sábado, 18 de setembro de 2010

A ORIGEM DO MEDO


Como o medo – do amanhã, de perder o emprego, da morte, da doença, da dor – é gerado?
O medo envolve um processo de pensamentos sobre o futuro, ou sobre o passado. Tenho medo do amanhã, do que pode acontecer.

Tenho medo da morte que ainda está longe, mas mesmo assim me amedronta. Bem, o que é que gera esse medo?
O medo sempre existe em relação a alguma coisa. Se não fosse assim, não haveria medo. Temos medo do amanhã, do que passou e do que está por vir.

O que cria o medo? Não é o pensamento?
O pensamento é a origem do medo

O pensamento gera o medo. Penso que perdi o emprego, ou que poderei perder, e esse pensamento cria medo. O pensamento sempre se projeta no tempo, porque pensamento é tempo. Penso na doença que tive, e como não gostei de sofrer tenho medo de que o sofrimento possa voltar. Senti dor, e pensar nisso, não querer senti-la de novo, cria medo.

O medo está estreitamente relacionado ao prazer.
A maioria de nós é guiada pelo prazer. Para nós, assim como para os animais, o prazer é da máxima importância e faz parte do pensamento. Quando penso em algo que me deu prazer, esse prazer aumenta. Concorda? Já notou isso?

Você teve uma experiência de prazer – olhando o pôr-do-sol, ou fazendo sexo-, e pensa naquilo. Pensar na experiência aumenta o prazer, assim como pensar na dor que teve gera medo. Então, o pensamento cria o prazer e o medo, não é verdade?

O pensamento é responsável por desejarmos o prazer e querermos que ele continue, da mesma forma que é responsável por sentirmos medo. Qualquer um pode ver isso, é um fato real, experimentável.
Então, alguém pergunta: “É possível deixar de pensar no prazer e na dor, é possível pensar apenas quando o pensamento é requisitado, nunca de outro modo?” Quando você está trabalhando em um escritório ou fazendo qualquer outro trabalho, o pensamento é necessário; do contrário, nada poderia ser feito.

Quando você fala, escreve, vai para o trabalho, o pensamento é necessário. Mas o pensamento é necessário em qualquer outro campo de ação?
Por favor, preste atenção. Para nós, o pensamento é muito importante, pois é o único instrumento que temos.

O pensamento é a reação da memória, que se acumulou através de experiência, conhecimento, tradição. A memória é o resultado do tempo, foi herdada do animal. E é com essa formação que reagimos. Essa reação é pensar

O pensamento é essencial em certos níveis , mas quando se projeta psicologicamente como futuro e passado, cria o medo, assim como o prazer. Nesse processo a mente fica entorpecida e, desse modo, a inação é inevitável. Senhor, o medo, com já dissemos, é criado pelo pensamento. Pensamos na possibilidade de perder o emprego, de a esposa fugir com alguém, pensamos na morte, pensamos que já passou e assim por diante. Pode o pensamento parar de pensar no passado ou no futuro, psicologicamente, autodefensivamente?
Atenção sem um centro
 
Alguém pergunta:
“ É possível o pensamento acabar de modo que se possa viver plenamente?
” Você já notou que quando dá atenção completamente a alguma coisa não há nenhum observador e, portanto, nenhum pensador, não há um centro onde você se coloca para observar?

A atenção elimina o medo
Quando você presta essa atenção, não há absolutamente nenhum observador. E é o observador que gera medo, porque é o centro do pensamento, é o “mim”, o “eu”, o ego. O observador é o censor. Quando não há pensamento, não há observador. Esse estado não é inerte. Exige muita investigação, nunca aceita coisa alguma.

Do livro: O que você está fazendo com a sua vida? < Passagens selecionadas sobre as grandes questões que nos afligem – Capítulo: Medo. pág. 81 a 87>

 Fonte:
Krishnamurti

MADONAS - LEONARDO DA VINCI

"Simplicidade é a derradeira sofisticação. "
Leonardo da Vinci

" Quando ouvimos os sinos, ouvimos aquilo que já trazemos em nós mesmos como modelo. Sou da opinião que não se deverá desprezar aquele que olhar atentamente para as manchas da parede, para os carvões sobre a grelha, para as nuvens, ou para a correnteza da água, descobrindo, assim, coisas maravilhosas. O gênio do pintor há-de se apossar de todas essas coisas para criar composições diversas: luta de homens e de animais, paisagens, monstros, demônios e outras coisas fantásticas. Tudo, enfim, servirá para engrandecer o artista."

Leonardo da Vinci
A ANUNCIAÇÃO




Adoração dos Reis Magos












A Virgem de Granada




A Virgem do Cravo















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A Virgem das Rochas



Madona do Fuso - Tecelã

Madonna Litta
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Fonte:
Wikipedia



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

METAFÍSICA E PRÁXIS - Kahlmeyer-Mertens

Prof.Roberto S. Kahlmeyer-Mertens 

Resumo:  Esse artigo traz uma primeira tentativa de pensar a obra do filósofo brasileiro Gerd Bornheim. Autor de significativa obra no cenário nacional, Bornheim é apontado como um dos receptores da filosofia de Heidegger no Brasil. As leituras que o brasileiro faz de Heidegger são pontos de divergência e reflexão. Buscaremos apresentar, então, um pouco dessas interpretações. O texto se baseará prioritariamente na obra: Dialética – Teoria e prática.

Quando o náufrago pisou em nossa ilha
chegou como quem alcançou seu destino (…)
e desde o início ocupou-se de nossas coisas.
Com a experiência do seu naufrágio
ensinou-nos a velejar;
Instilou-nos mesmo coragem.
Das águas tempestuosas falava com respeito,
talvez por terem vencido um homem como ele.

Sem dúvida haviam revelado muitos de seus

sortilégios,
Este conhecimento faria de nós, alunos dele,
Homens melhores (…)

BRECHT, Poemas

O propósito do opúsculo é apresentar uma interpretação acerca do modo com que Gerd Bornheim[2] herda o pensamento de Martin Heidegger. Temos o objetivo de apontar os pontos de semelhança e divergência entre os dois autores, a partir de passagens comentadas de seus textos. Essas análises se ocuparão do tema , sua e da práxis, buscando esclarecer a articulação que esses têm no pensamento dos dois autores; apresentaremos, também, as críticas que Bornheim volve a seu interlocutor. Por hipótese, podemos sustentar que os autores possuem modos diversos de compreender e mesmo interagir com esses conceitos, partindo de compreensões distintas, mas complementares.

O texto versa sobre uma questão cara ao pensamento de Bornheim, presente naquele que seria, reconhecidamente, seu livro mais importante, Dialética: teoria e práxis (1977) e reincidindo em muitas obras e cursos dados pelo autor. A questão integra o projeto de uma crítica da fundamentação ontológica da tradicional, que encontra sua intuição original, ponto de partida e diálogo nas idéias de Heidegger. O estabelecimento desse diálogo dá-se mediante a colocação da seguinte pergunta: “Se há em Heidegger um pensamento do pensamento, por que não há lugar para o pensamento da práxis?”

A pergunta de Bornheim parte de uma avaliação convicta: “(…) constata-se (na obra de Heidegger) um silêncio em relação a tudo que se refere à práxis, à ação humana” (BORNHEIM, 1977). O autor sabe do risco da sustentação desse argumento, pois, se compreendida amplamente, a práxis, enquanto ação humana transformadora da realidade, bem poderíamos pensar, desde Heidegger, a existência do homem enquanto ser-no-mundo, em suas ocupações cotidianas como também práxis. Desse modo, para se fazer esta afirmação, seria preciso fechar os olhos para boa parte da obra de Heidegger das décadas de 10 e 20, negligenciando textos como: Problemas fundamentais da (1919-20), Hermenêutica da facticidade (1923) e mesmo Ser e tempo (1927), textos que apontariam uma dimensão prática da existência em Heidegger e seu aspecto ontológico-existencial.
Bornheim, reconhecendo isto em nota ao seu texto, delimita o período da obra de Heidegger, com a qual sua investigação se ocupará enquanto analisa a questão:

Limitamo-nos aqui a examinar a questão da práxis tal como aparece no pensamento heideggeriano posterior a Ser e tempo. É que estamos preocupados com o problema da possível dimensão ontológica da práxis. Em Ser e tempo, Heidegger se refere ao tema a propósito do que chama de “análise da mundanidade do mundo circunvizinho da mundanidade em geral”. Sua preocupação concentra-se na explicitação da realidade do utensílio. Com isto além de não considerar a práxis numa perspectiva propriamente ontológica, tudo acontece no âmbito da “existência inautêntica”, o que relega o tema a um nível secundário: a dimensão ontológica da práxis não chega sequer a ser aventada (BORNHEIM, 1977, p. 89).
Esta delimitação, para o momento, restringe também o âmbito de nossa exposição sobre a práxis em Heidegger e em Bornheim.

Compreendemos, ao contrário de Bornheim, que Heidegger aborda sim uma noção de práxis num âmbito ontológico, isto é, em uma esfera na qual esta práxis se enraíza. Contudo, esse âmbito ontológico não é aquele que a tradição vai entender como , enquanto “ciência objetiva do ser”. Do mesmo modo, Heidegger não tratará a práxis humana atendo-se a sua concepção dialético-materialista, mas por um viés ontológico-existencial, no bojo de uma investigação chamada analítica existencial. Nesse modo de investigação, a práxis humana, certamente, está circunscrita no âmbito cotidiano das ocupações do homem como ser-no-mundo e é, sem dúvida, qualificada como um aspecto inautêntico de sua existência. Contudo, isto não faz da mundanidade do mundo um problema secundário ou mesmo supérfluo, pois esta dimensão cotidiana também é existencial, isto é, também diz respeito ao modo com que se constitui o ser-aí.

Assim, para Heidegger (1993) permanece em jogo uma dimensão de ser do ser-aí; o ser não como um ente simplesmente dado mas, como um poder-ser, que, entre suas possibilidades, encontra a própria realização prática desse ente.

Em Bornheim (1977), a práxis diz respeito ao agir do qual decorrem as ações humanas, sua relação com as condições materiais e a capacidade de transformação do mundo, o que cunharia sua consciência histórica e existência social. É isto que o autor demonstra durante o longo argumento que pretende legitimar sua asserção controversa através da dialética desta práxis em vista da compreensão de teoria e prática, idéia que também se confirma com um comentário do autor acerca do que seria um ensejo do pensamento da práxis (nesse sentido estrito)[3] no Heidegger posterior a Ser e tempo:

Dir-se-á (…) que a evolução do pensamento do filósofo (Heidegger), parece caminhar no sentido da práxis, já que posteriormente passa a falar da verdade da técnica. Veremos, no entanto, que justamente as razões que levaram a aceitar uma verdade da técnica impediram-no de aproximar-se de outras dimensões da práxis que não da técnica (BORNHEIM, 1977, p. 95).

Os comentários referentes às omissões e, mesmo, às impossibilidades de o pensamento heideggeriano tratar a práxis acaba por apontar que Heidegger quando aborda a teoria e a prática sempre o faz com ênfase em suas implicações ontológicas, tese, ao nosso, ver contrária a que Bornheim procura sustentar. Assim, do mesmo modo com que Heidegger (2002) se encaminha a pensar o ser do ser-no-mundo em consonância a verdade do real, o envolvimento do autor com a questão da técnica é uma tentativa de pensar esse fenômeno (a técnica) em seu ser, pontuando o modo com que esse se revela como traço essencial de um mundo específico, do nosso mundo atual; não se atendo em nenhum momento ao seu caráter prático ou técnico desta, como faria O. Spengler.[4] Destarte, Bornheim tem razão quando afirma que é esse comprometimento de Heidegger, em pensar a verdade da técnica moderna, que faria que o filósofo abdicasse de pensar a práxis envolvida nesse fenômeno; por outro lado, peca em não reconhecer nesse movimento de pensar a verdade desse fenômeno à tentativa de tematizar sua determinação ontológica, quando afirma que esta “não chega a ser sequer aventada”.

No âmbito do pensamento do ser, ainda na análise do ser-no-mundo em Ser e tempo, é que vemos um desdobramento dessa investigação tocar o registro da práxis do pensamento do Heidegger tardio. Questão que não será levada a termo nesse período, mas apenas em um texto da década de 1940, chamado A doutrina de Platão sobre a verdade (1942). Nesse texto, mediante a interpretação de Hannah Arent em debate com K. Jaspers, a questão da práxis é tocada referindo-se a uma hipótese para o início da . [5]
A interpretação de Heidegger aponta esse problema como o que nasce da perda da referência que apreende os utensílios em seu uso, ou “para que” (Um-zu) o que pode ser formulado também a partir de suas leituras de Platão, como a “quebra do paradigma da techné” (HEIDEGGER, 1996).
Heidegger afirma que isto pode ser visto como problema por valer-se de uma “caracterização ontológica prévia do ente, pois pressupõe que haveria os entes para além do contexto existencial no qual eles se manifestam, que haveria os entes como meras coisas possuidoras de atributos substanciais; isto é, essenciais ou qüiditativas. Uma vez possuindo propriedades, essas “coisas” poderiam ser conhecidas de maneira prévia, ou seja, sujeitas a um viés objetivante, investigativo e exclusivamente teórico destas propriedades, para, só então, uma vez de posse do conhecimento da “verdade” daquele ente, ser utilizados adequadamente de maneira prática.

Para Heidegger, uma abordagem puramente teórica das coisas carece da compreensão do conjunto no qual o utensílio se insere, desconhecendo assim, o já definido contexto de mundo do homem na lida com os entes e a fundação existencial do ser-aí em seu existir. Esse desconhecimento torna possível, como já mencionamos, a perda do paradigma do uso segundo o qual os utensílios se determinariam, justamente por “violentar” o modo com que esse em sua lida tática é compreendido, transformando-o em coisa. Isto é, criando a duplicação desse ente em essência e aparência e a crença de que o ente, enquanto coisa, é capaz de ser observado. Por um lado, na atitude prática; por outro, num viés teórico e logo temático, criando a citada anterioridade conceptual, que põe em questão o ente, buscando, nesse ente, características fixas que não se restrinjam às circunstâncias nas quais ele se manifesta.

Nesse modo de compreender, fica marcado o anseio metafísico por eliminar do horizonte do ente seu caráter de transitório, de circunstancial, à medida que tenta determinar categoricamente aqueles que representariam os “termos reais” da verdade de tal ente. É isso que se encontra implícito numa pergunta colocada já pelos gregos: “o que é o ente?”

A pergunta o que é o ente? (ti tó on), para Heidegger, é a formulação que expressa a instalação de um modelo teórico característico do pensamento[6] criando a duplicação e a diferenciação do ente em essência e aparência e o primado desta primeira sobre a outra. A referida pergunta questiona a essência do ente, desencadeando, com isso, o desenfreado processo histórico de determinação objetiva da verdade dos entes para além da aparição dos mesmos.
Esse processo de determinação da verdade dos entes engendraria o processo metafísico, processo histórico, cujos desdobramentos se encaminhariam para os termos de um humanismo-subjetivista em sua fase final. Heidegger nos ilustra esse contexto:

O início da , que se observa no , é ao mesmo tempo o início do “humanismo”. Esta palavra deve ser aqui pensada de modo essencial, portanto em sua acepção mais larga. “Humanismo” designa então o processo, ligado ao início, ao desenvolvimento e ao fim da , pelo qual o homem, em perspectivas cada vez mais diferentes, mês sempre conscientemente, se coloca em um centro do ente, sem ser ainda ele mesmo, no entanto, o Ente supremo (HEIDEGGER, 1987, p. 466).[7]
Todo o movimento de apresentação desta hipótese do início da desde um problema de ordem prática visa a demonstrar que, no pensamento de Heidegger, existe lugar para a questão da práxis; contudo esse, se preocupa exclusivamente em pensar o modo com que esta tornou-se uma lida exclusivamente teórica com os entes, ou usando a terminologia de Bornheim (1977): “um pensamento do pensamento”.
Da análise de Heidegger, Bornheim aceita que a cisão entre teoria e prática (dada na lida manual com os utensílios) pode ter dado inicio à a partir do primado da teoria sobre a prática, como ele próprio afirma:
A diferença ontológica e, por ela, a contradição, permite entender o relevo que deve ser emprestado à teoria (…) O surto da filosofia entre os gregos levou-os a distinguir entre o bíos teoretikós e o bíos pratikós, expressões posteriormente tratadas pelos latinos por vita contemplativa e vita activa.(…) Queremos dizer que, já na Grécia, a teoria sofre uma interpretação de tipo metafísico, a ponto da própria origem da fazer-se intimamente enlaçada à defesa de um certo tipo de vida. Heidegger diz que a teoria é o “ver que resguarda a verdade”. Mas no momento em que sofre a determinação de ordem , esse ver da teoria se torna metafísico (BORNHEIM, 1977, p. 294).
Contudo, se nossos dois autores se aproximam entre si no que concerne à avaliação do modo com que a se inaugura, a partir de uma problemática concernente à práxis, os mesmos se distanciam quanto ao outro extremo desse fenômeno: seu fim (Volledung) e (Überwindung).

Heidegger entende a como um processo no qual o questionamento do “ser”, em seu momento histórico atual é representado pela máxima expressão de um idealismo-subjetivista, destinando-se ao próprio fim ou acabamento. Desse modo, a história da é a história das manifestações do “ser” encaminhando-se para seu acabamento e da própria compreensão do ser. Caberia assim (em uma síntese um tanto grosseira) a quem experimenta esse processo uma atitude de “serena prontidão” (HEIDEGGER, 2003), requisito a quem busca reapropriar o passado histórico e aquiescendo as mudanças da essência do ser em jogo nessa história (HEIDEGGER, 2002).

Bornheim concorda parcialmente com a avaliação de Heidegger quanto ao fato de filosoficamente ainda integrarmos uma cultura estabelecida por um idealismo subjetivista. Malgrado, Bornheim considera a postura de Heidegger passiva frente ao acabamento e da , entendendo, desse modo, às noções de serenidade, prontidão e reapropriação como também passividade frente a esse estado de coisas. Por isso, atribui a Heidegger o título de “pensador da crise da por excelência” (BORNHEIM, 1977).
Bornheim ainda avalia que, nos termos de Heidegger, o idealismo-subjetivista da não fornece mais espaço para um pensamento da práxis no sentido não metafísico, pois mesmo as atividades humanas continuariam vinculadas a esse subjetivismo. Assim, o autor propõe:

Caberia aqui acentuar precisamente o lado do problema não analisado por Heidegger, já que (…) o sujeito está hoje em condições de ir além do subjetivismo através da práxis; e toda questão está em saber que práxis é esta, questão que não existe para Heidegger. O idealismo (subjetivista) não invalida a ação humana, ao contrário, ele a justifica. Isso porque, em primeiro lugar, o idealismo subjetivista tornou possível uma nova modalidade de ação, pela transmutação necessária do conceito de práxis; e, em segundo lugar, porque a ação humana passou a dar-se criticamente, (…) conscientemente (BORNHEIM, 1977, p. 93).

Nesta passagem citada, é possível se ver, de maneira nítida, o posicionamento de nosso autor diante da e sua diferença quanto à posição assumida por Heidegger. Bornheim é aquele que, ao compreender que estamos ainda em um universo metafísico (de uma em crise, mas ainda assim uma ) vislumbra a possibilidade de uma desta perspectiva dar-se desde seu próprio bojo. A práxis seria elemento indispensável a esse processo, pois ao pensá-la em sua determinação ontológica, estaríamos revendo, de maneira crítica, a condição humana envolvida nesta práxis, reformulando, ou mesmo transformando, os conceitos de teoria e prática e compreendendo-os de maneira crítica.

Isto quer dizer que o sujeito no acabamento da é capaz de superar seu subjetivismo, partindo dele próprio, ao pensar o problema ontológico que suas ações envolvem. Desse modo, a da para Bornheim parece partir do pressuposto de que não é suficiente uma interpretação do mundo, mas a transformação do mesmo a partir da práxis. da , para Bornheim, significa, pois, o ganho, de uma atitude crítica frente ao mundo como produto de uma atitude prática.

Assim, o trabalho, a técnica, a ciência e todas as ações humanas, as quais vigeriam ainda em uma condição seriam capazes de ser interpretadas de um modo não mais metafísico. Segundo Bornheim (1977), em consideração ao sujeito não esclarecido da possibilidade de um reposicionamento frente ao mundo, “A partir do momento em que a práxis entra no processo de desalienação (do sujeito histórico) passa a adquirir dimensão ontológica em si mesma”. Em contrapartida, segundo o autor, a práxis não chega a ser aquilo que ela é ontologicamente; participa apenas indiretamente do que Heidegger chama de história do ser. O autor reafirma esse ponto de vista em sua última entrevista:

Acho que Heidegger esqueceu de um ponto muito importante. É que a técnica, essa técnica-ciência e essa relação toda, é o caminho da da . Isto parece muito importante para mim. Isso supera a . (O filósofo acrescenta ainda críticas acerca daquilo que seria a exigência de apropriação das questões tradicionais da filosofia por Heidegger, em vista daquilo que considera a filosofia contemporânea) Não é necessário que se faça isto, mas também não se trata de uma negação do passado.

É importante dizer que, para o tipo de ruptura que eu citei, (…) três autores Comte, e Nietzsche, e vou ficar só nesses três, no século XIX, eles possuem não só uma crítica ao passado mas, uma nova idéia de realidade humana. E que não é coincidente nos três. E essas coisas devem ser discutidas.(…) (A filosofia contemporânea) é a filosofia da ruptura. Porque arranca de uma ruptura, digamos. E tem muita coisa mais, claro, que esses três pensadores que iniciaram a ruptura. Esses são os mais emblemáticos, possuem as idéias de ruptura com o passado e a idéias do “novo homem”, isto é, da construção de um novo tipo de realidade humana, de certo modo (BORNHEIM, 2002).

O comentário parece deixar evidente a compreensão do autor frente a e a práxis.
Uma conclusão breve para esse apanhado geral que nosso texto constitui deve considerar que muitas das críticas que Bornheim volve contra Heidegger requisitam o envolvimento com questões que Heidegger não propôs diretamente. Talvez isto se deva ao fato de Heidegger não reconhecer nesses problemas temas urgentes ao seu momento histórico, passando a ocupar-se de outras noções relativas ao modo constitutivo do ser na abertura de seu fenômeno (tema evidente no Heidegger tardio), deixando, certamente, lacunas e zonas sem tematização efetiva no que concerne a outros problemas.

Quanto à lacuna deixada por Heidegger sobre a questão da práxis, Bornheim soube identificá-la; mais: soube mover-se no interior dela tratando a práxis a partir de um diálogo com Heidegger e com a tradição filosófica, suprindo assim um espaço de pensamento que esperava por ser locupleto, declarando o que a filosofia havia deixado de dizer e demonstrando, com isso, a estatura de um pensamento chamado Gerd Bornheim.
[1] 
 Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Professor na de Formação de Professores da UERJ e da Professor da Universidade Cândido Mendes/UCAM. Autor de Filosofia Primeira – Estudos sobre Heidegger e outros autores. http://www.studium-kahlmeyer.com.br/

[2] 
Gerd Alberto Bornheim nasceu em Caxias do Sul/Brasil, em 1929; lecionou filosofia na UERJ e UFRJ. Foi professor de uma geração de autores brasileiros. É autor de e Finitude (1972); Heidegger – L’Étre et le temps (1976); Dialética: teoria e prática (1977) e O idiota e o espírito objetivo (1998). Foi apontado no adendo à edição brasileira da biografia de Heidegger assinada por Rüdiger Safranski (2000), um dos responsáveis pela recepção do pensamento do autor alemão no Brasil. Bornheim morreu em 2002, no Rio de Janeiro.
Prof.Roberto S. Kahlmeyer-Mertens

 Fonte:
CONSCIENCIA:.ORG
http://www.consciencia.org/heidegger_bornheinroberto.shtml

SERENIDADE - Martin Heidegger

A ciência moderna postula sempre a monótona
estupidez do mundo que ela interroga

PRIGOGINE

    A "" é um belo texto de onde ele reflecte sobre a essência da técnica moderna e onde mostra a necessidade de recuperar aquilo que ele chamou de pensamento meditativo. Não se trata de negar a técnica, obviamente, mas de repensar a nossa relação com ela. O apelo heideggeriano ao longo deste belo texto é, pois, o de mantermos acordado o pensamento já que o que o homem tem de mais próprio é, justamente, ser um ser pensante.

    A técnica não é um instrumento neutral nas mãos do homem uma vez que ela pode ser objecto de diversos tipos de uso, ela poderá ser usada para o bem ou para o mal e também não deve ser encarada como um acontecimento acidental no mundo ocidental!

Segundo , a técnica consiste no resultado lógico, subsequente daquela evolução pela qual o homem, esquecendo-se do Ser, se deixou "amarrar" pelas coisas convertendo a realidade em puro objecto que há que dominar e explorar. Esta atitude acabou por se transformar numa verdadeira fé na técnica como possibilidade de domínio sobre todas as coisas. Assim, o esquecimento do ser não é um facto que atinja só o pensamento, mas determina todo o modo de ser do homem no mundo.i

    diz no seu texto "A Época das Concepções do Mundo" que a técnica mecanizada é um fenómeno essencial dos Tempos Modernos funcionando como o prolongamento mais visível da essência da tecnologia moderna. A ciência e a técnica mecanizada aparecem assim como duas importantes manifestações dos Tempos Modernos.
    A ciência é, enquanto pesquisa, um fenómeno essencial dos Tempos Modernos, pois em consequência da emancipação do homem (o processo de libertação das amarras da Idade Média até atingir a sua própria liberdade), os Tempos Modernos introduziram o reino do subjectivismo e do individualismo.

    A modernidade é também o domínio do princípio de razão. Este domínio coincide com a interpretação do "ente" como objecto, uma vez que o "ente" é posto perante um sujeito certo e seguro de si que assegura, por seu turno, o modelo técnico daquilo que é, e a questão abissal do ser é assim esquecida. A investigação e o método tecnologizam o pensamento, a ciência torna-se investigação pelo projecto que assegura no próprio rigor da investigação. O projecto e o rigor desenvolvem-se mediante o método.

    É neste contexto que faz sentido a reflexão de sobre a essência dos Tempos Modernos, reflexão essa centrada na necessidade de recuperar o pensamento meditativo. Para , os ídolos da idade técnica, tais como a ciência, o progresso e a máquina devem ser destronados do mesmo modo que os da razão: a dignidade humana, os valores e as Ideias de Absoluto. É regressando ao Ser, isto é, ao que dá densidade aos seres e às coisas que podemos repensar o sentido dos antigos valores.ii

    No seu texto "A " e a propósito uma celebração em memória de um compositor, Conradin Kreutzer, convida-nos a reflectir sobre a essência daquilo a que chamamos "pensar", começando por dizer que toda a comemoração exige que pensemos. Mas o que pensar, o que dizer numa festa consagrada à recordação de um músico?iii. Ora bem, a questão é então, até que ponto celebrar uma festa em nome da música não equivale a celebrar uma festa onde pensamos?iv Mas diz-nos que não tenhamos ilusões, porque acontece a todos nós sermos pobres em pensamentos mesmo aos que fazem do ofício de pensar- dever profissional.

    A carência de pensamentos é um hóspede inquietante que se insinua por todo o lado no mundo de hojev.

Nos dias de hoje tudo se aprende da maneira mais rápida e mais económica e no momento a seguir é tudo rapidamente esquecido. Por conseguinte, dentro em breve, uma celebração é suplantada por outra celebração e, assim, as festas comemorativas tornam-se cada vez mais pobres em pensamentos.vi

    No entanto, acentua a dimensão pensante, meditativa, pois a compreensão é uma característica humana de forma que, mesmos que estejamos privados de pensar não renunciamos ao poder que temos de o fazer, tal como se nos podemos tornar surdos é precisamente porque ouvimos e se podemos envelhecer é porque já fomos jovens. Da mesma forma, se nos podemos tornar pobres em pensamentos ou, até, destituídos dos mesmos, é porque a essência do homem é, justamente, pensar, como diria Pascal "O homem é visivelmente feito para pensar. É essa toda a sua dignidade e toso o seu mérito.

    Para ,a falta crescente de pensamentos repousa no processo que ataca a substância mais íntima do homem contemporâneo: o homem contemporâneo foge diante do pensamento e isso explica a falta de pensamentos e mais, o homem contemporâneo não quer sequer reconhecer esta fuga, muito pelo contrário, ele afirma o oposto remetendo para tudo o que o conhecimento científico tem produzido. Um tal pensamento tornou-se indispensável e reveste-se de um carácter particular: trata-se do pensamento calculador-parte-se de um projecto que se impõe, de um pressuposto que se põe em causa. O pensamento que conta, calcula. Submete ao cálculo as possibilidades todos os dias novas, cada vez mais ricas em perspectivas e ao mesmo tempo mais económicas.vii

    O pensamento que calcula não nos deixa nenhum prazo e impele-nos de uma possibilidade a outra. O pensamento calculador não persegue, efectivamente, o sentido- ele antecipa, não se espanta, não medita.
    Há, assim, dois tipos de pensamento por sua vez legítimos: o pensamento que calcula e o pensamento que medita e é este último que tem em vista quando diz que o homem está em fuga perante o pensamento. Mas podemos perguntar: não andará o pensamento meditatitvo longe da realidade? Efectivamente, ele parece não ajudar nada nas realizações de ordem prática. Não será este pensamento demasiado "exigente", "elevado" para o entendimento comum? Na realidade, podemos até dizer que o pensamento meditativo é menos espontâneo que o pensamento calculador pois o pensamento que medita requer um esforço significativo, reclama alguns cuidados…

    Por outro lado, qualquer um de nós pode, dentro dos seus limites seguir os caminhos da meditação, e porquê? Por que o homem é um ser pensante, isto é, meditativo e não é necessário que a meditação nos leve até "regiões superiores". É preciso que nos fixemos sobre aquilo que nos é próximo. sublinha aqui a tónica no enraizamento. É da circunstância que devemos partir. É a partir do solo natal que uma obra de arte é criada e concluídaviii. Haverá uma terra natal onde o homem permaneça enraizado? Poderá o homem do futuro ser um ser meditativo? Como diz , poderá o homem do futuro se desenvolver, poderá a sua obra amadurecer a partir de uma terra natal já constituída?, ou ficarão as coisas presas nas garras da planificação e do cálculo, da organização e do automatismo?ix

    O enraizamento do homem está hoje ameaçado no seu mais íntimo e não só devido apenas às circunstâncias exteriores ou ao modo de vida superficial do homem, mas sim as espírito da época em que o osso nascimento nos fixou. O pensamento técnico fortaleceu-se, efectivamente, na Modernidade, de forma que se chega a afirmar que nasceu com ela. Mas se o pensamento técnico é algo que já existe no mundo grego, é na Modernidade que o paradigma da teoria e da praxis para a ser o paradigma técnico.
    A nossa época está ameaçada pelo desenraizamento. Esta época tem o nome de idade atómica e a sua característica mais evidente é a bomba atómica. diz-nos que o poder escondido no seio da técnica contemporânea determina a relação do homem com aquilo que ele é. Ela reina sobre a terra inteira. O homem começa já a afastar-se da terra para penetrar no espaço cósmicox.

A terra é, pois, transformada num espaço cósmico.

Esta revolução radical na nossa visão do mundo realiza-se na filosofia moderna. O mundo aparece como um objecto sobre o qual o pensamento que calcula dirige os seus ataques e a esses ataques nada deve resistir! A natureza torna-se num único reservatório gigante, uma fonte de energia para a técnica e indústria modernas. Seja como ‘era atómica’, seja como civilização de consumo, a época moderna é (…) caracterizada pela maneira como a humanidade quer pôr ao seu alcance a totalidade do ente e adquirir sobre esta totalidade a maior força possível graças ao domínio de todas as energias naturais, incluindo as da destruiçãoxi .E portanto, a questão não é, então, a da técnica propriamente dita mas a da relação do homem com a técnica. O perigo depende do uso que se faz da técnica. É nesta relação com o mundo que o pensamento meditativo se mostra diferente.

    Se nós conseguirmos dominar a energia atómica e conseguiremos, diz-nos , começará um novo desenvolvimento do mundo técnico. Todas as técnicas que conhecemos hoje, desde os filmes à T.V, à informação, alimentação, etc, são apenas tentativas. Ninguém pode prever os transtornos que se seguirão. Não conseguimos/podemos travar os progressos da técnica e um dos traços deste novo mundo técnico é a rapidez com a qual os êxitos são conhecidos e publicamente admirados.
    Mas o que é realmente inquietante não é que o nosso mundo se torne um mundo completamente técnico, mas antes que o homem não esteja preparado para essa transformação, que não se consiga explicar pelos meios do pensamento meditatitvo.

    A questão a que a filosofia deverá hoje responder é à falta de preparação do homem para esta transformação, logo, a filosofia como pensamento hermenêutico deverá ser capaz de responder a isto.

A filosofia vai ser caracterizada por como dimensão originária do existir.

    De facto, o homem da era atómica será "atirado" sem aviso nem defesa na onda crescente da técnica. E sê-lo-á efectivamente s e renunciar ao pensamento meditativo assumindo o pensamento simplesmente calculador. A questão é agora: será que a era atómica é uma fatalidade ou permitirá ela um novo enraizamento?xii

    Poder-se-ía pensar que nega a técnica, mas é evidente que não se trata de negar a técnica…dependemos dos objectos tecnológicos, a questão é que não nos podemos tornar seus escravos. O homem moderno é o funcionário da técnicaxiii. É possível utilizarmos os objectos tecnológicos servindo-nos deles e, ao mesmo tempo, deles nos libertarmos, ou seja, podemos dizer "sim" à utilização da técnica, mas também "não" ao facto de a técnica monopolizar, desunir e violar o nosso ser. A questão é a de o homem não deixar que a técnica atinja o que temos de mais íntimo e de mais próximo. sempre apelou a que se pensasse a técnica a partir da sua essência.xiv

    Mas dizer "sim" e "não" não significará um relacionamento ambíguo com o mundo? Não, muito pelo contrário, torna-se um relacionamento mais pacífico. A consiste em admitir a técnica, os objectos tecnológicos ao mesmo tempo que os deixamos repousar sobre eles próprios como algo que não tem nada de absoluto. Por que é que a não é, então, ambígua? Simplesmente porque há uma dimensão conflitual no homem. Em tudo o que ele constrói reina um sentido que ele não recebe, que não constrói. O homem não é só espontaneidade, é também negatividade.

    Apesar de, no limite, o homem ser votado ao nada, é também um ser que exige sentido e isto leva da Antropologia à Ontologia. Apesar da negatividade, o homem é afirmação originária, é postulado de sentido. A Modernidade descobriu o homem como exigência de sentido ao descobrir o "cogito", mas esqueceu que é também sentido. vai partir desta situação de negatividade que caracteriza o homem, pois ele é isso embora não coincida com isso.
 
    Esta exigência incondicional de sentido que o homem é, leva a pensar que a raíz do sentido é qualquer coisa que excede o próprio homem. Para , o homem é definido como pré-compreensão do sentido. O que constitui a sua essência é a exigência de sentido, a esperança, o desejo de ser na falta do próprio Ser. toma consciência desta experiência "de constraste", desta dialéctica do existir. Na Modernidade a orientação para o sentido aparece como coincidência. Para , não.Apesar de o homem ser orientação para o sentido, ele ainda não é, está a ser, ele é excesso que não coincide e é muito mais do que é. É só perante esta experiência de negatividade que ele pode tomar consciência daquilo que é.
    O sentido do mundo técnico oculta-sexv. Deixar-se entrever e ao mesmo tempo ocultar-se não é o traço fundamental daquilo a que chamamos segredo?

Para , na raiz da técnica está a tomada de posição face à verdade. Subjaz, de facto, à ciência moderna uma noção de ente substancializada/sujeito puro e uma ideia de verdade como adequação/certeza. Mas a verdade não é adequação, mas desvelamento.

Em que é que fundamenta a ideia de que a verdade é revelação? O facto de o dasein estar no mundo leva-o à revelação. O dasein começa por existir no mundo segundo um modelo relacional, segundo o modelo da disponibilidade. A verdade como revelação tem como fundamento a verdade como pressuposição. Não existe verdade em si, mas verdade para o homem, porque ele acredita nela. O homem é expectativa de verdade. A verdade é inerente ao homem, mas com a qual ele não coincide.É isto que levará Gadamer, por exemplo, a recuperar o modelo da obra de arte.

    A verdade é, então, desvelamento. A dimensão técnica perde a dimensão da luz. Quando a luz é considerada única, todo o segredo é confundido com ambiguidade negativa. Se virmos que a técnica tem também uma dimensão que se oculta por detrás de si própria, estamos já no caminho de uma boa relação com ela. Trata-se, pois, de restaurar a dimensão de segredo/oculto da verdade. É o restaurar desta dimensão que vai ser o objecto do pensamento meditativo e só se pode restaurar essa dimensão quando o homem tomar consciência da sua historicidade.
    O que levanta a questão da historicidade é uma questão muita mais radical, mais significativa que a questão ontológica.

    Por que levanta a questão ontológica, a questão do Ser? A experiência do sentido é a experiência fundamental. Qual é o pressuposto do sujeito transcendental? A sua condição "desencarnada". O sentido escapa ao homem. Aparece-lhe como aquilo que escapa à representação. O Ser é agora a questão fundamental de tudo. A questão é agora a questão do ser e esta é a questão fundamental do homem quando confrontado com a sua negatividade.

    A experiência da historicidade como negatividade confronta o homem com aquilo que ele não é. mostra em Ser e Tempo que é necessário repôr a questão do Ser e analisá-la. Ela foi mal pensada pela tradição. Pensar a historicidade é repensar a questão do Ser. A questão do ser do homem não é conforme com a ideia de uma ontologia substancialista. Para compreender a historicidade é preciso tomar a questão do existir como dasein. É do dasein que se parte para chegar à questão do seu sentido r da sua historicidade.

    Por que motivo, então, se torna urgente recuperar a dimensão meditativa do pensamento?…
sublinha que o que o grande perigo que nos ameaça é, de facto, a total falta de pensamentos, a robotização do homem. Somos seres finitos, mas ao mesmo tempo, abertos ao que nos transcende. É esta a condição finita do homem. É necessário que o homem não rejeite aquilo que possui de mais próprio- o facto de ser um ser pensante. Trata-se, então, de salvar essa essência do homem. Trata-se de manter acordado o pensamento. A Modernidade esqueceu o Ser, a realidade. Uma coisa é viver absorvido pela técnica, outra coisa é ler o mundo, habitar num mundo lendo a outra dimensão do sentido literal ou técnico que essa dimensão tem.

    Assim quando despertar em nós a identidade da alma perante as coisas, e o espírito se abrir ao outro, podemos esperar alcançar um novo caminho, uma nova terra, um novo solo. Nesse solo, a criação de obras perduráveis pode enraizar-se de novo.xvi
 Fonte:
CONSCIENCIA:.ORG
http://www.consciencia.org/heideggerisabel.shtml

LANÇAMENTO DE "VERDADE-METAFÍSICA-POESIA", BIENAL 2007 (2/15

Filósofo amante de haicai


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LANÇAMENTO DE "VERDADE-METAFÍSICA-POESIA", (10/15)

Haicai...

Kahlmeyer-Mertens & Luís Antônio Pimentel



Que tesouro!
Verdade-Metafísica-Poesia
  Um ensaio de filosofia a partir dos haicais de Luís Antônio Pimentel
por
R. S. KAHLMEYER-MERTENS

NOTA PRELIMINAR DO AUTOR
O presente livro é produto de um curso de Filosofia intitulado Fundamentos filosóficos da cultura ocidental. Ministrado durante o primeiro semestre do ano de 2006, para uma turma de graduação em Letras, em que se buscava tratar do tema a partir de Qu’est-ce Que la philosophie? do filósofo alemão Martin .

O texto, cuja adoção se pautou pela necessidade de atender à ementa, justificava-se também pela conveniência de servir a uma pesquisa de doutorado. Constituindo na leitura pontual do texto e consecutivo debate com os alunos, o curso era amparado por uma apostila que trazia as idéias do filósofo sistematicamente comentadas. Contudo, como tal didática permite a intervenção dos discentes, algumas questões acerca dos argumentos heideggerianos foram colocadas, principalmente no que tange às afirmações ainda pouco pacíficas de que “o Ocidente e a Europa, e somente eles, são, na marcha mais íntima de sua história, originariamente filosóficos.”

Muitos debatedores com formação em Letras recorreram aos conhecimentos de Literatura e Lingüística, conduzindo inesperadamente a argumentação à temática de textos de que tratam da linguagem e dos poucos — porém intensos — momentos em que o filósofo esteve em contato com o pensamento oriental. Sabe-se que possuiu diversos alunos orientais e que por meio deles conheceu o pensamento do Oriente. Um testemunho disso é dado em seu livro Caminhos da linguagem, num texto intitulado: De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador (reprodução do diálogo de nosso autor com o Professor Tezuka da Universidade Real de Tóquio).

O diálogo com o oriental poderia parecer pitoresco para aqueles que concebem como um filósofo europeu restrito ao universo do pensamento ocidental; ignorando, em sua biografia, as afinidades com o Oriente, as quais chegaram a levá-lo a traduzir, com o auxílio de um sinólogo, trechos do Tao Te Ching de Lao Tsé e a comparar, na conferência O Princípio de identidade, o conceito grego de linguagem (lógos) com o Tao dos chineses.

O ensaio em nosso livro tem por objetivo especular sobre a relação entre os pensamentos ocidental e oriental, a partir das noções de verdade, metafísica e poesia. Toma por ponto de partida a poesia . Cumprindo a tarefa de uma problematização desses elementos e visando a contribuir para o preenchimento da lacuna existente entre os modos de pensar acima mencionados. Da mesma maneira, retoma o como tema digno de consideração da Filosofia.

Reconhecemos que nosso ensaio incorre em pequenas digressões, justificadas pela necessidade de uma contextualização dos argumentos. Espera-se, quanto a essas, a condescendência do leitor mais exigente, pois, afinal, não comprometeram o desenvolvimento das idéias aqui consignadas, tampouco a estrutura de texto. O ensaio conta com três tópicos, cada qual reservado aos conceitos anunciados no título. Ao final, nos convencemos de que o é terreno fértil ao pensar, para além das suas circunstâncias geográfico-culturais, entretanto, nossos resultados não se furtam a críticas ou se consideram palavra final.

Em nossa pesquisa, o acaso por vezes conspirou favoravelmente, para fazer com que se tornassem disponíveis livros e periódicos que permitiam pensar a implicação de com o Oriente, com sua poesia e linguagem. Foi também assim que a poesia veio à pauta de nossas discussões, tendo como pano de fundo a questão da verdade e da metafísica.

Entre todos os diálogos, o mais essencial foi o com o Poeta brasileiro Luís Antônio Pimentel. Seu conhecimento da cultura japonesa e a possibilidade de sua poesia conjugar todas as questões relativas ao encontro entre os pensamentos ocidental e o oriental, mais que testemunhar o intercâmbio entre essas, foram motivos suficientemente persuasivos para adotarmos seus haicais como ponto de partida para nossas reflexões de filosofia.

Registrando aqui meu agradecimento a Pimentel, desejo expressar meu sentimento de profundo respeito àquele que, com interesse e infatigável paciência, contribuiu delineando as idéias (ainda espalhadas em protocolos tomados por ouvintes) e matéria adicional aos fichamentos de nossa pesquisa preliminar. Agradeço também às boas intuições fomentadas pelo convívio de todos com quem dialoguei nos muitos encontros do Calçadão da cultura, o que a mim só confirma esse como um espaço onde se pode estar em meio às idéias acompanhado da melhor inteligentzia.

Quanto ao apêndice desse volume, trata-se de uma entrevista, semi-estruturada com perguntas abertas, concedida pelo poeta no dia 21/07/2007. Inicialmente, tinha o propósito de servir para coleta de dados adicionais à bibliografia, depois, diante da constatação de seu valor documental, espontaneidade e autonomia, optou-se por publicar integralmente o conteúdo, tendo a transcrição apenas a preocupação em corrigir anacolutos, pleonasmos e demais negligências do discurso oral.

Download de Verdade-Metafísica-Poesia: Um ensaio de filosofia a partir dos haicais
de Luís Antônio Pimentel

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Vídeos no Youtube sobre o livro: Ver mais.

A DEFINIÇÃO DE FELICIDADE E OS MALES DO SÉCULO XXI - Parte 1


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Ser Ou Não Ser - A Vontade De Mudar - Viviane Mosé - Globo - Fantástico

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