Portal de Mestre Eckhart na igreja de Erfurt. Eckhart de Hochheim O.P. (
Tambach,
Turingia,
1260 –
Colonia,
1328), mais conhecido como
Meister Eckhart em reconhecimento aos títulos acadêmicos obtidos durante su estadia na
Universidade de Paris (
Meister significa "maestro" em
alemão), foi um frade
dominicano, conhecido por sua obra como
teólogo e
filósofo e por suas
visões místicas.
Biografia e obra
Mestre Eckhart foi um dos mais fecundos pensadores,da filosofia alemã medieval. Como tal, Eckhart insere-se na longa corrente de uma mística neo-platônica eivada das conclusões de Agostinho e do Pseudo Dionísio Areopagita.
Nesta tradição, porque Eckhart, embora cravado de balas inquisitórias em seu tempo - não sai de seus referenciais cristãos e da Tradição: ocorre, portanto, que o Mestre renano tem estatura que lhe é negada pela Igreja de Roma, sob os velhos ranços da suspeita da heresia…
O problema da linguagem em Eckhart, entretanto, levanta problemas: como sói acontecer no idioma místico-negativo, tudo parece recender a panteísmo.Não há, todavia, uma linguagem positiva que possa driblar a noção aparente de panteísmo na mística que seja digna do nome: o texto principal de Eckhart, este também marcado pela interminável discussão acerca de sua autenticidade, orbita em torno de um Deus que somente é alcançado pelo ser humano na medida em que este, assemelhando-se a Deus mesmo, esvazia-se quenoticamente no desprendimento, na palavra abgeschiedenheit.
Desprender-se é o movimento para o Nada. Desprender-se provoca os interesses divinos na alma que assim se faz vazia: uma gravidade divina tende, inevitavelmente, para todo cristão que assume a postura desprendida diante da vida, do sofrimento e da morte.
De tal desprendimento, portanto, chegamos ao estágio necessário da gelassenheit: a plena serenidade não estóica diante da existência.
Assim como Deus é Nada, fazer-se Nada é atrair Deus a si mesmo sendo, assim, feitos como somos realmente: um com Deus que só é Deus na dimensão da existência, porém, não da essência e, destarte, O mestre nos remete à origem humana e leva-nos a sermos o que já somos desde sempre…
Ligações externas
Professor e teólogo alemão dominicano nascido em Hochheim, próximo a Gota, na Turíngia, que defendeu uma filosofia das mais originais e considerado o maior místico especulativo alemão. Ingressou na ordem dos dominicanos (1265), estudando em Estrasburgo e em Colônia, sob a influência dos ensinamentos de Tomás de Aquino. Estudou no priorado de Saint-Jacques, em Paris, tornando-se mestre em teologia (1302) e lá se iniciou como professor de teologia.
Nomeado provincial dos dominicanos na Saxônia (1303) e vigário-geral para a Boêmia (1306), residiu em Estrasburgo e estabeleceu-se finalmente em Colônia (1314) como mestre dos dominicanos. Com ensinamentos centrados na união da alma individual com Deus, filosofia das mais originais, resultante da fusão de elementos gregos, neoplatônicos, árabes e escolásticos, partia da afirmação de que o homem e o mundo nada são sem Deus, produziu uma obra caracterizada por uma busca da justificação da fé que não contem o suporte da razão.
Morreu em Avignon, França, sendo o autor de Opus tripartitum, Quaestiones, Pregações e Tratados, estes dois últimos em alemão. Entre seus tratados, destacam-se o Livro da divina consolação, Do homem nobre e Do desapego.
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/
O MESTRE ECKHART: MÍSTICA E ESCOLÁSTICA
Também na alta escolástica, espiritualidade do intelecto e do coração — a mística, andam juntas. E esta não é, como muitas vezes se crê, um domínio totalmente diferente, mas algo de conexo e aparentado. Assim, se as Sumas desenvolvem mais largamente só o método racional, isso o foi por motivos didáticos e não significa não fosse possível, na realidade, uma unidade viva entre pensamento conceptual e sentimento religioso. Exatamente com Echardo, o místico por excelência, pode-se ver como “’escolástica. e mística em substância concordam” (B. Seeberg).
Para conhecermos a escolástica
devemos conhecer Echardo,
e para conhecermos Echardo
é mister conhecer a escolástica
V i d a
Mestre Echardo (Meister Eckhart — 1260-1327), originário dos Echardos de Hackheim, foi membro da ordem dominicana, estudou em Paris, veio a ser Mestre em teologia, ocupou mais tarde uma posição de relevo na sua ordem visitando, por isso, vários conventos. Nessa ocasião fez aquelas prédicas que o celebrizaram e contribuíram para o desenvolver-se de um novo movimento místico. Por curto tempo ensinou em Paris e, ao fim de sua vida, também em Colônia. Nos últimos anos levantaram-se dúvidas sobre a ortodoxia, em matéria de fé, dos seus escritos. Eram procedentes, p
arte, dos franciscauos, p
arte, da sua própria ordem. O arcebispo de Colônia dirigiu o processo eclesiástico contra ele. Echardo defendeu-se e apelou ao Papa (o escrito da defesa foi descoberto e é rico de informações sobre a conduta do Mestre). Dois anos depois da sua
morte teve, não obstante o processo, lugar a condenação de 2S teses da sua doutrina.
A Igreja na sua sentença reconheceu expressamente ter sido o Mestre bona fide Nenhuma resistência ofereceu Echardo contra a Igreja. No escrito da sua defesa está dito: “Tudo quanto nos meus escritos e palavras é falso, sem ter eu disso ciência, estou sempre pronto a ceder a um melhor sentido… Pois errar posso eu, mas ser herege, isso não o posso; pois errar é do intelecto, mas ser herege é por vontade”.
Obras
das obras de Echardo
são em latim e versam questões teológico-filosóficas
A obra principal é o incompleto Opus tripartitum.
Vêm depois as Quaestiones Parisienses. Muita cousa ainda está inédita. Enquanto não se publicar tudo não se pode fazer juízo definitivo sobre Echardo. Entre as obras em alemão se colocam em primeiro lugar as suas Prédicas. Conservam-se em cópias. — Edições: J. Quint, Die Überlieferung der deutschen Predigten Meister Eckharts (1932). A edição de Pfiffer (1857) é defeituosa. A tradução von Büttner é reconhecidamente má. Em via de publicação: Magistri Echardi. opera latina. Ed. Instit. S. Sabinae in urbe, Leipzig (1934 ss.); e Meister Eckhart. Die lateinische und deutschen Werke, Ed. feita por ordem da Deutsche Forschungsgemeinschaft, Stuttgart (1936 ss.).
Bibliografia
O. Karrer, Meister Eckart. Das System seiner religiösen Lehre und Lebensuceisheit. Textbuch aus den gedruckten Quellen, mit Einführimg (1926). M. Grabmann, Neu aufgefundene Pariser Quaestionem Meister Eckharts und ikre Stellung in seinem geistigen Entwicklungs-gange. (Abhandlugen der Bayr. Akad. der Wissenschaften, München, 1927). G. Della Volpe, II misticismo speculativo di maestro Eckhart nei suoi rapporti storici (1930). Al. Dempf, Meister Eckhart (1934). Herma Piesch, Meister Eckharts Ethik (1985). W. Bange, Meister Eckarts Lebre vorn gòttlicheii und geschopflichen Seiti (1987). H. Eeelixg, Meister Eckharts Mystik (1947). Studien num Mythus des 20. Jahrhunderts (1934).
a) Bases espirituais
Neoplatonismo. — É necessário, sobretudo com Echardo, indicar as bases do seu pensamento. É, primeiro, o neo-platonismo e o seu círculo de idéias, como Echardo o recebeu dos Padres, sobretudo de Agostinho, do PseudoDionísio, de Máximo Confessor; e, depois, de Eriúgena, da escola de Chartres, da filosofia árabe, do Liber de causis, do de intelligentiis e, mais que tudo, de Alberto e da sua escola.
A escolástica. — Mas tão decisivo, ao menos, para o pensamento de Echardo é a teologia escolástica, principalmente Tomás de Aquino. Basta lançar um olhar sobre os lugares aduzidos no Textbuch de Karr, para logo verificar essa influência, pelas muitas citações de Tomás. Também o Comentário das Sentenças, reeém-descoberto por .T. Ivoch, move-se nessa mesma linha. Muita cousa, que intérpretes mal informados de Echardo tomaram como panteísmo e arrogância nórdica, é patrimônio da doutrina escolástica da Trindade, da graça e da especulação sobre o togou que, passando pelos Padres, se estende até Pilo Judeu.
A mística. — E finalmente Echardo vive da mística, dos Victorinos, de Roberto de Deutz, Bernardo de Claraval. Também daquela coerente mística que, nos claustros alemães dos sécs. 12 e 13, constituíram um intensíssimo movimento espiritual, e de que são representantes notáveis Hildegarda de Bingen, Gertrudes a Grande, Matilde de Magdehurgo, Matilde de Hackeborn e outras. Conforme o mostra o projeto de reforma franciscana, no concilio lugdunense de 1274, esses círculos místicos sempre se ocuparam com a especulação escolástica. A influência de Echardo, nos claustros de religiosas, não foi a única a propulsionar essas aspirações. Sabemos, pelas obras dos místicos alemães, recém-descobertas por Grabmann, que também João de Sterngassen, Gerardo de Sterngassen, Nicolau de Estrasburgo e as suas místicas se fundam em Tomás. Aqui a escolástica, que penetra essa mística, não é, como se pensou, um “rolo laminador que esmagou o sentido religioso até laminá-lo e extingui-lo”.
b) Deus
Deus como pensamento puro. — Na doutrina de Deus Echardo sobretudo põe em relevo que, sobre Deus, sempre devemos dizer antes o que ele não é, que o que é. Por isso o designa como puro de qualquer elemento criado. Como o diria um absoluto idealista? Mas também Aristóteles, que Echardo conhece muito bem, assim caracterizou Deus; e Tomás diz igualmente que em Deus intelecto e essência se identificam; e para Alberto Deus é o intellectus universalites agens, produzindo, como tal, a primeira Inteligência. Donde o poder dizer Echardo, como o prólogo do Evangelho de S. João, que, pelo Verbum, que é um verbum mentis, tudo foi feito. Por onde se vê que as atribuições da teologia negativa, como já o tinha percebido o PseudoDionísio, encerram contudo um conhecimento de valor positivo.
Deus como plenitude do ser.
— Deus é,
assim, a plenitude do ser; todo ser dele procede.
“É sem dúvida o terem dele o ser todos os seres,
como tudo quanto é branco pela brancura o é”
(Qu. Par. pág. 11, Meiner).
Ou: “Deus tudo criou, não no sentido de as criaturas existirem fora ou ao lado dele, como se dá com as obras dos artífices; mas Deus chamou todas do nada, do não-ser, para o ser, de modo que todas nele o achassem, recebessem e tivessem”’ (1. c. 16).
O ser como idéia. — Agora vemos em que sentido Deus é a plenitude do ser: ele encerra as idéias de todos os seres; criando-os, cria o ser e, em tanto, é imanente ao ser. Aqui revive a velha doutrina das Idéias, mas sem ter a imanência nenhuma acepção panteísta. As Idéias existem por participação e é muito exato que o ser colocado no espaço e no tempo o é por participação. Pelo que acaba de ser dito se conclui que Deus é pensamento e pensar, não ser; pois, é o Logos, expressivo das idéias, ao passo que “ser” deve designar o criado. Mas se se tomar o “ser” pela essência metafísica, pela Idéia das cousas, então Deus, como a origem e a plenitude das Idéias, é o ser absoluto e, nesse sentido, Echardo designa Deus como o ser (1. c. 7, 17).
As Idéias e o Filho de Deus.
— O pensamento predileto de Echardo
é o de identificar as Idéias com o Filho de Deus.
“Ele é o Verbo do Pai.
Com a mesma palavra o Pai se exprime a si mesmo, toda a natureza divina e tudo o que Deus é, assim como o conhece e o conhece tal como ele é… Exprimindo o Verbo, exprime-se a si mesmo e todas as cousas numa outra Pessoa e lhe dá a mesma natureza que ele já tem; e exprime todos os espíritos dotados de razão, nesse verbo, como a imagem, i. é. o, de conformidade com a Idéia, essencialmente igual, na medida em que a imagem e interior, imanente” (1. Pred., ed. Quint, pág. 15, 9).
Aqui há um certo vacilar do pensamento; pois Eckhardo, continuando, acentua fortemente o ser criado da Idéia, a sua “iluminação”, portanto a sua participação. (Também no Areopagita o pensamento da participação serve para exprimir o ens ab alio). Mas o Filho, segundo a teologia de Echardo, não pode ser criado. Ora, tomando-se a filiação das Idéias literalmente, como os teólogos escolásticos estavam habituados a fazê-lo, surge logo o perigo de dissipar-se a distinção entre Deus e o mundo. Mas talvez não se deve tomar em sentido literal o que foi intencionado apenas como imagem e com o fim especial de o tornar sensível.
A existência de Deus. — Podemos tocar com as mãos o platonismo cristão do nosso Mestre, quando indaga se Deus existe. A sua resposta é a seguinte:
“O ser é o ser de Deus”
(esse est essentia Dei sive Deus; igitur Deum esse,
verum aeternum est; igitur Deus est:
Quaest. Par.; pág. 14, 1 ss.).
Assim como as cousas brancas
não são brancas sem a brandira,
assim as cousas existentes não existem sem Deus
(13, 10).
Sem ele o ser seria nada.
Ainda uma vez, isto não é panteísmo,
mas a aplicação ao mundo existente da idéia .
. Mas como? De um lado adverte Echardo, apoiado na teoria das Idéias, que as cousas existem em Deus e Deus nelas, só quanto ao seu ser “essencial”, i. é, ideal, exemplar. Mas agora ouvimos que também o ser espácio-temporal participa de Deus; pois, quando fala da existência é isso o que pensa. Mas de fato não é assim; mas então de novo faz ele realçar nas cousas o ser essencial, ideal ou propriamente ser e, neste sentido, Deus lhes é imanente. Vê ele o mundo com os olhos de Platão. E quando pensa no ser colocado no espaço e no tempo, como tal, dá-lhe então claramente o nome de criatura, e esta é “mortal”.
c) O bem
?) Fim da Ética. — Echardo revela bem o que é quando vem a tratar de questões éticas. O que neste domínio ensina é uma doutrina da perfeição cristã; e o que aí sobretudo lhe importa é impregnar a vida desse ideal, a tal ponto, que se torna por sua vez gerador de vida. Quer ele ser mestre não de ler, mas de viver. A prática lhe é mais importante que a teoria. “Assim, é melhor dar de comer a quem tem fome, do que entregar-se a uma prolongada contemplação interna. E fosse alguém arrebatado como S. Paulo e soubesse de um doente necessitado do seu auxílio, eu julgaria muito melhor que deixasse por
amor o êxtase e servisse o necessitado com
amor tanto maior”. O seu pensamento é aqui uníssono com o do seu grande confrade Tomás de Aquino:
“S. Tomás ensina
que sempre o
amor ativo vale mais que o contemplativo,
quando o
amor ativo dissemina o que colheu na contemplação”
(Karrer, 1. c. 390 ss.).
A ética de Echardo obedece ao lema
— “unidade com o ser uno”.
Isto quer dizer
participação
amorosa e cognitiva
do supremo bem e da sua perfeição.
Praticamente significa conformidade do nosso pensamento e vontade com Deus. Evidentemente, por
amor do supremo bem e da perfeição objetiva como tal. Echardo é um moralista de intenção normativa e não precisa ser purificado da tacha de nenhuma moral interessada.
Via para a perfeição.
— A via para esta unidade é a do nascimento de Deus no homem.
Esta idéia muitas vezes versada é a idéia central de toda a filosofia do Mestre.
Podemos distinguir um duplo nascimento.
O nascimento de Deus como morada do Espírito Santo.
— Uma não é outra, senão o que a teologia escolástica
sempre denominou a habitação do Espírito Santo na alma do justo.
A doutrina da graça já tinha, apoiada na Bíblia, assinalado que a graça de Cristo nos torna filhos de Deus, templos do Espírito Santo, onde Deus tem a sua morada; a expressão para o significar, de que agora Echardo se serve é “ser nascido”. Como este nascimento de Deus constitui uma doação e uma graça, não pode haver aqui nada de panteísmo.
??) A geração de Deus como geração íntima trinitária.
— Mas Echardo conhece um segundo nascimento:
é quando diz que a alma
é o lugar desse nascimento divino
que se processa e completa em Deus
mesmo desde a eternidade.
“O Pai gera o Filho como seu igual…
Mas digo ainda mais: Ele o gerou na minha alma…
Nesta geração espiram o Pai e o Filho o Espírito Santo…
Tudo o que o Pai pode realizar ele gera no Filho a fim de o Filho o gerar na alma…
Assim a alma se torna uma divina morada da eterna divindade”
(Pfeiffer, 205, 165, 215). Mas se esta geração trinitária íntima se consuma na minha alma, então Echardo acrescenta conseqüentemente:
“Eu sou
uma causa de Deus ser o que é;
pois se eu não existisse não existiria Deus”
(PfeifFer, 2S3).
Afirmação esta ótima a provocar uma errônea interpretação panteísta! Mas o em que Echardo pensa é na idéia de nós mesmos, no “modo não-gerado pelo qual somos eternos e devemos perdurar eternos” (1. c). “Pois se a criatura não existia em si mesma, como agora, é que existia antes do começo do mundo em Deus e na sua mente” (Pfeiffer, 488).
Todas as cousas existem em Deus
sob essa forma ideal de ser;
mais imediatamente em Deus Padre:
“No centro da Paternidade…
existem todas as folhinhas de relva,
a madeira e a pedra e todas as cousas”
(PFeifFer, 332).
Aqui reaparecem as praeconceptiones divinae, a “realidade preconcebida”, como se exprime Echardo na seqüela do PseudoDio-nísio; em suma, todo o mundus intelligibilis. E se Deus gera o Filho como seu Verbo, em quem ele se exprime com todas as realidades nele inclusas; ou, como “a imagem e, portanto, como o seu ser eterno que nela está, que é a sua forma permanente em si mesmo” (1. a), então somos “nós” evidentemente a causa de Deus. Mas essa cansa não é o nosso nós criado, senão a idéia do nosso eu existente na mente divina, nem mais nem menos do que nele existem todas as demais idéias constitutivas da essência de Deus. Nada disto nos deve admirar, pois tudo não passa de uma aplicação das especulações sobre o Logos, tradicionais desde Eilo.
Para a ética de Echardo estas idéias assumem grande importância, pois delas resultam para cada homem uma imagem em Deus, um eu eterno e, melhor, um ego archetypus, nossa medida e nossa lei eterna. Isso debuxa um leito para a corrente dos atos do nosso ser pessoal e da nossa vida, que a reconduz ao oceano da divindade donde ela outrora derivou.
??) Scintilla animae. — Mas como se manifesta em nós esse mundo das idéias e do eu ideal existente no Verbo eterno? Echardo diz: temos um acesso imediato para ele na scintilla animae, ou castelo da Alma ou arca mentia, como também lhe chama. Muito se escreveu a este respeito, talvez muito inutilmente, o que também não é para admirar. Mas o decisivo nisso tudo é a idéia da participação. Echardo sabe o que há de divino no homem. Crê com Agostinho, que Deus nos é mais íntimo que nós mesmos. Esta palavra de Agostinho deveria ter sido a melhor elucidação da scintilla animae.
Mas Echardo conhece também a diferença entre o humano e o divino. Por isso declara ao escrito da sua defesa: Se a alma fosse apenas isso, então seria incriada. Mas participando de Deus, nela permanece o divino, a scintilla animae; é pois criada, por participar de Deus e não ser divina. Na linguagem do Aquinate isto quereria, mais rigorosamente, significar a Synteresis ou o habitus principiorum (cf. sup. 158 s.); na da filosofia moderna dos valores, o sentimento do valor.
É esse o ponto em que o homem,
meio-termo entre dois mundos, tem a consciência
de ser algo pertencente a Deus por uma autêntica participação.
Cristo — Uma segunda e mais intuitiva via para o nosso melhor eu, Echardo a encontra em Cristo, em quem o Verbo se fez carne. Ambos esses caminhos também os trilharia o CUSANO, que os aprendeu de Echardo.
d) I n f 1 u ê n c i a
Echardo veio a ser o que realmente queria ser — um mestre na vida. Suas idéias encontram acolhida no mais amplo círculo de pessoas. Sua ordem, evitando-lhe as proposições censuradas, prosseguiu, com muitos dos seus membros, na mesma linha do seu espírito. Os dois mais importantes foram os seguintes. JOÃO Tauder (+ 1361) em torno de quem se reuniram os amigos de Deus, seculares e regalares atraídos pela mística, sobretudo nós conventos renanos de religiosas; a sua força de vontade e de vida interior produziu ainda impressão sobre Lutero. Depois, Henríque Suso (+ 1366), o cantor da eterna sabedoria; nele especulação e sentimento mutuamente se fecundam, como é típico da mística escolástica.
Na linha mística de EChardo se colocam além disto a Teologia alemã escrita por Lutero e as obras de João RUSbróquio (João van Ruysbroek) (+ 1381), cujo discípulo, Geegroote fundou a Congregação dos Irmãos da Vida Comum. Num dos seus conventos, em Deventer, foi educado o jovem
NlCOLAU DE CUSA. No Século 19 FRANCISCO VON BaaDER de novo chamou a atenção para Echardo, como o espírito central da mística medieval. Hegel então o exaltou como o herdeiro da especulação”’. A descoberta das suas obras latinas por H. DeNifle rasgou novos horizontes para as investigações modernas sobre ele.
Fonte: HISTÓRIA DA FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA, Johannes HIRSCHBERGER
Bibliografia
O. Karrer, Meister Eckart. Das System seiner religiösen Lehre und Lebensuceisheit. Textbuch aus den gedruckten Quellen, mit Einführimg (1926). M. Grabmann, Neu aufgefundene Pariser Quaestionem Meister Eckharts und ikre Stellung in seinem geistigen Entwicklungs-gange. (Abhandlugen der Bayr. Akad. der Wissenschaften, München, 1927). G. Della Volpe, II misticismo speculativo di maestro Eckhart nei suoi rapporti storici (1930). Al. Dempf, Meister Eckhart (1934). Herma Piesch, Meister Eckharts Ethik (1985). W. Bange, Meister Eckarts Lebre vorn gòttlicheii und geschopflichen Seiti (1987). H. Eeelixg, Meister Eckharts Mystik (1947). Studien num Mythus des 20. Jahrhunderts (1934).
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| MESTRE ECKHART (1260-1327) Mestre Eckhart foi um teólogo alemão, injustamente considerado herege pela Igreja Católica.
Embora a Igreja patriarcal de Roma impusesse um controle intelectual rígido, a presença da filosofia espiritualista de Platão e dos neoplatônicos nunca conseguiu ser suprimida durante a Idade Média, principalmente na Alemanha – país que sempre se destacou pela luta das liberdades intelectuais (notadamente Lutero, pela via espiritual) – mesmo quando o interesse recaiu sobre Aristóteles, no século XIII.
Isso explica o fato de dominicanos de Colônia haverem construído um ambiente particular, favorável ao renascimento do neoplatonismo, acentuadamente místico. Foi nesse ambiente que surgiu o Mestre dominicano Eckhart, um dos maiores nomes da Filosofia medieval e também um dos maiores místicos do Ocidente.
Nascido em Hochheim, na Turíngia, em 1260, ingressou no convento dos dominicanos em Erfurt, tendo estudado em Estrasburgo e em Colônia. Tornou-se Mestre em teologia e ensinou em Paris, entre 1302 e 1304. Exerceu vários cargos eclesiásticos na Alemanha até estabelecer-se definitivamente em Colônia em 1320.
Mestre Eckhart escreveu várias obras, sendo a mais conhecida "Pregações e Tratados" (tratando da unidade entre Deus e o homem). Morreu em 1327. Em 27 de março de 1329, o Papa João XXII, na sua Bula "In agro dominico" condenou 28 proposições do Mestre Eckhart, sendo 17 consideradas heréticas e 11 temerárias. Apesar disso, as camadas burguesa e popular acolheram as propostas do Mestre, tendo influenciado inclusive Lutero.
Outros grandes místicos da Idade Média foram Francisco de Assis, Juan de la Cruz, Teresa D'Ávila e Joana D'Arc.
Santo Agostinho e São Jerôn |
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Li
Fonte:
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Sejam abençoados todos os seres.