Celebrou-se em 2000 em todo mundo o 400º aniversário da morte de Giordano Bruno, figura histórica indiscutível.
Em seu tempo conhecido em toda a Europa como filósofo e cientista, poeta e teólogo, foi queimado na fogueira por não abjurar suas idéias. Formulou uma visão global do mundo 400 anos antes de que a ciência voltasse a descobrir o enorme valor de sua obra. Em especial através da mecânica quântica foi possível compreender a exatidão de suas deduções.
Entretanto, o “fenômeno Bruno” segue sendo entre certos grupos fanáticos um exemplo claro de “heresia e influência demoníaca”, tal e como o pudemos comprovar em 1991 em diferentes cidades austríacas: em nossas ações de recolhimento de assinaturas para dedicar uma praça pública à Giordano, vários transeuntes nos fizeram saber que “se hoje existissem as fogueiras, eles lhe fariam queimar de novo”.
Embora estes casos sejam extremos, não se pode negar a reticência de certos círculos de poderosa influência pública, em teoria sérios, para aceitar estes enganos históricos e corrigir a imagem de figuras hoje completamente reabilitadas. Um relato de Bruno pode nos servir também de exemplo: o médico Paracelso, que também no ano 1992 celebrou-se seu aniversário.
Possivelmente foi sua atuação mais diplomática, o que lhe valeu não ser levado também à fogueira.
O caso da Helena Petrovna Blavatsky é mais um exemplo, possivelmente um dos mais dolorosos por ter lugar já em nosso tempo, e seguir sendo uma das figuras mais caluniadas nas páginas de tantos e tantos escritos. Já Platão em sua obra A República disse que uma calúnia pública representa um prejuízo mais grave que o ter sido condenado à morte pelas próprias idéias.
Em 8 de Maio de 2007 completar-se-ão 116 anos desde que H.P.B. (como era chamada por seus discípulos) abandonasse sua encarnação física. Há um século se seguem escrevendo artigos, enciclopédias, livros e demais obras de consulta nos que unicamente se lê a versão tendenciosa (quase sempre a mesma, dando a sensação de que uns plagiam aos outros) que ofereceram determinadas instituições, contrárias aos postulados de Blavatsky. Com isso se demonstra uma falta de investigação e seriedade científica surpreendente. Essas calúnias foram, já em seu tempo, rechaçadas por meios legais, coisa que não se menciona geralmente.
A principal “pedra de escândalo”, entretanto, foram uma série de textos provenientes do Tibet, que H.P.B. traduziu e utilizou como base para seus estudos comparativos das religiões e doutrinas da Filosofia Natural, assim como para demonstrar a origem comum de uma ciência de caráter misterioso nos começos da Humanidade. O problema se fixou porque H.P.B. não trouxe do Oriente nenhuma folha original e portanto não se podia aceitar a existência real destes textos arcaicos.
Estes textos foram descritos por H.P.B. em sua obra “A Doutrina Secreta” na seção titulada “Os livros Secretos de Lam-Rim e Dzyan” da seguinte maneira:
“O Livro de Dzyan derivado da palavra sânscrita dhyân (meditação mística) é o primeiro volume dos Comentários aos sete volumes secretos de Kiu-te, e um glossário das obras acessíveis publicamente do mesmo título. Em poder dos lamas gelugpas do Tibet, na biblioteca de qualquer monastério, há trinta e cinco volumes de Kiu-te para uso profano (exotérico); e também quatorze livros dos comentários e notas sobre o mesmo, pelos instrutores iniciados. À rigor, aqueles trinta e cinco livros deveriam intitular-se Versão Popular da Doutrina Secreta, pois estão cheios de mitos, véus e enganos. Por outra parte, os quatorze tomos de comentários com suas entrevistas, notas e um extenso glossário de termos ocultos, todos esses desenvolvimentos da pequena obra esotérica entitulada Livro da Sabedoria Secreta do Mundo, constitui um verdadeiro resumo de todas as ciências ocultas…”
Embora tudo isto saibamos do fim do século passado, a identidade dos livros públicos de Kiu-te constituiu um enigma por longo tempo, exceto possivelmente para uns poucos que, fazendo ornamento de um verdadeiro espírito de busca, incomodaram-se em investigar realmente as fontes e pistas dadas por H.P.B. Daí que resolveram chamar estes livros de puras invenções fantásticas de H.P.B., e por conseqüência todo o resto de sua volumosa obra “A Doutrina Secreta”. A grande maioria dos especialistas do Ocidente negou a existência dos livros sob este nome. Em certa classe de literatura se pode ler inclusive que os monges tibetanos não conhecem estes livros, mas esses autores, a nosso parecer, ou são pouco sérios, ou recolheram suas informações de monges sem suficiente erudição, já que simplesmente o período de estudos em qualquer monastério de monges gelugpas dura 20 anos.
Mas depois da análise detalhada dos dados que ela mesma menciona em suas referências, estes livros puderam ser finalmente identificados. Tal e como ela disse, foram encontrados na biblioteca de cada monastério gelugpa do Tibet, assim como em outros pertencentes a diversas seitas, como por exemplo os Kargyupda, Nyingmapa e Sakyapa. A constatação não deixa lugar a dúvidas: trata-se de obras realmente ocultas, que a mais pura tradição tibetana e budista considera por excelência como as doutrinas secretas de Buddha. Como veremos ao longo deste trabalho, foi entre outras coisas a transcrição dos fonemas, quer dizer, a forma que utilizou ou escolheu H.P.B. para refletir com o alfabeto ocidental a fonética dos vocábulos em línguas tão antigas, o que impediu ao longo este tempo poder identificar os mesmos textos. Temos que fazer notar, entretanto, que não foi H.P.B. que “inventou” está transcrições. Como veremos mais abaixo as tirou de outros viajantes anteriores a ela.
Personalidades tão reconhecidas no mundo da investigação antropológica e nos estudos comparativos das simbologias antigas como Mircea Elíade aceitam os dados de H.P.B. e valorizaram seus estudos. Obras tão sérias como a enciclopédia titulada “Arqueologia em Texto e Imagens” (Munich, 1975) aceitam as fontes mencionadas na Doutrina Secreta e as citam sem nenhum gênero de reticências. Vejamos o que se diz no primeiro parágrafo da página 1 do 5º volume desta obra, sob o título “surgimento da humanidade”:
“Tanto em tempos históricos como pré-históricos existiram e existem diferentes idéia e teorias sobre a origem(ou criação), assim como sobre a antigüidade do universo, da terra e do homem.
No “Livro de Dzyan” há uma compilação das teses possivelmente mas antigas que nos sejam conhecidas, encontramos ali uma cosmogonia maturada em detalhes e uma teoria da evolução que se refere não só a uma, mas também a cinco “humanidades”, chamada-las “raças”, que se desenvolveram ciclicamente. Estas teses, que se avaliam serem mais antigas que os Vedas e possivelmente foram a religião em todo o mundo pré-histórico, refletem-se mais tarde na religião hindu, zoroastriana, islâmica, judia e cristã, embora sob uma forma diferente e expressas em uma linguagem carregada de imagens mitológicas.
As “Estâncias de Dzyan” (tese ou dogmas de Dzyan) postulam o seguinte em relação ao homem:
1) Uma origem poligenética.
2) Diferentes formas de reprodução.
3) Uma evolução animal (pelo menos referente aos mamíferos) que seguiu a dos homens, em lugar de precedê-la, tal e como postula nossa ciência moderna.
2) Diferentes formas de reprodução.
3) Uma evolução animal (pelo menos referente aos mamíferos) que seguiu a dos homens, em lugar de precedê-la, tal e como postula nossa ciência moderna.
Os períodos de tempo para a evolução do homem que se dão nas Estâncias remontam a muitos milhões de anos atrás, em correlação a nossas idéias atuais, e são tão inaceitáveis para a ciência como a hipótese de cinco humanidades (ou “Raças Raízes”), bem como de que os animais tenham surgido após o homem. Entretanto é interessante que se notem, vistos em detalhe, uma série de surpreendentes semelhanças entre algumas dessas teses e as hipóteses da biologia moderna. (…)”
H.P.Blavatsky, a primeira comentadora das Estâncias (as Estâncias foram interpretadas de novo pelo Dr. F. Hartmann a princípios de século e no ano 1958 pelo Dr. Viktor Eckert), escreveu em 1888 a respeito: “Isto deve parecer para o leitor ridiculamente absurdo. Entretanto, está estritamente nas linhas da analogia evolutiva, que a Ciência percebe no desenvolvimento das espécies animais viventes. Primeiro a procriação semelhante as células, por “divisão própria”; depois de umas quantas etapas, a ovípara, como no caso dos répteis, aos que seguem os pássaros; depois finalmente, os mamíferos com seus modos ovovíparos de produzir rebentos…”
Em outro volume da mesma enciclopédia escreve Philip Rawson:
“Tanto (William Butler) Yeats como (Hermann) Hesse foram sobre tudo influenciados pela obra da teósofa russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-91), que anteriormente a eles tinha propagado com grande afinco uma interpretação própria do pensamento hindu. O movimento iniciado por ela desempenhou um papel importante tanto na política da Índia como na vida cultural da Europa…”
“Tanto (William Butler) Yeats como (Hermann) Hesse foram sobre tudo influenciados pela obra da teósofa russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-91), que anteriormente a eles tinha propagado com grande afinco uma interpretação própria do pensamento hindu. O movimento iniciado por ela desempenhou um papel importante tanto na política da Índia como na vida cultural da Europa…”
Já dentro da volumosa obra “A Doutrina Secreta” tentou dar H.P.B. ao leitor algumas provas da existência destes livros. Assim, por exemplo cita o monge capuchinho Orazio della Penna, missionário no Tibet de princípios do século XVIII. Na seção já citada de “A Doutrina Secreta” encontramos uma nota de rodapé com os seguintes dados:
“O monge italiano Della Penna se mostra em suas Memórias (veja a obra Tibet, por Markham, pág. 309 e ss.) certas afirmações contidas nos Livros de Kiu-te, e com efeito cita “a grande montanha de 160.000 léguas de altura” (uma légua tibetana tem 5 milhas) na cordilheira dos Himalayas. E diz o monge: “Segundo suas crenças, no ocidente do mundo há um paraíso aonde um santo chamado Ho Pahme, que significa santo, de grande esplendor e infinita luz. Este santo tem vários discípulos, todos os quais são Chang-chub”, isto é “espíritos que por sua perfeição não necessitam santidade e educam aos lama renascidos lhes ajudando a viver”. Disso se infere que os que della Penna chama Chang-chub, e cujo verdadeiro nome Yang-chub ( presumivelmente considerados “mortos”) são nem mais nem menos que boddhisatvas viventes, alguns conhecidos pelos irmãos” (Bhante)…”
O monge Orazio della Penna extraiu passagens de textos antigos com a intenção de demonstrar com isso o absurdo dessas doutrinas orientais. Esses dados foram por outra parte comentados pelo Chohan Lama em um artigo aparecido sob o título de “Ensinos Tibetanos”, antes de que suas informações fossem utilizadas para a nota citada de “A Doutrina Secreta” no parágrafo anterior. Este artigo, que explicava o significado da grande montanha “de 160.000 léguas de altura”, indicava que os mencionados dados foram extraídos do Kanjur, uma parte do Cânon Budista Tibetano. De modo que existe uma relação entre os livros Kiu-te e o Kanjur. Mas, já que o Kanjur se compõe, conforme seja a edição, de 100 ou mais capítulos muito extensos, esta informação demonstrou ser insuficiente.
Citada a nota de “A Doutrina Secreta” indica a fonte destes dados a obra “Tibet”, de Markham, pág. 309 e seguintes. De investigações posteriores resultou que não existia nenhum livro com o título “Tibet”, de nenhuma pessoa chamada Markham. Mas entretanto Sir Clemens Robert Markham, famoso geógrafo e viajante (1830-1916), tinha publicado um livro sob o título “Narrações da Missão de George Bogle ao Tibet” e “A viagem de Thomas Manning a Lhasa”, que apareceu em Londres em 1876, com uma segunda edição em 1879. Neste livro se encontra efetivamente na página 309 e seguintes um anexo que leva o título “Breves explicações sobre o Reino do Tibet”, escrito por della Penna em 1730. Na página 328 deste anexo se encontra a história da grande montanha de 160.000 léguas, extraída do Kanjur (ou: bKa-gyur, em transcrição fonética), e que ele soletra “K´hagiur” na pág. 334 se lê a informação sobre os livros de Kiu-te.
Della Penna escreve:
“Shakia Thupba restabeleceu as leis das que se diz que tinham decaído, e das que agora se diz que estão recolhidas em 106 volumes, nos que os discípulos da Shakia Thupba escreveram, depois de sua morte, o conteúdo total do ensino tal e como a tinham ouvido da boca de seu mestre.
“Estes livros se dividem em duas categorias de leis. Contem 69 volumes, chamadas Leis de Dote, e outra categoria se compõe de 38 volumes, chamados Khiute.”
Shakia Thupba, ou mais corretamente Sykya Thup-p é naturalmente Gautama Buddha e suas leis as do Kanjur. É fácil notar que as duas categorias a que se refere della Penna, Dote e Khiute, são respectivamente o mDo-SDE e o rGud-SDE, quer dizer: a parte (SDE) dos Sutras (mDo) e a do Tantra (rGud) da palavra de Buddha, ou seja do Kanjur.
O número de volumes mencionados por della Penna temos que considerá-lo como pouco confiável, pois (diga-se de passagem que: 69 e 38 não somam 106!) na contagem de della Penna existem outras várias discrepâncias (por ex. diz em outro lugar que os volumes de Khiute são 36, etc.) com o número real de volumes de cada uma das categorias, que se encontram nas bem conhecidas edições do Kanjur.
“A Doutrina Secreta” fala de 7 textos (rolos) secretos de Kiu-te, assim como de 14 volumes de comentários aos mesmos, dos quais o primeiro é o “Livro de Dzyan”. Há motivos para acreditar conforme diz David Reigle que entrevistas provenientes desses 14 Volumes Secretos de Comentários se podem ler também em determinados comentários acessíveis, que se encontraram no Tanjur (transcrição moderna: bsTan-gjur, também Bstan-hgyur), outra das mais importantes compilações de partes do Canon Budista Tibetano.
Uma tradição muito generalizada fala de versões originais dos livros de Kiu-te. Esta tradição foi já inclusive citada no século XIV pelo Budon (Bu-ston, 1290-1364) em sua “História do Buddhismo” (Chos´byun) e mais tarde recordada nos comentários ao Kiu-te (rGyud-SDE) por ele mesmo. Embora estas versões originais não possam ser encontradas entre os textos conhecidos na Índia e Tibet, sim se podem contar entre os existentes em lugares como Sambhala, etc. Determinados sábios, como Aryasanga, teriam tido acesso a estes textos e alguns deles escreveram comentários em que citam esses livros. Um exemplo disso são as entrevistas contidas na única obra conhecida do Bodhisatva Vajragarbha. O Dr. L. Snellgrove observa:
“As passagens, que ele realmente cita, não provêm de nenhum Tantra normal; são sempre explicativos e dogmáticos, e ele se refere com freqüência a essa obra quando procura um significado figurativo da passagem”.
Não provêm de “nenhum Tantra normal” porque estes não são geralmente explicativos. É característico tendo em conta as asseverações de H.P.B. em “A Doutrina Secreta” de que os 14 Volumes Secretos sejam Comentários e Notas de Kiu-te, assim como que contenham um glossário sobre volumes profanos do mesmo nome. Tal e como o Bodhisattva Vajragarbha constata em seu comentário:
“Da maneira em que se acostuma a versão abreviada só se pode entender o significado óbvio (neyartha); o verdadeiro significado (nitartha) obtém-se através do Mula Tantra.”
Está claro que as versões abreviadas dos livros Kiu-te de que dispomos atualmente são obras esotéricas, e que determinados comentários existentes e explicam corretamente seu significado.
Simplesmente o fato de que os manuscritos originais de todos os escritos de H.P. Blavatsky são conservados no British Museum, em uma câmara hermética extraordinariamente acondicionada com todos os adiantamentos técnicos, a que só se tem acesso com uma permissão especial, faz-nos pensar que suas obras são consideradas de verdadeira importância. Nesta última década tem surgido estudos realmente exaustivos baseados nestes livros, como por exemplo “O Homem Como Medida de Todas as Coisas: Comentários Sobre as Estâncias de Dzyan” pelo Sri Krishna Prem e Sri Madhava Hashish, publicado pela editorial francesa Rocher, no ano de 1980.
A mesma H.P.B. parece prever em suas obras este desenvolvimento. Assim lemos por exemplo:
“E se Tróia foi negada e considerada como um mito; a existência de Herculano e de Pompéia declaradas ficção; se se riram das viagens de Marco Pólo que se chamaram fábulas, tão absurdas como os contos do Barão Münchhausen, por que tinha que ser melhor tratada a escritora de Isis Sem Véu e de A Doutrina Secreta? (…)”
“Nenhum incrédulo que considere como uma maquinaçã A Doutrina Secreta está obrigado, nem se lhe pede, que dê crédito às nossas afirmações, as quais foram já proclamadas como tal por certo jornalista americano muito hábil, ainda antes de que a obra entrasse na prensa.”
“Tampouco, depois de tudo, é necessário que ninguém creia nas Ciências Ocultas e nos Ensinos Antigos, antes de que saiba algo de sua própria Alma ou sequer nela creia. Nenhuma grande verdade foi jamais aceita à priori, e geralmente transcorreu um século ou dois antes de que tenha começado a vislumbrar-se na consciência humana como uma verdade possível (…). As verdades de hoje são as falsidades e enganos de ontem, e vice-versa. Só no século XX será quando algumas partes, se não o todo da obra presente, serão vindicadas.”
Demonstrado-o neste trabalho parece ter sido pensado já faz um século, como o demonstram as seguintes palavras em outra parte de “A Doutrina Secreta”:
“À verdade, o que se dá a luz nestes volumes, foi escolhido assim de ensinos orais como escritos. Esta primeira apresentação das doutrinas esotéricas está baseada sobre Estâncias que constituem os anais de um povo que a etnologia desconhece. Estão escritas aquelas, conforme se afirma, em uma língua que se acha ausente do catálogo das linguagens e dialetos que conhece a filologia; assegura-se que surgiram de uma fonte que a ciência repudia: isto é, o Ocultismo; e finalmente são oferecidas ao público por intermédio de uma pessoa desacreditada sem cessar ante o mundo por todos quantos odeiam as verdades vindas fora de hora, ou pelos que têm alguma preocupação particular que defender. Assim é que o repúdio destes ensinos é coisa de esperar-se, e ainda deve esperar-se de antemão. Nenhum dos que se chamam a si mesmos eruditos em qualquer dos ramos da ciência exata, permitir-se-á olhar estes ensinos seriamente. Durante este século (o XIX) serão ludibriadas e rechaçadas à priori; mas neste século unicamente, porque no século XX de nossa Era, começarão a conhecer os eruditos a Doutrina Secreta, e que ela não foi nem inventada nem exagerada, a não ser pelo contrário, tão somente esboçada; e finalmente, que seus ensinos são anteriores aos Vedas. Não é isto uma pretensão de profetizar, a não ser a simples afirmação fundada no conhecimento dos fatos. Em cada século tem lugar uma tentativa para demonstrar ao mundo que o Ocultismo não é uma superstição vã. Uma vez que a porta fique algo entreaberta, se irá abrindo mais e mais nos séculos sucessivos. Os tempos são a propósito para conhecimentos mais sérios que os até a data permitidos, embora tenham ainda que ser muito limitados.”
Em outra passagem lemos:
“…quando chegar o tempo para o impulso do século XX… (se) encontrará uma grande comunidade unida de homens que estarão preparados para dar as boas-vindas aos novos portadores das tochas da verdade…(este próximo impulso) Encontrará a mente do homem capacitada para receber sua mensagem, e uma forma de expressão apropriada, na qual ele poderá vestir a nova verdade que deve trazer , assim como uma Organização que esperará sua chegada e que poderá varrer os obstáculos e dificuldades puramente materiais e mecânicos de seu caminho. Calcule-se quanto poderá alcançar aquele, a quem lhe tenham sido dadas tão favoráveis possibilidades…”
O que possivelmente se completa com as seguintes palavras extraídas de diferentes passagens de A Doutrina Secreta:
“…o ocultismo triunfará antes de que nossa era alcance o “triplo setenário do Shani (Saturno)” do ciclo ocidental, na Europa; ou seja antes de terminar o século XXI”.
“Verdadeiramente, o arco do remoto passado não está morto; tão somente repousa. O esqueleto dos sagrados carvalhos druídicos ainda pode brotar de novo de seus ramos secos e renascer a nova vida, como brotou «formosa colheita» do punhado de trigo achado no sarcófago de uma múmia de quatro milênios. E por que não? A verdade é muito mais extraordinária que a ficção. Qualquer dia pode vindicar-se improvisadamente e humilhar a arrogante presunção de nossa época, provando que a Fraternidade Secreta não se extinguiu com os filaleteos da última escola eclética; que ainda floresce a Gnosis na terra, e que são muitos seus discípulos, embora permaneçam ignorados. Tudo isto pode levá-lo a cabo um ou vários dos Grandes Mestres que visitam a Europa, pondo em evidência por sua vez aos presunçosos difamadores e caluniadores da Magia.”
“Entre os mandamentos de Tsong Khapá, há um que ordena aos arhats fazer um esforço em cada século, em certo período do ciclo, para iluminar ao mundo, inclusive aos “bárbaros brancos”. Até hoje nenhuma de tais tentativas teve bom êxito. Os fracassos somaram-se a mais fracassos. Trataremos de explicá-lo à luz de certa profecia? Diz-se que até que Pban-chhen-rinpochhe (a grande jóia da Sabedoria) consinta renascer no país dos P´helings (ocidentais) como conquistador espiritual (Chom-denda) e dissipe os enganos e a ignorância dos tempos, de pouco servirá o intento de extirpar os preconceitos dos habitantes de P´helingpa (Europa), porque os filhos desta não escutarão a ninguém.
Outra profecia declara que a Doutrina Secreta se conservará em toda sua pureza no Bhod-yul (Tibet) apenas enquanto os estrangeiros não invadam o país. As mesmas visitas dos europeus, embora amistosas, seriam mortais para os tibetanos.Este é o verdadeiro motivo do exclusivismo do Tibet”.
Só fica nos perguntar se esses esforços e impulsos poderão despertar definitivamente o sentido de responsabilidade que o Ocidente contraiu automaticamente ao fazer-se depositário de tantos e tantos textos resgatados do Oriente depois das terríveis invasões dos últimos tempos?
Deus o queira!
Maria Paz do Benito Alvarado
Pablo Picasso
Li
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