve ser cumprida. O peso aumenta, a
escuridão a invade e só vê suas companheiras luminosas através de um
véu, que cada vez mais espesso a faz pressentir a separação iminente.

Ouve seus tristes adeuses. As lágrimas das bem-aventuranças que ama
penetram-na como um orvalho celeste que deixará em seu coração a
sede ardente de uma felicidade desconhecida. Então, com juramentos
solenes, ela promete recordar. . . recordar a luz no mundo das trevas, a
verdade no mundo da mentira, o amor no mundo do ódio. A volta, a
coroa imortal, só existe a este preço!

Ela desperta numa atmosfera espessa. Astro etéreo, almas
diáfanas, oceanos de luz, tudo desapareceu. Ei-la de volta à Terra, no
abismo do nascimento e da morte. Entretanto ela ainda não perdeu a
lembrança celeste, e o guia alado, ainda visível a seus olhos, mostra-lhe
a mulher que será sua mãe. Esta traz dentro de si o germe de uma
criança. E este germe só viverá se um espírito vier animá-lo. Então,
durante nove meses, realiza-se o mistério mais impenetrável da vida
terrestre: a encarnação e a maternidade.

A fusão misteriosa opera-se lentamente, sabiamente, órgão por
órgão, fibra por fibra. À medida que a alma mergulha nesse antro quente
embebido de vapor e pululante, à medida que se sente presa nos
meandros das vísceras de mil pregas, a consciência de sua vida divina
apaga-se e extingue-se; pois entre ela e a luz do alto interpõem-se as
ondas do sangue, os tecidos da carne que a estreitam e envolvem em
trevas. Aquela luz longínqua já não é mais do que um clarão agonizante.
Afinal, uma dor horrível comprime-a, aperta-a num torno. Uma
convulsão sangrenta arranca-a à alma materna e fixa-a num corpo
palpitante. A criança nasceu, miserável efígie terrestre, e grita de pavor.
Mas a lembrança celeste penetrou nas profundezas ocultas do (pag.287)
Inconsciente, e só reviverá pela Ciência ou pela Dor, pelo Amor ou pela
Morte!

A lei da encarnação e da desencarnação 
revela-nos pois o
verdadeiro sentido da vida e da morte. 
 
Constitui o núcleo essencial na evolução da alma, e nos permite acompanhá-la para trás e para frente, até o mais profundo da natureza e da divindade; pois essa lei nos revela o ritmo e a medida, a razão e o fim de sua imortalidade. Abstrata ou fantástica, ela torna-a viva e lógica, mostrando as correspondências da vida e da morte. 

O nascimento terrestre 
é uma morte do ponto de vista espiritual;
 a morte, uma ressurreição celeste. 
 
A alternância das duas vidas é necessária ao desenvolvimento da alma, e cada uma das duas é ao mesmo tempo a conseqüência e a explicação da outra. Todo aquele que se penetrou dessas verdades encontra-se no coração dos mistérios, no centro da iniciação.

Entretanto, perguntarão, o que nos prova a continuidade da alma,
da mônada, da entidade espiritual através de todas essas existências,
uma vez que delas ela perde sucessivamente a memória?

E o que vos prova, responderemos, a identidade da vossa
personalidade, durante a vigília e durante o sono? Despertais cada
manhã de um estado tão estranho, tão inexplicável como a morte.
Ressuscitais desse nada para recair nele à noite. Era o nada? Não. Pois
sonhastes, e vossos sonhos foram para vós tão reais quanto a realidade
da vigília. Uma alteração das condições fisiológicas do cérebro
modificou as relações entre a alma e o corpo e deslocou vosso ponto de
vista psíquico. Permanecestes o mesmo indivíduo, mas estivestes em
outro meio e vivestes outra existência. 

Nos magnetizados, nos sonâmbulos e nos clarividentes, o sono desenvolve faculdades novas que nos parecem miraculosas, mas que são as faculdades naturais da alma desligada do corpo. Uma vez despertos, esses clarividentes não se lembram mais do que viram, do que disseram ou fizeram durante o sono lúcido. Mas em outro de seus sonos recordam-se perfeitamente do que
aconteceu no sono anterior, e predizem às vezes com exatidão matemática o que acontecerá no próximo. Parecem ter duas consciências, duas vidas alternadas inteiramente distintas, cada uma com sua continuidade racional, envolvendo uma mesma individualidade como cordões de cores diversas em torno de um fio invisível. Foi pois num sentido bastante profundo que os antigos poetas iniciados denominaram o sono o irmão da morte.(pag.288)

Um véu de esquecimento 
separa o sono da vigília, 
como o nascimento da morte. 
 
E assim como nossa existência terrestre divide-se em duas partes sempre
alternadas, também a alma se alterna, na imensidão de sua evolução
cósmica, entre a encarnação e a vida espiritual, entre a terra e os céus.

Essa passagem alternativa de um plano do Universo para outro, essa
inversão dos pólos de seu ser não é menos necessária ao
desenvolvimento da alma do que a alternativa da vigília e do sono é
necessária à vida corporal do homem. Temos necessidade das ondas do
Lethê ao passar de uma existência para outra. Nesta, um véu salutar nos
esconde o passado e o futuro. O esquecimento porém não é total, e a luz
atravessa o véu. As idéias inatas provam, por si sós, uma existência
anterior. Todavia há mais: nascemos com um mundo de vagas
recordações, de impulsos misteriosos, de pressentimentos divinos.

 Em crianças nascidas de pais mansos e tranqüilos às vezes irrompem
paixões selvagens que o atavismo não é suficiente para explicar e que
vêm de uma existência precedente. Nas vidas mais humildes muitas
vezes há inexplicáveis e sublimes fidelidades a um sentimento, a uma
idéia. Não virão elas das promessas e dos juramentos da vida celeste?
Pois a lembrança oculta que dela a alma guardou é mais forte do que
todas as razões terrestres. Conforme se prenda a esta lembrança ou a
abandone, ela vence ou sucumbe.

 A verdadeira fé 
é aquela muda fidelidade da alma a si mesma. 
 
Compreende-se assim que Pitágoras, como todos os teósofos, tenha considerado a vida corporal como uma elaboração necessária da vontade, e a vida celeste como um crescimento espiritual e uma realização.

As vidas sucedem-se e não se assemelham, mas encadeiam-se
com uma lógica impiedosa. Se cada uma delas tem sua lei própria e seu
destino especial, sua seqüência é regida por uma lei geral que se poderia
chamar de repercussão das vidas (8). Segundo esta lei, as ações de uma
vida repercutem fatalmente na seguinte. Não somente o homem (pag.289)
renascerá com os instintos e as faculdades que desenvolveu em sua
precedente encarnação, mas o próprio gênero de sua existência será
determinado em grande parte pelo bom ou mau emprego que ele teria
feito de sua liberdade na vida anterior.

 Não há palavra, não há ação
 que não tenha eco na eternidade, diz um provérbio. 
Segundo a doutrina esotérica, esse provérbio aplica-se 
literalmente de uma vida à outra.
Para Pitágoras, as injustiças aparentes do destino, as deformidades, as
misérias, os golpes da sorte, as infelicidades de todo gênero encontram
sua explicação no fato de cada existência ser a recompensa ou o castigo
da precedente. Uma vida criminosa engendra uma vida de expiação;
uma vida imperfeita, uma vida de provas. 

Uma vida boa determina uma missão; uma vida superior, uma missão criadora. A sanção moral, que se aplica com imperfeição aparente do ponto de vista de uma única existência, aplica-se, no entanto, com perfeição admirável e justiça
minuciosa na série de existências. Nessa série pode haver progressão
rumo à espiritualidade e à inteligência, como pode haver progressão
rumo à bestialidade e à matéria. 

À medida que a alma progride,
 adquire maior participação na escolha
de suas reencarnações.

 A alma inferior submete-se. 
A alma média escolhe entre aquelas que lhe são oferecidas.
A alma superior, que se impõe uma missão, 
elege-a por devotamento.
 
Quanto mais a alma se eleva, mais ela conserva em suas encarnações a
consciência clara, irrecusável, da vida espiritual, que reina além de
nosso horizonte terrestre, que a envolve como uma esfera de luz e envia
seus raios em nossas trevas. A tradição pretende mesmo que os
iniciadores de primeira linha, os divinos profetas da humanidade,
tenham recordado suas precedentes vidas terrestres. Segundo a lenda,
Gautama Buda, Sáquia-Muni, teria encontrado em seus êxtases o fio das
suas existências passadas. E conta-se que Pitágoras dizia dever a um
favor especial dos Deuses o fato de lembrar-se de algumas de suas vidas
anteriores.

Já dissemos que, na série das vidas, a alma pode retroceder ou avançar, conforme se entregue à sua natureza inferior ou à divina. Daí uma conseqüência importante, cuja verdade a consciência humana sempre sentiu com um estremecimento estranho. Em todas as (pag.290) existências há lutas a sustentar, escolhas a fazer, decisões a tomar, cujos resultados são incalculáveis. Mas, na rota ascendente do bem, que atravessa uma série considerável de encarnações, deve existir uma vida, um ano, um dia, uma hora talvez, em que a alma, alcançando a plena consciência do bem e do mal, pode elevar-se, por um derradeiro e supremo esforço, a uma altura tal que não terá mais de descer, iniciando o caminho dos pináculos. 

O mesmo acontece no caminho descendente do mal. Há um ponto do qual a alma perversa pode ainda voltar. Contudo, uma vez transposto esse ponto, a insensibilidade é definitiva. 

De existência em existência, 
ela rolará até o fundo das trevas 
e perderá sua humanidade. 

O homem tornar-se-á demônio, 
o demônio, animal, e sua indestrutível mônada
será forçada a recomeçar a penosa, assustadora evolução
 através da série dos reinos ascendentes 
e inumeráveis existências. 
 
Eis o verdadeiro inferno, segundo a lei da evolução. E não é
ele tão terrível e até mais lógico que o das religiões esotéricas?
A alma pode, portanto, subir ou descer na série das vidas. Quanto
à humanidade terrestre, sua marcha opera-se segundo a lei de uma
progressão ascendente, que faz parte da ordem divina. Esta verdade, que
supomos ser descoberta recente, era conhecida e ensinada nos Mistérios
antigos.

 “Os animais são parentes do homem 
e o homem é parente dos deuses”,
 dizia Pitágoras.
 
 Ele desenvolvia filosoficamente o que ensinavam também os símbolos de Elêusis: o progresso dos reinos ascendentes, a aspiração do mundo vegetal ao mundo animal, do mundo animal ao mundo humano e a sucessão, na humanidade, de raças cada vez mais perfeitas. Esse progresso não se realiza de maneira uniforme, mas em ciclos regulares e crescentes, contidos uns nos outros. Cada povo tem sua juventude, sua maturidade e seu declínio. Ocorre o
mesmo com raças inteiras: a raça vermelha, a raça negra e a raça branca,
têm reinado sucessivamente no globo.

 A raça branca, ainda em plena juventude, não atingiu sua maturidade em nossos dias. Em seu apogeu, ela desenvolverá, no próprio seio, uma raça aperfeiçoada, pelo restabelecimento da iniciação e pela seleção espiritual dos casamentos.

Assim se sucedem as raças, assim progride a humanidade. Os iniciados antigos iam muito mais longe do que os modernos em suas previsões. Admitiam que chegaria um momento em que a grande massa dos indivíduos que compõem a humanidade atual passaria a um outro planeta, a fim de lá começar um novo ciclo.(pag.291)

 Na série dos ciclos que constituem a cadeia planetária, a humanidade inteira desenvolverá os princípios intelectuais, espirituais e transcendentes que os grandes iniciados cultivaram em si mesmos já nesta vida, e os levará assim a
uma florescência mais geral. Não é preciso dizer que tal desenvolvimento abrange não somente milhares, mas milhões de anos, e que provocará mudanças inimagináveis na condição humana. Para caracterizá-las, Platão disse que nesse tempo os Deuses habitarão realmente os templos dos homens.

 É lógico admitir que na cadeia planetária, isto é, nas evoluções sucessivas de nossa humanidade em outros planetas, suas encarnações se tornem de uma natureza cada vez mais etérea, o que as aproximará insensivelmente do estado puramente espiritual, daquela oitava esfera que está fora do círculo das gerações, e pela qual os antigos teósofos designavam o estado divino. É natural também que, não tendo todos o mesmo impulso, pois muitos ficam no caminho ou caem fora, o número dos eleitos vá diminuindo sempre nessa prodigiosa ascensão. Ela causa vertigem a nossas inteligências limitadas pela Terra; mas as inteligências celestes contemplam-na sem medo, como nós contemplamos uma única vida.

A evolução das almas, assim compreendida, não estaria de acordo
com a unidade do Espírito, o princípio dos princípios; com a
homogeneidade da Natureza, a lei das leis; com a continuidade do
movimento, a força das forças? Visto através do prisma da vida
espiritual, um Sistema Solar não constitui somente um mecanismo
material, mas um organismo vivo, um reino celeste, em que as almas
viajam de mundo em mundo como o próprio sopro de Deus que o
anima.

Qual é pois o fim último do homem e da humanidade, segundo a doutrina esotérica? Após tantas vidas, mortes, renascimentos, calmarias
e despertares pungentes, existirá um término para os labores de Psiquê?
Sim, dizem os iniciados, quando a alma tiver definitivamente vencido a
matéria; quando, desenvolvendo todas as suas faculdades espirituais, ela tiver encontrado em si mesma o princípio e o fim de todas as coisas. Então, não sendo mais necessária a encarnação, ela entrará no estado
divino, mediante sua união completa com a inteligência divina. Se mal
podemos pressentir a vida espiritual da alma após cada vida terrestre, como poderemos imaginar esta vida perfeita que deverá resultar de toda a série de suas existências espirituais? (pag.292)

 O céu dos céus será para suas venturas precedentes o que o Oceano é para os rios. Para Pitágoras, a apoteose do homem não era a imersão na inconsciência, mas a atividade criadora na consciência suprema. 

A alma transformada em puro espírito
não perde sua individualidade; completa-a, 
pois reúne-se a seu arquétipo em Deus. 
 
Ela se lembra de todas as existências anteriores, que
lhe parecem outros tantos degraus para atingir o degrau máximo, de
onde ela abrange e penetra o universo. Nesse estado, o homem não é
mais homem, como dizia Pitágoras. É semideus; porque reflete em todo
o seu ser a luz inefável, com a qual Deus preenche toda a imensidade.
Para ele, saber é poder; amar é criar; ser é irradiar a verdade e a beleza.

E esse término, será ele definitivo? A Eternidade espiritual tem
outras medidas além do tempo solar. Mas tem também suas etapas, suas
normas e seus ciclos. Acontece apenas que eles ultrapassam inteiramente as concepções humanas. Porém a lei das analogias progressivas nos reinos ascendentes da natureza permite-nos afirmar que o espírito, tendo chegado a este estado sublime, não pode mais voltar atrás e que se os mundos visíveis mudam e passam, o mundo invisível, que é sua razão de ser, sua fonte e sua embocadura – e do qual participa a divina Psiquê –, é imortal.

Com essas perspectivas luminosas, Pitágoras terminava a história
da divina Psiquê. A última palavra tinha expirado nos lábios do sábio,
mas o sentido da incomunicável verdade permanecia suspenso na
atmosfera imóvel da cripta. Cada um acreditava ter acabado o sonho das
vidas para despertar na grande paz, no doce oceano da vida única e sem
limites. As lâmpadas de nafta iluminavam tranqüilamente a estátua de
Perséfona, em pé, como ceifadora celeste, e faziam reviver sua história
simbólica nas pinturas sagradas do santuário. 

Às vezes
 uma sacerdotisa 
entrava em êxtase sob o domínio
da voz harmoniosa de Pitágoras,
e parecia encarnar nas atitudes e na fisionomia radiante 
a inefável beleza de sua visão. 
 
E os discípulos, tomados de emoção religiosa, assistiam em silêncio. Mas logo o mestre, com um gesto lento e seguro, trazia de novo para a terra a profândida inspirada. Pouco a pouco, seus traços se descontraíam, ela tombava nos braços das companheiras e caía em profunda letargia, da qual despertava confusa, triste e como que esgotada pelo esforço despendido. Então subiam todos na cripta para os jardins de Ceres, para a frescura da aurora que começava a branquear o mar, sob o céu estrelado.(pag.293)

QUARTO GRAU – EPIFANIA
O adepto. – A mulher iniciada. – O amor e o casamento.

Acabamos de atingir, com Pitágoras, o apogeu da iniciação antiga.
Desta altura, a Terra parece inundada de sombra como um astro
agonizante. Dali descortinam-se as perspectivas siderais, desenrola-se,
como um conjunto maravilhoso, a visão de cima, a epifania do
Universo (9). Porém a finalidade desse ensinamento não era absorver o
homem na contemplação ou no êxtase. O mestre levara seus discípulos
a passear pelas regiões incomensuráveis do Cosmo, mergulhara-os nos
abismos do invisível. Da assustadora viagem, os verdadeiros iniciados
deviam voltar à terra melhores, mais fortes e mais preparados para as
provas da vida.

À iniciação da inteligência devia suceder à da vontade, a mais
difícil de todas. Pois trata-se agora de o discípulo deixar a verdade
descer no mais profundo de seu ser, de pô-la em prática durante a vida.
Para atingir este ideal, era preciso, segundo Pitágoras, reunir três
perfeições: realizar a verdade na inteligência, a virtude na alma, a
pureza no corpo. Uma higiene sábia, uma continência moderada deviam
manter a pureza corporal, necessária não como fim, mas como meio.

Todo o excesso corporal deixa um traço e uma nódoa no corpo astral,
organismo vivo da alma, e por conseguinte, no espírito. Pois o corpo
astral concorre para todos os atos do corpo material. É ele mesmo que
os executa, porque sem ele o corpo material não passa de uma massa
inerte. É preciso, portanto, que o corpo seja puro para que a alma o seja
também. É preciso, em seguida, que a alma, incessantemente iluminada
pela inteligência, adquira a coragem, a abnegação, o devotamento e a fé,
em uma palavra, a virtude, e da mesma faça uma segunda natureza que
substitua a primeira. (pag.294)

É preciso, finalmente, que o intelecto atinja a sabedoria pela ciência, de tal sorte que saiba distinguir em tudo o bem e o mal, e ver Deus tanto no menor dos seres como no conjunto dos mundos. A essa altura, o homem torna-se adepto e, se possui energia suficiente, entra na posse de faculdades e poderes novos. Os sentidos internos da alma se abrem, a vontade resplandece nos outros. Seu magnetismo corporal, penetrado dos eflúvios de sua alma astral, eletrizado por sua vontade, adquire um poder aparentemente
miraculoso. Às vezes, cura doentes pela imposição das mãos ou
somente por sua presença. Muitas vezes, penetra nos pensamentos dos
homens apenas com o olhar. Algumas vezes, em estado de vigília, vê
acontecimentos que ocorrem longe (10). Age à distância pela
concentração do pensamento e da vontade sobre as pessoas que estão
ligadas a ele por laços de simpatia pessoal, e lhes faz aparecer sua
imagem à distância, como se seu corpo astral pudesse transportar-se
para fora do corpo material.

 A aparição dos moribundos ou dos mortos aos amigos é exatamente o mesmo fenômeno. Só que a aparição que o moribundo ou a alma do morto produz geralmente, por um desejo inconsciente, na agonia ou na segunda morte, o adepto a produz em plena saúde e em plena consciência. Todavia, ele apenas o consegue durante o sono e, quase sempre, durante um sono letárgico, enfim, o adepto sente-se cercado e protegido por seres invisíveis, superiores e
luminosos, que lhe emprestam sua força e o ajudam em sua missão

Raros são os adeptos,
 mais raros ainda aqueles que alcançam este poder. 
A Grécia só conheceu três: 
Orfeu, na aurora do helenismo;
Pitágoras, em seu apogeu; 
Apolônio de Tiana, em seu declínio.
 
Orfeu foi o grande inspirado e o grande iniciador da religião grega; Pitágoras,
o organizador da ciência esotérica e da filosofia das escolas; Apolônio,
o estóico moralizador e o mágico popular da decadência. Mas em todos
os três, apesar dos graus e através das nuances, brilha o raio divino: o
espírito apaixonado pela salvação das almas, a indomável energia
revestida de mansidão e serenidade. Todavia, não vos aproximeis muito
dessas grandes frontes calmas. Elas queimam em silêncio. Sente-se sob
a fornalha uma vontade ardente, mas sempre contida.(pag.295)

Pitágoras representa para nós, portanto, um adepto de primeira
ordem, com o espírito científico e a fórmula filosófica que mais se
aproximam do espírito moderno. Mas ele não podia nem pretendia fazer
de seus discípulos adeptos perfeitos. Uma grande época tem sempre um
grande inspirador em sua origem. Seus discípulos e os alunos de seus
discípulos formam a cadeia imantada e propagam seu pensamento pelo
mundo. No quarto grau da iniciação, Pitágoras se contentava, pois, em
ensinar a seus fiéis as aplicações de sua doutrina à vida. Porque a
Epifania, a visão do alto, dava um conjunto de visões profundas e gerais
sobre as coisas terrestres.

A origem do bem e do mal 
permanece um mistério incompreensível
para quem não percebeu a origem e o fim das coisas.
 
Uma moral que não considera os supremos destinos do homem só será
utilitária e bastante imperfeita. Além do mais, a liberdade humana não
existe de fato para aqueles que são sempre escravos de suas paixões, e
não existe de direito para aqueles que não acreditam nem na alma nem
em Deus, e para quem a vida é um relâmpago entre dois nadas. Os
primeiros vivem na servidão da alma acorrentada às paixões; os
segundos, na servidão da inteligência limitada ao mundo físico.

Não acontece o mesmo com o homem religioso, nem com o verdadeiro
filósofo, e menos ainda com o teósofo iniciado, que realiza a verdade na
trindade de seu ser e na unidade de sua vontade. Para compreender a
origem do bem e do mal, o iniciado contempla os três mundos com os
olhos do espírito. Vê o mundo tenebroso da matéria e da animalidade,
onde domina o inelutável Destino. Vê o mundo luminoso do Espírito,
que para nós é o mundo invisível, a imensa hierarquia das almas
libertadas, onde reina a lei divina, e que são a Providência em ato. Entre
os dois, ele vê numa penumbra a humanidade, que mergulha, pela base,
no mundo natural e que toca, por seus pináculos, o mundo divino. Ela
tem por gênio: A Liberdade. Porque, no momento em que o homem
percebe a verdade e o erro, está livre para escolher: juntar-se à
Providência, cumprindo a verdade, ou tombar sob a lei do destino,
seguindo o erro.(pag.296)

 O ato da vontade unido ao ato intelectual 
é somente um ponto matemático, 
mas desse ponto brota o universo espiritual. 
 
Todo espírito sente parcialmente pelo instinto o que o teósofo compreende
totalmente pelo intelecto: que o Mal é aquilo que faz descer o homem
para a fatalidade da matéria; que o Bem é aquilo que o faz subir à lei
divina do Espírito. Seu verdadeiro destino é subir sempre, cada vez
mais alto e por seu próprio esforço. Para isto, porém, é preciso que ele
seja livre também para descer. O círculo da liberdade amplia-se até o
infinitamente grande, à medida que se sobe; e diminui, até o
infinitamente pequeno, à medida que se desce.

 Quanto mais o homem sobe,
 mais se torna livre, pois penetra
 mais profundamente na luz, e
mais força adquire para o bem. 

Quanto mais desce,
 mais se torna escravo;
 pois cada queda no mal diminui 
sua inteligência do verdadeiro 
e a capacidade do bem.
O Destino reina, portanto, sobre o passado; a Liberdade, sobre o
futuro; e a Providência sobre os dois, ou seja, sobre o presente sempre
existente, que se pode denominar Eternidade (11). 

Da ação combinada do Destino, da Liberdade e da Providência resultam os destinos inumeráveis, infernos e paraísos das almas.

 O mal, estando em desacordo com a lei divina, não é obra de Deus, mas do homem, e só tem uma existência relativa, aparente e transitória. O bem, estando de acordo com a lei divina, existe só real e eternamente. Nem os sacerdotes de Delfos e de Elêusis, nem os filósofos iniciados jamais quiseram
revelar essas profundas idéias ao povo, que poderia compreendê-las
erroneamente e abusar delas. 

Nos Mistérios, representava-se simbolicamente essa doutrina pelo esfacelamento de Dionísio. Porém um véu impenetrável ocultava aos profanos o que se chamava de os sofrimentos de Deus.

As maiores discussões religiosas e filosóficas rolam sobre a
questão da origem do bem e do mal. Acabamos de ver que a doutrina
esotérica possui-lhe a chave em seus arcanos.(pag.297)

Existe outra questão capital, de que depende o problema social e
político; a da desigualdade das condições humanas. O espetáculo do
mal e da dor tem em si alguma coisa de assustador. Pode-se acrescentar
que sua distribuição, aparentemente arbitrária e injusta, é a origem de
todos os ódios, de todas as revoltas, de todas as negações. Ainda aqui, a
doutrina profunda traz em nossas trevas terrestres sua luz soberana de
paz e esperança. 

A diversidade das almas, das condições, dos destinos,
pode-se justificar efetivamente apenas pela pluralidade das existências e
pela doutrina da reencarnação. 
 
Se o homem nasce pela primeira vez nesta vida, como explicar os inúmeros males que parecem cair ao acaso sobre ele? Como admitir que há uma justiça eterna, uma vez que alguns nascem numa condição que arrasta fatalmente à miséria e à humilhação, enquanto que outros nascem afortunados e vivem felizes? 

Mas, se é verdade que vivemos outras vidas antes e que viveremos outras após a morte, se é verdade que através de todas essas existências reina a lei de recorrência e de repercussão – então as diferenças de alma, de condição,
de destino, apenas serão efeitos das vidas anteriores e aplicações
múltiplas dessa lei. 

As diferenças de condição provêm de um emprego desigual da liberdade nas vidas precedentes, e as diferenças intelectuais provêm de que os homens que atravessam a terra em um século pertencem a graus de evolução extremamente diversos. Estes graus se escalonam. desde a semi-animalidade das. pobres raças em regressão até os estados angélicos dos santos e até a realeza divina do gênio.

 Na realidade, 
a terra se assemelha a um navio, 
e nós todos que a habitamos,
a viajantes que vêm de países longínquos 
e se dispersam por etapas em
todos os pontos do horizonte. 
 
A doutrina da reencarnação dá uma razão
de ser, segundo a justiça e a lógica eterna, 
aos males mais assustadores e
às felicidades mais almejadas. 
 
O idiota nos parecerá compreensível se raciocinarmos que seu embrutecimento, do qual tem uma semiconsciência e com a qual sofre, é a punição de um emprego criminoso da inteligência em outra vida. Todas as nuances de sofrimentos físicos ou morais, de felicidade e de infelicidade, em suas inúmeras variedades, aparecerão como eflorescências naturais e sabiamente graduais dos instintos e das ações, das faltas e das virtudes de um longo passado, pois a alma conserva em suas profundezas ocultas tudo o que ela acumula em suas diversas existências. De acordo com a
hora e a influência, as camadas antigas reaparecem e desaparecem. E o
destino, isto é, os espíritos que o dirigem, proporcionam o gênero de
reencarnação, quanto a seu lugar e sua qualidade. Lísis exprime esta
verdade, ocultando-a sob um véu, em seus versos dourados:(pag.298)

Verás que os males que devoram os homens
São o fruto de sua escolha; e que esses infelizes
Procuram longe de si os bens cuja fonte carregam.
 
Longe de enfraquecer o sentimento de fraternidade e de
solidariedade humana, essa doutrina só pode fortificá-lo. Devemos a
todos ajuda, simpatia e caridade, pois somos todos da mesma raça,
embora em graus diversos. 

Todo o sofrimento é sagrado, 
porque a dor é o cadinho das almas. 

Toda a simpatia é divina, 
porque ela nos faz sentir, como que por um eflúvio magnético,
 a cadeia invisível que liga todos os mundos. 

A virtude da dor é a razão do gênio. 

Sim, sábios e santos,
profetas e divinos criadores
 resplandecem com uma beleza mais comovente
 para aqueles que sabem que também eles resultam 
da evolução universal. 
Esta força que nos espanta, quantas vidas, quantas
vitórias não foram necessárias para conquistá-la? Esta luz inata do
gênio, de quais céus já atravessados ela lhe vem? Não o sabemos. Mas
estas vidas existiram e esses céus existem. Não está, pois, enganada a
consciência dos povos. Os profetas não mentiram quando chamaram os
homens de filhos de Deus, enviados do céu profundo. Porque sua
missão foi requerida pela eterna Verdade, legiões invisíveis os protegem
e o Verbo vivo fala neles!

Há entre os homens uma diversidade que provém da essência primitiva dos indivíduos. Há uma outra, acabamos de dizê-lo, que provém do grau de evolução espiritual que eles atingiram. De acordo  com este último ponto de vista, os homens podem situar-se em quatro classes, que compreendem todas as subdivisões e todas as nuances.(pag.299)

. Na grande maioria dos homens, a vontade age sobretudo no
corpo. Podemos chamá-los de instintivos. São próprios não somente
para os trabalhos corporais, mas ainda para o exercício e o
desenvolvimento de sua inteligência no mundo físico;
conseqüentemente, para o comércio e a indústria;

. No segundo grau do desenvolvimento humano, a vontade e
portanto a consciência, reside na alma, ou seja, na sensibilidade
acionada pela inteligência, que constitui o entendimento. São os
anímicos e os passionais. Segundo seu temperamento, estão preparados
para se tornarem homens de guerra, artistas ou poetas. Na grande
maioria, os homens de letras e os sábios são desta espécie: vivem nas
idéias relativas, modificadas pelas paixões ou limitadas por um
horizonte pequeno, sem se elevarem até à Idéia pura e à Universalidade;

Numa terceira classe de homens, muito mais raros, a vontade
age soberanamente no intelecto puro; desembaraça a inteligência da
tirania das paixões e dos limites da matéria, o que dá a todas as suas
concepções um caráter de universalidade. São os intelectuais. Esses
homens constituem os heróis mártires da pátria, os poetas de primeira
ordem; finalmente, e sobretudo, os verdadeiros filósofos e os sábios,
aqueles que, segundo Pitágoras e Platão, deveriam governar a humanidade. Nesses homens, a paixão não está extinta, porque sem ela nada se faz; ela constitui o fogo e a eletricidade no mundo moral. Neles, porém, as paixões tornam-se servas da inteligência, enquanto que na categoria anterior a inteligência é, na maioria das vezes, serva das paixões;

O mais alto ideal humano é realizado por uma quarta classe de
homens, que, ao império da inteligência sobre a alma e sobre o instinto,
acrescentaram o da vontade sobre todo o seu ser. Pelo domínio e posse
de todas as suas faculdades, eles exercem o grande poder. Realizaram a
unidade na trindade humana. Graças a esta concentração maravilhosa,
que reúne todas as potencialidades da vida, sua vontade, projetando-se
nos outros, adquire uma força quase ilimitada, uma magia radiante e criadora.(pag.300)

Na história, estes homens receberam nomes diversos. São os
homens primordiais, os adeptos, os grandes iniciados, gênios sublimes
que transformam a humanidade. São de tal maneira raros que se pode
contá-los na história. A Providência semeia-os de tempos em tempos,
com longos intervalos, como os astros no céu (12).

É evidente que esta última categoria escapa a toda regra, a toda classificação. Mas uma constituição da sociedade humana que não considere as três primeiras categorias, que não proporcione a cada uma delas sua função normal e os meios necessários para se desenvolver, é somente exterior e não orgânica.

 Numa época primitiva, que remonta provavelmente aos tempos védicos, os brâmanes da Índia fundaram a divisão da sociedade em castas com base no princípio ternário. Mas, com o tempo, essa divisão tão justa e fecunda transformou-se em privilégio sacerdotal e aristocrático. O princípio da vocação e da iniciação deu lugar ao da hereditariedade. As castas fechadas acabaram
por petrificar-se, seguindo-se irremediavelmente a decadência da Índia.

O Egito, que conservou, sob o domínio de todos os faraós, a constituição ternária com as castas móveis e abertas, o princípio da iniciação aplicada ao sacerdócio, o princípio do exame em todas as funções civis e militares, viveu cinco a seis mil anos sem mudar de constituição.

 Quanto à Grécia, seu temperamento instável fê-la passar
rapidamente da aristocracia para a democracia e desta para a tirania. Ela
girou neste círculo vicioso como um doente que passa da febre à letargia
e volta à febre. Talvez tivesse necessidade desta excitação para produzir
sua obra inigualável, a tradução da sabedoria profunda mas obscura do
Oriente 

para uma linguagem clara e universal; 
a criação do Belo pela Arte, 
e a fundação da ciência aberta e racional 
sucedendo à iniciação secreta e intuitiva.
 
Ela deveu ao princípio da iniciação sua organização
religiosa e suas mais altas inspirações. Social e politicamente falando,
pode-se dizer que viveu sempre no provisório e no excessivo. Em sua
qualidade de adepto, Pitágoras tinha compreendido, do cume da iniciação, os princípios eternos que regem a sociedade e prosseguia, no plano de uma grande reforma, segundo essas verdades. Veremos dentro  em pouco como ele e sua escola naufragaram nas tempestades da democracia.(pag.301)

Dos puros pináculos da doutrina, a vida dos mundos se desenrola
de acordo com o ritmo da Eternidade. Esplêndida Epifania! Mas aos
raios mágicos do firmamento desvendado, a terra, a humanidade, a vida
abrem-nos também suas profundezas secretas. É preciso encontrar o
infinitamente grande no infinitamente pequeno, para sentir a presença
de Deus. Isto é o que sentiam os discípulos de Pitágoras, quando o
mestre lhes mostrava, para coroar seu ensinamento, como a eterna
Verdade se manifesta na união do Homem e da Mulher no casamento. 

A beleza dos números sagrados 
que eles tinham ouvido e contemplado no Infinito, 
iam encontrá-la no próprio coração da vida, 
e Deus emergiria para eles do grande mistério
 dos Sexos e do Amor.
A antigüidade compreendera uma verdade essencial, que as idades
seguintes menosprezaram. A mulher, para bem cumprir suas funções de
esposa e de mãe, tem necessidade de uma orientação, de uma iniciação
especial. Daí a iniciação puramente feminina, isto é, inteiramente
reservada às mulheres. Ela existia na Índia, nos tempos védicos, em que
a mulher era sacerdotisa no altar doméstico. No Egito, ela remonta aos
mistérios de Ísis. Orfeu organizou-a na Grécia. Até à extinção do
paganismo, vemo-la florescer nos mistérios dionisíacos, assim como
nos templos de Juno, Diana, Minerva e Ceres.

 Esta iniciação consistia em ritos simbólicos, cerimônias, festas noturnas, e depois em um ensinamento especial, ministrado por sacerdotisas mais velhas ou pelo grande sacerdote, e que tratava das coisas mais íntimas da vida
conjugal. Davam-se conselhos e regras sobre as relações sexuais, as
épocas do ano e do mês favoráveis às concepções felizes. Dava-se a
maior importância à higiene física e moral da mulher durante a
gravidez, para que a obra sagrada, a criação do filho, se cumprisse
segundo as leis divinas. 

Em resumo, 
ensinava-se a ciência da vida
conjugal e a arte da maternidade, 
que se estendia até muito além do nascimento. 
Até a idade de sete anos, os filhos ficavam no gineceu, 
sob a direção exclusiva da mãe, e onde o marido não penetrava.
 A sábia antigüidade considerava a criança uma planta delicada, que tem necessidade, para não se atrofiar, da quente atmosfera maternal. O pai a deformaria; eram necessários os beijos e carícias da mãe para desabrochar. Era necessário o amor forte, envolvente da mulher, que defendesse dos perigos externos esta alma que a vida assustava. Por cumprir em plena consciência estas altas funções, consideradas divinas pela Antigüidade, que a mulher era verdadeiramente a sacerdotisa da família, a guardiã do fogo sagrado da vida, a Vesta do lar. A iniciação feminina pode, portanto, ser considerada a verdadeira razão da beleza da raça, da força das gerações, da duração das famílias na Antigüidade greco-romana (13).(pag.302)

Estabelecendo uma ala para as mulheres em seu Instituto,
Pitágoras não fez mais que purificar e aprofundar o que já existia antes
dele. As mulheres iniciadas por ele recebiam, com os ritos e os
preceitos, os princípios supremos de sua função. Ele dava assim,
àquelas que eram dignas disso, a consciência de seu papel. Revelavalhes
a transfiguração do amor no casamento perfeito, que é a penetração
de duas almas no próprio centro da vida e da verdade. O homem, em
sua força, não é o representante do princípio e do espírito criador? 

A mulher, em todo o seu poder, não personifica a natureza na sua força
plástica, em suas realizações maravilhosas, terrestres e divinas? Pois
bem, quando esses dois seres chegarem a se penetrar completamente,
corpo, alma, espírito, eles formarão juntos um resumo do Universo. Mas
para crer em Deus a mulher tem necessidade de vê-lo viver no homem;
e para isto é preciso que o homem seja iniciado. Só ele é capaz, por sua
inteligência profunda da vida, por sua vontade criadora, de fecundar a
alma feminina, de transformá-la pelo ideal divino. E este ideal, a mulher
amada devolve-lhe multiplicado em seus pensamentos vibrantes, em
suas sensações sutis, em suas profundas adivinhações. Ela envia-lhe sua
imagem transfigurada pelo entusiasmo, torna-se seu ideal, pois o
realiza pelo poder de seu amor em sua própria alma. Por meio dela, ele
se torna vivo e visível, faz-se carne e sangue. Se o homem cria pelo desejo e pela vontade, a mulher, física e espiritualmente, gera por amor.

Em
seu papel 
de amante, esposa,
 mãe ou inspirada, ela não é menor,
 e é mais divina ainda, do que o homem. 
Pois amar é esquecer. A mulher que se esquece 
e que se entrega em seu amor é sempre sublime. 
Ela encontra nesse aniquilamento seu renascimento celeste,
 sua coroa de luz e irradiação imortal de seu ser.(pag.303)

O amor reina 
como senhor na literatura moderna, há dois séculos.
 
Não é o amor puramente sensual que se ilumina à beleza do corpo,
como nos poetas antigos. Não é o culto insípido de um ideal abstrato e
convencional, como na Idade Média. Não! É o amor ao mesmo tempo
sensual e psíquico que, deixado em total liberdade e em plena fantasia
individual, avança. Mais freqüentemente os dois sexos se guerreiam no
amor. Revoltas da mulher contra o egoísmo e a brutalidade do homem;
desprezo do homem pela falsidade e a vaidade da mulher; gritos da
carne, cóleras impotentes das vítimas da volúpia, dos escravos do
deboche. No meio disto, paixões profundas, atrações terríveis, tanto
mais poderosas quanto mais são entravadas pelas convenções mundanas
e instituições sociais. Daí aqueles amores plenos de tormenta, de
destruições morais, de catástrofes trágicas, sobre os quais se
desenrolam, quase que exclusivamente, o romance e o drama modernos.

Dir-se-ia que o homem, cansado, não encontrando Deus nem na ciência
nem na religião, procura-o perdidamente na mulher. E faz muito bem.
Entretanto, é só através da iniciação das grandes verdades que Ele o
encontra n’Ela e Ela n’Ele. Entre estas almas que se ignoram
reciprocamente e que se ignoram a si mesmas, que às vezes se deixam,
amaldiçoando-se, existe uma sede imensa de se penetrarem e de
encontrar nesta fusão a felicidade impossível. 

Apesar das aberrações e dos excessos que disso resultam, essa procura desesperada é necessária. Ela sai de um divino inconsciente e será um ponto vital para a reedificação do futuro. Porque quando o homem e a mulher se
encontrarem a si mesmos e um ao outro pelo amor profundo e pela
iniciação, sua fusão será a força radiante e criadora por excelência.

O amor psíquico, o amor-paixão da alma somente há pouco tempo
entrou na literatura e, por esta, na consciência universal. Mas tem sua
fonte na iniciação antiga. Se a literatura grega mal o deixa transparecer,
era por ser uma exceção raríssima. Isso também decorre do segredo
profundo dos mistérios. Todavia, a tradição religiosa e filosófica (pag.304)
conservou os traços da mulher iniciada. Por trás da poesia e da filosofia
oficiais, algumas figuras de mulheres aparecem meio veladas, mas
luminosas. Já conhecemos a pitonisa Teocléia, que inspirou Pitágoras.

Mais tarde virá a sacerdotisa Corina, rival muitas vezes feliz de Píndaro,
o qual foi o mais iniciado dos líricos gregos. Finalmente, a misteriosa
Diotima aparece no banquete de Platão, para fazer a suprema revelação
sobre o Amor. Ao lado dessas missões excepcionais, a mulher grega
exerceu seu verdadeiro sacerdócio no lar e no gineceu. Sua criação
própria foram justamente os heróis, os artistas, os poetas, dos quais
admiramos os cantos, os mármores e as ações sublimes. Foi ela que os
concebeu no mistério do amor, que os moldou em seu seio com o desejo
da beleza, que os fez desabrochar sob a proteção materna.

Acrescentemos que para a mulher e o homem verdadeiramente
iniciados, a criação do filho tem um sentido infinitamente mais belo, um
alcance maior do que para nós. Quando o pai e a mãe sabem que a alma
da criança preexiste a seu nascimento terrestre, a concepção torna-se um
ato sagrado, o apelo de uma alma à encarnação.

Entre a alma encarnada e a mãe, existe quase sempre um profundo
grau de semelhança. Assim como as mulheres más e perversas atraem
os espíritos demoníacos, assim também as mães ternas atraem os
espíritos divinos. Esta alma invisível que se espera, que está para vir e
que vem tão misteriosamente e tão seguramente, não será ela algo
divino? Seu nascimento, seu aprisionamento na carne será doloroso;
pois se entre ela e seu céu abandonado um véu grosseiro se interpõe, e
se ela deixa de lembrar, ah! ela não poderia sofrer menos! Por isso,
santa e divina é a tarefa da mãe, que deve criar para ela uma nova
morada, dulcificar-lhe a prisão e facilitar-lhe a prova. 

Assim, 
o ensinamento de Pitágoras,
 que começara nas profundezas do Absoluto pela trindade divina, 
terminava no centro da vida pela trindade humana.
No Pai, na Mãe e no Filho o iniciado sabia reconhecer agora o Espírito,
a Alma e o Coração do Universo vivo. Esta última iniciação constituía
para ele o fundamento da obra social concebida à altura e em toda a
beleza do ideal, edifício para o qual cada iniciado devia trazer sua
pedra.(pag.305)

(1). Orígenes acredita que Pitágoras tenha sido o inventor da
fisiognomonia.
(2). Katharsis em grego.
(3). Na matemática transcendental, demonstra-se algebricamente que
zero multiplicado pelo infinito é igual a Um. Zero, na ordem das idéias
absolutas, significa o Ser indeterminado. O Infinito, o Eterno, na linguagem
dos templos, marcava-se por um círculo ou por uma serpente a morder a
cauda. Isto significava o Infinito movendo-se por si mesmo. Ora, no momento
em que Infinito se determina, ele produz todos os números que contém em sua grande unidade e que governa numa harmonia perfeita.

Este é o sentido transcendente do primeiro problema da teogonia
pitagórica, a razão pela qual a grande Mônada contém todas as pequenas e
todos os números brotam da grande unidade em movimento.
(4). Encontra-se doutrina idêntica no iniciado São Paulo, que fala do
corpo espiritual.
(5). Como primeiro dessa série deve-se citar Fabre d'Olivet (Vers dorés
de Pythagore). Esta concepção viva das forças do Universo, atravessando-o
de alto a baixo, nada tem a ver com as especulações vazias dos puros
metafísicos, como, por exemplo, a tese, a antítese e a síntese de Hegel,
simples jogos do espírito.
(6). Em grego: Teleiótés.
(7). Certas definições estranhas, sob forma de metáfora, que nos foram
transmitidas que provêm do ensinamento secreto do mestre, deixam entrever,
em seu sentido oculto, a concepção grandiosa que Pitágoras tinha do Cosmo.
Falando das constelações, ele chamava a grande e a pequena Ursa de: as mãos de Réa-Cibele. Ora, Réa-Cibele significa esotericamente a luz astral que rola, a divina esposa do fogo universal ou do Espírito criador que, concentrando-se nos sistemas solares, atrai as essências imateriais dos seres, apodera-se delas e faz com que entrem no turbilhão das vidas. – Ele chamava também os planetas de os cães de Proserpina. Esta expressão singular só tem sentido esotericamente. Proserpina, a deusa das almas, presidia sua encarnação na (Pag.306) matéria. Pitágoras chamava os planetas de cães de Proserpina porque eles guardam as almas encarnadas como o Cérbero mitológico guarda as almas no inferno.

(8). A lei chamada Karma, dos brâmanes e budistas.
(9). Epifania ou visão do alto; autópsia ou visão direta; teofania ou
manifestação de Deus, são idéias correlatas e expressões diversas para marcar o estado de perfeição no qual o iniciado, tendo unido sua alma a Deus,
contempla a verdade total.
(10). Citaremos dois fatos célebres deste gênero, absolutamente
autênticos. O primeiro passa-se na Antigüidade e seu herói é o ilustre filósofomágico Apolônio de Tiana.

1º fato – Segunda visão de Apolônio de Tiana – “Enquanto esses
acontecimentos (o assassinato do imperador Domiciano) passavam-se em
Roma, Apolônio os via em Éfeso. Domiciano foi atacado por Clemente, ao
meio-dia. No mesmo dia, no mesmo momento, Apolônio discursava nos
jardins junto ao Xisto. De repente ele abaixou um pouco a voz, como se
tivesse sido tomado de um pavor súbito. Continuou o discurso, mas sua
linguagem não tinha a força de sempre, como acontece com alguém que fala
pensando em outra coisa. Depois calou-se como se tivesse perdido o fio do
discurso, olhou assustado para o chão, deu três ou quatro passos para frente e gritou: “Abate o tirano!” Dir-se-ia que ele via não a imagem do fato em um
espelho, mas o fato em si mesmo, com toda a sua realidade. Os efesianos
(Éfeso inteira assistia ao discurso de Apolônio) ficaram muito espantados.

Apolônio deteve-se, como se procurasse ver o resultado de um acontecimento
duvidoso. Finalmente, exclamou: “Coragem, cidadãos de Éfeso, o tirano foi
morto hoje. Eu disse hoje? Por Minerva! Ele foi morto no mesmo instante em
que me interrompi.” Os habitantes de Éfeso julgaram que Apolônio tivesse
perdido a razão. Desejavam ardentemente que tivesse dito a verdade, mas
temiam que algum perigo lhes resultasse desse discurso. . . porém logo os
mensageiros vieram anunciar-lhes a boa nova e testemunhar em favor do
conhecimento de Apolônio. O assassinato do tirano, o dia e a hora em que foi
perpetrado, o autor, todos estes detalhes estavam perfeitamente de acordo com (pag.307) aqueles que os deuses lhes haviam mostrado no dia de seu discurso aos efesianos.” – Vida de Apolônio por Filostrato, traduzida por Chassang.


2º fato – Segunda visão de Swedenborg. – O segundo fato relaciona-se
com o maior vidente dos tempos modernos. Pode-se discutir a realidade
objetiva das visões de Swedenborg, mas não se pode duvidar de sua segunda
visão, atestada por inúmeros fatos. A visão que Swedenborg teve, a trinta
léguas de distância, do incêndio de Estocolmo, teve grande repercussão na
segunda metade do século XVIII. 

O célebre filósofo alemão, Kant, mandou fazer uma investigação em Gothenburgo, na Suécia, cidade onde ocorreu o fato, e eis o que ele escreveu a uma de suas amigas: “O fato que segue pareceme ter a maior força demonstrativa e pôr fim a toda espécie de dúvida. Foi no ano de 1759. M. de Swedenborg, lá pelo fim do mês de setembro, num sábado, às quatro horas da tarde, voltando da Inglaterra, tomou a direção de Gothenburgo. M. William Castel convidou-o para sua casa, com um grupo de quinze pessoas. À tarde, às seis horas, M. de Swedenborg, que saíra, voltou ao salão, pálido e consternado, dizendo que naquele mesmo instante tinha grassado um incêndio em Estocolmo em Sudermaln e que o fogo se espalhava com violência na direção de sua casa... Disse que a casa de um dos amigos, cujo nome citou, já estava reduzida a cinzas, e que a sua própria estava em perigo. Às oito horas, depois de uma nova saída, disse com alegria: “Graças a Deus, o incêndio foi extinto na terceira casa antes da minha.” Nessa mesma noite, informaram disso o governador. No domingo pela manhã, Swedenborg foi chamado por este funcionário, que o interrogou a respeito. Swedenborg descreveu exatamente o incêndio, o começo, a duração e o fim. No mesmo
dia, a novidade se espalhou por toda a cidade, que muito se comoveu, tanto
mais porque o governador se ocupara do assunto e muitas pessoas se
preocupavam com bens e amigos. Na tarde de segunda-feira chegou a
Gothenburgo um estafeta que o comércio de Estocolmo havia despachado
durante o incêndio. 

Nessas cartas, o incêndio era descrito exatamente da
maneira como fora contado. O que se pode alegar contra a autenticidade deste acontecimento? O amigo que me escreveu examinou tudo isto, não somente em Estocolmo mas por cerca de dois meses em Gothenburgo, mesmo. Ele conhecia ali as famílias mais importantes e pôde se informar completamente na própria cidade, na qual vive ainda a maioria das testemunhas oculares, devido ao pouco tempo decorrido (9 anos), desde 1859.” – Carta à senhorita Charlotte de Knobloch, citada por Matter. Vie de Swedenborg.(pag.308)

(11). Esta idéia ressalta logicamente do ternário humano e divino, da
trindade do microcosmo e do macrocosmo, que expusemos nos capítulos
precedentes. A correlação metafísica do Destino, da Liberdade e da
Providência foi admiravelmente deduzida por Fabre d'Olivet, em seu
comentário aos Vers dorés de Pythagore.
(12). Essa classe de homens corresponde aos quatro graus da iniciação
pitagórica, e constitui a base de todas as iniciações, até a dos franco-maçons
primitivos, que possuíam algumas migalhas da doutrina esotérica. – Ver Fabre
d'Olivet, Les Vers dorés de Pythagore.
(13). Montesquieu e Michelet são quase que os únicos autores a
notarem a virtude das esposas gregas. Nenhum deles mostrou a causa que
indico aqui.(Pag.309)

V
A FAMÍLIA DE PITÁGORAS. A ESCOLA E SEUS DESTINOS
Entre as mulheres que seguiam o ensinamento do mestre, havia
uma jovem de grande beleza. Seu pai, natural de Crotona, chamava-se
Brontinos; ela, Teano. Pitágoras aproximava-se então dos sessenta anos.
Mas o grande domínio sobre as paixões e uma vida pura, consagrada
inteiramente à sua missão, haviam conservado intacta sua força viril. A
juventude da alma, aquela chama imortal que o grande iniciado haure
em sua vida espiritual e alimenta mediante as forças ocultas da natureza,
brilhava nele e subjugava a todos os que o cercavam. 

O mago grego não estava no declínio, mas no apogeu de sua potência. Teano foi atraída para Pitágoras pela irradiação quase sobrenatural que emanava de sua pessoa. Grave, reservada, ela procurara junto ao mestre a explicação dos
mistérios, que amava sem compreender. Mas, quando à luz da verdade,
ao doce calor que a envolvia pouco a pouco, ela sentiu sua alma
desabrochar do fundo de si mesma como a rosa mística de mil pétalas,
quando ela sentiu que essa eclosão vinha dele e de sua palavra,
apaixonou-se silenciosamente pelo mestre, com um entusiasmo sem
limites e com um amor ardente.

Pitágoras não tinha procurado atraí-la. Sua afeição pertencia a
todos os discípulos. Sonhava apenas com sua escola, com a Grécia e
com o futuro do mundo. Como muitos dos grandes adeptos, tinha
renunciado à mulher para entregar-se todo à sua obra. A magia de sua
vontade, a posse espiritual de tantas almas que ele formara e que a ele
permaneciam ligadas como a um pai adorado, o incenso místico de
todos esses amores inexprimidos que subiam até ele, e esse perfume
delicado de simpatia humana que unia os irmãos pitagóricos – tudo isto
substituía para ele a volúpia, a felicidade, o amor.

Um dia, meditava sozinho sobre o futuro de sua Escola, na cripta
de Proserpina. Viu então aproximar-se séria e resoluta, a bela virgem,
com quem jamais falara em particular. Ela ajoelhou-se diante dele e
abaixou a cabeça,suplicando ao mestre –a ele que tudo podia –que a
livrasse de um amor impossível e infeliz, que consumia seu corpo e
devorava sua alma. Pitágoras quis saber o nome daquele a quem ela
amava. Após longas hesitações, Teano confessou que era ele, mas que,
preparada para tudo, se submeteria à sua vontade. Pitágoras nada
respondeu. Encorajada por esse silêncio, ela ergueu a cabeça e lançoulhe
um olhar suplicante, de onde escapavam a seiva de uma vida e o
perfume de uma alma ofertada em holocausto ao mestre.(pag.310)

O sábio ficou abalado. Seus sentidos, ele sabia vencer, sua
imaginação, ele lançara por terra. Mas, o clarão daquela alma penetrara
a sua. Naquela virgem amadurecida pela paixão, transfigurada pelo
pensamento de um devotamento absoluto, ele tinha encontrado sua
companheira e entrevisto uma realização mais completa de sua obra.
Pitágoras fez a jovem levantar-se com um gesto comovido, e Teano
pôde ver nos olhos do mestre que seus destinos estavam para sempre
unidos.

Por seu casamento com Teano, Pitágoras apôs o selo da
realização à sua obra. A associação, a fusão das duas vidas foi
completa. Um dia perguntaram à esposa do mestre quanto tempo é
necessário a uma mulher para tornar-se pura após ter tido contato com
um homem. Ela respondeu: “Se for com seu marido, ela já está na
mesma hora; se for com um outro, não ficará jamais”. Muitas mulheres
argumentarão, sorrindo, que para dizer estas palavras é preciso ser
mulher de Pitágoras e amá-lo como Teano.

Elas têm razão. 

Não é o casamento 
que santifica o amor. É o amor
que justifica o casamento. 
 
Teano penetrou tão completamente no pensamento de seu marido que, após sua morte, ela tornou-se o centro da ordem pitagórica, e é citada por um autor grego como autorizada na doutrina dos Números. Ela deu a Pitágoras dois filhos: Arimneste e Telauges, e uma filha: Damo. Telauges tornou-se mais tarde o mestre de Empédocles e transmitiu-lhe os segredos da doutrina.

A família de Pitágoras foi para a ordem um verdadeiro modelo.
Chamaram sua casa de o templo de Ceres e seu pátio de o templo das
Musas. Nas festas domésticas e religiosas, a mãe dirigia o coro das
mulheres e Damo, o coro das jovens. Damo foi, em todos os pontos,
digna de seus pais. Pitágoras havia-lhe confiado alguns escritos, sob a
proibição expressa de mostrá-los a quem quer que fosse fora da família.

Depois da dispersão dos pitagóricos, Damo ficou em extrema pobreza.
Ofereceram-lhe então uma elevada quantia pelo precioso manuscrito.
Porém, fiel à vontade do pai, ela sempre recusou entregá-lo.
Pitágoras viveu trinta anos em Crotona.(pag.311)

 Em vinte anos este homem admirável adquiriu um poder tal que aqueles que o chamavam de semideus não exageravam. Seu poder era um prodígio. Nenhum outro filósofo obteve algo semelhante. Sua influência não se fazia sentir somente na escola de Crotona e em suas ramificações nas outras cidades das costas italianas, mas também na política de todos esses pequenos estados.
Pitágoras era um reformador
 em toda a acepção da palavra.
 
Crotona, a colônia aqueana, tinha uma constituição aristocrática. O
conselho dos mil, composto das grandes famílias, exercia o poder
Legislativo e supervisionava o poder Executivo. As assembléias
populares existiam, mas com poderes restritos. Pitágoras, que desejava
para o Estado ordem e harmonia, não gostava da opressão oligárquica
nem do caos da demagogia. Aceitando a constituição dórica, ele
procurou simplesmente introduzir nela uma nova organização. A idéia
era ousada: criar, acima do poder político, um poder científico, com voz
deliberativa e consultiva nas questões vitais, tornando-se a chave do
poder, o regulador supremo do Estado. Acima do conselho dos mil, ele
organizou o conselho dos trezentos, escolhidos pelo primeiro mas
recrutados só entre os iniciados. Eram agora em número suficiente para
a tarefa. Porfírio conta que dois mil cidadãos de Crotona renunciaram à
vida habitual e reuniram-se para viver em comunidade, com as mulheres
e os filhos, depois de terem entregue seu patrimônio ao grupo.

Pitágoras queria 
pois à frente do Estado um governo científico
menos misterioso, mas também tão elevado
 quanto o sacerdócio egípcio. 
 
O que ele realizou por um momento passou a ser o sonho de todos os iniciados que se ocuparam de política: introduzir o princípio da iniciação e do exame do governo do Estado, e reconciliar, nesta síntese superior, o princípio eletivo ou democrático com um governo constituído pela seleção dos inteligentes e virtuosos.(pag.312)

O conselho dos trezentos formou, então, uma espécie de ordem política, científica e religiosa, da qual Pitágoras era o chefe reconhecido. O indivíduo
alistava-se nele mediante um juramento solene e terrível de sigilo
absoluto, como se fazia nos Mistérios. Essas sociedades ou hetairias
estenderam-se de Crotona, onde se achava a sociedade-mãe, até quase
todas as cidades da Magna-Grécia, exercendo uma poderosa ação
política. A ordem pitágorica tendia também a tornar-se a cabeça do
Estado em toda a Itália meridional. Tinha ramificações em Tarento,
Heracléia, Metaponto, Regium, Himero, Catânia, Agrigento, Síbaris e,
segundo Aristóxene, até entre os etruscos. 

Quanto à influência de Pitágoras no governo destas grandes e ricas cidades, não se poderia imaginar nada de mais elevado, liberal e pacífico. Em toda a parte onde aparecia, ele restabelecia a ordem, a justiça, a concórdia. Chamado para junto de um tirano da Sicília, conseguiu, com sua eloqüência, que ele se decidisse a renunciar às riquezas mal adquiridas e abdicasse do poder usurpado. Quanto às cidades, ele as tornava livres e independentes,
depois de terem estado subjugadas umas às outras. Tão benéfica era sua
ação que, quando ele chegava nas cidades, diziam:

 “Não é para ensinar, mas para curar”.
A influência soberana de um grande espírito e de um grande
caráter, essa magia de alma e de inteligência excita invejas tanto mais
terríveis, ódios tanto mais violentos, quanto mais ela for inatacável. O
império de Pitágoras durava já um quarto de século. E o adepto
infatigável atingia a idade dos noventa anos, quando veio a reação. A
fagulha partiu de Síbaris, a rival de Crotona. Houve lá um levante
popular e o partido aristocrático foi vencido. Quinhentos exilados
pediram asilo em Crotona mas os sibaritas exigiram sua extradição.

Temendo a cólera de uma cidade inimiga, os magistrados de Crotona
iam atender àquela exigência, quando Pitágoras interveio. A suas
instâncias, recusaram a entregar aqueles infelizes suplicantes aos
adversários implacáveis. Diante desta recusa, Síbaris declarou guerra a
Crotona. Mas a armada de Crotona, comandada por um discípulo de
Pitágoras, o célebre atleta Mílon, derrotou completamente os sibaritas.

Seguiu-se o desastre de Síbaris, A cidade foi tomada, saqueada,
completamente destruída e transformada em deserto. (pag.313)


É impossível admitir que Pitágoras aprovasse semelhantes
represálias. Elas violentam seus princípios e de todos os iniciados.
Contudo, nem ele nem Mílon puderam refrear as paixões desencadeadas
de um exército vitorioso, atiçadas por antigas invejas e superexcitadas
por um ataque injusto.

Toda vingança, seja de indivíduos, seja de povos, provoca um choque em resposta às paixões desencadeadas. A Nêmesis desta foi terrível. As conseqüências recaíram sobre Pitágoras, e toda a sua ordem.
Após a tomada de Síbaris, o povo pediu a divisão das terras. Não contente de tê-la obtido, o partido democrático propôs na constituição uma mudança que retirava do Conselho dos Mil seus privilégios e suprimia o Conselho dos Trezentos, só admitindo uma única autoridade: o sufrágio universal. 

Naturalmente os pitagóricos que faziam parte do Conselho dos Mil opuseram-se a uma reforma contrária a seus princípios e que solapava pela base a paciente obra do mestre. Os pitagóricos já eram objeto daquele ódio surdo que o mistério e a superioridade sempre excitam na multidão. Sua atitude política sublevou contra eles os furores da demagogia, e um ódio pessoal contra o mestre causou a explosão.

Um certo Cílon tinha-se candidatado outrora à Escola. Pitágoras, bastante severo na admissão dos discípulos, recusou-o por causa de seu caráter violento e voluntarioso. O candidato recusado tornou-se um adversário rancoroso. Quando a opinião pública começou a voltar-se contra Pitágoras, aquele organizou um grupo de oposição aos pitagóricos, uma grande sociedade popular. Conseguiu atrair os principais líderes do povo e preparou nas assembléias uma revolução que começaria pela expulsão dos pitagóricos. Perante uma multidão agitada, Cílon sobe à tribuna popular e lê trechos extraídos do livro secreto de Pitágoras, intitulado: A Palavra Sagrada (hiéros logos). Os textos foram desfigurados e deturpados. Alguns oradores tentam
defender os irmãos do silêncio, que respeitam até os animais.(Pag.314)

Respondem-lhes com gargalhadas. Cílon sobe e torna a subir à tribuna,
procurando demonstrar que o catecismo religioso dos pitagóricos atenta
contra a liberdade.

“Dizer isto é pouco, acrescenta o tribuno. Quem é esse mestre,
esse pretenso semideus, ao qual se obedece cegamente e basta que dê
uma ordem para que todos os seus irmãos gritem: ‘O mestre disse!’ Não
é ele o tirano de Crotona e o pior dos tiranos, um tirano oculto? 

De que é feita esta amizade indissolúvel que une todos os membros das
hetairias pitagóricas, senão de desdém e de desprezo pelo povo? Eles
repetem sempre as palavras de Homero, ou seja, que o príncipe deve ser
o pastor de seu povo. Para eles, então, o povo não passa de um vil rebanho. Sim, a própria existência da ordem é uma conspiração permanente contra os direitos populares. Enquanto ela não for destruída, não haverá liberdade em Crotona!”

Um dos membros da assembléia popular, animado por um sentimento de lealdade, gritou: “Que se permita, pelo menos, a Pitágoras e aos pitagóricos que se justifiquem perante nossa tribuna, antes de condená-los”. Mas Cílon respondeu com altivez: “Esses pitagóricos não vos roubaram o direito de julgar e decidir os negócios públicos? Com que direito eles solicitariam hoje serem ouvidos? Eles não vos consultaram quando vos despojaram do direito de exercer a justiça! Pois bem, chegou a vossa vez de atingi-los sem ouvi-los!”
Retumbaram aplausos em resposta a estas saídas veementes; os espíritos
se exaltavam cada vez mais.

Uma tarde, quando os quarenta principais membros da ordem estavam reunidos na casa de Mílon, o tribuno sublevou seus bandos. Cercaram a casa. Os pitagóricos, e o mestre entre eles, barricaram as portas. A multidão furiosa ateou fogo ao edifício. Trinta e oito pitagóricos, os primeiros discípulos do mestre, a nata da ordem, e o próprio Pitágoras pereceram; alguns nas chamas do incêndio, outros mortos pelo povo. Arquipo e Lísis foram os únicos que escaparam ao massacre (1)
Assim morreu aquele grande sábio, aquele homem divino, que tentara aplicar sua sabedoria ao governo dos homens. O assassinato dos pitagóricos foi o sinal para uma revolução democrática em Crotona e no golfo de Tarento.(pag.315

As cidades da Itália expulsaram os infelizes discípulos do mestre. A ordem foi dispersa, mas seus remanescentes espalharam-se pela Sicília e pela Grécia, semeando por toda parte a palavra do mestre. Lísis tornou-se o mestre de Epaminondas. Depois de novas revoluções, os pitagóricos puderam voltar à Itália, sob a condição de não mais constituírem um corpo político. Uma comovente fraternidade nunca deixou de uni-los; consideravam-se uma mesma e única família. Certo dia, um deles, na miséria e doente, foi recolhido por um estalajadeiro.

Antes de morrer, desenhou na porta da casa alguns sinais misteriosos e
disse ao hospedeiro: “Fica tranqüilo. Um de meus irmãos pagará minha
dívida”. Um ano depois, passando pelo mesmo albergue, um estrangeiro
viu os sinais e disse ao hospedeiro: “Eu sou pitagórico. Um de meus
irmãos morreu aqui. Dize-me o quanto devo por ele”. A ordem
sobreviveu durante duzentos e cinqüenta anos. Quanto às idéias, às
tradições do mestre, elas vivem até nossos dias.

A influência regeneradora de Pitágoras sobre a Grécia foi imensa,
exercendo-se misteriosa mas seguramente, em todos os templos por
onde ele passara. Vimo-lo em Delfos dar nova força à ciência
divinatória, reafirmar a autoridade dos sacerdotes e formar uma
pitonisa-modelo. Graças a essa reforma interior que despertou o
entusiasmo no próprio coração dos santuários e na alma dos iniciados,
Delfos tornou-se mais do que nunca o centro moral da Grécia. Isso se
comprovou durante as guerras médicas.

Trinta anos apenas tinham decorrido desde a morte de Pitágoras
quando o ciclone da Ásia, predito pelo sábio de Samos, veio estourar
sobre as costas da Hélade. Nessa luta épica da Europa contra a Ásia
bárbara, a Grécia, que representa a liberdade e a civilização, tem à sua
retaguarda a ciência e o gênio de Apolo. É ele que, com seu sopro
patriótico e religioso, agita e faz calar a rivalidade nascente entre
Esparta e Atenas. É ele que inspira os Milcíades e os Temístocles. Em
Maratona, o entusiasmo é tal que os atenienses acreditam ver dois
guerreiros, claros como a luz, combater em suas fileiras. Uns
reconheceram neles Teseu e Equetos; outros, Castor e Pólux. (pag.316)

Quando a invasão de Xerxes, dez vezes mais formidável do que a de Dario,
avança pelas Termópilas e submerge a Hélade, é a Pítia que, do alto de
seu tripé, indica a salvação para os enviados de Atenas e ajuda
Temístocles a vencer a batalha de Salamina. As páginas de Heródoto
tremem com sua palavra ofegante:

 “Abandonai as residências e as altas
colinas da cidade construída em círculo..., o fogo e o temível Marte,
montado em um carro sírio, arruinarão vossas torres... os templos
vacilam, de seus muros goteja um frio suor, de seu topo corre um
sangue negro... Devereis sair de meu santuário. Um bosque vos servirá
de muralha e de inexpugnável proteção. Fugi! Voltai as costas aos
infantes e aos cavaleiros inumeráveis! Oh! divina Salamina! Serás
funesta aos filhos da mulher!” (2)

No texto de Ésquilo, a batalha começa por um grito que se
assemelha ao peã, o hino de Apoio:

 “Logo o dia, com os corcéis brancos,
 espalhou sobre o mundo sua resplandecente luz.
 Nesse instante, um clamor imenso,
 modulado como um cântico sagrado, 
elevase nas fileiras dos gregos.
 Os ecos da ilha respondem 
com mil vozes vibrantes”. 
 
É de se admirar, portanto, que, inebriados pelo vinho da vitória, os helenos, na batalha de Micália, em face da Ásia vencida, tenham escolhido como brado de reunir as palavras: Hebe, a Eterna Juventude? Sim, o sopro de Apoio atravessa essas extraordinárias guerras dos medas. 

O entusiasmo religioso,
 que produz milagres domina
os vivos e os mortos, ilumina os troféus
 e doura os túmulos. 
 
Todos os templos foram saqueados, mas o de Delfos ficou de pé. A armada persa aproximava-se para espoliar a cidade santa. Todos tremiam. Porém o
Deus solar disse pela voz do pontífice:

 “Eu mesmo me defenderei!”
Por ordem do templo, a cidade é evacuada. Os habitantes se
refugiam nas grutas do Parnaso e só os sacerdotes permanecem à
entrada do santuário, com a guarda sagrada. A armada persa entra na
cidade silenciosa como um túmulo. Somente as estátuas olham-na
passar. Uma nuvem negra acumula-se no fundo do precipício. O trovão
ribomba e o raio cai sobre os invasores. Duas enormes rochas rolam do
cume do Parnaso e esmagam grande número de persas. Ao mesmo
tempo, clamores eclodem do templo de Minerva, chamas brotam do
solo sob os passos dos assaltantes. Diante destes prodígios, os bárbaros
apavorados recuam. Sua armada foge enlouquecida. O próprio Deus se
defendera (3).
Teriam estas maravilhas ocorrido, estas vitórias que a humanidade
conta como suas, teriam elas ocorrido se trinta anos antes Pitágoras não
tivesse surgido no santuário délfico para ali reacender o fogo sagrado? É
pouco provável. (pag.317)

Uma palavra ainda 
a respeito da influência do mestre 
sobre a filosofia.
 
 Antes dele, houve físicos de um lado, moralistas de outro.
Pitágoras fez entrar a moral, a ciência e a religião em sua vasta síntese.
Esta síntese não é senão a doutrina esotérica, cuja plena luz procuramos
encontrar no fundo da iniciação pitagórica. O filósofo de Crotona não
foi o inventor, mas o organizador luminoso destas verdades primordiais
na ordem científica. Portanto, escolhemos seu sistema como o quadro
mais favorável para uma exposição completa da doutrina dos Mistérios
e de verdadeira teosofia.

Aqueles que seguiram o mestre conosco terão compreendido que,
no fundo dessa doutrina, brilha o sol da Verdade-Una. Encontram-se
seus raios espalhados nas filosofias e nas religiões, mas o centro está lá.

O que será preciso para alcançá-lo? A observação e o raciocínio não são
suficientes. Necessita-se ainda, e acima de tudo, da intuição. Pitágoras
foi um adepto, um iniciado de primeira ordem. Possuiu a visão direta do
espírito, a chave das ciências ocultas e do mundo espiritual. Ele foi buscar, pois, na fonte primeira da Verdade. E como a essas faculdades transcendentes da alma intelectual e espiritualizada ele acrescentava a observação minuciosa da natureza física e a classificação magistral das idéias por sua elevada razão, ninguém melhor do que ele estava preparado para construir o edifício da ciência do Cosmo.

Na verdade,
 este edifício jamais foi destruído.
 Platão, que tomou a Pitágoras toda sua metafísica, teve dele uma idéia global, embora a tivesse exposto com menos rigor e nitidez. A escola alexandrina ocupou-lhe os pavimentos superiores. 

A ciência moderna tomou-lhe o rés-do-chão e consolidou-lhe os fundamentos. Numerosas escolas filosóficas, seitas místicas ou religiosas habitaram diversos de seus compartimentos. Mas nenhuma filosofia jamais abrangeu o seu conjunto. É este conjunto que nos propusemos reencontrar aqui, em sua
harmonia e unidade.(pag.318)

(1). Esta é a versão de Diógenes de Laércio sobre a morte de Pitágoras.
Segundo Dicearco, citado por Porfírio, o mestre teria escapado ao massacre
com Arquipo e Lísis. Mas teria caminhado de cidade em cidade, até
Metaponto, onde se deixou morrer de fome no templo das Musas. Os
habitantes de Metaponto pretendiam, ao contrário, que o sábio, acolhido por
eles, tinha morrido pacificamente em sua cidade. Mostraram a Cícero sua
casa, sua cadeira e seu túmulo. É de se notar que, muito tempo depois da
morte do mestre, as cidades que mais perseguiram Pitágoras, por ocasião da
reviravolta democrática, reclamaram a honra de tê-lo abrigado e salvado. As
cidades do golfo de Tarento disputavam as cinzas do filósofo com a mesma
obstinação com que as cidades da Jônia disputavam a honra de serem a cidade natal de Homero. Estes fatos são discutidos no minucioso livro de M.
Chaignet: Pythagore et Ia philosophie pythagoricienne.

(2). Na linguagem dos templos, o termo filhos da mulher designava o
grau inferior da iniciação. A mulher significava a natureza. Acima havia os
filhos do homem ou iniciados no Espírito e na Alma, os filhos dos Deuses ou
iniciados nas ciências cosmogônicas e os filhos de Deus ou iniciados da
ciência suprema. A Pítia chama os persas de filhos da mulher, designando-os
pelo caráter de sua religião. Tomadas ao pé da letra suas palavras não teriam
sentido.

(3). “Vê-se ainda no recinto de Minerva”, diz Heródoto, VIII, 39. – A
invasão gaulesa, que teve lugar 200 anos mais tarde, foi repelida de maneira
análoga. Lá também forma-se uma tempestade, o raio cai várias vezes sobre
os gauleses, o solo treme sob seus pés. Eles vêem aparições sobrenaturais. 

E o templo de Apolo fica incólume. Estes fatos parecem provar que os sacerdotes de Delfos possuíam a ciência do fogo cósmico e sabiam utilizar a eletricidade por meio de poderes ocultos, como os magos caldeus. – Vide Amédée Thierry, Histoire des Gaulois, I, 246.

 
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Pablo Picasso
Li-Sol-30
Fonte:
 De: Joao Carlos Holland de Barcellos <jocaxx@gmail.com>
Para: Genismo@yahoogroups.com
Enviadas: Terça-feira, 24 de Julho de 2012 21:46
Assunto: [Genismo] um universo inteiro, do nada

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