terça-feira, 30 de agosto de 2011

A RETOMADA DA EVOLUÇÃO - Teilhard de Chardin



A Retomada da Evolução

 
 
No capítulo sobre a formação da Noosfera, do Grupo Zoológico Humano, Teilhard procura nos convencer de que o Homem entrou agora no período da "Retomada da Evolução e Neo-cerebralização" e que a Humanidade está evoluindo «Em direção a mais cérebro» (GZH,  pp.148-150):
 
"Desse modo, no interior da Noosfera em vias de compressão, uma nova corrente se desenharia, especialmente central e direta : a cerebralização (efeito superior e parâmetro da curvatura cósmica), fechando-se sobre si mesma em um processo de auto-acabamento ; uma auto-cerebralização da Humanidade, tornando-se a expressão mais concentrada da retomada reflexiva da Evolução.*
 
*Aquí reaparece e se acentua, até tornar-se dominante, a distinção entre soma e phrên, colocada acima,  (GZH,  p. 57) - Com o aparecimento sobre a Terra da 'Socialização de compressão' (onde o fator mais importante não é mais simplesmente a multiplicação dos indivíduos, mas sim sua capacidade ultra-cerebralizante) estabelece-se de fato um novo regime de evolução biológica, no qual os indivíduos, funcionando ainda como elos por seu germen (prolongamento do 'phylético' no Humano, sob forma de fibras hereditárias sempre reconhecíveis, apesar de estarem cada vez mais entrelaçadas), afirmam-se principalmente pelo seu phrên, como elementos constitutivos do 'cérebro noosférico' (órgão da reflexão coletiva humana)."

A Evolução, Teilhard nos afirma, não chegou a seu fim ; ela retoma seu curso, no mesmo processo de curvatura sobre si mesma, mas desta vez como uma Evolução consciente de si mesma, originando uma nova etapa da Noogênese, que não cessou depois da criação da Noosfera. Muito pelo contrário, através da super-população da Terra, a Noogênese está progredindo, debaixo de nossos olhos cegos, de salto em salto, em direção ao futuro.
 
Então, como reconhecer esse progresso, esta nova etapa da Noogênese ? Haverá esperança de uma verdadeira consciência planetária no terceiro milênio ? Ousaremos esperar uma era onde a matéria será posta a serviço do Espírito, ao inverso do que acontece hoje ? Se a resposta é sim, como se efetuará essa mudança ?

Segundo Teilhard, ssa retomada da Evolução acontece através de mutações sutís, de geração em geração, como um continuum, seguindo o phylum genético, que tem sua origem nas sombras do enorme Passado do Homem. Ela é visível a nossos olhos alertas em pequenas nuances que podem ser observadas de modo notável no espaço de algumas gerações. Vejamos o fenômeno da Prolepse, ou seja, a diferença de altura entre uma dada geração e sua descendência. Nesse caso, a geração F2 é mais alta do que a geração F1. É um fenômeno já estudado pela Ciência há algumas décadas, anteriormente mais disperso, mas atualmente mais frequente. Observado antigamente somente nos povos do Norte da Europa, mas hoje em dia é evidente nos povos do mundo inteiro, sem distinção de raça ou de consangüinidade.
 
Paralelamente a essa mutação, há uma outra diferença no QI das gerações mais jovens, onde se pode obervar facilmente uma sensível diferença a favor das gerações F2. Isso vem provar, lembrando-nos da "Lei de Complexidade-Consciência" que rege a Evolução, tendo em mente o desenvolvimento das estruturas do cérebro, que se trata de um movimento de Cerebralização. É uma complexificação cerebral, tanto física como psíquica : física, levando-se em conta a especialização dos neurônios com o aumento de comprimento das fibras nervosas, necessário para ocupar maior espaço em um corpo físico de altura maior e com um cérebro mais complexo ; e psíquica, em relação ao comportamento do Homem, que, seguindo a lei principal, torna-se mais consciente de si mesmo e agora procura maior Individuação, em uma convegência interior que está em harmonia com a direção evolutiva.
 
Esse movimento de Cerebralização através de mutações psíquicas, como também físicas, prepara a próxima etapa evolutiva, porque, como Teilhard nos explica, "A Evolução é uma transformação primordialmente psíquica" (PH p. 163). Diante dos "limites orgânicos do cérebro," o movimento, no futuro, seria no Espírito da Humanidade  (A Sobrevida, PH IV p. 280) .
 
["... Elevando-se em direção aos maiores complexos, o mesmo elemento 'psíquico,' desde seu primeiro aparecimento nos seres humanos, manifesta, em relação à sua matriz de 'complexidade,' uma tendência ao domínio e à autonomia. Nas origens da vida, poderia parecer ser a sede de organização (F1) que, em cada elemento individual, engendra e dirige seu centro relativo à consciência (F2). Entretanto, subindo mais alto, o equilíbrio se inverte. Sem engano, desde o primeiro "passo individual da reflexão" --- se não antes --- é F2 que começa a se encarregar ('por invenção' ?) do progresso de F1. Depois, subindo mais alto ainda, ... chegando-se no limiar (conjecturado) da reflexão coletiva, encontramos F2 destacando-se aparentemente de sua limitação temporo-espacial para se unir à sede suprema e universal Omega. Depois da emergência, vem a emersão. Nas perspectivas da involução cósmica, não apenas a consciência torna-se co-extensiva ao universo, mas o universo continua em equilíbrio e em consistência, sob a forma de pensamento, em um pólo supremo da interiorização." (Postscriptum, PM  p. 309) ]
Uma questão surge nesse ponto, mas impossível de se provar, tão escondida ela está na duração do Tempo, no próprio começo da hominização, que é a seguinte : Trata-se de um só phylum genético, ou por outro lado, de diversos phyla ? Se fossem diversos phyla, isso explicaria a diferença das raças humanas e o povoamento dispersivo inicial, aparentemente sem lógica, ao acaso, mas logo agrupando-se e estabelecendo-se em zonas demarcadas do planeta.
 
Esta questão deve talvez ter sido levantada e estudada pelos cientistas modernos, que com os avanços da Ciência Moderna, dispõem agora de infinitos recursos para levantar o véu de alguns dos antigos "mistérios".
 
Na opinião de Teilhard, "todos os ramos humanos unem-se geneticamente em baixo da escala, no próprio ponto da reflexão." ((PM p. 188) Em uma nota no rodapé da mesma página, ele acrescenta sua convicção de que a Ciência do Homem poderia pronunciar-se a favor do monophyletismo ( apenas um phylum genético).
 
É esta, em essência, a explicação de um só phylum genético no início. Não é provável que a Ciência possa provar empiricamente a verdade da teoria dos diversos phyla. É pena, pois isso nos deixa no campo perigoso das perguntas sem resposta, que se referem à nova dimensão do Homem e de seu psiquismo.
 
Assim, quando se vai exminar o comportamento do Homem Moderno, é preciso dar-lhe um sentido ; perscrutar sua motivação final ; e não nos perdermos em considerações tão detalhadas de sua estrutura física, tão aperfeiçoada, que vem coroar a Evolução. Mas, para que esse fenômeno humano tenha um sentido, é preciso supor uma outra estrutura dinâmica no Homem, que seria seu Espírito, sua alma, esta não possuindo um "locus" palpável em todas essas ramificações especializadas cerebrais ; mas a qual vai orientar seu comportamento psíquico daquí por diante, em direção a maior desenvolvimento espiritual para a Era da consciência coletiva no futuro.
 
Teilhard tinha a convicção de que "a caminhada da Humanidade, prolongando a de todos os seres vivos, desenvolve-se incontestavelmente no sentido de uma conquista da matéria, posta a serviço do Espírito,... o Pensamento aperfeiçoando artificiosamente o próprio órgão de seu pensamento, a vida retomada para adiante sob o efeito coletivo de sua Reflexão." ( A Sobrevida, PH IV p.250 )*
 
(* Para citações mais detalhadas do último livro do Fenômeno Humano, cf. (A Sobrevida, PH IV) :
Infelizmente, neste fim de milênio, pode-se perguntar se "a caminhada da Humanidade" não se enganou de estrada, pois ela parece caminhar, de preferência, em direção a uma Era onde o Espírito seria colocado a serviço da Matéria.
 
No desespero de encontrar "paz sobre a Terra," sem mesmo pensar na paz dentro de si ; para fugir aos conflitos da Terra ; para se afastar das forças negativas de desintegrção, de repulsão, de materialização, de mecanização, de totalitarismo e de falsas ideologias que destroem a reflexão, o homem pensante de hoje interioriza-se, curvando-se sobre si mesmo em busca de maior Individuação. Ele tende a se isolar e procura "tornar-se mais solitário para Ser mais profundamente." (A Sobrevida, PH IV pp. 237-238) Pelo excesso de sua individualização e de sua luta pela vida, ele se engana, sucumbindo facilmente à sobrevivência do mais apto e ao racismo, ou então ele sonha em fugir dos outros e da Terra, procurando outros planetas ou outras dimensões de existência...
 
 


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Fonte:
http://pteilhard.sites.uol.com.br/2.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
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