sábado, 24 de dezembro de 2011

JUNG , O ALQUIMISTA DA ALMA

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Jung: Vida e obra

Resumo da obra de: Nise da Silveira

Carl Gustav Jung 
nasceu em 26 julho de 1875, em Kesswil,
aldeia pertencente ao cantão da Turgovia, Suíça.
Seu pai , Paul Achilles Jung,
aí exercia as funções de pastor protestante. 

O menino Carl Gustav 
tinha quatro anos quando o pai 
foi transferido para Klein ~ Huningen,
nos arredores de Basiléia. 
 
Foi em Basiléia onde Jung fez todos os seus estudos inclusive seu curso medico. Esta cidade era, na época, um dos mais importantes centros culturais da Europa. Basta lembrar que Nietzche deu cursos memoráveis na universidade de Basiléia no período de 1869-1876. também ecoava ainda naqueles dias a fama do reformador da faculdade de medicina de Basiléia, Carl Gustav Jung, avô paterno do futuro psicólogo, que recebeu o nome do seu ancestral ilustre. 

No seu livro de MEMÓRIAS, Jung não escondia as restrições q fazia ao pai. Desde muito cedo ele viu no pastor um homem estagnado, numa condição medíocre, a quem lhe faltaram forças pra seguir sua linha própria de desenvolvimento; o homem que não enfrentava as duvidas religiosas que o atormentava, segundo parecia ao filho.o pasto teima as experiências religiosas imediatas, agarrava-se a fé, amparava-se na bíblia e nos dogmas. 

Jung nunca poderia aceitar tal atitude. Sentia muito mais afim com sua mãe. Menino ainda, descobriu que existiam nela duas personalidades. Uma convencional, correspondente a esposa de um pastor, que exigia boas maneiras e fazia-lhe boas recomendações pertinente sobre o modo de usar o lenço ou coisa semelhante. E outra, investida, de estranha autoridade, misteriosa, dotada de algo que as vezes lhe infundia medo. Quando esta segunda personalidade emergia, o menino C. G. Jung percebia a voz de sua mãe que soava mais rave e mais profunda.

É curioso assinalar que nas memórias de Jung não se encontre referencia a nenhum período de fervor religioso vinculado ao protestantismo nem mesmo na infância. A idéia de Deus entretanto fascinava-o intensamente. E o mais singular é que as cogitações do filho do pastor não girava em torno da figura de cristo. Tema fundamentalmente dos ensinamentos protestantes. Em comparava o que lhe diziam com aquilo que via em torno de si. Impressionava-se com os 

“ imerecidos sofrimentos 
do homem e dos animais” 
e isso levava-o a imaginar que Deus
houvesse mesmo intencionalmente
um mundo repleto de contradições.

O menino pensava e sentia Deus
como uma poderosa força avassaladora 
que trazia consigo bem-aventurança 
mas também desespero e terror.
 
Guardava secretos esses pensamentos. A quem poderia comunica-los se era tão diferentes de tudo quando se dizia na igreja ou em casa, nas conversações do pai também pastores? Vinha-lhe então o sentimento de que algo muito profundo o separava dos demais.
O problema de escolha de profissão não foi fácil. 

Tudo o interessava. 
Arqueologia o atraia e simultaneamente
as ciências naturais.por fim decidiu-se pele medicina. 
 
A família contou com a ajuda de uma bolsa, pois era demasiadamente pobre.aconteceu que quando se preparava pra o exame de psiquiatria do currículo medico, leu no prefacio do tratado de Krafft~Ebing conceitos que o atingiram em cheio, abrindo-lhe a inesperada perspectiva de que, na psiquiatria, seus interesses pela filosofia pelas ciências naturais e medicas, poderiam encontrar um foco vivo de convergência. Imediatamente para surpresa geral escolheu a psiquiatria.

Jung conclui seu curso medico em 1900, aos 25 anos, e logo deixa a Basiléia para vir ocupar o cargo de segundo assistente no hospital Burghozli, de Zurique (10 de dezembro de 1900) este hospital vivia na ocasião um período de intensa atividade cientifica. Sob a direção de Eugen Bleuler, sem duvida um dos maiores psiquiatras de todos os tempos.

Somente em 1907 Jung entro em contato com Freud. No dia 27 de fevereiro daquele ano Jung visitou Freud em Viena, e esta primeira visita prolongou-se por treze horas a fio de absorvente conversação. Freud logo reconheceu o alto valor de Jung e viu no Suíço, no não judeu, o homem adequado pra conduzir avante a psicanálise. Mas sobre tudo viu nele “um filho mais velho”, um “sucessor e príncipe coroado”(carta de Freud à Jung, datada de 16/04/1909)
Em 1910 foi fundada a associação psicanalítica internacional. Freud usou toda sua influencia para que Jung fosse eleito o presidente dessa associação e assim aconteceu. Mas já, em 1912, o livro de Jung. 

METAMORFOSES 
E SIMBOLOS DA LIBIDO 
marcava divergências doutrinarias profundas 
que o separaram de Freud.
Aos 38 anos (1913) Jung havia cumprido largamente todas as tarefas da primeira metade da vida. Tinha constituído família e afirmara-se no campo profissional. Agora ia abrir uma nova faze na sua vida.abandonando a carreira universitária. Começava um difícil período de solidão.

Começava um período de ativação do inconsciente, de intensas experiências interiores. Atento aos fenômenos que desdobravam no intimo de sí próprio, aprendeu o fio e a significação do curso que tomava, verificando que outra coisa não acontecia senão a busca da realização da personalidade total (processo de individuação).

Para que o individuo não seja tragado pelo inconsciente, adverte Jung, é necessário manter-se firmemente enraizado na realidade externa, ocupar-se de sua família de sua profissão. E, sem perder o ânimo, encarar face a face as imagens do inconsciente. Certo, a tarefa é difícil. Para levá-la a termo sem nenhuma ajuda, segundo Jung o conseguiu, o requisito prévio será a existência de um ego bem estruturado e coeso, pois o processo inconsciente terá de ser continuamente ligado ao inconsciente.

A obra de Jung é comparável 
a um organismo vivo que cresce,
se desenvolve,e se transforma 
simultaneamente com seu autor. 
 
O conjunto das obras completas de Jung consta, na edição inglesa de 18 volumes afora numerosos seminários mimeografados, pertencente ao instituto C. G. Jung de Zurique.
Um psicólogo, toda sua vida em busca do fundo psíquico comum a todos os homens (inconsciente coletivo), eternamente sob as diferentes peculiaridades individuas, locais, nacionais, raciais, históricas... para a ele a alma tinha a mesma estrutura básica. 

De modo algum foi Jung
um melancólico que fugisse do mundo. 
 
Sua jovialidade era conhecida e comentava-se a riqueza da gama de seus risos. estava sempre pronto pra relacionar-se com outra pessoa. “não quero libertar-me nem dos seres humanos, nem de mim mesmo, nem da natureza, porque tudo isso apresenta-se pra mim como o maior dos milagres”
Cada ano Jung prolongava por mais tempo sua estadia em sua casa de campo. Na primavera de 1961 não chegou a ir pra lá. Adoeceu. E na tarde de 6 de junho morreu tranquilamente.

Pode aplicar Jung o "aquilo "
que ele próprio disse referindo-se a Paracelso: 

“e do mesmo modo 
que ele apanhava em torno de si, 
sem nenhum preconceito, a matéria prima
para sua experiência exterior, ai busca também 
nas trevas primitivas de sua alma as idéias filosóficas 
fundamentais de sua obra”.

A ENERGIA PSÍQUICA E SUAS METAMORFOSES

Seguindo o método de acompanha cronologicamente, tanto quanto possível, o desenvolvimento da obra de Jung em estreita conexão com sua biografia, começaremos comentando o livro SIMBOLOS DE TRANFORMAÇAO, publicado em 1912, com o titulo TRANSFORMAÇOES DE SÍMBOLOS DA LIBIDO. Foi neste livro onde Jung apresentou, pela primeira vez, seu conceito de energia psíquica. Enquanto Freud atribui à libido significação exclusivamente sexual, Jung denomina libido energia psíquica tomada num sentido amplo. 

Energia psíquica e libido 
são sinônimos. 

Libido é apetite,
é instinto permanente de vida 
que se manifesta pela fome, sede, 
sexualidade, agressividade, necessidades 
e interesses os mais diversos. 

Tudo isto esta compreendido
no conceito de libido. 
 
Entretanto Jung não chegou a essa formulação através dos caminho das reflexão fisiológica. Foi a ela conduzido pela observação empírica, no seu trabalho de medico psiquiatra. Será inevitável, portanto, que de novo penetremos no caminho da psiquiatria. Atento a conduta do doente, pergunta Jung: a perda do contato com a realidade, na esquizofrenia, resultaria da retração do interesse libidinal, na acepção de interesse erótico? Freud sustentava essa opinião. 

Jung não aceitou que o contato com a realidade fosse mantido unicamente através de “afluxos de libido”ou seja de interesse erótico. Verificava em seus doentes não só perda de interesse sexual mas de todo os interesses que ligam o homem ao mundo exterior. Para esta de acordo com Freud seria, portanto, necessário admitir que toda relação com o mundo era, na essência, uma relação erótica. Isso pareceu a Jung inflação excessiva do conceito de sexualidade. Sua posição desde o inicio foi esta.

No prefácio do livro PISICOLOGIA DA DEMÊNCIA PRECOSE, havia escrito: “fazer justiça a Freud não implica, como muito temem, submissão incondicional a um dogma; pode-se muito bem manter um julgamento independente. Se eu, por exemplo, aceito, os mecanismos complexos dos sonhos e da histeria, isso não significa que eu atribua ao trauma sexual infantil a importância exclusiva que Freud parece conceder-lhe. Ainda menos isso significa que eu coloque a sexualidade tão predominantemente no primeiro plano ou lhe atribua universalidade psicologia que Freud lhe atribui, dado ao papel enorme que, decerto, sexualidade desempenha na psique”. Note-se que este prefácio esta datado de julho de 1906.

Daí se vê que entre Freud e Jung 
não existe relação do tipo mestre-discípulo, 
segundo se repete tão frequentemente.
A verdade é que Jung nunca 
deu sua total adesão a Freud. 
 
Apesar de divergências abertas ou latentes, os anos de colaboração estreita entre Jung e Freud(1907-1912) foram, sem duvida, muitos fecundos para a psicanálise. O desentendimento decisivo surgiu, fora provocado pelo conceito de libido, entendida como energia psíquica de uma maneira global, apresentado por Jung, em METAMORFOSE E SÍBOLOS DA LIBIDO.

Todos os fenômenos psíquicos 
são de natureza energética.
Os complexos são nós de energia.
Os arquétipos são núcleos de energia 
em estado virtual e que os símbolos 
são maquinas transformadoras de energia.

ESTRUTURA DA PSIQUE
INCONSCIENTE COLETIVO

Poder-se-á representar a psique 
como um vasto oceano (inconsciente) 
no qual emerge pequena ilha (inconsciente).
CONSCIENTE - Na área do conciente desenrolam-se as relações entre conteúdos psíquicos e o ego, que é o centro do consciente. Para que qualquer conteúdo psíquico torne-se consciente terá necessariamente de relacionar-se com o ego. Os conteúdos que não entretêm relação com o ego constituem o domínio imenso do inconsciente.

INCONSCIENTE – Na psicologia Junguiana, compreende inconsciente pessoal e coletivo. PESSOAL – essa denominação refere-se as camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o inconsciente são bastante imprecisas. Onde esta as recordações...

COLETIVO – corresponde as camadas mais profundas do inconsciente, aos fundamentos estruturais da psique comum a todos os homens.

“Do mesmo modo 
que o corpo humano
apresenta uma anatomia comum, 
sempre a mesma, apesar de todas as diferenças raciais, 
assim também a psique possue um substrato comum. 
 
Chamei esse substrato de inconsciente coletivo. Na qualidade de herança comum transcende todas as diferenças de culturas e atitude consciente, e não consiste meramente de conteúdos capazes de tornarem-se consciente, mas de disposições latentes para reações idênticas. 

Assim o inconsciente coletivo é simplesmente a expressão psíquica da identidade da estrutura cerebral independentes de todas as diferenças raciais. Deste modo pode ser explicada a analogia, que vai mesmo ate a identidade, entre vários temas míticos e símbolos, e a possibilidade de compreensão entre os homens em geral.

As múltiplas linhas 
de desenvolvimento psíquico 
partem de um tronco comum cujas raízes 
se perdem muito longe num passado remoto”.
Do amargo do inconsciente coletivo Jung descobre um centro ordenador – SELF (si mesmo). Desse centro emana inesgotável fonte de energia. Seu papel é importantíssimo na psicologia jungueana. Em determinada circunstancia esse centro corresponde ao SUPEREGO da psicologia Freudiana. 

Quando a renuncia dos desejos egoístas ocorre por temor da opinião publica e dos códigos, conforme acontece ordinariamente, isso significa que o self permanece inconsciente e, nesta contradição, projetasse no exterior, identificando-se à consciência moral coletiva. Neste caso, o self superego coincidem, mas desde que o self torne-se perceptível como fator psíquico determinante, então a renuncia as exigências egoístas não será mais motivada pela pressão da moral coletiva, porem pelas próprias leis internas inerentes, de modo inativo ao self. Em tais circunstâncias esta instância deixa de coincidir com o superego.


O inconsciente coletivo funciona, na interpretação psicológica, como o denominador comum que reúne e explica numerosos fatos impossíveis de entender, no momento atual da ciência, sem sua postulação. Enquanto o inconsciente pessoal de conteúdos cujo a existência decorre de experiências individuais, o coletivo são impessoais, comuns a todos os homens e transmitem-se por hereditariedade.

ARQUÉTIPOS – muita confusão tem sido feita em torno do conceito de arquétipo. Arquétipos são possibilidades herdadas para representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar. São matrizes arcaicas onde configurações análogas ou semelhantes tomam forma. 

Os arquétipos podem originar-se do deposito das impressões superpostas deixadas por certas vivencias fundamentais, comuns a todos os humanos, repetidas incontavelmente através de milênios. Ou seriam disposições inerentes a estrutura do sistema nervoso que conduziriam a produção de representações sempre análogas ou similares. Do mesmo modo que existe pulsões herdadas a agir de modo sempre idêntico (instintos).

Seja qual for sua origem,
o arquétipo funciona como um nódulo de concentração
de energias psíquica. 
 
Quanto esta energia, em estado potencial, atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem arquetípica. Não poderemos denomina essa imagem de arquétipo, pois o arquétipo é unicamente uma virtualidade. Mas a prova da transformação de energia psíquica em imagem nos é dada todas as noites em nossos próprios sonhos, quando personagens conhecidos ou estranhos surgem das profundezas pra desempenhar comedias ou dramas em cenários mais ou menos fantásticos.

A noção de arquétipo, postulando a existência de uma base psíquica comum a todos os humanos, permite compreender porque em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas, ritos das religiões e nas produções do inconsciente de um modo geral.

SÍMBOLOS - o símbolo é uma forma extremamente complexa, ele não é raciona nem irracional, porem as duas coisas ao mesmo tempo. Ou seja, são expressões de coisas significativas para as quais não há, no momento, formulação mais perfeita.

PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

Todo ser tende a realizar o que existe nele em germe, a crescer, a completar-se. Assim é pra semente do vegetal e para o embrião do animal. Assim é para o homem, quanto ao corpo quanto a psique. Mas no homem, embora o desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionados instintivas inconscientes, adquire caráter peculiar: o homem é capaz de tomar consciência desse desenvolvimento e de influencia-lo. Precisamente no confronto do consciente com inconsciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de individuo especifico e inteiro.


O processo de individuação
não consiste num desenvolvimento linear. 
É movimento de circunvolução
a um novo centro psíquico. 
 
Jung denominou este centro self (si mesmo). Quanto consciente e inconsciente vêm ordenar-se em torno do self a personalidade completa-se. O self será o centro da personalidade total, como o ego é o centro do campo do consciente.
O conceito jungueano de individuação tem muitas vezes sido muitas vezes deturpado. Entretanto é claro e simples na sua essência: tendência instintiva a plenamente potencialidades inatas. Mas de fato, a psique humana é tão complexa, são de tal modo intricados os componentes em jogo, tão variáveis as intervenções do ego consciente, tantas as vicissitudes que podem ocorrer, que o processo da totalização da personalidade não poderia se jamais um caminho reto e curto de chão bem batido. Ao contrario, será um percurso longo e difícil.

Pelo menos duas confusões devem de inicio serem esclarecidas. Em primeiro lugar não se pense que individuação seja sinônimo de perfeição. Aquela que busca individuar-se tem a mínima pretensão em torna-se perfeito. Ele visa completar-se, o que é muito diferente. E para completar-se terá de aceitar o fardo de viver conscientemente com tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes a sua natureza, tragam estas as conotações de bem e ou de mal, sejam escuras ou claras.

Outro erro grave 
seria confundir individuação com individualismo.

“Vindo a ser o individuo 
que é de fato, o homem não se torna egoísta 
no sentido ordinário da palavra, mas meramente 
esta realizando as particularidades de sua natureza,
e isso é enormemente diferente de egoísmo ou individualismo”
(Jung).
 
Note-se que o trabalho no sentido de individuação toma em atenta consideração os componentes coletivos da psique humana(conteúdos do inconsciente coletivo), o que desde de logo permite espera que daí resulte melhor funcionamento do individuo dentro da coletividade.

Nesse trabalho ele aprende por experiência própria que a estrutura básica de sua vida psíquica é a mesma estrutura básica da psique de todos os humanos. Um conhecimento dessa ordem de certo não fomenta sentimento de orgulhosos privilégios individualistas. Acontece é que as relações interpessoais mudam no decurso do desenvolvimento da personalidade. Liquidam-se projeções. As relações de estreita dependência, de quase fusão com outros seres, gradualmente modificam-se para dar lugar a uma posição de “respeito pelo segredo que é cada vida humana”. Talvez o individue venha a sentir-se algo solitário, porém estará cada vez mais longe do egoísmo individualista.

PRINCIPAIS ETAPAS DE INDIVIDUAÇÃO:
A preliminar será o desvestimento das falsas roupagens da persona. Para estabelecer contato com o mundo exterior, para adaptar-se as exigências do meio onde vive, o homem assume uma experiência que geralmente não corresponde ao seu modo de ser autentico. Apresenta-se mais como os outros esperam que ele seja ou ele desejaria ser, do que realmente como é. A esta aparência artificial, Jung chama de persona, designação muito adequada, pois os antigos empregavam esse nome para denominar a mascara que o ator usava segundo o papel que ia representar. 

Os moldes da persona são recortes tirados da psique coletiva. Se, numa certa medida, a persona, representa um sistema útil de defesa, poderá suceder que seja tão excessivamente valorizada a ponto do ego consciente identificar-se com ela. O individuo funde-se então aos seus cargos e títulos, ficando reduzido a uma impermeável casca de revestimento. Por dentro estando totalmente frágil, sem defesa do inconsciente.

Quanto mais a persona
aderir á pele do ator, tanto mais dolorosa 
será a operação psicologia para despi-la. 
 
Quanto é retirada a mascara que o ator usa nas suas relações com o mundo, aparece uma face desconhecida. Olhar-se em espelho, que reflita cruamente esta face, é de certo ato de coragem. Será visto nosso lado escuro onde moram todas as coisas que nos desagradam em nos, ou mesmo que nos assustam. É nossa sombra. E com efeito, a sombra(no sentido psicológico) faz parte da personalidade total. As coisas que não aceitamos em nos, que nos repugnam, e por isso as reprimimos, nós as projetamos sobre o outro, seja ele o nosso visinho, o nosso inimigo político, ou uma figura símbolo como demônio. E assim permanece inconsciente que a abrigamos dentro de nós. 

Lançar luz
sobre os recantos escuros 
tem como resultado o alargamento de consciência.
Já não é o outro quem está sempre errado. 

Quanto mais a sobra for reprimida 
mais ser torna espessa e negra.
A sombra é uma espessa massa de componentes diversas, aglomerando desde de pequenas fraquezas, aspectos imaturos ou inferiores, complexos reprimidos, ate forças verdadeiramente maléficas, negrumes assustadores. A sombra coincide com o inconsciente freudiano, e com o inconsciente pessoal junguiano. São aspectos sombrio de sua própria personalidade.

Mas a sombra ultrapassa
os limites do pessoal e alonga-se na sombra coletiva.
Teremos como exemplo homens civilizados 
quando reunidos em massa, portarem 
comportamento diferente quanto estão sós.

Depois de travar conhecimento 
com a própria sombra, uma tarefa muito mais difícil 
se apresenta. É a confrontação da anima.
Todos sabem que no corpo masculino existe uma minoria de genes femininos que foram sobrepujados pela maioria de genes masculinos. A feminilidade inconsciente no homem, Jung denomina anima. esta feminilidade inconsciente no homem, indiferenciada, inferior, manifesta-se, na vida ordinária, por despropositadas mudanças de humor e caprichos.

É o arquétipo do feminino.
O principio receptáculo da anima, é a mãe, e isso faz que aos olhos do filho ela pareça algo de mágico. Depois a anima será transferida para a estrela de cinema, a cantora de radio e, sobre tudo para a mulher com quem o homem se relacione amorosamente.

Provocando os complicados enredamentos do amor e as decepções causadas pela a impossibilidade do objeto real corresponder com o plenamente a imagem oriunda do inconsciente. Aliais essa transferência nem sempre se processa de modo satisfatório. A retirada da imagem da anima de seu primeiro receptáculo constitue uma etapa muito importante na evolução psíquica do homem. Se não se realiza, a anima é transposta, sob forma de imagem da mãe, para a namora esposa ou amante. 

O homem esperará 
que a mulher amada assuma o papel
protetor de mãe, que o leva a modos de comportamentos
e exigências pueris gravemente perturbadoras
das relações entre os dois.
Na primeira metade da vida anima projeta-se de preferência no exterior, sobre seres reais, estando sempre presentes na problemática do amor, suas ilusões e desilusões. Mas, na segunda metade de existência, quando o jogo dessas projeções vai se esgotando é a mulher dentro do homem, durantes anos reprimidas (porque no consenso coletivo o homem nunca deve permitir que o sentimento influa em sua conduta), quem penetra em sua vida sem ser chamada. 

O “homem forte” estará então frequentemente amuado, tornar-se-á hipersusceptível, surgirão intempestivas mudanças de humor, explosões emocionais, caprichos: ele perdera progressivamente o comando de sua casa.
Se o principio feminino no homem (anima) for atentamente tomado em consideração e confrontado pelo ego, os fenômenos decorrentes de seus movimentos autônomos dissolvem-se, suas personificações desfazem-se.

A anima 
torna-se uma função psicologia 
da mais alta importância.
 
Função de relacionamento com o mundo interior, na qualidade de intermediaria entre consciente e inconsciente, função de relacionamento com o mundo exterior na qualidade de sentimento consciente aceito.

O animus nos seus aspectos positivos tem função importante a realizar. É o mediados entre inconsciente e consciente, papel desempenhado pela anima no homem. Se atentamente cuidado e integrado pelo consciente, traz a mulher capacidade de reflexão, de auto-conhecimento e gosto pelas coisas do espírito.

A noção de bi-sexualidade de todo ser humano, antes de ser aceita pela ciência, era já uma intuição antiqüíssima, encontramo-la, por exemplo, no mito dos andróginos, apresentando por Aristófanes no Banquete de Platão. Os andróginos eram seres bi-sexuados, redondos, ágeis e tão possantes que Zeus chegou a temê-los. Para reduzi-lhes a força dividi-os em duas metades: masculina e feminina.

Desde de então 
cada um procura ansiosamente sua metade.

O homem e a mulher 
sofre esse mesmo sentimento,
expresso pelo mito, de serem incompletos 
quando sozinhos, pois a natureza do homem 
pressupõe a mulher e da mulher pressupõe ao homem.
Quando, depois de duras lutas, desfazem-se as personificações da anima ou do animus “o inconsciente muda de aspecto e aparece sob uma forma simbólica nova, representando um self, o núcleo mais interior da psique”.
O self (si mesmo) não se revela apenas através de personificações humanas. Sendo uma grandeza que excede de muito a esfera do consciente, sua escala de expressões estende-se de uma parte ao infra-humano e de outra parte do super-humano.

Assim, seus símbolos podem apresentar-se sob aspectos minerais, vegetais, animais; como super-homens de deuses. Também sob formas abstratas. A denominação do self não cabe unicamente a esse centro profundo, mas também a totalidade da psique. 

O reconhecimento da própria sombra, a dissolução de complexos, liquidações de projeções, assimilação de aspectos parciais do psiquismo, a descida ao fundo dos abismos, sem suma o confronto entre consciente e inconsciente, produz um alargamento do mundo interior do qual resulta que o centro da nova personalidade, construída durante todo esse longo labor, não mais coincida com o ego.

O centro da personalidade 
estabelece no self, e a força energética
que esse irradia englobará todo o sistema psíquico. 
 
A conseqüência será a totalização do ser, sua esferificação. O individuo não estará mais fragmentado interiormente. Não se reduzirá a um pequeno ego crispado dentro de estreitos limites. Seu mundo agora abraça valores mais vastos, absorvidos de imenso patrimônio que a espécie penosamente acumulou nas suas estruturas fundamentais.

Prazeres e sofrimentos 
serão vivenciados num nível 
mais alto de consciência.
O homem torna-se ele mesmo, um ser completo, composto de inconsciente e consciente incluindo aspectos claros e escuros, masculinos e femininos, ordenados segundo o plano de base que lhe for peculiar.

Expressão por excelência da totalidade psíquica é a mandala. Mandala, palavra sânscrita, significa circulo, ou circulo mágico. O centro da mandala representa o centro total da psique (self), núcleo que é fundamentalmente uma fonte de energia. “Energia do ponto central manifesta-se na compulsão quase irresistível para levar o individuo a tornar-se aquilo que ele é, do mesmo modo que todo organismo é impulsionado a assumir a forma característica de sua natureza, seja quais forem as circunstancia” (Jung).

Valera a pena o árduo trabalho de individuação? Aqueles que não se diferenciam permanecem obscuramente envolvidos numa trama de projeções, fusionam-se com outros e desse modo são levados a agir em desacordo com sigo, com o plano básico inato de seu próprio ser. E é este 

“desacordo com sigo mesmo
que constitui fundamentalmente 
o estado neurótico”. 
Prossegue Jung: 

“a libertação 
deste estado só sobreviverá 
quando se pode existir e agir de conformidade
com aquilo que é sentido como sendo
a própria verdadeira natureza”.
Este sentimento será de inicio nebuloso e incerto mas, a medida que evolue o processo de individuação, fortalece-se e afirma-se claramente. Então o homem poderá dizer, que em meio a dificuldades internas e externas, ainda reconhecendo que nenhuma carga é tão pesada quanto suporta a si mesmo: “tal como sou assim eu ajo”.
O processo de individuação é o eixo da psicóloga jungueana.

SONHO

“o sonho é
uma auto representação espontânea 
sob forma simbólica, da situação do inconsciente”

“o sonho é aquilo que ele é,
inteiramente e unicamente aquilo que é: 
não é uma fachada, não é algo pré-arranjado,
um disfarce qualquer, mas uma construção 
completamente realizada” (Jung).

Para Freud “é a realização (disfarçada) de um desejo reprimido”. Jung não aceita o disfarce nem admite que todos os sonhos traduzam sempre desejos. Haverá decerto sonhos que revelam desejos secretos, mas a escala de coisas que os sonhos poderão exprimir é infinitamente mais ampla que a mera realizações não aceita pelos códigos moraes. 

“Os sonhos
podem ser feitos de verdades inelutáveis, 
de sentenças filosóficas, de ilusões, 
de fantasias desordenadas, de recordações,
projeto, antecipações, seja mesmo de visões telepáticas,
de experiências intimas irracionais,
e de não sei mais o que ainda”.


Segundo Jung uma pessoa não aparece no sonho em lugar de outra. Os personagens que surgem nos sonhos, as situações representadas, referem-se de fato à realidade objetiva.
Isso acontecem geralmente quando as pessoas com as quais se sonha, são conhecidos íntimos ou desempenham atual na vida do sonhador.

RELIGIÃO COMO FUNCÃO PSÍQUICA

Do ponto de vista de Jung a religiosidade é uma função natural, inerente à psique. Fenômeno universal, a religião é encontrada desde os tempos mais remotos em cada tribo, em cada povo. Dir-se-ia mesmo que a religião é um instinto.

A divergência entre Jung e Freud, neste assunto, é absoluta. Para Jung, a religião apresenta-se como um fenômeno genuíno; para Freud é um derivado do complexo paterno e uma das sublimações possíveis do instinto paterno.

Jung toma atitude positiva em relação às religiões. todas são validas na medida que recolhem em conservam as imagens simbólicas oriundas das profundezas do inconsciente e as elaborarem em seus dogmas, promovendo assim conexões com as estruturas básicas da vida psíquica.

Essas conexões são de tanta importância que Jung, fundamentado no seu trabalho de psicoterapeuta, chegou a seguinte conclusão: “ente todos os meus doente na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de trinta e cinco anos, não houve um só cujo o problema mas profundo não fosse pela questão de sua atitude religiosa. Todos em ultima instancia, estavam doente por terem perdido aquilo que uma religião viva sempre deu todos os tempos a seus adeptos, e nenhum curou-se realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria. Isto esta claro, não depende absolutamente de adesão a um credo particular ou de torna-se membro de uma igreja.

Todas as religiões originam-se basicamente de encontros, com esses fatores dinâmicos do inconsciente, seja em sonhos, visões, êxtases. Esses fatores apresentam-se encarnados em imagens dos mais diversos aspectos: deuses, demônios, espíritos. Jung usa a palavra religião no sentido de tornar a ligar, religar ao consciente em certos poderosos fatores do inconsciente a fim de que sejam tomados em atenta consideração. Aqueles que o defrontam falam de uma emoção impossível de ser descrita, de um sentimento de mistério que faz estremecer.

Uma das mais importantes manifestações da função religiosa no mundo moderno parece-nos ser o crescente consumo de LSD. O estudo do assunto permite admitir que aqueles que recorrem ao LSD o façam mais na tentativa de descobrir novas dimensões na realidade do que simplesmente fugir ao cotidiano. O relatório de experiências com o LSD estão cheios de descrições de vivencias muito semelhante àquelas experimentadas em estados místicos. E o homem moderno parece faminto dessas experiências.

Quando Jung fala de religião não esta nunca se referindo a qualquer credo ou igreja em particular. O que o interessa é a atitude religiosa. Como função psíquica natural, é a experiência religiosa na qualidade de processo psíquico. No seu trabalho de analista verificou as múltiplas manifestações do fenômeno religioso e sua importância dentro do funcionamento da psique.

Pablo Picasso
Li
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Jung: Vida e obra

por therion em 10/04/05 - 18h:03m

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