domingo, 14 de agosto de 2011

AVANÇO CIENTÍFICO, ÉTICA E RELIGIÃO



Fernando Altemeyer Júnior
Professor Ouvidor Público da PUC-SP

Na verdade, 
a ciência faz parte da procura do transcendental 
que é comum a outras tantas atividades culturais:
arte, música, literatura1.

É verdade que a Igreja não pode ser alheia à atividade científifica. Ela não teme o progresso científifico, mas o estimula, o honra e favorece a melhor utilização do mesmo em benefício da humanidade. 

Toda conquista da ciência 
constitui uma maior possibilidade de aproximação
entre os dois termos: Deus e o homem.

Por onde começar?

Se o colóquio for centrado no pólo científico, devemos enfrentar questões epistemológicas e metodológicas. Falaremos dos limites da ciência, sua natureza específica e as potencialidades reais desta lógica.

Se estiver centrado na ética, vamos tratar de objetos, de discursos e dos meios utilizados. Essa é outra lógica, em favor de um mesmo sujeito. As duas vertentes prometem uma farta colheita para pensadores desarmados.

No fecundo campo do saber humano, as ciências e a ética religiosa, no vasto universo da Teologia, produzem conhecimentos que pertencem a diferentes ordens ou lógicas. Uma deve reconhecer o estatuto cognitivo da outra. Afinal, este nosso pequeno mundo planetário e pluralista precisa valorizar o humano e a criação, e não apenas uma das partes da equação. É necessário superar a ignorância existente nesses dois campos do saber.

Não há avanço científico que esteja acima de um ethos cultural e social, e, a fortiori, toda ética deve falar à totalidade da existência humana; portanto, também à ciência e às suas conquistas, particularmente as tecnológicas. A ética estimula os cientistas em sua árdua missão, especialmente em seus momentos de genialidade, e pede aos cientistas que a ajudem a superar categorias morais obsoletas e inumanas.

As ciências constróem seu saber a partir do experimento e a ética, como discurso articulado da moral religiosa, faz seu caminho bebendo no poço da Revelação. Esta distinção de naturezas, de objetos e de método, sufi cientemente evidente em nossos dias, não foi sequer compreendida no alvorecer da ciência moderna.

Acreditava-se – erroneamente – que todas as narrativas bíblicas deviam ser tomadas ao pé da letra: criação do mundo em seis dias, Eva tirada da costela de Adão, Josué parando o sol em sua trajetória ao redor da terra, e, enfi m, a refutação de evidências ancestrais, ainda que incompreendidas, quanto ao heliocentrismo, que resultaram na condenação infame de Galileu Galilei (1564-1642) e, em termos diabólicos, na consumação do divórcio entre cientistas e teólogos.

O próprio Galileu procurou manter as narrativas dentro de seu apropriado universo lógico, e qualifi cou o avanço científi co como digno de credibilidade, por conta das vozes que o produziam. Não se pode considerar algo como errôneo por um julgamento apriorístico.
Vêmo-lo dizendo em famosa carta: 

Tal doutrina (heliocêntrica) não é,
portanto, ridícula, visto ser sustentada
por grandíssimos homens e, embora
o número destes seja pequeno,
em comparação com os seguidores
da opinião comum, isto é prova, antes,
da dificuldade de ser compreendida
do que de sua futilidade3.

Trágicos erros de interpretação como esses foram fontes de graves conflitos, como podemos ver, ainda, contra Charles Darwin, e mais recentemente, contra Pierre Teilhard de Chardin. Pouco a pouco, vamos resolvendo os impasses.

A autonomia da ciência, conquistada a duras penas na cristandade frente a certo obscurantismo cristão, é hoje perfeitamente reconhecida pela Igreja (“É certo que a investigação científi ca tem suas próprias leis às quais deve ater-se”4.), tanto no universo laico e civil, quanto nas universidades católicas.
A Igreja cristã reconhece que a ciência goza de verdadeira autonomia em sua pesquisa e produção de conhecimento, mas que não pode situar-se em uma racionalidade científica neutral, que normalmente quer destruir aquilo que não pode ou não quer compreender. É preciso, como diz Prigogine, construir uma nova aliança, entre os homens, mulheres, seus sonhos, conhecimentos e atividades científicas.

A ética religiosa cristã insiste em que a ciência deve estar a serviço de toda a humanidade e da busca comum da verdade. E que, entre elas, não deve haver oposição, mas sim uma relação mútua e complementar. O divórcio entre ciência e moral é um dos riscos mais graves aos quais está exposta a nossa época. A Congregação para a Doutrina da fé afi rma que: 

“ciência sem consciência, 
somente conduz à ruína do homem."

Método científico e suas descobertas incômodas
O emprego contínuo, fi el e paradigmático do método científico desenvolveu, ao menos no Ocidente, um espírito de crítica e de dúvida sistemática. O pesquisador científico somente acredita naquilo que pode verifi car pela experiência. O credo do cientista sempre tem três dogmas primordiais: objetividade, estrutura matemática do objeto e verificabilidade. Tal atitude d’ésprit, perfeitamente legítima nas ciências exatas, torna, muitas vezes, difícil o ato de fé no campo religioso e a conseqüente crítica de qualquer ética religiosa, pois são ouvidas como inverossímeis ou fantasiosas.

A matemática se converteu na única chave interpretativa de todo o cosmos, que perde seu caráter numinoso, sagrado e teológico. O silêncio da ética e dos teólogos (dizem!) faria surgir o esplendor da ciência, a qual superaria a síndrome de medo do homem diante da ideologia religiosa. Johann Kepler (1571-1630) já dizia que a compreensão geométrica do mundo é a que mais se aproxima da mente de Deus.

Para Kepler, a geometria “existiu antes da criação, é eterna como a mente de Deus, é o próprio Deus”6. A parcialidade e o mecanicismo da atual ciência moderna substituíram o modelo organicista e contemplativo do homem medieval. Ter-se-ia vencido a era das trevas. 

A dúvida cartesiana, 
o ceticismo de Hume 
e certo abuso da ciência estabeleceram 
uma ojeriza em relação à ética.

 O pensamento matematizado corresponde
ao físico mensurável, a lógica
relacional desloca a ontologia,
e a extensão à essência é captada intuitivamente.
A inter-relação entre a
filosofia cartesiana e a revolução científica é permanente. 
O mecanicismo,
centrado até o século XVII no movimento
local, é a base da física com
claras conotações desontologizadoras,
antifinalistas e antiessencialistas7.

Habituado por profi ssão a “deixar Deus às portas do laboratório”, os cientistas são tentados a eliminá-lo do mundo. Alguns deles, de grande e renomada autoridade na comunidade acadêmica, afirmam, sem poder, entretanto, prová-lo, que tudo se reduz à matéria e que o seu surgimento, quer do acaso ou da necessidade, nunca poderia ser fruto da criação ou de qualquer Criador. 

Essas afirmações “não-científicas” penetraram em muitos ambientes e tornaram-se um discurso comum, com raízes no nominalismo do século XIV. É como se, no laboratório, não penetrasse a ética e todo avanço científico fosse imediatamente bom, por ser avanço e por ser científico.

A fala ética cristã, nestes tempos de globalização e direitos humanos, não se funda nem navega nas águas do “oceano cientíco”, mas é salutar dizer que existem outros oceanos onde o humano pode morar, navegar e quiçá, por desejo ou sedução, mergulhar. 

Um desses inúmeros mares é o das artes; 
outro, o da Teologia; outro ainda, o da ética.

São mares que se tocam, águas que se confrontam. Cores distintas de suas águas, mas moléculas similares de um mesmo planeta. Lembramos Santo Tomás de Aquino: “a nossa fé não termina na formulação verbal, mas na realidade formulada.” É essa realidade humana que exige de nós uma outra aproximação entre ciência e ética, entre ciência e fé.

Será preciso estabelecer com rigor o método, a pertinência e o vocabulário próprios do diálogo. A ética a partir da Revelação e a ciência a partir de seus fundamentos autocríticos. Maravilhados pelos brilhantes e freqüentes avanços das ciências, e de sua fi lha bem-amada que é a tecnologia aplicada, muitos cientistas, no fi nal do século XIX e princípios do século XX, acreditaram que as ciências resolveriam todos os enigmas e mistérios humanos. 

O cientismo e o racionalismo 
pensaram e propuseram a eliminação
do espírito religioso e, a fortiori, 
da ética religiosa como lugar de conhecimento
e paradigma de humanidade.

Comte versus Bachelard e Kuhn
As ciências foram marcadas pelo pensamento positivista e as idéias de Augusto Comte (1798-1857). Além do método, ele propôs a lei dos três estados pelos quais os diferentes ramos do conhecimento passariam: o teológico, o metafísico e o positivo ou científi co, sendo este terceiro estado o clímax de todo o conhecer. Negar a teologia e a metafísica eram seus pressupostos essenciais. Para muitos, isto ainda permanece, mesmo que de forma velada e inconsciente.

Surgiram, depois, dois críticos dessa posição: Gaston Bachelard (1884-1962) e Karl Popper (1902-1994).
Bachelard problematiza a epistemologia, e a presença da poética, do imaginário e do devaneio para a formação do espírito científi co. Ciência é feita de método, mas também de dúvidas e devaneios.
Popper, por sua vez, crê que, quanto mais se puser à prova uma teoria, tanto melhor e frutífera ela será. O científi co é aquele que pode ser testado e refutado, e assim todo avanço científi co é uma freqüente superação de erros cometidos. Erros constróem a ciência, eis o paradoxo popperiano.
Dois outros críticos devem ser lembrados: Imre Lakatos (1922-1974) e Th omas Kuhn (1922).
Lakatos fala de um necessário “cinto de proteção”, de algumas coisas que podem e de outras que não podem ser refutadas, por serem postulados pré-aceitos por decisão metodológica.

Kuhn fala da ciência normal e da revolucionária, como dois estágios de comportamento dos cientistas e de sua comunidade epistemológica. A primeira vai até a crise de paradigmas; na segunda, ocorre o avanço da ciência, no momento que podemos chamar de “turning point”. Ele nos recorda a força comportamental dos membros da comunidade científi ca como um condicionante importante de todo empreendimento científi co.
Lemos em T. S. Kuhn:

 A violação ou distorção de uma linguagem
científica que previamente
não era problemática é a pedra de
toque do câmbio revolucionário8.

Durante este processo de construção da ciência moderna, alguns poucos se mantiveram vigilantes e humildes, como Niels Bohr, que afi rma ser fundamental ampliar o quadro conceptual, quer dos cientistas, quer de religiosos, pois:

... pontos de partida essencialmente
diferentes são adotados pela ciência,
que visa ao desenvolvimento de métodos
gerais de ordenação da experiência
humana comum, e pelas religiões,
que se originaram nos esforços
de promover uma harmonia de visão
e comportamento nas comunidades.

É claro que, em qualquer religião,
todos os conhecimentos compartilhados
pelos membros da comunidade
foram incluídos no arcabouço
geral, que tem como um de seus
conteúdos primordiais os valores e
ideais enfatizados no culto e na fé.
Por conseguinte, a relação inerente
entre conteúdo e forma mal chegou
a requerer atenção, até que o progresso
posterior da ciência acarretou
uma nova lição cosmológica ou
epistemológica. 

O curso da história
fornece muitas ilustrações quanto a
esses aspectos. Podemos nos referir,
em especial, ao verdadeiro cisma
entre ciência e religião que acompanhou
o desenvolvimento da concepção
mecanicista da natureza, na
época do Renascimento europeu.9

E termina a conferência:
...reconhecendo que nenhuma experiência
é definível sem um arcabouço
lógico, e que qualquer
aparente desarmonia só pode ser
eliminada por uma ampliação do
quadro conceptual.10
Atualmente, os cientistas são bem mais modestos, pois em seus próprios domínios e territórios demarcados se defrontam com interrogações muitas vezes insolúveis. Ouçamos Hawking falando de Deus ou sobre as perguntas essenciais:
A abordagem usual da ciência da
construção de um modelo matemático
não pode responder a questões
como por que deveria haver um
universo para o modelo descrever.
Por que o universo chega a todas as
preocupações do existir? 

A teoria unificada é tão constrangedora que
traz à tona sua própria existência?
Ou ela precisa de um criador, e, se
for assim, teria ele qualquer outro
efeito no universo? E quem o teria criado?

Até então, a maior parte dos cientistas
tem estado muito ocupada com
o desenvolvimento de novas teorias
que descrevam o que é o universo
para se fazer a pergunta por quê.

Por outro lado, as pessoas cuja tarefa
é fazer a pergunta porque, os filósofos,
não são capazes de se manter
atualizadas com as mais avançadas
teorias científicas.11

Surpresas científicas
Ampliar horizontes entre ciência e ética é tarefa difícil. Existem cicatrizes nos dois corpos. Há, no entanto, gente buscando novas palavras, lugares e desafi os para fecundar o encontro. Muitos dos cientistas envolvidos em debates interdisciplinares sabem que, por sua natureza própria, as ciências, todas e cada uma delas em particular, não podem propor, nem resolver a questão essencial do sentido da existência e da condição humana. O que não os impede de continuar a pesquisar, a se perguntar e a se extasiar com as surpresas do conhecimento. 

Aos olhos dos teólogos cristãos, as ciências e a ética religiosa tocam, cada uma à sua maneira, aspectos da verdade: longe de se opor, elas oferecem juntas, ao ser humano, possibilidades de compreender a criação em sua totalidade, isto é, em seus “comos” e em seus “por quês”.

As ciências podem, e muito, benefi ciar e purifi car a refl exão religiosa e sua práxis moral por meio de seu método rigoroso e de suas conclusões específi cas, como se evidenciou nos últimos séculos, quer na antropologia, quer na lingüística, ou ainda nas freqüentes propostas de modelos astrofísicos e cosmológicos. Isso se evidencia, também, na superação dos erros grosseiros, crenças supersticiosas e lugares-comuns existentes em muitas comunidades religiosas. Um exemplo foi a declaração do Papa Leão XII contra o uso da vacina da varíola, que ele qualifi ca de bestial, feita em 1829:

Quem quer que recorra à vacina
deixa de ser filho de Deus ... a varíola
é um juízo de Deus ... A vacina
é um desafio lançado ao céu.12

Por sua parte, a ética religiosa, vivida no universo da Teologia, supera o concordismo e o discordismo inócuos, buscando uma sadia articulação com a ciência. Ultrapassando o God of the gaps (deus das lacunas), poderemos chegar, outra vez, a experimentar o Deus absconditus (Deus escondido) por meio da teologia apofática. O deus dos matemáticos não é o Deus cristão. O físico e professor Marcelo Gleiser diz que é preciso ir ao campo das motivações mais profundas para estabelecer esta conversa, pois:

Se queremos encontrar um lugar
para a religião na ciência moderna,
devemos examinar as motivações
subjetivas de cada cientista, e não
o produto fifi nal de suas pesquisas.
Ao assumir essa posição, estou me
aliando a Einstein, que escreveu
que ‘religião sem ciência é cega, e
ciência sem religião é aleijada.13

O mesmo professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), pensa que:
Não iremos (e não devemos) encontrar
as palavras Deus ou religião num
manuscrito científifi co; contudo, acredito
que um componente essencialmente
religioso atua ainda hoje como
inspiração na pesquisa científica de
vários cientistas, do mesmo modo
que atuou, talvez de modo mais explícito,
na obra de Kepler e Newton.
Tudo depende de quão abrangente é
a nossa definição de religião.14

Podemos, com o uso da moral e da ética, quer na física nuclear, quer na biogenética, ou ainda na Internet, colocar questões quanto ao dever e à liceidade de certos procedimentos científi cos, experimentais e tecnológicos. Nem tudo que pode tecnicamente, o cientista deve fazer moralmente. Mesmo na era dó Genoma, símbolo da panacéia das ciências. O discernimento sobre os valores em jogo, sobre os resultados e meios usados, e a legítima autonomia dos sujeitos e dos povos, ainda hoje tratados como cobaias por laboratórios multinacionais, irrompem como três exigências impostergáveis.

Como exemplo, devemos enunciar aqui a Lei estadual número 10.241, de 17 de março de 1999, de autoria do médico sanitarista e deputado estadual (eleito federal) do PT, que dispõe sobre os direitos dos usuários de serviços de saúde no estado de S. Paulo. 

A lei reconhece a autodeterminação das pessoas frente ao mundo dos médicos e dos hospitais e, de maneira clara, assegura que o usuário seja identifi cado por seu nome ou sobrenome, extinguindo números ou códigos clínicos. Garante ainda que as receitas venham datilografadas ou em caligrafi a legível, e sem a utilização de códigos ou abreviaturas do esotérico mundo médico-científi co (cf. artigo 2).15 Os participantes da “Conferência Mundial sobre a Ciência para o Século Vinte e Um: Um Novo Compromisso”, reunidos em Budapeste, Hungria, de 26 de junho a 1 de julho de 1999, sob a égide da UNESCO e do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), em seu documento fi nal, buscam respostas semelhantes, em nível mundial:
Grande parte dos benefícios 

Grande parte dos benefícios da ciência
estão distribuídos de forma desigual,
como resultado de assimetrias estruturais
entre países, regiões, grupos sociais
e sexos. 

Na mesma medida em que
o conhecimento científifi co tornou-se
um fator crucial para a produção de
riquezas, a distribuição dessa riqueza
tornou-se ainda mais desigual. O que
distingue os pobres dos ricos (seja país
ou pessoa) não é apenas o fato de possuírem
menos recursos, como também
o fato de que estão largamente excluídos
da criação e dos benefícios do conhecimento
científifico (número 5).

Ainda de maneira inovadora, tal como exposto no número 87 deste documento:

Os governos devem apoiar a cooperação
entre os detentores do conhecimento
tradicional e os cientistas,
de forma a explorar as relações entre
os diferentes sistemas de conhecimento,
e de modo a promover
vinculações de benefício mútuo.

Questionar patentes, discutir e participar de comitês de ética na pesquisa, comprometer- se com as grandes multidões de excluídos, suscitar práticas solidárias de cientistas cidadãos são algumas das questões que vêm do mundo teológico e que, em geral, são bem recebidas pelos cientistas. Entre estes, citamos Willian Saad Hossne, diretor da Faculdade de Medicina da UNESP, e Sônia Vieira, professora de bioestatística da Unicamp, quando concluem seu livro dizendo que:

Afinal, não tem sentido usar pacientes
e despender recursos para produzir pesquisas
inúteis, porque não têm padrão
de qualidade, ou pesquisas abusivas, que
provocam o repúdio da sociedade.16

E a presidente eleita do ICSU – Conselho Internacional para a Ciência:
A ciência não tem todas as respostas,
mas pode e deve ajudar mais do
que tem feito.17

Concluindo, ou melhor, iniciando...
Será preciso ouvir as ciências com mansidão e respeito, e selar um novo pacto em favor da humanidade para vencer as carcomidas certezas e os mortíferos discursos dos “donos de verdades”. Quanto mais espessa é a ignorância, mais acredita ser possuidora da verdade (Henri de Lubac). Ciências exatas e teológicas mais responsáveis e coloquiais iniciarão, nesta nova Ágora, um discurso que seja uma porta transparente do transcendente. A atividade científica, exata ou teológica, terá em conta a norma moral e a totalidade da pessoa humana. Ética e fé cristãs não serão lesivas à atividade científi ca, mas este colóquio pode ser momento propedêutico no decifrar o enigma humano e o mistério de Deus. 

A ciência, como outrora a fi losofi a, não será escrava da ética. Como nos lembra Henri de Lubac: “non ancilla nisi libera.” Deste diálogo de iguais, podem nascer homens e mulheres livres e responsáveis. Como nos convida o padre e doutor Márcio Fabri dos Anjos: “uma posição simpática para os interlocutores”.18 E assim poderemos, um dia, chegar à síntese pascaliana:
Pensar faz a grandeza do homem.

O homem não é mais que um caniço,o mais frágil da natureza, mas é
um caniço pensante. um caniço pensante. Dois excessos:excluir a razão e não admitir nada além dela. Se nós submetermos tudo à razão, nossa religião não terá nada de misterioso ou de sobrenatural.

Mas, se nós formos contra os princípios da razão, 
nossa religião será absurda e ridícula.
Fonte:
APROPUC-SP
http://www.apropucsp.org.br/revista/r27_r08.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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