sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SISTEMAS GEOGRÁFICOS Programa Vida Inteligente




Enviado por em 09/02/2012

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Os centros de forças do corpo do planetário da ronda, estão espalhados estrategicamente pela crosta terrestre. São os esotericamente chamados Sistemas Geográficos. Estas regiões correspondem sempre a embocaduras ou entradas para os mundos subterrâneos. De acordo com o desenrolar da evolução, determinados Sistemas Geográficos são desativados para dar nascimento a outros Sistemas Geográficos, que correspondam a uma nova tônica evolutiva. Em verdade, os Sistemas Geográficos na sua parte interior, regiões subterrâneas que correspondem com as da superfície terrestre, são os depositários de todas as experiências do passado, onde estão sendo guardadas as experiências do presente e onde está concentrado todo o potencial das futuras civilizações. Jorge Antonio Oro é nosso convidado.

"Devemos fazer luz sobre tudo aquilo que o povo desconhece"

PROGRAMA VIDA INTELIGENTE
com Eustáquio Patounas
Quinta-Feira, 8 às 9 da noite, AO VIVO
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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O GOVERNO OCULTO DO MUNDO




Enviado por em 23/02/2011

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O Governo Oculto do Mundo tem sua origem nos meados da 3ª Raça Mãe, a Lemuriana. É composto pelos Seres que se interiorizaram quando da catástrofe Atlante. Aqueles Seres Divinos que habitavam a Atlântida quando houve a interiorização, passaram para o interior da Terra e de lá controlam, governam o Mundo, naturalmente dispondo dos três poderes do Eterno: Onipotência, Onipresença e Onisciência. Estão a par de tudo o que acontece, acompanhando o direcionamento da humanidade. É composto por um Rei e suas duas colunas, com o poder Temporal e Espiritual, (Sacerdotal). Todo ser iluminado avataricamente ou por iniciação, desde que esteja de posse do conhecimento de certos mistérios, faz parte do culto que tem o nome de Igreja de Melki-Tsedek, que está acima de todas as manifestações religiosas, pois é a que verdadeiramente torna a ligar (religo-religare) o homem ao Divino. Jorge Antonio Oro nos traz muitas revelações e esclarecimentos sobre o Governo Oculto do Mundo.

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A HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL - PARTES 3 E FINAL




Enviado por em 25/02/2011
 
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Quando falamos no "homem ante-diluviano" estamos nos referindo ao homem atlante da 4ª Raça-Raiz antecessora da 5ª Raça-Raiz, a Ária ou Ariana.

 Boa parte do Período Terciário correspondeu ao da existência dessa raça, e é dessa época que se registam os primeiros afloramentos humanos, cientificamente aceitos, no Brasil.

 O homem brasileiro original, Tupi-Guarani, é todo ele descendente degenerado dessa raça em cujo continente vasto, hoje a maior parte sepultado sob o Atlântico, oceano que lhe herda o nome, o Brasil se integrava.

 Era Pedro Álvares Cabral um Templário? Ele "descobriu" o Brasil "por acaso"? Quem eram os Tupinambás Tibiriçá, Icaraí e Saixê?

Quem foi José de Anchieta?
Fenícios no Brasil?

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A HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL - PARTES 1 E 2 PROGRAMA VIDA INTELIGENTE




Enviado por em 25/02/2011
 
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Quando falamos no "homem ante-diluviano" estamos nos referindo ao homem atlante da 4ª Raça-Raiz antecessora da 5ª Raça-Raiz, a Ária ou Ariana.

 Boa parte do Período Terciário correspondeu ao da existência dessa raça, e é dessa época que se registam os primeiros afloramentos humanos, cientificamente aceitos, no Brasil.

 O homem brasileiro original, Tupi-Guarani, é todo ele descendente degenerado dessa raça em cujo continente vasto, hoje a maior parte sepultado sob o Atlântico, oceano que lhe herda o nome, o Brasil se integrava.

 Era Pedro Álvares Cabral um Templário? Ele "descobriu" o Brasil "por acaso"? Quem eram os Tupinambás Tibiriçá, Icaraí e Saixê?

Quem foi José de Anchieta?
Fenícios no Brasil?

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    JUNG E O DESCONHECIDO O DISCURSO DE FU DAISHI




    JUNG E O DESCONHECIDO
    O DISCURSO DE FU DAISHI

    Rogério Malaquias
    91/Nova Friburgo


    A palavra "Inconsciente", tanto e tão descuidadamente usada, banalizou-se a tal ponto que leva a crer que quem a usa sabe perfeitamente do que está falando. O Inconsciente, então, parece ter se tornado conhecido, parece que sabemos o que é, onde está, o que tem dentro, como se divide e subdivide... ledo engano.
    Carl Gustav Jung não cansou de chamar a atenção para o importantíssimo fato de o Inconsciente ser precisamente Inconsciente, isto é, Desconhecido. Chega a causar surpresa que algo tão óbvio merecesse um tal cuidado.
    Mas há uma explicação: é que as "coisas", quando são batizadas com um nome qualquer, só por causa disso, imediatamente parecem tornar-se conhecidas. Mesmo que aquele nome pretenda referir-se ao Desconhecido.
    Nascemos todos com uma grande ânsia de conhecer, situarmo-nos no mundo, estabelecer pontos de referência, cercar um território, e quando julgarmos conhecer o bastante para que nossa ânsia se acalme, quando acreditamos poder descansar, dormir em paz, então começamos a temer que o nosso precioso conhecimento desapareça num repente.
    Passamos a ansiar por não-conhecer! O Novo pode roubar-nos alguma coisa antiga, alguma certeza fundamental. Antes só tínhamos a ganhar, agora temos o que perder. E apesar de quase sufocados, viciados, presos à velhas tramas do passado (teias que uma vez tecemos e agora nos capturam), apesar mesmo dos sonhos de renovação que ainda persistem e estimulam o caminhar, tornamo-nos hostis ao Desconhecido.
    Mantemo-Lo à distância para que não venha e nos assuste, ou transforme. Queremos que Ele retorne ao Caos, de onde saiu. Quando não podemos ignorá-Lo, fingir que não O vimos, lançamos mão de nossos carimbos apressadamente e, aliviados, acreditamos te-Lo paralisado dentro de alguma palavra altissoante. Em seguida só nos restará a infinita e triste tarefa de colecionador de nomes.
    Se desejamos avançar sobre o Desconhecido, conhecendo-O mais e mais, então precisamos saber que nos tornamos sujeitos à muitas e incríveis armadilhas, e a primeira delas é esta: a ilusão de que já conhecemos o Desconhecido, só porque arranjamos para Ele uma nova palavra, ou algum novo conceito da moda.
    Vivemos numa espécie de ilha, ou bolha, de luz entretidos com as mil coisas do dia-a-dia. Conhecemos muitas coisas, temos muitos amigos, objetos, claros desejos. Sabemos o caminho de casa, o nome das ruas, já viajamos por tantos lugares, aprendemos palavras, teorias, comportamentos, artimanhas de toda a espécie. Dominamos uma língua, moramos num país, desenvolvemos critérios para julgar as pessoas.
    Podemos, talvez, viver uma vida inteira só às voltas com o conhecido sem ligar muita atenção às nossas dúvidas mais íntimas, e às contradições e ambiguidades do que fazemos. Podemos não dar importância aos nossos sonhos e delírios, podemos acender todas as lâmpadas e tentar ignorar a noite, as trevas e o vazio.
    Podemos jamais perceber que esta zona de luz está cercada por um abismo infinito, estranho e desconhecido.
    Não estamos apenas cercados, mas penetrados. E ainda muito mais do que apenas penetrados, estamos quase completamente à mercê do que não sabemos.
    Se paramos um pouco e lançamos em torno uma mirada honesta, podemos não reconhecer o que nos parecia óbvio, podemos nos sentir traídos. Ficaríamos admirados com nossa capacidade de nos iludir, levaríamos um susto ao ver trevas onde parecia haver luz.
    Cada coisa que imaginamos conhecer carrega consigo o seu quinhão de sombras, seu mistério, seu infinito. O Desconhecido está em toda em toda parte: bem diante de nós, atrás, à esquerda e à direita. Está abaixo e acima de todos e cada um de nós. O Desconhecido está dentro e fora de nós. Entre nós. E se houver um Centro de tudo o que existe, Ele estará lá e será Ele o Centro.
    Estas considerações nos remetem diretamente às questões da Psicologia Analítica, elaboradas por Jung e seus discípulos. Poderemos, talvez, compreender como a consciente convivência com o Desconhecido pode abrir novas e importantes perspectivas para o Ego, desde as origens apavorado ante o abismo de si mesmo.
    Caminhando juntos por essa região intermediária, verdadeira terra-de-ninguém, entre o Eu e o Outro, entre o Ser e o Não-Ser, o Alto e o Baixo, o Espírito e a Matéria, a Vida e a Morte, entre a Sabedoria e a Loucura, vamos acostumando os nossos olhos à uma meia-luz, à uma meia verdade, aos povos da fronteira. Vamos aprendendo pouco a pouco o dialeto e esquisito diálogo com os personagens do sonho e dos mitos, a intimidade com as metáforas poéticas.
    Acompanhando com cuidado, para não perde-lo, o profundo sentido da palavra "Inconsciente" que significa tão simplesmente "O Desconhecido", abordemos os conceitos básicos da Psicologia Junguiana. As noções de Símbolo, Arquétipo e Complexo, a Dissociação Psíquica e o Processo de Integração da Personalidade.
    O Desconhecido é o fascinante e assombroso, é completamente presente, real e próximo. É o que nos faz dormir e acordar, apagar e acender, o que nos traz prazer e dor, amor e ódio. Pode nos parecer terrível e apavorante como um dragão, a ponto de não nos animarmos a olhar em volta e ve-Lo nas faces, mas é em sua direção que devemos olhar se buscamos o sentido do Sagrado, um sentido para a Vida.
    O discurso de Fu Daishi
    Se agora, neste exato momento em que começamos nosso pequeno curso sobre o Desconhecido, depois de algum silencio, eu me levantasse e fosse embora sem dizer qualquer palavra, e não voltasse mais aqui, o que vocês sentiriam? Certamente ficariam muito surpresos e, por alguns segundos não entenderiam nada. Logo começariam a se perguntar o que tinha acontecido e achariam uma resposta qualquer. Tenho certeza que pensariam que eu sou um maluco e pediriam o dinheiro de volta. Comentariam indignados, uns com os outros, o tempo que eu lhes teria feito perder e os mais bem humorados fariam piadas debochando de mim.
    Eu não vou fazer isso. Mas foi isso exatamente o que fez um grande mestre budista há 1400 anos atrás, com o agravante de ter como platéia nada menos que o poderoso Imperador Wu, da dinastia Liang, no sul da antiga China, cercado por todos os seus ministros e nobres. O monge era o Mestre Fu (Fu Daishi).
    Conta o Hekigan Shu, uma coleção de pequenas histórias sobre os mestres Zen na China, que o tal monge fora convidado a falar sobre o Sutra do Diamante no salão principal do seu palácio. O Imperador convertera-se recentemente ao budismo e demonstrava grande interesse no estudo da doutrina.
    Logo após ser anunciado, Fu Daishi, diante de todos, ficou algum tempo a observar atentamente a platéia, até que de repente, ergue o seu cajado de andarilho e dá uma violenta batida no chão. E vai embora.
    Outra versão diz que ele apenas sentou-se em seu lugar, como se já tivesse terminado a sua preleção. Sem dizer palavra.
    Alguém perguntou ao Imperador se ele tinha entendido.
    -- Ué !? Entendido o quê ? Espantou-se o Imperador, por que ele não começa logo a falar ?
    -- Porque a palestra do Daishi já terminou, Majestade.
    Só podemos imaginar o que teria acontecido. Estivéssemos lá, talvez uma grande emoção fizesse com que jamais esquecêssemos aquele estranho sermão. A audácia daquele monge rompeu a série interminável das coisas esperadas, evitou que os ensinamentos do Sutra se transformassem em mero entretenimento intelectual. Fu Daishi não falou do Diamante, mostrou-O.
    Não se sabe se alguém, naquele momento, compreendeu a mensagem do Mestre, mas alguma coisa aconteceu, ou sua história não teria atravessado tantos séculos e nem estaríamos nós, hoje, a recontá-la. É uma grande história, e muito importante porque nos chama a atenção para a Atenção. Podemos intuir a estranheza do momento único que estamos vivendo juntos, agora! Fu Daishi sublinhou esta estranheza ao invocar o Desconhecido. Chamou o Inesperado e mostrou-O à corte.
    Vajra, em sânscrito, é o Diamante, mas significa também o Raio. Não foi um raio, um relâmpago, o que se desencadeou naquele dia ?
    Diante do Desconhecido, por um momento ficamos sem palavras, atônitos, boquiabertos, e depois, no momento seguinte, ao tentar descreve-Lo, todas as palavras do mundo parecem insuficientes. Às vezes, mesmo assim, passamos talvez o resto da vida a faze-lo.
    Fu Daishi chamou o Dragão e exibiu-O no grande palácio de Liau.
    Abriu-se ali o Grande Abismo, o Vazio Sagrado de onde nascem todas as coisas. O instante mesmo da Criação.
    Citações
    O Inconsciente como Desconhecido
    "Tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido pelo próprio consciente. A psique inconsciente, cuja natureza é completamente desconhecida, sempre se exprime através de elementos conscientes e em termos de consciência, sendo esse o único elemento fornecedor de dados para a nossa ação. Não se pode ir além desse ponto, e não devemos esquecer que tais elementos são o único fator de aferição crítica de nossos julgamentos."
    Carl Jung
    Fundamentos de Psicologia Analítica. Ed. Vozes / 1983, pg 3.
    "A consciência é como uma superfície ou película cobrindo a vasta área inconsciente, cuja extensão é desconhecida. Ignoramos a extensão do domínio inconsciente pela simples razão de desconhecermos tudo a seu respeito. Não se pode dizer coisa alguma a respeito daquilo sobre o qual nada se sabe... Quando dizemos 'inconsciente' o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma coisa , mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de sua natureza... Há apenas provas indiretas sobre a existência de uma esfera mental de ordem sublime. Temos muito pouca justificação científica que prove em última instância sua existência. A partir dos produtos desse "eu" inconsciente podemos tirar determinadas conclusões quando quanto a sua possível existência. Entretanto, todo cuidado será pouco para não cairmos num antropomorfismo exagerado, pois os fatos, em sua realidade, podem ser bastante diferentes da imagem que a nossa consciência forma deles."
    Ibid. pg 4. Jung.
    "Se, por exemplo, tomarmos o mundo físico e o compararmos à imagem que dele é formada pelo consciente, descobriremos todo tipo de idealizações mentais, que não existem como fatos objetivos; assim, essa crítica deverá nortear todo ponto de vista e a afirmação que eu fizer ao longo das conferências, quando tratar do inconsciente. Tudo será COMO SE, e vocês nunca deverão esquecer tal restrição."
    Ibid. pg 5. Jung.

    "A psicologia não é magia negra; é uma ciência: a ciência da consciência e deus dados; é, também, a ciência do inconsciente, mas só em segundo lugar, pois o inconsciente não é diretamente acessível, precisamente porque é inconsciente. É certo que existem pessoas que não temem afirmar: 'O inconsciente carece de segredos para mim; eu o conheço como a palma da minha mão'. Eu lhes respondo então: 'Você talvez tenha vasculhado toda a sua consciência, mas seu inconsciente você o desconhece completamente, pois o inconsciente é, na verdade, inconsciente; é, precisamente, aquilo sobre o qual não temos qualquer informação. Não esqueçamos este preâmbulo; pois o termo 'inconsciente' é utilizado com demasiada despreocupação, falando-se, por exemplo, em informações ,idéias, imagens, fantasias inconscientes, etc. Este é um deplorável costume verbal. (...) Com todo rigor deveríamos dizer: uma representação imaginativa que foi inconsciente; pois o inconsciente deposita nas praias da consciência uma multiplicidade de coisas, e quando as chamamos 'inconscientes' não se faz nada além de designar a sua origem. (...) A psique inconsciente é de natureza inteiramente desconhecida; seus produtos são expressos sempre pela consciência em termos de consciência, isto é tudo o que podemos fazer; Não podemos passar daqui e devemos ter sempre presentes estas circunstâncias em nossa mente como último critério de nosso juízo, quando tratamos de inferir, a partir da qualidade particular dos produtos do inconsciente, a natureza daquilo de onde devem ter saído."
    Carl Jung
    "L'homme à la decouverte de son ãme".
    Traduzido de "Los Complejos y el Incosciente ".
    Alianza Editorial / Madrid, 1970. pg 85, 86.

    "Teoricamente é impossível fixar limites no campo da consciência, uma vez que ela pode estender-se indefinidamente. Empiricamente, porém, ele sempre atinge seus limites, ao atingir o desconhecido. Este último é constituído por tudo aquilo que ignoramos, por aquilo que não tem qualquer relação com o eu, centro dos campos da consciência".
    Carl Jung
    Memórias, Sonhos e Reflexões.
    Editora Nova Fronteira / Rio de Janeiro, 1975. pg 354.


    A consciência ante o Desconhecido

    "Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade."
    Carl Jung
    Memórias, Sonhos e Reflexões.
    Editora Nova Fronteira / Rio de Janeiro, 1975. pg 19.

    "Cada vida é um desencadeamento psíquico que não se pode dominar a não ser parcialmente. Por conseguinte, é muito difícil estabelecer um julgamento definitivo sobre si mesmo ou sobre a própria vida. Caso contrário, conheceríamos tudo sobre o assunto, o que é totalmente impossível. Em última análise: nunca se sabe como as coisas acontecem. A história de uma vida começa num dado lugar, num ponto qualquer de que se guardou lembrança e já, então, tudo era extremamente complicado. O que se tornará essa vida, ninguém sabe. Por isso a história é sem começo e o fim é apenas aproximado indicado."
    Ibid. pg. 19. Jung.
    "A vida sempre se me afigurou uma planta que extrai sua vitalidade do rizoma; a vida, propriamente dita, não é visível, pois jaz na rizoma. O que se torna visível sobre a terra dura só um verão, depois fenece... Aparição efêmera. Quando se pensa no futuro e no desaparecimento infinito da vida e das culturas, não podemos nos furtar a uma impressão de total futilidade; mas nunca perdi o sentimento da perenidade da vida sob a eterna mudança. O que vemos é a floração, e ela desaparece. Mas o rizoma persiste."
    Ibid. pg. 20. Jung.

    "Sinto-me contente de que minha vida tenha sido aquilo que foi: rica e frutífera. Como poderia esperar mais? Ocorreram muitas coisas, impossíveis de serem canceladas. Algumas poderiam ter sido diferentes, se eu mesmo tivesse sido diferente. Assim, pois, as coisas foram o que tinham de ser; pois foram o que foram porque eu sou como sou. Muitas coisas, muitas circunstâncias foram provocadas intencionalmente, mas nem sempre representaram uma vantagem para mim. Em sua maioria dependeram do destino. Lamento muitas tolices, resultantes de minha teimosia, mas se não fossem elas não teria chegado à minha meta. Assim, pois, eu me sinto ao mesmo tempo satisfeito e decepcionado. Decepcionado com os homens, e comigo mesmo. Em contato com os homens vivi ocasiões maravilhosas e trabalhei mais do que eu mesmo esperava de mim. Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno homem e o fenômeno vida são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo.
    Sinto-me espantado, decepcionado e satisfeito comigo. Sinto-me triste, acabrunhado, entusiasta. Sou tudo isso e não posso chegar a uma soma, a um resultado final. É para mim impossível constatar um valor ou um não-valor definitivos; não posso julgar a vida ou a mim mesmo. Não estou certo de nada. Não tenho mesmo, para dizer a verdade, nenhuma convicção definitiva, a respeito do que quer que seja. Sei apenas que nasci e que existo; experimento o sentimento de ser levado pelas coisas. Existo à base de algo que não conheço. Apesar de toda a incerteza, sinto a solidez do que existe e a continuidade do meu ser, tal como sou.
    O mundo no qual penetramos pelo nascimento é brutal, cruel e, ao mesmo tempo, de uma beleza divina. Achar que a vida tem ou não tem sentido ´e uma questão de temperamento. Se o não-sentido prevalecesse de maneira absoluta, o aspecto racional da vida desapareceria gradualmente com a evolução. Não parece ser isto o que acontece. Como em toda questão metafísica, as duas alternativas são provavelmente verdadeiras: a vida tem e não tem sentido, ou então possui e não possui significado. Espero ansiosamente que o sentido prevaleça e ganhe a batalha.
    Quando Lao-Tse diz: 'Todos os seres são claros, só eu sou turvo', exprime o que sinto em minha idade avançada. Lao-Tse é o exemplo do homem de sabedoria superior que viu e fez a experiência do valor e do não-valor, e que no fim da vida deseja voltar a seu próprio ser, no sentido eterno e incognoscível. O arquétipo do homem idoso que contemplou suficientemente a vida é eternamente verdadeiro; em todos os níveis da inteligência, esse tipo aparece e é idêntico, quer se trate de um velho camponês ou de um grande filósofo como Lao-Tse.
    Assim, a idade avançada é... uma limitação, um estreitamento. E no entanto acrescentou em mim tantas coisas: as plantas, os animais, as nuvens, o dia e a noite e o eterno no homem. Quanto mais se acentuou a incerteza em relação a mim mesmo, mais aumentou meu sentimento de parentesco com as coisas. Sim, é como se essa estranheza que há tanto tempo me separava do mundo tivesse agora se interiorizado, revelando-me uma dimensão desconhecida e inesperada de mim mesmo.
    Carl Jung
    Ibid. pg. 309,310.

    "Quanto mais profundas forem as 'camadas' da psique, mais perdem sua originalidade individual. Quanto mais profundas, mais se aproximam dos sistemas funcionais autônomos. mais coletivos se tornam, e acabam por universalizar-se e extinguir-se na materialidade do corpo, isto é, nos corpos químicos. O carbono do corpo humano é simplesmente carbono; no mais profundo de si mesma, a psique é o Universo."
    Carl Jung
    Ibid. pg. 355.

    "Duas almas vivem aqui no meu peito,
    uma querendo separar-se da outra:
    uma se agarra, em sensual enleio
    e com seus órgãos feito âncoras, ao mundo;
    a outra se ergue do pó às alturas antiquíssimas."
    Fausto / Noite, I. Wolfgang Goethe.

    "Não sei Quem, ou o Quê, fez a pergunta. Não sei quando a fizeram. Nem mesmo me lembro de tê-la respondido. Mas em algum momento eu disse Sim a Alguém, ou Algo, e dessa hora em diante tive a certeza de que a existência era significativa e, portanto, minha vida possuía, na auto-entrega, um objetivo."
    Dag Hammerskjold
    Citado em
    "A Gnose de Jung e os Sete Sermões aos Mortos",
    de Stephan Hoeller.
    Cultrix / São Paulo, 1995. pg 168.

    "Em Alguma parte, alguma vez, houve uma Flor, uma Pedra. um Cristal; uma Rainha, um Rei, um Palácio; um Amado e uma Amada, há muito tempo, no Mar, numa Ilha, há cinco mil anos... É o Amor, é a Flor Mística da Alma, é o Centro, é o Si-Mesmo... Ninguém entende isso, a não ser alguns poetas, somente eles me compreenderão..."
    Carl Jung
    O Círculo Hermético, Hermann Hesse a C.G. Jung.
    Editora Brasiliense / São Paulo. 1970. pg.77. Miguel Serrano.

    XI
    "Trinta raios convergem para o centro da roda
    mas é o vazio entre eles que faz o veículo andar.

    Modela-se a argila para fabricar o jarro
    mas é do vazio no centro que depende a sua utilidade.

    Uma casa é perfurada por portas e janelas
    e é ainda o vazio que nos permite habitá-la.

    O Ser dá as possibilidades
    mas é pelo Não-Ser que as realizamos.
    Tao Te Ching..Lao-Tse.

    "O Mostrengo"
    O Mostrengo que está no fim do mar
    na noite de breu ergueu-se a voar;
    à roda da nau voou três vezes,
    voou três vezes a chiar,
    e disse, "Quem é que ousou entrar
    nas minhas cavernas que não desvendo,
    meus tetos negros do fim do mundo?"
    E o homem do leme disse, tremendo,
    "El-Rei D. João Segundo!"
    "De quem são as velas onde me roço?
    de quem as quilhas que vejo e ouço?"
    Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
    três vezes rodou imundo e grosso,
    "Quem vem poder o que só eu posso,
    que moro onde nunca ninguém me visse
    e escorro os medos do mar sem fundo?"
    E o homem do leme tremeu, e disse,
    "El-Rei D. João Segundo!"
    Três vezes do leme as mãos ergueu,
    três vezes ao leme as reprendeu,
    e disse no fim de tremer três vezes,
    "Aqui ao leme sou mais do que eu:
    sou um Povo que quer o mar que é teu;
    e mais que o mostrengo, que me a alma teme
    e roda nas trevas do fim do mundo,
    manda a vontade que me ata ao leme,
    de El-Rei D. João Segundo!"
    Mensagem. II. Parte IV. Fernando Pessoa.

    Hino da Criação
    1
    Então o não-ser não existia
    nem tampouco existia o ser.
    Não existia o espaço etéreo
    nem, mais além, a abóboda celeste.
    Havia algo que se agitasse?
    Onde?
    Sob a proteção de quem?
    Existia a água,
    esse profundo e insondável abismo?
    2
    Não existia a morte,
    nem existia a imortalidade,
    nem sinal que distinguisse a noite do dia.
    Somente o Uno respirava,
    sem ar, por sua própria força.
    À parte dele
    não existia coisa alguma.

    3
    No começo só existia
    treva envolta em treva.
    Tudo era água indiferenciada.
    Princípio do vir-a-ser
    rodeado pelo vazio,
    o Uno surgiu
    pelo poder de seu próprio ardor interno.
    4
    No começo
    brotou nele o desejo,
    que foi a primeira semente da alma.
    Buscando em seus corações,
    graças a sua sabedoria,
    os sábios encontraram
    o vínculo que une o ser e o não-ser.
    5
    Transversalmente estenderam seu cordel.
    Existia um embaixo?
    Existia um encima?
    Existiam fecundadores,
    existiam energias.
    Embaixo estava o poder,
    encima estava o motivo.

    6
    Quem sabe a verdade?
    Quem pode dizer-nos
    de onde nasceu esta criação?
    Os deuses nasceram depois
    e graças à criação do universo.
    Quem pode, portanto, saber
    de onde surgiu?
    7
    Aquele que é o guardião do céu supremo,
    somente aquele, sabe
    de onde surgiu esta criação,
    tendo ele a criado, ou não.
    Ou talvez nem mesmo ele o saiba.
    Rig Veda X, 129 (Cerca de 1200 aC.).
    Traduzido de Himnos del Rig Veda.
    Editorial Sudamericana / Buenos Aires. 1968. Fernando Tola.


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    Pablo Picasso
    Li
    Fonte:
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    QUAL A CAUSA DA LOUCURA?



    Qual a origem da loucura!?

    Muito interessante o louco, desencantado, ou seja, com a nossa dimensão, escolher passar para outra onde se sente aliviado. Mas eu quero por mais pimenta nessa conversa, se os senhores assim me permitirem. Como seres viventes alguma energia nos mantém de pé e funcionando. Talvez essa energia possa ser traduzida por "alma vivente". Pensando dessa forma, esta fonte de energia pode falhar e transferir o defeito para os órgãos que ela faz funcionar. Assim, em vez de duas origens possíveis para a loucura não podemos ter três: orgânica, psíquica, e de energia?

    Esta é uma pergunta extremamente complexa, mas podemos definir de algumas formas.

    Loucura é considerado o estado alterado de comportamento em relação ao seu grupo social, ou seja, existem comportamentos diferentes em diferentes culturas, que numa primeira visão por uma pessoa de fora pode parecer um ato de loucura, mas para aquela cultura aquele habito pode ser normal.

    Louco é aquele que foge dos conceitos preconizados por um determinado grupo social.

    A origem pode ser orgânica ou psicológica.
    As causas orgânicas podem ser várias, associadas a desequilíbrios de neurotransmissores, atividade elétrica descontrolada, desequilibrios bioquímicos diversos, traumatismos, defeitos genéticos, etc...

    As causas psicológicas geralmente estão associadas a falta de capacidade de superar ou conceber uma situação na qual o indivíduo está inserido. Muitos casos de "loucura", ocorrem como consequência de um golpe emocional que a pessoa não foi capaz de superar e gerou um lapso fisiológico no funcionamento do cérebro.

    Exposição à tortura ou grandes choques também podem desencadear este processo violento de negação do que ocorreu.
    Um abraço!
    A HISTÓRIA DA LOUCURA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

      A loucura ao longo da história foi encarada de várias formas: Como falha da natureza, castigo  ou dádiva dos deuses, privação da verdade, exacerbação da vontade. E percebe-se que sua história compreende a própria história do surgimento da Psiquiatria.

    Segundo  Foulcalt, a incapacidade ao trabalho leva os loucos, juntamente com mendigos, criminosos, velhos, agitadores e  demais excluidos da sociedade a ocupar o lugar nos antigos leprosários; local que permaneceriam até a morte. Este período corresponde a grande internação (século XVII e XVIII).

    A hospitalização não possuia função médica, mas sim de reclusão, pois tinha como objetivo salvaguardar a ordem social; não havia preocupação assistêncial com os  pacientes causando a animalização destes, que sem cuidados são reunidos   em um único espaço, o que provocará movimento de reação interna contra estes internamentos. Deste modo os loucos passam a se distinguir dos demais por sua incapacidade para seguir ritmos de vida normatizada, reforçando ainda mais a necessidade de reclusão e exclusão.

    No século XVIII e início do século XIX, inicia-se um novo conceito psiquiátrico, quando os médicos Willian Tuke e Philipe Pinel (considerado o pai da Psiquiatria) empreendem a chamada "humanização dos pacientes", tirando suas correntes e introduzindo práticas terapeuticas em seu tratamento, tornando o hospital uma instituição médica. Porém esta libertação não é total, pois a busca pela cura  levará os médicos a desenvolverem novos tratamentos que acarretará o "acorrentamento mental ". 

    O hospital torna-se um local de diagnóstico e classificação, um lugar onde o saber médico é o único capaz de dizer a verdade sobre as doenças  e os métodos de tratamentos a serem utilizados. Aproveitando do seu poder médico, surgem técnicas e procedimentos como: punições, isolamento, servidão entre outros, justificados como importantes na realização do tratamento e da cura.

    Os primeiros movimentos de reforma psiquiátria no mundo ocorreram após a segunda guerra mundial e no Brasil, o processo é contemporâneo ao Movimento Sanitário que luta por mudanças nos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, pela defesa da saúde coletiva, pela equidade na oferta de serviço e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de novas tecnologias de cuidado.

    O processo de reforma psiquiátrica no Brasil compreende três momentos distintos:

    1º Momento (1978-1991): É um momento de crítica do modelo hospitalocêntrico que exclui e não trata, e de denúncia do abuso do poder médico. Em 1987, ocorre a I Conferência Nacional de Saúde Mental /RJ.

    Neste período surge o 1º CAPS/Bauru/SP, a intervenção na Casa de Saúde Anchieta/SP, a implantação do NAPS 24HORAS/SP, também são criadas cooperativas e residências para os egressos do hospital e associações. Em 1988 é criado o SUS, sob o poder do controle social, exercido através dos Conselhos Comunitários de Saúde e em 1989 tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei que regulamenta os direitos dos portadores com transtornos mentais e extinção progressiva dos manicômios no pais.

    2º Momento (1992-2000): É um período onde ocorre a ampliação da rede de atenção psicosocial, expanção do CAPS e NAPS e o programa de avaliação dos hospitais psiquiátricos. Em 1993 , ocorre a II Conferência de Saúde Mental (internacionalizada), com uma  participação  maior dos usuários.

    3º Momento (2001-2005): Em 2001, aprova-se a Lei de Reforma Psiquiátrica ( Lei 10216/01) que garante a extinção progressiva dos manicômios. Neste contexto se realiza a III Conferência Nacional de Saúde Mental, com a consolidação do novo modelo. A desistitucionalização é impulsionada com o "Programa de Volta Prá Casa". O período caracteriza-se pela construção de  rede de atenção à saúde mental substitutiva, ao modelo centrado na internação hospitalar, fiscalização e redução progressiva e programada dos leitos psiquiátricos existentes.

    Segundo Amarante, a desistitucionalização na saúde mental deve ser entendida como desconstrução de saberes, discursos e práticas psiquiátricas que sustentam a loucura reduzindo-a ao signo da doença mental e que reforçam a instituição hospitalar como a principal referência da atenção à saúde mental. Logo a desistitucionalização nos traz novos paradigmas na construção de redes substitutivas do modelo hospitalocêntrico; observa-se  novas produções no sentido de romper com o modelo anterior,  como: 

    O Centro de Atenção Psicosocial (CAPS), a formação de recursos humanos multiprofissional em saúde mental, os residenciais terapêuticos, o matriciamento (entendido como uma estratégia de interlocução de rede) , as redes sonoras (rádio) que tem objetivo de recuperar a capacidade narrativa, possibilitar a auto-gestão, o controle social através da "voz de resistência" não se fechando  só na saúde, mas ampliando-se pela cidade.

    Assim o trabalho em saúde exige também a desistitucionalização dos profissionais em saúde e segundo Rolnik, exige uma mudança em nosso modo de subjetivação, uma abertura para o estranho em nós, que é mais do que o simples respeito democrático pelo outro em seus direitos e deveres, pois é um desejo de se deixar afetar pelo outro, é um amor pela alteridade, pelo devir e pela incerteza criadora.
    Pablo Picasso
    Li
    Fonte:
    http://educasaude.arteblog.com.br/138504/
    A-HISTORIA-DA-LOUCURA-E-OS-MOVIMENTOS-SOCIAIS/

    domingo, 5 de fevereiro de 2012

    ANTROPOGÊNESE - TEILHARD DE CHARDIN




    Antropogênese:
    A Concepção de Homem em Pierre Teilhard de
    Chardin

    Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE
    Alex Gonçalves Pin
    Antropogênese:
    _________________________
    Belo Horizonte – MG
    2008
    1
    Dedico este trabalho a dois companheiros
    jesuítas que descobriram a grandeza de
    Teilhard de Chardin e num gesto audacioso
    escreveram obras que me auxiliaram nesta
    pesquisa: aqui meu respeito e admiração a
    Pedro Dalle Nogare e H. C. de Lima Vaz.
    2
    Apenas numa unificação pessoal com
    algo de pessoal no todo, com a
    personalidade do todo, poderemos ser
    fundamentalmente e inexaustivamente
    felizes. Tal é o último apelo do que se
    chama amor. Logo, a substancial alegria
    da vida encontra-se na consciência de
    que, através de tudo o que
    experimentamos, criamos, suportamos,
    descobrimos ou sofremos, em nós
    mesmos ou no próximo, em toda e
    qualquer linha possível, de vida ou de
    morte, aumentamos por degraus o
    crescimento da Alma ou Espírito
    universais1.
    Pierre Teilhard de Chardin
    SUMÁRIO
    1 –
    Introdução

    2 – PRIMEIRO CAPÍTULO – A mensagem teilhardiana e a lei da
    evolução
    2.1 – A mensagem teilhardiana
    2.2 – A lei da evolução
    3 – SEGUNDO CAPÍTULO – O sentido da evolução e o terceiro infinito
    3.1 – O sentido da evolução
    3.2 – O terceiro infinito
    4 – TERCEIRO CAPÍTULO
    Consciência reflexiva, transcendência e
    imanência

    5 – Conclusão - Bibliografia

    INTRODUÇÃO
    Existem na história da cultura personalidades de grande relevância,
    cuja contribuição através de escritos e grandes feitos encetaram um novo
    rumo ou significado à marcha da humanidade. Há, pois, personalidades que,
    para além de escritos e feitos, marcam a história, fundamentalmente, pelo que
    são e pelo modo de viverem o cotidiano. Essa foi, em muitos sentidos, a
    complexa e poliédrica personalidade do padre jesuíta Pierre Teilhard de
     Chardin2, afamado cientista, pesquisador incansável e profeta místico do nosso tempo.
    Teilhard de Chardin exerce um fascínio especial sobre os seus
    leitores pela visão do homem que ele apresenta: uma visão dinâmica,
    evolutiva, colocada numa justa relação com a visão do universo. Este, pois, não é mais concebido como uma realidade estática, mas, conforme os dados mais recentes das ciências positivas, é uma realidade em movimento, em evolução.
    O pensamento de Teilhard de Chardin, em seu conjunto de obras,
    forma uma concepção da totalidade do universo; i.é, mundo, homem, Deus.
    Trata-se da articulação das ciências empíricas, em especial a física, filosofia e
    teologia numa única ciência superior do fenômeno. O plano sobre o qual
    Teilhard de Chardin trabalha é exatamente este: o fenomênico, mas o
    fenômeno em sua totalidade. Nas palavras de Teilhard de Chardin, ver e fazer
    ver.
    No presente trabalho pretendo fazer ver a concepção de homem – e
    não mais que esta – possível de ser encontrada na principal obra de Teilhard
    Chardin, O Fenômeno humano3. Portanto, apresso-me em dizer: estarei
    fazendo um certo recorte que ajude a ver o homem dentro deste plano:
    mundo, homem, Deus. O recorte começa com a obra, estarei usando
    exclusivamente o livro citado, com particular atenção à terceira parte
    destinada a tratar o pensamento.
    Outra advertência importante é quanto à necessidade de entender
    que Teilhard de Chardin não é um pensador de escritório, mas um filho do
    mundo, um peregrino cujo pensamento tem um correlato vivencial. Sua obra
    não é sistemática, mas, no conjunto, forma um sistema que é evidência do
    fenômeno. Nesse sentido, esforcei-me para reproduzir o modo de expressão
    teilhardiano – valor vivencial da experiência expressa em um discurso de
    linguagem coloquial em primeira pessoa.

    A seqüência deste trabalho é: apresentação da mensagem
    teilhardiana seguida da compreensão particular que o jesuíta tem da evolução.
    O segundo capítulo retoma o primeiro, procurando evidenciar mais o modo de
    Teilhard de Chardin conceber o homem e, arrematando, pois, no terceiro
    capítulo, procuro inferir uma resposta – e basta que seja plausível – acerca da
    questão qual a concepção de homem em Teilhard de Chardin.
    Sabendo da ousadia desse projeto, reservo espaço à possibilidade de
    não concluí-lo como gostaria e antecipo-me em apresentar minhas desculpas:
    se a concepção teilhardiana de homem não abrir novas perspectivas à
    pesquisa antropológica, a falha é toda minha, mas se as abrir, então,
    evidenciei a grandeza e a atualidade do pensamento deste companheiro
    jesuíta.

    PRIMEIRO CAPÍTULO - A mensagem teilhardiana e a lei da evolução
    2.1 – A mensagem teilhardiana
    Para bem compreender a situação de Teilhard de Chardin, o sentido
    de sua visão, é preciso levar em conta as coordenadas fundamentais que
    definem o espaço cultural e espiritual da construção teilhardiana. Em
    particular, interessa-me ver a situação em que se encontra o ser humano e o
    que propõe Teilhard de Chardin. E nesse sentido, sua concepção de homem é
    nova, não por ser uma visão que partiu do nada, mas por ter feito crescer, em
    um terreno que parecia estéril, uma floração nova de problemas e de
    perspectivas de respostas.
    6
    A difusão prodigiosa da mensagem teilhardiana mostra com
    irrefutável evidência que o jesuíta caminhou no sentido de uma das mais
    profundas aspirações do homem cristão contemporâneo no campo da cultura,
    da integração, numa visão coerente do mundo, a saber, o que é o homem e
    qual a posição que lhe é reservada no universo.

    Teilhard de Chardin procurou fazer convergir a práxis científica e a
    representação da realidade que dela resulta com a visão cristã. Assim, ele
    proporcionou uma nova concepção de homem que decorre do encontro da
    mais vigorosa tradição espiritual do Ocidente e os instrumentos decisivos de
    interpretação e transformação do mundo; i.é, as ciências modernas, cuja
    utilização determinará, em medida crescente, o destino do homem ocidental e,
    já agora, de toda a humanidade.

    Mas é preciso explicar: Teilhard de Chardin não pode transmitir sua
    mensagem, sua experiência, dentro da terminologia tradicional da filosofia que
    tinha aprendido, a filosofia escolástica já sistematizada e formalizada. Ele se
    viu, pois, forçado a criar uma terminologia que exprimisse seu pensamento e
    traduzisse sua experiência em uma nova linguagem. Daqui resulta muita das
    incompreensões que ele sofreu. Claro está, também, que não posso fazer nos
    limites destas páginas uma ampla comparação do pensamento de Teilhard de
    Chardin com qualquer forma consagrada de filosofia ou teologia, sem deturpar
    a ambas. Limito-me a dizer que ele percorreu a academia tradicional de
    filosofia, teologia, os meios científicos, os departamentos de geologia e
    paleontologia mais destacados de seu tempo e desse currículo fez emergir –
    fez ver – um novo conhecimento: a Hiperfísica4. Um conhecimento que se
    constitui numa grande física totalizante do saber humano, como pretendiam os
    gregos, unificando toda a visão do real. Esse saber preocupa-se mais com
    evidenciar o encaixe dos fenômenos, o seu mútuo entrançamento pelo qual
    constituem a trama, o tecido, o estofo do real.
    Ele mesmo fala de seu objetivo que constitui também seu método no
    prólogo de O Fenômeno Humano:

    Ver e Fazer Ver. Estas páginas representam um esforço de ver e fazer
    ver o que passa a ser e o que exige o Homem, quando o inserimos,
    4 ARCHANJO, José Luiz. A Hiperfísica de Teilhard de Chardin. Tese de Doutorado. São Paulo:
    Faculdade São Bento, 1974.
    7
    todo inteiro e até o fim, no quadro das aparências... Ver: poder-se-ia
    dizer que toda vida consiste nisso – se não finalmente, ao menos
    essencialmente. Ver ou perecer eis a situação imposta pelo misterioso
    dom da existência a tudo quanto é elemento do Universo. Eis, por
    conseguinte, num grau superior, a condição humana5.

    Trata-se, pois, de chegar à construção de um discurso holístico da
    realidade por meio do diálogo entre ciências modernas, filosofia e teologia –
    posso falar mesmo, em termos mais atuais, de uma transdisciplinaridade.
    Teilhard de Chardin procurou fazer ver o Fenômeno que os fenômenos vão
    compondo na sua sucessiva aparição.

    O ponto de partida do itinerário teilhardiano pode ser situado num
    terreno no qual se encontram a tradição do cosmologismo antigo6 e a noção
    moderna de fenômeno. Com efeito, “a noção contemporânea de fenômeno não
    se opõe mais à de coisa em si: o fenômeno é o em si da coisa em sua
    manifestação, não constituindo apenas uma aparência da coisa, mas
    identificando-se com seu ser”7.

    O universo é fenômeno ou o que aparece, mas
    esse aparecer tem como correlato uma forma de visão cuja estrutura e alcance
    são definidos pelo saber científico. A hermenêutica desse modo peculiar de ver
    o universo constitui uma fenomenologia, não como a de Husserl, mas no
    sentido científico, propriamente teilhardiana. Teilhard de Chardin volta-se para
    um determinado fenômeno que lhe parece fundamental e a partir dele vai
    descrevendo círculos cada vez mais amplos até abranger toda a realidade que
    aparece, assim, estruturada em função do problema inicial.

    O núcleo da mensagem teilhardiana é a busca de um sentido, uma
    direção, um fim, não só para a grande aventura cósmica de tudo o que existe,
    mas fundamentalmente para a aventura humana; isto é, um sentido absoluto e
    necessário. Todos os pesquisadores de Teilhard de Chardin são unânimes em
    dizer que o problema de Deus ocupa o coração e o cerne do seu pensamento.
    Contudo, não se trata do problema de Deus pura e simplesmente; antes,
    Teilhard de Chardin concebe a questão dentro de uma malha de outras
    questões cuja origem se encontra na “revolução dos tempos modernos”8. Foi
    5 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 25.
    6 Não sem razão declarou, certa vez, Teilhard de Chardin, considerar-se um físico ou
    contemplador da physis no sentido em que eram os pré-socráticos.
    7 Cf. ABBAGNANO. Nicola, Dicionário de Filosofia. Tradução [Alfredo Bosi]. São Paulo: Martins
    Fontes: 2003, p.436.
    8 Expressão do Pe. Vaz. Cf. VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Universo Científico e Visão Cristã em
    Teilhard de Chardin. Petrópolis: Vozes, 1967, p.58.
    8
    ela que motivou a interrogação central das suas cogitações: desde que
    tomamos consciência da profunda revolução espiritual sofrida pela
    humanidade moderna, revolução espiritual intrinsecamente ligada a uma
    revolução material, surge a irresistível interrogação: tem sentido para o
    homem buscar uma direção que aponte Deus dentro do contexto desta grande
    “revolução dos tempos modernos”?

    Para melhor entender o problema é importante situar a questão da
    seguinte forma: para o homem antigo Deus coroava a ordem do universo,
    como uma espécie de soberano, presidindo um mundo organizado nos seus
    mínimos pormenores. Esse mundo, porém, era representado por uma imagem
    topográfica dentro de uma concepção marcadamente espacial: coroando-a,
    Deus se mostrava situado numa região superior. A “revolução dos tempos
    modernos”, porém, aboliu esse esquema espacial e proclamou, pelas ciências,
    que o princípio fundamental de explicação da realidade não é a ordem estática
    das coisas, mas a sua gênese, o seu nascimento. Destarte, veio substituir a
    visão espacial do mundo uma outra visão, essa em que o tempo se mostra
    como dimensão privilegiada. Surge então o problema: se a ordem espacial das
    coisas não apresenta mais a estabilidade de que se revestia na concepção
    antiga, restará ainda algum lugar para Deus? Ou Deus teria alguma função de
    inteligibilidade num mundo evolutivo, no qual as coisas se explicam não pela
    sua posição, mas pelo seu aparecimento, vida e morte?

     Teilhard de Chardin
    não ignora o fato de que essa mudança na forma de conceber o cosmos
    resultou numa mudança da forma de conceber o homem. Interessa-me fazer
    ver como Teilhard de Chardin pensou o homem, entender como ele conjugou
    transcendência e imanência, espírito e matéria, origem e finalismo. E, aqui, ele
    se vê na contramão da história: pensadores antigos e medievais, no mais das
    vezes, viram o homem como um ser pronto, acabado, determinado por forças
    extranaturais, tal qual viam o cosmos. Na atualidade o homem é visto como
    pura natureza, mera biologia. Sugeriu-se que houvesse a interpretação do
    código genético humano, o homem seria completamente conhecido. Essa
    sugestão não se constata porque a informação acerca da finalização do Projeto
    Genoma (Abril de 2003) que foi noticiada por vários meios de comunicação
    como sendo a decifração do código genético humano está apenas
    parcialmente correta. Está correta enquanto agora se conhece toda a
    seqüência de nucleotídeos dos cromossomos humanos e genes de
    cromossomos; incorreta enquanto ignora a existência de altas taxas de
    mutação nas bases protéicas, os dados anteriores dizem respeito a códons do
    DNA e a aminoácidos nas proteínas; decifrou-se genes dos cromossomos, mas
    não as proteínas que eles codificam9.

    A respeito da problemática do homem na
    atualidade, Martin Heidegger, expoente máximo da análise existencial do
    homem, exprimiu-se da seguinte forma:

    Nenhuma época teve noções tão variadas e numerosas sobre o
    Homem como a atual. Nenhuma época conseguiu, como a nossa,
    apresentar o seu conhecimento acerca do Homem de modo tão eficaz
    e fascinante, nem comunicá-lo de modo tão fácil e rápido. Mas também
    é verdade que nenhuma época soube menos que a nossa, o que é o
    Homem. Nunca o Homem assumiu um aspecto tão problemático como
    atualmente10.

    Heidegger diz, portanto, que as informações que as ciências nos
    oferecem acerca do homem são válidas e preciosas, contudo, não favorecem a
    compreensão holística do homem, a compreensão acerca do que é o homem.
    Daí, poder-se concluir que, não convém e nem mesmo resultaria verdadeiro
    formular uma concepção do homem puramente baseada nas constatações
    científicas. Mas, tampouco resultaria verdadeiro pensar o homem
    filosoficamente sem considerar a contribuição das ciências.

    Creio que Teilhard de Chardin foi quem melhor entendeu essa
    necessidade de conjugação e melhor desenvolveu um pensamento pautado
    pela reflexão filosófica e investigação científica.
    Já mencionei que a intenção primeira de Teilhard de Chardin é fazer
    reconciliar o cristianismo com as ciências modernas. Reconciliar porque a
    “revolução dos tempos modernos” colocou as respostas da Religião em um
    plano – o mítico – e as da ciência em outro – o do mundo real. Teilhard de
    Chardin tentará chegar às verdades da Religião por meios das ciências, mas
    não às ciências como eram mecanicamente concebidas no melhor sentido
    positivista. Ele também tem críticas às ciências e, nesse sentido, afirma:
    9 Cf. <http://www2.portaluno.com.br/onze/> Acesso a 14 de maio de 2008.
    10 HEIDEGGER. Martin. Kant und das Problems der Metaphysik, §37. Apud MONDIN, Battista. O
    Homem, Quem é Ele? 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2005, p. 08.
    10

    De fato, temos que confessar, a Ciência não lhe (o homem) encontrou
    ainda um lugar nas suas representações do Universo. A Física chegou a
    circunscrever provisoriamente o mundo do átomo. A Biologia logrou
    estabelecer uma certa ordem nas construções da Vida. Apoiada na
    Física e na Biologia a Antropologia explica, por sua vez, mas ou menos
    a estrutura do corpo humano e certos mecanismos da sua fisiologia.
    Mas uma vez reunidos todos os traços, o retrato, manifestamente, não
    corresponde à realidade. O Homem, tal como a Ciência o consegue
    restituir é um animal como os outros (...) Ora, a julgar pelos resultados
    biológicos do seu aparecimento, não constitui ele precisamente algo
    totalmente diferente?11.

    Aqui estão as pilastras que sustentam a reflexão teilhardiana: a
    transdisciplinaridade, teologia, filosofia e as ciências positivas, em especial a
    física, todas sintetizadas na hiperfísica. Se a física circunscreveu o universo
    sem o homem e o homem sem o universo, Teilhard de Chardin quer agora
    fazer ver o homem circunscrito no universo; ou seja, fazer ver o homem no
    universo enquanto lar do homem, enquanto lugar do homem na existência – o
    universo como existenciário, i.é, o lugar da existência do homem. Com o
    surgimento do homem o universo muda de pele, ganha uma alma. Estamos
    prestes a ver emergir uma nova concepção de homem, concepção segundo a
    qual: “O homem não é mais o centro estático do mundo, como por muito
    tempo se acreditou, mas eixo e flecha da Evolução –, o que é muito mais
    belo”12.
    Passo então ao próximo tema: a lei da evolução. Entretanto antecipome
    em dizer que não se tratará de ver exaustivamente todo o pensamento
    teilhardiano acerca da evolução, mas tão-somente as linhas gerais que regem
    o processo, bem como enumerar os pontos que servem de base para aquilo
    que ouso chamar concepção teilhardiana de ser humano.

    2.2 – A lei da evolução
    A partir da categoria da evolução, Teilhard de Chardin construiu um
    pensamento filosófico e antropológico que merece atenção em nossos dias. Ele
    edificou um pensamento sólido sobre o homem que se pautou na noção de que
    o processo evolutivo possui um sentido.

    Antes, porém, de apresentar a antropologia teilhardiana faz-se mister
    elucidar essa noção da evolução. Por evolução entende-se aqui a teoria
    segundo a qual todos os seres derivam de outros seres mais simples – do
    átomo, a molécula e o conjunto de molécula; deste a célula, então, o
    organismo vivo que é completamente diferente dos anteriores – que os
    precederam no tempo. Os mecanismos da evolução foram objeto de teorias
    diversas entre as quais avultam as de J. B. C. de Lamarck (1744-1829), C.
    Darwin (1809-1882) e Hugo de Vries (1848-1935).

    Diferente do que pensaram os cientistas supracitados, para Teilhard
    de Chardin faz-se evolução sobre um duplo plano biológico e psíquico, com um
    paralelismo de acordo com uma lei por ele chamada: Lei de Complexidade-
    Consciência13. Nesse sentido, é preciso distinguir três fatores em relação à
    evolução14:
    a) o fato mesmo;
    b) o mecanismo; 
    c) o sentido.
    No que se refere ao fato da evolução, não tem havido problemas
    quanto à interpretação. Também o mecanismo, embora existam mais de uma
    teoria – dentre as quais a Teoria Sintética, ganha a maioria dos cientistas – não causa demasiadas controvérsias. As divergências surgem quanto ao sentido.

    Segundo Teilhard de Chardin, uma expansão original deu início a um
    processo que passa pela formação da matéria, o surgimento da vida, a
    condensação do pensamento e a emersão da reflexão – respectivamente:
    cosmogênese, biogênese, psicogênese, noogênese.

    Fundamentalmente, ele está nos dizendo que a evolução sugere um
    processo crescente ascensional que hoje abarca todas as
     dimensões da realidade e o marco de referência
    desse processo, pelo qual decifrará o sentido da evolução: é a Lei de
    complexidade-consciência. Em termos bastante simples esta lei significa que o
    tecido do universo, a trama ou estofo evolui criando formas cada vez mais
    complexas. A evolução parte da matéria simples – poeira espacial proveniente
    da grande expansão – que se complexificando forma estruturas cada vez
    maiores. Maiores não apenas em tamanho, mas (sob pena de não se entender
    nada de Teilhard de Chardin) também em organização. Pela complexificação
    uma molécula é mais organizada que um átomo; uma célula mais organizada
    que uma molécula; um organismo pluricelular muito mais organizado que um
    unicelular. Assim, complexidade não é heterogeneidade, mas heterogeneidade
    organizada15.

    Mas a complexificação é apenas uma vertente, uma dimensão da lei
    que rege a evolução. A outra dimensão é a conscientização, interiorização
    psíquica. Quer dizer, à medida que o estofo do universo se complexifica – dado
    material, objetivo – simultaneamente emerge de dentro dele o fenômeno do
    pensamento – dado espiritual, subjetivo.
    Teilhard de Chardin parte da seguinte dedução: é inegável o fato da
    complexificação da matéria, uma vez que com um pouco de complexificação
    emergiu a vida na matéria, parece razoável que, com um pouco mais de
    complexificação emerja o pensamento.
    O padre Dalle Nogare explica a tese teilhardiana assim:

    Teilhard prova sua posição assim: em virtude da unidade fundamental
    do Universo, qualquer propriedade que apareça na matéria, a qualquer
    nível de desenvolvimento, é propriedade que acompanha a matéria
    onde quer que seja, apesar de não se poder constatar
    experimentalmente em todos os níveis16.

    Uma vez que não se pode negar a presença de psiquismo no reino
    animal e extraordinariamente nos seres humanos, é plausível concluir que toda
    matéria esteja permeada de psiquismo, ainda que não se possa medir. Daqui a
    revolucionária conclusão teilhardiana, “o estofo do Universo tem uma face
    interna e outra externa; isto é, ele é bifacial por estrutura, coextensivo ao Fora
    das coisas, existe um Dentro das coisas”17.
    Mas vamos ao texto conferir o que diz o padre Teilhard de Chardin:

    A concentração de uma consciência, pode-se dizer, varia em razão
    inversa da simplicidade do composto material que ela forra. Ou ainda:
    uma consciência é tanto mais perfeita quanto mais rico mais bem
    organizado é o edifício material que ela forra. Perfeição espiritual (ou
    15 Proponho como exemplo de complexidade a diferença entre o tecido epitelial, formado pela justa e complexa relação de células e a areia, amontoado infinito de grãos cristalinos. Enquanto que a primeira relação – células com células – está organizada a quanto de formar algo novo e
    diferente do elemento primitivo, a segunda relação – a dos grãos de areia – não passa de um amontoado do mesmo elemento primitivo. Daí ser o tecido epitelial algo muito mais complexo que a infinidade da areia.
    16 DALLE NOGARE, 1988, p.176.17 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p.59. 13
    centreidade consciente) e síntese material (ou complexidade) não são
    senão as duas faces ou partes ligadas de um mesmo fenômeno18.
    Concluído está que todas as coisas possuem um dentro e um fora,
    uma consciência, uma espontaneidade, em grau diverso e proporcional a
    complexificação do ser, proporcional à sua organização material.
    Cabe aqui mencionar que Teilhard de Chardin dá ao termo
    consciência um sentido que ultrapassa a acepção corrente. A consciência
    refletida ou reflexiva está presente, exclusivamente, no homem; no animal há
    uma espécie de consciência de percepção – consciência orgânica. O psiquismo
    existe até mesmo no nível da matéria inerte em que se exprime em força
    radical e é fator de integração e de centração. Psiquismo na matéria,
    consciência orgânica no animal e reflexão (reflexibilidade) no homem são, para
    Teilhard de Chardin, um único e mesmo fenômeno que se desenvolve no curso
    da evolução, mas cujos estágios são separados por mutações sucessivas – diz
    de uma gradação decorrente de metamorfoses.
    Até aqui falei da mensagem teilhardiana, de como Teilhard de
    Chardin elaborou uma terminologia e um saber próprio, baseado numa
    transdisciplinaridade de caráter fenomenológico científico para transmitir sua
    mensagem. Falei também da composição inicial do universo e de como a lei de
    complexidade-consciência rege esse fenômeno – a gênese. Não falei ainda,
    diretamente, da concepção teilhardiana de homem porque tentei explicar
    primeiro como, para Teilhard de Chardin, a “revolução dos tempos modernos”
    mudou a concepção de cosmos da sociedade científica; o que desencadeou
    uma cisão entre o pensamento científico e a visão religiosa. Por isso, procurei
    mostrar a intenção conciliadora de Teilhard de Chardin. Cabe, pois, agora
    apresentar as linhas gerais do movimento da gênese, mostrando como o
    homem está ligado a esse processo e ao mesmo tempo identificar qual é o
    lugar ocupado pelo homem nesse universo que está nascendo.

    SEGUNDO CAPÍTULO – O sentido da evolução e o terceiro infinito
    3.1 – O sentido da evolução
    Na altura em que interrompi o texto no primeiro capítulo ficou claro
    que a noção teilhardiana de evolução equivale a uma lei dos fenômenos, uma
    convergência temporal típica da realidade em estado de gênese contínua. Falei
    de uma convergência que vai da poeira cósmica à matéria, começando com a
    formação dos átomos; desses às moléculas e dessas aos vírus, seguindo
    células, plantas, animais e, por último, o homem. Crescimento não apenas
    material, mas também psíquico. Teilhard de Chardin vê nesse processo um
    sentido ascensional crescente.
    A evolução é, assim, um processo contínuo que atinge, em certo
    momento, o espírito humano. A não-vida gerou a vida. Da matéria inorgânica
    surgiu uma nova ordem, a biosfera. No entanto, o processo não terminou por
    aí. O aparecimento da espécie humana que ocorreu graças ao lampejo da
    consciência auto-reflexiva, é uma prova de que a lei da paralelidade
    complexidade-consciência, que fundamenta o processo evolutivo, desemboca
    no infinito; ou seja: a evolução continua. Considerando que a espécie humana
    representa a própria evolução em marcha, posso concluir que o homem é o
    que há de mais complexo no processo evolutivo e, simultaneamente, o que há
    de mais consciente. Segundo a proposta teilhardiana é possível definir três
    momentos na história de nosso planeta. Num primeiro momento, ocorre a
    cosmogênese; no segundo, da não-vida surge a vida, que a partir da lei da
    complexidade-consciência e do desenvolvimento de variadas formas de vida,
    dá origem aos reinos vegetal e animal: é a biogênese; o momento em que a
    citada lei, que constitui a base do processo evolutivo, se manifestou no
    despertar da auto-reflexão do homem, unindo corpo e espírito: noogênese.

    A partir de tal proposta, a orientação para o sentido de que falei acima, é algo
    próprio do espírito humano. As três etapas demonstram que a evolução, até
    agora, tem se orientado e tem seu sentido no homem. Tais considerações
    serão tratadas no terceiro capítulo dedicado à antropogênese, etapa não
    concluída – ressalto – e situada entre a biogênese e a noogênese, dentro da
    perspectiva evolucionista de Teilhard de Chardin. Por enquanto continuarei
    tratando do sentido da evolução dentro do pensamento teilhardiano.
    O grau de conscientização, de interiorização psíquica das coisas está
    na proporção direta de seu grau de complexificação material. Quanto mais
    complexo, tanto mais conscientizado. Daqui emerge uma outra grande
    intuição de Teilhard de Chardin. 

    A física comprova que cada infinito do
    universo é caracterizado por fenômenos peculiares. Por exemplo, o
    aparecimento e o desaparecimento do quantum no mundo subatômico ou a
    relatividade do espaço na imensidão do universo19. Admitidos os fenômenos
    peculiares ao infinitamente pequeno ou ínfimo e ao infinitamente grande ou
    imenso; convém perguntar: qual será o efeito específico do infinitamente
    complexo? Teilhard de Chardin afirma que vida, psiquismo, reflexão são efeitos
    peculiares a complexificação da matéria. Com efeito, essa matéria na qual
    emerge a vida é uma entidade composta; isto é, integrante de dois termos,
    simultaneamente irredutíveis um ao outro, ontologicamente inseparáveis e
    sujeitos a variações correlatas. Cumpre, desde já, observar que, no
    pensamento teilhardiano, é altamente significativa a presença de entidades
    pares, tais como, matéria-espirito, ser-união, universal-pessoal, entre outras.
    Não se trata de composições verbais a camuflar dualidades irresolúveis de
    tempos antigos, nem meros neologismos: são noções inéditas, termos
    originais, idéias ou conceitos inaugurais de um universo visto de modo novo.
    Esta tese possibilita, não só uma compreensão coerente dessa
    camada do mundo na qual nos movemos, a saber, a biosfera, como também
    permite eliminar qualquer forma de dualismo: matéria e vida; corpo e mente;
    vida e espírito. Por que coloca tudo em um único e mesmo rumo e sentido.
    Tudo depende de tudo, como numa teia.
    Com efeito, se estudo o universo, a terra, essa camada denominada
    geosfera sem levar em conta a vida e a reflexão nela presentes é inevitável ver
    a terra como um planeta insignificante para a compreensão do universo. Isso
    porque a terra é algo de ínfimo e perdido na imensidão espacial. Não tem
    grande significação do ponto de vista astrofísico, sendo um pequeno planeta
    ornado de um único satélite, girando em torno de um sol em um universo onde
    pode haver milhões.
    Entretanto, se considero o fenômeno vida, então, a situação se
    converte, completamente, porque a vida apresenta propriedades
    absolutamente novas e diferentes das propriedades físico-químicas da matéria
    inorgânica. Se ousar dar um outro passo e considerar o fenômeno da reflexão,
    então, vejo emergir uma verdadeira revolução no universo porque noto um
    avanço contínuo em complexidade e consciência o que coloca o homem na
    ponta da lança do processo evolutivo: “O Homem constituindo, por si só, a
    mais nova, a mais fresca, a mais complicada, a mais matizada das camadas
    sucessivas da Vida”20.
    Sempre segundo Teilhard de Chardin, colocando a hipótese do
    sentido ascensional crescente da evolução, tudo no universo se torna mais
    claro, mais harmonioso, mais coerente. Uma ponte, antes de tudo, é projetada; uma conexão natural é estabelecida entre mundos até agora considerados opostos, separados: o da física e o da psicologia, o da matéria e o do espírito.
    Não que essa conexão torne idênticos espírito e matéria, mas no sentido de
    que se radica organicamente, fisicamente, no mesmo processo cósmico que
    envolve tudo. Num universo evolutivo que se vai fazendo, na direção da flecha do tempo – em cuja ponta está o homem – por complexidade sempre maior, todo ser é, de certo modo, síntese dos que lhe antecederam e lhe são inferiores. Nesse sentido, posso dizer que cada ser tomado hiperfisicamente é
    composição superadora e inovadora de seus antecessores físicos, nele
    transformados. Teilhard de Chardin define com essa hipótese21 a continuidade
     Trata-se de uma hipótese visto que não foi cientificamente comprovada tal interpretação do processo evolutivo.

    e descontinuidade com que ocorre o processo evolutivo: “... acaba de se
    revelar à natureza do passo da reflexão. Mudança de estado, em primeiro
    lugar. Mas, em seguida, e por isso mesmo, começo de uma outra espécie de
    vida – precisamente essa vida interior...”22, ou retomando o que já fora citado:
    “... precisamente em virtude dessa permanência na operação, é fatal, do ponto
    de vista da física, que certos saltos transformem bruscamente o sujeito
    submetido à operação”.
    Teilhard de Chardin apresenta o sentido ascensional crescente da
    evolução e o enriquecimento que esse processo garante aos seres posteriores;
    ou seja, quanto mais tardio o surgimento de uma espécie, mas complexa e
    consciente essa espécie se revela. Dado que a espécie humana aparece por
    último na ordem dos seres, ela constitui o que há de mais elaborado no planeta
    – é forçoso pensar. Dessa posição peculiar e especial emerge a antropologia
    evolutiva teilhardiana: o homem como o mais complexo e consciente dos
    seres. Passo agora a ver exatamente a questão: ‘o mais complexo-consciente
    dos seres’.

    – O terceiro infinito
    A Física descobriu – falara Pascal – dois infinitos no universo, o
    infinitamente grande ou imenso e o infinitamente pequeno ou ínfimo. Com
    base no processo de complexificação-conscientização, Teilhard de Chardin irá
    apresentar um novo infinito: o infinitamente complexo-consciente.
    Trata-se do primado do homem. Considerando o universo um sistema
    orgânico dinâmico em vias de complexificação material e interiorização
    psíquica é dado ver o homem, na linguagem teilhardiana, como ‘eixo e flecha
    da evolução’. O homem não é um acidente fortuito do acaso, mas, ao
    contrário, o ponto para o qual a evolução caminhou até agora.
    Não só dois, mas três infinitos no universo: imenso, ínfimo e
    complexo-consciente: isto é, o espaço sideral: das galáxias, estrelas, sistemas
    solares; o espaço subatômico: dos quantum, dos elétrons; e o mundo humano:
    do pensamento, da reflexão (a noosfera; ou seja, esfera da qual só nós
    participamos, a nenhum outro ser é dado nela viver).
    22 Ibid., p.189.
    18
    O homem entendido como ponto atual da evolução constitui o
    terceiro infinito do universo. A fundamentação dessa afirmação é a curvatura
    do processo complexificação-conscientização: o universo estende sua
    expansão ao infinito, não só em dois sentidos, mas em três. Esse terceiro
    sentido estabelece a ponte projetada entre os mundos e evidencia a unidade
    do real.
    O homem representa mesmo uma novidade para o mundo, não só
    para o mundo material, mas, sobretudo, para o mundo da vida. Com efeito, até
    aqui a física e a biologia têm trabalhado de forma a pensar o homem a partir
    de um único pressuposto, a saber, o homem como mais um animal dentro do
    reino animal – ainda que seja dotado de características particulares, só mais
    um entre outros –, estudando-o sem considerar o processo evolutivo em sua
    continuidade e em sua descontinuidade. Nesse sentido, Teilhard de Chardin
    observa que o processo evolutivo, embora seja contínuo, ascensional crescente
    é também marcado por verdadeiros saltos, nítidas descontinuidades. 

    O
    aparecimento da espécie humana representa um desses saltos – crescimento
    quantitativo e ascensão qualitativa.
    Caracterizado por uma singularidade exclusiva, o homem na
    concepção teilhardiana representa uma novidade para o mundo e é Teilhard de
    Chardin quem o afirma:
    Explode a desproporção que falseia toda classificação do mundo vivo
    em que o Homem não figura logicamente senão como gênero novo ou
    uma nova família. Erro de perspectiva que desfigura e descoroa o
    Fenômeno universal! Para dar ao Homem o seu verdadeiro lugar na
    Natureza, não basta abrir nos quadros da Sistemática uma seção
    suplementar, - mesmo uma Ordem, mesmo um Ramo a mais... Pela
    hominização23 a despeito das insignificâncias do salto anatômico, é
    uma Idade nova que começa. A Terra muda de pele. Melhor ainda,
    encontra a sua alma24.
    Até aqui, poder-se-ia dizer que pouco ou nada separa o pensamento
    de Teilhard de Chardin de um cientificismo antropológico materialista,
    entretanto, o pensamento teilhardiano está longe de reduzir ou segmentar a
    natureza humana ao materialismo. Retomando o conceito de evolução, eu dizia
    23 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, pp.197-201; 223-225. O termo hominização é usado por Teilhard
    de Chardin para designar a passagem progressiva da vida animal não reflexiva para a vida
    humana reflexiva. Diz, pois, da passagem da consciência orgânica à consciência reflexiva [grifo
    meu].
    24 Ibid., p.197.
    19
    que esta caminha para formas cada vez mais complexas e conscientes, porém,
    ao contrário do que se poderia pensar, esse processo não é uma marcha
    gradual, contínua e lenta. A evolução na concepção teilhardiana passa por
    momentos revolucionários, dá verdadeiros saltos qualitativos.
    O surgimento da vida sobre a terra pode ser considerado um salto,
    uma elevação sobre tudo o que existia antes da vida. Equivale dizer que a vida
    representa uma descontinuidade dentro da continuidade do processo
    evolutivo, um momento de crise de primeira grandeza qualitativa – subiu-se
    um novo degrau na escala da evolução.

    Um salto semelhante foi dado quando da emersão do pensamento
    reflexivo, da consciência. Algo de inteiramente novo, de extraordinário e
    inesperado aconteceu sobre a terra quando a primeira luz de inteligência
    brilhou no cérebro humano. Um hiato de imensa distância se abriu entre o
    passado e o presente: o pensamento vem por evolução da matéria, mas não se
    explica pela matéria. Segundo Teilhard de Chardin:

    A mudança de estado biológico que leva ao despertar do pensamento
    não corresponde simplesmente a um ponto crítico atravessado pelo
    indivíduo, ou mesmo a Espécie. Mais vasta do que isso, ela afeta a
    própria Vida na sua totalidade orgânica, e, por conseqüência, assinala
    uma transformação que afeta o estado do planeta inteiro25.

    Teilhard de Chardin quer fazer ver que o aparecimento da espécie
    humana com seu cérebro super desenvolvido, sua capacidade de reflexão ou
    consciência de si mesma, de saber que se sabe, evidencia a emersão do
    espírito sobre a superfície da terra. O fenômeno humano é fenômeno espiritual,
    não nasce senão de uma profunda transformação de tudo aquilo que o
    precedeu e preparou, mas ao aparecer apresenta características inteiramente
    novas. O núcleo a partir do qual se expande essa novidade é o espírito, é a
    dimensão espiritual da espécie humana, dimensão impregnada de
    profundidade. Núcleo que já estava presente em tudo o que antecedeu o
    surgimento do ser humano, mas de forma muito opaca, imperceptível mesmo.
    Posso deduzir do pensamento teilhardiano que: o fenômeno humano
    não é apenas constituído pela seqüência de complexificação material e
    interiorização psíquica, mas também por manifestação do espírito.

    O ser
    humano é composto por três dimensões fundamentais, existem outras
    dimensões, mas essas três compreendem as outras porque se encontram
    ligadas desde o momento da hominização. Trata-se da: exterioridade, a relação
    material que o homem estabelece com o mundo que o cerca; a interioridade,
    diz da relação psíquica que o homem desenvolve consigo mesmo e com seu
    semelhante; e a profundidade, refere-se àquelas relações do homem que
    respondem ou apontam para âmbitos de grande significado para si mesmo.
    Por mais íntima que seja a ligação entre o homem e as formas
    inferiores de vida, por mais clara e importante que seja a continuidade entre a
    vida animal e a vida humana, a consideração objetiva do fenômeno humano
    deve reconhecer uma descontinuidade maior, uma ruptura, uma outra forma
    de vida. Tem início com o homem o fenômeno da vida no espírito; i.é, não
    apenas viver, mas saber que se vive.

    Todavia, cumpre esclarecer que para Teilhard de Chardin, o
    fenômeno espiritual não é uma espécie de epifenômeno26, é antes de tudo um
    fenômeno da mudança cósmica de estado. A matéria se interioriza enquanto
    matéria, orientada pela lei de complexidade-consciência e movida pela
    natureza que lhe é constitutiva por força de sua unidade profunda. O
    movimento cósmico por excelência é, simultaneamente, a complexificaçãoconscientização:
    um pouco de complexificação, a vida; um pouco mais, o
    psiquismo; ainda um pouco mais, o espírito.

    Assim, Teilhard de Chardin muda a compreensão da relação espírito
    e matéria. Em um cosmo estático, espírito e matéria tendem a ser
    considerados apenas duas categorias justapostas, entre as quais ponte alguma
    pode ser lançada. Chegamos a um dualismo de fundo, uma matéria separada
    de um espírito que também está separado da matéria. Em um universo em
    vias de expansão, cosmogênese, de tipo convergente, sentido crescente
    ascensional, a gênese do espírito necessita da organização da matéria. Entre
    os dois elementos reina uma relação comparável à que une os termos de um
    todo – por exemplo, o que o esquerdo significa para o direito e vice-versa.

    Para
    26 Epifenômeno equivale a um tipo de fenômeno acessório cuja presença ou ausência não
    importa para a produção do fenômeno essencial em questão. Teilhard de Chardin nega que o
    fenômeno espiritual seja um epifenômeno, ou seja, afirma que o fenômeno espiritual é de suma
    importância para a compreensão do homem e do universo mesmo. Cf. TEILHARD DE CHARDIN,
    2006, pp.186-188 e 244.
    21
    que apareça espírito é preciso que haja matéria organizada, porque existe um
    laço entre a quantidade de matéria organizada e o grau de consciência. Eis o
    que satisfaz o pensamento humano e sua necessidade de unidade: espírito e
    matéria são duas faces ou fases de uma mesma realidade, e se quero mais
    espírito careço de mais organização material. No plano dos fenômenos – e é
    esse o plano sobre o qual estou trabalhando –, da observação concreta, o
    espírito aparece em função da matéria. E isto não é materialismo. Em estado
    de cosmos; ou seja, numa visão imobilista, o espírito é uma forma sem
    conteúdo, um brilho da matéria, porém, sob o ponto de vista da cosmogênese,
    nada me impede de dizer que a superestrutura consciente – espírito –
    desabrocha a partir de dentro da infra-estrutura material.

     O materialista
    poderia afirmar que o sistema teilhardiano se sustenta, em sua conclusão,
    sobre a matéria. No entanto, para o espiritualismo teilhardiano, o que subsiste
    como essencial é à parte espiritualizada, o cume é o espiritual: numa via
    progressiva interessa o ponto final, o ponto ômega, que no caso do
    pensamento teilhardiano é a espiritualização crescente e ascendente da
    matéria à medida que se organiza enquanto matéria.
    Em suma, de um modo não pouco metafísico, mas, sobretudo,
    fenomenológico e científico, Teilhard de Chardin recusa qualquer dualismo e
    todo maniqueísmo em sua compreensão da realidade.

    A realidade, repito, é um todo orgânico
    e neste todo tudo se sustenta sobre tudo.
     Tudo depende de tudo
    – como numa teia.

    Os espiritualistas têm razão quando defendem tão energicamente uma
    certa transcendência do Homem, em relação ao resto da Natureza. Os
    materialistas também não estão errados quando sustentam que o
    Homem é apenas mais um termo na série das formas animais. Neste
    caso, como em tantos outros, as duas evidências antitéticas se
    resolvem num movimento, desde que, nesse movimento se reserve à
    parte essencial ao fenômeno, tão altamente natural, de ‘mudança de
    estado’... Sim, da célula ao animal pensante, assim como do átomo à
    célula, um mesmo processo (aquecimento ou concentração psíquica)
    prossegue sem interrupção, sempre no mesmo sentido. Mas,
    precisamente em virtude dessa permanência na operação, é fatal, do
    ponto de vista da Física, que certos saltos transformem bruscamente o
    sujeito submetido à operação27.

    Garantido o espaço do fenômeno e o espaço do processo, é possível
    ver a unidade do real na linha contínua dessa caminhada cujos saltos
    27 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 189.
    22
    representam uma superação que compreende as partes superadas.
    Paulatinamente, cosmogênese, seguindo, biogênese e noogênese. Um só
    processo, continuidade, marcado por saltos qualitativos, descontinuidade, que
    hoje culminam no ser humano.

    Sintetizando este segundo capítulo, indiquei que o sentido da
    evolução é a espiritualização da matéria e que até aqui a evolução caminhou
    no sentido do surgimento do ser humano. Este constitui, pois, o terceiro infinito
    do universo; i.é, o infinitamente complexo-consciente. Claro está que não me
    posso demorar mais nesses temas (embora haja ainda muito o que se explicar)
    do pensamento teilhardiano, dado os limites de minha pesquisa. Passo agora à
    terceira parte deste trabalho destinada à antropogênese, aqui entendida como
    a concepção de homem em Teilhard de Chardin.
    23
    TERCEIRO CAPÍTULO – Consciência reflexiva, transcendência e
    imanência

    Muito do que já foi dito nos capítulos anteriores desenhou, por assim
    dizer, uma imagem teilhardiana de homem. Trato agora de sintetizar essas
    informações e fazer algumas inferências que me parecem plausíveis.
    Tendo chegado ao homem a evolução não parou nele, ela se
    transmuda profundamente: não caminha mais no sentido do surgimento do
    homem, mas agora se apresenta encarnada nele. O próprio ser humano é
    evolução; é itinerário rumo à união, à socialização – que pode ser resumido no
    termo: espiritualização. Sempre segundo Teilhard de Chardin:

    A Humanidade trabalhando, sob o impulso de um instinto obscuro,
    para transbordar ao redor de seu ponto de emersão até submergir a
    Terra. O Pensamento fazendo-se Número para conquistar todo o
    espaço habitável, acima de qualquer outra forma da Vida. Em outras
    palavras, o Espírito tecendo e desdobrando as camadas da Noosfera.
    Nesse esforço de multiplicação e de expansão organizada, resumem-se
    e exprimem-se finalmente, para quem sabe ver, toda a Pré-História e
    toda a História, desde as origens até os nossos dias28.

    A hominização evidencia o estágio em que se identificam, mas não se
    confundem indiferentemente, a evolução e o ser humano.
    Neste modo de ver, o homem é ápice da evolução que não terminou
    nele, ela dá continuidade ao seu itinerário até o ponto máximo de
    espiritualização da matéria, convencionalmente, chamado por Teilhard de
    Chardin de ponto ômega29. Trata-se de uma espécie de centro definido pela
    última convergência do espírito sobre si mesmo, o ponto natural de
    convergência da humanidade e, por meio da humanidade, de todo o universo;
    em linguagem religiosa, o encontro definitivo da humanidade com o Deus de
    Jesus Cristo; a letra grega ômega sugere conclusão, arremate.
    Com o aparecimento do terceiro infinito a evolução adquire
    conhecimento de si mesma, nas palavras do jesuíta francês, ganha uma alma,
    o que coloca o homem na posição de responsável pelo futuro da marcha
    cósmica em direção ao ômega.
    28 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p.214.
    29 Ibid., pp. 293-302.
    24
    Mas cabe então perguntar, e tenho o colocado diversas vezes, qual a
    concepção de homem que encontramos nos meandros do pensamento de
    Pierre Teilhard de Chardin?

    A concepção de homem de Teilhard de Chardin, segundo Emile
    Rideau30, se expande a partir de dois caracteres primordiais, distintos e
    complementares.

    O primeiro, a transcendência do homem em relação ao
    universo e, simultaneamente, a sua ligação ao mundo; a estrutura psíquica
    dotada de consciência reflexiva constitui o segundo aspecto.

    A fenomenologia que evidenciou o sentido crescente ascensional da
    evolução evidenciou também a emersão da consciência reflexiva, atributo
    exclusivo do ser humano.

     E, falar da consciência do homem é falar
    simultaneamente de sua transcendência e imanência.

    O homem sabe que sabe; sabe de si mesmo e sabe do meio no qual
    se move. Pode, pois, o homem agir acerca de si mesmo e sobre o seu
    ambiente; pode construir, derrubar, reconstruir; pode pensar novos rumos,
    novos caminhos, alternativas. Pode dominar o real:

    Mas observemos um pouco melhor à nossa volta: esse dilúvio súbito de
    cerebralidade: essa invasão biológica de um novo tipo animal que
    elimina ou subjuga gradualmente toda forma de vida que não seja
    humana; essa maré irresistível de campos e de fábricas; esse imenso
    edifício crescente de matéria e de idéias31.

    O animal sabe – em certo sentido, pode-se dizer –, mas não sabe que
    sabe, conseqüentemente, está fechado para ele todo um domínio do real – no
    qual o homem se move.

    O real não lhe pertence, não lhe é dado.
    Assim, enquanto que para o ser dotado de consciência reflexiva, o
    real se apresenta como um horizonte de possibilidades, para aquele sem
    reflexibilidade aparece como um fosso intransponível.
    A consciência reflexiva possui, portanto, uma ligação bastante
    estreita com a transcendência humana para Teilhard de Chardin.
    Primordialmente, a transcendência se manifesta na ação humana e a
    reflexibilidade é um ato peculiar, exclusivo mesmo, do homem que é capaz de
    ultrapassar a animalidade – é um fenômeno espiritual, como já mencionei.
    30 RIDEAU, Emile. O Pensamento de Teilhard de Chardin. Tradução [Teresa Raposo.] Lisboa:
    Livraria Duas Cidades, 1965, p. 159.
    31 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 198.
    25
    O ser reflexivo, precisamente em virtude de sua inflexão sobre si
    mesmo, torna-se de repente susceptível de se desenvolver numa
    esfera nova. Na realidade, é um outro mundo que nasce. Abstração,
    lógica, opções e invenções ponderadas, matemáticas, arte, percepção
    calculada do espaço e da duração, ansiedades e sonhos de amor...
    Todas essas atividades da vida interior nada mais são que a
    efervescência do centro recém-formado explodindo sobre si mesmo32.

    Além de considerar que a reflexibilidade representa um salto
    qualitativo do processo evolutivo, Teilhard de Chardin aponta para a idéia de
    que esta possui um dinamismo próprio, a saber: “1) de tudo centrar
    parcialmente a sua volta; 2) de poder centrar-se cada vez mais sobre si
    mesma; 3) de ser levada, por essa própria Centração, a se reunir a todos os
    outros centros que a rodeiam”33.

     Essa tríplice propriedade da consciência
    permitiu a Teilhard de Chardin formular o conceito de noosfera; i.é, o centro
    recém-formado referido na citação acima. Segundo o jesuíta:

    Exatamente tão extensiva, mas muito mais coerente ainda, como
    veremos, do que todas as camadas precedentes, é verdadeiramente
    uma camada nova, a ‘camada pensante’, que, após ter germinado nos
    fins do Terciário, se expande desde então por cima do mundo das
    Plantas e dos animais: fora e acima da Biosfera, uma Noosfera34.

    Noosfera é a camada da vida reflexiva sobre a terra, uma nova
    esfera, um todo específico e orgânico que, embora distinto, engloba a biosfera
    – a esfera da vida não-reflexiva – e a geosfera – a esfera do corpo sólido da
    terra, pré-vivo em linguagem teilhardiana.

    Esta, a noosfera, esfera na qual o homem se move, é a parte do real
    que lhe cabe, o seu lugar no universo, o seu existenciário – mas, é importante
    destacar que também esta camada está em expansão junto com o universo.
    Como se trata de uma esfera e, considerando-se que o movimento
    sobre uma esfera é circular, pode-se falar de um encontro da humanidade,
    uma socialização dos seres humanos pela noosfera; i.é, a terceira propriedade
    da consciência, a capacidade de se reunir a todos os outros centros que a
    rodeiam. Por isso, Teilhard de Chardin pode afirma que agora o processo
    32 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 186.
    33 Ibid., p. 294.
    34 Ibid., p. 197.
    26
    evolutivo tende na direção de sintetizar e constituir um todo espiritual –
    reunião de todos as raças e civilizações humanas35.
    A esse ambiente no qual se move – a noosfera, e lembro que ela
    compreende também a biosfera e a geosfera – o ser humano se liga e
    transcende simultaneamente. O homem que age, que ultrapassa os limites da
    animalidade e as determinações da matéria não seria possível sem mundo. O
    homem é um ser histórico, temporal, obedece à lei de complexidadeconsciência
    e, por isso, intimamente ligado ao mundo. Mas essa ligação longe
    de constituir uma limitação, mostra, faz ver que o homem se encontra em
    conjunção com a totalidade do universo, comunga da existência de todas as
    coisas. A observação do processo evolutivo revela esse dado: há no homem a
    convergência do todo.

    No sistema teilhardiano, se é que posso usar este termo,
    transcendência e imanência são dimensões de uma única e mesma realidade.

    São dimensões que se perpassam, se entrecruzam e que em alguns momentos
    se apresentam antepostas, assim como o esquerdo se antepõe ao direito, o
    dentro ao fora, o acima ao abaixo. Todavia, como o esquerdo que se antepõe
    e, simultaneamente, completa o direto e, assim também, o dentro completa o
    fora e o acima se antepõe e completa o abaixo, do mesmo modo
    transcendência e imanência. Num primeiro momento essas dimensões
    humanas se antepõem, mas quando observadas sob o prisma do processo
    evolutivo elas se complementam porque são dimensões da única e mesma
    realidade para a qual tudo converge; i.é, o homem.

    Que é, então, o homem e o que quer dizer Teilhard de Chardin ao
    chamá-lo, em citações anteriores, de alma da terra e eixo e flecha da
    evolução? Creio que ele está dizendo que: o homem é um ser que, consciente
    de si mesmo e do meio no qual se move e dotado de uma energia profunda,
    pode caminhar em direção a um fim, o ômega; é também um ser de
    dimensões: transcendente no que se relaciona à sua profundidade; consciente
    no que se refere à interioridade; imanente no que diz da exterioridade. Numa
    palavra, eu digo que, na concepção teilhardiana, o homem é o existente; isto é,
    aquele que por excelência existe, isto porque sabe que existe e, embora
    35 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, pp. 214 a 228. Capítulo com o título: O Desdobramento da
    Noosfera.
    27
    Teilhard de Chardin não tenha usado especificamente esse termo, creio que é
    isso exatamente que ele quer dizer ao afirmar:
    Se, como decorre do que foi dito, é o fato de se encontrar ‘refletido’
    que constitui o ser verdadeiramente ‘inteligente’, podemos nós duvidar
    de que a inteligência seja o apanágio evolutivo do Homem e só do
    Homem? E podemos nós, por conseguinte, hesitar em reconhecer, por
    não sei que falsa modéstia, que sua posse representa para o Homem
    um avanço radical em relação a Vida antes dele?36.

    Em relação a tudo mais que existe, por ser reflexivo, o homem não é
    apenas diferente, mas é outro. A vida biológica que manifestou a ascensão de
    consciência não pode continuar sua trajetória indefinidamente sem se
    transformar profundamente, sem dar um salto. Ela assumiu consciência de si,
    tornou-se existência no existente. A grandeza tornou-se diferente de si para
    continuar ela mesma, fez-se homem.
    Teilhard de Chardin fez ver o ser humano, então, como terceiro
    infinito, ligado ao mundo e, simultaneamente, transcendente, como portador
    da evolução nos tempos atuais; fez ver o homem em sua totalidade, um ser de
    dimensões para o qual, de certa forma tudo converge. E eu agora fiz a
    inferência do termo o existente – um vocábulo a mais para fazer ver o
    fenômeno humano. Que conclusão é possível tirar de tudo isso? Creio que,
    fundamentalmente, é possível concluir que o ser humano é um ser em
    processo de vir-a-ser aquilo que ele é realmente ou àquilo que poderá ser. É
    um ser inacabado, não pronto. E nenhum termo ou terminologia, tomada
    isoladamente o esgota, o classifica completamente. Nenhuma ciência sozinha é
    capaz de conhecê-lo definitivamente e dizer o que ele é, porque o que ele é
    não se completou. Uma hiperfísica, uma ciência que o veja em sua totalidade e
    imerso na totalidade do seu universo é capaz de traçar as linhas gerais do
    fenômeno humano – por isso falou o jesuíta: “o fenômeno, mas o fenômeno
    inteiro”37. Portanto, não há antropologia, o que há é antropogênese; quero
    dizer, a gênese do ser humano. Falar do homem, estudá-lo, ver o homem não é
    enquadrá-lo no sistema dessa ou daquela disciplina é contribuir com a sua
    gênese, é dar continuidade ao processo evolutivo que começou com a
    formação do universo e da terra, seguiu com o aparecimento da vida neste
    36 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 187.
    37 Ibid., 2006, p. 25.
    28
    planeta, chegou ao estágio em que se encontra – o ser existente – e segue,
    seja com a socialização ou com a espiritualização, enfim, segue seu sentido
    ascensional crescente.
    Esta é a natureza humana e sua grandeza – e também seu desafio –,
    ser alguém cujo universo e o futuro representam um horizonte de
    possibilidades, ser alguém que não pode ser enquadrado porque está em
    movimento, porque transcende a tudo que se lhe apresenta como obstáculo,
    pensa alternativas, quebra esquemas, re-interpreta interditos e ao mesmo
    tempo se liga a tudo, se identifica no mundo, se encontra no mundo, mas se
    liga e se identifica por aquela dimensão de profundidade, por aquela
    capacidade de descobrir significado e, concomitantemente, significar o real. O
    homem não mais
    centro estático do Universo, como ingenuamente o havíamos
    acreditado – mas, o que é muito mais belo, o Homem flecha
    ascendente da grande síntese biológica. O Homem constituindo, por si
    só, a mais nova, a mais fresca, a mais complicada, a mais matizada
    das Camadas sucessivas da Vida38.
    CONCLUSÃO
    Há uma limitação de primeira grandeza no meu texto, limitei-me e
    esforcei-me a fazer ver o filósofo Teilhard de Chardin. Concentrei minha
    atenção na fenomenologia do homem e não atentei ao caráter teológico do
    autor. Essa opção foi necessária para manter-me fiel ao tema específico a que
    38 TEILHARD DE CHARDIN, 2006, p. 246.
    29
    me propus e dado os limites de minha pesquisa. Faltou, portanto, apresentar
    melhor a fundamentação teológica do pensamento teilhardiano e explicar a
    prospectiva inferida por Teilhard de Chardin; ou seja, explicar o rumo que ele
    aponta para o processo evolutivo; i.é, fiquei a dever a explicação dos conceitos
    de socialização, espiritualização e, finalmente, do ponto ômega. Estes
    conceitos, contudo, versam acerca de um pensamento mais teológico do que
    filosófico – portanto, não era objetivo meu e não me vejo apto para esclarecer
    tais conceitos hoje.
    Não obstante, porém, a esse recorte, creio ter conseguido fazer ver
    os traços gerais da concepção de homem de Teilhard de Chardin. Creio ter
    mostrado o que concluiu a fenomenologia que observou o homem em sua
    totalidade e imerso na totalidade do universo no qual ele se move. Cumpre
    dizer que o valor primeiro deste trabalho consiste em resgatar o cerne do
    pensamento de um autor que depois de ter se tornado uma “febre” caiu em
    esquecimento e ficou relegado à história do pensamento contemporâneo. Em
    cada momento que parei para ler ou escrever acerca deste jesuíta francês que
    muito admiro, tive presente a consciência de pertencer a uma geração que não
    conhece Teilhard de Chardin e que vive a angústia de não ter dado atenção
    para aquilo a que ele tanto chamou a atenção, a saber, o que é o homem e
    qual o seu lugar no universo. A grandeza deste trabalho, portanto, – se é que
    ele tem alguma – está na possibilidade de ser melhorado, enriquecido,
    aprofundado e, o digo com franqueza e serenidade, em ser superado.

    BIBLIOGRAFIA
    Primária:
    TEILHARD DE CHARDIN, Pierre. O Fenômeno Humano. Tradução José Luiz
    Archanjo. 1ª Edição, 6ª Re-impressão. São Paulo: Cultrix, 2006.

    · Secundária:
    ABBAGNANO. Nicola, Dicionário de Filosofia. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo:
    Martins Fontes: 2003.
    30
    ARCHANJO, José Luiz. A Hiperfísica de Teilhard de Chardin. Tese de Doutorado.
    São Paulo: Faculdade São Bento, 1974.

    CUENOT, Claude. Aventura e Visão de Teilhard de Chardin. Tradução Camilo
    Martins de Oliveira. Lisboa: Livraria Duas Cidades, 1966.

    DALLE NOGARE, Pedro. Humanismo e Anti-humanismo. 11ª edição. Petrópolis:
    Vozes, 1988.

    MONDIN, Battista. O Homem, Quem é Ele? 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2005.

    RIDEAU, Emile. O Pensamento de Teilhard de Chardin. Tradução Teresa
    Raposo. Lisboa: Livraria Duas Cidades, 1965.

    VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Universo Científico e Visão Cristã em Teilhard
    de Chardin. Petrópolis: Vozes, 1967.
    · Sites Consultados:
    <http://www.teilhard.org>
    <http://www2.portaluno.com.br/onze/>
    31
    2 Dados biográficos de: CUENOT, Claude. Aventura e Visão de Teilhard de Chardin. Tradução
    [Camilo Martins de Oliveira]. Lisboa: Livraria Duas Cidades, 1966. Apresento um pequeno resumo
    da vida de Teilhard de Chardin: O primeiro registro da família Teilhard data de 1325. Uma
    escritura prova a existência de Pierre Teilhard, um notário em Dienne, atual Auvergne, França.
    Em 1686 nasce Marguerite Catherine Arouet irmã de Voltaire, bisavó de Berthe Adélie de
    Dompierre d´Hornoy. Data de 1816 a carta na qual Luis XVIII confirma nobreza de Pierre Teilhard
    avô de Pierre-Cirice Teilhard. Este, em 1841, casa-se com Marie Marguerite Victoire Barron de
    Chardin, donde a aquisição do nome ‘de Chardin’ pelos filhos de Pierre-Cirice Teilhard, dentre os
    quais, Emanuel Teilhard de Chardin que se casará, em 1875, com Berthe Adélie de Dompierre d
    ´Hornoy os país de Marie-Joseph Pierre Teilhard de Chardin. Pierre Teilhard de Chardin nascido
    na França em 1881 e tendo falecido nos Estados Unidos em 1955, entrou na Companhia de Jesus
    em 1899. Estudou matemática, filosofia e teologia antes de fazer-se padre, depois, continuou os
    estudos em geologia e paleontologia. Foi professor no Cairo, Egito. Pesquisador na China,
    Mongólia, Índia, África do Sul e Estados Unidos. Tendo viajado quase o mundo todo e sendo
    pessoa de personalidade empática, humilde e profunda, conquistou muitos amigos que, após sua
    morte, organizaram-se na Association des Amis de Teilhard de Chardin (site:
    http://www.teilhard.org), com representação em mais de seis paises e que ainda hoje organiza e
    publica escritos de ou sobre Teilhard de Chardin. Entre os grandes feitos científicos de Teilhard
    de Chardin, conta-se a participação da expedição que em 1930, na China, encontrou o fóssil do
    Sinanthropus Pequinenses, ancestral distante do homo sapiens. As obras completas somam mais
    de doze volumes, dentre as quais, as mais conhecidas são O Meio Divino (1927-28) e O
    Fenômeno Humano (1938).
    3 TEILHARD DE CHARDIN, Pierre. O Fenômeno Humano. Tradução [José Luiz Archanjo]. 1ª Edição,
    6ª Re-impressão. São Paulo: Cultrix, 2006.
    5
                                                                          -------o0o--------



    Pablo Picasso
    Li
    Fonte: