sábado, 6 de julho de 2013

6 DE JULHO DE 1415 -REFORMADOR JAN HUS MORTO NA FOGUEIRA



Arquivos Secretos da Inquisição- 50m
Era Medieval e a Morte na Fogueira - 7m
 História das religiões no Mundo 48m
Origem do Catolicismo - 47m
 
O Mito da Inquisição Espanhola 
Fundado pelo Papa Gregório IX - O Tribunal do Santo Ofício 59m

1415: Reformador Jan Hus morto na fogueira

Em 6 de julho de 1415, o reformador tcheco Johannes (Jan) Hus foi queimado na fogueira por criticar o poder terreno da Igreja em prol da justiça social. Diante do Concílio de Constança, recusou-se a renegar sua doutrina. 

Jan Hus diante do Concílio de Constança

“Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, dos que são eleitos segundo seus desígnios. Os que de antemão conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho […]. E aos que predestinou, a esses também chamou. E aos que chamou, também justificou. E aos que justificou, a esses também glorificou. O que diremos, pois, a essas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Pregar a glória divina, mencionada no capítulo 8º da Epístola de São Paulo aos Romanos, como sendo predeterminada por Deus, e rechaçar a dedução do poder terreno da Igreja era uma heresia no século 15, podendo ser punida com a morte. O reformador Jan Hus atacava assim a essência do cristianismo medieval.

Ele pregava o ideal da pobreza e condenava o patrimônio terreno dos príncipes da Igreja. Ele defendia a autoridade da consciência e tentava aproximar a Igreja do povo, através das pregações. E isso não era tudo: as suas pregações eram feitas na língua tcheca e não em latim, como determinava a Igreja oficial na época.

Jan Hus só reconhecia a autoridade da Bíblia nas questões da fé, repudiava os tribunais da Inquisição e os juízes terrenos. Um verdadeiro herege, que suscitava a cólera e o ódio das autoridades eclesiásticas.

Insatisfação popular
A doutrina de Jan Hus encontrou solo fértil na Boêmia. Ela se baseava na justiça social e expressava a insatisfação de todos os cidadãos tchecos. Na época, a agitação envolveu todas as camadas sociais.
A maior parte da população estava insatisfeita com a política financeira e de poder das autoridades eclesiásticas: negociantes e mestres artesãos disputavam as riquezas oriundas da mineração de prata, os camponeses queriam libertar-se da servidão feudal e os nobres tentavam assegurar duradouramente os seus privilégios.
As tensões sociais agravavam-se ainda através do rápido aumento de preços, que beneficiava sobretudo os cidadãos ricos, empobrecendo os camponeses e os nobres sem terra.

Conflitos entre alemães e tchecos
E as profundas barreiras sociais entre as populações alemã e tcheca faziam florescer sentimentos nacionalistas. Os ricos alemães eram vistos pelos tchecos como exploradores e concorrentes. Da sua parte, os alemães mostravam-se interessados em manter a situação reinante e, especialmente, em usar o poder da Igreja em proveito próprio.
Por volta de 1400, tanto a recém-fundada Universidade de Praga como a alta hierarquia da Igreja eram inteiramente dominadas pelos alemães.

Com Jan Hus começou a agitação. Quando a disputa entre alemães e tchecos agravou-se, em 1409, os alemães foram postos para fora da Universidade de Praga e Hus foi escolhido como seu reitor. A atividade docente do reformador aumentou ainda mais as tensões com a Igreja e culminou em Praga, três anos mais tarde, com o confronto entre os protestantes tchecos e os católicos alemães.
A fim de manter a situação sob controle, o rei Venceslau baniu o reitor rebelde da universidade. Mas Jan Hus insistiu em que sua doutrina era a correta: continuou pregando a imprescindibilidade da pobreza e da humildade da Igreja.

Propagação da doutrina continuou
As consequências vieram logo. Em 1414, Hus foi convocado a apresentar-se ao Concílio de Constança e a renegar a sua doutrina. O reformador negou-se a cumprir a exigência, reafirmando a crença na sua doutrina. No dia 6 de julho de 1415, Hus foi então executado na fogueira.

Não foi atingido, porém, o propósito da Inquisição de liquidar o movimento protestante de Hus através da morte do seu líder. As revoltas esparsas transformaram-se numa rebelião geral dos protestantes da Boêmia, que durou 20 anos. Só em 1434 é que o movimento pôde ser aniquilado, em decorrência de traições e intrigas nas próprias fileiras.

Inquisição - A Face negra da Igreja - 32m
 Fontes:
 DW.DE - http://www.dw.de/1415-reformador-jan-hus-morto-na-fogueira/
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segunda-feira, 1 de julho de 2013

MESTRE ECKHART


BACH -Paixão Segundo São Mateus -30m


Mestre Eckhart

Portal de Mestre Eckhart, na igreja de Erfurt, Turíngia..
Eckhart de Hochheim, O.P. (Tambach, Turíngia, 1260Colonia, 1328), mais conhecido como Mestre Eckhart, em reconhecimento aos títulos acadêmicos obtidos durante sua estadia na Universidade de Paris, foi um frade dominicano, reconhecido por sua obra como teólogo e filósofo e por seu misticismo. Ele é considerado como um dos grandes símbolos do espírito intelectual da idade média.

Biografia e obra

Mestre Eckhart foi um dos mais fecundos pensadores da filosofia medieval e é considerado um grande expoente do neoplatonismo e do misticismo.
Eckhart era conhecido por seus sermões eloquentes e improvisados, e também pelo uso de paradoxos e linguagem incomum em sua obra, algo que facilmente causava(e ainda causa) erros de interpretação em suas obras e polêmicas. Por conta disso teve sua ortodoxia questionada e no final da vida foi julgado pela inquisição. Ele morreu de causas naturais antes de receber o veredito, e apesar de em sua defesa ter aceito renegar os 28 argumentos seus "suspeitos de heresia" se isso fosse necessário em reconhecimento da autoridade do tribunal, seu status como teólogo ortodoxo é questionado até hoje dentro da Igreja Católica.

O Papa João Paulo II chegou a citar sua obra algumas vezes. O mestre dos Dominicanos, Timothy Radcliffe, chegou a questionar a congregação para a doutrina da fé no final da década de 90 acerca do status canônico de Eckhart. 

Joseph Ratzinger, que na época presidia tal congregação, respondeu que Eckhart deve ser considerado Ortodoxo com base no fato de que ele reconheceu qualquer erro em suas obras, não ter sido condenado, e principalmente pelo fato das acusações contra ele serem baseadas em documentos não mais existentes e que portanto são impossíveis de verificar.

Grande parte das polêmicas acerca de Mestre Eckhart envolviam sua suposta autoria da obra Theologia Germanica, considerada umas das principais influências da reforma protestante. Hoje é sabido que a obra foi escrita décadas após sua morte e que ele não pode ser o autor.

Apesar de seu julgamento pela inquisição ter afetado seu status e reputação antes de sua morte, estudantes de Eckhart, tais como o beato Henrique Suso e Johann Tauler através do seus "Amigos de Deus" continuaram a difundir sua obra e o seu pensamento dentro da Igreja, com reconhecida influência e reverência ao mestre.

Mestre Eckhart

 "Se a única oração que você diz em toda a sua vida é “obrigado”, isso já bastaria."

"Nada faz de alguém um verdadeiro ser humano, senão a renúncia à sua vontade. Em verdade, sem renúncia à vontade própria em todas as coisas nada conseguiremos perante Deus."



 
“Em todo o universo, nada existe de mais parecido com Deus que o silêncio.”

"Tu deves entregar-te a Deus com absolutamente tudo, e não te preocupares com o que Ele faz do que é seu."

"Só será uma vontade perfeita e verdadeira, aquela que entrar inteiramente na vontade de Deus, despojada de vontade própria. E quem mais longe tiver ido neste ponto, tanto mais e mais verdadeiramente terá ascendido a Deus."






“Se te amas a ti mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa menos do que a ti mesmo, não te conseguirás amar a ti mesmo.” 

"Em verdade, um homem que se tenha despojado inteiramente do que é seu estará de tal modo envolvido por Deus, que nenhuma criatura o conseguirá tocar, sem tocar primeiro em Deus; e aquilo que deverá chegar até ele, deverá primeiro passar por Deus; aí receberá primeiro o seu sabor e tornar-se-á divino."
   
“Enquanto eu sou isso ou aquilo, eu não sou todas as coisas simultaneamente.”
                                     ―Mestre Eckhart




Kriterion: Revista de Filosofia


RESENHA

Meister Eckhart em português: o primeiro volume dos sermões alemães


Rodrigo Guerizoli
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). rguerizoli@ufrj.br


MESTRE ECKHART. Sermões alemães: sermões 1 a 60. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis/Bragança Paulista: Vozes/Editora Universitária São Francisco, 2006. 366p. v. 1.
Basta reparar que o pequeno volume O livro da divina consolação e outros textos seletos, editado em 1991, com tratados e sermões de Mestre Eckhart, encontra-se atualmente em sua sexta edição para que se perceba o quão bem-vinda é a tradução que ora se publica e que se apresenta como o primeiro passo de um projeto que "prevê a tradução e publicação, inicialmente, das obras alemãs completas e, posteriormente, também das obras latinas" (p. 36) do dominicano turíngio. O volume reúne os 60 primeiros sermões da edição crítica de Stuttgart das obras de Eckhart, contando, ainda, com uma breve apresentação, de autoria de Emmanuel C. Leão, uma introdução, assinada pelo tradutor e que agrupa informações biográficas, editoriais e um conjunto de "temas do pensamento do mestre" (p. 20); e, por fim, com um "glossário comentado" de termos-chave do pensamento eckhartiano.

Eckhart é, sem dúvida, um autor multifacetado, constantemente em movimento, tendo atuado em diferentes cidades (Erfurt, Paris, Estrasburgo, Colônia) e produzido tanto em latim quanto em vernáculo. Esse dinamismo, ao mesmo tempo geográfico e lingüístico, reflete-se numa obra que trafega por diversos mundos e línguas, o que contribui para que se tome seu autor como um contra-exemplo da assim chamada imobilidade do mundo latino, como um outsider do intelectualismo medieval, que escolhe uma língua que não é a oficial e que representa um modo de pensar que mal se encaixa num tempo de grandes sínteses filosóficas e teológicas. Desde esse ponto de vista, e em prol da originalidade e do elogio, sistematicidade e inserção histórica perdem em valor frente à exceção e à intemporalidade de um gênio que vive num período em decadência. Essa é a chave de leitura que guia a apresentação da presente tradução, em que Eckhart aparece como "o João Batista da parúsia moderna de Cristo" (p. 11), surgido num momento que começa a, de forma irreversível, "perder substância histórica" (p. 9). 

Trata-se, portanto, de uma via de acesso que tende a sublinhar a importância e a novidade da obra alemã de Eckhart e a distância deste em relação às estruturas hegemônicas de sua época; numa palavra, sua excentricidade. Essa perspectiva, porém, historicamente hegemônica até pelo menos a redescoberta, em fins do século XIX, da obra latina de Eckhart, tem encontrado cada vez menos espaço no âmbito da atual recepção do pensamento eckhartiano. Neste predomina, ao contrário, uma leitura que busca, de maneira cada vez mais nítida, inserir Eckhart em seu contexto, ou seja, no mundo intelectual medieval, um mundo com suas referências próprias (Aristóteles, Alberto Magno, Avicena, Tomás de Aquino etc., todos citados, nominalmente ou não, com freqüência, por Eckhart), escolástico sim, mas nem por isso filosoficamente paralisado, e no qual começa a ganhar força o que veio a se chamar de "desprofessionalização" da filosofia medieval, um movimento que é representado menos pelo surgimento ab ovo de uma filosofia vernácula do que pelo esforço de uma nova translatio studiorum, feita agora não para, mas, antes, desde o latim.1

A biografia de Eckhart, tal como a de inúmeros autores medievais, nos é bastante lacunar. Diversas etapas de sua formação e desenvolvimento intelectual podem ser apenas inferidas dos poucos dados de que dispomos. Nesse sentido, é sempre arriscado apresentar, como se faz na apresentação e na introdução da presente edição, um grande número de datas que pretendem registrar os marcos de uma vida. As falhas são, nesse contexto, inevitáveis. Por exemplo.2

1) Informações conflitantes são apresentadas acerca da docência de Eckhart em Colônia: num momento, é "desde 1322" que Eckhart "ensina teologia no Studium Generale de Colônia" (p. 12); noutro, "foi em 1323 que o geral da Ordem enviou-o para Colônia" (p. 17).
2) Eckhart é apresentado como tendo nascido "numa das duas cidades da Turíngia com o nome de Hochheim" (p. 11 e p. 15), quando, com base numa detalhada história regional, é hoje amplamente aceito que, no caso em questão, Hochheim não é topônimo, mas sobrenome de família, e que Eckhart teria nascido em Tambach, ao sul de Gotha, na mesma região.3
3) Não há registro confiável sobre eventos ligados à estada de Eckhart em Avignon. Assim, mais prudente é admitir, como o faz por exemplo K. Ruh,4 nossa ignorância a esse respeito, do que especular, quiçá a partir de obras de questionável fidedignidade, acerca da causa mortis de Eckhart (p. 19) ou sobre o local de seu sepultamento (idem).
4) O estopim para a instauração do processo contra Eckhart proveio de uma denúncia feita por, pelo menos, dois de seus confrades: Hermann de Summo e Guilherme de Nidecke5. Na base do processo, parece estar, portanto, uma divisão na própria ordem dominicana, ligada provavelmente a questões disciplinares, e não diretamente à inveja do Arcebispo de Colônia frente à "prosperidade intelectual e mesmo material, sua [de Eckhart] e da ordem dos pregadores" (p. 17).
5) Estudos recentes refutam a tese, por muito tempo aceita, de que "os sermões e tratados alemães jamais foram reunidos como 'livros', e nem sequer eram subscritos por Eckhart" (p. 35). Ao contrário, temos hoje por certo que a participação de Eckhart na confecção do que nos foi transmitido é relevante, tendo-se mesmo por provável a existência de um exemplar pessoal de seus textos.6
Nem tais incorreções, no entanto, tampouco a escolha de um viés interpretativo marcado pela contingência de por séculos ter-se conhecido apenas a obra alemã de Eckhart, põem em xeque a qualidade da tradução que ora se apresenta. O texto proposto por Enio Paulo Giachini é fluente, elegante, se baseia na edição de referência das obras de Eckhart e consegue encontrar amiúde excelentes soluções para difíceis passagens do original.

 Um fato que se deve vivamente ressaltar consiste no esforço do tradutor em se pautar nos momentos mais complexos de sua tarefa diretamente no texto médio-alto-alemão (indicado nesses casos em nota junto à tradução de Josef Quint) para a elaboração de sua solução (p.ex.: p. 72, p. 98 e p. 143), a qual, justificadamente, distancia-se amiúde do texto proposto por Quint em favor de uma formulação mais interessante e mais atenta ao original. Numa palavra, trata-se de uma tradução de valor, que não se perde na às vezes profundamente imbricada sintaxe eckhartiana e que, em regra, consegue transpor, para um português apurado, as mais rebuscadas tournures da língua do Mestre turíngio.

Como sói inevitavelmente ocorrer em primeiras edições, certos deslizes de revisão (p.ex.: p. 16, p. 199, p. 220 e p. 281) se fazem presentes. Nos limites dessa resenha, restrinjo-me a dois pontos que considero exigirem uma correção mais urgente, mas que de modo algum colocam em xeque o saldo plenamente positivo da presente tradução:

1) O termo grunt é geralmente traduzido como fundo (p. ex.: p. 67, p. 108, p. 119 e p. 126). Todavia, no sermão 2 (p. 48) a opção é por abismo (p. 48). Fundo é, porém, uma tradução mais feliz, pois abismo é exigido como tradução de abgrunt (p. 102).
2) Os termos mente e intelecto são usados de modo inconstante como tradução tanto de vernünfticheit quanto de vernunft (p.ex.: p. 52, p. 82, p. 144, p. 158, p. 174 e p. 217). Uma vez que mente sugere que o original remeta ao mens latino e não ao intellectus, uma tradução constante de vernünfticheit e vernunft por intelecto, dada a sobreposição de sentidos em que Eckhart usa tais termos, seria mais esclarecedora.
Como já indicado, a obra termina por um "glossário comentado" que não se apresenta como um dicionário filosófico-filológico do vocabulário eckhartiano – o que certamente seria de bastante proveito –, mas, antes, como um conjunto de indicações que buscam "começar a despertar o gosto e o interesse de ler e entender os textos de Eckhart" (p. 327). Oxalá consiga esse "convide à reflexão" (idem) atingir seu intuito e que se venha, como a presente tradução, contribuir para a consolidação em nossas universidades de um interesse filosófico sobre a obra de Mestre Eckhart.


1 Um excelente panorama das tendências que têm orientado as investigações sobre Eckhart fornecem SPEER, Andreas; WEGENER, Lydia (Org.). Meister Eckhart in Erfurt. Berlin/New York: Walter de Gruyter, 2005. Sobre a "desprofissionalização" da filosofia medieval cf., sobretudo,: DE LIBERA, Alain. Pensar na Idade Média. São Paulo: Editora 34, 1999.
2 A corrigir há, sem mais, o lapso que indica 1275 como o ano do óbito de Tomás de Aquino (p. 11).
3 Cf. TRUSEN, Winfried. Der Prozeß gegen Meister Eckhart. Vorgeschichte, Verlauf und Folgen. Paderborn/München/Wien/Zürich: Schoeningh Ferdinand, 1988.
4 Cf. RUH, Kurt. Meister Eckhart. Theologe, Prediger, Mystiker. 2. Aufl. München: C. H. Beck, 1989, p. 187.
5 Cf. TRUSEN, op. cit.
6 Cf. LÖSER, Freimut. Einzelpredigt und Gesamtwerk. Autor- und Redaktortext bei Meister Eckhart. Editio, Tübingen, v. 6, p. 43-63, 1992; STURLESE, Loris. Hat es ein Corpus der deutschen Predigten Meister Eckhart gegeben? Liturgische Beobachtung zu aktuellen philosophiehistorischen Fragen. In: SPEER; WEGENER, op. cit., p. 393-408.

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Kriterion: Revista de Filosofia

Print version ISSN 0100-512X

Kriterion vol.48 no.115 Belo Horizonte  2007

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-512X2007000100016 

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SANT-YVES D'AVEYDRE E A AGARTHA


SINCROMISTICISMO - 6m

Vida Material e Espiritualismo - 137m

Enigmas del Mundo - 8 O mundo de Agartha - 48m


Saint-Yves D’Alveydre e a Agartha

                     Autora: 
Eunice Katunda

                        
  Revista: Dhâranâ 15/16 - 1961



Há pouco tempo me foi dado o encargo de traduzir um dos mais raros livros de Saint-Yves: Missão da Índia na Europa. Essa obra conquista desde logo o leitor, graças, principalmente, à  indiscutível e corajosa sinceridade do autor que, aliada à precisão de relato, convence até o mais cético dos leitores.



Saint-Yves foi um católico verdadei­ro que se manteve ligado à tradição ju­daico-cristã e que muito estudou os li­vros sagrados do velho e do novo Tes­tamento. Soube, portanto, conservar o respeito às demais religiões, livrando-se do sectarismo e reconhecendo-as - a todas - como originárias da mesma fonte.



Mas o mundo moderno se encontra de tal maneira dividido em seitas que poucos estarão em condições de obter da leitura de Missão da Índia na Eu­ropa todos os ensinamentos que contém, sem se ater a preconceitos que vêm perpetuando o poder negativo da Letra-que-mata... Entre essa minoria de lei­tores capazes de bem interpretar a obra se contam os filiados à Sociedade Bra­sileira de Eubiose. Eis porque decidi­mos apresentar-lhes esta transcrição sumária, buscando focalizar os trechos mais consentâneos aos ensinamentos teosóficos, que, aliás, vêm sendo minis­trados há perto de 40 anos pela S.B.E., onde funciona a única Escola Iniciáti­ca devidamente autorizada.





Saint-Yves D'Alveydre


 Agartha Sua Localização -

 Hierarquias Agarthinas


 Significado do Nome

 O Nome de Agartha, nas Epístolas

 Identificação Com a Paradesa de Outrora



Onde é a Agartha?
Qual o exato lu­gar em que se ergue? 
Por que estrada, através de quais países se deve passar para ali penetrar?



Quanto a essa questão, que os esta­distas e os militaristas não deixarão de me fazer, não me convém adiantar mais do que se segue: sei que em suas lutas e competições mútuas, através de toda a Ásia, certas potências, individual­mente, chegam até muito próximo desse território sagrado; assim como sei que, no momento de algum possível confli­to, seus exércitos, forçosamente, teriam que ali passar, ou dali se aproximar...



Tanto na superfície como nas entra­nhas da Terra, a extensão de Agartha desafia qualquer cerco, toda constrição da profanação e da violência.



Sem contar com a América, cujos subsolos ignotos lhe pertenceram, nu­ma longevíssima antiguidade, somente na Ásia cerca de meio milhão de ho­mens tem conhecimento de sua exis­tência e de sua grandeza. Mas dentre eles não se- encontrará um só traidor que seja capaz de denunciar qual a po­sição exata em que se encontra o seu Concílio de Deus e o seu Concílio dos Deuses; sua cabeça pontificial e seu coração jurídico.



Caso tal cousa acontecesse, o exér­cito conquistador, por maior que fosse, veria renovar-se a tronitroante resposta que o templo de Delfos deu às inume­ráveis hordas dos sátrapas persas. Acu­dindo em seu socorro as Potências cósmicas da Terra e do Céu, os Templá­rios e Confederados da Agartha, mes­mo invadidos, poderiam, se o quises­sem, fazer saltar uma parte do planeta e fazer crestar, no fogo de um cataclisma, tantos os profanadores quanto to­dos os exércitos de seu país natal.



Antes da expedição de Ram e da predominância da raça branca na Ásia, a Metrópole manúsica (ou rnanávica) tinha por centro Ayodha, a Cidade So­lar.



Escolhendo, de um golpe de vista preciso, o verdadeiro limite da Europa com a Ásia, nosso ancestral celta ali fixou, nos mais esplêndidos lugares da Terra, a sede do Sagrado Colégio.



Três mil anos após Ram e a partir do cisma de Irshu, o centro universi­tário da Sinarquia de Áries e do Cor­deiro sofreu seu primeiro deslocamento, a respeito do qual não nos convém for­necer, aqui, dados mais precisos. Por fim aproximadamente quatorze séculos depois de Irshu, logo após o apareci­mento de Sáquia Muni, decidiu-se outra trasladação.



É suficiente que os leitores saibam que, em determinadas regiões do Hima­laia, dentro os 22 templos que repre­sentam os 22 Arcanos de Hérmes e as 22 letras de certos alfabetos sagrados, a Agartha representa o Zero místico, impossível de se encontrar.



O território sagrado da Agartha é independente, sinarquicamente organi­zado e composto de uma população constante de cerca de vinte milhões de almas. A constituição da Família, com igualdade de sexos, no lar; a organiza­ção da comuna, do cantão e das circuns­crições, que vão desde as Províncias até o Governo Central, conservam, ain­da hoje, em toda sua pureza, os sinais do gênio celta de Ram, qual um selo impresso pela divina sabedoria nas ins­tituições do Manu.



Em Agartha não se conhecem os terríveis sistemas judiciários ou penitenciários; não há prisões. A pena de morte não é aplicada. O policiamento é feito pelos pais de famílias. Os delitos são julgados pelos iniciados, pelos Pun­dits de serviço. Sua arbitragem de paz é sempre invocada, espontaneamente, pelas próprias partes em litígio, o que evita, na quase totalidade dos casos, a necessidade de apelo às diversas cortes de Justiça, pois que a reparação, tam­bém voluntária, se segue imediatamen­te a todo prejuízo causado.



Os rajás independentes, responsá­veis pelas diversas circunscrições do solo sagrado, são todos Iniciados de alto grau. Esses reis presidem à Supre­ma Corte de Justiça, e sua arbitragem, estabelecida acima das repúblicas can­tonais, conserva ainda o caráter magis­tral que analisei mais extensamente em meu livro Missão dos Judeus.



Em torno do território sagrado e de sua população, já considerável, se es­tende uma confederação sinárquica de povos, composta de mais de quarenta milhões de almas.



O sistema de castas, tão justamente criticado pelos europeus, é desconheci­do de Agartha. O filho do último dos párias hindus pode ser admitido na Uni­versidade sagrada e, segundo seus mé­ritos, dali pode sair, ou permanecer, pertencendo a qualquer dos graus da hie­rarquia. A apresentação se faz da se­guinte maneira: no momento do nas­cimento a mãe consagra seu filho; as­sim é o Nazareato de todos os Templos do Ciclo de Áries. Em épocas sucessivas e diferentes, a Providência é diretamen­te consultada, nos Templos e, uma vez soada a hora da admissão, o menino ou menina, tendo por padrinho o rajá ini­ciado de sua província, ingressa na Universidade sagrada, sem que isto lhe custe qualquer ônus, qualquer despesa.



Quanto ao mais, só depende dos méritos do discípulo.



Agartha, outrora chamada de Para­desa, é representada por um único hie­rograma, o qual por si mesmo fornece­ria a chave completa da questão da Sinarquia trinitária de Áries e do Cor­deiro. Seu nome significa: inatingível pela violência, inacessível à anarquia. Vejamos, agora, qual a organização da Agartha, partindo de baixo para cima, ou seja, da periferia para o centro.



Milhões de Dwijas (duas vezes nas­cidos) e de Ioguins (unidos em Deus) formam o grande ciclo, ou melhor, o hemiciclo que vamos penetrar. Habitam eles cidades inteiras. Estas são os subúrbios anteriores da Agartha, sime­tricamente traçados e divididos em edi­fícios, geralmente subterrâneos.



Acima deles, em direção ao centro, vamos encontrar cinco mil Pundits, Pandavas ou sábios, dos quais alguns têm a seu cargo a instrução, propria­mente dita, ao passo que outros se en­carregam do serviço de guarda, como soldados da polícia interna ou como guardiães das cem portas. O número de cinco mil corresponde ao número de raízes herméticas da língua védica.



Cada urna dessas raízes constitui, por si mesma, um hierograma de poder mágico, ligado a uma Potência Celeste, e contando com a sanção de urna Po­tência infernal. Agartha inteira se man­tém como a fiel imagem do Verbo Eter­no, através de toda a Criação.



Aos Pundits seguem-se, repartidas em hemiciclos cada vez menos numero­sos, as circunscrições solares, dos 365 Bagwandas, os cardeais.



O círculo mais elevado, o mais pró­ximo do centro misterioso, se compõe de 12 membros. Esses últimos repre­sentam a suprema iniciação e corres­pondem, entre outras coisas, à zona zodiacal.



Na celebração de seus mistérios má­gicos, trazem eles consigo os hierógli­fos correspondentes aos signos do Zo­díaco, assim como certas letras hieráti­cas, as quais se encontram, também, em toda ornamentação de templos, de obje­tos sagrados etc.



Cada um desses Bagwandas ou su­premos gurus (mestres) traz sete nomes, hierogramas ou mantras corresponden­tes aos sete Poderes celestes, terrestres e infernais.



Após os círculos, alternadamente abertos ou fechados, dos trezentos e 65 Bagwandas, surgem os dos 22, ou me­lhor, dos 21 Archis, negros e brancos.



A diferença que os distingue dos mais altos iniciados dos círculos prece­dentes é mais de ordem puramente for­mal que cerimonial. Os Bagwandas po­dem, de acordo com sua vontade, resi­dir ou não em Agartha. Quanto aos Archis, lá permanecem para sempre, como parte integrante das altas cama­das hierárquicas.



Suas funções são extremamente complexas e amplas, correspondendo aos nomes cabalísticos dos Krinarshi, Swadarshi, Dwijarshi, Yogarshi, Mahar­shi, Dharmarshi e, finalmente, Praharshi.



Tais nomes bastam para indicar quais suas atribuições, tanto espirituais quanto administrativas, dentro da Uni­versidade onde eles exercem suas fun­ções.



No referente a artes e Ciências, eles representam, juntamente com os 12 Bagwandas zodiacais, o ponto culminan­te da Mestria universitária e da Gran­de Aliança em Deus, de todas as Po­tências cósmicas.



Acima deles, acha-se o triângulo, formado pelo Soberano Pontífice, o Brahatma (esteio das almas no Espírito de Deus) e seus dois assessores: o Mahatma (representante da Alma Univer­sal) e o Mahanga (representante de toda organização material do Cosmos).



Na cripta subterrânea, onde se en­contra o corpo do último Pontífice à espera, durante a vida de seu sucessor, da incineração sagrada, reside o Archi que representa o zero dos Arcanos sim­bolizados por seus 20 colegas. Seu no­me, Marshi, quer dizer o Príncipe da Morte, e expressa o fato de não per­tencer ele ao mundo dos vivos.



Todos esses vários círculos, cujos graus correspondem a outras tantas par­tes circunferências ou centrais da Ci­dade Santa, são invisíveis àqueles que peregrinam sobre a Terra.



Milhares e milhões de estudantes jamais chegaram a penetrar além dos primeiros círculos subterrâneos; pou­cos são os que chegam a galgar a te­mível escada de Jacó que, ao longo das provas e exames iniciáticos, conduz à cúpula central.



Essa cúpula, como aliás toda a Agartha é obra da arquitetura mágica. Sua iluminação provém de cima, atra­vés de registros catóptricos que só per­mitem a passagem da luz vinda da es­cala enormônica das cores, das quais o espectro solar de nossos tratados de física nada mais é que a diatônica. É ali que a hierarquia central dos Car­deais e dos Archis, disposta em hemi­ciclo perante o Soberano Pontífice, se nos depara iridescente qual visão su­praterrena, na qual as formas e apa­rências corpóreas dos Mundos se Con­fundem, fazendo desaparecer, sob as irisações celestes, toda distinção visí­vel de raças, numa só vibração de cro­ma e de som, da qual as noções conhe­cidas de perspectivas e de acústica se encontram singularmente distantes.



As Bibliotecas de Agartha



Os fabulosos arquivos da Paradesa (Agartha) ocupam milhares de quilô­metros e se encontram até sob os mares que tragaram o antigo continente aus­tral, estendendo-se, ainda, pelas gale­rias subterrâneas da América pré-dilu­viana. Desde há ciclos de séculos, a cada ano, somente alguns iniciados, possuidores apenas do segredo de algu­mas regiões, conhecem qual a finalida­de material de certos trabalhos que lhes são designados, passando três anos a gravar, sobre lâminas de pedra, em ca­racteres desconhecidos, todos os fatos que interessam às quatro hierarquias de ciência que constituem o corpo total do Conhecimento. Cada um destes sábios realiza sua obra dentro da mais absolu­ta solidão, longe de toda luz visível, sob cidades, desertos, planícies e mon­tanhas.



Que o leitor procure imaginar um colossal tabuleiro de xadrez que se es­tenda através de todas as regiões do globo. Em cada compartimento, se acham arquivados os fatos dos anos da vida terrestre da humanidade; alguns desses arquivos contém as enciclopé­dias seculares ou milenares; outros con­tém os fastos correspondentes às Yugas, maiores ou menores.



Somente o Soberano Pontífice de Agartha (juntamente com seus assesso­res a quem já me referi) abrange, na consciência total de sua suprema ini­ciação, toda a complexidade do sagrado catálogo dessa biblioteca planetária. Unicamente ele possui, integralmente, a chave cíclica, indispensável não somen­te para abrir cada urna das estantes, como também para saber tudo o que ai se encontra, podendo percorrê-las uma após outra e, principalmente, conhecen­do o meio de se retirar.



De nada serviria ao eventual profa­nador penetrar num desses comparti­mentos subterrâneos, que representam verdadeiro cérebro da memória integral da humanidade. Arrastada pelo seu tre­mendo peso, a porta de pedra, sem fe­chadura, que cerra cada uma das estan­tes, retombaria sobre ele, para não mais se abrir. Desconhecendo seu terrível destino, em vão se defrontaria ele com as imensas folhas minerais que com­põem esse formidável livro cósmico, pois não teria conseguido soletrar uma única palavra ou decifrar o mais ínfi­mo arcano, antes de perceber que des­cera para sempre a um túmulo do qual seus gritos jamais poderiam chegar aos ouvidos de qualquer ente visível.



Nenhum iniciado pode retirar da Agartha os textos originais de seus li­vros de estudo; eles são, como já o disse, gravados na pedra, em caracte­res indecifráveis ao vulgo. Somente a memória pode conservar a imagem de­les. Esta a razão de ter Platão enuncia­do o estranho paradoxo; "A Ciência se perdeu no dia em que se publicou o primeiro livro..." Em certos casos, nem sequer os próprios manuscritos podem ser de lá retirados. Eis porque Sáquia Muni, regressando de urna ex­cursão além fronteiras, no VI século antes de nossa era, reclamou em alta voz ao perceber que não mais se acha­vam em sua cela os cadernos de estudo que ali deixara. Sentiu-se instantaneamente perdido, pois que contara com aquele verdadeiro tesouro a fim de con­sumar o movimento revolucionário que preparara em silêncio. Em vão recor­reu ele ao Templo central, onde reside o Brahmatma, pois as portas daquele permaneceram irrevogavelmente cerra­das. Em vão, durante toda uma noite, pôs ele em prática tudo o que apren­dera da Ciência Mágica. Os poderes Adivinatórios do supremo Santuário tudo haviam previsto, tudo sabiam...



Assim é que, após sua fuga, o funda­dor do Budismo só pode ditar a seus discípulos o pouco que sua memória fora capaz de reter, às pressas, suma­riamente.



Descida aos Infernos



Em uma determinada época cósmica de cada ano, os diplomados das altas secções, sob a direção do Ma­harshi, o grande Príncipe do Sagrado Colégio, descem em visita a uma das metrópoles plutônicas. Torna-se-lhes ne­cessário restejar pelo solo, ao longo de uma anfractuosidade que mal lhes per­mitem a passagem do corpo. Interrom­pida a respiração, o Yoguim, tendo as mãos acima da cabeça, por ali escorre­ga, parecendo-lhes viver séculos a cada minuto.



Finalmente, tombam eles, um após outro, numa interminável galeria em declive, onde tem início sua verdadeira viagem.



À medida que eles descem, o ar se vai tornando mais e mais irrespirável. A maioria se vê obrigada a estacar, su­focada, esgotada, a despeito das provi­sões de ar respirável, de alimentos e das substâncias calorífugas. Somente pros­seguem aqueles aos quais a prática das artes e das ciências secretas tornou pos­sível o saber respirar um mínimo, pelos pulmões, extraindo o ar, não importa de onde, por meio de outros órgãos, haurindo os elementos vitais que este encerra em si mesmo, seja qual for o lugar.



Afinal, depois de longuíssima via­gem os que perseveram conseguem di­visar, ao longe, algo semelhante a um incêndio subplanetário. Então, o Prín­cipe Iniciático, voltando-se enquanto conserva a mão erguida, unidos o índex e o polegar, se expressa unicamente por meio de sinais, na linguagem universal já citada. (Nas línguas antigas, os mes­mos objetos eram descritos, segundo sua natureza, por símbolos verbais absolu­tos, que evocavam o caráter geral dos seres, das coisas, de sua decomposição. Assim é que, restituída às suas raízes do Verbo vivente; a mátese e a morfo­logia da Palavra dórica constituíam um ato divino que submetia - como afir­mou Moisés - toda coisa, na Natureza, à Inteligência e à Ciência humanas. Em suas células subterrâneas, o inumerável Povo dos Dwijas se ocupa no estudo de todas as línguas sagradas e coroa os trabalhos da mais admirável filologia com as maravilhosas descobertas no campo dessa língua universal a qual acabo de me referir. Essa língua uni­versal é o Vattan.



Prosseguindo o relato:



Que diz ele? Mais ou menos o se­guinte: "Silêncio! Agora que chegamos, que nenhum de vós prove da água ou dos frutos do domínio dos povos sub­terrâneos que agora ides ver e que, quando eu atravessar o Oceano de fogo, cada um de vós trate de pousar os pés somente ali onde permaneçam as pega­das de meus pés!".



Na mesma linguagem, o Príncipe Iniciático se dirige, defrontando-os, a seres ainda não visíveis para os demais.



Por meio de hierogramas sagrados, símbolos da União dos Povos celestes com os da nossa terrestre humanidade; símbolos do direito de comando, atri­buído pelo Espírito, que anima essa mesma humanidade, sobre o que se encontra abaixo; em nome do que encon­tra acima, o Príncipe dos Magos orde­na, e os chefes do povo infernal obe­decem.



A Metrópole ciclópica se abre, iluminada de baixo por um rubro Oceano fluídico, longínquo reflexo do Fogo cen­tral que, nessa época do ano, se retrai sobre si mesmo.



Até o infinito se descortinam as mais estranhas ordenações arquitetôni­cas nas quais os minerais, confundidos, realizam o que a fantasia e a quimera do artista gótico, corinto, jônico, dórico etc., jamais ousou conceber. Furioso de se ver invadido pelos homens, um povo de forma humana e corpo ígneo reflui e se precipita em todas as direções, povo alado que se aferra, com suas po­derosas garras, às muralhas plutônicas da infernal cidade. Encabeçada pelo Maharshi, a sagrada coluna se adentra pelo estreito caminho de basalto e lava petrificada. Ao longe ecoa um surdo ru­mor que parece ampliar-se ao infinito, qual o rugir das vagas de imensa maré de equinócio.



Iniciação Feminina - O Vaso de Eleição



A esposa de todo Iniciado pode tor­nar-se sua igual, ou mesmo sua supe­rior, nos divinos Mistérios, pois que seus direitos, universitários e sociais, são os mesmos. É, portanto, com muita justeza que, fiel à tradição esotérica de Moisés, dos Abrâmidas e dos Râmidas, o Cris­tianismo concedeu à divina Mãe do Cristo todas as prerrogativas da Ísis dos novos tempos. Efetivamente, Ela era a Epopta que, no próprio Templo de Je­rusalém, possuía, como Alma, todos os segredos da Ciência Esotérica, todas as virtudes que a tornaram apta e que a elegeram a receber, da Divindade e de seus Anjos, a Alma deslumbrante do Redentor.



O Povo das Estátuas



O Iniciado, após ter atingido deter­minado grau que lhe integra a alma na divina União, na celestial Yoga, é con­duzido a cavernas onde se lhe faz a própria estátua, a qual, sem que o per­cebesse, ele mesmo serviu de molde. Essa estátua, fundida numa substância mineral artificial semelhante à dos obe­liscos do antigo Egito, adquire, com o tempo, uma inalterável solidez. E en­tão o Iniciado se defronta, ao longo dos mil entroncamentos das infindáveis galerias, com o inumerável povo das estátuas.



Os Estudantes e suas Celas



Cada um dos alvéolos de pedra se acha iluminado, desde tempos imemo­riais, pelo gás oxídrico, que purifica o ar, em lugar de viciá-lo como o faz nosso hidrogênio carbônico. Cada uma dessa celas, embora estreita, é sabiamente arejada. Naquela solidão, o dis­cípulo começa a experimentar a invasão do Invisível. Pouco a pouco as santas visões lhe vão iluminando o sono ou os olhos abertos, recompensando, assim, seus esforços na senda da Ciência e da Virtude, ou flagelando-lhe a indolência de espírito e de coração. Um catre, se­melhante ao dos nossos oficiais de ma­rinha, serve de leito aos Dwijas. Cada noite, ele próprio, com seu sopro, enche seu colchão e seu travesseiro. Tem, por todo o mobiliário, uma mesa e uma ca­deira. Tudo é calculado de modo a fa­vorecer a concentração interior da alma, sem qualquer distração exterior. Na pa­rede, estão gravadas algumas sentenças misteriosas.



O ascetismo pode conduzir a essa Verdade, a esse Caminho, a essa Vida de bem-aventuranças, desde que a es­pontaneidade psíquica preencha as con­dições necessárias. Entretanto, em Agar­tha não se pratica o ascetismo, que ja­mais se tornaria uma regra social.



Aos iniciados, que não desejam se­guir o livre caminho do monaquismo (no sentido etimológico da palavra: monos, sozinho; em sânscrito: muni), a Agartha lhes atribui a possibilidade e a prática da União divina, porém, de acordo com um regime dietético apropriado. Eis porque, desde o Dwija até o Brahmatma, desde o primeiro até o último dos iniciados, os povos deste Ci­clo e daquela Comunhão em Deus se abstém de carne e de todo licor fermen­tado. Tais condições, aliadas a todas aquelas outras determinadas pela San­tidade e pela Ciência, fazem com que o corpo, aos poucos, se vá tornando apto a permitir que a alma retome posse de sua liberdade celeste. Efetivamente, o Epopta não mais se utiliza do simples sono animal, comum a todos os seres físicos da Terra. Nesse mistério do sono, o instinto vital, escravizando a alma, a embriaga com esse éter inferior, que de­nominamos magnetismo terrestre. Tais fluidos, bem conhecidos das antigas ini­ciações órficas, se encontram enumera­dos em todo o decorrer da Cosmogonia egípcia e mosaica.



O regime alimentar baseado em car­ne e em bebidas espirituosas, aproxima o homem das espécies inferiores e, du­rante o sono, faz com que sua alma mergulhe cada vez mais nos fluídos a que me referi.



A Egrégora Sagrada e o Sinal da Aliança 
- Sua Fragmentação



De todos os pontos do globo, tanto de dia como a noite, todo iniciado de Agartha divisa o Corpo Espiritual des­sa Associação, sob a forma de um imen­so Triângulo de Luz ou, se o quisermos, de uma Pirâmide de Fogo, que paira no espaço etéreo.



Essa Ioguina é formada, desde a base até o vértice, pela flama espiritual das almas dos Pundits, dos Bagwandas, dos Arshis, do Mahatma, do Mahanga e, finalmente, do Brahmatma. Tal visão se encontra perenemente diante dos olhos dos iniciados, porque essa asso­ciação sinárquica de três ângulos cons­titui a imagem, plasmada no próprio Éter, da Criação Espiritual e da Ordem Trinitária, mantidas graças ao concur­so e à concordância de todas as boas vontades.



O Signo da Aliança, atribuído pela Divindade ao Corpo Sinárquico espiri­tual, reconstituído por Ram há nove mil anos e hoje visível a todo Iniciado, con­siste num imenso anel de luz cósmica de cores cromáticas, que envolve em seu arco fluídico fechado a base do terço superior do Triângulo.



A partir do cisma de Irshu e depois de Sáquia-Muni, o Anel de Luz cósmi­ca que envolve o Símbolo piramidal de sua Associação passou a significar, para todo alto Iniciado, a oposição da Divi­na Providência, a qual, cerrando-se so­bre Si mesma, alijava a anarquia do governo geral da Terra, encerrando os mistérios e vedando aos profanos os te­souros da Ciência que só serviria, em mãos daqueles, para atribuir ao Mal uma força incalculável.



Em 1877 (data divinamente memo­rável na minha vida), o Brahmatma pre­senciou, pessoalmente, o que se segue e, segundo ele próprio, todos os demais iniciados, de acordo com os respectivos graus, contemplaram o mesmo fenô­meno.



De igual maneira como o anel do Planeta Saturno se entreabria, quando focalizado pelos telescópios de nossos astrônomos, assim também o Anel cós­mico foi se abrindo lentamente.



Em seguida, sob as vistas do Sobe­rano Pontífice e, depois, de seus asses­sores e dos demais membros do Supre­mo Conselho mágico, já citados, o Anel se fracionou.



É o bastante dizer que esse fracionamento só estacionou ao ter sido atin­gido o número 12, tendo o fracionamento percorrido as progressões aritmoló­gicas e morfológicas correspondentes aos símbolos absolutos da Geração dos Príncipes primordiais e da formação de toda Harmonia.



Após ter consultado as Inteligências Celestes quanto ao sentido que se de­veria dar a tais sinais, o Supremo Colé­gio de Agartha, orientado por seu ve­nerável Chefe, neles reconheceu uma ordem direta emanada de Deus, na qual se lhes anunciava a ab-rogação progres­siva da Lei dos Mistérios e o retomo da Humanidade, já suficientemente pre­parada pelo Espírito vivo do Judáico­-Cristianismo, à Lei trinitária que presi­diu sua organização.



Quanto à surpresa que há de cau­sar em todo espírito europeu, o misté­rio do símbolo, que os Agartinos de toda parte tem sempre perante os olhos, haverá de ceder lugar à reflexão, des­de que se procure reler e entender os Santos Testamentos.



Era assim que os israelitas viam do Deserto o Sinal em fogo; assim divisa­vam eles, de todos os pontos de seu acampamento, a Coluna de Nuvens, du­rante o dia, e a Coluna de Flamas, durante a noite.



Assim era, também, que os primei­ros iniciados viam o Cristo. E igual­mente assim é que, novamente reasso­ciados, graças à Lei Sinárquica, os ju­daico-cristãos da Promessa (e com eles as demais Comunhões humanas) have­rão de ver, de pé sobre as nuvens, ro­deado pelos Anjos, pelos Espíritos e pelas Almas dos Santos, o Corpo Glo­rioso do Cristo; assim haverão eles de divisar, por trás da auréola solar de Sua cabeça, o Triângulo de fogo no qual estará inscrito o Nome sagrado de IEVE.



A Sinarquia, a Europa, a Ásia. 
China-Rússia e Inglaterra-Índia



Que os europeus atentem bem ao que vou dizer:



Já assinalei, nas minhas missões (1) precedentes, que não se deve subestimar o papel da China, considerando-a como quantidade insignificante na balança das Potências da Terra. Dois anos an­tes da última guerra, tive ocasião de fazer ver a importância de seu arma­mento, de seus instrutores militares eu­ropeus, de sua evolução, lenta mas se­gura (principalmente após os prováveis empréstimos de Estado), no sentido de um aprestamento guerreiro destinado a tornar-se, mais cedo ou mais tarde, for­midavelmente sério para a Europa.



Não há Igualdade senão numa só Lei de harmonia; e essa abrange a cons­tituição do corpo social todo.



Não há Fraternidade possível senão na liberdade e pela igualdade, assim compreendida.



Não há Liberdade senão no Espaço sem limites e o Espaço sem limites do Espírito humano outra coisa não é se­não o Espírito de Deus.



Desde há um século que, na Euro­pa, o isolamento das ciências físicas afo­gou, momentaneamente, num dilúvio de fatos preciosos, mas de nomenclaturas bárbaras, tanto as mais altas faculda­des do espírito humano e seu senso sin­tético e religioso quanto suas revives­cências da memória mais profunda. Desde então, também, o fio de comuni­cação entre Agartha e o Ocidente se acha temporariamente rompido, porque, repito-o ainda, o lema daquela Uni­versidade sagrada é: "Fechada para a Anarquia. Europeus! Restabelecei essas comunicações, não às ocultas, crede-me, supremacia será para sempre superada, graças a uma inacreditável renascença da Ásia inteira, que se há de erguer, crente, sábia, armada dos pés à cabeça, para cumprir sem vós e, se necessário, contra vás, as Promessas dos Abrâmidas, de Moisés, de Jesus Cristo e de todos os Cabalistas judaico-cristãos!".



E, assim como vos assinalo tal pe­rigo, proclamo seu remédio e assim o farei, enquanto Deus me der forças para tal. O remédio não é militar, pois que, com tal jogo, acabaríeis por instruir militarmente, atacando-os, a um milhão de asiáticos que, mais cedo ou mais tar­de, acabariam por vos fazer sentir a sua força.



O remédio é tão pouco diplomáti­co. Já quase todos os povos da Ásia fazem parte de vosso corpo diplomático e, presa das engrenagens da máquina de vossas astúcias e de vossas mútuas com­petições, também vos farão, um dia, ca­tivos da mesma e vos haverão de esma­gar no combate entre a Ásia e as duas Américas.



O remédio por mim proposto é pu­ramente intelectual, jurídico, orgânico. Vós o deveis aceitar empunhando vos­sos Livros Sagrados, recorrendo à His­tória Universal e às Ciências Sociais. O remédio é a Sinarquia, é a Lei históri­ca da Humanidade. Somente aí, e não algures, encontrareis vossa salvaguarda, tanto de vós mesmos quanto da Ásia.



Salvai, assim, as vossas tiaras, as vossas mitras, Igrejas, Universidades, coroas e repúblicas! Salvai quanto vos pertence, inclusive o que a Revolução de 1789 possui de legítimo quanto a promessas sociais, que somente a Sinar­quia judaico-cristã pode manter e cum­prir. Então, a Agartha estará de vosso lado.



Governantes ou governados, conquistadores e conquistados da Ásia, todos vós tendes o mesmo interesse no retorno da Humanidade a essa Lei social do Reino de Deus, que outra coisa não é senão seu próprio reino, no qual também está compreendido o vosso.



Em vão exclamarão os ingleses: "Que importa! O que tomamos, conser­vamos!". Recordo, em Isaías e em Eze­quiel, a queda do império plutocrático de Tiro. O destino dos fenícios aguar­da os ingleses, caso estes não modifi­quem, sinarquicamente, o seu regime colonial.



Em vão exclamarão os russos: "Marchemos! E derrubemos o Império colonial da Inglaterra!". Recebidos co­mo libertadores, mais tarde ou mais cedo serão .repelidos como conquistadores, a menos que, graças à Lei Sinâr­quica, tragam consigo a Redenção so­cial e, ao mesmo tempo, a libertação política.



Quanto sangue, quanto ouro, quan­to pranto e luto, quanta devastação e desolação seriam poupados se, graças a essa Lei Sinárquica, eles buscassem for­mar um só corpo com a Inglaterra e com a Europa, se auxiliassem os povos da Ásia a constituir, conosco, a grande e santa Aliança que dormita nas pro­fundezas de todas as memórias, de toda Ciência, de toda Fé!



Por que aguardais que as revoluções se façam? Em todos os tempos elas têm sempre destruído; jamais se as viu cons­truir. Quanto a revolução dos governan­dos, consequência da anarquia dos go­vernantes, desde há cinco mil anos só pode ser sustada se aquela, voluntaria­mente, se ab-rogar, pela realização da Sinarquia.



Em tal caso, tudo o que há de legí­timo no protesto revolucionário das multidões se transformará em aceitação de uma Autoridade claramente distinta da do Poder; em aceitação (de um Po­der de Justiça nacional e internacional, renovado e autorizado; de um Poder econômico capaz de comportar, nova­mente, os interesses de todas as classes.



Existem, já, três categorias de Li­berdade, Igualdade e Fraternidade que a velha civilização indiana solicitou e que são as seguintes: reivindicação de universidades mistas, de tribunais mis­tos e, finalmente, de arbitragens eco­nômicas capazes de aliviar os espanto­sos ônus com que se vêm sobrecarre­gando suas populações. Mas a isto se opuseram sempre, de uma ou de outra maneira, os interesses dos colonizado­res europeus.



A Índia não se quer sublevar; sua velha e bem inspirada sabedoria nada mais pede que o direito à vida e à pró­pria ressurreição.



O estabelecimento dos ingleses na índia denota erros radicais, dos quais um dos menores reside no fato de cons­tituir uma dominação estrangeira e de não ter contribuído, até agora, com qualquer espécie de revalorização, inte­lectual ou social, que viesse compensar a exploração material com que se opri­me a mais antiga de todas as civili­zações.



Considero que está nos desígnios de Deus, tal como eles se encontram ex­pressos nos Vedas, no texto hebreu de nossos Testamentos e no próprio Alco­rão, que a Aliança universal dos anti­gos tempos venha muito em breve a ser renovada. O XX século da era cris­tã há de vê-la cumprir-se de fato, sobre as bases cujos princípios evidenciei, através dos acontecimentos históricos, perscrutando as profundezas de nossos santos Livros.



Bem sei que o cíclico retorno da Hu­manidade a essa Lei do Reino de Deus não se verificará sem lutas! Haverá ou­tros povos mártires; e o governo geral da astúcia e da violência continuará ainda, por algum tempo, a eclipsar aqui­lo que Moisés qualificou de o próprio reflexo de Deus.



O anti-Deus, o anti-Cristo, aponta­dos por Daniel, continuarão a cortejar a Besta-apocalíptica, a Brutalidade, que preside a relação entre as Nações, os Estados sociais e os Continentes. Até mesmo os mais crentes se interpelar-se-ão, exclamando, a despeito dos Abrâ­midas, de Moisés e de Nosso Senhor Jesus-Cristo: "Amemo-nos! pois que a lei sangrenta do Touro babilônico ainda persiste em impedir que a face lumino­sa do Deus do Conhecimento Total se mostre novamente, por meio da renova­ção da antiga Aliança Universal!". Po­rém, saibam os políticos de toda a Ter­ra: os crentes, aos quais a iniciação in­fundiu a Certeza, que se sucede à Fé, são menos ingênuos que os céticos e que os materialistas governamentais. Eles bem percebem o Mal opor-se a si mesmo e enfraquecer; e aguardam!



Todos os homens são bons e só co­metem o mal por julgarem que a isso os conduz a injunção de seus interesses. Todos eles desejam o bem, cada qual à sua maneira; simplesmente não sabem conciliar, entre si, suas vontades e o bem que estas almejam. Existe uma Lei social de harmonia que torna possível, a cada povo e ao conjunto de todos os povos, essa santa reconciliação, essa divina União.



Eis porque brado aos quatro ven­tos, conclamando as almas de todos os lugares, e com elas as sagradas reser­vas prometidas à nossa fidelidade. Elas haverão de cumprir o que eu desejaria ter realizado, não fora isso obra do Es­pírito humano inteiro, harmonizado no Espírito divino e munido de todas as alavancas que me faltam: Sinarquia! Sinarquia!



A Grande Rebelião. Origem dos Boêmios. 
Os Faquires. A Grande Potência Celeste: o Éter



A Agartha, desde há muitos séculos, compete aos discípulos a tarefa dos ser­viços domésticos por eles executados em brigadas semanais, sob a vigilância dos Templários que fazem o serviço militar de policiamento. Tal coisa não era assim, na época anterior a Sáquia-Muni, quando populações inteiras de subalter­nos faziam esse trabalho, vindo à cela dos Dwijas, às casas dos Pundits, aos laboratórios e observatórios da Univer­sidade. Eis a origem dessa modifica­ção, da qual provém grande número de seitas, umas mais, outras menos inocen­tes ; estas mais aquelas menos ferozes.



Quando o cisma budista explodiu, além fronteiras deu-se, entre os servi­dores engajados na Metrópole universi­tária, uma espécie de sublevação polí­tica. Sabendo-se bastante numerosos, quiseram eles derrubar a Hierarquia dos Senhores e dos Poderes para, sobre esses destroços, entronizar uma bela anarquiazinha, à sua maneira...



Os varredores das salas de filosofia se puseram a pregar contra os Mistérios e, sobretudo, contra as condições da Iniciação. Os das oficinas, laboratórios e observatórios pretendiam erigir-se em doutores e praticarem de roldão a magia.



Como era de se esperar, decaíram inevitavelmente para a magia negra e conseguiram, graças ao fato de terem recorrido a certas fórmulas, evidente­mente estropiadas, obter algumas res­postas, vindas de baixo, às determina­ções que pretenderam ditar, de cima.



Foi então que teve lugar uma expul­são em massa, expulsão que deu origem a várias tribos, algumas sedentárias e outras nômades. Dentre as primeiras houve uma que ensangüentou a Índia inteira, tendo construído um ídolo de pedra cujas mandíbulas devoravam ma­nadas imensas de bois. Mais tarde, esses ferozes idiotas, que serviam o ven­tre do terrível Moloch, passaram a ofe­recer-lhes sacrifícios humanos. Inúmeras foram as criaturas imoladas e os sábios que pereceram, triturados pelos maxila­res da monstruosa Besta. Isso durou sé­culos inteiros. Atualmente, se bem que as maxilas do ídolo de há muito se encontrem fora de uso, ainda existe a sei­ta, em que serve o punhal, embora já enfraquecida e contrariada, em todos os sentidos, graças à intervenção da Agartha.



Dentre as tribos menos culpadas, expulsas da grande Universidade ao no tempo que a precedente, uma e, nômade, que desde o século XV ;ta através de toda a Europa suas estranhas práticas. Tal é, efetivamente, a verdadeira origem dos Boêmios (Bohami, ou seja: afasta-te de mim...). Essa pobre gente levou consigo algumas vagas e poucas recordações, fórmulas envoltas num amontoado de superstições ou menos grosseiras. Um dia irão eles à verdadeira pátria de ori­gem quando o hálito sinárquico tiver restituído à Índia o antigo Espírito de organização primitiva, autêntica, e boa.



Seria impossível referir-me aos ex­pulsos da Agartha sem dedicar algumas palavras a seus mais humildes fiéis, a gente que consagra a vida a per­correr a Índia, encantando-a com surpreendentes prodígios. Os faquires são, na maioria dos casos, antigos alunos de Agartha, alunos que estacaram, justa­, no momento em que deveriam ingressar nos mais altos graus, tendo-se desde então a uma vida religiosa análoga à dos monges mendicantes da Idade Média. Sua ciência, ou melhor, sua arte não é, na maioria das nada mais que simples migalhas da mesa sagrada dos ensina­mentos esotéricos. Entretanto, os segre­dos os gurus da Universidade lhes ministraram são bem reais; e sua hu­milde missão tem por objetivo levar, até a última das aldeias, alguns vislum­bres fenomênicos que provem aos hin­dus que a antiga Ciência ainda se conserva, no luminoso lar.



O inefável Agente, o Elemento sa­grado, que serve de Carro ao Eterno e às suas divinas Faculdades, denomina-se Éter, em todas as línguas; Akasha, em sânscrito. O Éter é um elemento vivo que causa embriaguez indizível, uma embriagues santificada, toda espi­ritual, que a inteligência pode, entretan­to, dominar de maneira a conservar a razão e consciência individuais, conser­vando o corpo (esforço bem difícil) em estado de vigília. É então que o Invisí­vel se torna visível ao olhar. A maioria dos fenômenos causados pelos faquires é devida à principal força celeste, à qual denominamos Éter. Antes de em­preender sua peregrinação, o faquir faz provisão dela, nos templos, transfor­mando-se numa verdadeira pilha elétri­ca humana. Dentre os agentes químicos que permitem aos faquires o transfor­mar-se, durante certo tempo, em con­densadores saturados de Éter e de mag­netismo terrestre, existe um que, embo­ra perfeitamente conhecido em nossos laboratórios, nem sequer desperta sus­peitas quanto às suas propriedades ocul­tas e fisiológico-dinâmicas.



Durante o êxtase, as extremidades do corpo do faquir são saturadas pela referida substância e ele se torna um verdadeiro archote vivo do qual se apo­dera um duplo fogo: etéreo, no alto, e magnético, na base.



Essa pobre gente necessita de fé, de vontade e de abnegação inabaláveis, para poder solicitar e aceitar, de boa vontade, uma tal combustão vital. Qua­se todos morrem jovens, mas tendo tido a consolação de ter cumprido sua mis­são para com os mais deserdados de seus compatriotas e de ter gozado, eles mesmos, do Oceano ininterrupto de vi­sões indescritíveis, no seio do qual vão buscar a força da qual eles são, exte­riormente, o vivo testemunho.



Os Oito Elementos e as Quatro Potências Cosmogônicas



A doutrina esotérica dos Vedas con­ta 8 elementos físicos, cósmicos e divi­nos e, conseqüentemente, 8 ordens de Espíritos que presidem à constituição orgânica desse elementos. São eles: Bvumir, Apo, Analo, Vayus, Ram, Ma­no, Buddir e Ahankara.



A mesma doutrina a isso acrescenta 4 Potências cosmogônicas: Agnael, Yamael, Varanael e Ouvael.



Sob outras denominações, as mes­mas Potências são enunciadas no texto da Cosmogonia egípcia e agartina de Moisés. Seria possível uma relação cons­ciente entre o Homem e tais Poderes? Ainda hoje a Universidade declara que sim, e o demonstra experimentalmente.



Evolução dos Agartinos



A Constituição do Planeta e do Cos­mos é ali conhecida, até mesmo em seus menores detalhes, tanto materiais quan­to essenciais; tanto visíveis quanto in­visíveis. Tudo foi aprofundado: desde as entranhas ígneas do globo até os rios subterrâneos de gás e de águas doces ou salinas até os seres vivos que habitam essas flamas, esses gases ou essas águas.



Tudo foi penetrado através da ex­tensão e dos abismos dos mares; até o tropel das correntes magnéticas que se interpenetram, de um pólo a outro, em longitude, e de um trópico a outro em latitude. Tudo foi desvendado, nos ares, até as essências invisíveis que ali permanecem, até a eletricidade que ali desenvolve seus ecos, após ter sido for­mada nas entranhas do globo, para onde tende a regressar.



Frotas aéreas de balões dirigíveis le­varam sua observação a um grau incom­preensível para nossos métodos atuais. Tudo foi revelado, até mesmo as har­monias universais produzidas pelas qua­tro estações terrestres, até a migração das almas pelo Pólo Norte; esse ignoto Monte Meru e esse indecifrável Alborj dos livros védicos e pahlevis.



Estradas elétricas, e não de ferro, mas de vidro forjado e maleável, sul­caram o antigo Império de Aries sem que, por isso, o Planeta fosse impru­dentemente empobrecido de suas reser­vas carboníferas, tal como acontece ho­je em dia; sem que fosse ele sobrecar­regado por uma armadura de ferro tanto imprudente quanto propícia à pro­pagação de certos flagelos cósmicos...


Dhâranâ 15/16 - 1961


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 (1) Nota da Redação:



- Missão dos Soberanos - 1882

- Missão dos Judeus - 1884

- Missão da Índia - 1886, esta obra foi destruída pelo autor só sobrando um exemplar (título completo: Missão da índia na Europa, Missão da Europa na Ásia, a questão do Mahatura e sua solução)

- Missão dos franceses ou a Verdadeira França - 1887
- Missão dos Trabalhadores - obra à parte.


 www.portaldeaquario.com.br/texto/Saint-Yves-DAlveydreeaAgartha.htm
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