sexta-feira, 22 de abril de 2011

O JARDIM DAS OLIVEIRAS: AGONIA E SOLIDÃO


Sexta-feira Santa 2011

CARLOS MESTERS E MERCEDES LOPES

1. Introdução

No início da sua missão, Jesus foi tentado no deserto (Lc 4,1-12). Naquela ocasião, Lucas fez a seguinte observação: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo deixou Jesus até o momento oportuno” (Lc 4, 13). Este momento oportuno agora chegou. Chegou a hora da tentação suprema, “a hora do poder das trevas” (Lc 22,53). Começa a última etapa do êxodo de Jesus. Satanás já tinha conseguido desviar Judas (Lc 22,3). Queria desviar Tiago e João na hora da vingança contra os samaritanos, no início da viagem para Jerusalém (Lc 9,55). Quis entrar em Pedro, mas a oração de Jesus foi mais forte (Lc 22,31). Agora ele vai fazer a tentativa suprema para desviar Jesus do caminho do Pai. Mas não vai conseguir.

Durante a leitura do texto que descreve a agonia de Jesus no Horto, convém lembrar a cena da Transfiguração (Lc 9,28-36). No Evangelho de Lucas estes dois episódios têm uma semelhança muito grande, o que, sem dúvida, encerra uma mensa¬gem da parte de Lucas para nós, seus leitores e suas leitoras.

2. Comentando

a) Lucas 22,39-40: Tentação e angústia

“Como de costume, Jesus sai para o Monte das Oliveiras”. É a última noite da sua vida aqui na terra! Ele costumava ir naquela chácara para rezar. Jesus sabe que estão à sua procura para matá-lo. Sente a hora da tentação chegando. Bastaria subir o Monte das Oliveiras alcançar o deserto e ele estava livre. Ninguém o prenderia! O que fazer? Era a tentação de escapar do cálice. Ele ora e pede aos amigos, para que orem, “a fim de não entrar em tentação!” Jesus está sentindo a angústia provocada pela tentação. Não quer que seus amigos sofram esta mesma tentação.

b) Lucas 22,41-42: A oração da total entrega

Jesus ora de joelhos. Ele deve estar muito abalado e angustiado, pois naquele tempo o costume era orar em pé. Lucas traz as palavras da oração: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo não a minha mas a tua vontade seja feita. E a oração da total entrega. Jesus não volta atrás, não quer escapar. Quer é continuar no caminho de acolher os excluídos, de denunciar o fechamento da religião oficial, de insistir nas exigências da fraternidade, mesmo que os poderosos o persigam e matem. Ele assume ser o Messias-Servo.

c) Lucas 22,43-44: O anjo de Deus ajuda a beber o cálice

Aparece um anjo do céu. O anjo do céu é o próprio Deus se comunicando com o ser humano. E pela terceira vez no Evangelho de Lucas que Deus se manifesta diretamente a Jesus. A primeira vez foi no Batismo (Lc 3,21-22). A segunda, na transfiguração (Lc 9,35). E agora, a terceira vez, aqui no Horto. O anjo não vem para consolar. Ele vem para ajudá-lo a continuar no caminho do Pai até o fim, a beber o cálice até o fundo. Diz a Carta aos Hebreus: “Nos dias da sua vida terrestre, Jesus apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte” (Hb 5,7). De fato, depois que apareceu o anjo, Lucas diz que, “cheio de angústia, Jesus ora com mais insistência ainda” e começa a suar sangue. Suor de sangue é sinal de que a angústia que o envolve é muito grande. Jesus é jovem. Tem apenas 33 anos. E acusado e perseguido por algo que nunca fez nem quis, e sabe que vão matá-lo. “E pela oração que ele se reencontra consigo, com a missão e com o Pai. A paz voltou. Foi atendido por causa da sua total entrega!” (Hb 5,7).

d) Lucas 22,45-46: Resistir à tentação

Jesus se levanta. Vai ao encontro dos discípulos. Eles estão dormindo de tristeza. Novamente, lhes dá a mesma recomendação: “Levantem e orem, para que não entrem em tentação!” No Pai-Nosso, Jesus já tinha mandado fazer o mesmo pedido: “Não nos deixeis cair em tentação!” (Lc 11,4). A tentação faz parte da vida. Constantemente, Jesus era puxado para seguir por caminhos contrários ao caminho do Pai. Mas ele resiste.

3. Alargando

A tentação de assumir o papel do Messias glorioso acompanhou Jesus do começo ao fim. A pressão vinha de todos os lados. Pessoas, fatos, situações, o próprio demônio, todos tentavam levá-lo por outros caminhos. Mas nunca ninguém conseguiu desviá-lo do caminho do Pai.

* Pedro tentou afastá-lo do caminho da Cruz, mas recebeu uma resposta dura: “Vai embora, Satanás!” (Mc 8,33).

* Seus pais tiveram que ouvir: “Então não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2,49).

* Aos parentes ele disse: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?” (Mc 3,33).

* Aos apóstolos que queriam levá-lo de volta, ele disse: “Vamos para outros lugares! Pois foi para isto que eu vim!” (Mc 1,38).

* João Batista foi convidado a conferir as profecias com a realidade dos fatos (Mt 11,4-6 e Is 29,18-19; 35,5-6; 61,1).

* Aos fariseus avisou: “Vão dizer àquela raposa que vou continuar trabalhando aqui hoje e amanhã. Só vou terminar é depois de amanhã!” (Lc 13,32).

* O povo queria forçar Jesus a ser o Messias-Rei (Jo 6, 15). Ao percebê-lo, Jesus simplesmente foi embora e se refugiou na montanha (Jo 6,15).

* Ao demônio Jesus reagiu com força, condenando as propostas com palavras da Escritura (Mt 4,4.7. 10).

* No Horto, o sofrimento levou Jesus a pedir: “Pai, afasta de mim este cálice!” Mas ele logo acrescentou: “Não o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14,36). E na hora da prisão, hora das trevas (Lc 22,53), apareceu pela última vez a tentação de seguir pelo caminho do Messias Guerreiro. Jesus reagiu: “Guarde a espada no seu lugar!” (Mt 26,52).

Orientando-se pela Palavra de Deus, Jesus recusou todas estas propostas. Inserido no meio dos pobres e excluídos e unido ao Pai pela oração, fiel a ambos, ele resistia e seguia pelo caminho do Servo de Javé, o caminho do serviço ao povo (Mt 20,28).
 Fonte:
INFORMATIVO CNLB REGIONAL SUL 1
 
http://cnlbsul1.blogspot.com/2011/04/o-duelo-entre-vida-e-morte-leonardo.html?

O DUELO ENTRE A VIDA E A MORTE - LEONARDO BOFF



Sexta-feira da Paixão de 2011

Cristo de  El greco

Num dos mais belos hinos da liturgia cristã da Páscoa, que nos vem do século XIII, se canta que "a vida e a morte travaram um duelo; o Senhor da vida foi morto mas eis que agora reina vivo". É o sentido cristão da Páscoa: a inversão dos termos do embate. O que parecia derrota era, na verdade, uma estratégia para vencer o vencedor, quer dizer a morte. Por isso, a grama não cresceu sobre a sepultura de Jesus. Ressuscitado, garantiu a supremacia da vida.

A mensagem vem do campo religioso que se inscreve no humano mais profundo, mas seu significado não se restringe a ele. Ganha uma relevância universal, especialmente, nos dias atuais, em que se trava física e realmente um duelo entre a vida e a morte. Esse duelo se realiza em todas as frentes e tem como campo de batalha o planeta inteiro, envolvendo toda a comunidade de vida e toda a humanidade.

Isso ocorre porque, tardiamente, nos estamos dando conta de que o estilo de vida que escolhemos nos últimos séculos, implica uma verdadeira guerra total contra a Terra. No afã de buscar riqueza, aumentar o consumo indiscriminado (63% do PIB norte-americano é constituído pelo consumo que se transformou numa real cultura consumista) estão sendo pilhados todos os recursos e serviços possíveis da Mãe Terra.

Nos últimos tempos, cresceu a consciência coletiva de que se está travando um verdadeiro duelo entre os mecanismo naturais da vida e os mecanismos artificiais de morte deslanchados por nosso sistema de habitar, produzir, consumir e tratar os dejetos. As primeiras vítimas desta guerra total são os próprios seres humanos. Grande parte vive com insuficiência de meios de vida, favelizada e superexplorada em sua força de trabalho. O que de sofrimento, frustração e humilhação ai se esconde é inenarrável. Vivemos tempos de nova barbárie, denunciada por vários pensadores mundiais, como recentemente por Tsvetan Todorov em seu livro O medo dos bárbaros (2008). Estas realidades que realmente contam porque nos fazem humanos ou cruéis, não entram nos calculos dos lucros de nenhuma empresa e não são considerados pelo PIB dos países, à exceção do Butão que estabeleceu o Indice de Felicidade Interna de seu povo. As outras vítimas são todos os ecossistemas, a biodiversidade e o planeta Terra como um todo.

Recentemente, o prêmio Nobel em economia, Paul Krugmann, revelava que 400 famílias norte-americanas detinham sozinhas mais renda que 46% da população trabalhadora estadunidense. Esta riqueza não cai do céu. É feita através de estratégias de acumulação que incluem trapaças, superespeculação financeira e roubo puro e simples do fruto do trabalho de milhões.

Para o sistema vigente e devemos dizê-lo com todas as letras, a acumulação ilimitada de ganhos é tida como inteligência, a rapinagem de recursos públicos e naturais como destreza, a fraude como habilidade, a corrupção como sagacidade e a exploração desenfreada como sabedoria gerencial. É o triunfo da morte. Será que nesse duelo ela levará a melhor?

O que podemos dizer com toda a certeza que nessa guerra não temos nenhuma chance de ganhar da Terra. Ela existiu sem nós e pode continuar sem nós. Nós sim precisamos dela. O sistema dentro do qual vivemos é de uma espantosa irracionalidade, própria de seres realmente dementes.

Analistas da pegada ecológica global da Terra, devido à conjunção das muitas crises existentes, nos advertem que poderemos conhecer, para tempos não muito distantes, tragédias ecológico-humanitárias de extrema gravidade.

É neste contexto sombrio que cabe atualizar e escutar a mensagem da Páscoa. Possivelmente não escaparemos de uma dolorosa sexta-feira santa. Mas depois virá a ressurreição. A Terra e a Humanidade ainda viverão.

 Fonte:
INFORMATIVO CNLB SUL 1
 
  http://cnlbsul1.blogspot.com/2011/04/o-duelo-entre-vida-e-morte-leonardo.html?

EINSTEIN E A RELIGIÃO


Muitas vezes “acusado” de ser ateu e de introduzir a duvida a respeito de Deus, Albert Einstein elaborou e seguiu um pensamento religioso complexo e profundo, entendendo que a religião e a ciência eram complementares.

Gilberto Schoereder
 
Quando se pretende falar da relação entre Albert Einstein e a religião, é inevitável lembrar uma de suas frases mais famosas: “A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega”. Isso seria mais do que suficiente para se perceber que o cientista tinha uma relação especial com a religião. Alguns biógrafos de Einstein (1879-1955) chegaram a defender a noção de que essa relação ocorreu basicamente em sua infância, mas essa idéia já não é mais aceita. Uma das pesquisas mais profundas desse relacionamento entre ciência e religião na vida e obra de Einstein está no livro Einstein e a Religião, de Max Jammer, professor de Física e colega de Einstein em Princeton.

O interesse popular no cientista alemão se mantém, mesmo 50 anos após sua morte e num momento em que muitas de suas teorias vêm sendo questionadas. Einstein continua sendo uma das figuras mais conhecidas do planeta e, certamente, o nome que a maioria das pessoas imediatamente associa à ciência.

Jammer cita outra frase importante de Einstein, numa entrevista concedida ao escritor James Murphy e ao matemático John William Navin Sullivan (1886-1937), em 1930. “Todas as especulações mais refinadas no campo da ciência”, disse Einstein, “provêm de um profundo sentimento religioso; sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas”.

Assim, percebe-se claramente a opinião do cientista de que a ciência e a religião eram complementares. No entanto, é preciso entender exatamente o que ele queria dizer com isso.

Os avôs e o pai de Albert eram judeus, mas ele não foi criado seguindo à risca as tradições judaicas. Segundo Jammer, tudo indica que seus pais não eram dogmáticos e sequer freqüentavam os serviços religiosos na sinagoga. Aos seis anos, ele entrou para uma escola pública católica, e teve aulas de religião – católica, bem entendido. Diz-se que só então seus pais resolveram lhe ensinar os princípios do judaísmo, para contrabalançar contrabalançar os ensinamentos católicos.

O SENTIMENTO RELIGIOSO SURGIU CEDO EM EINSTEIN, e ele chamou essa fase de sua infância de “paraíso religioso”, mas existem dúvidas quanto a como ele teria se desenvolvido. Quando os pais resolveram que ele devia conhecer o judaísmo, contrataram um parente distante para ensiná-lo e, segundo Maja, irmã de Albert, foi esse parente que despertou nele o sentimento religioso. 
 
á Alexander Moszkowski, que escreveu a primeira biografia de Einstein, em 1920, afirmou, baseado em conversas pessoais com o cientista, que esse sentimento foi despertado após seu maior contato com a natureza, depois que a família se mudou de Ulm para Munique. O mesmo biógrafo também disse que a música desempenhou papel importante nesse sentimento religioso de Albert.

Apesar da biografia ter sido baseada em conversas pessoais, em 1949, o próprio Einstein escreveu, em Notas Autobiográficas, que sua religiosidade tinha se baseado tanto num sentimento de depressão e desespero quanto no reconhecimento da futilidade da rivalidade humana na luta pela vida. A religião trazia algum alívio, segundo ele disse, mas Jammer parece acreditar que essa idéia de Einstein foi formada posteriormente, uma projeção de suas idéias maduras para sua juventude.

Um fato importante ocorre aos 12 anos de idade, época em que deveria realizar o bar mitzvah, a confirmação judaica, que Einstein se recusou a realizar. Jammer entende que isso se deve à característica da personalidade de Einstein, de demonstrar independência com relação à autoridade e à tradição. Essas noções começaram a se desenvolver, ao que tudo indica, quando sua família recebeu um estudante judeu pobre, Max Talmud, dez anos mais velho do que Einstein. Os dois se tornaram grandes amigos, e foi através de Max que Einstein conheceu os textos a respeito de ciência, geometria, matemática, e a Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant.

Segundo o próprio cientista escreveu posteriormente, ele percebeu, através dos livros científicos, que muitas das histórias da Bíblia não podiam ser verdade e que os jovens são intencionalmente enganados pelo Estado com mentiras. “Dessa experiência”, ele escreveu em Notas Autobiográficas, “nasceu minha desconfiança de todo e qualquer tipo de autoridade, uma atitude cética para com as convicções que vicejavam em qualquer meio social especifico. Essa atitude nunca mais me abandonou, embora, mais tarde, graças a um discernimento melhor das ligações causais, tenha perdido parte de sua contundência original”.


ESSA POSTURA TAMBÉM SE EVIDENCIA NO FATO de que a primeira esposa de Einstein, Mileva Maric, pertencia à Igreja Ortodoxa grega. Os pais de ambos foram contrários ao casamento, mas eles não pareceram se importar com isso.

Max Jammer escreveu que toda essa situação poderia corroborar a tese de que a ciência e a religião são opostos irreconciliáveis, mas Einstein nunca concebeu essa relação como uma antítese, vendo os dois como complementares, como já ficou demonstrado nas frases citadas anteriormente.

O que aparentemente é uma contradição – uma vez que Einstein desaprovou a educação religiosa de seus filhos, considerando-a “contrária a todo o pensamento científico” – explica-se pelo entendimento correto de como Einstein usava os termos “religião” e “religioso”. Por exemplo, na expressão “ensino da religião”, ele via a instrução fornecida de acordo com a tradição de um credo; já na expressão “ciência sem religião”, o termo se referia ao sentimento de uma devoção inspirada, avessa aos dogmas. Em outras palavras, Einstein se referia ao sentimento religioso próprio da pessoa, sem intermediários, sem o poder da instituição e dos dogmas.

Jammer também levanta outra questão importante para se entender o pensamento de Einstein com relação à religião e Deus, e que está ligado à sua admiração pelo filósofo Baruch (posteriormente Benedictus) Espinosa (1632-1677), que negou a concepção judaico-cristã de um Deus pessoal, mas tinha a crença na existência de uma inteligência superior que se revela na harmonia e na beleza da natureza. Jammer explica que Einstein, como Espinosa, “negava a existência de um Deus pessoal, construído com base no ideal de um super-homem, como diríamos hoje”.

Numa oportunidade em que lhe pediram para definir Deus, Einstein disse: “Não sou ateu, e não creio que possa me chamar panteísta. Estamos na situação de uma criancinha que entra em uma imensa biblioteca, repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros, mas não sabe como. Não compreende as línguas em que foram escritos. Tem uma pálida suspeita de que a disposição dos livros obedece a uma ordem misteriosa, mas não sabe qual ela é. Essa, ao que me parece, é a atitude até mesmo do mais inteligente dos seres humanos diante de Deus. Vemos o Universo, maravilhosamente disposto e obedecendo a certas leis, mas temos apenas uma pálida compreensão delas. Nossa mente limitada capta a força misteriosa que move as constelações. Sou fascinado pelo panteísmo de Espinosa, mas admiro ainda mais sua contribuição para o pensamento moderno, por ele ter sido o primeiro filósofo a lidar com a alma e o corpo como uma coisa só, e não como duas coisas separadas”.


MAIS OU MENOS NA MESMA ÉPOCA em que falava sobre sua crença em Deus, Einstein também era acusado de ser um ateu, especialmente numa discussão provocada pelo cardeal O’Connell, arcebispo de Boston, ao advertir os membros do Clube Católico Americano da Nova Inglaterra a não lerem nada sobre a Teoria da Relatividade, uma vez que ela era “uma especulação confusa, que produz a dúvida universal sobre Deus e Sua criação (...) e encobre a assustadora aparição do ateísmo”.

O rabino Herbert S. Goldstein, da Sinagoga Institucional de Nova York, reagiu enviando um telegrama a Einstein pedindo que ele respondesse à simples pergunta: “O senhor acredita em Deus?” A resposta foi: “Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia ordeira daquilo que existe, e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos atos dos seres humanos”. Em última análise, pode se dizer que é uma resposta e um ponto de vista que se aproxima bastante de muitas posturas religiosas ou espiritualistas da chamada Nova Era, com um abandono do Deus pessoal.

Max Jammer alerta para o fato de que Einstein sempre estabeleceu uma distinção nítida entre sua descrença num Deus pessoal, de um lado, e o ateísmo, de outro. Num texto em que comentava um livro que negava a existência de Deus, Einstein disse: “Nós, seguidores de Espinosa, vemos nosso Deus na maravilhosa ordem e submissão às leis de tudo o que existe, e também na alma disso, tal como se revela nos seres humanos e nos animais. Saber se a crença em um Deus pessoal deve ser contestada é outra questão. Freud endossou essa visão em seu livro mais recente. Pessoalmente, eu nunca empreenderia tal tarefa, pois essa crença me parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida. Pergunto-me se algum dia se poderá entregar à maioria da humanidade, com sucesso, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades metafísicas”.

Fica mais do que claro que Einstein não era e nem tinha qualquer apreço pelo ateísmo. Como Jammer destaca, ele não questionava a utilidade da educação religiosa, mas se opunha a ela – como no caso de seus filhos – “quando desconfiava que o principal objetivo era ensinar cerimônias religiosas ou ritos formais, em vez de desenvolver valores éticos”.


O PRIMEIRO ENSAIO DE EINSTEIN A RESPEITO DA RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO data do final de 1930, ainda que se diga que seu interesse no assunto já vinha da década de 20. Sua postura contra todo tipo de dogmatismo religioso pode ser verificada mais uma vez na sua recusa em utilizar o termo “teologia”, entendendo que sua abordagem da religião diferia muito da dos teólogos profissionais, especialmente daqueles para quem “a teologia é detentora da verdade e a filosofia está em busca da verdade”.

A maioria de seus textos sobre religião surgiram no período entre 1930 e 1941, e diz Jammer que seu interesse em escrever sobre o tema cresceu devido a duas entrevistas. A primeira, no início de 1930, dada a J. Murphy e J.W.N. Sullivan, já citada no início da matéria. A segunda entrevista foi com o poeta e filósofo místico hindu Rabindranath Tagore (1861-1941), Prêmio Nobel de Literatura em 1913.

Aparentemente, Einstein ficou um pouco decepcionado com a conversa com Tagore, e resolveu escrever o ensaio chamado Aquilo em que Acredito, que despertou a ira dos nazistas. Um dos trechos diz: “A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério. Ele é a emoção fundamental que se acha no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue surpreender-se, já não sabe maravilhar-se, está praticamente morto e tem os olhos embotados. Foi a experiência do mistério – ainda que mesclada com a do medo – que gerou a religião. Saber da existência de algo em que não podemos penetra, perceber uma razão mais profunda e a mais radiante beleza, que só nos são acessíveis à mente em suas formas mais primitivas, esse saber e essa emoção constituem a verdadeira religiosidade; nesse sentido, e apenas nele, sou um homem profundamente religioso. Não consigo conceber um Deus que premie e castigue suas criaturas, ou que tenha uma vontade semelhante à que experimentamos em nós”.


QUANDO ESCREVEU O ENSAIO RELIGIÃO E CIÊNCIA para a New York Times Magazine, em 1930, Einstein elaborou a idéia de três estágios do desenvolvimento da religião. O primeiro estágio, ele chamou de “religião do medo”. Pensando em quais teriam sido as necessidades e os sentimentos que levaram ao pensamento e à fé religiosa, entendeu que, para o homem primitivo foi, antes de tudo, o medo, seja da fome, dos animais, das doenças ou da morte. A mente humana, disse, criou seres imaginários de cuja vontade dependiam a vida ou a morte do indivíduo e da sociedade. E, para aplacar esses seres, os humanos lhes ofereciam súplicas e sacrifícios, formas primitivas de oração e rituais religiosos.

Ele não aceitava a idéia da religião se originando pela revelação, segundo a qual Deus dá a conhecer Sua realidade aos homens; isso exclui a aparição a Moisés e acontecimentos como o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo, ou ainda as palavras de um anjo, como diz o Alcorão. Jammer diz ainda que a idéia da religião surgindo do medo não é de Einstein, ainda que provavelmente ele não tenha lido os autores que falaram disso antes dele.

O segundo estágio, ele escreveu, foi a “concepção social ou moral de Deus”, decorrente do “desejo de orientação, amor e apoio”. É o Deus que premia e castiga, ao qual ele já havia se referido anteriormente. Einstein via no Antigo e no Novo Testamentos uma ilustração admirável dessa transição de uma religião do medo para a religião da moral, ainda ligada a uma concepção antropomórfica de Deus.

O terceiro estágio Einstein chamou de “sentimento religioso cósmico” e, segundo explicou, é um conceito muito difícil de elucidar para as pessoas que não têm esse sentimento, uma vez que ele não comporta qualquer concepção antropomórfica de Deus. Ele disse que “os gênios religiosos de todas as épocas distinguiram-se por esse tipo de sentimento religioso, que não conhece nenhum dogma e nenhum Deus concebido à imagem do homem; não pode haver uma Igreja cujos ensinamentos centrais se baseiem nele. 
 
Assim, é entre os hereges de todas as eras que vamos encontrar homens que estiveram repletos desse tipo mais elevado de sentimento religioso, e que, em muito casos, forma encarados por seus contemporâneos ora como ateus, ora como santos. Vistos por esse prisma, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Espinosa assemelham-se muito”.


APESAR DE TANTAS DEMONSTRAÇÕES DE QUE NÃO ERA ATEU, mas que via a religiosidade de uma forma particular, até recentemente Einstein era citado como um ateu. Numa conversa como príncipe Hubertus de Löwenstein, disse que o que realmente o aborrecia era que as pessoas que não acreditam em Deus viviam citando-o para corroborar suas idéias. Jammer cita um livro popular sobre a vida do cientista, publicado em 1998, em que surge a frase “ele (Einstein) foi ateu a vida inteira”, apesar de uma citação de Einstein no mesmo livro contradizer essa afirmação: “O Divino se revela no mundo físico”.

O maior problema parece ser mesmo a dificuldade das demais religiões em aceitar uma religião na qual as instituições e os dogmas perdem os sentido. Elas não aceitam essa situação, como não podem aceitar um homem que diz que “se você ora a Deus e Lhe pede algum beneficio, não é um homem religioso”.

Einstein não desrespeitava as religiões estabelecidas, mas apenas não concordava com elas. Jammer diz que ele venerava os fundadores das grandes religiões, e isso pode ser visto numa mensagem que enviou à Conferencia Nacional de Cristãos e Judeus, em 1947. “Se os fieis das religiões atuais”, escreveu Einstein, “tentassem sinceramente pensar e agir segundo o espírito dos fundadores dessas religiões, não existiria nenhuma hostilidade de base religiosa entre os seguidores dos diferentes credos. Até os conflitos no âmbito da religião seriam denunciados como insignificantes”.

Hoje em dia, muitos religiosos dizem exatamente isso, tendo em vista a situação explosiva em que p mundo se encontra, em grande parte devido a conflitos religiosos. Na religião de Einstein, os conflitos seriam impossíveis de existir.

(Extraído da revista Sexto Sentido 52, páginas 24-30)
 Fonte:
  IPPB – Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas
 
Rua Gomes Nogueira, 168 – Ipiranga – São Paulo – SP – CEP: 04265-010.
Telefones: (11) 2063-5381 ou (11) 2915-7351 das 12:00 às 18:00 h (de 2ª à 6ª feira).
http://www.ippb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3708&catid=80:mythos

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ANGELUS 2011-04-17

Papa Reza AVE MARIA ! Hora do Ângelus

ANGELUS 2011-04-17


Vaticano: Bento XVI fala em «rasto luminoso» deixado pelos católicos, apesar dos seus erros

Papa recorda exemplo de João Paulo II e destaca a ação da Igreja junto da «multidão das pessoas que sofrem»


D.R. | Missa Crismal, Vaticano, 21.04.2011
Cidade do Vaticano, 21 abr 2011 (Ecclesia) – Bento XVI afirmou hoje no Vaticano que a Igreja Católica tem deixado um “rasto luminoso” no mundo, em especial junto dos “atribulados e doentes”, falando ainda em “vergonha” pelos erros dos fiéis.

“Apesar de toda a vergonha pelos nossos erros, não devemos esquecer que hoje existem também exemplos luminosos de fé; pessoas que, pela sua fé e o seu amor, dão esperança ao mundo”, disse o Papa na homilia da Missa Crismal, que reuniu os padres da diocese de Roma na basílica de São Pedro.
Na primeira celebração desta quinta-feira, Bento XVI lembrou em particular o seu precessor: “Quando for beatificado o Papa João Paulo II no próximo dia 1 de maio, cheios de gratidão pensaremos nele como grande testemunha de Deus e de Jesus Cristo no nosso tempo, como homem cheio do Espírito Santo”.
Para o Papa, é importante “agradecer às irmãs e aos irmãos que, em todo o mundo, proporcionam um amor restaurador aos homens, sem olhar à sua posição ou confissão religiosa”.

“Desde Isabel da Hungria, Vicente de Paulo, Luísa de Marillac, Camilo de Lellis, até Madre Teresa – para lembrar somente alguns nomes – o mundo é atravessado por um rasto luminoso de pessoas, que tem a sua origem no amor de Jesus pelos atribulados e doentes”, disse Bento XVI.

Na homilia, foi recordada a “multidão das pessoas que sofrem: os famintos e os sedentos; as vítimas da violência em todos os continentes; os doentes com todos os seus sofrimentos, as suas esperanças e desânimos; os perseguidos e os humilhados, as pessoas com o coração dilacerado”.

Esta é uma situação que, segundo o Papa, fez com que “desde o início”, a Igreja tenha amadurecido “a vocação de curar”, “o amor solícito pelas pessoas atribuladas no corpo e na alma”.

“O homem é essencialmente um ser em relação. Mas, se a sua relação fundamental - a relação com Deus – é transtornada, então tudo o resto fica transtornado também”, indicou.

A intervenção papal centrou-se na afirmação de um Deus que “anda à procura” dos seres humanos, e que, “descendo até aos abismos da existência humana”, mostra o quando “ama o homem, sua criatura”.
“Os cristãos deveriam fazer visível ao mundo o Deus vivo, testemunhá-Lo e conduzir a Ele”, referiu.

Para Bento XVI, essa é uma missão que não tem sido plenamente cumprida, lamentando a “incredulidade” e o “afastamento de Deus”.

“Porventura não é verdade que o Ocidente, os países centrais do cristianismo se mostram cansados da sua fé e, enfastiados da sua própria história e cultura, já não querem conhecer a fé em Jesus Cristo?”, questionou.
Na celebração, teve lugar a renovação das promessas sacerdotais, feitas pelos padres presentes, no dia da sua ordenação.

“Com imensa gratidão pela nossa vocação e com grande humildade por todas as nossas insuficiências, renovemos neste momento o nosso «sim» ao chamamento do Senhor: Sim, quero unir-me intimamente ao Senhor Jesus, renunciando a mim mesmo”.

A Missa Crismal contou, como um dos seus momentos centrais, com a bênção dos óleos utilizados na celebração dos sacramentos do Batismo, Crisma, Ordem (ordenações de padres e bispos) e Unção dos Doentes.
OC

 A Virgem do paredão 
- Itália-talvez,Vaticano

Meu querido Joseph Ratzinger,
na Hora do Angelus
17-04-2011


Проповедь в праздник Входа Господня в Иерусалим


Nasci do outro lado do mundo,
mas minha alma vibra na Rússia.

Que bela língua - excelente dicção - boa para relembrar!

В канун праздника Патриарх Кирилл освятил ветви верб


Ah, como queria estar neste ato para receber água sagrada!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MISTÉRIO PASCAL



Mistério pascal designa a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus de Jesus Cristo.


Por Mistério Pascal entende-se este conjunto de acontecimentos, históricos e meta-históricos, entendidos como uma unidade inseparável nos seus diversos elementos.

Para a teologia cristã, o Mistério Pascal é o principal artigo da e o conteúdo essencial da pregação e missão da Igreja.


Na verdade, para os cristãos, foi pelo Mistério Pascal de Cristo que se consumou a salvação de todos os homens e se inaugurou o tempo novo da Redenção. É pelo Mistério Pascal que todos os homens são salvos e participam da vida divina. Logo, pode-se entender o Mistério Pascal o supremo sacrifí­cio, de valor infinito, que Jesus ofereceu a Deus Pai a favor da salvação de todos os homens.

A palavra Mistério tem, nesta expressão, não o sentido vulgar de "coisa oculta", "enigma", mas sim o sentido, corrente nos escritos de São Paulo, de realidade que nos supera mas que é objecto de uma revelação progressiva.


Pascal, porque a entrega de Cristo na Cruz e sua Ressurreição estão intimamente ligados à Páscoa, ou seja, à festa dos judeus, que comemora a sua libertação da escravidão do Egipto, e a que Cristo dá o sentido novo de libertação da escravidão do pecado e da morte.

Assim como a Páscoa, para os judeus, está ligada à passagem do Mar Vermelho, para os cristãos liga-se à passagem da Morte para a Vida, sentido último do Mistério Pascal. Assim como Cristo morreu mas voltou à vida, os cristãos crêem que, por esse mesmo mistério, são também libertados da morte e reconduzidos à vida.

O Mistério Pascal, como realidade fundamental da fé cristã, está presente na sua pregação e, de modo especial, nos seus sacramentos


O Baptismo corresponde, para aos cristãos, a uma inserção do indivíduo no Mistério Pascal de Cristo, pela qual passa a fazer parte também da Igreja. Pelo baptismo, o cristão, à imagem de Cristo, é retirado da morte para a vida nova da graça. O Mistério Pascal está presente de forma mais intensa na Eucaristia.


Neste sacramento, o Mistério Pascal é renovado, ou seja, tornado presente para os que o celebram, de modo que todos recebem os seus frutos de salvação. O Mistério Pascal de Cristo, aliás, está presente em todas as celebrações da Igreja, sacramentais e não sacramentais. Todas elas são, de alguma forma, celebração e actualização do Mistério Pascal.

 Fonte:
 Wikipédia
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mist%C3%A9rio_Pascal