sábado, 3 de dezembro de 2011

De Alexandria a Roma – José Arthur Giannotti » cpfl cultura





De Alexandria a Roma – José Arthur Giannotti

Estoicos, céticos e neoplatônicos
levam suas investigações até Roma. 
Mas feita essa passagem, só poderemos indicar 
como Agostinho de Hipona será o grande elo 
entre o pensamento grego e o cristianismo. 
De que modo o Uno original poderá ser três 
(Pai, Filho e Espírito Santo)?

Outras palestras desta série acontecem no dia 18 e 24 de novembro.
Transmissão ao vivo a partir das 18h em www.cpflcultura.com.br/aovivo.
Data: 2 de dezembro
Horário: 19h
Classificação etária: 14 anos

Programação gratuita 
e por ordem de chegada a partir das 18h. 
A cpfl cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 
1632 – Chácara Primavera. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000.


 Fonte:
http://www.cpflcultura.com.br/site/2011/12/02/
o-retorno-do-sabio-a-ciencia-do-ser-e-as-discrepancias-dos-estoicos-
%e2%80%93-jose-arthur-giannotti
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TEATRO GREGO




TEATRO GREGO

O teatro foi uma das mais ricas formas de arte. A representação teatral originou-se e se desenvolveu a partir das Dionisíacas festas em honra ao Deus Dionísio, que incluiu o espectáculo de mímica, dança, música, poesia, etc.. Em Atenas, celebrava-se o culto de Dionísio, acontecimento muito apreciado pela população camponesa. Já as Grandes Dionisíacas eram as celebrações urbanas, quando se realizavam os famosos concursos entre autores dramáticos (cada participante concorria com três peças “Trilogia”).

A encenação das peças era feita exclusivamente por actores masculinos que usavam máscaras e representavam também personagens femininos, que deram origem às grandes obras do teatro ateniense. As Grandes Panatenéias, em honra da Deusa Atena, eram celebradas de quatro em quatro anos, com concursos de música e canto, corridas de cavalos e outras competições desportivas; finalizavam com uma procissão que percorria a via sagrada, para oferecer à Deusa o manto luxuoso. Era a festa mais importante da Cidade-Estado de Atenas.


Do ponto de vista cultural, Atenas não era superada por nenhuma outra cidade grega. Lá viveram os maiores pensadores e artistas do mundo grego; alguns deles da própria humanidade. No período clássico, o teatro tornou-se uma manifestação artística independente, embora os principais temas permanecessem ligados à religião e à mitologia. Os dois géneros básicos do drama teatral foram a tragédia e a comédia.

Tragédia

Dentre os principais autores e obras podem ser mencionados: Ésquilo (525 - 456 a.C.), que escreveu a trilogia Oréstia, Prometeu Acorrentado, etc.;
Sófocles (495 - 405 a.C.), que se destaca com as peças Édipo Rei, Antígona e Electra;
Eurípedes (480 - 406 a.C.), autor de Medéia, Hipólito, Andrómaca, As Troianas, etc.

Comédia

A comédia foi um género mais voltado para o quotidiano, para os costumes, que são tratados sobre tudo como objecto de crítica e sátira. Dentre os principais comediógrafos destacam-se: Aristófanes (445 - 385 a.C.), autor de A Paz, Lisístrata, A Assembléia de Mulheres, Os Cavaleiros e Plutos;
Menandro (340 - 292 .C.), autor de O Intratável.


Um dos grandes acontecimentos do ano para os gregos era a ida ao teatro. As peças só eram apresentadas durante dez dias e cada peça representada apenas uma vez. Como todos queriam ver os espectáculos, o teatro tinha que ser grande. A população ia para o teatro muito cedo, logo após o nascer do sol. Pagava dois óbolos (moeda grega equivalendo a um terço de uma dracma) para entrar. O Estado mantinha um fundo especial para subsidiar quem não pudesse pagar.

A maior diferença entre o teatro grego e o teatro moderno consiste no facto de que as peças gregas faziam parte de um festival religioso em honra dos deuses. O teatro então nasceu com um festival de cânticos narrando as histórias dos deuses. Um autor dava um passo à frente do coro de cantores para desempenhar o papel do personagem principal. Mais tarde apareceu um segundo actor e, gradualmente a representação foi se desenvolvendo.

Ésquilo

Ésquilo, o primeiro grande autor trágico, nasceu em Elêusis no ano de 525 a.C., participou da batalha de Maratona no ano de 490 a.C. e, por muitas vezes, esteve na Sicília, onde morreu no ano de 456 a.C. Ésquilo acreditava que o Autor era, antes de tudo um educador.


Ele acreditava que se os atores sofressem em cena, isso despertaria os sentimentos de terror e piedade dos espectadores proporcionando-lhes o alívio ou purgação desses sentimentos. Ocorreria assim a purificação das paixões - Catarse. 


Ésquilo foi o primeiro autor a introduzir um segundo ator nas representações, escreveu mais de oitenta obras dentre as quais destacam-se “Os Persas” (472), “Os Sete Contra Tebas”(467), “As suplicantes” (acredita-se que seja de 463), “Prometeu Acorrentado” (de data desconhecida e autenticidade duvidosa) e as três peças da “Oréstia” (458): “Agamenon”, “As Coéoras” e “As Eumênides”. 


A única trilogia completa de Ésquilo que conhecemos é a Oréstia. Por meio dela pode-se tentar compreender um pouco o pensamento desse autor, sobretudo porque ela foi escrita pouco antes de sua morte.

Eurípedes

Pouco se sabe da origem de Eurípedes. Acredita-se que ele era filho de um mercador de legumes e que viveu entre os anos de 485 a.C. a 406. Eurípedes é considerado por muitos como o homem que revolucionou a técnica teatral.
Sobreviveram ao tempo muito mais obras de Eurípedes do que dos outros autores trágicos. Isso aconteceu porque, apesar de Eurípedes não obter muito sucesso junto ao seu povo, pois poucas vezes conseguiu vencer os concursos que participou, sua obra, por abordar temas petéticos e idéias abstratas, foi muito apreciada no século IV. 

Devido a essa preferência é possível a elaboração de uma lista de obras com datas quase precisas, são elas: 

“Alceste”(438), “Medéia”(431), “Hipólito”(428), “Hécuba”, “Os Heráclidas”, “Andrômaca”, “Héracles”, “As Suplicantes”, “Íon”, “As Troianas”(415), “Eletra”, “Ifigênia em Táurida”, “Helena”(412), “As Fenícias”, “Orestes” (408), “As Bacantes”, “Ifigênia e Áulis”, “Ciclope” (com data desconhecida).

A obra “Medéia”, uma das mais conhecida entre nós, é um drama de amor e paixão. E essa é a grande diferença que existe entre as obras de Eurípedes e as de Ésquilo e Sófocles. 

Na obra de Ésquilo
o amor é praticamente nenhum.
 
Em Sófocles ele geralmente fica em segundo plano. No entanto, em Eurípedes ele é essencial e chega às últimas conseqüências, ou seja, a vingança e a morte.

Em Eurípedes 
ainda encontramos a loucura, 
que pode ser vista na obra “Héracles”.
 
As obras de Menandro foram quase todas consumidas pelo tempo. Somente em 1958 foi encontrado um papiro egípcio contendo a obra “Misantropo”, que conta a história de um homem, cujo nome é emprestado a obra, e sua filha, Cnemon.

Aristófanes

Nasceu em Atenas, Grécia em 457 a.C. e faleceu em 385 a.c. Viveu toda a sua juventude sob o esplendor do Século de Péricles. Testemunhou o início e o fim daquela grande Atenas. Viu o início da Guerra do Peloponeso, em que Atenas foi derrotada.. Ele, da mesma forma, viu de perto o papel nocivo dos demagogos (especialmente Cléon) na destruição econômica, militar e cultural de sua cidade-estado. À sua volta, à volta da acrópole de Atenas, florescia a sofística -a arte da persuasão-, que subvertia os conceitos religiosos, políticos, sociais e culturais da sua civilização.Sua primeira comédia, “Os Convivas”, estreou em -427 sob o nome de “Calístrato, o ensaiador da peça”, e obteve de saída o segundo prêmio.


Dois anos depois, no ano de 425 ac, nas Leneanas, Aristófanes apresentou a comédia “Os Cavaleiros”, o que motivou um segundo processo em -424, resolvido aparentemente através de acordo realizado fora dos tribunais Esta peça, felizmente, chegou até nós. 

Ela representa o mais violento ataque pessoal de Aristófanes a Cleon Foi considerada tão agressiva que nenhum ator da época teve a coragem de representar o papel de Panflagônio (Cleon).

Da primeira época são:

“Os Acarnenses”, na qual manifesta a sua atitude antibélica (1º lugar nas Dionísias);

“Os Cavaleiros”, ataque contra o demagogo Cléon, que o Salsicheiro, demagogo mais hábil do que ele, e os cavaleiros da aristocracia derrotam (1º lugar nas Dionísias); 

“As Nuvens”, sátira das novas filosofia e pedagogia, em que ataca Sócrates e os sofistas (3º lugar nas Dionísias);

“As Vespas”, sobre a paixão que os atenienses mostram pelos processos judiciais (1º lugar nas Dionísias); 

“Paz”, obra antibelicista (2º lugar nas Dionísias); “As Aves”, em que descreve o fantástico reino dos pássaros, que dois atenienses dirigem e que, na forma como agem, conseguem suplantar os deuses ( 2º lugar nas Dionísias); 

“Lisístrata”, obra especialmente alegre, em que as mulheres de Atenas, dado que os seus maridos não acabam com a guerra, resolvem fazer uma greve sexual (1º lugar nas Dionísias);

“Mulheres Que Celebram as Tesmofórias”, paródia das obras de Eurípides (1º lugar nas Dionísias); e “As Rãs”, novo ataque contra Eurípides (1º lugar nas Dionísias).

Para sublinhar mais esta excelência entre os gregos, é bom citar que a comédia “As Rãs” foi tão bem recebida pelo público que teve a sua reapresentação pedida pela platéia. Na época, a reapresentação de uma peça era privilégio da tragédia.


Do acervo de 40 peças de Aristófanes, somente 11 peças nos restaram.Restaram também numerosos fragmentos de suas outras comédias, que permitiram reconstituir, ao menos em parte, o argumento de algumas delas. Embora toda sua vida intelectual tenha transcorrido em Atenas, apresentou certa vez uma de suas peças no teatro de Elêusis.

Sófocles

Nasceu em Colono, perto de Atenas em 495 a.C. Viveu sempre em Atenas e lá morreu, nonagenário, entre 406 a.C. e 405 a.C. Sófocles era de família abastada, porém não era aristocrática. O mais bem sucedido autor de tragédias da Grécia, estreou nas Dionísias Urbanas em 468 a.C., no século de Péricles, com a tragédia Triptolemos, concorrendo com Ésquilo (venerado pelos atenienses) e recebendo o primeiro prêmio aos 28 anos de idade. Venceu os concursos 18 ou 24 vezes, e nunca obteve menos que o segundo lugar. Foi ele quem obteve o maior número de vitórias nos concursos dramáticos de Atenas e homenageado como o maior dos poetas trágicos. Consta que Sófocles teve intensa vida política em Atenas.


Segundo a tradição, liderou o coro de jovens que celebrou a vitória de Salamina e, graças ao seu prestígio, foi tesoureiro da Liga de Delos em 443 a.C., estrátego em 441a.C. (ao lado de Péricles) e por volta de 428 a.C. (na época de Nícias). Em 413 a.C., após o desastre da Sicília, foi um dos dez próbulos que governaram provisoriamente a cidade. Era devoto de Asclépio e, enquanto o asclepieion de Atenas era construído, a estátua do deus ficou acomodada em sua casa.

Era bem apessoado e afável; consta que foi amigo de Péricles e de Heródoto e que Íofon, seu filho, e Áriston, seu neto, foram tragediógrafos de renome. 
Diz-se que alguns meses antes de sua morte, ao saber que Eurípides morrera, vestiu o coro de preto e, em lágrimas, deu ao público a notícia.


Os testemunhos antigos atribuem-lhe cerca de 120 tragédias e dramas satíricos, dos quais cerca de 18 eram tetralogias, um hino a Apolo e alguns poemas. Somente sete tragédias chegaram até nós: Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Electra, Ajax, As Traquinias, Filoctetes. 

Os enredos de todas as tragédias provêm da mitologia grega; o drama satírico Cães de Caça foi inspirado em um antigo hino a Apolo tradicionalmente atribuído a Homero.


Das tragédias sobreviventes, as cinco mais antigas não podem ser datadas com precisão. Ájax e As Traquinianas foram apresentadas em algum momento entre 450 a.C. e 430 a.C.; Antígona, possivelmente, em 442 a.C.; Édipo Tirano (mais conhecida pela tradução incorreta, Édipo Rei) entre 429 a.C. e 425 a.C., Electra entre 420 a.C. e 410 a.C. 

A tragédia Édipo em Colono foi encenada por seu neto Áriston e apresentada postumamente. De um drama satírico intitulado Os Cães de Caça, de data incerta, temos cerca de 400 versos. Sófocles inovou a construção e a técnica teatrais de seu tempo: aos dois atores usados por Ésquilo acrescentou um terceiro, recurso utilizado posteriormente por Ésquilo na Orestia, e aumentou ainda mais os diálogos dos personagens e reduziu as falas do coro, embora tenha elevado o número de seus componentes. 

O Coro atua
como um personagem coletivo, 
dialogando com o protagonista.


Em sua época as tetralogias não eram mais compostas de tragédias interligadas, e os enredos tornaram-se mais complexos. Alguns eruditos sustentam mesmo que, com Sófocles, a tragédia grega atingiu a perfeição. O grande filósofo Aristóteles afirma que, Édipo Rei, é a tragédia mais perfeita já escrita, modelo para todas as outras.
Fonte: Universidade de Pernambuco - UPE


Teatro Grego
O teatro foi uma das mais ricas formas de arte. A representação teatral se originou e se desenvolveu à partir das Dionisíacas festas em honra ao Deus Dionísio, que incluiu o espetáculo de mímica, dança, música, poesia, etc.. Em Atenas, celebrava-se o culto de Dionísio, acontecimento muito apreciado pela população camponesa. Já as Grandes Dionisíacas eram as celebrações urbanas, quando se realizavam os famosos concursos entre autores dramáticos (cada partipante concorria com três peças “Trilogia”). 


Teatro Grego
Os homens usavam máscaras como
estas para desempenhar pápeis femininos. 


A encenação das peças era feita exclusivamente por atores masculinos que usavam máscaras e representavam também personagens femininos, que deram origem às grandes obras do teatro ateniense. As Grandes Panatenéias, em honra da Deusa Atena, eram celebradas de quatro em quatro anos, com concursos de música e canto, corridas de cavalos e outras competições esportivas; finalizavam com uma procissão que percorria a via sagrada, para oferecer à Deusa o manto luxuoso. Era a festa mais importante da Cidade-Estado de Atenas.


Do ponto de vista cultural, Atenas não era superada por nenhuma outra cidade grega. Lá viveram os maiores pensadores e artistas do mundo grego; alguns deles da própria humanidade. No período clássico, o teatro tornou-se uma manifestação artística independente, embora os principais temas permanecessem ligados à religião e à mitologia. Os dois gêneros básicos do drama teatral foram a tragédia e a comédia. (à cima)

Tragédia


Teatro Grego
Os atores usavam máscaras de linho enrijecido.
Está é uma máscara da tragédia grega.


Dentre os principais autores e obras podem ser mencionados: Ésquilo (525 - 456 a.C.), que escreveu a trilogia Oréstia, Prometeu Acorrentado, etc.; Sófocles (495 - 405 a.C.), que se destaca com as peças Édipo Rei, Antígona e Electra; Eurípedes (480 - 406 a.C.), autor de Medéia, Hipólito, Andrómaca, As Troianas, etc. (à cima)

Comédia


Teatro Grego
Está é uma máscara da comédia grega.
Havia duas para cada papel a desempenhar

Diagrama do Teatro de Epidauro


Teatro de Epidauro
clique para ampliar


Um dos grandes acontecimentos do ano para os gregos era a ida ao teatro. As peças só eram apresentadas durante dez dias e cada peça representada apenas uma vez. Como todos queriam ver os espetáculos, o teatro tinha que ser grande. A população ia para o teatro muito cedo, logo após o nascer do sol. Pagava dois óbolos (moeda grega equivalendo a um terço de uma dracma) para entrar. O Estado mantinha um fundo especial para subsídiar quem não pudesse pagar. 


A maior diferença entre o teatro grego e o teatro moderno consiste no fato de que as peças gregas faziam parte de um festival religioso em honra dos deuses. O teatro então nasceu com um festival de cânticos narrando as histórias dos deuses. Um autor dava um passo à frente do coro de cantores para desempenhar o papel do personagem principal. Mais tarde apareceu um segundo ator e, gradualmente a representação foi se desenvolvendo. 


Teatro Grego
Os gregos ainda hoje
acorrem ao antigo teatro de Epidauro,
construído em 350 a.C., 
para assistir às peças clássicas gregas. 





Fontes: 
liriah.teatro.vilabol.uol.com.br
Portal São Francisco
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-do-teatro/teatro-grego.php

Von Biber / Alice Harnoncourt, 1964: Harmonia Artificiosa-Ariosa (1696) ...




Enviado por em 03/12/2011

From the LP shown above, issued in 1971 on the MHS label. Alice Harnoncourt and Walter Pfeiffer, baroque violins; Nikolaus Harnoncourt, viola da gamba; Herbert Tachezi; harpsochord. Partia I from the Harmonia Artificiosa-Ariosa.

Heinrich Ignaz Franz Biber von Bibern (getauft 12. August 1644 in Wartenberg, Böhmen; † 3. Mai 1704 in Salzburg) war ein böhmischer Komponist und bekannter Geiger der Barockzeit. In einem Jesuiten-Gymnasium im schlesischen Troppau erhielt er seine musikalische Ausbildung. Hier hatte er Kontakt mit dem Trompeter und späteren Kapellmeister des Erzbischofs in Kremsier Pavel Josef Vejvanovský. Vermutlich nahm er weiteren Unterricht bei Johann Heinrich Schmelzer oder dem Hofkapellmeister Antonio Bertali in Wien, dies gilt jedoch als nicht gesichert. Seine erste bekannte Komposition stammt von 1663, ein „Salve Regina" für Sopran, Violine, Gambe und Orgel. Die erste Anstellung erhielt er 1668 als Musiker der Hofkapelle und Kammerdiener des Olmützer Bischofs Karl II. von Liechtenstein-Kastelkorn. Von einer Reise nach Innsbruck kehrte er unerlaubterweise nicht zurück. Auf dieser Reise kam er mit dem zu seiner Zeit berühmten Geigenbauer Jakobus Stainer in Kontakt, der ihn später in einem Schreiben als „der vortreffliche Virtuos Herr Biber" erwähnte.

Генрих Игнац Франц фон Бибер (нем. Heinrich Ignaz Franz von Biber, 12 августа 1644, Вартенберг, ныне Чехия — 3 мая 1704, Зальцбург) — австрийский композитор и скрипач родом из Богемии. Учился у Иоганна Генриха Шмельцера. В 1660-х годах — музыкант на службе у князя-епископа Оломоуцкого. Около 1670 поступил в придворную капеллу Зальцбурга, с 1684 — капельмейстер. Скрипач-виртуоз, что сказалось в его скрипичных сонатах, где встречаются труднейшие пассажи, использована скордатура — изменение обычной настройки струн и т. п.

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644 - 1704) foi um compositor austríaco. Em 1670, Biber, conhecido virtuose no violino, foi enviado por seu patrono à Boêmia para adquirir novos violinos. Nunca mais voltou, depois de arranjar trabalho com o arcebispo de Salzburgo. Sua carreira floresceu, e ele progrediu da servidão à nobreza, tendo apresentado músicas próprias em eventos reais. As pitorescas e virtuosísticas sonatas de Biber incluem muitos efeitos especiais, como tonalidades incomuns.

Heinrich Ignaz Franz Biber (* 1644, Stráž pod Ralskem - † 1704, Salzburg) bol český barokový hudobný skladateľ nemeckého pôvodu, ktorý pôsobil najprv na Morave a potom v Salzburgu. Bol prvým huslistom zámockej kapely v Kroměříži a od roku 1684 kapelníkom salzburského dvorného orchestra. Bol priateľom a inšpirátorom jedného z najvýznamnejších českých skladateľov 17. storočia Pavla Josefa Vejvanovského, s ktorým pôsobil v Kroměříži, kde Vejvanovský hral na trúbku. Po jeho odchode zdedil po ňom vedúce miesto v orchestre (vtedy sa pravdepodobne ešte neurčoval kapelník telesa).

Heinrich Ignaz Franz Biber — né le 12 août 1644 à Wartenberg (aujourd'hui Stráž pod Ralskem1, en République tchèque), mort le 3 mai 1704 à Salzbourg — est un violoniste et compositeur bohémien. Il reçoit sa formation principale de Johann Heinrich Schmelzer. Avant d'être nommé maître de chapelle auprès du prince évêque de Salzbourg en 1684, il occupe des postes à Olmütz et Kremsier, en Autriche. Violoniste virtuose, il est aussi un grand compositeur de toutes sortes d'œuvres. Il est anobli par l'empereur Leopold Ier « von Bibern » pour son mérite de violoniste et compositeur. Son fils est le compositeur Carl Heinrich Biber (1681-1749), qui lui succéda dans le poste de maître de chapelle à Salzbourg.

AGAMÉMNON , DE ÉSQUILO



Clitemnestra hesita antes de matar Agamenon adormecido. Ao seu lado, Egisto a incita para que o execute. Óleo de 1817, obra de Pierre-Narcisse Guérin.

Agamemnon (em grego: Αγαμέμνων, transl. Agamémnon) é uma tragédia grega, de autoria de Ésquilo.


Faz parte da trilogia Oresteia, que inclui também as tragédias Eumênides e Coéforas. Esta trilogia, que era seguida pelo drama satírico Proteu (perdido), foi representada pela primeira vez em 458 a.C. nas Festas Dionisíacas de Atenas, em que ganhou o primeiro prémio.


A cena inicial se dá no palácio dos Átridas, em Argos, onde um vigia aguarda o sinal que anunciará o fim da Guerra de Tróia. Depois de dez anos, Agamenon volta vitorioso, trazendo ricos despojos, a grande motivação da campanha. Clitemnestra prepara recepção calorosa para seu marido, mas como já havia planejado com seu amante Egisto, mata Agamemnon e a vidente Cassandra, vinda de Tróia, vingando a filha Ifigênia, sacrificada pela vitória na guerra.

 RESUMO

Após o rapto de Helena, Agamémnon juntou as forças Gregas para navegar para Tróia. Preparando-se para partir de Áulis, um porto na Beócia, o exército de Agamémnon provocou a ira da deusa Artemisa/Ártemis. Há muitas razões para explicar tal ira: na peça “Agamémnon” de Ésquilo, Artemisa está zangada por causa dos mancebo que iriam morrer em Tróia, enquanto que na “Electra” de Sófocles, Agamémnon tinha morto um animal sagrado para Artemisa, e depois gabou-se de que era semelhante a Artemisa na caça. Infortúnios, incluindo uma praga e falta de vento, impediram o exército de zarpar; finalmente, o adivinho Calcas anunciou que a ira da deusa apenas podia ser amansada com o sacrifício de Ifigénia (filha mais velha de Agamémnon). 
Dramatizações clássicas diferem em relação a com que vontade estavam quer pai quer filha quanto a este destino. Numa delas, Agamémnon inventou que ela estava prometida como esposa a Aquiles, mas acabou por sacrificar Ifigénia. A sua morte acalmou Artemisa, e o exército grego partiu para Tróia. Muitas alternativas ao sacrifício humano foram apresentadas na mitologia. 

Outras fontes dizem que Agamémnon estava preparado para matar a filha, mas que Artemisa aceitou um veado no lugar de Ifigénia, e levou-a para Táurida, na Crimeia. Hesíodo disse que ela se tornou a deusa Hécate. Agamémnon foi o comandante supremo dos gregos durante a guerra de Tróia. 

Durante a luta, Agamémnon matou Antifo. O conductor de carros de Agamémnon, Halaeso, lutou mais tarde com Eneias em Itália. A Ilíada conta a história da briga entre Agamémnon e Aquiles no ano final da guerra. 

Agamémnon tomou para si uma escrava atrativa e espólio de guerra, Briseis, que era de Aquiles. Aquiles, o maior guerreiro da altura, saiu da batalha por vingança, e quase custou a guerra aos gregos . 
Embora não igual a Aquiles em bravura, Agamémnon era um representante digno da autoridade real. Como comandante supremo, convocou os príncipes para a assembleia e conduziu o exército grego na batalha. Ele próprio lutou, e realizou muitos feitos heróicos, até ser ferido e ser forçado a voltar para a sua tenda. 
A sua falha principal era a sua arrogância vaidosa. Uma opinião demasiado exaltada da sua posição fê-lo insultar Crises e Aquiles, lançando grande infortúnio sobre os gregos. Após a tomada de Tróia, Cassandra, princesa de Tróia (filha do rei troiano Príamo) e profetisa condenada, caiu-lhe na sorte na distribuição dos espólios de guerra.

Publicado em: 16 outubro, 20
Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/history/1689484-agamemnon/#ixzz1fTjBcXf2

Agamemnon

(peça)


AGAMEMNON, DE ÉSQUILO
 

Personagens
Cenário:
Época
Autor: Ésquilo

Coro
Tristezas, canta tristezas,
mas possa o bem triunfar.


Ancião
"Mas basta de falar; é quanto me permite
dizer a bela deusa benfazeja
que se diverte com os ferozes leõezinhos
ainda frágeis e com as tenras crias
das feras todas habitantes das florestas,
se quero interpretar algum presságio
- portento auspicioso ou(quem sabe?) funesto -
no vôo velocíssimo das aves.


Invoco Apolo e peço a sua intercessão;
não prenda Ártemis as naves gregas
com ventos fortes insuflados contra elas
impondo mais um sacrifício ímpio,
adverso às leis, incompatível com o júbilo,
artífice de lutas em família,
amargo fim da reverência conjugal.


Já antevejo a cólera bem próxima,
terrível, inapaziguável, sem remédio,
guardiã insidiosa desta casa,
alerta sempre, sempre ansiosa por vingar
com crueldade a vítima inocente."


Tais foram as palavras do profeta Calcas
diante da mansão de nossos reis,
presságio de terríveis males e de bens
enormes que ditaram os augúrios
no dia da partida; e em seguida a eles...


Coro
... tristezas, canta tristezas,
mas possa o bem triunfar.


Ancião
Zeus! Seja Zeus quem for! Que a minha invocação
se lhe aprouver, tenha boa acolhida!


Depois de muito ponderar, somente em Zeus
diviso o fim de minha angústia enorme.


Um deus havia antigamente, poderoso
e ousado para todos os combates
(seu nome no futuro nem será lembrado);
surgiu depois um outro deus mais forte
mas foi também vencido e desapareceu.


Agora os homens que convictamente
vêem no grande Zeus o vencedor final
desfrutam o conceito de mais sábios,
pois Zeus sem dúvida foi quem levou os homens
pelos caminhos da sabedoria
e decretou a regra para sempre certa:
"o sofrimento é a melhor lição".


Da mesma forma que durante o sono, quando
somente o coração está desperto,
antigas penas nossas voltam à memória,
assim os homens vem, malgrado seu,
a sapiência; esse constrangimento bom
é comunhão da graça procedente
dos deuses entronados em augustas sedes.


Aconteceu o mesmo ao condutor
das naves gregas - o mais velho dos Atridas -
que, sem Ter dúvidas quanto às palavras
do vate iluminado, aceitou logo os golpes
impiedosos da fortuna adversa
naquela hora em que a ardorosa gente grega
permanecia inerte frente a Cálcis
(lá onde as águas de Áulis sobem e recuam),
retida por ventos desfavoráveis
enquanto as poucas provisões se consumiam
nas naus imóveis com as velas descidas.


As brisas que sopravam rápidas do Strímon
trazendo o desastroso ócio, fome,
perigos, dispersão dos homens, fim das naves
havia tanto tempo ali nas paradas,
ceifavam o melhor da juventude grega
naquela espera longa, interminável;
na hora em que o profeta, interpretando Ártemis,
anunciando aos chefes dos Aqueus
a contingência inexorável, mais cruel
que aquela espera desalentadora,
os dois filhos de Atreu golpearam a terra
com os cetros e tiveram de chorar.


"Será atroz o meu destino se resisto".
falou o mais idoso dos dois reis;
"será atroz, também, matar a minha filha,
minha Ifigênia muito, muito amada,
adorno, encantamento do palácio meu,
manchando minhas mãos de pai com o sangue
do sacrifício de uma virgem inocente.


Qual dos caminhos me trará agora
mágoa menor? Será possível nesta hora
abandonar de vez a expedição
traindo tantos e tão prestes aliados?


De certo está com eles a justiça
se querem decididamente o sacrifício
capaz de os ventos nos trazer, propícios,
embora tenha de jorrar o sangue puro!


Que seja tudo para o nosso bem!"


Depois de aceito o jugo da necessidade
o rei fez sua escolha e admitiu
o sacrifício, vilania inominável;
a decisão foi obra de um instante;
iria consumar-se a máxima ousadia.


A decepção funesta arrasta os homens
a insólitos extremos de temeridade;
é conselheira péssima e é fonte
inesgotável de amargura e sofrimentos.


Pois Agamêmnon não se atreveria
ao holocausto de Ifigênia, sua filha,
a fim de que pudessem ir as naus
de mar afora resgatar Helena bela?


As súplicas da vítima, seus gritos
pungentes pelo pai, a idade virginal
em nada comoveram os guerreiros
ansiosos por saciar a sede de combates.
 

Depois da invocação aos deuses todos, 
mandou o pai que subjugassem a sua filha;
usando as vestes para proteger-se,
tentava a virgem frágil resistir lutando
desesperadamente, mas em vão:
como se fosse um débil cordeiro indefeso,
puseram-na no altar do sacrifício;
brutal mordaça comprimia rudemente
seus lindos lábios trêmulos de medo
e sufocava imprecações; quando caíram
por terra as vestes de formosas cores,
a cada um de seus verdugos impassíveis
volveu os eloqüentes olhos súplices
- tão expressivos como se pintura fossem -
desesperada por falar mas muda,
ela, que tantas vezes nas festivas salas
do senhoril palácio de Agamêmnon
cantava com a voz doce de donzela tímida
os hinos em louvor ao pai amado!
 

O que depois aconteceu não pude ver
e mesmo que pudesse não diria.
 

A arte do profeta Calcas não mentiu;
por da justiça os sofredores
se tornam dóceis e o porvir há de mostrar-se
no tempo prefixado fatalmente;
até que venha é inútil a preocupação
(por que chorar se a hora não soou?).


Chegando o dia tudo se revelará.


(Clitemnestra, finda a prece e depostas as oferendas, afasta-se do altar central, marchando juntamente com as criadas para onde estão os Anciãos do Coro.)


Coro (percebendo Clitenmestra que se aproxima.
Veio de Tróia, mandada por meu senhor.


Corifeu
Rainha, agora eu posso agradecer aos deuses,
mas gostaria de escutar-te novamente
pois meu espanto ainda não está desfeito.


Clitemnestra
Agora os soldados Aqueus dominam Tróia.
Na praça capturada certamente ouve-se
o burburinho de mil vozes bem distintas.
 

Derrame-se vinagre e azeite num só vaso;
os dois não se misturarão de modo algum,
como se fossem inimigos acirrados.
 

Da mesma forma, os brados dos vitoriosos
e os dos vencidos são de todo inconfundíveis;
separa-os diferença enorme de fortunas.
 

Mulheres desvairadas tentam descobrir
os corpos dos irmãos e dos esposos mortos;
sobre os cadáveres dos pais crianças choram
(são lábios antes livres lamentando males).
 

Mas os felizes vencedores, já refeitos
dos sobressaltos e fadigas e perigos
da derradeira luta nas noturnas trevas,
reúnem-se famintos junto aos poucos víveres
inda restantes na cidade saqueada
para a primeira refeição provada em paz.
 

Não haverá depois deveres marciais;
repousarão nas casas da vencida Tróia
que lhes couberem na partilha por sorteio,
livres do orvalho na vigília sem abrigo;
desfrutarão enfim o sono sem cuidados
com que nas tréguas dos combates mal sonhavam.
 

Se cultuarem os bons deuses como devem
e os santuários da cidade subjugada,
de vencedores não se tornarão vencidos.
 

Dominem os conquistadores a soberba
e não se deixem arrastar pela cobiça
a temerárias, a sacrílegas pilhagens!


A luta não termina com a vitória; falta
a volta, que é metade de um longo caminho.

 

Ainda que regressem todos de mãos limpas,
sem máculas de excessos e de impiedades,
o ultraje aos numerosos inimigos mortos
se não causou ainda amargas decepções
mais tarde pode provocar rancor divino.
 

Ouviste simples pensamentos de mulher;
que sejam um prenúncio de ventura e paz
e finalmente possa o bem prevalecer.


Corifeu
Procede como se homem fosses e prudente,
e tua fala clara me persuadiu.
 

Irei levar aos deuses minha gratidão,
pois para tantas provações e tão cruéis
teremos recompensas em medida igual.


(Clitemnestra retorna ao palácio seguida pelas criadas.)


Coro
Saúdo Zeus supremo que nos deu
imensa glória; salve, noite amiga
que acobertaste a cilada fatal
aos altos muros da orgulhosa Tróia
onde morreram grandes e pequenos,
vítimas todos do destino duro.
 

Venero, sim, o hospitaleiro Zeus,
o deus que tudo fez, irresistível,
e preparou durante muito tempo
o inelutável arco da vingança
para que as setas dele disparadas
em direção a Páris não caíssem
aquém do alvo nem se extraviassem
num vôo vão além dos astros claros.
 

Foi Zeus quem dirigiu a punição,
pois é inconfundível o sinal
que deixa em sua obra a mão divina.
 

Pensar  para Zeus é igual a agir.
 

Afirmam uns que os deuses não vigiam
os descuidosos de dever sagrado;
são pensamentos atrevidos, ímpios!
A ruína é punição inexorável
da pretensão sem termo e sem medida
e das extravagâncias da opulência.
 

O dom supremo é ter comedimento;
queiramos só os bens inofensivos,
suficientes quando há bom senso,
pois a prosperidade nunca serve
aos que se sobrepõem à justiça.
 

Transtorna-os a sinistra Tentação,
insidiosa filha do Delírio:
o mal, então, se torna irremediável;
não se disfarça mais, todos o vêem
- sinistra, inocultável evidência.
 

Iguais a moedas falsificadas
enegrecidas por pedra de toque,
revelam os perversos a maldade
como crianças que perseguem pássaros,
manchando os seus com nódoa inapagável.
 

Os deuses não escutam suas súplicas;
a ruína é o fim de todos os culpados.
 

Assim agiu outrora o belo Páris;
bem acolhido pelos dos Atridas,
ignobilmente desonrou um lar
raptando uma mulher presa por núpcias!
 

Ela, deixando ao povo atrás de si
o estrépito de lanças e de escudos,
guerreiras naus e o aparato bélico,
levou a Tróia o luto em vez de dote
quando transpôs as portas da cidade,
ousando o que jamais ninguém ousara.
 

Naquele instante os vates inspirados
disseram em gemidos incontidos:
 

“Ai do palácio! Ai, palácio e príncipes!...

Ai do vazio leito do marido
marcado ainda pelo corpo amado!...
Silencioso é só, entregue à dor,
ferido em seu orgulho um homem sofre,
aniquilado, sem poder queixar-se.
 

Sente saudade atroz, angustiante,
da esposa que se foi de mar afora;
a imagem dela inda povoa a casa;
a própria graça dos adornos belos
agora se afigura detestável;
foi-se com ela o atrativo deles.
 

Em sonhos o marido solitário
é visitado por visões fugazes
que só lhe trazem alegrias vãs,
pois mal se mostram já se desvanecem
fugindo fluidas de seus dedos ávidos
como asas agitadas pelo sono.
 

Apenas a saudade permanece
em seu palácio, ali junto à lareira,
constante e cada vez mais forte.”
 

Por toda a parte, em cada casa triste
de onde partiu algum guerreiro Aqueu,
o desencanto reina angustiando
os corações e tudo é inquietação;
todos se lembram bem dos que partiram
e pressentem que ao lar de cada um
em vez dos homens idos voltarão
apenas urnas fúnebres e cinzas.
 

Ares sangrento, mercador de morte,
decide o resultado das batalhas
e a quem espera manda lá de Tróia
o pó que as fogueiras crepitantes
num instante reduziram tantos gregos,
ainda quente e úmido de lágrimas.
 

Louvores se misturam a gemidos:
“Como era destemido este guerreiro!”
minha amorosa impaciência muito longa;
desfaz-se a timidez com o perpassar do tempo.


Por própria e dura experiência falarei
de minha insuportável vida solitária
durante a estada interminável deste homem
aos pés do altos muros de Tróia antiquíssima.
 

Primeiro, é um angústia desesperadora
permanecer a esposa desacompanhada
no lar vazio, separada do marido,
ouvindo maus prognósticos seguidamente
e recebendo, apreensiva, informações
reveladoras de reveses repetidos,
que tem de transmitir ao povo receoso.
 

Houvesse esse homem sido mesmo vítima
dos ferimentos todos que nos relataram
mais furos haveria em seu corpo forte
que malhas numa grande rede; tivesse ele
morrido tantas vezes quanto me disseram,
então, sem exagero, ele teria tido
três corpos como Geríon e poderia
vangloriar-se de seu corpo recoberto
por manto tríplice de terra, muita terra
- morte distinta para cada um dos corpos.
 

Tais eram os rumores maus, exasperantes,
que me traziam desespero (muitas vezes
servas atentas afrouxaram de meu colo
sinistros, tensos laços de cordas pendentes).


Por isso e nada mais Orestes, nosso filho,
depositário de nossa esperança única,
não se acha mais comigo, como fora próprio.
 

Não te pareça estranha sua ausência agora;
amigo certo cuida dele com desvelo
- o bom foceu Estrófio, que me pôs a par
perspectivas duplamente perigosas -:
os riscos teus na longa luta lá em Tróia
e a presumível rebeldia aqui do povo,
capaz de pôr abaixo um dia o fiel Conselho
que sustentava o teu prestígio, pois bem sabes
que os homens tripudiam sobre os derrotados.


Tais previsões me pareceram verossímeis.
 

Falando agora um pouco mais de minhas mágoas,
secou a fonte copiosa de meu pranto
e não me resta uma só lágrima a chorar.


Ardiam os olhos em intermináveis 

vigílias lamentosas, na dilacerante
expectativa de não ver aparecerem
lá no horizonte tantas vezes contemplado
as chamas das fogueiras que não se acendiam.
 

E muitas vezes o zumbido malsoante
de algum mosquito despertava-me de sonhos
repletos de terríveis sofrimentos teus,
demasiados para sono tão fugaz.
 

Hoje, porém, com o coração aliviado
enfim de tanta e tão cruel ansiedade,
saúdo neste homem o mastim fiel
que guarda bem o seu rebanho; o arrimo firme,
a salvação das naves; a coluna mestra,
o sustentáculo do teto alto e sólido;
o filho único de pai muito querente;
a terra firme divisada pelo nauta
desesperado e ansioso por salvar-se;
aurora límpida após noite tormentosa
e fonte fresca para o viajar sedento
(é doce ver-nos livres de males ingentes...).


São merecidos todos esses elogios.
 

Fique o despeito amargo bem distanciado,
pois muitos sofrimentos suportamos antes.
Agora, criatura amada, sai depressa
Do carro em que vieste; não, não deves por
No chão os mesmos pés que devastaram Tróia!


(Dirigindo-se às criadas.)
Qual é a razão de tal demora, servas lerdas?
 

Pois não mandei atapetar o chão ao longo
da via que meu rei vai percorrer agora?
 

Depressa! Quero ver imediatamente
em seu percurso bela trilha cor de púrpura!
 

A justa mão dos deuses vai encaminhá-lo
à casa que tão cedo não pensava ver.
 

Do resto cuidará, com o favor divino,
um ânimo que não se entrega nem ao sono,
obediente às leis exatas do destino.


(As criadas estendem o tapete cor de púrpura desde o carro em que
está Agamêmnon até os degraus de acesso ao palácio real.)
 

Agamêmnon (Ainda no carro)
Filha de Lêda, guardiã da minha casa!
 

A tua fala se assemelha à minha ausência:
quiseste-a excessivamente prolongada.
 

Os elogios, mesmo quando merecidos,
a outros convirá dizê-los, não a vós.
 

Ainda mais: não quero que me envolvas hoje
em luxos próprios de mulheres, nem me acolhas
prostrada e boquiaberta como me apareces
pois não estás diante de algum ser exótico;
não deves pôr ressentimento em meu caminho
ornando-o com tapeçaria suntuosas.
 

Tais honrarias cabem só a divindades;
sendo mortal, não vou poder pisar agora
tapetes requintados sem justos receios.
 

Deves honrar em mim um homem, não um deus.
Tecidos luxuosos e tapetes simples
são coisas diferentes desde o próprio nome
e o dom do céu mais precioso é a prudência.
 

Só é feliz de fato o homem cuja vida
transcorre até o fim serenamente próspera.
Enquanto assim pensar.


Clitemnestra
Revela francamente os teus reais propósitos.
 

Agamêmnon
Os meus propósitos já foram revelados.


Clitemnestra
Juraste aos deuses, em perigo, ser modesto?
 

Agamêmnon
Se agi assim, moveu-me boa inspiração.


Clitemnestra
Se vencedor, que pensas que faria Príamo?
 

Agamêmnon
Decerto marcharia sobre teus tapetes


Clitemnestra
Não deves, pois, temer que os homens te censurem.
 

Agamêmnon
É muito forte o julgamento popular.


Clitemnestra
Só não existe inveja se não há valor.
 

Agamêmnon
As mulheres não devem sustentar querelas!
 

Clitemnestra 
Também os fortes podem dar-se por vencidos...
 

Agamêmnon
Desejas ser a vencedora no debate?


Clitemnestra
Confia em mim e condescende na vitória!...
insuportáveis para meus amigos?
 

E como ainda está distante a ajuda...


Corifeu
Não decifrei as derradeiras profecias,
mas entendi as expressões iniciais,
assunto invariável de toda a cidade.


Cassandra
Ah! Miserável! Até isso ousas?
Banhando teu esposo e companheiro...
(não posso... como descrever o fim?).
 

Veremos logo; e mão ajuda mão
a levantar-se, pronta para o golpe.


Corifeu
Não posso ainda perceber, pois dos enigmas
descambas para ditos dúbios e sombrios
e fico pasmo sem saber o que pensar.


Cassandra
Oh! Que visão é essa? Uma mortalha?
 

Não! Não! O véu fatal que julgo ver
vem dela, companheira de seu leito
e cúmplice do crime. Vocifera
o bando furioso que persegue
ainda e sempre essa eminente raça;
com gritos rituais festeja o feito
que só a mais severa pena pune!


Corifeu
Por que lembrar agora as Fúrias vingadoras?
Tuas palavras deixam-me sobressaltado.


Coro
Sobe de súbito ao meu coração
o sangue já sem cor, como se fora
de golpe por onde se esvai a vida
na hora de chegar a morte célere.


Cassandra
Ah! Vede! Vede! A vaca vence o touro!
 

Envolve-o em seu véu insidioso
e pelos cornos negros o domina!
Descrevo a traição mortal de um banho!


Corifeu
Embora não me julgue intérprete atilado
de profecias, nestas antevejo males.


Coro   
Jamais as profecias comunicam
mensagens agradáveis aos mortais;
os palavrosos dons oraculares
sugerem desventura e causam medo.


Cassandra
Ai! Infeliz de mim! Destino atroz!
É a torrente de meu sofrimento
que soluçando ponho nas palavras!
 

Por que me conduziste até aqui?
Para morrermos juntos? Ai!... Por quê?


Coro
 

Estás alucinada e certamente
alguma divindade te domina;
entoas um canto desencantado,
tal como o pardo rouxinol tristonho
chorando interminavelmente “Ítis”,
“Ítis", por toda a desolada vida.


Cassandra
Destino do sonoro rouxinol!
 

Deram-lhe os deuses o dom de voar;
a vida não lhe pesa, nem o pranto;
e a mim me espera a espada de dois gumes
que sinto já em volta do pescoço.


Coro
Não cessam as lamentações proféticas,
às vezes ditas com suavidade,
às vezes proferidas entre gritos.
 

Por que a trilha de teus vaticínios é cheia de sinistras previsões?


Cassandra
Ah!.. Bodas... Bodas trágicas de Páris,
completa perdição de todo um povo!...
 

Ah!... Escamandro onde bebia Tróia...
 

Em teus barrancos (infeliz de mim!...)
outrora fui criada com desvelo,
e agora? Irei cantar daqui a pouco
as minhas profecias verdadeiras
ao longo do Cocito e do Aqueronte!


Coro
É claro o teu oráculo; percebo-o
(até crianças o decifrariam);
imensa dor e pena me comovem
ao discernir o teu destino adverso;
teus gritos ferem-me profundamente.


Cassandra
Ah!... Penas... Penas de minha cidade
definitivamente destruída!...


Meu pai! Ah!... Quantas vezes receberam
os deuses generosas oferendas
de muitas reses que sacrificavas
em seus altares!... Tudo foi inútil
e Tróia pereceu da mesma forma;
eu mesma vejo, em delírio febril,
chegar a hora de cair por terra.


Coro
Enquadra-se nos outros vaticínios
a predição do fado que te espera.
 

Decerto algum espírito maligno
desceu pesadamente sobre ti
e te constrange a derramar as lágrimas
predecessoras da terrível morte.


Cassandra (Em tom mais sereno.)
Agora basta. Vamos! Minha profecia
não mais se mostrará envolta em véus sutis,
como aparecem as recém-casadas tímidas,
mas clara qual rajada fresca, sussurrante,
na madrugada quando vem surgindo o sol
- onda diáfana aspirando a envolvê-lo.
 

Vai atingir-me agora o mal maior de todos.
 

Não mais vos estarrecerei com meus enigmas
e sabereis que, recuando nos caminhos,
farejo as marcas de homicídios antiquíssimos.
 

De baixo deste teto nunca se afastou
um coro uníssono mas não harmonioso:
em tudo que ele canta nada há de bom.
 

Provando sangue humano, que o torna pior,
um bando ruidoso ronda este palácio
ininterruptamente: são as rubras Fúrias,
as implacáveis sanguessugas desta raça.
 

Enraizadas em recônditos recessos,
estão cantando o canto do primeiro crime;
depois amaldiçoam o leito fraterno
lançando imprecações a quem o maculou.
 

Estou errada, ou como archeiro competente
plantei certeira flecha no visado alvo?
Sou falsa profetisa, das que vão bradando
de porta em porta?


(Dirigindo-se ao Corifeu)
Jura! Quero que confirmes
as minhas alusões aos crimes desta casa!
 

Ai! Ai de mim! Desgraça! Torna a dominar-me
o torvo turbilhão dos ímpetos proféticos
alucinando-me com seu refrão horrível!
 

Estais também agora vendo junto à porta
frágeis figuras infantis fantasmagóricas
iguais a formas espectrais em pesadelos?
 

Parecem criancinhas mortas por aqueles
que deveriam dedicar-lhes todo o amor!
 

As mãos repletas de sanguinolenta carne
- da própria carne (ai! confrangedora carga...) -,
entranhas, vísceras que um monstruoso pai
ousou, infame, aproximar de sua boca!
 

Prevejo e vos declaro que um leão covarde
lá dentro premedita, no seu próprio leito,
vingança insidiosa contra meu senhor
que volta (ai de mim... lerei de suportar
por toda a vida o jugo da subserviência...).
 

O comandante de incontáveis naus guerreiras,
destruidor de Ílion, não percebe ainda
os golpes assassinos que a cadela odiosa
sordidamente lhe prepara, bajulando-o,
com língua hipócrita e contentamento falso
- flagelo traiçoeiro com desígnios torpes
que o fado inelutável torna realidade.
 

Audácia enorme! A fêmea mata o próprio macho!
 

A que bifronte monstro repugnante, víbora
ou Cila moradora em rochedos ocultos,
desolação de infortunados marinheiros,
irei pedir o mais horripilante nome,
conforme a essa mãe do inferno, furiosa,
resfolegando a destruição de sua gente?
 

E o grito de triunfo da mais que atrevida,
como se fosse a vencedora de um combate!
Fingindo júbilo diante do regresso!
Se me dão crédito, ou se não, é indiferente.
Que importa? O que tiver de acontecer virá.


(Dirigindo-se ao Corifeu.)
Tu mesmo, aqui presente, dentro de momentos,
hás de reconhecer em mim, horrorizado,
a profetisa verdadeira até demais!


Corifeu
Sei que falaste do banquete de Tiestes
e estremeci ouvindo a verdade total;
domina-me o terror que disfarçar nao posso;
mas quanto às outras alusões estou em dúvida;
não consegui acompanhar-te em teu caminho.


Cassandra
Verás - confirmo agora - a morte de Agamêmnon.


Corifeu
Ah! Infeliz!... Ou fala bem, ou cerra os lábios! 


Cassandra
Não há remédio para as minhas predições.


Corifeu
Se for destino, mas desejo que não seja. 


Cassandra
Formulas preces; outros cuidam de matar.


CORIFEU
Que homem se dispõe a praticar o crime?


Cassandra
Sem dúvida te foge a minha profecia!


Corifeu
Decerto; não percebo planos criminosos.


Cassandra
Eu, todavia, falo bem a língua helênica.


Corifeu
Também a pitonisa, que ninguém entende.


Cassandra
Ah! Quanto fogo (quanto!) avança para mim!
 

Meu Deus! Apoio Lício! Ai!... E eu? E eu?
Pois a leoa de dois pés, unida ao lobo
na ausência do leão feroz, matar-me-á.


Ai! Infeliz de mim! Na taça de veneno
que manipula já está a minha parte.
 

Com o pérfido punhal que afia vai vingar-se
do esposo inerme apenas por me haver trazido
com ele, misturada aos seus troféus de guerra.
 

Por que razão conservo ainda este meu cetro
e em volta do pescoço este colar profético?
Por que escarnecer agora de mim mesma?


(Cassandra parte o cetro e arranca o colar de seu pescoço.)
Ao menos isso não me sobreviverá!
 

Desapareçam! Vingo-me despedaçando-os!
Sirvam a outros tais insígnias, não a mim!
 

Não estais vendo? Apolo me despoja hoje
de meu profético aparato, agora inútil;
vestida nessas mesmas roupas, humilhada,
escarnecida por amigos e inimigos
unânimes, igual a charlatã sem rumo
sou maltratada qual mendiga maltrapilha!
 

E quantas outras provações já suportei...
A morte é o desenlace a que o deus profeta
destina a profetisa que antes inspirou.
 

Em vez do altar de meu augusto pai, aguarda-me
um cepo de patíbulo todo vermelho
do sangue borbulhante de outros sacrifícios.
 

Mas não há morte sem vingança de algum deus.
Virá um dia mais um vingador - o nosso –
nascido para exterminar a própria mãe
e castigar a morte inglória de seu pai.
 

Um exilado errante, expulso desta terra,
regressará para assentar a pedra última
neste edifício das inúmeras desgraças
impostas a esta raça antigamente próspera.
 

Um juramento foi solenemente feito
e confirmado pelos deuses inflexíveis:
há de o paterno apelo ingente, cedo ou tarde,
fazê-lo retornar inevitavelmente.
 

Por que fazer ouvir ainda a minha voz
pungentemente lamentosa? Vi primeiro
o fim de minha Tróia, toda destruída,
e agora seus captores, por divino mando,
estão chegando a esse desenlace triste.
 

Aceitarei o meu destino com firmeza;
serei valente ao enfrentar a morte certa!


Jorre o meu sangue de certeiro golpe, e rápido,
e a doce morte, sem espasmos e agonia,
venha fechar-me os olhos na hora final!


Corifeu
Falaste longamente, mulher infeliz,
e foste bem sensata; mas se na verdade
a própria morte já prevês, por que enfrentas
o sacrifício com tanta resignação
que mais pareces dócil, plácida novilha
votada como de costume ao holocausto?


Cassandra
Não vejo salvação... Estrangeiros, é tempo...


Corifeu
Mas vale muito, creio, a hora derradeira.


Cassandra
Chegou a hora... Lutas não me salvarão...
unamo-nos todos, amigos, e deliberemos!


(Os anciãos do Coro opinam sucessivamente.)
1.º Ancião
Num átimo vos digo a minha opinião:
chamemos já povo e vamos ao palácio!
2.º Ancião
Ajamos neste instante! Ataquemos agora
enquanto alguém empunha a espada ensangüentada!
3.º Ancião
É esta justamente a minha convicção;
não temos tempo para vãs divagações!
4.º Ancião
Vejamos; pode ser apenas o prenúncio
de planos que nos levarão à tirania...
5.º Ancião
... porque estamos indecisos! Eles agem
e não se dão ao luxo tolo de hesitar!
6.º Ancião
Não sei o que fazer em tal situação,
mas antes de atuar convém deliberar.
7.º Ancião
Essa também é minha idéia, pois os mortos
não podem ser ressuscitados com palavras.
8.º Ancião
O quê? Apenas por cuidar de nossas vidas
cedemos ante a usurpação abominável?
9.º Ancião
De modo algum! Melhor seria então morrer!
A tirania é mal pior que a própria morte!
10.º Ancião
E nós aqui, apenas por ouvir gemidos
iremos afirmar que há um homem morto?
11.º Ancião
Devemos ter certeza antes de revoltar-nos;
conjecturar e ver são coisas diferentes.
12.º Ancião
Meu voto é a favor desta ponderação;
certifiquemo-nos da sorte de Agamêmnon. 


(Os anciãos fazem menção de marchar em direção ao palácio. Abrem-se as portas. Os anciãos param. Vêem-se no interior os corpos de Agamêmnon e de Cassandra, estirados no chão e cobertos com panos. Ao lado dos cadáveres, em pé, Clitemnestra, com o rosto e as mãos manchados de sangue. Os anciãos entram no palácio, para cujo vestíbulo, onde estão os cadáveres, a cena se transfere.)


Clitemnestra (Dirigindo-se aos anciãos.)
Palavras numerosas disse-vos há pouco,
ditadas obviamente pelas circunstâncias,
e não me pejo de contradizer-me agora;
de outra maneira, como poderia alguém,
premeditando destruir um inimigo
e tendo de fingir desnorteante apreço,
dissimular o véu diáfano, envolvente,
de uma cilada certa, sem qualquer salda,
mantendo-o bem distante de olhos indiscretos?
 

Contemplo enfim o resultado favorável
de planos pacientemente preparados.
 

Estou aqui exatamente no lugar
em que seguida e firmemente o golpeei
no cumprimento de missão apenas minha.
 

Os fatos foram estes, não irei negá-los:
a fim de obstar qualquer defesa ou reação
em tentativa de fugir ao seu destino,
emaranhei-o numa rede indestrutível
igual às manejadas pelos pescadores,
mas para ele um manto fértil em desgraças;
então feri-o duas vezes e seus membros
depois de dois gemidos imobilizaram-se.
 


Embora o visse já tombado, inanimado,
ainda o golpeei pela terceira vez,
em oferenda ao grande Zeus das profundezas,
senhor dos mortos; estendido ali no chão,
a vida se lhe foi no último suspiro
cortado por golfadas de sangue abundante
que me molhou com suas gotas cor de púrpura,
mais agradáveis para mim que a própria chuva
mandada pelos deuses para a terra ávida
na época em que as flores todas desabrocham.
 

Argivos veneráveis, tudo vos foi dito;
se ainda tendes alegria, alegrai-vos.
 

Exulto com meu ato, se quereis saber,
e se me parecesse até conveniente
naquele instante derramar sobre o cadáver
sagradas libações, seria muito justo,
justíssimo seria meu procedimento;
se este homem fez a taça transbordar
das maldições inumeráveis desta casa,
é natural que a sorva hoje de um só trago!


Corifeu
É de pasmar essa linguagem afrontosa!
Vangloriar-se de matar o próprio esposo!...


Clitemnestra
Pretendes pôr à prova os sentimentos meus
como se eu fosse uma mulher desatinada;
estou falando claro, o coração impávido;
entenda-me quem for capaz; e quanto a ti,
se me censuras ou me louvas tanto faz.


Quem jaz aí é Agamêmnon, meu esposo,
morto por obra desta minha mão direita,
guiada só pela justiça; tenho dito.


Coro
Mulher! Que erva má terás provado,
criada pela terra, ou beberagem
das ondas agitadas te infundiu
tanta ousadia para tal delito
e para fazer frente à maldição
pronunciada pela gente argiva?


Tu o traíste, tu o golpeaste!
Serás banida, viverás sem pátria,
alvo do ódio unânime do povo!


Clitemnestra
Agora me condenam ao amargo exílio,
ao ódio da cidade, à maldição do povo,
mas contra este homem nada foi falado.
 

No entanto ele, sem escrúpulos, sem dó,
indiferentemente, como se lidasse
com algum irracional (e havia numerosos
em seus velosos, cuidadíssimos rebanhos),
sacrificou a sua própria filha - e minha -,
a mais querida que saiu deste meu ventre,
apenas para bajular os ventos trácios!
 

Não era esse pai cruel quem merecia
ter sido desterrado, expulso deste solo
em retribuição ao crime inominável?
 

Comigo sois severos; quero prevenir-vos
diante das presentes ameaças vossas:
se fordes vencedores não hesitarei
em submeter-me humildemente às vossas mãos.


Mas se o contrário for mandado pelos deuses
embora tarde aprendereis a ser prudentes!


Coro
apenas para que eu visse este corpo
jazendo neste féretro rasteiro
bordado de ornamentos prateados!
Quem há de conduzi-lo ã sepultura?
Quem cantará os hinos lamentosos?


(Voltando-se para Clitemnestra.) 


Ou tu, que assassinaste o próprio esposo,
tu o farás, terás o atrevimento
de completar entre muitos soluços
o teu nefando, abominável crime
com atos de fingida piedade
endereçados ao espectro dele,
com a intenção agora manifesta
de minorar esta injustiça enorme?
 

E quem há de fazer-lhe nesta hora
um elogio fúnebre adequado,
chorando o grande herói com fáceis lágrimas
e o coração sinceramente triste?


Clitemnestra
Nenhum destes cuidados te compete.
Fui eu quem o feriu, quem o matou;
eu mesma o levarei á sepultura,
mas sem que seus parentes o lamentem.
 

Sua filha infeliz (triste Ifigênia!)
irá solícita ao encontro dele
no rio célere das aflições
e ternamente há de beijar-lhe as mãos.


Coro
Baixeza vem juntar-se a mais baixezas!
Julgar é tão difícil!... É levado
quem quer levar e quem mata é punido.
 

Enquanto o grande Zeus mandar no mundo
terá valor um mandamento seu:
“quem for culpado há de sofrer castigo”.
 

Que mão será capaz de remover
daqui a origem de tamanhos males?
A raça está atada á perdição!


Clitemnestra
São verdadeiras essas expressões.
Eu mesma vou jurar neste momento
diante do pernicioso espírito
dos Plistenidas que estou sossegada
e satisfeita com minha proeza,
por mais insuportável que pareça.
 

Afaste-se com ele para sempre
de nós e deste lar e vá ligar-se
a outra raça essa fatalidade
de tantos crimes entre a mesma gente!
 

Escassos bens me bastarão se apenas
puder livrar de vez a minha casa
desse delírio de extermínio mútuo!
(Aparece Egisto, vindo do interior do palácio, seguido de guardas
armados.)


Egisto
Animadora luz do dia da justiça!
 

Chegou enfim a hora de dizer que os deuses,
cuja missão mais certa é castigar os homens,
vigiam lá do alto os crimes cá na terra,
pois neste instante para meu contentamento
diviso esta criatura morta, o corpo envolto
num véu tecido pelas Fúrias vingadoras,
pagando plenamente os crimes de seu pai.
 

De fato, Atreu, senhor de todo este país
e pai deste homem, expulsou o bom Tiestes
- meu pai e seu irmão, para falar mais claro -
do próprio lar e da cidade onde vivia,
imaginando o seu poder ameaçado.
 

Voltando um dia como simples forasteiro,
Tiestes, o infeliz, foi recebido bem
(não o mataram logo e naquele momento
seu sangue nobre não manchou o solo pátrio).
 

Atreu, pai deste homem ímpio, simulou
acolhimento falsamente cordial
e pretextando assinalar condignamente
um dia de holocausto, regalou meu pai
com os corpos retalhados de seus pobres filhos.


No prato enorme, embaixo foram postos antes
os pés e as mãos e por cima, para escondê-los,
outros pedaços das crianças desmembradas.
 

O prato foi dado a meu pai, conviva único;
sem distinguir de pronto a trágica verdade
meu pai comia, sem saber, uma iguaria
fatal à sua raça, mas ao perceber
tardiamente o que até então comera,
ergueu-se, recuou e entre gritos horríveis
e vomitando alguns pedaços que engolira
lançou tremenda maldição sobre os Pelópidas.
 

Desfez a pontapés a mesa do banquete
e repetiu alucinado a imprecação:
“assim pereça a raça inteira de Plistenes!”


(Dirigindo-se ao Corifeu.)
Por isso vês agora este homem morto aqui.
Eu, por direito, deveria planejar
a morte dele, pois após o crime hediondo
fui desterrado com meu pai, de quem eu era
terceiro filho, frágil criança inocente;
chegado à juventude, a pertinaz justiça
mandou-me de retorno para essa vingança
e embora me encontrasse longe de Agamêmnon
foi-me possível finalmente exterminá-lo,
tecendo a trama toda que o levou à morte.
Neste momento, até morrer seria bom,
pois o castigo o envolveu em suas malhas


Corifeu
Detesto, Egisto, o atrevimento dos perversos!
Afirmas que, por tua deliberação,
exterminaste este homem e tramaste só
o crime deplorável e te ufanas dele!
Pois bem: garanto que na hora do castigo
tua cabeça não escapará ao ódio
do povo e tu serás maldito, apedrejado!


Egisto
Não reconheces teu lugar inferior
e ousas apresentar-te desta forma insólita
aos detentores do poder, a teus senhores?
És velho mas é sempre tempo de aprender
a falta que ainda te faz a precaução.
Grilhões e fome são dois médicos magníficos
e podem conseguir a cura até de velhos.
Se não enxergas isso, para que tens olhos?
Jamais invistas contra os aguilhões em riste,
pois do contrário hás de sofrer a cada embate.


Corifeu
Mulher! Tu és mulher, tu, que permaneceste
refestelado em casa, apenas esperando
os homens empenhados em combates árduos!
Enquanto desonravas um leito de herói,
covardemente meditavas o assassínio
de um corajoso comandante de guerreiros!


Egisto
Mais lágrimas farão brotar tuas palavras!
A voz de Orfeu não era em nada igual à tua:
enquanto aquele subjugava os seres todos
com a sedução de sua voz irresistível,
a tua vociferação te perderá.
Logo hás de ver-te dominado pela força!


Corifeu
Procedes como se pudesses vir a ser
o rei da numerosa e brava gente argiva,
tu, que tramaste apenas, tu, que não ousaste
executar com tuas próprias mãos o crime!...


Egisto
Por sermos inimigos eu era suspeito;
só a mulher havia de enganá-lo, é óbvio.
Agora, com seus preciosos bens, já posso
tentar sem mais demora dominar o povo;
os insubmissos ao inevitável jugo
serão todos dobrados implacavelmente
e não terão o tratamento cuidadoso
oferecido aos potros de primeira linha;
hão de domá-los as trevas e a fome amargas.


Corifeu
Por que, então, vencendo tua covardia,
não mataste o herói com tuas próprias mãos?
Por que deixaste urna mulher assassiná-lo,
flagelo de nossa cidade e de seus deuses?
Ah! Praza aos céus que Orestes veja ainda a luz
e volte, conduzido pelos fados bons,
e dê a esses dois a morte merecida!...


Egisto
Se pensas que tolerarei indefinidamente os teus insultos
enganas-te! Avante, meus soldados! A tarefa não findou!


Corifeu (dirigindo-se aos demais anciãos.)
Avante vós também! Espadas preparadas! Prontos para a luta! 


Egisto
Também a minha mão está em gualda! Não receio a própria morte!
 

Corifeu
Morrer agora te parece natural e isso é bom augúrio!
(Os anciãos, soltando os bastões, empunham as espadas que
traziam na cintura) 


Clitemnestra
(dirigindo-se primeiro a Egisto e depois aos anciãos.)
Não, por favor, amado meu! Não desencadeemos mais desastres!
São excessivas as desgraças ocorridas (dolorosa messe!).
 

Estamos fartos de aflições. Já basta o muito sangue derramado.
Ilustres anciãos! Deveis agora retornar aos vossos lares;
deveis curvar-vos antes que vos cheguem males novos e maiores.
 

Era fatal o que fizemos; aceitemos resignadamente
que algum espírito funesto desferiu, seguidos, sobre nós.
Palavras de mulher também são dignas de atenção; ouvi-as, pois! 


Egisto

Mas eles continuarão lançando contra mim palavras ásperas
e vomitando imprecações que lhes trarão maiores sofrimentos.
Perderam a medida da prudência e mesmo ultrajam seus senhores!


Corifeu
Não é da natureza dos argivos adular os homens vis!
 

Egisto
Verei chegar em breve o dia de vingar-me deste atrevimento!
 

Corifeu
Não verás esse dia! Um deus há de guiar Orestes para cá!
 

Egisto
Sei bem que os exilados se alimentam de esperanças ilusórias.
 

Corifeu
Prossegue! Adorna com sarcasmo, enquanto podes, teus nefandos
crimes!Egisto
Serás sem falta castigado pelas insolências ora ditas!

Corifeu

Ostenta força alheia, galo presunçoso perto da galinha! 

Clitemnestra
(dirigindo-se a Egisto e levando-o para o palácio.)
Não dês valor a tais latidos. Eu e tu, senhores do palácio,
teremos o poder bastante para pôr em ordem tudo e todos.
FIM 



 Origem: 
Wikipédia, a enciclopédia livre.
ResumoFonte
 
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.