Trechos da entrevista com Professor Hermógenes.
Documentário EU MAIOR, sobre autoconhecimento e busca da felicidade.
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Saúde na Terceira Idade
entrevista com Professor Hermógenes - 17 de Fevereiro de 2007
De que forma o livro Saúde na Terceira Idade pode ajudar o idoso?
O idoso passa por profundas transformações em sua vida e não deve cair no caso comum de sentir-se marginalizado e comprometido com a morte e a decadência. O livro surge para mudar a visão da terceira idade. Cada um precisa cair em si e dizer: 'Estou tendo a chance de realizar o melhor da minha vida e fazer coisas que não podia. É a oportunidade de trabalhar para ajudar alguém, uma instituição, em substituição ao trabalho profissional que vinha exercendo. Agora posso usar o lazer da melhor maneira.' O livro tem essa proposta, mas vai ajudar também com a metodologia holística do Yoga. Ela envolve o corpo físico e a estrutura energética, que atua no campo das emoções, dos pensamentos e, acima de tudo, proporciona um meio de chegar o mais perto possível da perfeição divina.
Neste livro trago novidades porque não falo apenas no Hatha Yoga. Para a terceira idade, não posso usar determinadas técnicas que exigiriam manobras de corpo que o idoso não consegue fazer. Ofereço outras metodologias, como a caminhada, mas não esta que costumamos ver, com as pessoas conversando, escutando walkman e até fumando. Proponho uma caminhada completa, com a pessoa interiorizada, apreciando a paisagem e até orando. Também proponho a automassagem, com o objetivo de melhorar as circulações sangüínea, linfática, energética e nervosa. Outro método que sugiro é para restaurar a mobilidade das articulações de todo o corpo e desbloquear a circulação. Ainda acrescento técnicas de meditação e oração que afirmam o poder que está em nós e é divino. Desenvolvo outros temas que não são propriamente metodologias, mas sugestões para práticas da vida. Uma das coisas mais interessantes, e que tenho usado muito entre meus alunos, é o que chamo de positividade, ou seja, acabar com aquela história de dizer coisas destrutivas em relação a si e aos outros. Para ilustrar, conto a história do homem que caiu do quarto andar, e quando chegam perto dele perguntando o que aconteceu, diz: 'Eu também não sei, pois acabei de chegar'. Também falo de hábitos alimentares. Introduzo ainda o conceito de remusculação. Enfim, é um conjunto de propostas que se complementam. É um trabalho holístico.
Como o senhor comprovou a eficácia destas técnicas?
Tudo que está no livro foi experimentado por mim e por meus alunos em 35 anos de experiência (desde 1960). Nunca mudei nada. Agora resolvi fazer uma adaptação para os idosos porque suponho que alguns possam ter limitações. Quero que até o idoso de cama tenha o que fazer. Abordo até o problema da aposentadoria. Estou pedindo a Deus que o livro produza uma transformação que é difícil para quem cristalizou hábitos errados.
O senhor encontra alguma resistência à aplicação de seus métodos?
Sim. Não é uma resistência programada, mas afirmada através de muitos anos. Pior do que o Yoga não ser compreendido é ser compreendido erradamente. As mulheres aderem com facilidade. Por conta de fatores culturais, vivemos um machismo pouco inteligente. Quando os homens experimentam os resultados do Hatha Yoga, acham que o conheceram tarde. Em São Paulo, estive conversando com um piloto de avião. Ele estava num estado de estresse violento. Eu disse: 'Vai fazer Yoga.' Depois o encontrei muito bem. Disse que o Yoga tinha sido uma maravilha para ele. Perguntei quando tinha começado, e ele respondeu: 'Foi a minha mulher que começou.' A partir dela, melhorou a vida dele.
Seu trabalho fala muito no combate ao estresse. É ele o grande vilão do homem?
Minha visão é de que o estresse é a raiz comum de muitos males, a fonte de várias doenças que matam milhões, como as do coração, sono, hipertensão, impotência e úlcera. Na minha opinião, o estresse não é o vilão, mas um mecanismo que a vida desenvolve para se defender. Quando um animal se vê diante do predador, ele entra em estresse. Toda a confusão anatômica, fisiológica, psicológica e energética é para assegurar a integridade pessoal, e precisa ser compreendida e administrada. Se eu não administrar o estresse, ele se transforma em distresse, que é enfermidade. O Yoga nos ajuda a lidar com o estresse para chegar ao eustresse, uma condição de tranqüilidade, paz, eficiência e felicidade. Quer dizer, o estresse utilizado para chegar a uma qualidade de vida melhor.
Os problemas da terceira idade possuem maior relação com a dimensão espiritual ou a social?
Se a pessoa aceitar meu convite no livro, vai aumentar sua capacidade de relacionamento consigo e com os outros. O livro propõe que a pessoa chegue à terceira idade enfrentando os problemas à sua volta sem se deixar abater.
O senhor acha que os idosos brasileiros possuem alguma tendência cultural de assumir uma condição de improdutividade?
Já está em nosso inconsciente coletivo. Há quem ache que a terceira idade é o momento de parar, ver os netos crescerem, viver isolado, cheio de doenças. Esse livro vem contestar isso. Ser ou não ser jovem é uma questão de postura. Não sei como é em outros países, mas acredito que seja universal.
O senhor acaba de completar 75 anos demonstrando vigor, tranqüilidade e alegria de viver. Qualquer pessoa tem acesso a esta condição de equilíbrio?
É bom que se diga que tenho muitos motivos para viver estressado. Foram 75 anos de muitos desafios. Toda minha vida foi batalhada. Mas 'tudo concorre para o bem dos que amam Deus', disse o apóstolo Paulo. As pessoas não só podem alcançar essa alegria, como estão desafiadas e convidadas a isso. Quanto mais cedo começar, melhor. O sujeito que pensa em fazer isso quando ficar mais velho demonstra que o problema está mal equacionado nele. Eu tenho este vigor porque faço isso há 40 anos.
A partir de que idade uma pessoa pode aplicar estes princípios em sua vida?
No Japão existe uma especialidade médica que é a geriatria pediátrica. É a partir da infância que a pessoa deve ser preparada para a velhice, aprender a escolher os alimentos, os pensamentos, as emoções, os exercícios, enfim, disciplinar a vida e orientá-la para alguma coisa gloriosa.
O senhor costuma dizer que o maior perigo para o ser humano é ser contagiado pela doença da normose.
O que é isto?
É a doença de ser normal. Aí você pergunta: 'Mas o normal é doente?' Sim, é. O que não é doente é o natural. Normal é o comportamento que todos têm, a mesmice generalizada. Estive lendo que, depois da Segunda Guerra Mundial, o consumo de refrigerantes aumentou 85 por cento. Os normóticos são os que estão consumindo refrigerante. Quem não possui a doença prefere água ou sucos. Muitas coisas que destroem o homem estão na moda, dentro das normas. São normais, mas não são naturais. Normose é esta vida pequena, mesquinha, daqueles que são manobrados pela máquina de convencer. Os normóticos em geral são acometidos de outra doença, a egosclerose. Por que há tanta miséria no mundo? É porque a egosclerose dominou as pessoas de poder. Elas pensam: 'Primeiro, eu. Depois, eu. Em terceiro lugar, talvez, minha mulher e meus filhos. Os outros que se danem.' É isto que está acontecendo na política, nas finanças, na educação, na medicina, nas ciências em geral. As pessoas lutam pelo poder e, ao chegar lá em cima, continuam com isso estupidamente.
O senhor pode apontar pessoas que não tenham se tornado normóticas?
Mahatma Ghandi, Chico Xavier e irmã Dulce são exemplos de pessoas não-normóticas.
Durante suas viagens, cursos e palestras, o senhor vê o interesse por terapias alternativas e naturalistas aumentando?
Sim. Tenho recebido muito apoio e aceitação. Mas há exceções, como certos especialistas, cientistas e religiosos obliterados e dogmáticos que sentem alguma ameaça. Mesmo assim, são raros. O que apresento é convincente não somente pelo poder da experiência, mas também pela clareza da lógica. Minha alegria é ver transformadas as pessoas que aceitaram meus ensinamentos, saindo de problemas difíceis. Sem dúvida, eu seria mais aceito se fizesse alguma coisa normótica para os normóticos. Se eu oferecer carniça em festival de urubu, vou ganhar muito mais dinheiro, mas se oferecer flores, serei bicado.
Como o senhor conheceu o Hatha Yoga?
Eu tinha tuberculose. Meus pulmões pareciam casas de abelhas. Me atacou a laringe a ponto de me deixar afônico. Como o tratamento era à base de muita alimentação e muito repouso, quando terminou eu estava envelhecido e obeso, apesar de ainda estar na faixa dos 35 anos (por volta de 1956). O pior era o bloqueio psicológico e social que o médico me impôs. 'Você não pode ficar no Sol, pegar sereno, ir à praia, fazer ginástica' e por aí afora. Até propôs que eu me aposentasse porque minha vida estava comprometida. Foi aí que ganhei um livro de Yoga de um autor indiano, Selvajaran Yesudian, escrito em francês. Como era muito claro na didática, comecei a fazer sozinho, como experiência. Pensei: 'Ou fico bom ou morro logo'. A transformação em poucos meses foi tão espetacular que surgiu um novo ser daquela ruína. Senti o compromisso de dedicar o resto da minha vida a mostrar o mapa da mina aos outros.
Então o senhor é autodidata?
Sim. O mestre que eu tinha era invisível, chamava-se Deus. Não havia nada em português sobre o Hatha Yoga. O primeiro livro em nossa língua sobre o tema foi escrito por mim e publicado em 1960 a partir de minha experiência pessoal e de meus estudos sobre medicina oriental, anatomia, psicologia e tudo mais que me desse base para compreender o que se passara comigo. Chama-se Autoperfeição com Hatha Yoga, que chegou em 1996 à 35ª edição. O principal é a quantidade de cartas com depoimentos de pessoas, até da África portuguesa, dizendo como o livro mudou a vida delas.
Além dos livros, suas técnicas são ensinadas e divulgadas através da Academia Hermógenes. Como ela surgiu?
Ao escrever esse meu primeiro livro, ele se tornou um best seller. Fui procurado pelas pessoas para ensinar-lhes as técnicas. Para mim, o Yoga era tão puro que eu não queria misturá-lo com uma empresa. Um amigo de infância montou a coisa na rua Uruguaiana e me ofereceu em 1962. Vamos completar o 35º ano de funcionamento em 1997. Milhares de pessoas já passaram por lá.
Originalmente publicado em 1996 no sítio
www.record.com.br/novaera
Visite o sítio do Professor Hermógenes em
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Professor Hermógenes
O
professor Hermógenes tem toda a sua obra reeditada pela Editora Record,
com novo projeto gráfico e revisão científica. O primeiro livro a ser
relançado foi Yoga para Nervosos, um best seller do mais importante nome do yoga no Brasil, que fala sobre sua obra e vida na entrevista abaixo.
Hermógenes, escritor, poeta e pensador “Já tive a surpresa de ouvir de Chico Xavier que eu era seu escritor favorito. Paulo Coelho, Roberto Shinyashiki e Leonardo Boff já me disseram que me consideram um pensador. Porém, a mídia nunca me entrevistou como escritor. Quando vou a algum programa de televisão, os apresentadores fazem meia dúzia de perguntas sobre yoga e logo pedem que eu faça uma demonstração do “homem-borracha”. Me dá um desgosto... Porque, desse jeito, estou fazendo propaganda da casca da banana, enquanto gostaria de falar do miolo.” - Hermógenes Quem é Hermógenes? O nome diferente e o conteúdo das obras dá margem a acreditar que se trata de um espírito psicografado ou um filósofo da Grécia antiga. Nada disso. Nascido em Natal (RN) há 82 anos, o filósofo, poeta, escritor e terapeuta José Hermógenes de Andrade Filho - conhecido como professor Hermógenes - vive no Rio de Janeiro e agora tem o prazer de ver sua obra completa ser relançada pela Editora Record, com novo e belo projeto gráfico e revisão científica. São cinco livros técnicos que promovem a saúde e a longevidade e catorze livros poéticos e filosóficos. O primeiro relançamento é Yoga para nervosos, publicado pela primeira vez em 1965, mas com conteúdo e linguagem absolutamente atuais. Um dos capítulos, por exemplo, caracteriza e ensina como driblar a síndrome do pânico, doença que atinge atualmente 3% da humanidade, e que na época ainda não tinha sido descrita pelos médicos. Apesar de ser mais reconhecido por seu trabalho de divulgação da yoga, hoje em dia o professor dá apenas uma aula por semana e tem uma rotina de escritor. Viúvo há dois anos, pai de duas filhas e avô de 6 netos, ele mora sozinho num apartamento no bairro do Flamengo e encara a morte como “o sinal para iniciar o recreio”. “É um repouso para quem realmente se preparou para repousar. Quem não se preparou, vai continuar brigando do lado de lá”. Por Valéria Martins-Stycer. O conteúdo de Yoga para nervosos é absolutamente atual e científico apesar do livro ter sido escrito há mais de 40 anos. Como o senhor explica esse fenômeno? Os livros clássicos falam de assuntos que estão presentes em todas as épocas. Escrevi Yoga para nervosos com a intenção de aliviar o sofrimento humano, que tem várias manifestações. Na academia, eu recebia muitas pessoas aflitas, preocupadas, angustiadas, estressadas, tensas que, em questão de semanas, começavam a mudar mostrando-se mais seguras e tranquilas. Percebi uma grande força no meu trabalho e me propus a compartilhar. Não se trata apenas de ginástica. Sempre falei muito nas aulas, mostrando os caminhos para a pessoa mudar, criar um sentido para sua vida, um novo estilo de viver. A falta de sentido na vida é uma neurose gravíssima. Atualmente, 3% da população mundial sofre de síndrome do pânico. Em Yoga para nervosos, publicado em 1965, o senhor caracteriza a doença e ensina como lidar com os sintomas antes dela ser reconhecida pelos médicos. Como foi isso? É verdade. Muitos alunos chegavam reclamando: “professor, eu sinto uma coisa terrível...”, “No dia em que a coisa me pega eu quase morro...”. Por isso, incluí no livro um capítulo chamado A Coisa, que explica a síndrome do pânico minuciosamente. Trata-se de um desequilíbrio psicossomático que submete a vítima a sentimentos muito dolorosos sobre os quais ele não tem o menor controle. O pânico nasce justamente da incapacidade de controlar esse estado tão perturbador. A principal estratégia para vencer a crise, conforme ensino no capítulo seguinte, é não se armar para se proteger. A tensão prepara o circuito para o pânico se alastrar. A solução é relaxar. No primeiro capítulo do livro o senhor conta que, ao lançar a primeira edição, temeu ser criticado pelos médicos pelo fato de ser um leigo propondo soluções e terapias. Como a obra foi acolhida na época? Eu me surpreendi com a boa acolhida. Acho que foi porque viram uma novidade proposta com muita convicção. Enquanto escrevia o livro, eu também tive o cuidado de me preparar para responder os médicos caso viessem a me criticar. Ao contrário disso, recebi cartas de muitos deles que se curaram depois praticar o que é proposto no livro. O yoga foi redescoberto de uns 5 anos para cá, ou seja, entrou em moda porém com finalidade mais voltada para a forma física. O senhor acha que a parte filosófica está sendo esquecida pelos novos professores? Sim. No meu primeiro livro previ que, um dia, o yoga conquistaria gente interessada em perpetuar a uma coisa que acaba: o corpo. Isso é uma insensatez. Quem usa yoga apenas como ginástica - o que é muito agradável e eficaz - está comendo a casca da banana e jogando o miolo fora. O senhor teve graves problemas de saúde quando era criança e na década de 60. Quais foram esses problemas? Quando criança eu tive paludismo, que é uma febre decorrente da picada de um mosquito. Já capitão do exército, fui atacado por tuberculose. Esta, quase me matou. O yoga e a medicina me resgataram. Como e quando o yoga entrou na sua vida? Naquela época (final da década de 1950), não se ouvia falar de yoga no Rio de Janeiro. Descobri e comprei numa livraria um livro em francês que mostrava o poder terapêutico do yoga e ensinava a praticar. Comecei a fazer escondido do médico. Os resultados foram maravilhosos. Foi aí que assumi o compromisso de, até o fim da minha vida, ensinar as pessoas a se curar através desse método. Foi com essa intenção que escrevi o meu primeiro livro Auto-perfeição com hatha yoga, que foi best-seller na época do lançamento e hoje está na 42º edição. Como o senhor começou a dar aulas? Através do livro, as pessoas tomaram conhecimento da minha proposta e passaram a me procurar para ter aulas. Num primeiro momento, recusei-me a transformar yoga em profissão. Eu ainda era membro do exército e me preocupava com viver, na prática, preceitos do yoga como a verdade e a desambição. Porém, um amigo de infância lá de Natal, construtor, alugou para mim uma sala no centro da cidade - a mesma há 42 anos. No início, eu era diretor, professor, faxineiro e secretário. Então, comecei a ter a alegria de ver as pessoas se libertarem dos seus limites, condicionamentos e do sofrimento. A academia se converteu em meu laboratório, de onde tirei fundamentos para escrever meus outros livros. O senhor é um dos grandes vendedores de livros do Brasil. A que se deve esse sucesso? Antes de escrever sobre yoga, tive a experiência de escrever livros didáticos sobre História do Brasil, Organização Social e Política e Moral e Cívica. Tomei a iniciativa de escrever porque era professor do Colégio Militar, lidava com esses temas e tinha idéias absolutamente progressistas em relação aos textos vigentes na época. Quebrei a cara. Bati de frente contra uma comissão conservadora que controlava essas publicações e meus livros não foram aprovados. Mas eu sempre soube me comunicar bem. O senhor conta que em determinada época da vida experimentou um pouco da angústia perfeccionista dos escritores. Como foi isso? Isso não passou, não. Toda vez que termino um texto fico lendo e relendo a fim de torná-lo mais claro, dar mais força ao que escrevi. É um trabalho de escritor, muito embora eu não me considere escritor. Autores de best-sellers como Paulo Coelho, Roberto Shinyashiki e Leonardo Boff o consideram como mais do que um escritor, uma espécie de sábio ou pensador. O que acha disso? É verdade. Já tive a surpresa de ouvir de Chico Xavier que eu era seu escritor favorito. Porém, a mídia nunca me entrevistou como escritor. Quando vou a algum programa de televisão, os apresentadores fazem meia dúzia de perguntas sobre yoga e logo pedem que eu faça uma demonstração do “homem-borracha”. Me dá um desgosto... Porque, desse jeito, estou fazendo propaganda da casca da banana, enquanto gostaria de falar do miolo. Quando o senhor iniciou sua obra poética e filosófica - composta hoje de 14 livros -- mostrou seus textos a um poeta que lhe aconselhou a burilar mais os versos. Como encarou essa crítica? Optei pelo conteúdo em vez da forma. Escrevo o que chamo de “Cintilações”. São frases que contém um pouco de doçura, encanto, talvez de beleza, talvez de poesia, talvez de desafio, que facilitam a germinação de sementes de reflexão e questionamentos. Um exemplo: “Enquanto caía, pensava o pingo de chuva: ‘que importa deixar o céu se estou indo fertilizar a terra?’”. Muitos apreciam os meus livros e conhecem o meu nome, mas não sabem se estou vivo ou morto. Uns pensam que eu sou um espírito comunicante. Outros, que eu sou um filósofo grego. Suas influências vão de Jesus Cristo a Sai Baba, de Helena Blavatsky (fundadora da Teosofia) a Chico Xavier, do sufismo (filosofia do Islã) ao kardecismo. Como foi esse percurso na formação do seu pensamento? Como o senhor concilia mensagens filosóficas tão diferentes? Ou não são tão diferentes assim? São diferentes na superfície. Na profundidade, é tudo a mesma coisa. Eu sou um farejador. Meu compromisso é com a busca. Sempre li e me interessei por todas as filosofias sem medo, sem preconceito, sem apego. A verdade é eterna e o topo da montanha é um só. Na dedicatória do livro Canção Universal o senhor diz que, por amor, rezou para sua mãe morrer e, assim, libertar-se do corpo doente que lhe causava sofrimento. Foi difícil tomar essa iniciativa? Como o senhor encara a morte? Não foi difícil porque ela estava sofrendo demais, com o corpo irrecuperável. Meu amor filial se manifestou através de uma oração para que ela fosse. Cheguei a dizer no ouvidinho dela: “esse corpo não lhe serve mais, mãe. Deixa esse corpo!” Algum materialista vai dizer que eu matei minha mãe. Não é nada disso. Hoje, eu faria a mesma coisa. Porque sei que a morte é uma transição necessária. A morte é o toque para iniciar o recreio. É um repouso para quem realmente se preparou para repousar. Quem não se preparou, vai continuar brigando do lado de lá. O senhor diz que a yoga “é a viagem dos que, intoxicados de divertimento, acordados pelas abençoadas pancadas das vicissitudes, saudosos da ‘casa do Pai’, (...) se tornaram aspirantes ao Eterno”. O que quer dizer com isso? Nós vivemos nesse mundo rendidos aos desejos, aos apegos, às rejeições, ao medo, e buscamos soluções na aquisição de bens materiais, gozar prazeres, subir na vida etc. Isso entretém a gente aqui. Quando conseguimos o que queremos, vem um prazer - momentâneo, porque nada é eterno. Se não conseguimos, vêm a tristeza e a depressão. Só existe uma solução: despertar para a verdade superior. Tudo o que está aqui é ilusório. Eu defino ‘infelicidade’ como ‘a pretensão de eternizar o provisório’. Como é sua rotina aos 82 anos? Acordo cedo, às cinco horas. Faço algumas práticas de yoga, oração e meditação. Como meu desjejum vegetariano e vou trabalhar no computador. Dou duro sob o ponto de vista do primor e da dedicação. Depois do almoço tiro uma sonequinha e, à tarde, vou novamente para o computador. Nessa época, outono, lá pelas três e meia eu saio para caminhar entre as árvores do Parque do Flamengo. É uma caminhada holística, que todo mundo deveria praticar. Porque existe a caminhada mecânica, na qual o sujeito marcha com walkman, alheio a tudo. Eu procuro curtir a beleza da paisagem, prestar atenção aos detalhes, penetrar em mim mesmo. Quando volto, já está escuro. Tomo banho, lancho frutas e à noite, se me dá apetite, ainda trabalho um pouquinho. Senão, vou ver besteiras na televisão. Durmo mais ou menos às dez e meia. Sua mensagem é essencialmente de paz, evolução e iluminação espiritual. Como o senhor encara o que acontece no mundo, principalmente depois do atentado terrorista de 11 de setembro? O senhor é otimista quanto ao futuro? A Bíblia nos conta a história do Filho Pródigo, que começa com um afastamento da casa paterna. O rapaz sai pelo mundo com o bolso cheio de dinheiro, gastando com os amigos, procurando novos prazeres. Chega num ponto em que nada lhe resta. Aí, sente-se miseravelmente. Nessa hora, em meditação, conclui que todo o sofrimento ocorreu por causa do afastamento. O alívio estaria em se reaproximar e se juntar àquilo que ele tinha deixado. Ele volta feliz à casa do pai, que o acolhe muito bem. Porém, se não houvesse sofrido tanto, o danado ainda estaria se alienando. A humanidade está chegando nesse ponto crítico e começa a se preparar para voltar. O senhor está preparando algum livro novo? Sim. O livro no qual tenho trabalhado atualmente chama-se Esplendores na madrugada. É um livro de cintilações. OBRAS DO PROFESSOR HERMÓGENES JÁ DISPONÍVEIS:
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