Do belo platônico à potência
do entendimento em Spinoza
do entendimento em Spinoza
(A propósito do domínio das paixões)
Valdeci Ribeiro dos Santos
- UNIR*
Ao apresentar a noção do belo em Platão, há que posicionar a imagem trans-histórica de sua intuição. Lançada numa busca do modelo atemporal, a intuição platônica arremessa a noção do belo para a supremacia do eterno imutável.
Guardemos aqui todas as proporções que enlevam a intuição platônica aos domínios do transcendente belo divino. Vejamos as engrenagens da "máquina abstrata" montada por Platão para atingir as essências eternas e ordenadoras das coisas.
Para Platão, lidamos com 'ilusões' e não propriamente com a coisa "em-si". Vivemos, por conseguinte, imersos num oceano infindo de imagens onde reina a multiplicidade da aparência, donde a necessidade de disciplinar-se através do exercício ascético no domínio das paixões. O próprio Platão nos alerta da necessidade de duvidarmos do mundo para por ele não sermos enganados. As aparências submetem a vontade às ilusões passionais, desviando-a do conhecimento do verdadeiro, pela falta deste.
O método instaurado por Platão estabelece através da dialética presente nos diálogos, particularmente no "Fedro", a beleza como participação do belo em si, o verdadeiro belo. Como atingi-lo?
Urge um modelo discursivo que alavanque na alma do vivente as essências eternas das coisas. A peregrinação da alma à contemplação das idéias. Platão descreve o percurso da alma pelo recurso mítico da carruagem, dos cavalos alados e do cocheiro, representando a razão na sua sublime tarefa de ascender às alturas do verdadeiro. O que não é fácil, pois é preciso um enorme esforço da razão para manter a integridade da alma sobre as demais partes que se debatem para caminhos opostos. O que deve prevalecer é a unidade harmônica da alma a determinar a boa direção a seguir.
O recurso retórico da empresa platônica faz emergir filósofos soberanos, homens que inspirados pelo verdadeiro saibam como ordenar a vida aos desígnios das eternas e imutáveis essências (o conhecimento). Resta-nos saber como Platão revela aos seus interlocutores a inspiração divina de sua sabedoria. Aliás, como ele nos inspira a também abandonar as imagens e ascender as essências. O dispositivo retórico visa administrar a alma diante da instabilidade do devir.
O critério norteador é a purificação da alma, que implica nas reminiscências do vivido, contudo, para além do próprio vivido. Com isso, o discurso da prática virtuosa é perpassado pela seleção dos pretendentes. Daí decorre que o ensino só pode ser inscrito na alma que esteja consciente de sua ignorância. Um percurso que vai do cotidiano, da vida ordinária da cidade às alturas da eternidade do belo e a ela retorna.
Administrar as paixões é critério imprescindível na tarefa do construtor da igualdade entre os comuns da polis grega. Através da "alegoria da caverna", Platão nos leva aos domínios das idéias, às luzes das essências e nos faz reconduzir ao interior da caverna. A peregrinação da alma ao mundo das idéias possibilita, após o árduo exercício ascético, ao pretendente exercer o governo da cidade (A República dos sábios).
O ideal de virtude é encarnado nos que governam "ungidos" pela sabedoria do mundo supraceleste.
O exercício das melhores práticas é peça fundamental na concepção moral platônica que sobrepõe a alma ao corpo; em decorrência disso, tudo abaixo da esfera celeste deve refletir as essências eternas que não se confundem com as ilusões dos movimentos passivos do corpo.
Há, portanto, uma determinação superior da alma sobre a "soma", o corpo. Os eleitos a governar são virtuosos por serem orientados pelas idéias, contemplados pela alma quando esta ascendeu aos domínios do Belo. Tomado, pois, de arrebatamento divino, o virtuoso age não em função do próprio interesse, mas, sobretudo, pela igualdade entre aqueles que lhe são comuns, os cidadãos. É assim que se estabelece o exercício público no governo da cidade.
A transcendência platônica cinge um modelo racional para conhecer as essências, todavia, a instância do Ser permanece inacessível. É com relação a este ponto que Platão mais exalta o poder do mundo inteligível. A perspectiva de sabedoria delineada por Platão nos relembra a necessidade inerente ao desejo da certeza para a ação. Devemos lembrar que a hesitação nos caminhos da virtude não são empecilhos ao conhecimento, antes, porém, é elemento constitutivo da tarefa do filósofo, entendido como amigo da sabedoria. Uma imagem para o pensamento inaugurada por Platão é a do ideal ascético.
O "governo dos sábios", os "reis-filósofos", distende no movimento do vivido a soberania do modelo transcendente sobre a imanência das coisas. Considerando a engenhosidade da teoria das idéias de Platão e sua inesgotável evocação de um sentido ingênito das idéias na alma, o conceito do belo e de virtude se expressa sempre na compreensão do verdadeiro como paradigma dialético que supõe garantir o conhecimento e, portanto, a ordenação das coisas conforme o modelo eterno das essências.
É fazer justiça a Platão elencá-lo como uma das figuras mais importantes para o pensamento filosófico há aproximadamente dois mil e quinhentos anos. Platão estabelece a transcendência da alma sobre o corpo, porém não há como desconsiderar a coexistência de ambos em relação à vida virtuosa.
Há afinidade harmoniosa entre eles na difícil arte de governar a si e a cidade. Entretanto, Platão nos coloca frente a uma imagem que transcende o vivido, deslocando a virtude da ação para a contemplação. A partir do estabelecimento do aparato metodológico platônico define-se os paradigmas que elevam a alma aos domínios das formas sem que para isso tenha que sair de si própria. Revela uma inapelável transmigração do entendimento do mundo para a dimensão do transcendente.
Vejamos como em Spinoza o entendimento é a potência capaz de produzir ações adequadas sem sobrepor a alma ao corpo ou desvalorizar as paixões e a imaginação.[i] O que tradicionalmente é entendido por método não dá conta da liberação das potências que afloram nos seus escritos.
A orientação spinozista não comporta contradição nem contingência, há, sim, autoprodução da Substância que engendra as séries da convergência e da divergência.
Se diz sempre do indivíduo enquanto ação e paixão. O que está sendo liberado é a constituição da multiplicidade pela eterna potência de afetar e ser afetado (compor e decompor). Não há como se falar em identidade do absoluto como sendo produto de um movimento de negação que se afirma na síntese do "Ser".
A ética spinozista, ao contrário da moral ascética platônica, afirma a unidade da Substância como expressão da necessidade eterna de produzir a multiplicidade dos infinitos modos existentes.
Resgatar a potência do entendimento contra as superstições teológicas, o "ouvir dizer", que se estabeleceram como corpo e vontade na vida dos homens. E é pela afirmação da imanência dos atributos de Deus que Spinoza nos mostra o quanto permanecem em nós os esquemas ontológicos clássicos.
Os atributos da substância una e infinita são o pensamento e a extensão, as modificações da substância. O corpo (modo da extensão), materialidade, e a alma (modo do pensamento), as idéias. Os atributos exprimem a essência da substância - realidade em si e por si - e nenhum resulta do outro ou de outros; eles são coextensivos, essência da natureza divina.
Os modos derivam de Deus, por conseguinte, são "conseqüência necessária". Pertencem à ordem do causado e não do causante, portanto, sua essência como sua existência promanam de Deus.
Spinoza hierarquiza os graus de percepção de acordo com a distinção entre eles: pelo "ouvir dizer"; pela simples experiência; o racional, que diz respeito ao entendimento das causas e das idéias em nós; o intuitivo, que capta a causa imediata, sua essência.
A tradição teológico-metafísica, fundada na imagem do Deus transcendente, acostumou‑se a tomá-lo como majestoso e glorioso, e o estendeu ao máximo da incompreensibilidade, e quanto mais contraditório melhor seriam as provas de seus desígnios e mistérios salvívicos. Tal é a imagem cunhada pela tradição que nos submete a uma realeza que se glorifica pela máxima ignorância e miserabilidade (ó, pobres mortais..*.INFANTES)
Que Deus perfeito e infinito teria criado
um mundo imperfeito e miserável?
O livre‑arbítrio: escolha de uma vontade livre e soberana entre determinantes (Bem e Mal- *VIDA E MORTE - SER E NÃO SER*) e não produção de si mesmo pelo entendimento das leis necessárias decorrentes da potência divina; vontade livre e soberana, tal é a imagem que nos amedronta e nos enche de esperança na salvação, pois Deus sabe de nosso destino e de nosso fim.
O pensamento, sendo um atributo de Deus - seus atributos e seus modos - não há no universo mistérios, milagres, forças ocultas e fins incompreensíveis; por conseguinte, tal compreensão só pode derivar da servidão humana, dos seus próprios temores geradores de sua suma ignorância divina.[ii]
A potência só existe em ato, e decorre da positividade do conatus - potência de agir e de padecer (pela força de outro corpo). É preciso estar atento para não tomar os efeitos pelas causas. Quando está em nós a causa de nossa ação, ou quando compreendemos as forças que nos levam a agir, estamos de acordo com a perfeição divina, expressa na ordem das coisas, portanto do entendimento de nós mesmos, da natureza e das coisas. Não há como separar a causa da ação ou da paixão do agente, sendo num grau de adequação à "beatitude" o domínio daquilo que pensamos e fazemos. "Assim como a idéia adequada envolve a certeza, a idéia inadequada envolve um ato de vontade ou afirmação, tão afastada da certeza como a idéia mutilada da idéia completa [...] Há nas idéias alguma coisa de real que distingue as verdadeiras das falsas."[iii]
Diferentemente das paixões (tristes ou alegres), a beatitude, ou o "amor intelectual de Deus" - é o estágio no qual a ordem interna do agir está no mesmo nível da ação expressiva de Deus - natureza que age pela necessidade intrínseca de se expressar eternamente através de infinitos modos de uma mesma substância, ato expressivo da imanência divina.
Sendo assim, a alma, idéia de si e do corpo (causa adequada) advém do entendimento da causa que produz a idéia em nós - isto é ser livre. A perfeição e a imperfeição não decorrem da sensibilidade humana, mas da origem de onde procedem, em suma, ser virtuoso é entender a causa donde as coisas procedem.
Não podemos tomar o entendimento como originário alhures ao plano onde se efetua a ação e a paixão. O corpo apaixonado sofre pela passividade. Já segundo Platão, para agir livremente é preciso seguir a lei, as formas essenciais, contemplá-las pela faculdade de rememorar.
Já para Spinoza agir livremente é selecionar as séries dos encontros e não obedecê-los por medo e esperança a uma finalidade preestabelecida fora da ordem dos encontros. É deste modo que Spinoza demonstra que a ilusão da finalidade é a fonte de todas as outras. Victor Brochard nos afirma que "para Spinoza o conhecimento é mais que uma intuição. É como que uma penetração do objeto pelo pensamento."[iv]
Em decorrência desta ilusão finalista se atribui ao devir uma justificação extra-mundo e a conseqüente hierarquização das forças (díada platônica). Spinoza não desqualifica as paixões tristes, embora veja nelas desejo de impotência, tristeza e servidão.
A apreciação das paixões, da imaginação, não é feita por Spinoza em prol das essências fora do plano onde os encontros se efetuam. Como assim? A ordem do entendimento varia em conformidade com os graus da percepção. A imagem é sempre verdadeira enquanto imagem e é ilusória em relação a idéia. Daí decorre, Spinoza chamar idéias adequadas as produzidas pela potência do entendimento e inadequadas quando relacionadas não a elas próprias mas a outros gêneros de percepção. A ordem do entendimento varia em conformidade com a adequação das paixões no corpo e as idéias na alma.
Por exemplo: quando nos sentimos vexados por alguma circunstância a sensação experimentada pela alma se expressa no corpo e vice‑versa, logo, não há como enxergar na Ética nenhuma hierarquia de princípio que sobreporia as idéias na alma às sensações no corpo. Ainda no campo dos exemplos: se temos uma visão do sol na qual ele é coberto pelo dedo polegar, já existe, aí, uma certa qualidade de percepção e não 'ilusão' em vista a um conhecimento verdadeiro e eterno do mundo das idéias morais. Mas um certo grau de realidade está presente na experiência imediata, a qual se refere ainda a uma certa adequação entre a imaginação do vivente e o objeto observado.
Por tomarmos nossas experiências imediatas da vida pela coisa como ela é, lançamos nosso próprio modo de apreender o objeto (antropomorfismo ontológico) sem, contudo, dimensionar o dinamismo do mundo como elemento imprescindível para o entendimento da Natureza. Não há fim algum em Deus, tudo decorre da Necessidade contínua de criar, ou seja, movimento contínuo de autoprodução sem que haja finalidade no exercício da vida livre entendida como Acontecimento.
A imaginação não é uma fantasia criadora, uma fábula, uma quimera, mas a própria percepção sensorial e é através dela que nos lançamos numa interpretação da vida sob a égide do império da superstição e das paixões tristes, ou seja, tudo aquilo que nos desconecta do que podemos, enfraquecendo-nos, portanto.
Instaurada a utopia platônica, estabelecida está uma nova casta de homens cuja sabedoria viria do amor apaixonado pela Verdade (Politéia).
Tomar a imaginação como faculdade de representar as coisas e formar uma idéia a respeito delas, não significa para Spinoza sobrepor hierarquicamente as idéias na alma e as imagens no corpo. Posto desta forma objetiva, Spinoza afirma o dinamismo da vida. O Mundo e Deus são dois aspectos da mesma Substância ou da mesma Natureza.
Então, o Deus spinozista não é, em hipótese nenhuma, um Monarca do universo que por vontade livre engendraria ordem ao caos dando a ele seu correlato. O empirismo spinozista está visceralmente vinculado à seleção dos afetos, no que implica necessariamente dizer na liberdade ou contentamento de si. A ordem necessária dos encontros dos corpos não obedece aos critérios de um Deus moral, bem como, os princípios estabelecidos pelas convenções ao alvedrio dos caprichos humanos.
Há um salto qualitativo na vontade spinozista, no qual a paixão de pensar nos lança para a ação de pensar. Podemos dizer, por conseguinte, que aí se encontra a essência de nossa alma. Afirmar a vida no seu ato contínuo de atualização das multiplicidades, os infinitos atributos infinitos da Substância que se expressa por infinitos modos finitos.
Não há beleza que não nasça da correta adequação do que passa no corpo e na alma: sou escravo quando o que me move vem de fora - "palavras de ordem" - e não pelo adequado exercício da idéia do meu corpo.
Tornar-se livre não é pois uma conquista,
um fim fora da ação.
A garantia da unidade teológica em Platão visa sustentar o estado de coisas posto em Atenas coetânea à sua problemática. Platão advoga a supremacia do mundo inteligível atribuindo a ele o 'reino' das essências, das idéias morais. Há um subjugamento do mundo sensível em Platão, que o coloca como objeto da verdadeira ciência, ou seja, das idéias.
Em Spinoza, as essências não são separadas, embora distintas, elas são objetivas, imanentes às conexões que produzem as multiplicidades existentes. O pensamento adequado do homem é igual ao pensamento divino na ordem do entendimento. Mantendo, por conseguinte, a tendência natural e espontânea de conservar-se no seu modo. Spinoza destaca entre os modos de perceber as idéias adequadas que não incluem a negativação das paixões, mas dá a elas o estatuto merecido na "Reforma do Entendimento". Entendimento não significa juízo de verificação da verdade ou da falsidade das coisas e dos atos humanos, mas decorre da natureza das afecções, dos encontros dos corpos e das conexões das idéias na alma.
O homem livre não é aquele que obedece a lei externa (mandamentos), mas aquele que entende a natureza de suas afecções. O belo Spinozista chama-se entendimento, contentamento de si.
Poderíamos falar ao nível político em um Spinoza contratualista? Num acordo entre homens com o fito de instaurar a integridade social? Ao contrário desta tese, Spinoza nos situa num contexto político onde a potência de afirmação da vida leva os homens a verem as vantagens da vida coletiva e, por conseguinte, não partiram de um contrato que os possibilitassem escapar ao "estado de natureza". Ou, que transcenda a realidade efetiva da vida política. Na via oposta dos contratualistas, Spinoza afirma o direito natural como desejo do homem de se autogovernar e não ser tutelado por mentores da Sabedoria.
Longe das fileiras platônicas, a política Spinozista nos conduz ao solo da democracia como o regime mais próximo da liberdade coletiva, ou seja, é possível governar‑se e não ser governado. A liberdade do sujeito político é exercida pela afirmação do seu "conatus", potência para o entendimento de si, e o mesmo é elo de ligação entre os demais sujeitos que constituem uma coletividade. Em decorrência do "conatus", força de existir e persistir na potência, o sujeito político deve se libertar das superstições, do medo, que entristecem e alimentam de ódio o sujeito político coletivo.
Em suma, a orientação Spinozista é contra toda forma de servidão humana que conduza o sujeito humano à ilusão imaginativa de liberdade.
"Se, em todas as circunstâncias, os homens pudessem decidir com segurança, ou se a sorte lhes fosse sempre favorável, jamais seriam vítimas da superstição. Mas como se encontram freqüentemente perante tais dificuldades que não sabem que decisão hão de tomar, e como os incertos benefícios da sorte que desenfreadamente cobiçam os fazem oscilar, a maioria das vezes, entre a esperança e o medo, estão sempre prontos a acreditar seja no que for (...) A que ponto o medo ensandece os homens!
O medo é a causa que origina, conserva e alimenta a superstição (...)
Não há nada mais eficaz do que a superstição para governar as multidões. Por isso é que estas são levadas, sob a capa de religião, ora a adorar os governantes como se fossem deuses, ora a execrá-los e a detestá-los como se fossem uma peste para todo o gênero humano. Foi, de resto, para prevenir este perigo que houve sempre o cuidado de rodear a religião, fosse ela verdadeira ou falsa, de culto e aparato, de modo a que se revestisse da maior gravidade e fosse escrupulosamente obedecida por todos".(in Tratado teológico-político - Baruch Spinoza )
* Por Valdeci Ribeiro dos Santos, graduado Ciências Sociais (UFF), especialista em Filosofia Contemporânea (UERJ), mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP). Professor do Departamento de Filosofia e Sociologia (UNIR).
NOTAS
i. Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá‑los, deplorá‑los, reprová‑los ou, quando querem parecer mais morais, detestá‑los. Julgam assim agir divinamente e elevar‑se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando toda a espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através de seus discursos a que realmente existe.
Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. Daí, por conseqüência, que quase todos, em vez de uma Ética, hajam escrito uma sátira, e não tinham sobre Política vistas que possam ser postas em prática, devendo a Política, tal como a concebem, ser tomada por Quimera, ou como respeitando ao domínio da Utopia ou da idade do ouro, isto é, a um tempo em que nenhuma instituição era necessária.
Portanto, entre todas as ciências que têm uma aplicação, é a Política o campo em que a teoria passa por diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para governar o Estado do que os teóricos, quer dizer, os filósofos."ESPINOSA, Tratado político, cap. I, 1, IN Marilena Chauí, Espinosa - uma filosofia da liberdade, São Paulo, Ed. Moderna, 1995, p. 103.
ii. "Estabeleço em primeiro... que Deus é, absoluta e efetivamente, causa de tudo, seja o que for, que tem uma essência. Se puderdes demonstrar que o mal, o erro, o crime, etc., exprimem uma essência, concordarei inteiramente que Deus é causa dos crimes. do mal, do erro, etc. Creio, porém, ter demonstrado suficientemente que o que dá forma ao mal, ao erro, ao crime, não consiste em algo que exprima uma essência, pelo que não se pode dizer que Deus seja causa de tais coisas [...]
Tudo que existe flui necessariamente das leis eternas e dos decretos de Deus e dele dependem continuamente, mas as coisas diferem mutuamente em grau e essência. Assim, embora o rato como o anjo, a tristeza como a alegria, dependam de Deus, nem por isso o rato é uma espécie de anjo e a tristeza uma espécie de alegria." ESPINOZA (citado por Joaquim de Carvalho), Ética, Lisboa, Ed. Relógio D'água, 1992, pp. 86-87.
Fonte:
Universidade Federal de Rondônia
Revista Eletrônica do
Centro de Estudos do Imaginário
Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
Labirinto -
Revista Eletrônica do
Centro de Estudos do Imaginário
Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
Labirinto -
http://www.cei.unir.br/artigo13.html
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