sábado, 30 de abril de 2011

INTUIÇÃO E INSPIRAÇÃO



Sérgio Biagi Gregório

1. CONCEITO DE INTUIÇÃO
 
A palavra intuição (do latim in tueri = ver em, contemplar) significa um conhecimento direto, imediato do conjunto de qualidades sensíveis e essenciais dos objetos e de suas relações, sem uso do raciocínio discursivo (1).
 
2. TIPOS DE INTUIÇÃO
 
Dentre os vários tipos de intuição, destacamos três:
 
1º) intuição sensível ou empírica: visão da laranja;
2º) intuição intelectual: o todo é maior que as partes;
3º) intuição metafísica: intuição de Deus.
 
Em filosofia, aceita-se somente a intuição intelectual, porque  é a única que se pode provar (1).
 
3. INTUIÇÃO INTELECTUAL
 
Intuição é um ato simples, por meio do qual captamos a realidade ideal de algo.

Intelectual refere-se ao trânsito ou à passagem de uma idéia à outra, àquilo que Aristóteles desenvolve sob a forma de lógica.

Assim, intuição e intelectual são termos que se excluem, que se repelem.

O essencial no pensamento de Fichte, Schelling e Hegel é considerar a intuição como método da filosofia. E por que consideram a intuição intelectual como método da filosofia?

Porque dão à razão humana uma dupla missão:

1ª) penetrar intuitivamente na essência das coisas;
2ª) partindo dessa intuição intelectual, construir, de modo puramente apriorístico, toda a armação, toda a estrutura do universo e do homem dentro do próprio universo (2).
 
4. FATORES FAVORÁVEIS À MANIFESTAÇÃO DA INTUIÇÃO 
1º) - Desejar imperiosamente solucionar o problema.
2º) - Acumular ricos conhecimentos práticos e teóricos.
3º) - Trabalhar e pensar longa e intensamente.
4º) - Passar rapidamente de uma atividade à outra.
5º) - Ter a mente flexível e aberta ao novo.
5. CONHECIMENTO INTUITIVO E CONHECIMENTO CIENTÍFICO
 
A distinção entre ambos pode ser expressa da seguinte forma: enquanto o conhecimento intuitivo se reduz a um ato, simples e individual, o conhecimento científico resulta de um processo complexo de análise e de síntese.

o conhecimento intuitivo consiste em um ato de experiência sensível ou espiritual, já o conhecimento científico toma a experiência como primeiro passo ou estágio inicial de um longo processo de pesquisa.

o conhecimento intuitivo é de ordem subjetiva, enquanto o conhecimento científico fundamenta-se na objetividade e na evidência dos fatos, e, porque essa objetividade e evidência são demonstradas lógica ou experimentalmente, o conhecimento científico adquire o caráter objetivo de validade geral e independente de intuições (3).
 
6. INTUIÇÃO, RAZÃO E ESPIRITISMO
 
O conhecimento vindo através do intelecto nos faz apreender o mundo ambiente, ao passo que a intuição nos dá o discernimento das coisas divinas;

O conhecimento intelectual se estriba na razão que mediu, pesou, dividiu, analisou, concluiu;

A intuição, porém, se apóia na fé, porque somente crê e confia. O campo da razão vai até onde a inteligência alcança, mas o da intuição não têm limites, porque é o campo da consciência universal. Por isso, às vezes diz “sim”, quando a intuição diz “não”; uma fala “prudência”, a outra ordena “confiança”; uma diz “raciocina primeiro”, mas a outra determina “crê e segue” (4).
 
7. CONCEITO DE INSPIRAÇÃO
 
Inspiração - do latim inspiratio do verbo aspiro, soprar para dentro. Segundo o Dicionário Aurélio, qualquer estímulo ao pensamento ou à atividade criadora.

Na aspiração, quando o espírito humano, no seu dinamismo, dirige a um valor puro, como liberdade, justiça, a aspiração torna-se inspiração.

Fala-se muito na inspiração dos artistas, esse misterioso poder de criação espontâneo, que parece como se uma potência exterior viesse em auxílio daquele.
Muitos artistas realizam obras num estado de mínima consciência, apercebendo-se do que fizeram quase no fim ou no término do que encetaram. Alguns chegam a afirmar um caráter de mediunidade, como se o artista não passasse de um instrumento dócil às mãos de um ser misterioso que o guiasse na realização de sua obra, como Mozart que ouvia os seus concertos, num só ato, escrevendo-os, depois, por memorização (5).
 
8. MÉDIUNS INTUITIVOS E MÉDIUNS INSPIRADOS
 
Médiuns Intuitivos: o papel desta categoria de médiuns é ser intérprete dos Espíritos. Enquanto o médium mecânico age como uma máquina, o  médium intuitivo, para transmitir o pensamento, deve primeiramente compreendê-lo, para depois apropriar-se dele e traduzi-lo fielmente, embora esse pensamento não seja o seu.

Médiuns Inspirados: é uma variedade da mediunidade intuitiva, entretanto a intervenção de um poder oculto é ainda bem menos sensível, ou seja, no inspirado é mais difícil distinguir-se o pensamento próprio daquele que lhe é sugerido. O que caracteriza  este último é sobretudo a espontaneidade (6).
 
INTUIÇÃO, INSPIRAÇÃO E MEDIUNIDADE
 
Intuição significa um conhecimento direto, imediato  do conjunto das qualidades sensíveis e essenciais dos objetos e  das suas relações, sem uso do raciocínio discursivo. Inspiração  quer dizer  soprar  para dentro. É o estado de exaltação  emotiva,  de íntima e misteriosa iluminação, em que, pela intuição estética, o artista  apreende  o  seu  objeto  de  modo  impreciso,  mas   em plenitude.
 
Por  essas  definições depreende-se que na  intuição  o indivíduo busca o conhecimento por si mesmo, penetrando-o através de  seus  próprios  esforços. Por outro lado,  na  inspiração,  a descoberta vem espontaneamente, transparecendo em muitos artistas a  existência  de uma percepção  extra-sensorial  -  mediunidade. Muitos  realizam  suas obras num estado de   mínima  consciência, como  é  o caso de Mozart, que depois do  êxtase,  escrevia  seus acordes de cor.
 
Teoricamente não é difícil separar esses dois conceitos. Mas como precisar, com certeza, onde começa um e onde termina  o outro? A doutrina dos Espíritos, codificada por  Allan Kardec, fornece-nos uma luz. De acordo com seus postulados, estamos envoltos pela presença de Espíritos, que tanto podem influenciar-nos  para o bem quanto para o mal. Neste  sentido, o insight de uma descoberta poderia, perfeitamente, provir do sopro de um Espírito amigo.
 
No desenvolvimento desses raciocínios, o homem de gênio poderia  ser apontado como o ser exclusivamente  intuitivo.  Isso não é impossível, visto  que  ele,  em outras   encarnações, conquistou,  através  dos próprios esforços, condições  para tal fim.  Mesmo  assim, não se invalida a influência exercida  pelos bons  Espíritos. Estes podem  utilizar-se da matéria cerebral do gênio e comunicar-lhe as invenções necessárias para a evolução da humanidade.
 
No  estudo da psicografia, Kardec usa os termos médium intuitivo  e médium  inspirado.  O médium  intuitivo escreve e percebe que as idéias são do Espírito comunicante e com o médium inspirado isto não ocorre. Afirma, ainda, que o segundo é um caso especial do primeiro. Ele considera a intuição e  a  inspiração como  mediunidade, ao  contrário dos filósofos, que tratam da intuição como sendo uma abstração do próprio sujeito cognoscente.
 
Excluindo-se a terminologia exclusivamente mediúnica de Kardec, podemos dizer  que a intuição refere-se ao  fenômeno anímico, enquanto a inspiração, ao fenômeno mediúnico. Estejamos atentos para separar um do outro.
 
QUESTÕES
Qual o conceito de intuição?
Qual o conceito de inspiração?
Quais são os fatores favoráveis à manifestação da intuição?
Como se distingue o conhecimento intuitivo do conhecimento científico?
O que distingue o médium intuitivo do médium inspirado?
 
TEMAS PARA DEBATE
A intuição vai além da razão. Ela se apoia na fé?
O campo da razão vai até onde a inteligência alcança, mas a intuição não tem limites. Comente.
Em termos mediúnicos, é possível separar a intuição da inspiração? Como?
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

(1) BAZARIAN, J. Intuição Heurística: Uma Análise Científica da Intuição Criadora. 3. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1986.
 Fonte:
Centro Espírita Ismael
  
                                                             São Paulo,fevereiro de 1998
Faça Cursos 24h Online: Lista dos Cursos

FONTES DE CONHECIMENTO E CARACTERÍSTICAS


I.3. 

Fontes de conhecimento

e as suas características

O ser humano tem uma inata tendência para a aprendizagem.
O denominado conhecimento popular é tão amplo e complexo que utiliza expressões contextuais para transmitir conceitos que de outra forma seria muito complicado ou levaria demasiado tempo. Uma amostra interessante dos milhares de expressões é a curiosidade matou o gato, porque é muito semelhante à frase do parágrafo anterior mas não compromete nada. 

Pelo contrário, poderia começar a questionar-se a primeira questão: Porque só o ser humano? De certeza que é inata? Que parte se aprende e que parte é instintiva? É só uma tendência ou é uma característica intrínseca e permanentemente operativa? Produz-se só no âmbito do consciente ou também no do inconsciente? Poderíamos continuar assim até... Ah, já nos esquecíamos:  

O que é um ser?
Mais formalmente, se a origem do conhecimento provem exclusivamente da experiência (empirismo - Locke), ou o contrário (inatismo - Leibniz) ou um compromisso histórico de ambos (apriorismo - Kant). 

Vemos, pois, a eficiência do conhecimento popular, contudo, pelas suas características tem um grande inconveniente, não é de fiar, em numerosas ocasiões é irônico, uma pequeníssima variação contextual pode mudar de signo ou significado, noutros casos só pretender alegrar a vida com o humor mediante o cruzamento de ideias na mente, às vezes, inclusivamente inverte premeditadamente os elementos causa-efeito, etc.

Para evitar toda esta série de inconvenientes desenvolveu-se o método científico que, na sua versão estrita, conta com três métodos principais por estarem aceites com generalidade pela comunidade científica. Também se costumam apontar numerosos métodos particulares em função da matéria estudada com maior ou menor aceitação e normalmente costumam referir-se a sistemas com características complexas.

Poderia dizer-se que o conhecimento popular é ao método científico o que é a intuição à lógica. Ambos partilham as mesmas fontes do conhecimento: a percepção, a intuição e a lógica. Partilham os problemas relativos aos elementos contextuais e à dificuldade da separação causa-efeito.

Também se pode incluir como fonte do conhecimento tanto popular como científico a criatividade? Um exemplo como fonte do conhecimento popular seria a frase pensa mal e acertarás e um exemplo ilustrativo da criatividade como fonte do conhecimento científico seria a loucura do gênio. 

O desenho das características do método científico persegue a objetividade e a segurança das suas conclusões, por isso não costuma cometer erros; pelo contrário, o conhecimento popular sim comete mas, por vezes, é muitíssimo mais eficiente para transmitir uma ideia complexa; de fato, todos o utilizamos com assiduidade. 

Em relação às características das fontes do conhecimento, a lógica também não deveria cometer erros pois, caso contrário, deixaria de ser lógica e passaria a considerar-se como puras especulações. 

A fonte do conhecimento da intuição sim comete erros, pois apesar de não ter a segurança desejada dos raciocínios, não se detém e continua com argumentos parciais, chegando a conclusões que ela mesma não pode confirmar nem rejeitar. Ao libertar-se da escravidão da segurança, a sua potência é muito maior que a da lógica.

À medida que vai acumulando argumentos parciais, a sua margem de erro vai aumentando e, portanto, a sua eficácia vai diminuindo. Contudo, por vezes, depois de uma longa argumentação ou pensamento, em que a conclusão final tem associada uma elevada margem de erro, produz-se um fato interessante que permite melhorar a sua eficácia significativamente: à vista da conclusão, encontramos uma via diferente que nos incrementa a fiabilidade. 

Mas neste caso encontramo-nos
mais na linha da criatividade do que da intuição. 

Este poderia ser o caso da Teoria Geral da Evolução Condicionada da Vida, a sua posição filosófica é um tanto aventureira e choca com as crenças e posições mais comuns dentro da sociedade, as suas hipóteses do funcionamento genético são bastante atrevidas, etc., mas, afinal... Propõem-se meios de verificação empírica! E conseguem-se!

Claro que, em certos casos, a evidência contra uma posição pode ser abrumadora e ainda assim persistir em continuar o raciocínio com uma margem de erro quase insuportável, poderia dizer-se que, se no final se consegue descobrir um caminho para a validação empírica, uma 5ª fonte do conhecimento foi a loucura, o que em certa forma se poderia considerar o mesmo, o amor, ou melhor, a loucura do amor, ou... é melhor não pôr exemplos históricos.
Outra característica interessante e diferente do binômio percepção-realidade é a relativa à relação entre teoria científica e realidade, tratado amplamente pelo chamado Círculo de Viena

Existem três interpretações das relações entre teoria e realidade (observação): o reducionismo, o realismo e o instrumentalismo ou convencionalismo.
O reducionismo circunscreve a teoria científica ao mundo do observável, convertendo-se numa simplificação das observações. 

O realismo admite que determinadas entidades não sejam observáveis mas requer que sejam reais, ou seja, que existam independentemente da mente. Por seu lado, o instrumentalismo ou convencionalismo define-a como um instrumento útil que permite fazer vaticínios. 

Sinceramente, o utilitarismo que se antepõe à racionalidade parece-me mais técnico que científico, mas suponho que são questões de moda, ainda que possa, durar séculos.

O que é o método científico?

 Fonte:
Mª José T. Molina
 
MOLWICKPEDIA

A IMPORTÂNCIA DA INTUIÇÃ\O






"Se o senhor quer estudar em qualquer dos físicos teóricos os métodos que emprega, sugiro-lhe firmar-se neste princípio básico: não dê crédito algum ao que ele diz, mas julgue aquilo que produziu. Porque o criador tem esta característica: as produções de sua imaginação se impõem a ele, tão indispensáveis, tão naturais, que não pode considerá-las como imagem de espírito, mas as conhece como realidades evidentes."

Albert Einstein 1 
A importância da intuição 2
Não é fácil conceituar a intuição.
Se perscrutarmos os dicionários, encontraremos algo do tipo: a intuição é o ato de ver, perceber, discernir, pressentir 3. Fica-nos, então, aquela impressão de que a intuição é o ato de ver algum objeto ou fenômeno de maneira diferente daquela normalmente vista pela maioria das pessoas que olham para esse objeto ou fenômeno.
Por exemplo: bilhões de pessoas, no decorrer de milhares de anos, já devem ter se deparado com um cenário, ao cair da tarde, onde, por trás de uma macieira repleta de frutos suspensos por pedúnculos, visualiza-se a Lua, fixa no firmamento. Quantos viram algo além de maçãs e da Lua? Pois é bem possível que num cenário como este e em seu sítio, em Woolsthorpe, o jovem Isaac Newton, com apenas 24 anos de idade, tenha visualizado, além de maçãs e da Lua, a inércia retilínea e a atração entre corpos com massa.
Entre a visão normal, ou o ato puro e simples de olhar, e a visão sofisticada, qual seja, o ato de ver, de perceber, de discernir, de pressentir, reside o segredo da intuição, também descrita como a contemplação pela qual se atinge a verdade por meio não racional 3. Vamos, então, trabalhar um pouco mais este conceito no sentido de esclarecer o que aqui entendemos por verdade e por que o processo intuitivo seria não racional.
O cientista é, diferentemente dos outros, um homem que procura pela verdade e que, portanto, assume a existência dessa verdade. Nessa procura, admite como certo o que poderíamos chamar de verdade provisória. Digamos, então, que esta última seja o que consideramos como verdade científica, e o que a distingue das demais verdades provisórias, encontradas pelos que não são cientistas, seria o seu acoplamento ao método científico ou à experimentação.
Para resumir, poderíamos dizer que
a verdade científica é uma verdade provisória
tomada por empréstimo da natureza
e da forma como ela aparenta ser 4.
As hipóteses e conjecturas científicas assumem, com freqüência, esse papel de verdades científicas. Digamos, então, que o primeiro passo, mas não o único e/ou o derradeiro, para chegarmos às verdades científicas seria a contemplação da natureza.
A não racionalidade, atribuída à intuição, retrata o seu caráter essencial, mas não engloba, propriamente, todo o processo intuitivo. Digamos que se refere ao insight ou estalo ou, ainda, à percepção de alguma coisa estranha, não notada nas outras vezes em que se observou o mesmo objeto ou fenômeno. É óbvio que esta percepção, ao ser trabalhada racionalmente, poderá vir a se constituir numa conjectura ou hipótese. No entanto, mesmo antes de formularmos uma conjectura ou hipótese, já estamos frente a algo a que podemos associar o conceito de verdade provisória
Existe um conceito popular a dizer: Gato escaldado tem medo de água fria. Seria isto equivalente a admitir que o gato raciocina?
Seria isto coerente com a afirmação de que o gato formula hipóteses (a água queima) e as generaliza (as próximas águas queimarão)? Provavelmente não! Podemos, pelo exemplo, simplesmente inferir que o gato está dotado de uma intuição primitiva e da capacidade de memorizar fatos e, em conseqüência disso, em condições de aprender por um meio não racional.
Se a ciência experimental começa pela intuição, poderíamos concluir que o intuitivismo é a base fundamental de todos os conhecimentos humanos oriundos das ciências empíricas. É importante não confundir intuitivismo com intuicionismo. Este último relaciona-se à doutrina que faz da intuição o instrumento próprio do conhecimento da verdade: ver para crer. Mesmo porque o cientista parte da contemplação do que realmente existe, e interpreta esta verdade seguindo um raciocínio lógico aprisionado ao método científico.
O cientista, então, parte da verdade (intuitivismo) e procura por novas verdades científicas por meio da construção e da corroboração de teorias. Afirmar que a ciência começa pela intuição é, portanto, bem diferente de dizer que a ciência começa pela observação. Críticas a este segundo posicionamento podem ser encontradas no livro de Chalmers 5 e o contraste entre as duas posições está relatado no artigo, já citado, que escrevi sobre o método científico 4.
É comum contemplarmos a natureza por vias indiretas. Newton, por exemplo, conhecedor da inércia circular de Galileu, viu a Lua em movimento e deve ter associado este movimento à desnecessidade de um pedúnculo para que a Lua permanecesse a uma distância fixa da Terra, o que não acontecia com as maçãs. Ou seja, Newton contemplou a natureza com conhecimentos adquiridos em seus estudos, o que é diferente de observar um fenômeno sem conhecimento algum.
Einstein, por outro lado, contemplou a natureza utilizando-se unicamente da imaginação e de seus conhecimentos prévios, deixando a observação momentaneamente de lado. Seus conhecimentos sobre eletromagnetismo, aos quinze anos de idade, relacionavam-se a brincadeiras com uma bússola ganha na infância e ao que pôde aprender no segundo grau a respeito do eletromagnetismo vigente na época. Certamente ouviu falar sobre a experiência de Oersted, em que a bússola sofre uma deflexão ao ser colocada nas vizinhanças de um fio conduzindo uma corrente elétrica.
A teoria de Maxwell explicava o fenômeno afirmando que o campo elétrico gerado por cargas em movimento (corrente elétrica) manifestar-se-ia em objetos em repouso (no caso, a bússola) como um campo magnético; daí a deflexão sofrida pela bússola. De alguma maneira, parte do campo elétrico transformava-se em magnético em virtude do movimento. Por um mecanismo do mesmo tipo, pelo menos em sua origem, a teoria de Maxwell explicava também o caráter eletromagnético da luz: campos elétricos e magnéticos iriam se alternando à medida que a luz se propagasse.
Em essência, foram essas as referências utilizadas pelo jovem Einstein para construir o cenário onde visualizou o nascimento de sua teoria da relatividade. Ele simplesmente imaginou estar lado a lado com uma onda eletromagnética. E percebeu que, a ser verdadeira a teoria de Maxwell, neste cenário construído os campos elétrico e magnético estariam em repouso. Como explicar, neste repouso, a alternância entre os campos elétrico e magnético? Como explicar a coerência da teoria de Maxwell frente ao que lhe pareceu ser um absurdo?
A saída encontrada foi conjeturar sobre a impossibilidade em se acompanhar uma onda eletromagnética. Daí, para afirmar que a constante c, inerente às equações do eletromagnetismo, é universal e independente do referencial utilizado, ele se valeu de um trabalho de refinamento de sua conclusão primeira, o que foi possível graças a seus conhecimentos sobre a teoria de Maxwell bem como à sua tentativa de compatibilizá-la com a relatividade de Galileu; este trabalho foi concluído por Einstein aos 25 anos de idade e publicado sob o título de Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento.

A.M.F 

Referências:
(2) Este assunto é apresentado com mais detalhes em Ensaios sobre a filosofia da ciência, capítulo 2.
(4) MESQUITA FILHO, A.(1996): Teoria sobre o método científico, Integração II(7):255-62,1996.

 Fonte:
ESPAÇO CIENTÍFICO CULTURAL
 
  Integração VII(27):243-4,2001

INTUIÇÃO CIENTÍFICA : DIMITRI IVANOVICH MENDELEIEV

 
Dmitri Ivanovich Mendeleev, em russo: Дми́трий Ива́нович Менделе́ев,, também grafado Mendeleiev, (Tobolsk, 8 de Fevereiro de 1834 — São Petersburgo, 2 de Fevereiro de 1907) - foi um químico russo, criador da primeira versão da tabela periódica dos elementos químicos, prevendo as propriedades de elementos que ainda não tinham sido descobertos.

Vida e obra

Dmitri I. Mendeleev nasceu na cidade de Tobolsk na Sibéria. Era o filho caçula de uma família de 17 irmãos. Seu pai, Ivan Pavlovich Mendeleev era diretor da escola de seu povoado, perdeu a visão no mesmo ano de seu nascimento. Como consequência perdeu seu trabalho.

Já que seu pai recebia uma pensão insuficiente sua mãe, Maria Dmitrievna Mendeleeva, passou a dirigir uma fábrica de cristais fundada por seu avô, Pavel Maximovich Sokolov. Na escola, desde cedo destacou-se em Ciências (nem tanto em ortografia). Um cunhado, exilado por motivos políticos e um químico da fábrica inspiraram sua paixão pela ciência. Depois da morte de seu pai um incêndio destruiu a fábrica de cristais. Sua mãe decidiu não reconstruir a fábrica mas sim investir suas economias na educação do filho.

Nessa época todos os seus irmãos, exceto uma irmã, já viviam independentemente. Sua mãe então mudou-se com ambos para Moscovo a fim de que ele ingressasse na universidade de Moscovo o que não conseguiu. Talvez devido ao clima político vivido pela Rússia naquele momento a universidade só admitia moscovitas.

Foram então para São Petersburgo, onde a situação era precisamente a mesma, não se admitiam estudantes de outras regiões, porém sua mãe descobriu que o diretor do Instituto Pedagógico Central (principal escola formadora de professores da Rússia da época) era amigo de seu finado marido, portanto, onde a burocracia frustrava, o favoritismo mandava e Dmitri consegue uma vaga.

O Instituto Pedagógico Central ficava nos mesmos prédios da Universidade de São Petersburgo e tinha em seu quadro docente muitos professores da própria universidade, dentre eles o famoso físico alemão Heinrich Lenz. Interessou-se pela química graças ao prestigiado professor Alexander Voskresenki, que passou seus últimos anos de vida em uma enfermaria devido a um falso diagnóstico de tuberculose. Ainda assim graduou-se em 1855 como primeiro de sua classe.

Em 1859 conseguiu uma verba do governo para estudar no exterior por dois anos. Primeiro foi à Paris estudar sob Henri Victor Regnault, um dos maiores experimentalistas europeus da época (consta que Regnault havia feito várias descobertas importantes, como o princípio da conservação de energia, mas seus estudos haviam sido destruídos e Regnault não conseguiu recuperar antes de sua morte).

No ano seguinte, Mendeleev seguiu para a Alemanha estudar com Gustav Kirchhoff e Robert Wilhelm Bunsen, inventores do espectroscópio - importante instrumento para descoberta de novos elementos daquela época - e do até hoje utilizado bico de Bunsen.

O comportamento explosivo de Mendeleev tornou-se sua ruína.

Com pouquíssimo tempo de convivência, brigou com Kirchoff e desistiu das aulas, porém, continuou na Alemanha onde residia em um pequeno apartamento que transformou em laboratório.

Neste laboratório improvisado, trabalhando sozinho, limitou-se a estudar a dissolução do álcool em água e fez importantes descobertas sobre estruturas atômicas, valência e propriedades dos gases.
Graduou-se em 1855 sendo o primeiro da sua classe.
 Casa-se pela primeira vez, por pressão da irmã, em 1862 com Feozva Nikítichna Lescheva com a qual teve três filhos um dos quais faleceu. Esta foi uma união infeliz e, em 1871, separaram-se. Casou-se pela segunda vez em 1882 com Ana Ivánovna Popova 26 anos mais jovem. Tiveram quatro filhos. Teve de enfrentar a oposição da família de Ana e o facto de que Feozva negava-se a dar-lhe o divórcio. 
Em 1869, enquanto escrevia seu livro de química inorgânica, Dmitri Ivanovich Mendeleiev organizou os elementos na forma da tabela periódica actual.

Dimitri Ivanovich Mendeleiev- 1897

Mendeleiev criou uma carta para cada um dos 60 elementos conhecidos. Cada carta continha o símbolo do elemento, a massa atómica e as suas propriedades químicas e físicas. Colocando as cartas numa mesa, organizou-as em ordem crescente de massas atómicas, agrupando-as em elementos de propriedades semelhantes. Tinha então acabado de formar a tabela periódica.

Esta tabela de Mendeleiev tinha algumas vantagens sobre outras tabelas ou teorias antes apresentadas, mostrando semelhanças numa rede de relações vertical, horizontal e diagonal. A classificação de Mendeleiev deixava ainda espaços vazios, prevendo a descoberta de novos elementos.

A tabela de Mendeleiev serviu de base para a elaboração da actual tabela periódica, que além de catalogar os 118 elementos conhecidos, fornece inúmeras informações sobre o comportamento de cada um.

Mendeleiev ordenou os 60 elementos químicos conhecidos de sua época na ordem crescente de peso atómico de certa forma que em uma mesma vertical ficavam os elementos com propriedades químicas semelhantes, constituindo os grupos verticais, ou as chamadas famílias químicas.

O trabalho de Mendeleiev foi um trabalho audacioso 
e um exemplo espectacular de intuição científica. 


De todos os trabalhos apresentados que tiveram influência na tabela periódica o de Mendeleiev teve maior perspicácia.

Mendeleiev foi um dos que defendeu a hipótese da origem inorgânica do petróleo.

Viajou por toda a Europa visitando vários cientistas. Em 1902 foi a Paris e esteve no laboratório do casal Curie.
Faleceu em 1907 já praticamente cego.

Dimitri Ivanovich Mendeleiev nasceu na Sibéria, sendo o mais novo de dezessete irmãos. Mendeleiev foi educado em St. Petersburg, e posteriormente na França e Alemanha.

Conseguiu o cargo de professor de química na Universidade de St. Petersburg. Escreveu um livro de química orgânica em 1861. Em 1869, enquanto escrevia seu livro de química inorgânica, organizou os elementos na forma da tabela periódica atual.
 Dimitri Ivanovich Mendeleiev

Mendeleiev criou uma carta para cada um dos 63 elementos conhecidos. Cada carta continha o símbolo do elemento, a massa atómica e as suas propriedades químicas e físicas.

Colocando as cartas em cima de uma mesa, organizou-as em ordem crescente das suas massas atómicas, agrupando-as em elementos de propriedades semelhantes. Formou-se então a tabela periódica. 

A vantagem da tabela periódica de Mendeleiev sobre as outras, é que esta exibia semelhanças, não apenas em pequenos conjuntos como as tríades.

Mostravam semelhanças numa rede de relações vertical, horizontal e diagonal.
Em 1906, Mendeleiev recebeu o Prémio Nobel por este trabalho.

 Amor
Fonte
Explicatorium
Texto adaptado a partir da Wikipédia.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Periodic_table_monument.jpg
Sejam felizes todos os seres. 
Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

MENSAGEM DE PÁSCOA 2011 DE BENTO XVI

Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”

CIDADE DO VATICANO, domingo, 24 de abril de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos a mensagem de Páscoa que Bento XVI dirigiu do balcão central da Basílica de São Pedro ao meio-dia deste 
Domingo da Ressurreição.


«In resurrectione tua, 
Christe, coeli et terra laetentur 
– Na vossa Ressurreição, ó Cristo, 
alegrem-se os céus e a terra» 
(Liturgia das Horas).

Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!

A manhã de Páscoa trouxe-nos este anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco deste acontecimento, que partiu de Jerusalém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de Madalena e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos.

Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e daqueles irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois discípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16, 9-14).

A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se num momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. 

 A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.
Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projecto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação.O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade.

«Na vossa ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra». A este convite ao louvor, que hoje se eleva do coração da Igreja, os «céus» respondem plenamente: as multidões dos anjos, dos santos e dos beatos unem-se unânimes à nossa exultação. No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra! 

Aqui, neste nosso mundo, o aleluia pascal contrasta ainda com os lamentos e gritos que provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras, violências. E todavia foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou! Ele morreu também por causa dos nossos pecados de hoje, e também para a redenção da nossa história de hoje Ele ressuscitou. Por isso, esta minha mensagem quer chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades que estão a sofrer uma hora de paixão, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça e da paz.
Possa alegrar-se aquela Terra que,
primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado.

O fulgor de Cristo chegue também aos povos do Médio Oriente para que a luz da paz e da dignidade humana vença as trevas da divisão, do ódio e das violências. Na Líbia, que as armas cedam o lugar à diplomacia e ao diálogo e se favoreça, na situação actual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem as consequências da luta. Nos países da África do Norte e do Médio Oriente, que todos os cidadãos – e de modo particular os jovens – se esforcem por promover o bem comum e construir um sociedade, onde a pobreza seja vencida e cada decisão política seja inspirada pelo respeito da pessoa humana. 

A tantos prófugos e aos refugiados, que provêm de diversos países africanos e se vêem forçados a deixar os afectos dos seus entes mais queridos, chegue a solidariedade de todos; os homens de boa vontade sintam-se inspirados a abrir o coração ao acolhimento, para se torne possível, de maneira solidária e concorde, acudir às necessidades prementes de tantos irmãos; a quantos se prodigalizam com generosos esforços e dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o nosso conforto e apreço.

Possa recompor-se a convivência civil entre as populações da Costa do Marfim, onde é urgente empreender um caminho de reconciliação e perdão, para curar as feridas profundas causadas pelas recentes violências. Possa encontrar consolação e esperança a terra do Japão, enquanto enfrenta as dramáticas consequências do recente terremoto, e demais países que, nos meses passados, foram provados por calamidades naturais que semearam sofrimento e angústia.

Alegrem-se os céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou mesmo perseguições pela sua fé no Senhor Jesus. O anúncio da sua ressurreição vitoriosa neles infunda coragem e confiança.

Queridos irmãos e irmãs! Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova terra (cf. Ap 21, 1), onde finalmente viveremos todos como uma única família, filhos do mesmo Pai. Ele está connosco até ao fim dos tempos. Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia. No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim.

Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco.

Por isso, cantamos e caminhamos,
fiéis ao nosso compromisso neste mundo, 
com o olhar voltado para o Céu.

Boa Páscoa a todos!
 
 Amor

Fonte
CNBB-REGIONAL SUL I
Tradução distribuída pela Santa Sé
©Libreria Editrice Vaticana]
 
Sejam felizes todos os seres.  Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.

ANGÚSTIA E O EXISTENCIALISMO



Ricardo Ernesto Rose
Jornalista e Licenciado em Filosofia
“Que o homem, voltado para si próprio, considere o que é diante do que existe; que se encare como um ser extraviado neste canto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde se acha preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor exato a terra, os reinos, as cidades e ele próprio. Que é um homem dentro do infinito?
Blaise Pascal,
Pensamentos

 

A palavra “angústia” é um termo relativamente recente no linguajar filosófico.Não é possível identificar exatamente sua origem, mas parece ter sido utilizado pela primeira vez em seu sentido atual na obra “O conceito de angústia", de Sören Kierkegaard, em 1844.

A palavra passou a ser cada vez mais empregada pelos filósofos voltados aos problemas humanos em sua essência e foi traduzida para diversas línguas. Sartre e outros franceses falam em angoisse, Heidegger; Jaspers e outros alemães utilizam a palavra Angst (que também quer dizer medo); Abbagnano em sua "Introdução ao Existencialismo” usa a palavra angoscia; e John Macquarrie, filósofo e teólogo escocês, prefere em sua obra “Existentialism” o termo anxiety ao invés de dread; esta, segundo ele, palavra mais relacionada com medo do que com angústia.

A palavra, com a acepção moderna que tem nas línguas ocidentais, não era conhecida pela filosofia grega com o mesmo sentido. Foram necessários dois mil e quinhentos anos de metafísica e cristianismo, para que o homem ocidental desenvolvesse a consciência para a qual a palavra angústia – e tudo que o termo implica sob o aspecto psicológico, emocional, social e filosófico – tivesse o significado que lhe damos na modernidade.

O monoteísmo; a metafísica; os conceitos de individualidade, de liberdade individual e de responsabilidade; foram idéias – paradigmas culturais – que levaram à formação da idéia de angústia.

De uma maneira geral a palavra angústia sempre foi utilizada pelos pensadores quando descrevem uma situação emocional ou intelectual da qual o indivíduo não pode fugir; falam de uma decisão que precisa ser tomada sob gravíssimo risco; mostram que a escolha é difícil.

Três aspectos principais caracterizam situações de angústia: 
1) O autor fala de ou dirige-se a um indivíduo, ou seja, seu objeto de estudo ou interlocutor é um indivíduo concreto e específico;

2) A situação descrita pelo filósofo é de liberdade, isto é, o indivíduo tratado pela análise ou aquele a quem se dirige o discurso é livre, tem poder de escolha;

3) A situação ou tema descrito pelo pensador requer uma decisão, não existe a possibilidade de não escolher – isto já seria uma escolha, segundo o filósofo francês Sartre.

Outro aspecto que consideramos importante em nossa análise, é que para entender melhor as diversas maneiras como a palavra angústia foi utilizada ao longo da história do pensamento, é necessário estudar os principais autores que a empregaram. Estes foram, em sua maioria, classificados como sendo filósofos existencialistas, apesar de muitos não concordarem com este termo. 

A filosofia existencialista é aquela que se ocupa especialmente do indivíduo em sua vida concreta e – ponto importante em nossa análise – se utilizava extensamente de “situações de angústia”, como descrito no parágrafo anterior.

Mas o existencialismo não tem só esta característica. Uma das outras e importantes qualidades desta escola filosófica é descrita por Miguel de Unamuno (1864-1936), filósofo existencialista católico espanhol. Em sua principal obra, “O sentido trágico da vida”, Unamuno escreve: “O homem com o qual nós temos a ver é o homem de carne e osso – eu, você, meu leitor, o outro homem distante, todos nós que solidamente caminhamos sobre a terra. 

E este homem concreto, este homem de carne e osso, é ao mesmo tempo o tema e o supremo objetivo de toda filosofia, mesmo que filósofos com estilo próprio gostem ou não”. (Unamuno, 1954, p. 2 – tradução nossa). Para nos aprofundarmos no conceito de angústia, descrevermos aspectos do pensamento de importantes pensadores existencialistas.

A angústia e o movimento existencialista

Nesta parte de nosso estudo tomamos a liberdade de incluir um pensador que na maioria dos manuais de filosofia não é considerado como um dos filósofos existencialistas. Trata-se do francês Blaise Pascal (1623-1662), grande matemático e físico, mais tarde convertido ao jansenismo (corrente herética do catolicismo) e autor de tratados científico-matemáticos e obras apologéticas. 

Planejava também escrever uma “Apologia do cristianismo”. Devido à morte prematura do pensador a obra nunca se concluiu, permanecendo apenas fragmentos diversos, reunidos sob o nome “Pensamentos”, editados pela primeira vez em 1669. Nesta obra Pascal critica aqueles que em sua época eram chamados de “libertinos” (materialistas e atomistas); sua posição perante a moral e, principalmente, em relação à religião. 

A obra mostra segundo Pascal, 
a miséria do homem quando afastado de Deus. 

Escreve: “Que poderá fazer (o homem), portanto, senão perceber alguma aparência das coisas num eterno desespero por não poder conhecer nem seu princípio nem seu fim? Todas as coisas saíram do nada e foram levadas para o infinito; quem seguirá estes caminhos assombrosos? O autor destas maravilhas conhece-as; e ninguém mais.” (Pascal, 173, p. 56).

Analisando a posição do homem em sua precária situação no universo, Pascal escreve:

Afinal que é o homem dentro da natureza? 
Nada em relação ao infinito;
tudo em relação ao nada; 
um ponto intermediário entre o tudo e o nada 
(ibidem, p.56).

Pascal, com seu conhecimento da vida mundana de sua época, das ciências, da história e da filosofia – principalmente as de Descartes e Montaigne – conduz seu leitor (aqui ele se dirige a pessoas específicas, seus leitores) através dos mistérios da vida, ressaltando a grandeza e a desgraça do homem.

As questões metafísicas – ou a principal, a existência ou não de Deus – é o tema mais alto de sua argumentação. O filósofo coloca seu leitor em uma “situação de angústia”:
 
se Deus não existe,
não teremos perdido nada se tivermos tido fé 
e seguido os preceitos da religião.
Mas se Deus existe, 
e for verdade aquilo que a religião fala, 
ou seja, que por nossa falta de fé e atitudes
podemos ser condenados eternamente ao inferno,
então vale a pena pensar no assunto.

E é por isso que Pascal é um dos precursores do existencialismo, já que nos coloca em uma situação na qual precisamos decidir apostar: nossa crença ou não em Deus. A decisão é nossa. 

Escreve magistralmente o filósofo: 

Sim: mas é preciso apostar.
Não é coisa que dependa da vontade, 
já estamos metidos nisso. Qual escolhereis então? 

Vejamos. Já que é preciso escolher,
vejamos o que menos nos interessa. 
Tendes duas coisas a perder: 
a verdade e o bem; e duas coisas a empenhar: 
vossa razão e vossa vontade,
vosso conhecimento e vossa beatitude;
e vossa natureza tem que fugir das duas coisas: 
o erro e a miséria.

Vossa razão não se sentirá mais atingida
por terdes escolhido uma coisa de preferência a outra, 
já que é preciso necessariamente escolher. 
 Eis um ponto liquidado.

Mas, vossa beatitude?
Pensemos o ganho e a perda,
escolhemos a cruz, que é Deus.
Consideremos estes dois casos: 
se ganhardes, ganhareis tudo; 
se perderdes, não perdereis nada.
Apostai, pois que ele (Deus) existe, sem hesitar 
(ibidem, pág. 99). 

Temos, pois, uma verdadeira 
“situação existencialista”:
o indivíduo é único, 
sua própria alma está em jogo; 
ele tem liberdade de escolha
e precisa tomar uma decisão; 
a decisão é importantíssima,
já que dela depende sua bem-aventurança 
ou danação eterna.

Sören Kierkegaard (1813-1855) estudou teologia e filosofia, mas não conseguiu adaptar-se ao ambiente cultural e principalmente religioso da Dinamarca de seu tempo. 

O grande tema que o ocupava é a relação do homem com Deus: 

O cristianismo é de uma seriedade tremenda:
é nesta vida que se decide a tua eternidade
  [...] (Kierkegaard apud Reale e Antiseri, p. 238).

Opondo-se a filosofia idealista de Hegel – o sistema hegeliano era dominante nas primeiras décadas do século XIX – Kierkegaard elabora uma filosofia que coloca o indivíduo perante Deus, sem intermediários; pastores e professores que ele chama de velhacos, e que só querem adular seus contemporâneos ao invés de se voltarem a Deus. Na obra “O conceito de angústia” o pensador escreve que 

A angústia é a possibilidade da liberdade:
somente esta angústia, através da fé,
tem a capacidade de formar absolutamente, 
enquanto destrói todas as finitudes,
descobrindo todas as ilusões” 
 (ibidem, p. 239). 

Em sua situação, segundo o filósofo dinamarquês, o homem é livre para escolher como viver sua vida e como se posicionar perante o chamado de Deus. Assim, segundo Reale e Antiseri, o modo de ser da existência, para Kierkegaard, não é a realidade e a necessidade, mas sim a possibilidade.

A angústia, para o filósofo, 
se caracteriza pelo fato de que o homem 
que vive no pecado se angustia 
pela sua situação de “estar em pecado”. 
Todavia, mesmo aquele que se libertou do pecado, 
se angustia pela possibilidade de nele recair. 

Mas ainda, segundo Kierkegaard, a angústia acaba formando o caráter do homem, pois “destrói todas as suas finitudes, descobrindo suas ilusões”. Assim temos aqui o que usualmente se considera o começo do movimento (ou escola) existencialista.

Enquanto Pascal não afirmava, mas já deixava intuir que a existência de Deus não podia ser provada, Kierkegaard já parte deste pressuposto. Escreve Macquarrie:

Ele rejeitava a idéia de que a razão
pode amparar a fé ou construir um sistema de crenças
que incluísse a crença. 
“Eu não tenho aptidão para verdades,
princípios ou sistemas; 
mas para migalhas, fragmentos, 
fantasias, súbitas inspirações.””

Ou ainda:  
“Se é loucura falar em seu coração, 
“Deus não existe”, 
aqueles que tentam provar esta existência 
são mais loucos ainda 
(Kierkegaard apud Macquarrie, 1973, p. 52).

Em sua filosofia, Kierkegaard ressalta a liberdade individual do homem e o coloca perante a possibilidade de viver como “homem estético”, “homem ético” ou como “homem religioso”, seu ideal de posicionamento humano perante a vida e Deus. É esta situação, segundo o filósofo, que desperta no homem o sentimento de angústia.
 
O alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) não foi um filósofo caracteristicamente existencialista.

A princípio destinado a ser pastor protestante, desistiu e se voltou para os estudos filologia. Sua filosofia foi inicialmente muito influenciada por seus estudos da cultura clássica – principalmente os gregos antigos – e sua leitura da obra de Arthur Schopenhauer (1788-1860), de quem acabou tomando muitos conceitos.

Assim como Kierkegaard, Nietzsche também não considerava ser possível ascender através da razão, isto é, do pensamento metafísico, para Deus e outros valores absolutos.

Mas, diferentemente do filósofo dinamarquês, também não valorizava a fé; ao contrário. A fé e a metafísica, com todas as suas implicações, Nietzsche renegava completamente. O homem, dizia, se encontra em uma situação trágica, já que vivia em um mundo que não se importa com ele. Por isso, precisou criar valores que considerava eternos, que agora, no entanto, já não tinham mais nenhuma validade. 

Escreve Nietzsche em “O Anticristo”: 
No cristianismo, nem a moral nem a religião
estão em contato com a realidade. 
Somente encontramos nele causas imaginárias 
(“ Deus”,“alma”, “eu”, “espírito”, o “livre”
- ou também o “não-livre arbítrio”);
só efeitos imaginários 
(“pecado”, “salvação”, “graça”, “castigo”,
“remissão dos pecados”); 
um comércio entre seres imaginários 
(“Deus”, “espíritos”, “almas”);
uma ciência natural imaginária 
(antropocentrismo, ausência do conceito de causa natural)” 
[...] 
Este universo das ficções puras distingue-se, 
com grande desvantagem sua,
do mundo dos sonhos,
que pelo menos reflete a realidade, 
ao passo que este mais não faz
do que falseá-la, desprezá-la e negá-la. 
(Nietzsche, 1988, p. 32).

Nietzsche era iconoclasta e desta maneira também não antepunha à fé religiosa ou à metafísica uma suposta verdade científica. Esta para o filósofo também não existia, já que considerava a ciência, sob certos aspectos, outra forma de metafísica.

A parte do pensamento nietzscheano que mais possui relação com o conceito de angústia e com a liberdade do indivíduo, está localizado no livro “Assim falava Zaratustra”, quando o filósofo de refere às três metamorfoses do espírito, representadas pelo camelo, o leão e a criança.

A metáfora do camelo significa o “tu deves”,
quando o homem vive ainda submisso ao dever,
à crença e ao conhecimento usual. 

O leão luta contra o “tu deves” 
(confronta o sistema ideológico), 
mas ainda se encontra ligado por sua 
necessidade constante de confronto. 

A terceira metáfora, a criança,
representando a mudança pela qual passa o espírito, 
representa o mais alto grau de liberdade. I

Interpretamos estas fases como três diferentes estágios, que aparecem quando o homem é colocado em face de uma “situação”. 

O camelo representa o estágio de inconsciência, 
o indivíduo se resigna a sua posição de cumpridor das leis, 
crente e detentor do senso comum.

O leão mostra o homem defrontando-se
com aquilo com o qual quer ou precisa se defrontar, 
sua luta por afirmação e liberdade.

A criança é a fase da liberdade do homem,
libertação cujo resultado será a criatividade 
e a superação de todas as situações que o limitavam. 

Todo o processo – apesar de Nietzsche não o apontar explicitamente – é marcado pela angústia.

Martin Heidegger 1889-1976, alemão, foi um dos maiores filósofos do século XX e de todos os tempos. 

  1. Iniciou sua carreira estudando teologia e filosofia. Foi discípulo do criador da fenomenologia Edmund Husserl (1859-1938). 
  1. 2 - Sua obra máxima é Ser e Tempo, lançada em 1927.
  2.  
  3. Para Heidegger o homem é o único ente 
  4. que pode fazer a pergunta sobre o ser, 
  5. interrogando-se pelo sentido do ser.
  6.  
  7. Mas em sua atividade diária, o homem manipula a natureza, estabelece relações com outros homens. E nesta relação com o plano ôntico, com os entes em sua factualidade, o homem permanece na existência inautêntica. 
  8.  
  9. Assim, a existência inautêntica representa quase uma “queda” para o homem, já que perde completamente seu senso crítico sobre o mundo e sobre sua situação de alienação. De certo modo, existem várias maneiras através das quais o homem pode existir em seu contato com o plano ôntico. Mas se permanece no patamar da factualidade, o homem levará sempre uma existência inautêntica, ou seja, sem perguntar pelo sentido do ser.
No entanto existe um acontecimento do qual o homem não pode escapar: a morte, sua aniquilação, a certeza do término da relação do homem com sua alienante factualidade. 

Através da certeza da morte iminente, todas as outras possibilidades do homem – que representam sua liberdade – tornam-se impossíveis. Instala-se então a angústia. 

A voz da consciência nos apresenta a nossa própria morte, revelando a nulidade de qualquer projeto humano. Escreve Heidegger sobre esta situação: 

A angústia, porém, é a disposição que permite 
que se mantenha aberta a ameaça absoluta 
e insistente de si mesma, que emerge do ser 
mais próprio e singular da presença. 

Na angústia, a presença dispõe-se
frente ao nada da possível impossibilidade da existência.
A angústia se angustia pelo poder-ser 
daquele ente assim determinado, 
abrindo-lhe a possibilidade mais extrema. 

Porque o antecipar simplesmente 
singulariza a presença e, nessa singularização,
torna certa a totalidade de seu poder-ser, 
a disposição fundamental da angústia 
pertence ao compreender de si mesma,
própria da presença. 
(Heidegger, 2006, p. 343). 

Portanto, o “viver para morte”, segundo Heidegger, constitui o autêntico sentido da vida do homem. 

O homem sai do nível da existência inautêntica e,
mediante a experiência do nada, 
apreende “o sentido do ser dos entes”.

Esta experiência, no entanto, não se dá por uma argumentação intelectual, mas pelo sentimento de angústia, que é a apreensão do homem como sendo ele mesmo um “ser-para-amorte”. 

A angústia (Heidegger não fala da angústia como um sentimento) coloca o homem perante o nada, o nada de sentido, a radical negação de todos os seus projetos, da própria impossibilidade de sua existência.

Na filosofia de Heidegger a angústia se apresenta quando o homem livre é colocado perante uma situação inevitável, incontornável: sua morte. 

Partindo de uma situação de alienação, o homem é confrontado com uma situação (a sua morte) e a partir daí precisa tomar uma decisão, que o levará à possibilidade de apreender “o sentido do ser dos entes”.

O último filósofo – mas não o menos importante – que focaremos neste estudo é o francês Jean Paul Sartre (1905-1980). Iniciou sua atividade profissional como professor de filosofia secundário. 

Ligado à atividade política e ao jornalismo, Sartre colocou muito de sua filosofia em romances, peças de teatro e ensaios. 

Sua obra mais importante foi “O ser e o nada”, lançada em 1943. Sartre trata do tema da angústia, no sentido que lhe vimos dando ao longo deste estudo, em “O ser e o nada”, quando se refere ao problema da liberdade. 

A angústia, segundo Sartre, aparece quando o indivíduo se dá conta de que são suas escolhas individuais, feitas com liberdade, que irão determinar a essência daquilo que ele é ou será. 

Consciente de que é livre e de que tem que usar esta liberdade ao defrontar-se com aquilo que Sartre chama de “situações” – impedimentos, confrontos, pressões sobre sua liberdade –, o homem torna-se angustiado. 

Escreve Sartre:
Vou emergindo sozinho, e,
na angústia frente ao projeto único e inicial 
que constitui meu ser, todas as barreias,

todos os parapeitos desabam, nadificados
pela consciência(tardia) da minha liberdade:
não tenho nem posso ter qualquer valor a recorrer
contra o fato de que sou eu quem mantêm os valores no ser;
nada pode me proteger de mim mesmo;
separado do mundo e da minha essência por esse nada que sou,
tenho de realizar o sentido do mundo
e de minha essência: eu decido, 
sozinho, injustificável e sem desculpas.
(Sartre, 2007, p. 84).

Assim, para Sartre, o homem é completamente livre, já que a liberdade é o ser do homem, é constitutiva de sua consciência. 

O homem é condenado a ser livre; não tem outra alternativa

Só ele pode mudar seu projeto inicial, sendo responsável por tudo que faz. 

A angústia é a experiência do nada, fruto da liberdade incondicional do homem. 

Também na filosofia de Sartre a angústia aparece quando nos confrontamos com desafios à nossa liberdade, sem sabermos qual serão os resultados de nossas escolhas.

Obs:
  Sendo o homem livre desde o nascimento 
e é na juventude,ainda imaturo, 
que "deve escolher" seu caminho.
Não estaria aí a origem da angústia ?
 Fonte:
CONSCIÊNCIA:.ORG
 
  URL CURTA: http://wp.me/pbJrC-3cb