domingo, 16 de outubro de 2011

Baruch Espinosa - AudioBook - O Deus de Espinosa.


O DEUS DE SPINOZA

Spinoza E A Sua Visão Acerca De Deus

       Ernest Renan, ao discursar sobre Spinoza na inauguração de um monumento dedicado a este em Haia, disse que o filósofo holandês foi o filósofo que mais aproximou-se de Deus em suas concepções. Elevado por altos sentidos do seu sentido de existir como um ente pensante, o solitário pensador e humilde polidor de lentes, com toda a sua humildade mais alta ainda por escolher viver uma vida simples, com toda a sua suave genialidade verdadeira, com toda sua sabedoria gigantesca, aproximou-se verdadeiramente do Verdadeiro Deus Verdadeiro.
Ele É a Substância e nós, humanos, 
somos como que modos de atributos condicionados
por ela a nos expressarmos existentes.
Imanente a nós Ele É, mas isso não significa que Deus seja igual a nós; pelo contrário, estando e sendo incondicionado vivente em tudo, a Natureza em seu Todo, Deus é uma essência única que não pode ser dividida em essências que por si mesmas são múltiplas. Acompanhando esta multiplicidade, advém finitude, outra característica inexistente em Deus, o qual é Uno, indivisível e infinito.
É um erro pensar que Spinoza identifica 
diretamente o Verdadeiro Deus com tudo o que há, 
como se o Verdadeiro Deus fosse um ente
comum passível de ser definido 
pelos termos comuns humanos.
       Spinoza utilizou em sua obra, Ética, o método geométrico e este filósofo utiliza o método aritmético para exemplificar explicativamente a visão filosófica do Verdadeiro Deus Verdadeiro sob o ponto de vista dele. Têm-se dado sempre como incontestável e infalível a seguinte operação matemática de soma: 2+2=4. Digamos que o primeiro 2 seja a Substância e o segundo 2 os entes moldados a partir dela.
 (Substância)
São números
visualmente homogêneos extrinsecamente
e heterogêneos intrinsecamente, 
variando na qualidade, 
na quantidade 
e na potencialidade existencial. 
Como qualidade, quantidade e potencialidade, o primeiro 2 é eterno, infinito e capaz de toda realização fenomenal; e o segundo 2 é efêmero, finito e capaz de realizações possibilitadas pelas suas propriedades limitadas. Se os dois 2 forem somados, o resultado nunca seria 4 porque isto implicaria em erro grosseiro absoluto, que seria o de igualar a Substância com os entes moldados, o Eterno com o efêmero, o Infinito com o finito e a capacidade de efetuar todas as realizações fenomenais com a capacidade de efetuar algumas através de propriedades limitadas. Tanto geometrica como aritmeticamente é implausível essa identidade; se esta fosse possível, o termo panteísmo dado à filosofia de Spinoza estaria correto.

       E tudo isso está contido no título dado ao livro maior de Spinoza, Ética, no qual, conforme o comentador da tradução portuguesa desta obra, Joaquim de Carvalho, diz na introdução: “O título que Spinoza deu à genial sistematização é de si suficientemente claro ―, e que não o fosse, a sucessão das partes que a compõem e o ritmo interno do pensamento mostram sem sombra de dúvida a prevalência da problemática ética sobre a problemática teorética”.
E o ético, 
o moralmente ético,
o que eleva e leva o Homem, 
como ente possível civilizado, 
ao cume de altas realizações, 
é o objetivo maior do genial filósofo holandês.
“Ensinou-me a experiência 
que tudo o que ocorre freqüentemente na vida que habitualmente se leva é vão e fútil. Dei-me conta de que coisas que eram para mim objeto de temor nada tinham de bom e de mau, senão enquanto o ânimo era por elas excitado; por isso, resolvi investigar se existia algum objeto que fosse um verdadeiro bem, capaz de se comunicar, e pelo qual a alma, renunciando a tudo o mais, pudesse ser afetada exclusivamente ―, um bem cujo descobrimento e alcance me dessem a fruição para sempre de uma alegria contínua e suprema.” 
E o objetivo ético maior desse bem, presente na Ética, é o do definidor termo lógico de presença da eticidade acima da teoreticidade; adotando uma moral livre de toda abordagem teórica limitadora do conhecimento, o ente humano alcança a Verdadeira Verdade acerca do Verdadeiro Deus Verdadeiro.


       Ética: “Para Spinoza: 
a Ética deve libertar o Homem de sua servidão no que respeita aos sentimentos e ensiná-lo a viver conduzido pela Razão; opondo-se aos preconceitos e às superstições, pressupõe o conhecimento especulativo de Deus, substância única que possui uma infinidade de atributos e conduz à beatitude”.
E todo este conceito ético está poderosamente contido na obra e a esta rege com uma logicidade racional sensata envolta em criativa essencialidade.
“A força do espinosismo é afirmar na Ética, 
demonstrada segundo a ordem dos geômetras, a inteligibilidade total do Ser. Deus é uma substância, ou seja, um ser causa de si e concebido por si próprio, dispondo de uma infinidade de atributos infinitos.
O pensamento e a extensão são dois atributos de Deus, que não tem qualquer ação um sobre o outro, constituindo as idéias e os corpos os seus modos finitos. Tudo o que é em Deus, e nada pode sem Deus ser ou ser concebido.
Sendo Deus, ou seja, a natureza, apenas uma causa imanente, o finito necessita, para existir ou produzir um efeito, da mediação de um outro finito: existe somente inserido numa ordem de causas que Spinoza é o primeiro a formular em termos mecanistas”. Mecanicamente, a ordem de todas as coisas moldadas pela Substância segue um propósito por esta delineado, um curso lógico absorto em fenômenos que complementem-se. Dessa mecânica universal do Todo, condicionada pela incondicionada Substância, nascem os atributos divinos que condicionam o existir e o subsistir da fenomenalidade.

       Deus, a Natureza naturante (natura naturans), os atributos; e os seus modos de ser, a Natureza naturada (natura naturata): “O entendimento em ato, quer ele seja finito quer infinito, assim como a vontade, a apetição, o amor, etc., devem ser referidos à Natureza naturada e não à Natureza naturante”. E esta mesma Natureza naturante é um eterno criar, um eterno movimentar de si mesma em todos os seus modos fenomenais de existencialidade:
“A potência de Deus 
é a sua própria essência (I, XVI, cor.2; XXXIV), pelo que se não pode entender a afirmação de que ‘Deus, ou por outras palavras, todos os atributos de Deus são imutáveis’ (I, XX, cor.2) no sentido de Deus ser inerte. Pelo contrário; a produtividade é coessencial ao ser divino, de tal maneira que não pode dizer-se que Deus existe e cria, senão que é o próprio criar. 
Conseqüentemente, Deus não é concebível independentemente da sua atividade, sendo em virtude dela, ou por outras palavras, das leis da sua própria natureza, a causa eficiente da essência e da existência de tudo o que existe (I, XVI, cor 1; XVII, XXIV,cor., e XXV), por forma que coisa alguma tem em si mesma o poder de agir, isto é, fora de Deus não existe nenhuma causa eficiente (I, XXVI e XXVII). Deus é , pois, a ‘causa única’ (Ét, II, X, esc.)”.


       E a causa única 
encontra-se acima da modulação humana 
inerente ao procurar causas diretamente ligada a fatos: 
“‘Estabeleço em primeiro lugar’, escreveu Spinoza numa carta (Ep. 23) a Guilherme de Blyenbergh, em 13 de março de 1665, ‘que Deus é, absoluta e efetivamente, causa de tudo, seja o que for, que tem uma essência. Se puderdes demonstrar que o mal, o erro, o crime, etc., exprimem uma essência, concordarei inteiramente que Deus é causa dos crimes, do mal, do erro, etc. 
Creio, porém, ter demonstrado suficientemente que o que dá forma ao mal, ao erro, ao crime, não consiste em algo que exprima uma essência, pelo que se não pode dizer que Deus seja a causa de tais coisas...’; 
‘...Tudo o que existe flui necessariamente 
das leis eternas e dos decretos de Deus 
e dele depende continuamente, mas as coisas diferem 
mutuamente em grau e na essência. 
Assim, embora o rato como o anjo, 
a tristeza como a alegria, dependam de Deus,
nem por isso o rato é uma espécie de anjo
e a tristeza uma espécie de alegria...’”  
Aqui está presente a diferenciação elementar de características existenciais entre os seres moldados e entre as afecções. Claramente não se pode querer ver em um rato as capacidades de um anjo, mesmo que dito rato falasse, voasse e possuísse superpoderes, como vê-se ocorrer com o personagem de desenhos animados Super Mouse. E não se pode confundir a alegria com a tristeza, mesmo que esta seja negada; um indivíduo pode aparentar alegria imensa externamente, mas interiormente assola-o uma tristeza intensa; ele procura sorrir e divertir-se para esquecer por alguns instantes a sua tristeza, contudo esta vive nele como tristeza e não como uma alegria transmutada em pouca alegria, mínima alegria. 
A diferenciação Spinoza via 
como essencial para compreender-se a totalidade
que jaz na Substância, esta que move o rato,
o anjo, a alegria e a tristeza.
         Spinoza via igualmente a diferença ontológica entre Deus e as coisas moldadas apesar de sua unicidade substancial. Confundi-lo com um reles panteísta é irracionalmente considerá-lo, é dar-lhe um valor impregnado de desconhecimento sobre a sua filosofia. Spinoza não é um panteísta, mas um narrador cósmico do grande movimentar cósmico de todas as coisas no Verdadeiro Deus Verdadeiro. Fora deste não há libertação existencial possível no mecanicismo cósmico universal da realidade e da idealidade. Findo os meus estudos com esta última observação: 
“Nascendo ignorantes das causas 
do acontecer e com a tendência a apetecer 
o que parece ser-lhes útil, os seres humanos 
imaginam-se livres no exercício da vontade 
e crêem que a atividade humana tem por fim a utilidade 
e que a própria Natureza foi disposta por um ou alguns Entes transcendentes e onipotentes a agir em ordem e determinados fins”.
                     
A Substância determina
 E jamais
É determinada
No Kosmos,
Na Verdade,
No Ser,
 No Ver,
No Ter,
 No Sentir,
 No Pensar,
No Termo,
De Ser,
Substância!

1.4. Acredito no Deus de Spinoza: Einstein

 

Albert Einstein


















 Albert Einstein (1879-1955), físico alemão de origem judaica que dispensa apresentações[8], quando, em 1921, perguntado pelo rabino H. Goldstein, de New York, se acreditava em Deus,  respondeu:

“Acredito no Deus de Spinoza, 
que se revela por si mesmo 
na harmonia de tudo o que existe,
e não no Deus que se interessa 
pela sorte e pelas ações dos homens”[9]
Nesta mesma ocasião, o cardeal O’Connel, de Boston, publicou uma declaração na qual dizia que a teoria da relatividade “encobre com um manto o horrível fantasma do ateísmo, e obscurece especulações, produzindo uma dúvida universal sobre Deus e sua criação”[10].

Posteriormente, em uma carta escrita em Berlim a um banqueiro do Colorado, datada de 5 de agosto de 1927, Einstein explica: “Não consigo conceber um Deus pessoal que influa diretamente sobre as ações dos indivíduos, ou que julgue, diretamente criaturas por Ele criadas. Não posso fazer isto apesar do fato de que a causalidade mecanicista foi, até certo ponto, posta em dúvida pela ciência moderna. 

Minha religiosidade consiste em uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se revela no pouco que nós,  com nossa fraca e transitória compreensão, podemos entender da realidade.

A moral é da maior importância
- para nós, porém, não para Deus”[11].
No artigo Religião e Ciência, que faz parte do livro Como vejo o mundo, publicado em alemão em 1953, Einstein escreve: “Todos podem atingir a religião em um último grau, raramente acessível em sua pureza total. Dou a isto o nome de religiosidade cósmica e não posso falar dela com facilidade já que se trata de uma noção muito nova, à qual não corresponde conceito algum de um Deus antropomórfico (...) Notam-se exemplos desta religião cósmica nos primeiros momentos da evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas. 

Em grau infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmos (...) Ora, os gênios religiosos de todos os tempos se distinguiram por esta religiosidade ante o cosmos. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à imagem do homem, portanto nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de que hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma superior de religião. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por  suspeitos de ateísmo, e às vezes, também, de santidade.

Considerados deste ponto de vista,
homens como Demócrito,
Francisco de Assis e Spinoza 
se assemelham profundamente”[12].

Bibliografia:
Auroux, Silvain e Weil, Yvonne. Dicionário De Filosofia
― Temas E Autores.Clément, Elizabeth; Demonque, Chantal; 
Hansen-Love, Laurence; e Kahn, Pierre. Dicionário Prático De Filosofia.

Spinoza, Baruch de. Ética.Inominável Ser
-Enviado por Inominável Ser em 30/10/2006-
Reeditado em 30/10/2006-Código do texto: T277128
Fonte:
Recanto das Letras
Enviado por em 30/07/2011
artigo: http://marcosself.wordpress.com/2011/08/01/o-deus-de-baruch-espinosa/
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/277128 
http://www.airtonjo.com/cosmologia02.htm

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