sexta-feira, 6 de julho de 2012

PSICONEUROIMUNOLOGIA E A MEDICINA DA FÉ DE PARACELSUS E A DA CIÊNCIA ATUAL.




Filomena Maria Perrella Balestieri
Profa. Dra. DFP/LTF - UFPB

“Que teu coração não tenha vaidade em razão de quanto conheces.
Busca conselho tanto junto ao ignorante quanto junto ao sábio,
Pois os limites da arte são inatingíveis.
E não existe artesão que tenha atingido a perfeição”
Ptah-Hotep – Egito Antigo

 

“O teu olho é a lucerna do teu corpo.
Se o teu olho for são todo o teu o corpo será luz.”
Jesus Cristo, Evangelho de São Mateus

 Paracelso,por Frater Velado

Como o médico pode conhecer o homem,
no qual todo o céu e a terra estão presentes,
se não conhece o firmamento, os elementos e nem o mundo?
Paracelsus (1493-1541)
      

  Ptah-Hotep, Jesus_Cristo e Paracelsus chamam-nos a atenção para a necessidade de sermos abertos ao conhecimento. O conhecimento que floresce da observação e que da forma abstrata, inconsciente vai se tornando concreto, consciente. O homem sempre esteve diante do grande enigma do significado da Vida e da Morte. Às margens do Nilo, do Tigre e do Eufrates, do Indo ou do Rio Amarelo na Antiguidade ou nas cidades européias da Idade Média, homens e mulheres nos deixaram obras que retratam a relação que estabeleciam entre a saúde e a . A história nos mostra o longo caminho trilhado, desde o Egito Antigo até os nossos dias, para que pudéssemos entender este comportamento dos nossos antepassados frente às doenças.

A fé em Deus ou deuses e o medo dos demônios sempre esteve relacionado ao homem e às doenças. Hoje, após mais de 5000 anos de história da civilização humana, podemos entender cientificamente que a postura destes homens, muitas vezes anônimos, tem um significado concreto.

            Ao longo da história, associado a um saber prático que levou à ciência de cada época, o homem sempre conviveu com a crença nos Deuses, nas orações, nas ervas, nos curandeiros. Analisada à distância de tantos séculos e à luz dos nossos conhecimentos, a relação da com a cura_das_doenças, muitas vezes, nos parece ser proveniente do conhecimento de algo que se manifestava de forma inconsciente. 

Conhecimento, muitas vezes, de cunho mitológico, que estes homens e mulheres deixaram impressos em papiros ou em belos monumentos talhados na pedra e que hoje, comprovados com sofisticadas técnicas laboratoriais, são retratados nos artigos de publicação científica. Da pura poesia de uma emoção revelada em obras de arte monumentais, passamos hoje à utilização prática e quase que definitivamente comprovada da importância da e de várias emoções na cura ou no desencadeamento_das_doenças.

 Poderíamos dizer, que hoje, através da ciência estamos podendo comprovar a importância dos sentimentos que o homem sempre expressou aos seus Deuses, externos ou internos. Infelizmente fomos e continuamos, muitas vezes, a ser, como sociedade, homens e mulheres de pouca porque muitos daqueles que lutaram sem provas científicas por estes valores foram, e continuam sendo, exterminados de forma trágica.
         
  Paracelsus apresenta-se como a principal figura neste cenário porque, neste milênio, ele concentra na prática e na teoria, todo um amplo conhecimento sobre os fatores que podem interferir na saúde, inclusive, a . Através de seu gênio irreverente e questionador, ele expressou, de forma complexa a nossos olhos contemporâneos, a síntese do conhecimento médico adquirido pelos nossos antepassados da Antiguidade e da Idade Média.

A primeira imagem no Egito

            A primeira imagem preservada no tempo, que nos revela esta relação entre o homem e a para a cura de seus males, é vista num monumento do período entre a 18a e a 20a dinastia (entre 1567 e 1085 a.C.). Um porteiro de nome Ruma se dirige à deusa Istar (originariamente síria, mas venerada também no Egito) para obter a cura de uma enfermidade que o deixou todo deformado (provavelmente poliomielite). A crença não era só a de que os deuses curavam as doenças como também as causava, e estas eram afastadas através de exorcismos e da utilização de excrementos. A deusa Sakhmet, representada por uma leoa, era uma das principais responsáveis pelas doenças e mortes.

            As doenças além de serem causadas por deuses maldosos também podiam ocorrer pelo abandono do Deus protetor, como fica evidente na carta de um pintor cego da época de Ramsés II, dirigida a seu filho:
  • “... Não me deixe. Vivo desesperado... Vivo na escuridão. O deus Amon me deixou. Traga-me mel e gordura para os meus olhos... e a legítima maquilagem dos olhos, logo que for possível. ...”.
            Associada ao culto dos Deuses, a medicina egípcia também se desenvolveu tecnicamente. No papiro de Smith, um manual de cirurgia do período de 2500-2000 a.C., estão descritas inúmeras enfermidades, em associação com os seus respectivos diagnósticos, prognósticos e prescrições terapêuticas. No papiro de Ebers, foram decifrados os nomes de espécies vegetais (associados com a forma de preparação dos remédios) que ainda hoje são usadas no tratamento de várias enfermidades:
  • zimbro,
  • romã,
  • linhaça,
  • erva-doce,
  • folhas do sene,
  • rícino,
  • alho,
  • papoula dentre outras.
            Além das plantas, os egípcios também utilizavam minerais tais como:
  • o cobre,
  • o alabastro,
  • o magnésio,
  • o salitre
  • e até o antimônio. Atualmente, alguns destes minerais têm sido utilizados na oligoterapia.
            Acreditava-se que os gregos haviam sido os primeiros a criar templos de cura, no entanto, através dos papiros descobriu-se que os egípcios levavam as pessoas para templos, onde por meio de rituais e sonoterapia, os médicos-sacerdotes e os deuses específicos para cada um dos males participavam no tratamento destes pacientes. Os doentes eram transportados em estado de transe e de sono artificial pelo consumo de ópio e pensavam poder entrar em contato com o deus curador, sentindo-se curados de fato, ou pelo menos, por sugestão.

Na Babilônia.

            Na Mesopotâmia existiam também duas medicinas, que sobreviveram paralelamente durante toda a história do país: 
  • a dos médicos
  • e a dos magos.
           Para os habitantes desta região, as doenças eram manifestações do sofrimento, oriundas de tudo o que impede que se estabeleça um estado de felicidade. Os causadores do “mal de sofrimento” eram os demônios que eram exocirzados, através de rituais solenes, pelo esconjurador (dos males) ou pelo purificador (das máculas responsáveis pelas doenças). 

Quando o tratamento era infrutífero apelava-se para a outra forma de medicina e na prática elas se complementavam. Muitas vezes, em caso de doença em pessoas da nobreza, tanto um médico tradicional quanto um exorcista tratavam simultaneamente o paciente, cada um com os seus métodos. 

Esta interação entre tratamentos convencionais pelos médicos e o exorcismo levou à inserção de características racionais na técnica de exorcismo e aspectos ritualísticos na medicina tradicional. Segundo alguns historiadores, enquanto a medicina empírica da época fornecia os medicamentos, os cuidados a serem tomados e o prognóstico, a medicina exorcista era a única capaz de tranquilizar completamente o espírito, porque exlicava a causa da enfermidade: ou seja, a vontade castigadora dos Deuses.

Na Índia, na China, no México e Peru.

            Na índia, as enfermidades também estavam associadas aos deuses: “ó, deus dos Fogos, sinta conosco e poupe-nos, Takman. Eu reverencio o frígido Takman e o cálido que confunde a mente, que está ardendo. Reverenciado seja Takman que retorna amanhã, que vem dois dias seguidos e no terceiro dia....”. Takman era considerado o deus da febre e pela descrição do tipo de febre que aparece de dois em dois dias, percebe-se a ocorrência da malária já nesta época. Os deuses castigavam os pecadores enviando enfermidades ou permitindo a ação dos demônios. 

O Deus Rudra, das tempestades, castigava causando fortes dores que eram como flechas atiradas e que penetravam na carne de suas vítimas. Para aliviar estes males, os sacerdotes receitavam orações implorando o auxílio dos deuses, bem como sacrifícios e fórmulas mágicas contra os demônios das doenças. 

Assim como no Egito e Mesopotâmia, associada à prática ritualística, existia uma medicina mais racional. No Rigveda, existem registradas as principais plantas medicinais que eram utilizadas e uma série de procedimentos cirúrgicos. Uma das principais heranças desta medicina indiana foi a prática da ioga, com o desenvolvimento da capacidade de anular as sensações de dor, de influenciar os batimentos cardíacos e regular a sensibilidade corporal.

            Na China, através das descrições encontradas em ossos para a consulta dos oráculos e para pedir conselhos aos deuses, sabe-se que aí também acreditava-se que as doenças eram causadas pelos deuses e demônios. Foram encontradas, da era dos Chous, figuras de xamãs, homens dotados de poderes secretos, que por meio de exorcismos e magia atuavam contra males humanos. Para a maioria dos chineses, o exorcismo e a magia eram os únicos remédios para os seus males.

            A relação do homem das Américas com as doenças foi preservada através de relatos de alguns médicos espanhóis logo após a conquista do México. A deusa do milho dos astecas, Chicomecóatl, era colocada no ponto central do Olimpo dos deuses, no qual os sacerdotes e os médicos astecas buscavam, ou enxergavam, as causas e a cura de muitas doenças. Os astecas também imaginavam que as transgressões contra os poderes celestiais eram as causas de infortúnio e doença. Associada à crença em deuses, assim como no Egito Antigo, os astecas empregavam uma série de plantas medicinais e os médicos eram especializados em determinados tipos de doenças. 

Na Grécia e Roma.

            Na Grécia, desenvolveu-se uma linha de pensamento a partir do século VI a.C. que, afastando-se das práticas mágicas dos adivinhos e das receitas empíricas dos curandeiros, tentou desvendar as causas dos fenômenos que levariam ao desequilíbrio do corpo. Uma das maiores figuras deste período foi Hipócrates (c. 460 – 377 a.C.). O texto que se segue, extraído dos tratados do Corpus Hippocraticum, revela esta linha de pensamento que deu origem à medicina moderna:
  • “O que me parece melhor num médico é ser hábil a prever. Penetrando e expondo antecipadamente, junto dos doentes, o presente, o passado e o futuro das suas doenças, explicando o que eles omitem, ganhará a sua confiança [...]. Tratará também tanto melhor as doenças quanto melhor souber, face à situação presente, prever o estado futuro. [...], e ao mesmo tempo discernir se existe algo de divino nas doenças, porque é esse também um prognóstico a fazer”.
            Hipócrates quis romper com as práticas da época que estavam associadas à magia, na tentativa de elaborar regras novas nascidas do racionalismo, que caracterizava o pensamento e a ciência grega. Apesar desta sua preocupação, Hipócrates ensinava seus alunos a observar as circunstâncias da vida e os estados_emocionais dos pacientes. Seu pai, inclusive, pertencia à corporação dos asclepíades, cujos sacerdotes estavam ligados ao culto do deus médico Asclépio, que promovia a cura das enfermidades.

            Aristóteles (384-322 a.C.) identificava os locais específicos de onde eram emanadas as emoções e referia-se às “moléstias da alma” como “idéias expressas através da matéria”.
            As evidências de que a consciência da doença poderia alterar o seu curso, já aparece num dos tratados da época helenística:
  • “Não deixar de modo algum perceber o que acontecerá nem o que o ameaça, porque mais de um doente ficou em muito mau estado por isso.”
            Galeno (130 d.C.), apesar de ser grego, era médico em Roma e advogava a arte da Medicina, ou seja, a necessidade da sensibilidade e bom senso no tratamento dos pacientes. Ele enfatizava o papel do enfermo na sua recuperação, valorizando a visão do paciente sobre a sua enfermidade e a sua escolha terapêutica. Galeno observava que existia uma relação entre a melancolia e a malignidade e classificava as “Paixões” como causa não natural e importante fator no tratamento. 

Na Idade Média

            Entre os séculos VIII e XI da era cristã, desenvolveu-se na Europa um intercâmbio cultural e científico entre o Oriente árabe e o Ocidente cristão e assim foram conhecidas as grandes figuras da medicina árabe, dentre eles Avicena (980-1037), ao qual se deve o Cânone da Medicina. Esta enorme compilação dominou o estudo da medicina durante séculos no Oriente e no Ocidente e tinha raízes nos fundamentos hipocráticos e galênicos. Estes fundamentos são extremamente práticos, dando atenção às causas físicas externas e internas desencadeadoras das doenças, os seus sintomas, a terapêutica incluindo a prática cirúrgica.

            Durante a Idade Média, assim como na Antiguidade, o lado prático conviveu com o lado espiritual. No século XII, a lepra era considerada o estigma da impureza dos homens. Nesta época, a tradição cristã chama a atenção da dupla imagem do leproso através das lendas de Constantino e de S.Julião Hospitaleiro. Constantino teria ficado leproso após ter perseguido os cristãos e a saúde teria sido recuperada após o seu batismo, graças aos conselhos dados por São Pedro numa aparição. S. Julião recolheu no seu leito um leproso no qual reconheceu o Cristo.

            A medicina grega legou à Europa medieval remédios contra a lepra à base de serpentes. Inicialmente a poção mágica destinada a dar ao doente a possibilidade de mudar de pele, como a serpente, passou, nos séculos XIII e XIV, a ser considerada feitiçaria, uma conivência diabólica com a Serpente...

            Nos hospitais medievais, as mulheres, geralmente religiosas, eram as principais responsáveis pela assistência completa ao paciente, acompanhadas por médicos, cirurgiões, parteiros e padres. Esta associação sempre verificada na história, se deve ao fato de se acreditar que a doença, os acidentes ou anormalidades na vida do homem seriam consequências não só da desregulação do corpo como da alma também. Em certas doenças, o lado espiritual era o mais dominante. O exemplo mais claro disso era a doença conhecida como “fogo de Santo Antônio” ou “fogo sagrado”, doença causada pela ingestão do fungo do centeio. O tratamento consistia na ingestão do saint-vinage, obtido pela maceração com vinho, das relíquias de Santo Antônio.

            Um médico importante nesta época, em relação à ênfase que dava às emoções, foi Moisés Maimônides (1135-1204). Filósofo e médico judeu, preconizava a moderação no uso de técnicas drásticas, tais como a cirurgia. Enfatizava a importância dos exercícios físicos apropriados, da nutrição, do descanso e do clima. Ele explorava as manifestações físicas das emoções, cuja importância era minimizada por sua recomendação de que o tipo ideal de exercício físico era aquele que inunda a alma de felicidade, emoção que acreditava completaria, por si mesma, o processo de cura.

Paracelsus
            Indignado com o conservadorismo dos médicos, surgiu a figura de Phillipus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493–1541), que se auto-denominou Paracelsus, ou seja, melhor que Celsus (Aulus Cornelius Celsus - médico romano do século I d.C.), autor de De Medicina, a bíblia de todos os médicos da época. Polêmico e questionador, Paracelsus legou-nos um discurso com o qual acolheu alguns estudantes, na Basiléia, em 1527 e que revela a sua postura frente à preocupação com a prática da observação reduzindo a crença cega nos livros:
  • “[...] Quem não sabe que muitos doutores de hoje malogram porque mantem servilmente os preceitos de Avicena, Galeno e Hipócrates? ... Isso pode conferir títulos esplêndidos, mas não faz um verdadeiro médico. Um médico não precisa da eloquência ou conhecimento de linguagem ou de livros... e sim de conhecimento profundo da natureza e suas obras..... [...] explicarei os manuais que escrevi sobre cirurgia e patologia, todos os dias, durante duas horas, como introdução a meus métodos de cura. Não os compilei de excertos de Hipócrates ou Galeno. Criei-os de forma nova, em labuta incessante, sobre os fundamentos da experiência, a mestra suprema de todas as coisas. Quando quero provar algo, não o faço citando autoridades e sim experimentando e raciocinando.”
            Paracelsus, hábil alquimista, salientou as possibilidades curativas das matérias inorgânicas e introduziu na farmacopéia da época, que consistia de produtos vegetais e animais, o mercúrio, o chumbo, o enxofre, o ferro, o arsênico, o sulfato de cobre e potássio. Como vimos um conhecimento que remonta o Egito Antigo.
            A compreensão de Paracelsus sobre as formas de tratamento eram mais amplas do que as prescritas pela época e como que por milagre conseguia a cura de enfermidades incuráveis para a época:
  • “é conveniente que saiba previamente, amigo leitor, que todas as enfermidades tem universalmente cinco tipos de tratamentos diferentes e fundamentais. ... Cada uma delas é capaz, por si mesma, de formar um meio terapêutico completo para a cura de todas as enfermidades nas mãos de um médico hábil, competente e esperto, que deverá escolher a melhor para cada caso. Dessa maneira será possível curar qualquer acidente, sofrimento ou doença, tanto numa como em outra medicina. Assim sendo, será bom que cada médico se esforce num estudo cotidiano e constante para alcançar a máxima ciência e experiência em qualquer um dos cinco métodos, sem esquecer que tem tanta ou maior importância o conhecimento da alma do paciente do que do seu corpo”.
  •  
  • [...] “Passemos agora ao estudo das cinco origens, faculdades médicas ou modos de curar:
  •  
    • 1. medicina natural: concebe e trata as enfermidades como ensina a vida, a natureza das plantas, e conforme o que convém a cada caso por seus símbolos ou concordâncias. Assim curará o frio pelo calor, a umidade pela secreção, a superabundância pelo jejum e o repouso, e a inanição pelo aumento das comidas. A natureza destas afecções ensina que as mesmas devem ser tratadas pela aplicação de ações contrárias. Avicena, Galeno e Rosis foram alguns dos defensores e comentaristas desta teoria.
    •  
    • 2. Medicina específica: os que defendem e pertencem a este grupo tratam as doenças pela forma específica ou entidade específica. ... Os médicos deste grupo curam as enfermidades pelas forças específicas dos medicamentos correspondentes. ... Finalmente, também entre os naturalistas, aqueles que fazem uso e receitam purgantes, já que estes impõem forças estranhas que derivam do específico, completamente fora do natural, saindo de um grupo para outro.
    • 3. Medicina caracterológica ou cabalística: aqueles que a exercem curam as doenças, pelo influxo de certos signos dotados de um estranho poder, capazes de fazer correr aqueles que se manda, e dar-lhes ou tirar-lhes determinados influxos ou malefícios. Isto também pode ser feito através da palavra, sendo em conjunto um método eminentemente subjetivo. Os mestres e autores mais destacados desse grupo foram: Alberto, o grande, os astrólogos, os filósofos e todos aqueles dotados do poder de feitiçaria.
    •  
    • 4. Medicina dos espíritos: seus médicos cuidam e curam as enfermidades mediante filtros e infusões que coagulam o espírito de determinadas ervas e raízes, cuja própria substância foi anteriormente responsável pela doença (similia similibus curantur). Acontece a mesma coisa quando um juiz, tendo condenado um réu, se transforma posteriormente na sua única salvação, já que só através de seu poder e de suas palavras poderá obter novamente a liberdade. Os enfermos que padecem dessas doenças podem se curar graças ao espírito dessas ervas, conforme está escrito nos livros desta seita e da qual fizeram parte grande quantidade de médicos famosos como Hipócrates e todos de sua escola.
    •  
    • 5. Medicina da Fé: aqui a é usada como arma de luta e de vitória contra as doenças. do doente em si mesmo, no médico, na disposição favorável dos deuses e na piedade de Jesus_Cristo. Acreditar na verdade é causa suficiente para muitas curas. Neste assunto temos a vida de Cristo e de seus discípulos como melhor exemplo.
            Paracelsus considerava que existem cinco entidades, ou seja, causas ou coisas que têm o poder de dirigir e regular o corpo.
  • “... todos os males provêm de cinco entidades ou princípios diferentes e não de uma só entidade como costumam sustentar sem nenhum fundamento e completamente errados.”
            Estas cinco entidades seriam:
  • a entidade astral (mediada pelos astros),
  • a dos venenos,
  • a natural,
  • a dos espíritos
  • e a de Deus.
  •  
  •  Sobre a entidade de Deus, Paracelsus comenta:
  • “A Quinta entidade que pode nos afetar, não obstante as quatro nos sejam favoráveis e esta esteja acima delas, é a entidade de Deus. Uma entidade que devemos considerar com a maior atenção e antes de todas as outras, porque nela está a razão de todas as enfermidades”.
            Paracelsus se refere ao princípio que regula toda a vida e ao qual dá o nome de princípio M e que deveria ser o principal fator a ser considerado pelo médico.
  • “Este “princípio” que faz viver o firmamento, que conserva e acalenta o ar e sem o qual se dissolveria a atmosfera e morreriam os astros chamamos de M. Com efeito, nada existe de mais importante e mais digno para ser levado em consideração pelo médico. ...”.
            Acreditando na importância do conhecimento destes fatores Paracelsus critica os médicos que tentam reduzir todos os males ao desequilíbrio de uma única entidade.
  • “Dividir e falar de acordo com esta divisão, especializando-se segundo o que cada um tenha aprendido, é perfeitamente lícito para esses médicos incompletos e imperfeitos. O entista quiromântico baseia seus princípios e suas teses no estudo do espírito. O fisiomântico o faz segundo a natureza do homem. O teólogo o considera segundo o impulso de Deus e o astrônomo pelas emanações dos astros. Eu digo que, considerando-se isoladamente, todos eles são uns farsantes e que somente são justos e verdadeiros quando reunidos num só. Quisemos com tudo isso alertá-los para essa cômica ignorância que pretende conhecer as cinco entidades através de uma só.”
           Paracelsus fala sobre o espírito:
  •         “O espírito é aquilo que geramos em nossas sensações e meditações, sem matéria dentro do corpo vivo, sendo também diferente da alma que nasce em nós no momento de morrer”. “...O espírito pode sofrer, tolerar e suportar por si mesmo as mesmas doenças que o corpo. Esta é a razão pela qual foi denominado entidade espiritual.”
  •         “... Os espíritos podem inflingir enfermidades aos corpos por dois caminhos ou mecanismos diferentes. Um deles acontece quando dois espíritos lutam e se ferem reciprocamente sem a vontade ou o conhecimento dos homens, estimulados por sua inimizade mútua ou influência de outras doenças. E isto deve ser levado a sério pelos médicos. O outro mecanismo acontece quando, como consequência de nossos pensamentos e meditações obrigamos a nossa vontade a consentir, desejar e querer um transtorno ou uma pena qualquer para outro indivíduo. Neste caso, essa vontade fixa, firme e intensa é que é a “mãe”geradora do espírito.
  •         “...Vamos conhecer agora como os espíritos podem nos prejudicar. Se desejamos com toda a nossa vontade o mal de outra pessoa, esta vontade que está em nós acaba conseguindo uma verdadeira criação no espírito, impedindo-o de lutar contra o da pessoa que queremos ferir. Então, se este espírito é perverso- mesmo que o corpo correspondente não o seja – acaba deixando nele uma marca de pena ou sofrimento, de natureza espiritual em sua origem, ainda que seja corporal em algumas de suas manifestações.

  •          Quando os espíritos travam essas lutas, acaba vencendo aquele que pos mais ardor e veemência no combate. Segundo esta teoria, devem compreender que em tais contendas se produzirão feridas e outras doenças não corporais. Por conseguinte, toda uma série de padecimentos do corpo pode começar desta maneira, desenvolvendo-se em seguida conforme a substância espiritual”.
  •        "...Se minha vontade se encher de ódio contra alguém, precisará expressar este sentimento de alguma maneira. E isto será feito justamente através do corpo. Sem dúvida, se minha vontade for demasiadamente violenta ou ardente, pode acontecer que meu desejo chegue a perfurar e ferir o espírito da pessoa odiada. E também posso encerrá-lo à força numa imagem que eu consiga fazer dele, deformando-a e distorcendo-a a meu gosto, atingindo assim também a intenção de atormentar o meu inimigo.

  •          ... devemos entender e observar sempre uma verdade: a ação da vontade e a sua enorme força tem grande importância para a medicina.
             Por outro lado, todo aquele que permanece impregnado de ódio, nunca querendo o bem, pode atrair para si todo o mal desejado aos outros. Porque existindo o feitiço maléfico somente com a permissão do espírito, pode acontecer que as imagens do malefício se transformem em doenças, tais como as febres, epilepsias, apoplexias e outras. Por isso é bom não zombar destas coisas.

  •          Não se esqueçam da força de vontade, que é capaz de gerar semelhantes espíritos malignos com os quais o espírito da razão nada tem em comum”.
  •         ... apesar das doenças nascerem da natureza, de acordo com as quatro entidades já citadas, será bom que também procuremos a cura pela , à qual dedicamos este parêntesis, pois certamente Deus é o fundamento integral e verdadeiro de todas as curas.
  •         “A saúde e as doenças vem de Deus e não dos homens. Por isso é preciso dividir as enfermidades em dois grupos:
    • as que tem suas causas na natureza
    • e as que representam um castigo pelas nossas faltas e pecados.
                  Deus colocou em nós como exemplo um castigo e uma consciência das doenças. Quando estamos padecendo com elas não podemos deixar de reconhecer a nossa pequenez, a nossa impotência, o pouco que somos e possuímos, e a limitação da nossa ciência. E em qualquer outra possuído . Neste caso o médico pode realizar o milagre que Deus teria feito por seus meios sobrenaturais se o doente tivesse tido uma intensa, ...”. (Capítulo IV Sobre o Poder da Fé)
  •         “Algumas curas perfeitas e felizes que aconteceram nos tempos de Hipócrates, de Rasis e de Galeno, se devem ao fato de que naquela época os purgatórios eram muito pequenos. Depois, com o aumento das doenças, as curas foram se tornando cada vez mais ineficazes, até aos nossos dias, quando o grau e o número das dificuldades é extraordinário para que possamos recuperar a saúde. Isso porque o purgatório atual é muito grande para que algum médico possa aliviá-lo. Tanto é assim que, se os médicos antigos pudessem se levantar de seus túmulos e voltar para o nosso meio, suas artes seriam nulas e cegas”.
  •         “O castigo divino que pesa hoje em dia sobre tudo o que acabamos de referir faz com que empreguemos um estilo cristão em nosso livro, com o qual esperamos fazer chegar até a suas inteligências a consciência de que todas as doenças são verdadeiros sinais e penitências, razão pela qual Deus pode nos curar delas através da , cristãmente, e não do modo pagão usado pelos médicos.

  •         Aprendam pois, cristãos, que Deus é o supremo médico. Ele é o altíssimo e não o ínfimo, e todo poderoso ainda que nada exista. Os pagãos e os infiéis pedem socorro aos homens. Os cristãos clamam por Deus.
            Ele e somente Ele enviará a cura imediatamente da melhor maneira. Seja por intermédio de um santo, como milagre, por um médico ou por qualquer outro processo.”
  • “...Depois que Cristo disse toda esta série de coisas surpreendentes que constituem a teologia, de uma maneira tão maravilhosa, e sendo a medicina tão admirável, é preciso considerá-las inseparáveis, aplicar-se ao seu estudo com todo afinco, e pesquisá-las profundamente. Porque assim como o corpo é o domicílio da alma, a teologia e a medicina devem caminhar juntas, iluminando-se mutuamente.”
           Dez anos antes de morrer (Saint Gall, em 15 de março de 1531), Paracelsus fala ao seu leitor no Livro dos Paradoxos – livro III, de uma forma mais esperançosa:

        
 "Já faz tempo, em Basiléia, que eu comecei a escrever, colocando nele o maior cuidado, com a esperança de criar algo realmente útil, apesar dos ventos violentos e impetuosos que se voltaram contra mim, iguais àqueles que pretendem arrasar durante todo o tempo e oportunidade os que desejam ensinar a verdade. Contudo, devo dizer que minha esperança aumenta dia a dia, pois é cada vez maior o número daqueles que reconhecem ser impossível amar a alma sem amar o corpo ao mesmo tempo, e que não é possível coibi-lo e subjugá-lo sem que a alma fique igualmente prejudicada. Creio ter contribuído bastante para clarear este conceito”.
 

Após Paracelsus - antes do século XX.
 
           Segundo a história a que se tem acesso, quase quatrocentos anos se passaram após Paracelsus para que os médicos retomassem a preocupação da relação entre as emoções_e_a_saúde

Antes disso, Spinoza (1632-1677), filósofo judeu holandês, postulou, em constraste à Descartes, a existência de uma substância única e infinita chamada Deus, ou Natureza, da qual o mental e o material representariam elementos de experiência, sugerindo que para cada acontecimento mental haveria um físico correspondente e vice-versa.

           No século XIX, médicos como Holmes (1809-1894), Claude Bernard (1813-1878) e Charcot (1825-1893) expressaram, na prática ou em estudos laboratoriais, a preocupação com o envolvimento do cérebro e das emoções na causa das enfermidades. 

Os médicos do início do século 
e a Psiconeuroimunologia do final do século XX.

           Durante o século XX, vários médicos de diferentes especialidades, cultivaram a idéia da relação entre as emoções e a saúde. Para citar alguns dentre vários: No início do século, Sir William Osler (1849-1919) foi considerado um dos mais eminentes clínicos de sua época e conciliou a rigidez científica e os avanços tecnológicos com fatores mais abstratos, tal como o papel das emoções nas moléstias funcionais do sistema nervoso.

 Quando louvado pelo seu sucesso médico,
 preferia transferir o mérito para a fé do paciente
 no tratamento e na qualidade dos cuidados
 das enfermeiras.
           Helen Dunbar    contribuiu para a definição do campo da medicina psicosomática, em que a mente e o corpo formam uma entidade única e assim deve ser analisado terapeuticamente. Jerome Frank (1909- ) observou que diversas formas de tratamento médico deviam seu sucesso ou fracasso ao estado de espírito e às espectativas do paciente e não apenas do tratamento em si. Afirmava que o poder terapêutico do médico podia ser aumentado ao estimular “a fé que cura” e ao promover um ambiente de solidariedade humana. Lawrence LeShan (1920 - ), psicólogo, realizou um trabalho em que correlacionou personalidade e tendências a desenvolver câncer. Ele concluiu que dependendendo do tipo de personalidade, fatores tais como a incapacidade de expressar agressão, o rompimento do relacionamento com uma das figuras paternas na infância e a perda de um relacionamento importante, podem ter associação com o desenvolvimento de câncer.

           A Psiconeuroendócrinoimunologia como ciência

Os primeiros experimentos 
que levaram à psiconeuroendócrinoimunologia
 foram realizados pelo psicólogo Robert Ader
 influenciado pelas idéias de condicionamento 
de Ivan Pavlov (1849-1936). 
 
Segundo Pavlov, a salivação induzida por um estímulo efetivo (comida) pode ser condicionado à um estímulo simbólico (um toque de sino), que induz o mesmo tipo de resposta física. Ader admitiu que havendo uma conexão neuro-imunológica seria possível condicionar uma resposta imune. Ele alimentou ratos com água açucarada concomitante à administração de uma substância imunossupressora, que inibe a proliferação dos linfócitos. Depois de repetir várias vezes este procedimento, a água açucarada passou a suprimir os linfócitos na ausência da droga imunossupressora.

           A ciência atual considera que os sistemas imune, nervoso e endócrino são os três principais sistemas de contato entre as espécies animais e o seu meio ambiente. Existe uma série de similaridades entre estes sistemas, tal como a produção de moléculas mensageiras em resposta aos estímulos ambientais, que circulam pelo organismo e regulam a atividade das células.

 O sistema nervoso propicia ao indivíduo a percepção do seu meio ambiente (as alterações de temperatura, as características físicas do seu ambiente, o sabor e o cheiro dos alimentos, a ocorrência de situações perigosas para a sua sobrevivência) e em associação com o sistema endócrino, levam-no à reações de defesa ou escape. 

O sistema imune exerce função semelhante à destes dois sistemas mas em nível mais sutil, exercendo função de defesa em relação ao contato com partículas físicas, químicas ou biológicas que possam alterar o equilíbrio do organismo como um todo. Ao contrário das células dos dois sistemas, as células do sistema imune não são fixas; exercem suas funções circulando pela pele, mucosas e tecidos internos, identificando a entrada de moléculas e microorganismos estranhos e possíveis alterações em células próprias. 

Estas células utilizam 
como principais vias de acesso às mucosas 
e tecidos os vasos sanguíneos e linfáticos, 
que seriam como que estradas 
de acesso aos tecidos.


           De uma forma bem simplificada,
 podemos considerar o nosso corpo 
como uma cidade medieval (Figura 1).

 Estas cidades eram fortificadas, muitas vezes apresentando, duas muralhas. A primeira muralha pode ser comparável à nossa pele e às mucosas que envolvem os sistemas respiratório, gastrointestinal e genitourinário. Os tecidos propriamente ditos de cada um destes sistemas seriam a segunda muralha. 

Quando agentes agressores ultrapassam as duas muralhas, chegam à cidade e tem acesso às suas ruas e residências. No caso do nosso corpo, estas ruas são os vasos sanguíneos e linfáticos que conduzem aos linfonodos, baço e mucosas, onde residem as células que no caso seriam os guerreiros desta cidade.
Esta cidade também apresenta uma maternidade/escola, que no caso seria a medula óssea, onde nascem e aprendem o ofício a maioria dos guerreiros. 

Uma escola especial é o timo,
 onde aprendem o ofício 
os grandes guerreiros, 
os líderes.
 
 Estas celulas líderes são os linfócitos Tauxiliares (LTa) que regulam a função de quase todas as outras células através de mensagens químicas. Os Lta, através destas moléculas, fazem com que algumas destas células (macrófagos) sejam capazes de ingerir material estranho (bactérias, vírus, proteínas estranhas), outras-linfócitos B-produzam anticorpos, que marcam a superfície do que tem de ser destruído e outras-LT citotóxicos e células NK- matem células tumorais ou células que apresentem parasitas escondidos dentro delas. 

A atuação deste sistema de defesa contra agentes agressores depende de vários outros órgãos. O sistema nervoso central (SNC) seria, no caso da analogia com a cidade medieval, o castelo onde reina o governante da cidade. As informações externas (agressões ambientais de vários tipos) chegam através de sensores nas muralhas que, no caso, seriam os olhos, o nariz, a boca e receptores nervosos na pele. Estas informações são centralizadas no SNC e de lá partem as mensagens elétricas ou químicas para que outros órgãos entrem em ação.

 Do SNC partem as mensagens para a glândula tireóide que regula a intensidade de todos os eventos que ocorrem neste sistema, e que poderia por isso ser relacionada à uma central energética. 

Quando a tireóide está hiperativada, ocorre uma aceleração de todas as atividades internas do corpo e no caso da redução da sua atividade, o organismo trabalha lentamente. 

Outro órgão envolvido na resposta aos estímulos é a supra-renal que produz mensagens químicas quando o organismo é exposto a tensões, esforços físicos anormais, emoções, como a raiva e o medo. Um dos mensageiros conhecido da supra renal é a adrenalina que faz com que as energias se intensifiquem e o corpo emita uma reação frente a uma determinada situação. Todos estes mensageiros do cérebro, das glândulas tireóide, supra-renal e sexuais circulam pelo sangue, ou seja, pelas mesmas vias das células de defesa, alterando o seu comportamento.
         
  As emoções que têm sido estudadas no sentido de atuarem negativamente sobre o sistema imune são a raiva ou hostilidade, a depressão (que inclui não apenas a tristeza, mas também a auto-piedade, a culpa e o desamparo), o estresse (que inclui a agitação, o nervosismo e a ansiedade) e a negação da ansiedade. As emoções benéficas analisadas são a calma, o otimismo, a confiança, a alegria e a bondade amorosa.
         
  No caso da raiva, uma pesquisa realizada nos anos 50 entre estudantes de medicina, quanto ao grau de hostilidade, demonstrou que 20 anos depois, apenas 3 dos 136 indivíduos não hostis haviam morrido em relação aos 16 do grupo hostil, ocorrendo a maioria das mortes, entre as pessoas hostis, antes dos cinquenta anos.
          
No caso da depressão, vários trabalhos científicos têm estabelecido uma clara relação entre a eclosão do cancer e situações de perda. Em um estudo com pacientes portadoras de câncer de mama, as mulheres mais deprimidas tinham um menor número de células NK e apresentavam metástases de forma mais rápida.
          
 Num estudo com 100 pacientes que receberam transplantes de medula óssea, 12 dos 13 (92%) que estavam em estado grave de depressão morreram após um ano do transplante, enquanto que 34 dos 87 (39%) remanescentes permaneceram vivos até dois anos após. Em outro estudo, um grupo de 40 mulheres sem sintomas, mas com teste de Papanicolau denotando predisposição para o cancer, foi avaliado.

 Os médicos que acompanhavam estas pacientes tentaram prever as que desenvolveriam a doença com base em entrevistas e testes de personalidade. Previram e acertaram em 75% dos casos que o cancer de colo de útero iria ocorrer naquelas em quem detectaram fortes sentimentos de desesperança ao longo da vida e/ou como reação a perdas recentes e significativas.
         
  De forma semelhante, foi estudado um grupo de viúvos após a morte de suas esposas e descobriram uma diminuição da atividade dos linfócitos T e B nas primeiras duas ou três semanas após a morte do cônjuge. No entanto, exercícios mentais de relaxamento e imaginação criativa podem restaurar ou reforçar a resposta imune. Durante estes exercícios, pacientes com câncer foram levados a criar uma imagem das forças de seu sistema imune contra as celulas tumorais. Os pacientes apresentaram, após estes exercícios, um aumento na proliferação e atividade dos LTa, LTc e células NK. Associado aos exercícios, os pacientes apresentavam forte determinação em sobrepujar a sua doença.
         
  No caso da ansiedade ou estresse, pessoas foram expostas ao vírus da gripe. Daquelas que estavam pouco estressadas no momento em que foram expostas, 27% ficaram gripadas enquanto das que apresentavam níveis elevados de estresse, 47% contraíram gripe.

 O cérebro reage ao estresse induzindo a liberação de hormônios tais como os glicocorticóides, que são liberados na corrente sanguínea ou linfática. Estes hormônios associam-se à superfície dos linfócitos ativando ou suprimindo sua função.
        
   Por regiões situadas no córtex pré-frontal, logo atrás da testa. Cada lado do córtex pré-frontal parece lidar com um conjunto diferente de reações emocionais. As emoções que nos fazem ter medo ou repulsa são reguladas pelo lado direito e sentimentos, como a felicidade, pelo esquerdo. Vários estudos revelam que as pessoas com a região anterior esquerda mais ativa demonstram atitudes mais positivas a respeito de sua vida, em geral ou em resposta a desafios, ao passo que aquelas com uma maior atividade do hemisfério direito exibem respostas mais negativas. 

Para constatar se as pessoas selecionadas com bases em seus eletroencéfalogramas diferiam em relação à sua resposta imune, foi realizada avaliação da atividade de células NK.

 As pessoas com maior atividade no hemisfério esquerdo
 apresentavam maior atividade das células NK.
           Existem evidências de que outra estrutura cerebral – as amígdalas – são importantes na experiência emocional. As informações sensoriais tomam geralmente dois caminhos: um em direção ao córtex e o outro em direção às amígdalas. As amígdalas avaliam os dados sensoriais de forma rápida e verificam o seu significado emocional e desencadeiam uma reação, enquanto o córtex ainda está classificando as coisas. Pode ser muito difícil controlar as emoções porque a amígdala estimula outras partes do cérebro antes que o córtex o faça. As pessoas com o córtex esquerdo mais ativo podem desligar a amígdala mais rapidamente fazendo com que as emoções negativas não perdurem.

           No caso de estudos de casos de sentimentos positivos, quase todos os estudos foram realizados em pessoas que aprenderam algum método de relaxamento, frequentemente a meditação. Estudantes de medicina quando passaram a meditar aumentavam o número de LT antes da época dos exames e este efeito era proporcional à frequência com que era praticada a meditação.

 No caso da alegria, pesquisadores mediram os hormônios de pessoas assistindo filmes cômicos e viram que o nível de um hormônio imunossupressor da supra-renal estava diminuído e havia um aumento das células NK. 

Outro estudo demonstrou
 que assistir filmes cômicos aumenta o número de LT 
e as pessoas que riam muito, todos os dias, 
apresentavam um número maior de LT.
           No caso da bondade amorosa, os dados são mais escassos e especulativos. Num destes trabalhos, algumas pessoas assistiram um filme muito amoroso sobre a madre Teresa de Calcutá. Estas pessoas apresentavam um aumento significativo na produção de anticorpos na saliva e no número de LT enquanto que, um outro grupo que assistiu um filme sobre os nazistas na Segunda guerra mundial não apresentou alterações. Se, depois do filme, elas também faziam meditação de bondade amorosa, pensando em todas as pessoas na vida delas que tinham sido receptivas e agradáveis com elas, o aumento de LT durava mais tempo. 

Outros estudos demonstraram que estas pessoas que assistiram filmes humorísticos tiveram a diminuição de um hormônio da supra-renal capaz de reduzir a atividade imune.

           Um outro trabalho que tem sido desenvolvido envolve pessoas idosas. Descobriu-se, ao contrário do que se pensava, que o sistema imune destas pessoas, em boas condições de saúde, funciona tão bem quanto o de pessoas jovens e saudáveis. Verificaram que a estimulação das células NK está associado à força emocional (grande determinação e propósito) na reação aos fatos da vida. 

A imunidade tende a diminuir com fatores associados ao estresse, à depressão e que um dos fatores que contribui para a sua melhoria é a atividade física. Exercícios físicos vigorosos levam à ativação da produção de endorfinas no cérebro que aumentam a atividade das células NK.

           Um outro fator de grande valia desde a tenra idade é o toque físico entre os seres humanos. A pele não é apenas um revestimento de proteção mas um órgão extenso de conexão com o mundo, onde todas as emoções afloram. Estudos tem demonstrado que existe um sistema imune da pele que sofre alterações com o massagear, com o toque amoroso, com a agressão. Em experimentos na década de 40, observou-se que a retirada da tireóide de ratos que eram tratados da forma convencional (troca de ração, de água e de gaiola) causava uma mortalidade de 79% enquanto que ratos tratados de forma carinhosa (acariciados, além do tratamento convencional) tinham uma mortalidade de 13% após o mesmo procedimento cirúrgico.

A experiência de veterinários confirma a importância das carícias da lambida nos recém-nascidos, importante não só para limpar o animal mas para estimular as funções intestinais e genito-urinárias.

           Num dos primeiros estudos, constatou-se que a estimulação cutânea em animais recém-nascidos exerce uma influência benéfica sobre o sistema imune. Ratos acariciados na primeira etapa da vida apresentaram uma melhor produção de anticorpos em relação aos animais controle. Dessa forma, parece que a resposta imune do adulto depende das experiências cutâneas no início da vida. Essa competência imunológica parece depender da atuação de hormônios e substâncias do SNC que atuam nos órgãos de maturação das células do sistema imune. 

Existem pesquisadores que defendem a idéia de que o trabalho de parto, nos seres humanos, propiciaria os primeiros toques no corpo da criança que levaria a ativação de vários sistemas orgânicos. Após o parto, os toques carinhosos e a amamentação propiciam alterações fisiológicas não só na criança como também na mãe. 

A amamentação leva à produção de hormônios (a prolactina, dentre outros) que alteram a resposta imune da mãe e estas células e moléculas, fluem através do leite, para o filho. Além disso, o esforço físico da amamentação é importante para o desenvolvimento de vários aspectos fisiológicos e mentais da criança. 

A adêrencia dos lábios, 
das mãos e dedos no seio da mãe
 leva ao desenvolvimento da consciência
 de seu próprio corpo e do da mãe.
 
Conclusão
           A tão antiga procura do homem pelo autoconhecimento extrapola o circuito intelectual. O autoconhecimento é a chave para a saúde. Saber viver com equilíbrio em termos físicos, mentais e espirituais tornam o nosso corpo saudável e mais eficiente no confronto com as agressões ambientais. Segundo o Dalai Lama (Referência bibliográfica 3), a criação de princípios éticos para pessoas não religiosas, alertando para a sua importância na manutenção da saúde, seria a forma que teríamos para mudar o curso da nossa história. 

O caminho seria despertar a percepção
 de que, antes de tudo, somos animais sociais 
e a preocupação com o outro é necessidade 
para a sobrevivência do homem como espécie.

 
Bibliografia
1.Cousins, N. Cura-te pela cabeça. Editora Saraiva. 1a edição, São Paulo, 1992.
2.Da Silva, M.A.D. Quem Ama não adoece. Editora Best Seller, 20a ed., S.Paulo, 1999.
3.Goleman, D. Emoções que curam. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1999.
4.Le Goff, Jacques. As doenças tem história. Editora Terramar. Lisboa, 1985.
5.Montagu, A. Tocar. O significado humano da pele. Summus Editorial,5a ed., S.Paulo, 1986.
6.Paracelso A chave da Alquimia. Editora Três. São Paulo, 1973.
7.Thorwald, J. O segredo dos Médicos antigos. Editora Melhoramentos. São Paulo, 1985.
http://1.bp.blogspot.com/-7vFHbcMqezY/T7kmDXHgnEI/AAAAAAAABao/jJJBqcyxx-0/s1600/@raminhoPicasso..bmp
Pablo Picasso

Li
 Fontes:
 

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