domingo, 24 de fevereiro de 2013

ANGELUS : BENTO XVI E SALMOS 19 - 23 - 119 EM 2013-02-17




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Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.


Vaticano

Bento XVI meditou nos Salmos 19, 23 e 119



Bento XVI e responsáveis da Cúria Romana entraram esta segunda-feira no segundo dia do retiro da Quaresma, que o presidente do Pontifício Conselho da Cultura, orientador dos exercícios espirituais, dedicou aos salmos 19, 23 e 119.


Palavra reveladora de Deus e palavra criadora: foi sobre estas duas diretrizes que se articulou a primeira intervenção do cardeal Gianfranco Ravasi.


«A primeira revelação de Deus encontra-se na Palavra. A sua graça confia-se à Palavra. E é significativo notar que justamente a própria introdução absoluta do Antigo e do Novo Testamento é caracterizada pela Palavra», sublinhou.


«Deus disse: "Haja luz e houve luz".

Por isso, a criação é um evento sonoro, é uma Palavra, a realidade paradoxalmente mais humana, aquela realidade que é extremamente frágil – porque uma vez pronunciada se apaga –, mas ao mesmo tempo tem uma eficácia particular, porque sem a palavra não existiria a comunicação», afirmou.


A reflexão do prelado especialista em Bíblia foi inspirada pelo Salmo 119, no qual a Palavra, simultaneamente anúncio é princípio de confiança, é apresentada como guia no meio da escuridão.


«Uma luz que rompe as trevas, em particular na cultura de hoje, que se encontra num horizonte fluido, incerto, onde se celebra a amoralidade, a absoluta indiferença na qual "não há mais distinção entre doce e amargo" e onde tudo é genericamente sem relevo», vincou.
Por isso, prosseguiu, a abordagem com a Bíblia é essencial porque indica a verdadeira escala dos valores, «muitas vezes calibrada somente sobre as coisas, sobre o dinheiro, sobre o poder». 


No Salmo 23 o redator mostra Deus como pastor que orienta o rebanho e que é, ao mesmo tempo, companheiro de viagem.
A manifestação do Criador, que opera mediante a sua primeira revelação, a Palavra, esteve no centro da terceira meditação. 


O Salmo 19 reitera que o firmamento narra a obra criadora de Deus, pelo que é importante voltar à contemplação.
«A ausência de espanto no homem contemporâneo é sinal de superficialidade. É propenso somente às obras das suas mãos, é incapaz de elevar os olhos para o céu, de admirar profundamente os dois extremos do universo e do microcosmo. E isso fez com que o homem, desprovido de contemplação, deturpasse a terra, usando-a somente em função instrumental. Não tem mais o sentido da terra como irmã», referiu Ravasi.
O retiro dedicado ao tema "Ars orandi, ars credendi. O rosto de Deus e o rosto do homem na oração sálmica" continuou com o diálogo entre fé e ciência, tema de especial importância para o teólogo Ratzinger.

Para o presidente do Pontifício Conselho da Cultura o filósofo Blaise Pascal sintetiza os excessos que se devem evitar: «excluir a razão, não admitir a não ser a razão». O pensador francês também aponta um caminho:

«É preciso entender as coisas humanas para poder amá-las, enquanto é preciso amar as coisas divinas para poder compreendê-las».

«Crer e compreender entrelaçam-se necessariamente», pelo que oração e teologia estão «em contraponto, não em oposição», salientou o cardeal.

No domingo, ao início do retiro, Gianfranco Ravasi propôs a imagem bíblica da narrativa do capítulo 17 do livro do Êxodo para representar o futuro de Bento XVI na Igreja, «uma presença contemplativa, como a de Moisés sobre o monte a rezar pelo povo de Israel que, no vale, combate contra Amalec».


«Esta imagem representa a função principal - sua - para a Igreja, isto é, a intercessão, interceder: nós permaneceremos no "vale", aquele vale onde está Amalec, onde está o pó, onde estão os medos, também os terrores e os pesadelos, mas também a esperança, ela que ficou connosco estes oito anos. De agora em diante, contudo, sabemos que, sobre o monte, está a sua intercessão por nós», assinalou o cardeal.


O retiro é composto por três meditações diárias, intercaladas por longos períodos de silêncio e oração na capela Redemptoris Mater, no Vaticano.

A terminar, o convite para ler dois dos salmos que Bento XVI meditou hoje, naquele que é o seu último retiro de Quaresma enquanto papa.

 

Salmo 19



Ao diretor do coro. Salmo de David. 

Os céus proclamam a glória de Deus;
o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

Um dia passa ao outro esta mensagem
e uma noite dá conhecimento à outra noite.
Não são palavras nem discursos
cujo sentido se não perceba.

O seu eco ressoou por toda a terra,
e a sua palavra, até aos confins do mundo.

Deus fez, lá no alto, uma tenda para o Sol,
donde ele sai, como um esposo do seu leito,
a percorrer alegremente o seu caminho, como um herói.

Sai de uma extremidade do céu
e, no seu percurso, alcança a outra extremidade.
Nada escapa ao seu calor.

A lei do Senhor é perfeita, reconforta o espírito;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria ao homem simples.
Os mandamentos do Senhor são retos,
alegram o coração;
os preceitos do Senhor são claros,
iluminam os olhos.

O temor do Senhor é puro, permanece para sempre.
As sentenças do Senhor são verdadeiras,
todas elas são justas.

São mais desejáveis que o ouro, o ouro mais fino;
são mais doces que o mel, o puro mel dos favos.
Também o teu servo foi instruído por elas
e há grande proveito em cumpri-las.

Mas, quem poderá discernir os próprios erros?
Perdoa-me os que me são desconhecidos.
Preserva-me também da soberba,
para que ela não me domine.

Então, serei perfeito
e imune de falta grave.
Aceita, com bondade, as palavras da minha boca
e estejam na tua presença os murmúrios do meu coração,
ó Senhor, meu refúgio e meu libertador.




Salmo 23



Salmo de David. 

O Senhor é meu pastor: nada me falta.

Em verdes prados me faz descansar
e conduz-me às águas refrescantes.

Reconforta a minha alma
e guia-me por caminhos retos, por amor do seu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.

A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
Preparas a mesa para mim
à vista dos meus inimigos;
ungiste com óleo a minha cabeça;
a minha taça transbordou.

Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.

 Imagem
Bento XVI 
começa retiro da Quaresma 
com pregação sobre os Salmos orientada 
pelo presidente do Pontifício Conselho da Cultura


Bento XVI inicia este domingo o seu ultimo retiro da Quaresma enquanto papa, tendo escolhido para o orientar o presidente do Pontifício Conselho da Cultura, que vai basear as meditações no livro bíblico dos Salmos.


O cardeal italiano Gianfranco Ravasi, especialista em estudos bíblicos, afirmou que a escolha é justificada com a convicção de que «Deus e o homem estão em estreito diálogo» nos Salmos, refere o site da agência de notícias da Santa Sé.


"Ars orandi, ars credendi. O rosto de Deus e do homem na oração sálmica" é o título do retiro que Bento XVI vai ouvir do prelado no Vaticano.



«A revelação de Deus não é um solilóquio solitário de Deus no seu horizonte dourado, mas é um diálogo, e no diálogo deve existir também a resposta», sublinhou.


Gianfranco Ravasi iniciará o retiro com uma reflexão sobre verbos da oração: respirar, pensar, lutar, amar.


«Esta introdução, evidentemente, tem também um pouco de quase provocação, porque habitualmente os verbos da oração que se usam são - precisamente - orar, louvar, invocar, suplicar... No entanto a alma profunda da oração é muito mais complexa, é, antes de tudo, certamente respirar», afirmou, acrescentando que a oração «é como a respiração da alma».


Por vezes, prosseguiu, «o mistério de Deus» é uma «luta»: «Todos nós recordamos a célebre luta que Jacob estabelece com Deus, o Ser misterioso».

Referindo-se ao termo "pensar", o cardeal Ravasi lembrou que o filósofo Wittgenstein dizia que «rezar é pensar no sentido da vida». «E, com um jogo de palavras em alemão, outro filósofo distante das questões estritamente religiosas, Heidegger, dizia: “Denken ist danken”, pensar é agradecer. Porque é a grande descoberta que te faz feliz. Eis porque a oração é também pensamento».


A oração é também um «cruzamento de diálogos, é um encontro»:

 «O elemento fundamental é o encontro e o abraço.
 E eu citarei mais algumas vezes testemunhos
 que não pertencem à nossa cultura religiosa». 
 


«Há uma belíssima expressão de uma mística muçulmana do século VIII - Rabia - a qual, sob o céu estrelado de Bassorá, a sua cidade no Iraque, diz: 

"A noite acende-se.
 As estrelas brilham no céu. 
Todo o enamorado está com a sua amada 
e eu estou aqui, só contigo, ó Senhor".

 Isto é, a linguagem do amor e a linguagem da mística.»

 
Rui Jorge Martins
© SNPC | Atualizado em 17.02.13


Vaticano

Beleza e verdade:


 Bento XVI concluiu último retiro quaresmal enquanto papa

Concluiu-se na manhã de sábado, no Vaticano, o retiro quaresmal da Cúria Romana e do papa, que resigna ao pontificado esta quinta-feira, a partir das 19h00 (horas de Lisboa). 


Após a última reflexão do pregador, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, Bento XVI tomou a palavra para agradecer.
«No final desta semana espiritualmente tão densa, permanece somente uma palavra: obrigado, obrigado a vós por esta comunidade orante em escuta, que me acompanharam esta semana. Obrigado principalmente ao senhor, eminência, por estas caminhadas tão belas no universo da fé e no universo dos salmos. Ficamos fascinados pela riqueza, profundidade e beleza desse universo da fé e estamos gratos porque a palavra de Deus nos falou de modo novo, com nova força.»
O tema dos exercícios espirituais orientados pelo presidente do Pontifício Conselho da Cultura, “arte de crer, arte de rezar”, suscitou em Bento XVI a lembrança de que os teólogos medievais traduziram a palavra "logos" [palavra de origem grega com que o início do evangelho segundo São João qualifica Jesus] não somente como "verbo", mas também como arte. 


«O "logos" não é somente uma razão matemática. O "logos" tem um coração, o "logos" é também amor. A verdade é bela e a verdade e a beleza caminham a par: a beleza é o selo da verdade», vincou.
Para Bento XVI, o mal e o sofrimento comprometem a criação: «Parece que o maligno quer permanentemente sujar a criação para contradizer Deus e para tornar irreconhecível a sua verdade e a sua beleza». 

Na narrativa da morte de Jesus, lê-se que lhe impuseram uma coroa de espinhos: «Nesta figura sofredora do Filho de Deus começamos a ver a beleza mais profunda do nosso Criador e Redentor", assinalou.


«Possamos, no silêncio da noite escura, ouvir ainda assim a palavra. E acreditar nada mais é do que, na obscuridade do mundo, tocar a mão de Deus e assim, no silêncio, ouvir a Palavra, ver o amor», acrescentou.
A terminar, Bento XVI dirigiu uma palavra de agradecimento aos membros da Cúria que participaram no retiro.

«Gostaria de agradecer a todos vós não somente por esta semana, mas por estes oito anos em que carregaram comigo, com grande competência afeto, amor e fé o peso do ministério petrino», afirmou.


«Permanece em mim esta gratidão e mesmo que agora acabe esta visível comunhão exterior, permanece a proximidade espiritual, fica uma profunda comunhão na oração. Nesta certeza prosseguimos, certos da vitória de Deus, certos da verdade da beleza e do amor. Obrigado a todos vós.» 
O papa também endereçou uma carta de agradecimento ao cardeal Gianfranco Ravasi, em que realça o trabalho «brilhantemente» realizado nas meditações.


O itinerário proposto pelo prelado italiano permitiu renovar a arte de crer: «[Trata-se de] uma exigência solicitada pelo Ano da Fé, que se torna ainda mais necessária pelo momento especial que eu pessoalmente e a Sé Apostólica estamos a viver». 


«O Sucessor de Pedro e os seus colaboradores são chamados a dar à Igreja e ao mundo um testemunho de fé claro, e isso só é possível graças a uma profunda e estável imersão no diálogo com Deus», salientou Bento XVI.
De acordo com a Rádio Vaticano, o papa encontra-se esta manhã com o presidente de Itália, Giorgio Napolitano, acompanhado da mulher.

No domingo, às 11h00, Bento XVI preside à última oração mariana do Angelus a partir da praça de São Pedro, no Vaticano.


Na segunda-feira, segundo a mesma fonte, o papa reúne-se com alguns cardeais, em audiências individuais. 


Para quarta-feira Bento XVI dirige a derradeira audiência geral, prevista para a Praça de São Pedro, onde é esperada significativa presença de fiéis.

Às 10h00 de quinta-feira, último dia do pontificado, o papa saúda os cardeais presentes em Roma. 


Pelas 16h00 parte de helicóptero para Castel Gandolfo, residência pontifícia, sendo recebido por autoridades civis e eclesiásticas. Durante a tarde Bento XVI saúda os fiéis reunidos à entrada do Palácio Apostólico. Às 19h00 Bento XVI deixa de ser papa e começa a Sede Vacante.


Espera-se que o regresso ao Vaticano ocorra dentro de dois meses, após as obras de remodelação do mosteiro Mater Ecclesiae, onde residirá.
Foto
 

Rádio Vaticano / Rui Jorge Martins
© SNPC | 23.02.13

Rádio Vaticano 
/ Com SNPC © SNPC | 18.02.13 

 Rádio Vaticano / Rui Jorge Martins
© SNPC | 23.02.13

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