domingo, 10 de abril de 2011

MASSACRE DE REALENGO – UM CRIME de DOENTE MENTAL SEM TRATAMENTO



 
CONSIDERAÇÕES DE UM PSICOLOGO CLÍNICO
SOBRE O MASSACRE DE REALENGO 
– UM CRIME PRATICADO POR UM DOENTE MENTAL 
SEM TRATAMENTO
 
Segundo o meu entendimento, a carta deixada por Wellington Menezes de Oliveira, autor do massacre de estudantes na Escola Tasso da Silveira Hall, em Realengo, região oeste  do Rio de Janeiro, tem um teor delirante, característico de doentes mentais que padecem de transtornos psicóticos esquizofrênicos, onde  é comum  a incorporação de elementos culturais, como as referências religiosas. 
O delírio, de acordo com Freud, é uma tentativa de reconstruir  laços objetais  perdidos. Nesse contexto, as referencias religiosas  não comparecem  como um modus operandi  [expressão latina que significa modo de operação],  não estando dotadas de uma relação de causalidade, mas de contigüidade, sendo  apenas incorporadas às construções delirantes.
Os  rituais descritos por Wellington, na carta,  estão  relacionados à questão da castidade. Ele se apresenta  como uma pessoa celibatária que não pode ser tocado por pessoas impuras, que segundo sua concepção, são aqueles que tiveram relações sexuais antes do casamento. Em sua carta Wellington se afirma  como um virgem. 

A  rigor o psicótico não se inscreve
na ordem da sexualidade;  
não tem acesso ao gozo fálico.
Pautado numa experiência de mais de vinte anos no tratamento de pacientes com transtornos mentais, considero reducionismo subsumir Wellington na mera categoria de portador de transtorno de personalidade anti-social, e acredito  que Wellington era portador de um grave transtorno psicótico,  provavelmente  esquizofrenia, e  elegível a um tratamento interdisciplinar no campo da saúde mental, ao qual não teve acesso.
O mais  importante a ressaltar neste momento,  de luto e de dor, motivado pela morte de crianças e adolescentes indefesos,  é que Wellington não era  apenas um monstro. O fenômeno Wellington dotado de tamanho poder de destruição não está dissociado de um contexto social discriminatório e não inclusivo.  Subsumir Wellington no rótulo de monstro e ignorar tal contexto que nutriu a emergência de tal comportamento pode    apaziguar a sociedade, mas não abstém o Estado de sua responsabilidade social de promover a saúde e proteger a sociedade, pois saúde é direito do cidadão e dever do Estado e também, como vimos, questão de segurança. Não é suficiente militarizar o Estado. 

É necessário ampliar a rede de tratamento psicossocial, de forma quantitativa e qualitativa, com equipe interdisciplinar efetiva, que possa garantir um vinculo terapêutico, fundamento de qualquer tratamento possível.
Wellington estava sozinho, foi vítima de bullying e tornou-se órfão de sua  mãe adotiva  recentemente. Sua mãe biológica era esquizofrênica e seu pai biológico era desconhecido.
Apesar de não  podermos  traçar um diagnóstico post-mortem conclusivo, como psicólogo atuante também no  sistema prisional , rejeito  o rótulo de sociopatia que tem sido amplamente atribuído e explorado pela mídia.
É natural a revolta e a descarga de todas as reações na figura de Wellington, que incorpora o monstro, todavia se desejamos lidar honestamente com este problema devemos ressaltar que  Wellington  foi um  doente mental  sem tratamento. Faltou um olhar e uma escuta  para  os vários sinais  que ele enviara  desde a infância e adolescência, como comportamento bizarro, acanhada reação ao bullying sofrido na vizinhança e na escola em sua infância, introversão,  isolamento pessoal, etc.
Se tais sinais tivessem  sido, ao longo do tempo, observados e  Wellington devidamente tratado, talvez a sua história  e a historia dessas  tantas crianças assassinadas, pelas quais choramos,    poderia ter tido um  outro curso. 
Se Wellington  tivesse sido criteriosamente medicado e tido acesso a um tratamento psicológico, onde seu delírio pudesse ter sido acompanhado  e modulado , talvez chegasse a uma metáfora delirante que suprisse a ausência do significante "nome-do-pai", ausente na estrutura psicótica, que o ajudasse a se ancorar de melhor forma na ordem simbólica, a ordem da linguagem, a ordem do campo humano,   dando à  sua existência outro sentido. 
Geralmente os crimes cometidos por esquizofrênicos atingem as pessoas mais próximas,  na família ou vizinhança  e não ocorrem em série.  Wellington estudou  numa escola freqüentada por crianças da vizinhança e cometeu um assassinato em série, mas  num único ato ou crime continuado. 

Wellington não tinha antecedentes criminais. 
O  massacre cometido por Wellington destaca-se dos  crimes  mais comumente atribuídos a   outros  doentes mentais esquizofrênicos. Geralmente os crimes cometidos por esquizofrênicos obedecem  vozes alucinatórias e se dão  sob impulso repentino.  O crime cometido por Wellington foi premeditado,  como os crimes hediondos cometidos por personalidades esquizóides, porém, ocorreu dentro de um  franco delírio psicótico, o que justifica a hipótese de esquizofrenia.
Wellington exibia   um comportamento bizarro misturando   jogos de guerra,   citações   fundamentalistas  cristãs  e islâmicas, vindo até a  identificar-se com Bin Laden. Em seu delírio  psicótico,  evidenciado  em sua carta, Wellington separa promiscuidade de castidade, assassina crianças indefesas, e doa sua casa à  entidades  protetoras  de  animais abandonados. 
Precisamos consolidar a reforma psiquiátrica,


precisamos ampliar a rede de Centros de Atenção Psicossociais de base comunitária,   precisamos programar mais trabalho de rede, mais escuta e mais atenção biopsicossocial através de  serviços públicos bem equipados, com recursos humanos eficientes,  formados por equipes competentes e  efetivas que possam  sustentar vinculos terapêuticos por tempo indeterminado e que não estejam  embaraçadas por contratos terceirizados transitórios, para dar conta de tudo isso.
 Alexandre Passos,
especialista em Psicologia Clínica, Psicanálise e Saúde Mental.
Link para a matéria publicada no Jornal do Brasil Online:
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 Fonte:
CHRISTIAN ROSENKREUTZ 
CHRISTIAN ROSENKREUTZ 
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e aberto a estudantes e simpatizantes 
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