sábado, 11 de dezembro de 2010

Mercedes Sosa - Gracias a La Vida



Gracias a la vida...

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

AVE MARIA - CANTAI AO SENHOR



Salve Rainha
Mãe Imaculada, medianeira
- Céu e Terra a louvam.

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
*
Cantai ao SENHOR um cântico novo,
 cantai ao SENHOR, terra inteira!

Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome,
proclamai, dia após dia, a sua salvação.

Anunciai aos pagãos a sua glória e
 a todos os povos, as suas maravilhas.

Alegrem se os céus, exulte a terra!
Ressoe o mar e tudo o que nele existe!

Alegrem se os campos e todos os seus frutos,
exultem de alegria todas as árvores dos bosques
na presença do SENHOR, que se aproxima
e vem para governar a terra!

Ele governará o mundo com justiça
e os povos, com a sua fidelidade.

Livro de Salmos 96(95),1-2.3.11-12.13.

 Fonte:
Starnews 2001
http://www.starnews2001.com.br
Sejam felizes todos os seres.
Vivam .em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres

Gregorian Chant - "Salve Regina"



Salve Rainha
Mãe Imaculada, medianeira
- Céu e Terra a louvam.

Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

*

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A RELIGIÃO – ORIGEM, CRÍTICA E FUNÇÃO

Ricardo Ernesto Rose 
– Jornalista e Licenciado em Filosofia

Origem e desenvolvimento

A religião é uma das mais antigas práticas culturais da humanidade, tendo aparecido no período do Paleolítico Superior, há aproximadamente 50.000 anos. Todavia, nossa espécie, homo sapiens, não foi a única a se dedicar a práticas cujo fim era chamar a atenção de entidades superiores. Escavações revelaram que os Neandertais, outra espécie de hominídeo, mais antiga que a nossa, dedicavam especial atenção aos seus mortos. Alguns aspectos destas descobertas ainda não estão esclarecidos, mas tudo indica que este cuidado com os mortos demonstra alguma crença em uma sobrevivência individual após a morte. O interessante neste fato é que a crença em uma sobrevivência, em um rudimento de pensamento metafísico, não é exclusividade dos humanos sapiens.

Antropólogos culturais e etnólogos são de opinião de que originalmente a religião consistia em práticas mágicas, visando aplacar as forças aterradoras da natureza, dos espíritos dos mortos ou criar vínculos mágicos com os animais caçados pela tribo, de maneira semelhante ao que ainda hoje é praticado por algumas tribos indígenas. As pinturas rupestres da França e Espanha, datando de cerca de 30.000 a 14.000 anos a.C. parecem representar aspectos deste relacionamento mágico-religioso que nossos antepassados tinham com a natureza. Ainda no final do Paleolítico surgem os cultos da fertilidade, cujas deusas, de formas voluptuosas, foram representadas em diversas estatuetas esculpidas em ossos de urso e rena.

A partir do período Neolítico, há cerca de 8.000 anos, quando em determinadasregiões (Oriente Médio, noroeste da Índia e sul da China) começa a ser praticada regularmente a agricultura, surgem as religiões organizadas. Estas já haviam evoluído para uma organização permanente, dispondo de um corpo sacerdotal, ritos estabelecidos, local de culto fixo e organização eminentemente patriarcal. Don Cupitt, filósofo inglês contemporâneo, escreve que “…as antigas mitologias acertam ao dizer que os deuses foram os primeiros reis, os primeiros senhoresda terra e a primeira classe alta. É razoável postular que a crença nos deuses desse tipo essencial se desenvolveu lentamente no período após 7.500 a.C., quando tiveram início as atividades agrícolas e a fixação ao solo. 

Os deuses corporificavam, e eram, as concentrações maciças de autoridade sagrada e poder disciplinar, necessários para a evolução das primeiras sociedades estatais. A única maneira de transformar um nômade em um cidadão, era induzir nele o temor a um deus.” Cupitt ainda se refere à transição das crenças dos povos nômades – baseadas em espíritos da natureza – para a religião dos primeiros centros urbanos, sustentados pela agricultura e pelo comércio: “Propus um limite para o uso da palavra deus, limite este que reconhece um sistema simples: vejo a crença nos espíritos como típica da velha ordem nômade, e a crença nos deuses propriamente ditos surgindo com a ascensão das primeiras sociedades-estado, pois, para haver um Estado, era preciso existir um centro e fonte de legitimação e poder que fosse estável e reconhecido por todos – e isso era fornecido por um deus. A imortalidade do deus garantia a continuidade do Estado.”

As sociedades se desenvolvem e praticamente não existe diferença entre o poder secular o poder espiritual. No Antigo Egito o Faraó, além de rei, era uma personificação de um deus. Na Babilônia o rei era filho de um deus em especial, o mesmo acontecendo na China ou em Teotihuácan, no México. A influência da religião e dos sacerdotes na vida do Estado e do indivíduo era quase total; da política, da agricultura, à guerra e ao comércio, passando pelas leis e pela cultura – os sacerdotes exerciam influência em todas as áreas. Referindo-se à religião das cidades-Estado gregas, Jean-Pierre Vernant relata que “entre o religioso e o social, o doméstico e o cívico, portanto, não há oposição nem corte nítido, assim como entre sobrenatural, natural, divino e mundano.

A religião grega não constitui um setor à parte, fechado em seus limites e superpondo-se à vida familiar, profissional, política ou de lazer, sem confundir-se com ela.” (Vernant, 2006).

Crítica

Apesar do imenso poder de dominação dos corpos e das mentes, nem sempre a ideologia religiosa foi totalmente hegemônica. Ao longo da história, em todas as culturas, grupos ou indivíduos criticaram a religião estabelecida ou as crenças sobrenaturais em geral. A partir do II milênio a.C. surgem, em diversas regiões (Egito, Babilônia, Irã, Grécia) movimentos de vigorosa crítica às religiões dominantes. “Esse desespero”, segundo Mircea Eliade, “não surge de uma meditação sobre a inutilidade da existência humana, mas da experiência da injustiça generalizada: os maus triunfam e as orações não surtem efeito; os deuses parecem indiferentes aos problemas humanos” (Eliade, 1978).

Na Babilônia aparece neste período um texto célebre, o Diálogo sobre a Miséria Humana; também conhecido como o Eclesiastes Babilônico (em referência ao Livro do Eclesiastes da Bíblia cristã, famoso por sua visão pessimista da vida humana). Em uma de suas passagens o livro faz a seguinte constatação: “Suba nos montículos das velhas ruínas, vá e volte pelo mesmo caminho; olhe os crânios dos homens de outrora e os dos nossos dias: quem é o malfeitor e quem o amável filantropo?” (Eliade, 1978). 

Outro exemplo é a antiga Índia, onde em torno do século VI a.C. surge a escola de pensamento dos Çarvakas, que além de se opor ao sistema de castas, nega qualquer tipo de divindade ou esfera sobrenatural. Aproximadamente no mesmo período aparece na Grécia a escola atomista, criada por Leucipo e Demócrito e posteriormente desenvolvida por Epicuro. 

Segundo Diógenes Laércio, o atomismo de Epicuro, ainda mais que o de Demócrito, pelo simples fato que substitui a vontade dos deuses pelo livre querer dos átomos, incita os homens a desinteressarem-se daí por diante de todo o palavreado mítico (Henry Avron, 1967). Ao mesmo tempo surge na Grécia a escola dos sofistas, cujo mais famoso expoente, Protágoras, dizia que “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são o que são, e das coisas que não são o que não são”. Esta escola de pensamento, muito atacada por Sócrates, Platão e seus sucessores, foi a primeira a defender um secularismo – o conhecimento era originado pelo homem e sobre o homem; as divindades, se as havia, eram incognoscíveis.

Entre os séculos V e III a.C. surgiram diversas escolas filosóficas na Grécia, como os atomistas, epicuristas, céticos, cínicos, cirenaicos e os estóicos, que mantiveram uma posição crítica em relação às concepções metafísicas e religiosas. Os deuses, caso existissem, tinham pouca ou nenhuma influência sobre a vida humana. Os humanos tinham somente a vida terrena, a qual cabia viver da melhor forma possível. O aspecto principal destas escolas filosóficas era seu apelo ao indivíduo; não havia nenhuma teoria sobre a forma de organização da sociedade.

Ao longo da Idade Média, principalmente na Baixa Idade Média, apesar da profusão de movimentos heréticos que pretendiam reformar sem suprimir o cristianismo, não houve fortes críticas aos fundamentos das crenças religiosas. Assim, desde o início da Idade Média até praticamente o Renascimento no século XVI, a religião oficial da civilização ocidental – o cristianismo – permaneceu quase que isenta de críticos, mantendo sua hegemonia e, em troca, validando a política de países alinhados ideologicamente. Os poucos opositores eram ignorados ou, em casos extremos, eliminadas, como ocorreu durante o período da Inquisição em países de forte influência católica.

Todavia, durante o Renascimento (século XIV ao XVII), as mudanças sociais, econômicas e religiosas, aliadas à redescoberta da cultura clássica grega e romana e dos estudos científicos (principalmente a astronomia, a física e a medicina), propiciaram o desenvolvimento de um pensamento crítico em relação à metafísica cristã -a existência de Deus, a imortalidade da alma, entre os principais temas. Tais ataques, porém, estavam limitados aos círculos filosóficos e eram duramente perseguidos pela Igreja e pelo braço secular.

Um dos maiores críticos da religião deste período (século XVII) foi o filósofo holandês Baruch Espinosa (1632-1677). Espinosa criticou a religião em diversos aspectos, tendo sido perseguido tanto por seu grupo social de origem, os judeus, quanto por cristãos católicos e protestantes. 

Um tema atacado por Espinosa foi o da visão teleológica que temos da natureza (de que a natureza é sujeita a intenção ou fim); visão esta que projetamos na religião. Espinosa afirma sobre isso: “Não puderam (os homens), com efeito, tendo considerado as coisas (da natureza), como meios, supor que elas tivessem sido produzidas por elas mesmas, mas, tirando a sua conclusão dos meios que se acostumaram a obter, tiveram que persuadir-se de que existiam um ou mais diretores da Natureza, dotados de liberdade humana, que tivessem provido todas as necessidades deles e tivessem feito tudo para seu uso (dos homens). 

Não tendo jamais recebido (a) respeito do propósito destes seres informação alguma, tiveram também de julgar segundo o seu próprio, e assim admitiram que os deuses dirigem todas as coisas para uso dos homens, a fim de que esses se lhes liguem e para que sejam tidos por esses na maior honra. Do que resulta que todos, referindo-se ao seu próprio propósito, inventaram diversos meios de render culto a Deus, a fim de que fossem amados por ele acima de todos, e para que obtivessem que dirigisse a Natureza inteira em proveito de seu desejo cego e de sua avidez insaciável.”(Ética, Prop. XXVI, Apêndice )

Foi somente durante o Iluminismo, no século XVIII, que surgiram os primeiros críticos sistemáticos da religião como pensamento metafísico e como instituição legitimadora de um sistema de poder absolutista. Até este período a Igreja esteve intimamente associada ao poder secular, seja na França e em outros países deforte influência católica, como a Áustria, a Polônia, a Espanha e Portugal. Os filósofos iluministas, como La Mettrie (1709-1751), Helvetius (1715-1771) e d`Holbach (1723-1789) defendiam uma filosofia claramente anti-metafísica. Em suas proposições defendiam um materialismo mecanicista, baseado no qual o universo e todos os seus constituintes eram partes de um mecanismo gigantesco, determinado exclusivamente pela matéria, cujo movimento é regulado pela causalidade.

Outros filósofos iluministas mais famosos, D´Alembert e Voltaire, foram influenciados pela política e filosofia inglesas e eram deístas. Em seu Dicionário Filosófico, Voltaire define o deísta como alguém que sabe que Deus existe, mas “o deísta ignora como Deus pune, favorece ou perdoa, porque não é temerário a ponto de iludir-se que conhece como Deus age” (citado em Reale e Antigesi, História da Filosofia volume II).

A partir do período do Iluminismo, notadamente na França e na Inglaterra, desenvolve-se uma crítica sistemática da religião e do pensamento metafísico. As ações praticadas durante o Período do Terror (1789-1792) da Revolução Francesa, como o assalto e destruição de templos, assassinato e execução de religiosos e declaração oficial do Estado laico, foram um rude golpe à hegemonia da religião na cultura ocidental, do qual ela (a religião) nunca mais se recuperou.

Produto da filosofia iluminista e do romantismo alemão, o pensamento do século XIX foi rico em filósofos que se opunham à religião. Bastam citar apenas alguns, a começar por Hegel e toda a esquerda hegeliana, como: Bruno Bauer, Max Stirner, Ludwig Feuerbach, Leo Strauss, Karl Marx e Friedrich Engels, que em suas análises críticas da religião, valeram-se da História, do estudo comparado de religiões, da Economia e da Antropologia. Não ligados ao pensamento hegeliano, Schopenhauer e Nietzsche também foram grandes críticos de todo o pensamento metafísico e da religião.

Função

A religião tem uma função social e outra privada. Sob o aspecto social, a religião cimenta a união entre grupos humanos; sejam tribos, povos ou países. Representando um corpo de crenças comuns ao grupo, com as quais este se identifica, a religião atua como elemento de coesão social, mantendo as relações sociais. Ao mesmo tempo – baseado em um conjunto de crenças – a religião legitima estruturas sociais, leis, costumes e práticas políticas.

Se, por um lado, as religiões têm atuado como elemento de pacificação social, por outro, em determinadas situações sociais, a religião tem servido para motivar ou canalizar comportamentos de modificação das estruturas sociais. A religião não tem, portanto, unicamente o efeito de fomentar a apatia das massas, como em muitos aspectos criticava o marxismo. Ocorre que a crença também pode ser motor de revoluções sociais, como ocorreu durante as revoltas camponesas do século XVI, na Alemanha. Em relação ao Brasil, podemos apontar duas situações diametralmente opostas:

1) A escravidão no Brasil, tolerada e apoiada pela Igreja Católica, que atuou na legitimação desta estrutura social; e
2) A oposição das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica ao governo militar, durante o período da ditadura.

No âmbito do indivíduo, a religião fornece uma explicação da vida e de seu sentido. Esta explicação das “expectativas privadas” acaba correspondendo ao nível intelectual e à personalidade do fiel. O que ocorre é que tanto o pensamento individual do crente influencia a religião que pratica (com suas visões particulares sobre certos aspectos da doutrina ou da prática), quanta esta influencia a visão que o crente tem da vida e do universo. Sobre este aspecto da crença David Hume em Diálogos sobre a Religião Natural observou: “Que privilégio peculiar tem esta pequena agitação no cérebro, que nós chamamos de pensamento, que precisamos fazê-la o modelo de todo o universo?” (Hume, Dialogues, parte II).

Por outro lado, afirmar que a religião é apenas um conjunto de crenças de determinado grupo é, sob diversos aspectos, uma simplificação. A complexidade das diferentes teologias religiosas, as elaboradas cosmologias e os variados rituais de culto têm uma riqueza muito maior e representam muito mais do que um simples conjunto de crenças. Não podemos deixar de considerar o quanto as religiões influenciam as sociedades nas quais são praticadas, em seus diversos aspectos: artes, moral, costumes, tecnologias, práticas econômicas, entre outros.

As religiões têm seus aspectos mais populares, envolvendo crenças, rituais, costumes e até o folclore, ao lado de uma faceta mais intelectual, que se fundamenta em uma produção cultural (teologia, filosofia, arte) geralmente elaborada pelas elites.

Assim, concluímos que a religião é um sistema de idéias de uma determinada sociedade, através do qual este grupo social procura explicar sua situação no universo e sua relação com a divindade. Baseado neste sistema de crenças justifica-se as leis, os costumes e as instituições.

 Fonte:
CONSCIÊNCIA:ORG
http://www.consciencia.org/
a-religiao-%E2%80%93-origem-critica-e-funcao
Veja todos os textos do autor Ricardo Ernesto Rose (8 posts)

domingo, 5 de dezembro de 2010

A FILOSOFIA GREGA - SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES




Noções de História da Filosofia (1918)

Manual do Padre Leonel Franca.

CAPÍTULO I I

SEGUNDO PERÍODO — (450-300 α. C.)


22. CARÁTER GERAL Ε DIVISÃO
Neste período atinge a filosofia grega o apogeu do desenvolvimento. Surgem os seus maiores pensadores, que, vindicando os direitos da razão contra o ceticismo geral, constróem sobre bases mais sólidas uma síntese grandiosa do saber e elaboram, nos vários domínios da filosofia, um nácleo considerável de teses, que ficarão definitivamente incorporadas no patrimônio intelectual do gênero humano. 

Apesar de serem as questões morais as que inauguram o período, a sua feição característica é metafísica.
Como em todos os tempos de grande esplendor filosófico as escolas desaparecem na penumbra e avultam grandes individualidades.

Sócrates, Platão e Aristóteles cifram a glória deste período, escrevendo seus nomes entre os dos mais profundos pensadores da humanidade.

§ 1.° — Sócrates

23.BIOGRAFIA DE SÓCRATES — Filho de Sofrônico, escritor, e de Fenarete, par-teira, nasceu Sócrates em Atenas, no ano 469 a. C. Na sua moci-dade. seguiu a profissão do pai, entregando-se mais tarde exclusivamente ao estudo da sabedoria. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu em Potidéia, onde salvou a vida de Alcibíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Pro’ clamado o mais sábio dos homens pelo oráculo de Delfos e dizendo–se inspirado do céu (05 gênio ou demônio de Sócrates, variamente interpretado pelos críticos) empreendeu a reforma dos costumes na cidade corruta de Péricles. 

A liberdade de seus discursos e a feição austera de seu caráter, a par de admiradores entusiastas, atraíram-lhe também caluniadores e inimigos sem consciência. Acusado em idade avançada de corromper a juventude e de introduzir divindades novas recusou defender-se e foi condenado a bc-ber cicuta. A narração de seus derradeiros instantes e do último entretenimento com seus discípulos sobre a imortalidade da alma (Phaedo, de Platão) conta-se merecidamente entre as páginas mais belas e dramáticas de toda a literatura. Morreu em 399 a. C.
Sócrates nada deixou escrito. 

Suas doutrinas expunha-as em ensino oral nas praças e nos mercados, nos pórticos e nas oficinas, aos mais variados auditórios. O que dele sabemos foi-nos transmitido pelos seus discípulos Xenofonte e Platão. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem brilho nem profundidade, nas suas "Memorabilia", legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Platão, sublime e cintilante," desenvolve nos seus numerosos diálogos, o sistema de Sócrates em toda a sua amplidão. Nem sempre, porém, é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas pelo genial discípulo (23).
Nas doutrinas de Sócrates podemos distinguir a parte polêmica, em que combate os sofistas, e a parte dogmática, em que expõe suas idéias sobre as diferentes partes da filosofia.

24. MÉTODO DE SÓCRATES A. É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa, é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por êle chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
B. Praticamente, na exposição polêmica e didática destas" idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância.

É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido) multiplicava ainda as perguntas, diri-gindo-as agora ao fim de obter por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava êle maieutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.
(23) Referindo-se a Platão costumava Sócrates dizer: "Que coisas me féz dizer esse. jovem nas quais eu nunca pensara!"
25. DOUTRINAS FILOSÓFICAS — "Conhece-te a ti mesmo" é o lema em que Sócrates cifra tôda a sua vida de sábio. O .perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da sua- filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
A. Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.

B. Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência (Memorab., I, 4: IV, 8); b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. 

Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.

C. Moral. 
 É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquire-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".

Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural — αγραφοι νόμοι — independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.

Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do sistema (24).
(24) "A doutrina puramente utilitária ensinada por Sócrates neste lugar (Memorab, TV, 5, 8, 9) bastaria, por sl só, a caracterizar a ética socrática e distanciá-la infinitamente da moral cristã. Não se pode compreender como escritores cristãos… possam no seu entusiasmo inconsciente pelo grande moralista ateniense asseverar que à ética de Sócrates só falta para ser cristã a mais alta luz do conhecimento de Deus e de si próprio". Latino Coelho, Introdução à oração da coroa. p. 236, em nota.
26. IMPORTÂNCIA Ε INFLUÊNCIA DE SÓCRATES A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A doutrina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já au-reolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência.

Entre os seus numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto. São os fundadores das escolas socrâticas menores, das quais as mais conhecidas são:

A. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão.

Β. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445) que, exagerando a doutrina socrática do desapego ‘das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de Diogenes.

C. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo (n. c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer.

Estas escolas, que, durante o segundo período,- dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles, verdadeiros continuado-res da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde re-cresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dos megáricos brotaram os céticos e pirrônicos, dos cínicos saíram os estóicos, dos hedonistas originaram-se os epicureus.
Dentre o discípulos de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão.

§ 2.° — Platão

27. VIDA Ε OBRAS — Nasceu Platão em Atenas, no ano 427 a. C. Filho de família aristocrática e abastada, entregou-se na juventude ao estudo das ciências, sob o magistério de Cratilo, discípulo de Heráclito, passando mais tarde para a escola de Sócrates a quem ouviu por quase dez anos. Por morte do mestre, retirou–sé para Megara, donde empreendeu uma série de viagens ao Egito, à Itália e à Sicília. De volta à Grécia, estabeleceu-se definitivamente em Atenas, abrindo sua escola, que do ginásio de Academus, onde se congregava, recebeu o nome de Academia. De então até a morte, ocorrida em 347, ocupou-se exclusivamente em ensinar e escrever.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu nome muitos são apócrifos, outros de autenticidade duvidosa (25).
A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente didático de Aristóteles. No fundador da Academia, o mito e a poesia confundem-se muita vez com os elementos puramente racionais do sistema (26). Faltam-lhe ainda o rigor, a precisão, o método, a terminologia científica que tanto caracterizam os escritos do sábio estagirita.

28. VISTA GERAL DA FILOSOFIA DE PLATÃO 
TEORIA DAS IDÉIAS
Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da ciência. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.
A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do outro, tudo no mundo é individual, contingente e transitório (Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idéias. 

 As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes (27). Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos "humanos são imitações transitórias e defeituosas.
(25) Aplicando os critérios de ordem interna e externa, a crítica moderna considera hoje como certamente autênticos os seguintes diálogos: Phaedro, Protagoras, Convívio, Gorgias, República, Timeu, Theateto, Pheáo, Leis. Certamente apócrifos são: Alcibiades (2.°), Theages, Minos, Clitofonte, Epinomides, Hiparco e as Epístolas (a 7.a provavelmente autêntica). Os outros são de autenticidade duvidosa. Como mais provavelmente autênticos podem considerar-se: Criton, Eutifron, Hipias menor, Charmides; Laches, Lisis Eutidemo, Menos, Cratilo, Filebo, Critlas e a Apologia de Sócrates. Alcibiades 1.°, Ion, Menexeno, Hipias maior, são mais provavelmente apócrifos.
A cronologia dos diálogos platônicos é outra vexata quaestio entre os críticos. Costuma-se, geralmente, distinguir 3 fases na vida intelectual de Platão. A primeira é a socrática, a que pertencem quase todos os diálogos morais; a influência do mestre sobre Platão Jovem é ainda eensível. Na segunda fase, mais pessoal, Platão, atingindo a plenitude de sua individualidade e pujança intelectual, delineia os traços da sua construção sistemática. A esta fase se referem os diálogos em que se agitam questões metafísicas. A terceira fase pitagórlca é de Platão velho; traz evidentes vestígios de pitagorismo.
(26) "Plato, diz S. Tomaz, habult malum modum docendi. Omnia enim figurate dielt et per symbola docet, intendens aliud per verba quam sonant ipsa verba, sicut quum dixit, animam esse circulum". In I de Anima, lect. VIII.
(27) Alguns neoplatônicos cristãos, β sobretudo S. Agostinho interpretaram mais benignamente a teoria das idéias, considerando-as não como realidades Isoladas, mas como causas exemplares, lmagens-arquétipos das poisas existentes na mente divina. Seguem a S. Agostinho, entre oe modernos, V. Cousin, Jourdain e Trendelenburg. A explicação que adotamos é a de Aristóteles e dos escolástlcos, seguida recentemente por Zeller, Brandis, Brentano. Hontheim e outros como a única em harmonia com_x> pensamento de Plattão.
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, τύπος νοητος , situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de Parmênides, sem, como êle, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda a filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.

29. DIVISÃO DA FILOSOFIA — Com Aristóteles, de acordo com o pensamento de Platão, podemos dividir-lhe a filosofia em três partes: Dialética, Física e Ética.

DIALÉTICA — Por dialética entende Platão o estudo das vias que nos levam à ciência perfeita das idéias e destas idéias em si mesmas, na sua realidade objetiva. Corresponde, pois, à epistemo-logia e à metafísica.

A dialética compreende:
 
a) os diferentes processos intelectuais e morais pelos quais pode o espírito humano elevar-se das coisas corpóreas e fugitivas ao conhecimento do mundo superior e invisível das idéias, da opinião à ciência. A indução socrática ocupa, entre eles, lugar importante;

b) a divisão e classificação das idéias. Entre as idéias tão numerosas como os nossos conceitos há, como entre estes, uma subordinação dos gêneros inferiores aos superiores, uma hierarquia, que permite reduzir-lhes a multiplicidade à unidade. Sobre todas, prima a idéia do Bem, luz e vida de todas as outras, origem de seu ser e cognoscibilidade, causa eficiente e final de todo o universo. Esta idéia do Bem identifica-se com a razão divina (28), é Deus (29).

(28) Cfr. Filebo.
(29) Parece-nos esta a interpretação mais razoável da doutrina de Platão. Dá-lhe. mala unidade ao sistema, expurgando-o deste dualismo inconcebível, desta diarquia de dois seres soberanos, supremos e inteiramente independentes, um do outro. Deus e a Idéia do bem. Assim pensam Zeller. Stalleaum e Turner. Outros como De Wulf, Hi κ mann e Piat sustentam a independência relativa- das duas realidades, fazendo da idéia de Bem causa final e formal dos seres e de Deus, o demiurgo, o ordenador do mundo sensível.
Outros ainda, entre os quais Trendelenburg e Orces destroem uma das supremacias subordinando-a ã outra. E* este, certamente, um dos pontos mais obscuros da metafísica platônica. Cfr. A. Brêmond, De l’âme et de Dieu dane la philosophic de Platon nos Archivée de Philosophie, t. II. (1024), pp. 372-404: A. Dies. Autour de Platon, Parle, 1027, pp. 623-670.
Em outros lugares, particularmente no Timeu, prova Platão a existência de Deus também pela ordem e finalidade do Cosmo, pela ordem moral (Leges c. X.), pelo consenso do gênero humano (IM.), pela exigência metafísica de um necessário para explicar o contingente (Phaedro) e por outros argumentos menos claros. Deus é uno, poderoso, onisciente e governa o mundo com a sabedoria de sua Providência. Sob este Deus único existem outras divindades inferiores e criadas, como a alma do mundo, as almas dos astros etc, que são intérpretes da vontade divina e agentes executores das suas ordens.
Tal em suas linhas gerais a teodicéia de Platão.

FÍSICA A. É o estudo das manifestações sensíveis das Idéias na natureza. A multiplicidade e imperfeição dos seres que constituem o mundo visível provêm dum princípio negativo de limitação, de uma como matéria indeterminada, incriada e eterna em que, por ordenação divina e por intermédio da alma do mundo se refletem os protótipos eternos das coisas. Às idéias pertence exclusivamente a realidade. Os seres mutáveis, mistos de ser e não ser, são apenas sombras, pálidos reflexos das realidades verdadeiras. Nesta relação entre o mundo dos fenômenos e o mundo das idéias consiste o essencial da cosmologia platônica.
B. Psicologia e antropologia. O homem é composto de alma e corpo. 

A alma, princípio de vida, consta de três partes:

a racional, com sede no cérebro, a irascível residindo no peito, e a apetitiva localizada nas entranhas. A parte superior ou racional é livre, espiritual e imortal. Preexistindo ao corpo — "túmulo que arrastamos conosco como o caracol arrasta a concha que o envolve" — a êle se une violentamente em punição de algum delito. Platão admite a metempsicose. Neste estado de união possui duas espécies de conhecimento: o dos fenômenos ou sensível, provável e conjetural e o das idéias ou racional, certo e científico. Entre um o outro a relação é meramente extrínseca, servindo a percepção dos fenômenos apenas de ocasião para despertar ou evocar a lem brança das idéias contempladas na vida anterior. O verdadeiro conhecimento é, pois, uma reminiscência, scire est reminisci, remiu iscência que explica a maiêutica de Sócrates.

ÉTICA É o estudo das idéias na atividade individual e social.

A. Ética individual — A felicidade humana consiste na con* templação das Idéias e sobretudo da Idéia suma do Bem. Para atingir esse fim deve o sábio desvincular-se de quanto é corpóreo β sensível e subordinar as partes inferiores da alma às superiores. Nesta ordem e harmonia consiste a virtude, que Platão divide em sabedoria, fortaleza, temperança e justiça.

B. Ética social e política — Fim do Estado é tornar o indivíduo feliz, fácil it ando-lhe a prática das virtudes. Sua constituição é vasada nos moldes da natureza humana. Correspondentes às três partes da alma, distinguem-se no Estado três classes sociais:

α) os filósofos, únicos capazes de desempenhar cargos públicos; b) os guerreiros, incumbidos da defesa social; c) os operários, encarregados da sua subsistência material. A virtude própria dos filósofos é a sabedoria, dos guerreiros, a coragem, dos operários, a temperança, de todos a justiça.
Única forma de governo aceitável é a aristocracia ou governo dos filósofos. A timocracia ou governo dos guerreiros e ambiciosos e a democracia ou governo dos operários não podem fazer o povo justo, virtuoso e feliz.

O Estado é poder absoluto, sem limites na liberdade e na vida dos cidadãos. A igualdade social dos sexos, a supressão da família e da propriedade privada, a educação nacional das crianças são decretadas como meios de eliminar as causas de discórdia. É o ab-lolutismo e o socialismo levado às últimas conseqüências. Mais tarde reconheceu o próprio Platão que a organização social de seu Estado não era para homens, senão para deuses — uma utopia.

30. JUÍZO SOBRE PLATÃO — Platão é o primeiro filósofo que tenta a sistematização geral de tôda a filosofia. Na sua vasta síntese achamos incluídas as verdades capitais do espiritualismo: existência de Deus, espiritualidade e imortalidade da alma, distin-ção entre o sensível e o inteligível, noção de virtude e felicidade.
Sua teoria das idéias é, porém, inspirada num realismo exagerado (30) e do vício desta doutrina fundamental se ressentem toas outras partes do grande edifício. O dualismo inexplicado entre o mundo ideal e o mundo fenomenal, entre Deus e a matéria, o corpo e a alma, introduz-lhe mais de uma vez a contradição âmago do sistema.

Seu método é apriorístico, sem deixar lugar à experiência. Falta-lhe o sentimento da realidade.
Não obstante estes defeitos, Platão é ainda um dos gênios de mais largo vôo que ilustraram a filosofia. Pela elevação de sua teodicéia, pelo brilho incomparável e elegância inimitável de seu estilo, merecidamente o glorificou a antigüidade com o sobrenome de sublime e divino.

(30) Chamamos aqui realismo exaRcrado o sistema, que, forçando até ao erro o principio do que a ordem ontológlca dos seres corresponde a ordem lógica do conhecimento, afirma a existência das realidades objetivas universais como as Idéias que as representam.

 Fonte:
CONSCIÊNCIA:ORG
http://www.consciencia.org/filosofia-grega-periodo-
classico-socrates-platao-e-aristoteles