Amit Goswami
11/2/2008
Rotulado de místico pela comunidade científica, Goswami fala dos paradigmas da sua nova teoria da consciência quântica
Heródoto Barbeiro:
Olá, boa noite. Ele une ciência e espiritualidade. Busca, com a física
quântica, responder questões que há tempos a ciência, a filosofia, as
artes e as religiões tentam encontrar. E considera que é possível
explicar e provar cientificamente conceitos como imortalidade,
reencarnação e vida após a morte. O Roda Viva
entrevista esta noite o físico indiano Amit Goswami, um cientista que
vem propondo para a ciência uma visão menos materialista e mais
espiritual. Você acompanha a entrevista num instante.
[intervalo]
[Comentarista]:
Há vinte anos o físico indiano Amit Goswani está envolvido em estudos
que buscam conciliar ciência e religião. Phd em física nuclear,
contraria a idéia de que a origem de todas as coisas é a matéria. E
propõe que haja um fundamento de tudo que conhecemos e percebemos, que é
a consciência. Amit Goswami nasceu na Índia e obteve seu doutorado
em física nuclear teórica na Universidade de Calcutá em 1964. Professor
de física da Universidade de Oregon nos Estados Unidos durante 32 anos,
Amit Goswami é autor de vários livros e estudos técnicos onde expõe
suas teorias nos campos da física e da espiritualidade. Tornou-se mais
conhecido a partir de 2004 ao participar e expor suas idéias no filme Quem somos nós?,
distribuído também no Brasil. Considerado um dos mais originais
pensadores contemporâneos nessa área, Amit Goswami também já causou
polêmica nos meios acadêmicos e até foi alvo de críticas por suas idéias
de estabelecer uma ponte entre a ciência e espiritualidade. Goswami é
apontado como um caso pouco comum de cientista transformado por seu
próprio trabalho. Na metade da carreira
questionou a visão materialista da ciência, mudou o seu foco de
pesquisa e passou a produzir estudos unindo conhecimento de tradições
místicas como exploração científica. Em suas teorias, Goswami procura
mostrar que o universo é matematicamente consistente sem a existência de
um conjunto superior – no caso, Deus. E considera que, com o
desenvolvimento dos estudos nessa área, Deus será cada vez mais objeto
de ciência e não mais de religião. Aposentado como professor de física
da Universidade de Oregon desde 2003, Amit Goswami dedica-se,
atualmente, a fazer palestras pelo mundo e também dá aulas sobre ciência
e vida espiritual em entidades e institutos dedicados a estudos
religiosos e filosóficos nos Estados Unidos, Portugal e no Brasil.
Heródoto Barbeiro: Para entrevistar o físico indiano Amit Goswami, foram convidados: Ulisses Capozzoli, editor da revista Scientific American Brasil;
Maurício Tuffani, jornalista e assessor de comunicação da Unesp
(Universidade Estadual Paulista); Mirna Grzich, jornalista e
colaboradora da revista Época; Laís Wollner, doutora
em física quântica, professora de tai-chi-chuan e crítica de arte;
Osvaldo Pessoa Junior, professor de filosofia da ciência da USP; Mônica
Teixeira, diretora de redação da Inova da Unicamp [Universidade Estadual
de Campinas] e assessora do Núcleo de Educação da Fundação Padre
Anchieta. Temos também a participação do cartunista Paulo Caruso,
registrando em seus desenhos os momentos e os flagrantes do programa Roda Viva,
que é transmitido em rede nacional de TV para todo o Brasil. Como o
programa de hoje está sendo gravado, não podemos contar com a
participação dos telespectadores, mas você pode mandar sua crítica,
sugestão ou comentário pela internet. É só acessar o próprio site do
programa www.tvcultura.com.br/rodaviva e mandar seu e-mail. Professor Amit Goswami, obrigado por participar do Roda Viva. Boa noite.
Amit Goswami: É muito bom estar aqui.
Heródoto Barbeiro: A minha primeira pergunta, professor Amit, é: o que é a morte?
Amit Goswami:
O que é a morte? A morte é quando a consciência pára de causar o
colapso das possibilidades quânticas em eventos reais da experiência.
Essa é a definição técnica da morte. Então, isso é interessante, pois na
física quântica todos os objetos são possibilidades. Na verdade,
momento após momento, incluindo nosso corpo e nosso cérebro, momento
após momento nós causamos o colapso dessas possibilidades em eventos
reais que experimentamos com o nosso corpo e o nosso cérebro. Quando
perdemos essa capacidade de converter as possibilidades em eventos
reais, nós morremos. Mas perceba o que está acontecendo: as
possibilidades permanecem. É claro que algumas dessas possibilidades são
possibilidades materiais. Essas possibilidades vão se desintegrar, no
sentido do desaparecimento gradativo da estrutura, do desaparecimento
gradativo da memória. Os corpos se desintegram. Mas, além do material,
temos também componentes sutis, como a nossa mente, como o vital, como
os nossos arquétipos supramentais, que vão além da mente e do vital, que
também definem o nosso ser. Esses corpos são sutis. Eles não têm
estrutura nenhuma. Eles podem continuar para além da nossa morte. Esse é
o conceito da sobrevivência após a morte.
Ulisses Capozzoli: Posso fazer uma primeira questão?
Heródoto Barbeiro: Ulisses Capozzoli.
Ulisses Capozzoli:
Professor, o senhor faz uma interação muito bonita, eu quero confessar a
minha simpatia por ela, entre humanismo idealista e o realismo
materialista. De qualquer forma, a revolução científica do século XVII
está por trás do realismo materialista e ela produz telefones, produz
carros, produz automóveis, produz a televisão. É muito difícil a gente
sensibilizar as pessoas para uma outra perspectiva. Essa, por exemplo,
do humanismo idealista... Quem são, na opinião do senhor, os
interlocutores capazes de receber esse novo paradigma e ajudá-lo a
ampliar? São pesquisadores científicos, intelectuais? Que tipo de gente é
mais sensível a essa outra abordagem?
Amit Goswami:
Essa é uma boa pergunta. De acordo com a minha impressão e as minhas
experiências, na verdade, os cientistas puros – aqueles das ciências
puras – têm mais dificuldade com a consciência e com a idéia de que a
consciência é a base de todo o ser. O que é uma resposta melhor para
alguns dos problemas dos quais os materialistas não conseguem tratar.
Então, cientistas têm mais dificuldades em entender isso do que pessoas
comuns. Na verdade, pessoas de todas as áreas de trabalho, empresários,
engenheiros, médicos, psicólogos, eles têm mais facilidade do que os
físicos, os químicos e os biólogos, representantes das ciências puras. E
se espera que seja assim, pois, como o grande físico Richard Feynman [(1918-1988)
foi um dos pioneiros da eletrodinâmica quântica, juntamente com
Sin-Itero Tomonaga e Julian Schwinger, ganhando o prêmio Nobel em 1965.
Para ele, “Deus é sempre inventado para explicar coisas que você não
entende”] disse uma vez, os cientistas devem vestir a camisa-de-força do
materialismo, caso contrário não é possível fazer ciência. Esse
conceito está profundamente infundido nas ciências puras. É claro que,
assim que você começa a lidar com medição quântica e conforme as
possibilidades quânticas se tornam eventos reais da experiência, você
deve pressupor a consciência. Não tem saída. Essa é a única explicação e
interpretação livre de paradoxos possíveis para a física quântica.
Então, nós aceitamos o monismo idealista, mas ao mesmo tempo percebemos
que, no seu próprio âmbito, a filosofia materialista e suas
conseqüências são válidas, nada é negado. Então, na verdade, expandimos a
nossa ciência para novos domínios de experiências dos quais a antiga
ciência simplesmente não consegue tratar. Então, todos deveriam
realmente recebê-la bem, ao invés de ser antagônicos a ela.
Mirna Grzich: Professor, o senhor se tornou muito famoso depois do filme What the bleep do we know [Quem somos nós?], que foi feito inspirado no seu livro O universo autoconsciente.
Eu queria que o senhor falasse sobre a questão da intenção. Como a
intenção... quer dizer, a colocação que o senhor faz de que observador é
responsável pela mudança que acontece na realidade, pelas alterações na
realidade... E isso está se transformando num movimento mundial, as
pessoas estão começando a usar isso em vários sentidos e até
erroneamente. Eu queria que o senhor comentasse sobre esses filmes: O segredo [2007] e Quem somos nós? [2004], que foi o nome brasileiro de What the bleep. Como o senhor vê a intenção, como que o senhor explica isso?
Amit Goswami:
Obrigado por essa pergunta maravilhosa. Então, as intenções são
relacionadas à física quântica bastante elementar, porque nós já
postulamos que a consciência é a base de todo o ser e compreende em si
as possibilidades quânticas. E a consciência escolhe, dentre essas
possibilidades, uma faceta e esta faceta se torna um evento real da
experiência consciente. Afinal, o que é essa consciência? O nosso bom
senso diz sermos nós, o nosso ego, o estado comum da nossa consciência
e, por isso, nós escolhemos. E muitas pessoas, de fato, lançaram-se a
essa idéia quando um físico cunhou a frase “nós escolhemos a nossa
própria realidade”. Parece maravilhoso. Assim, as pessoas começaram a
escolher automóveis, grandes casas e começaram a desejar esse tipo de
coisa. O filme O segredo, na verdade, propaga essa
idéia mesmo no ano de 2006, 2007. Portanto, mesmo a idéia original tendo
esmorecido nos anos 1970, ela renasceu agora. Temos, portanto, esse
problema. O que se deve fazer é analisar essa situação com um pouco mais
de profundidade. É mais sutil. Se dissermos que a escolha se dá no
nível do ego individual, então surge um paradoxo. Suponha uma situação
dicotômica. Por exemplo, um semáforo com duas possibilidades, duas
possibilidades quânticas, verde e vermelho. Você se aproxima dele por
uma rua e sua amiga pela rua perpendicular. Dado que são pessoas
ocupadas, ambas vão desejar o verde. Mas, qual escolha vai valer? Esse
paradoxo, chamado de paradoxo de Victor Franz Hess [(1883-1964), físico austríaco que descobriu, em 1911, os raios cósmicos ganhando o Nobel em 1936],
porque o ganhador do Nobel da física, Victor Franz Hess nos deu esse
paradoxo – não é facilmente resolvível – porque se você diz que a sua
escolha domina, você será chamado de solipsista [aquele para quem só
importam seu próprio eu e suas sensações]. Não tem nenhum problema
nisso, mas sua amiga também pensará da mesma forma – que ela é o centro
do universo – e não você. O paradoxo é apenas deslocado de quem escolhe
para quem se torna o centro do universo. Dessa forma, esse paradoxo
realmente frustrou todos os esforços em trazer a consciência para dentro
da física por muitas décadas. Até que Ludvik Bass [matemático,
professor emérito da Universidade de Queensland, que foi o último aluno
de Erwin Schrödinger [(1887-1961) físico austríaco que fez grandes contribuições à mecânica quântica, especialmente a “equação de Schrödinger”
que descreve a evolução dos sistemas físicos sujeitos à mecânica
quântica ao longo do tempo, pela qual recebeu o prêmio Nobel de física
em 1933] na
Universidade de Dublin. No artigo “A mente do amigo de Wigner”,
argumenta em favor da existência de uma única consciência, uma única
mente, uma única alma. O “amigo de Wigner” é também o nome de um paradoxo, proposto teoricamente pelo físico Eugene Wigner [(1902-1995),
matemático e físico húngaro laureado com o prêmio Nobel de 1963 por
suas grandes contribuições para a teoria dos átomos nucleares e das
partículas elementares, particularmente pela criação e aplicação dos
princípios fundamentais da simetria. No final da vida, voltou sua
atenção para assuntos mais filosóficos, como o significado da vida. Com
isso, acabou se interessando pela filosofia hinduísta Vedanta, na qual o
universo é visto como uma consciência cósmica] para
refletir sobre o momento em que se faz uma mensuração na mecânica
quântica. O experimento desenhado para responder a pergunta mostra que
Wigner acreditava nessa consciência única, cósmica, como necessária ao
processo de medição] na Austrália, eu em Oregon e Casey Blood [físico e
matemático, professor emérito de física da Universidade Rutgers, nome da
Universidade Estadual de Nova Jersey. Fez pesquisas e tem artigos
publicados em física quântica. Escreveu em 2001 o livro Science, sense & soul - the mystical-physical nature of human existence.
Para Blood, o teorema de John Stuart Bell (ou teorema da
impossibilidade de teorias de variáveis ocultas locais) implica uma base
idealista para a realidade, pois requer o abandono de três elementos
fundamentais na física clássica: realidade, localidade e indução] em Nova Jersey
chegamos todos à mesma solução. Uma solução muito estranha, fora do
comum e muito mística. Ela consiste na idéia de que a escolha se dá no
nível de um estado incomum da consciência, de unidade cósmica onde todos
nós estamos interconectados. Essa interconexão da consciência – ou a
própria consciência como uma interconectividade que transcende o tempo e
o espaço e não requer uma conexão por meio de sinais– é nova e pertence
somente à física quântica. Esse conceito não pode ser gerado por nenhum
tipo de física newtoniana ou
nenhum tipo de extensão desta. Ele é radicalmente novo e é chamado de
não-localidade quântica. Portanto, a consciência é não-local. É
justamente isso que falta na expectativa do senso comum, que preconiza a
possibilidade de mudar uma possibilidade em um evento real com o
cérebro a partir da nossa identidade comum e local, escolhendo assim
coisas desejáveis para nós. Nós não podemos, infelizmente.
Mônica Teixeira: Dr. Goswami, é possível medir esse fenômeno do qual o senhor está falando? Porque a física é sobre medir, né?
Amit Goswami:
Obrigado pela pergunta. Sim, isso é uma conseqüência da teoria da
consciência como base de todo o ser, que escolhe, dentre as
possibilidades quânticas, o evento real da experiência. Dessa forma,
essa consciência deve ser não-local. Devemos ter uma interconectividade
não-local. E, portanto, duas pessoas deveriam ser capazes de se
comunicar não-localmente sem a troca de nenhum sinal. Mas, para ser
crível, é melhor que um fenômeno cerebral seja transferido para outro
cérebro. E, de fato, Jacobo Grinberg, um neurofisiologista da
Universidade do México, verificou justamente isto, colocando duas
pessoas para meditar juntas com a intenção de se comunicarem
diretamente, sem a troca de sinais. E, realmente, após um breve tempo de
meditação, separados em gaiolas de Faraday independentes – câmaras
eletromagneticamente impermeáveis – e com os cérebros conectados a
máquinas de eletroencefalograma [EEG], foram mostrados flashes de luz
para apenas um dos sujeitos. Então, o cérebro desse sujeito tem uma
série de formas de atividade elétrica em resposta aos flashes.
Mônica Teixeira: E essa atividade elétrica foi medida?
Amit Goswami:
Ela pode ser medida pela máquina de eletroencefalograma conectada ao
cérebro, o que normalmente se chama de onda cerebral e disso um
potencial evocado é extraído. O que impressiona – e desafia qualquer
tipo de explicação local do senso comum – é que o EEG conectado ao
cérebro do outro sujeito não-receptor de nenhum flash de luz também
revelou um potencial, virtualmente igual em intensidade e força. E até
mesmo a superposição das fases foi de 71% em um caso particular, 75% em
outro caso, 67% em outro ainda... Em suma, foi sempre substancial. A
conclusão do experimento é que a atividade elétrica de um cérebro se
transfere para outro cérebro sem conexão ou contato elétrico nenhum.
Mônica Teixeira: E há outras medidas desse fenômeno, há outros cientistas trabalhando nisso, Dr. Goswami?
Amit Goswami:
Depois que Jacobo Grinberg realizou isso na Universidade do México em
1993, 94 [refere-se aos resultados publicados em 1994 por Grinberg na
revista Physical Essays, que teriam demonstrado a realidade da
comunicação à distância, “não-local”, entre cérebros humanos. No final
desse ano, o pesquisador simplesmente desapareceu], Peter Fenwick
[neuropsiquiatra e membro do Royal College of Psychiatrists, associação
de psiquiatras britânicos e irlandeses. Tem buscado encontrar as bases
neurofisiológicas subjacentes às experiências místicas] verificou os
mesmos resultados com procedimentos ligeiramente diferentes em seu
laboratório em Londres. E,
desde então, foram realizados outros dois experimentos, um por
Waterman, do qual não conheço os detalhes, e outro por Leanna Standish
[médica naturopática e acupunturista especializada em complementar o
tratamento de portadores de câncer, aids, hepatite e doenças
neurológicas. Como Grinberg, fez um experimento em que, após uma breve
meditação conjunta, duas pessoas eram colocadas em salas separadas.
Caracterizando o que Standish chamou de “sinalização neural à
distância”, mudanças na atividade cerebral da pessoa que recebe os
estímulos e envia os sinais teriam se transmitido ao parceiro que recebe
esses sinais] e seu grupo na Universidade de Bastyr, em Seattle. Ambos
verificaram a mesma coisa. Agora, portanto, quatro experimentos
independentes mostraram que a transferência de informação de cérebro a
cérebro, sem nenhuma conexão eletromagnética, é, sim, possível e
mensurável, demonstrando a não-localidade da consciência. Porque isso é
explicado apenas se existir uma conexão não-local. Uma conexão pelo quê?
Evidentemente pela consciência, pois somente a consciência pode
escolher, dentre as possibilidades cerebrais, o evento real no cérebro
do segundo observador, que é semelhante à experiência do primeiro
observador.
Maurício Tuffani: Eu
tenho encontrado... não, imagino que essas idéias estejam enfrentando
uma certa dificuldade com relação ao conservadorismo de grande parte da
comunidade científica. Eu acho muito importante que haja debates sobre
diferentes concepções da ciência, mas não me parece que esteja havendo
um debate efetivo sobre esse tipo de idéias. Eu, por exemplo, fiz um
levantamento sobre os seus trabalhos no Web of Science,
que é um banco de dados do instituto para informação científica sediado
na Filadélfia, nos Estados Unidos. Ele aponta 21 trabalhos indexados,
publicados pelo senhor até 1986, janeiro de 1986. E o senhor teve uma
atuação científica, assim, bem tradicional, bem convencional e de lá
para cá o senhor publicou 9 artigos sobre esses temas, 12 artigos,
perdão, 9. Esses 9 artigos eles tiveram apenas 46 citações em todo o
mundo, muitas delas feitas pelo senhor próprio e por pessoas que são
ligadas ao senhor. Quer dizer, enfim, não se trata de um assunto com
repercussão na comunidade científica. A gente não vê um debate e me
parece que, lendo os seus livros... os pontos que seriam polêmicos não
são devidamente explorados em seus livros. A ciência, ela evolui em
função de debates, em função de controvérsias, né? Examinando
detalhadamente suas obras dá para perceber que, apesar de suas teses
heterodoxas, pontos polêmicos – por exemplo, o [Albert] Einstein, o senhor cita muito o Einstein.
Mas ele gastou as 3 últimas décadas da sua vida combatendo a mecânica
quântica, [fazendo] isso baseado numa compreensão que ele tinha do
universo e de Deus particularmente [a posição de Einstein,
contrária sobretudo ao princípio da incerteza de Heisenberg, encontra
sua síntese na conhecida frase do físico: “Deus não joga dados com o
universo”. O físico também fazia questão de dizer que não acreditava num
Deus pessoal, construído à imagem e semelhança do homem, que influencia
diretamente, julga ou pune as ações de suas criaturas. Ele dizia que
sua religião consistia numa humilde admiração do espírito infinitamente
superior que se revela no pouco que compreendemos sobre a realidade] .
Esse é um ponto que o senhor não explora muito, assim como tantos
outros. Isto não incomoda o senhor, o fato de não haver esse devido
confronto de idéias na sua obra?
Amit Goswami: Eu
agradeço a pergunta. Infelizmente, o confronto não é o estilo
recomendado pela visão de mundo que tenho... e a visão de mundo que
explica a física quântica e que agora parece explicar muitos fenômenos
inexplicáveis e que nem mesmo podem ser abordados pela visão de mundo
materialista. Essa é uma abordagem muito amigável, inclusiva. Eu não
acho que bater de frente em debates com cientistas específicos fará
alguma coisa a favor da nossa causa de mudança de paradigma. O paradigma
será mudado a partir do peso de evidências em favor dele. Atualmente, o
que nos ajuda muito é que temos aplicações práticas na área da
medicina, da psicologia... Infelizmente, eu acho que você não consultou
quantas vezes a minha obra é citada em trabalhos de psicólogos, de
profissionais da saúde e de outros, ainda, não-pertencentes às ciências
puras. Sim, é verdade que aqueles das ciências puras, os físicos, os
químicos e até mesmo os biólogos, preferem oferecer a chamada
“negligência benigna”. Eles não se envolvem com essa questão, pois
fazendo isso acabarão dando maior publicidade para mim, algo considerado
por eles prejudicial à sua causa. Então, deixá-los viver do modo deles e
nós do nosso é agora a melhor abordagem. Ciência alternativa. Estamos
desenvolvendo um paradigma de uma ciência alternativa, estamos
desenvolvendo respostas alternativas às questões que a ciência comum – a
ciência materialista – não consegue tratar. Estamos oferecendo às
pessoas respostas viáveis, como a validade da medicina alternativa, da
psicologia transpessoal, da espiritualidade e do yoga. Deixemos que
esses usos se tornem um lugar comum entre as pessoas e que possam
servi-las. A ciência, em última instância, serve às pessoas. Se as
pessoas são servidas, passará a haver um movimento popular espontâneo,
partindo das bases, no qual as pessoas se perguntarão “que ciência
preferimos?” Qual delas serve à nossa vida cotidiana e qual lida cada
vez mais com questões esotéricas como “quantos anjos podem dançar sobre
um alfinete”. A física das partículas elementares não foge muito disso.
Quem se importa com o que acontece a temperaturas extremamente altas,
que raramente verificamos, mesmo na totalidade do universo, com exceção
dos primeiros poucos micro... microssegundos do universo? Mas a gente
consome mais tempo e recursos nesse tipo de questões do que pensando em
como nos curar quando somos portadores de um câncer incurável. Essas são
as questões com as quais a nova ciência pode lidar. E é muito mais
importante se preocupar em responder as questões importantes para as
pessoas do que entrar em debates inúteis com outros cientistas. Eles são
apenas pessoas normais, com seus preconceitos, como eu tenho os meus.
Essa não é a melhor forma para fazer ciência. Você desenvolve teorias e
essas são testadas em experimentos laboratoriais, como aqueles já
descritos por mim. Essas coisas falam muito mais pela nova ciência e
atualmente as evidências estão aumentando como nunca. Temos novas
teorias da evolução, que funcionam e explicam as lacunas fósseis. Temos a
cura quântica e o fenômeno que Deepak
Chopra [(1946-) médico especialista em curas alternativas. Autor de mais
de 25 livros, traduzidos em 35 línguas, tais como A cura quântica, As sete leis espirituais do sucesso e Criando saúde]
descreveu. Existem evidências enormes de que ocorre a cura quântica, os
saltos quânticos, nos quais a consciência opta pela saúde no lugar da
morte.
Heródoto Barbeiro:
Nós vamos fazer um intervalo nessa nossa conversa com o doutor Amit
Goswami. Nós voltamos daqui a pouquinho e hoje nós queremos destacar na
platéia Adriano Fromer Piazi, que é diretor editorial da Editora Aleph, a
Tanimara Soares, que é física, e também a Lígia Regina de Azevedo Ruiz,
que é farmacêutica homeopata. Nós voltamos já, já.
[intervalo]
Heródoto Barbeiro: Nós voltamos hoje, aqui, no Roda Viva
com o nosso convidado que é o físico indiano Amit Goswami, professor de
física da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, que durante 32
anos mudou o foco de sua pesquisa para a cosmologia quântica e para as
relações entre o corpo e a mente. Doutor Amit já publicou vários artigos
e livros inclusive aqui no Brasil. A respeito de suas teorias, que
buscam ponto de união entre ciência e espiritualidade, ele está
respondendo hoje aqui no nosso Roda Viva.
[Vídeo]: O universo autoconsciente, A janela visionária, O médico quântico, A física da alma.
No primeiro livro que Amit Goswami publicou no Brasil, ele contraria a
idéia de que tudo é feito de matéria e estabelece uma nova visão de
mundo onde a consciência, e não a matéria, é a base de tudo que existe.
Em sua "janela visionária" defende um novo paradigma científico, no qual
os valores humanos vêm em primeiro lugar. Como "médico quântico" traz
as orientações de um físico para a saúde e a cura. E na Física da alma
traça uma explicação científica para a reencarnação, a imortalidade e
as experiências de quase-morte. Questões que Amit Goswami também levou
ao cinema. Junto com outros nomes da ciência, falou de suas idéias no
filme Quem somos nós?, que teve uma segunda parte depois: Quem somos nós? - uma nova evolução.
Os dois filmes misturam ficção e documentário e procuram mostrar que a
realidade, da forma como é percebida pelas pessoas em geral, é ilusória.
Goswami diz que a realidade é algo que nós mesmos criamos e, portanto,
podemos mudar. Os filmes foram sucessos de bilheteria nos Estados Unidos
e Canadá. Também ganharam versão em DVD e foram distribuídos por quase
todo o mundo, inclusive no Brasil.
[Trecho do filme Quem somos nós?]
Heródoto Barbeiro: Dr. Amit, a alma humana tem consciência?
Amit Goswami:
Essa é uma pergunta bastante sutil. Sim, a alma humana tem consciência,
mas depende do que você chama de “alma”. Vamos esclarecer esse ponto.
Eu pressuponho que você se refira à entidade sobrevivente após a morte. É
isso mesmo? Se esse for o caso, então, depois da morte, as
possibilidades não sofrem mais colapso tornando-se eventos reais. Então,
tudo segue para o que chamamos de inconsciente, no nível das
possibilidades. A consciência e a possibilidade estão lá, mas não há
nenhuma conversão em curso de possibilidades em eventos reais. Tudo
isso, portanto, é consciência? Sim, certamente, a consciência está lá,
mas a alma é somente uma possibilidade ou um conjunto de possibilidades
dentro da consciência.
Mônica Teixeira:
Quais são as manifestações físicas da alma ou então disso que o senhor
disse na resposta da primeira pergunta do Heródoto, a respeito da morte,
que é essa perenização de interações quânticas após a cessação da
consciência? Quais são as medidas físicas? Porque eu vou insistir: a
física é sobre medir fenômenos, né?
Amit Goswami:
Sim. Então, como encontrar um fenômeno que pode ser medido verificando a
sobrevivência das possibilidades? Deixe, então, eu terminar a teoria.
Ela não somente postula que as possibilidades sobrevivem, mas também que
um certo tipo de modificação das possibilidades também sobrevive. Essas
modificações acontecem porque, quando você parte desta vida, as nossas
memórias, armazenadas no cérebro – este que está ligado ao funcionamento
da mente e que consiste num dos componentes dos corpos sutis -, e o
próprio funcionamento da mente são modificados. É assim que
desenvolvemos um caráter individual e a individualidade. E são essas
modificações da mente e dos corpos sutis como um todo que, então,
sobrevivem à morte. Dessa maneira, é preciso mostrar que alguém pode
manifestar essas modificações, esse caráter modificado. Existem, de
fato, pessoas, chamadas de médiuns, que têm a capacidade de canalizar
essas entidades descarnadas – essas almas, por assim dizer – e, quando o
fazem, seu próprio caráter sofre uma mudança radical. Gilda Moura
[psicóloga que estuda o mapeamento cerebral dos estados alterados da
consciência], uma das pesquisadoras brasileiras, e Norman Don, um
pesquisador americano, fizeram um experimento no qual revelaram que uma
das pessoas que estava canalizando um médico cirurgião, Dr.
Fritz [é a denominação de uma entidade espiritual que obteve renome
mundial através de médiuns, curando pessoas com a chamada cirurgia
espiritual], enquanto o canalizava, houve um aumento da sua
melhor freqüência de operação para além de 40 hertz. Esse tipo de
freqüência é usado apenas por pessoas com altíssimos níveis de
concentração, como um neurocirurgião, talvez um físico quântico,
cientistas em geral, mas certamente não por um leigo, como era o caso do
médium em questão. E,
de fato, eles mediram e mediram e ele normalmente nunca operava a esse
nível de alta freqüência beta. Então, as características fisiológicas
mudaram e, obviamente, também as características mentais. Eu mesmo
verifiquei tal fenômeno trabalhando com médiuns. Quando eles canalizam a
entidade, eles são totalmente diferentes da maneira como normalmente
vivem.
Mônica Teixeira: E
esse tipo de resultado que o senhor está dizendo, ele nunca interessou a
governos ou talvez à indústria bélica, no sentido de ser utilizado e
transformado em objetos – vamos dizer– úteis seja para a guerra, seja
para a vida cotidiana?
Amit Goswami:
Os médiuns, aparentemente, têm sido muito úteis na vida cotidiana das
pessoas, algumas das quais, sem eles, estariam em condições bastante
miseráveis. Aparentemente, eles são grandes curadores. Acabei de
escrever um prefácio de um livro maravilhoso de um médium chamado João
de Deus, conhecido também como o médium João. Vive no Brasil, não muito
distante daqui. E esse rapaz canaliza entidades tão amáveis, não apenas
uma, mas diversas entidades, almas – mônadas quânticas na minha língua. E
ele opera, faz curas maravilhosas enquanto canaliza essas amáveis
entidades. As pessoas sentem o amor. E elas se curam de fato. E milhares
e milhares de pessoas estão se curando na sua vida cotidiana.
Mônica Teixeira: Não,
mas não é disso que eu estou falando, não foi essa a pergunta que eu
fiz. Quero saber se esse fenômeno não interessou, vamos dizer, aos
governos mesmo e à indústria, de maneira geral, no sentido de
transformá-la em alguma coisa que pudesse, por exemplo, dar dinheiro.
Por que não há esse interesse? Essas forças, essas energias, essas
mudanças de freqüência não teriam utilidade tecnológica, esse que é o
meu ponto?
Amit Goswami: Bem, você deve dar tempo a ele. Pois, recordemos que a termodinâmica foi descoberta um bom tempo antes de James
Watt [(1736-1819), matemático, inventor da moderna máquina a vapor, que
possibilitou a Primeira Revolução Industrial, cujo nome tornou-se
mundialmente conhecido por denominar a unidade de potência de energia –
watt] e outros produzirem o motor a vapor e assim por diante. Assim, meu
livro A física da alma foi escrito em 2001.
Apenas seis anos se passaram. Nós temos que esperar por algumas décadas.
O motivo é a inércia atual da ciência normal, da ciência materialista,
que é imensa. Muito investimento em bolsas de fomento está envolvido. Se
eles tiverem de dividir essas bolsas com quem eles consideram
vigaristas e lunáticos... Você sabe, leva muito tempo para se mudar uma
mentalidade. Mas deixa eu ressaltar que, antes da introdução do nosso
novo paradigma, nem mesmo a medicina alternativa recebia financiamentos
de grandes investidores. Mas agora, nos EUA o governo tradicional, em
nível federal, possui uma agência de fomento separada para a medicina
alternativa. Então, estamos avançando. Não é verdade que não existam
avanços. Mas, para coisas tão radicais como o aproveitamento dos médiuns
e de entidades canalizadas, um pouco mais de paciência será necessária.
Aliás, as pessoas já estão usando os paranormais, por exemplo, para
procurar tesouros submarinos. Existem muitos incidentes com tais
tesouros que remontam à Antiguidade. Como não se sabe onde estão, pois o
oceano é muito vasto, usam-se os clarividentes e os paranormais para
procurar por esses tesouros. E a taxa de sucesso é enorme. Outro exemplo
são os rabdomantes [procura, por meio de uma varinha, de uma fonte ou
de objetos escondidos. Adivinhação por meio de varinha mágica]. A
procura de água subterrânea com varinha rabdomântica funciona de acordo
com princípios da ciência alternativa e não há nenhuma explicação
materialista. Ele opera de acordo com o princípio da nossa sensibilidade
à energia vital da água. As pessoas usam rabdomantes rotineiramente.
Qualquer um que estiver construindo uma casa grande ou uma grande
construção e precisa de água na propriedade e não sabe onde cavar usa um
rabdomante e encontra o local a ser cavado. E é enorme o sucesso de sua
utilização. Essas são algumas das aplicações já colocadas em prática.
Heródoto Barbeiro: Dr. Amit, o professor Osvaldo tem também uma pergunta ao senhor. Por favor, Osvaldo.
Osvaldo Pessoa Jr.: Professor Goswami, a sua teoria da consciência quântica é uma teoria filosófica, e não exatamente científica. Ela se baseia na teoria quântica, mas a teoria quântica não
tem as conseqüências que a sua teoria tem. Você afirma que é possível
uma pessoa, com sua vontade, fazer com que um experimento quântico tenha
um resultado tendendo para um lado, mas isso não é conseqüência da teoria quântica. Na teoria quântica
você pode escolher ou observar o que você quer medir, mas não
influenciar o resultado da medição. Mas a sua teoria afirma que isso é
possível. Então, a sua teoria não é uma conseqüência da teoria quântica. Ela afirma algo a mais, certo? Você concorda com isso?
Amit Goswami:
Você precisa ser um pouco mais sutil. O que você disse não está
exatamente correto. Primeiramente, todas as teorias, não sendo
matemáticas, não podem ser negadas como teorias. Filosofia também é
teoria. Por exemplo, na biologia e na psicologia não existe teoria
matemática. A teoria de Darwin [também conhecida como teoria da
evolução, foi proposta por Charles Darwin no livro A origem das espécies,
publicado em 1859. Segundo Darwin, cada indivíduo de uma prole
(conjunto de filhotes) tem características próprias que influenciam sua
sobrevivência e sua capacidade de se reproduzir. Os indivíduos que têm
características favorecidas pelas condições ambientais em que vivem
tendem a deixar mais descendentes que os outros, mecanismo pelo qual
opera a seleção natural] não é matemática. Por
acaso afirmamos que ela não é uma teoria científica? Não. Então, só
porque minha teoria não é matemática, não diga que é filosofia. Ela é
também teoria. Por quê? A diferença entre teoria e filosofia... desculpe
lhe dar essa pequena aula... a diferença entre teoria e filosofia deve
estar bem clara. Uma idéia filosófica prescinde de qualquer conseqüência
experimentalmente verificável. Para uma idéia teórica da ciência, por
outro lado, deve haver uma conseqüência experimentalmente verificável.
Ela deve ser capaz de guiar pesquisas futuras. A minha obra supera esse
teste com distinção. Há uma previsão verificada, como eu já disse, por
quatro experimentos diferentes e independentes e ela orienta trabalhos
de psicologias transpessoais, de curas alternativas, trabalhos sobre
evolução... Não somente os meus, trabalhos de outros também. Então, já
está orientando pesquisas dentro da ciência, para a qual essa idéia de
escolha individual é significativa. É verdade o que você diz sobre
física e química. Quando você trabalha com muitas partículas e muitos
eventos, tudo de que precisamos são probabilidades. E a matemática
quântica calcula essas probabilidades muito bem. Não é necessário
abarcar a medição quântica em uma única medição. Essa questão nem mesmo
emerge para experimentos comuns que verificam a física quântica no
laboratório. Então, no âmbito da física e da química, não existe
praticamente nenhuma aplicação dessas idéias. Mas, para sistemas
biológicos, sistemas vivos, nós somos obrigados a considerar os objetos e
os eventos singulares. É para essas situações, um objeto singular, um
paciente que precisa se curar a partir da intenção. Um objeto e um
evento singular. Nesse caso, não tem como você aplicar a física
quântica, probabilística. Você não tem um milhão de pacientes com um
milhão de eventos para serem observados. Você possui um único paciente
com uma única intenção e um único evento. Ele se curará ou não? Nesses
casos, somente essa abordagem, a qual sustento, é aplicável. E essa
abordagem está passando pelo teste, pois já tivemos muitos casos de cura
quântica, nos quais a pessoa pode chegar à saúde por meio da intenção,
se esta é feita no espírito correto, ou seja, se ela entra em
ressonância com a intenção da consciência cósmica que toma a decisão.
Aí, então, as intenções individuais são recompensadas.
Heródoto Barbeiro: Laís, por favor.
Laís Wollner: Eu acho que é difícil, até para os mais céticos, negar um certo paralelismo entre as interpretações que se pode fazer da teoria quântica e o que dizem as tradições atuais, particularmente as do oriente, né? Do taoísmo o Niels Bohr
tomou emprestado para gravar em seu brasão, o símbolo yin/yang do
tai-chi, com inscrição em latim, “os opostos são complementares”. Isso
para representar o princípio básico da física quântica que é o princípio
da complementaridade da autoria do Bohr, né. Agora, o curioso nesse
símbolo é que ele é bem mais complexo do que ele aparenta na sua
simplicidade. E, considerando os seus níveis de significação, os seus
elementos, ele vai fundo no princípio da complementaridade e apresenta
interpretações muito próximas da teoria quântica propostas por Amit Goswami. Não sei se já se deu conta disso. E, entre outros detalhes, ele simboliza com ponto branco yang num preto yin
e vice-versa, uma dinâmica cíclica, auto-referente, que leva à unidade
por um agente oculto, transcendente, que contém o manifesto, o
não-manifesto e, ainda, o agente causal. Corresponde à lógica da
hierarquia entrelaçada e o nível inviolado da consciência una,
não-local, da linguagem da interpretação quântica de Goswami. Eu me
pergunto se já se deu conta disso, se tomou conhecimento do significado
desse símbolo até as suas últimas conseqüências e se o Bohr teria
vislumbrado essa interpretação idealista, uma vez que ele esteve na
China, em 1937, depois de terminado todo o seu trabalho e ficou muito
impressionado com a complementaridade. Voltando, ele passou a estudar e a
se interessar muito pela cultura oriental, 10 anos depois ele colocou o
símbolo no brasão. Não teria Bohr, com toda a sua perspicácia, com todo
o seu conhecimento, com a sua grande criatividade... teria visto, teria
aparecido, talvez nos seus escritos tardios, algum indício dessa
percepção da sua teoria, dessa interpretação idealista da teoria quântica?
Amit Goswami: Muito obrigado pela pergunta. Essa é uma ótima retrospectiva histórica a ser considerada. Eu acho que todos os físicos quânticos daquele período, os principais do período, foram sem dúvida, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger, o próprio Einstein, que já mencionamos. Não é amplamente conhecido que o próprio Einstein
descobriu a não-localidade quântica. A idéia de que a física quântica
contém esse conceito peculiar da não-localidade é justamente a razão
pela qual ele não podia aceitá-la, pois parece ir contra a natureza da teoria da relatividade.
Só agora podemos ver que ela ultrapassa a relatividade, pois o que ela
diz é que a comunicação sem sinal deve acontecer fora do tempo e do
espaço. Mas, na época de Einstein,
não se podia conceber o universo com uma componente transcendente em
relação ao tempo e ao espaço. Mas Heisenberg já falava do domínio da
potência que está fora do tempo e do espaço. Einstein
simplesmente não conseguia compreendê-lo naquela época e não podia
acreditar na não-localidade quântica. A não-localidade quântica, porém, é
verificada no laboratório físico em 1982, e, claro, para os humanos,
como eu já descrevi, em 1993-94. São, portanto, experimentos que fizeram
toda essa mágica quântica ganhar vida. Antes disso, teria sido muito
difícil para todas essas pessoas – apesar de suspeitarem que a filosofia
da física apontasse para uma grande mudança de paradigmas –... todos
suspeitavam disso. Schrödinger declarou, inclusive: “Eu sou este mundo
inteiro.” Consciência cósmica. Mas não o fez em conexão com sua obra. A
constituição de sua obra o levou ao “paradoxo do gato de Schrödinger”,
que ele próprio jamais conseguiu resolver. Somente Von Neumann
[(1903-1957) matemático. Contribuiu para diversas áreas do conhecimento,
desde a mecânica quântica até a psicologia. O estudo The mathematical foundations of quantum mechanics
ajudou a complementar as formulações de Heisenberg e Schrödinger]
reconheceu que a consciência é, sim, a solução. Mas ele não conseguiu
sair de uma teoria dualista da consciência, ele não foi radical o
suficiente para reconhecer que a consciência é a base de todo o ser.
Eugene Wigner, outro prêmio Nobel, que presumiu que a consciência é
importante. Mas novamente não conseguiu ser radical o suficiente, não
conseguiu chegar ao ponto de reconhecer que a consciência é cósmica, e
não individual. Dessa maneira, ele também constituiu um paradoxo e ficou
preso a ele sem conseguir resolvê-lo. Mas você vê a luta interior por
que essas pessoas passam. Essas são as pessoas que reconhecem que uma
mudança radical da filosofia, uma mudança radical na forma de se fazer
ciência está por vir. Essas são as pessoas que colheram aquele mesmo
espírito. Obrigado por nos lembrar que os elaboradores da física
quântica conheciam a natureza radical da física quântica.
Heródoto Barbeiro: Nós fazemos um intervalo nessa nossa edição de hoje do Roda Viva,
que está sendo acompanhada pelo Fernando Schutz, que é diretor
audiovisual e organizador do "Yoga pela paz 2007"; o Adelson da Silva,
consultor editorial da editora Aleph; pela Cecília Regina Romero, que é
gerente de relações públicas, e pela Angela Oliveira, que é colega
nossa, jornalista. Nós voltamos já, já.
[intervalo]
Heródoto Barbeiro: Nós voltamos hoje com o nosso entrevistado aqui no Roda Viva,
que é o físico quântico Amit Goswami, indiano radicado nos Estados
Unidos há quase 40 anos ele se tornou conhecido pôr seus estudos que
aproxima a ciência e as espiritualidades. Professor, nós temos aqui a
pergunta do professor-titular do departamento de teologia e ciência da
religião da PUC de São Paulo, que é o professor Mário Sérgio Cortella.
Ele tem aqui uma questão. Vamos ver a questão.
[vídeo]
Mário Sérgio Cortella:
Em março de 2001, eu tive a chance de perguntar ao senhor [sobre] o
entrecruzamento de duas grandes indagações: a possibilidade de viagem no
tempo e a origem do universo. E, naquele momento, se falava da
possibilidade de haver, não sendo o tempo linear, o recuo na nossa
trajetória. Hoje eu gostaria de completar essa questão com uma
curiosidade. Na hipótese, não sendo o tempo linear, de nós voltarmos no
tempo, seja uma pessoa, seja um artefato humano, e que nós recuemos até o
momento originário do universo o Big Bang
ou outra explicação, o que o senhor supõe que nós vamos lá encontrar?
Uma força, uma consciência, uma pessoa, um fenômeno físico? Qual é a
expectativa que o senhor tem em relação à razão daquele momento inicial
no instante [em] que ele acontece? O que é que será por nós achado, isto
é, qual é a razão, de fato, dessa origem na tua expectativa? Não
necessariamente na prova científica, mas no teu desejo ou, como disse,
na tua expectativa e esperança.
Amit Goswami:
Professor, hoje, do contrário, esta se manifesta, na verdade, como uma
pergunta extremamente científica. De fato, às vezes ela é tomada como um
paradoxo. Porque, se tudo é possibilidade, como o Big Bang, que deve ter acontecido... de fato, a teoria de Stephen Hawking [(1942) físico e doutor em cosmologia, professor de matemática na Universidade de Cambridge. Provou
o primeiro de muitos teoremas que fornecem um conjunto de condições
suficientes para a existência de uma singularidade no espaço-tempo. Mais
que isso, segundo Hawking essas singularidades caracterizariam a
relatividade geral. Também sugeriu que, após o Big Bang,
mini-buracos negros se formaram] e a cosmologia quântica postulam que o
universo deve ter se originado como universos de ondas de
possibilidades. Dessa maneira, o que converte esses universos possíveis
no universo real em que vivemos? O que o escolhe – e assim por diante–?
Essas perguntas são relativas ao mesmo problema da medição quântica,
considerado aqui por nós. Se você diz que a consciência o faz, então
surge a questão da ausência de qualquer ser consciente no momento do Big Bang.
Por ser muito quente, um ser vivo não poderia nem mesmo sobreviver.
Portanto, essa é uma questão paradoxal legítima. Felizmente, na física
quântica, antes ainda de essas perguntas serem levantadas, as pessoas
fizeram um experimento chamado “experimento da escolha retardada”. Este é
um experimento muito interessante, pois demonstra que, mesmo com
escolhas retardadas, a física clássica sugeriria já ter se iniciado o
acontecimento das coisas. Mas as coisas não acontecem dessa forma na
dimensão quântica. Na física quântica, as coisas permanecem como
possibilidade até que um ser consciente, de fato, as observe. Isso
somente é possível na física quântica. O pensamento clássico não te
levará a lugar nenhum. A idéia, então, é que o universo espera como
possibilidade, assim como o Big Bang,
a criação das galáxias, das estrelas, dos planetas, a solidificação
suficiente dos planetas, a formação da atmosfera... Tudo isso permanece
possibilidade até que o primeiro ser vivo, aquela única célula viva...
Isso aconteceu há cerca de quatro bilhões de anos na Terra ou,
provavelmente, também, em outros planetas, o que é bem possível. Mas até
que aquela única célula viva complete o que John Wheeler chamava de
“circuito de significado”, complete o que eu chamo de circuito da
hierarquia entrelaçada, na qual se pode aferir a medição quântica uma
circularidade... Porque o observador é necessário para o colapso de um
evento quântico. De outro lado, o colapso é necessário para a criação do
observador, isto é uma lógica circular, uma lógica de hierarquia
entrelaçada que se aplica a todos os eventos da criação. Então, até que
isso aconteça, até que o circuito de significado esteja completo, não há
colapso, não há Big Bang. Como, então, acontece o Big Bang?
Ele aconteceu – retornando do tempo, daquele momento do colapso do
evento até a origem – há 15 bilhões de anos. Então, onde existe o Big Bang? Ele algum dia aconteceu de fato? Ele aconteceu somente de forma figurada, nas memórias. Então, como sabemos que o Big Bang aconteceu? É claro que as memórias do evento do Big Bang
– radiação de microondas cósmicas – podem ser observadas. E é
justamente o que observamos. Devemos reconstruir esse tipo de evento a
partir dos termos da física quântica. Assim fazendo, excluem-se os
paradoxos.
Heródoto Barbeiro: Ulisses tem uma pergunta para fazer. Pode fazer, Ulisses.
Ulisses Capozzoli: Eu queria voltar a essa questão controvertida, evidentemente, que é a da morte. O senhor fala, nos seus livros, do Livro tibetano dos mortos [Nas
palavras do Dalai Lama, líder da religião budista, trata-se de um
conjunto de ensinamentos que busca aplacar a insegurança e o medo que
brotam da reflexão sobre a morte e a relação entre viver e morrer e deve
servir como fonte de inspiração e apoio a todas as pessoas]. Todo
aquele conhecimento do Livro tibetano dos mortos, até onde eu sei, tinha sido, ao menos parcialmente, corroborado com as Experiências de quase morte
(EQM). A construção, todo o conhecimento tibetano dos mortos não foi
feita à base de medida ou de peso. Eu pergunto, inclusive, se é
possível, se faz sentido a gente pensar na “Sinfonia n. 9” [conhecida
como "Nona sinfonia"] ou
na Pietà [escultura em mármore feita pelo italiano Michelangelo no
final do século XV, uma das mais conhecidas do artista, representando
Jesus morto nos braços de sua mãe, Maria. Fica na Basílica de São Pedro,
no Vaticano] medindo e pesando? O peso e a medida têm muito a ver com o
realismo materialista, a sua proposição eu acho que é numa outra
direção. O que, do Livro tibetano dos mortos, tem corroborado
para essas abordagens que o senhor tem feito na área de mecânica
quântica? Aquilo tudo era besteira ou nós temos uma estética, temos uma
construção que faz sentido?
Amit Goswami:
Bom, quando se reconstrói a alma da forma já sugerida por mim, ou seja,
como o caráter de uma pessoa que sobrevive à morte e que permanece na
matemática, envolvida na produção do próprio caráter, e se uma pessoa no
futuro usa a mesma matemática, então aquela pessoa poderia ser chamada
de uma reencarnação dessa pessoa que morre. Então, se você a constrói
dessa forma, você poderá construir todo o percurso. Esse experimento da
escolha retardada, que acabei de mencionar, é muito útil. Depois da
morte, as possibilidades não podem mais sofrer colapso, não há evento
real. Nisso você está completamente correto. Mas, no momento do
nascimento da próxima encarnação, haverá um evento por colapso. Naquele
evento por colapso, o percurso inteiro de eventos descritos pelo Livro tibetano dos mortos se realizará. Somos incapazes de dizer se realmente se realizou. Porque somos somente memórias disso, como no Big Bang, que apenas se apresenta nas suas próprias memórias, nunca poderemos realmente comprovar o Big Bang,
somente se apresentarão memórias semelhantes, apenas as memórias
permanecerão. Onde elas permanecerão? Na memória do bebê recém-nascido.
Poderemos reavê-las de alguma forma? Psicólogos muito poderosos, como
Stan Grof [apelido de Stanislav Grof, tcheco considerado um dos
fundadores da psicologia transpessoal e pioneiro na investigação dos
estados alterados de consciência. Obrigado a abandonar suas experiências
com o ácido lisérgico (LSD) no final da década de 1960, quando o uso da
substância foi legalmente banido, passou a apostar na técnica de
respiração holotrópica], inventaram diversos métodos. O método de Stan
Grof é chamado de respiração holotrópica: um modo de respirar muito
intenso que leva as pessoas a um estado de consciência alterado, no qual
elas podem regressar... elas podem regressar até o canal de nascimento.
É impressionante. E, durante esse estado de regresso, eles são
solicitados a fazer declarações e eles as fazem na medida em que se
recordam delas. E, nessas declarações, as pessoas de fato se recordam do
que poderá ter acontecido durante aquela viagem para além da morte, em
direção a outra vida. E eles dizem coisas como, “eu escolhi os meus
pais, o meu sexo, o que farei com esta vida”. Isso sugere que, de fato, é
verificável. Aquilo que acontece naquela permanência temporária fora do
tempo e do espaço não é completamente inverificável, ainda que devamos
ter muita paciência, trabalhar com muitos sujeitos e com muitos eventos
para construir as respostas específicas para o Livro tibetano dos mortos.
Ulisses Capozzoli:
O senhor acha que, pelo fato de ter nascido na Índia, com toda essa
profunda e ampla tradição da Índia... facilita um pouco a exploração
desse território todo que o senhor trabalha em comparação a nós, por
exemplo, que não temos essa base filosófica?
Amit Goswami:
Eu gostaria de poder dizer isso... Eu fui muito contaminado pelo
ocidente. Para te dizer a verdade, aos 14 anos eu me tornei
completamente materialista. Aquele materialismo nunca me deixou, até eu
vivenciar uma experiência, enquanto conversava com um místico, quando eu
me dei conta de que, de fato, a consciência é a base de todo ser. E
isso podia ser um modo de estender a ciência para uma arena com a qual a
ciência ainda não lidou. Mas, antes dessa revolução, eu era bastante
materialista. Para dizer a verdade, mesmo depois dessa revolução...
Serei muito franco com você. Em 1994, após o lançamento de meu livro O universo autoconsciente,
eu estava em uma entrevista na rádio e me perguntaram: o que acontece
quando você morre? E eu fiquei totalmente atônito. Eu não sabia como
respondê-la, eu não queria lidar com a questão da morte e eu não queria
lidar com a reencarnação. Essas coisas eram desconhecidas,
inacreditáveis no vocabulário de um físico e no processo de pensamento
de um físico. Uma série de eventos se sucedeu, levando-me à pesquisa
para o livro A física da alma. Foi como se eu tivesse um sonho e no sonho eu ouvi as palavras: “O Livro tibetano dos mortos está
correto e é sua missão prová-lo”. Coisas dessa natureza aconteceram e,
por causa disso, aqui estou, com um assunto bem definido e pesquisado
como a física da alma. Mas eu era um materialista. Não tem como crescer
nessa cultura e fazer física – como eu fiz com gosto por muitos anos –
sem se tornar um materialista.
Maurício Tuffani: Professor Goswami, eu gostaria de retomar a questão levantada pela Mirna sobre os dois filmes, Quem somos nós? e O segredo.
O que me incomoda muito no argumento desses dois filmes é justamente o
que os fez ser amplamente comemorados e aplaudidos pelos entusiastas de
um novo tipo de estratégia de comunicação voltada para o convencimento
em grande escala, que é o chamado “marketing viral” [técnicas de
marketing desenvolvidas para explorar redes sociais existentes de modo a
amplificar exponencialmente o conhecimento de uma marca. Muitas vezes
adquirem a forma de videoclipes ou jogos interativos que buscam ser
divertidos para que as pessoas os passem adiante a outros indivíduos de
sua teia de relações]. Consiste em trabalhar agressivamente com
mensagens aglutinadoras de crenças amplamente disseminadas, deixando de
lado tudo que poderia entrar em contradição com elas. E isso tem muito
pouco a ver com o debate e tem muito pouco a ver também com divulgação
séria deixar essas coisas de lado. E, certamente, os filmes devem dar
muito lucro para quem os elaborou, enfim, caindo em outro lado do
materialismo. Isso não incomoda o senhor, esse vínculo?
Amit Goswami:
Bem, todos os filmes não são feitos para transmitir alguma mensagem?
Considere quantos filmes a mais transmitem a mensagem materialista. Nós
esquecemos disso freqüentemente. Ao questionar qualquer professor
espiritual, não percebemos que milhares e milhares de pessoas estão nos
ensinando constantemente crenças materialistas infundadas. Eu vi num
livro de primeira série a afirmação de que tudo é feito de matéria.
Mostre-me, então, onde está a prova de que tudo é feito de matéria.
Nunca se provou que a mente é feita de matéria. Nunca se provou que a
consciência é feita de matéria. Essas são teorias selvagens de gênero
materialista. E nós aceitamos essas coisas sem nem mesmo questioná-las.
Em seu livro, Richard Feynman escreveu que tudo é feito de matéria sem
uma prova consistente [Goswami se refere ao livro QED: a estranha teoria da luz e da matéria].
Sim, todas as coisas materiais são feitas de matéria. Todas as
experiências materiais são feitas de matéria. Mas ninguém jamais mostrou
uma experiência mental, uma experiência vital, um sentimento ou uma
intuição feita de matéria. Então, aqui você deve tomar muito cuidado.
Está bem, esses filmes não estão nem mesmo necessariamente de acordo com
a mensagem completa da física quântica do modo como eu a entendo. O segredo é
particularmente falacioso, pois ele diz que existe essa atração com a
qual você pode atrair um desejo específico para você apenas sentando-se e
esperando por ele. Eu não compartilho dessa forma de entender como as
coisas são atraídas. Sim, as coisas podem ser atraídas, mas você deve
desejar adequadamente, lembrando que sua intenção deve alinhar-se com a
consciência cósmica e que você deve ser criativo ao desejar. Por isso,
você não pode simplesmente não fazer nada e esperar que as coisas venham
a você. Sim, a criatividade vem a nós, mas somente se trabalharmos e
esperarmos, se trabalharmos e relaxarmos. Isso é amplamente conhecido,
que o relaxamento é necessário para uma experiência criativa, a ciência
materialista nunca te dirá. Mas as pesquisas demonstram que o
relaxamento é necessário. Pensando em termos quânticos, isso é
facilmente compreensível. Por quê? Porque as possibilidades quânticas se
expandem quando não estamos causando colapsos nelas. E, quanto mais
expandidas forem as possibilidades quânticas, mais possibilidades
existirão dentre as quais você poderá escolher e, assim, a criatividade
obviamente será maior. Essa era a idéia do filme Quem somos nós?.
Esses produtores do filme me surpreenderam. Eles apenas me perguntaram
se eu poderia dar uma entrevista e eu apenas dei uma entrevista com
minhas idéias. Só foi isso que eu fiz, meu papel no filme se limitou a
isso. Esses produtores escreveram uma história de uma jovem criativa,
que, aliás, descobriu a criatividade. É uma história linda, contada com
uma simbologia honesta, com uma simbologia tão provocativa, que
deveríamos somente elogiar esse filme. Tudo bem, você pode não concordar
com alguns de nós, físicos e neurofisiologistas que aparecem no filme.
De fato, algumas das pessoas ou dos cientistas que apareceram no filme
não concordam com a mensagem do filme ou com as opiniões de outros
cientistas. Isso é de se esperar, está tudo bem. É um paradigma em construção. Não
estamos sempre de acordo entre nós e não esperamos que todos concordem
conosco imediatamente. Como eu disse, a teoria deve ser amparada por
dados experimentais. Mas como negar que esses filmes são bons
experimentos se eles promovem muitos outros filmes com esse tipo de
técnica, na qual os cientistas falam no plano de fundo do desenvolver-se
da história? Que eles tenham muito sucesso! Existem tantas outras
coisas que foram produzidas. Não é isso o que entendemos por
criatividade? Algo novo. É inegável que esses filmes atinjam o íntimo de
muitas pessoas, porque eles exploram algumas idéias novas com as quais
as pessoas se identificam.
Heródoto Barbeiro:
Vamos fazer um intervalo, lembrando que o nosso convidado de hoje é o
doutor Amit Goswami. Eu gostaria de ressaltar, aqui, a presença também
do analista de suporte Vitor Hugo Ferreira, que está aqui conosco; a
assistente de relações públicas impressa, a Érika Chagas; conosco, o
analista de rede Milton Santos e também Marcos Egydio Martins,
engenheiro agrônomo, ambientalista e consultor em sustentabilidade. O Roda Viva volta já.
Heródoto Barbeiro: Bem, nós voltamos aqui. No Roda Viva,
hoje, nós estamos entrevistando o físico indiano Amit Goswami. Ele foi
professor de física nos Estados Unidos por mais de 30 anos e integra
também um grupo de cientistas que busca a mudança da ciência de uma
visão materialista para uma visão espiritualista. Dr. Amit nós temos
aqui mais uma pergunta para o senhor, vamos ver.
[vídeo]
Emerson Ciociorowski
[Consultor na área de planejamento de carreira]: Professor Amit, se nós
considerarmos que as empresas são seres vivos, porque são formadas por
pessoas e que até hoje nós partimos os processos de gestão, de liderança
e de criatividade a partir de uma visão clássica e cartesiana, a minha
pergunta é: de que maneira a visão quântica pode ser útil para as
empresas e que exemplos, eventualmente, nós podemos seguir, se é que as
empresas já estão disseminando essa nova visão para quebra de
paradigmas?
Amit Goswami: Eu estou feliz em ter a oportunidade de tratar desse assunto. Essa é minha paixão atual, minha pesquisa em curso. Desde
que descobrimos que existe uma maneira – esse novo paradigma da
consciência como base de todo o ser – ... desde que descobrimos que
existe uma maneira de reinserir a consciência dentro da ciência, existe
uma maneira de introduzir os corpos sutis, como mente, energias vitais,
sentimento e intuição, na equação para a nossa ciência... então, devemos
usar esses corpos sutis para influenciar essa idéia da consciência e da
escolha consciente por causa descendente, para influenciar todas as
empresas humanas que são importantes para nós e que desempenham um papel
importante na nossa vida cotidiana, especialmente as relacionadas aos
negócios e à economia. Como vocês sabem, a economia é uma ciência
extremamente imperfeita. Os economistas fizeram uma péssima escolha ao
fazer da economia uma ciência matemática. Tornou-se uma economia de um
mundo ideal, que não pode de maneira nenhuma ser verdade no mundo real,
onde as pessoas de negócios têm suas emoções, seus sentimentos, suas
intuições. E até mesmo o pensamento, como sabemos, não é sempre
racional, é influenciado pelas emoções e intuições. E essas coisas não
têm sido contempladas na economia acadêmica. Então eu proponho que
mudemos a economia. O capitalismo, em si, é uma idéia muito boa,
completamente condizente com a idéia da consciência. De fato, o
capitalismo tornou o processamento de significado disponível para muito
mais gente do que antes de sua origem. Então, o capitalismo é totalmente
compatível com a evolução da consciência. Mas o que fizemos com ele
desde então não é muito compatível com a idéia idealista, aquela de
processamento de significado para todos. Onde foi que tomamos o caminho
errado? É claro que podemos notar falhas cruciais até mesmo no
capitalismo de Adam Smith [(1723-1790)
economista e filósofo escocês, considerado o pai da economia moderna.
Principal teórico do liberalismo econômico, defendia a livre
concorrência, a divisão do trabalho e o livre comércio, como forma de
alcançar a harmonia e a justiça social]. O ciclo dos negócios, os ciclos
de prosperidade e depressão, por exemplo. As pessoas não podem conviver
com prosperidade e depressão, porque a depressão fere as pessoas.
Então, qual é a solução para isso? Todas as soluções propostas até
agora... A economia keynesiana [conjunto de idéias econômicas integradas
no pensamento de John Maynard Keynes (1883-1946), criador da
macroeconomia, que figura entre os mais importantes economistas do
século XX e elaborou uma teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro.
Na contramão das soluções neoliberais, Keynes defendia a intervenção do
Estado na economia, por exemplo por meio de obras públicas e política
fiscal, promovendo quando necessário uma redistribuição da renda],
centrada no ser humano, que fornece dinheiro para as pessoas por meio de
empregos públicos, possibilitando aos consumidores recuperarem a
economia, ou a economia voltada para a oferta, na qual você fornece
dinheiro para os ricos, o que não afeta a demanda e, portanto, não
produz inflação. Todas estas idéias funcionaram até certo ponto, não
nego isto, mas o ciclo de prosperidade e depressão ainda não é
eliminado. Eu sugeri introduzir os corpos sutis como componentes da
economia, do consumo e da produção, produzindo ativamente energias
sutis, como as energias vitais. Podem ser produzidas? Sim, como a
pesquisa de Abraham Maslow [(1908-1970), psicólogo conhecido por ter
proposto a “hierarquia de necessidades de Maslow”] mostrou, muito tempo
atrás, que existem pessoas que vivem repletas de constantes energias
positivas maravilhosas de amor e assim por diante. Portanto essas
pessoas poderiam fazer parte das empresas, poderiam ser empregadas pelo
governo, essas pessoas poderiam ser um segmento da economia em tempos de
recessão. Isso forneceria um maior amortecimento do impacto necessário
para a recuperação dos negócios, porque é um fato que, estando
satisfeitas, as necessidades materiais das pessoas são reduzidas.
Heródoto Barbeiro:
Dr. Amit, o senhor disse agora há pouco que era materialista e deixou
de ser materialista. Agora o senhor acredita em Deus? A física quântica é
capaz de explicar a existência de Deus?
Amit Goswami:
Sim, eu acredito em Deus, mas devo qualificar essa afirmação, porque os
materialistas constantemente atacam uma imagem populista de Deus e a
nova ciência não sustenta essa imagem de Deus. Essa imagem populista de
Deus se define como um ser humano ou algum tipo de ser não
necessariamente humano ou um super ser humano ou um ser imperial, que
julga as pessoas quando falecem. Ou faz alguma outra coisa do tipo. Esse
é um Deus de palha, que é sempre atacado pelos cientistas
materialistas. Leia livros como Deus, um delírio, de Richard Dawkins,
e você verá o que estou dizendo. Esse não é o Deus da tradição
espiritual esotérica, esse não é o Deus do budismo e nem mesmo do
cristianismo. Até no cristianismo Jesus disse que o reino dos céus está
em toda parte. Ele não disse que o reino dos céus está restrito a um
trono, a um Deus sentado no céu com uma vara distribuindo nossos
julgamentos e acusando, transcendente. Então, se você esquece a imagem
populista de Deus e se você realmente O considera como ele aparece no
transcendente e no imanente, como Ele aparece na tradição esotérica, nós
redescobrimos o significado da palavra transcendência. Ela quer dizer
não-local. Nós descobrimos que Deus é a consciência não-local.
Descobrimos o que significa causa descendente. Descobrimos que causa
descendente consiste na escolha a partir das possibilidades quânticas. É
esse Deus que a nova ciência sustenta. E descobrimos que os corpos
sutis existem sem dualismo. Porque os corpos sutis – tanto quanto os
corpos materiais – são possibilidades da consciência. Esta mede a
interação entre essas possibilidades, à medida que causa o colapso das
suas experiências a partir dessas possibilidades, momento após momento.
Dessa forma, nós desenvolvemos um meio científico de falar sobre o que
as tradições espirituais têm falado há muito tempo com a linguagem e o
auxílio apenas da intuição. Isso é uma enorme conquista. Se não formos
tão antagonistas entre nós, se os materialistas apenas parassem um pouco
e vissem o que estamos ganhando! Eles estão prontos para jogar fora o
bebê com a água do banho. Sim, as religiões nos trouxeram muitos males,
agora mesmo existem tantas guerras acontecendo no mundo por motivos
religiosos... Eu mesmo sou definitivamente contrário a esse tipo de
abuso da religião. Mas não se deve jogar fora as idéias básicas por
causa disso, não se deve ser tão suscetível aos impulsos das emoções. Se
você parar um pouco, verá que existe uma enorme sabedoria também nas
religiões. Elas sempre nos falaram – mesmo o islamismo e o cristianismo,
as facções em guerra hoje – sempre nos falam sobre as virtudes: amor,
beleza, justiça. São essas as coisas que as religiões querem que
vivamos. E essa parte da religião é extremamente importante. A nova
ciência é capaz de mostrar que, de fato, a evolução é uma evolução da
consciência e na qual as religiões imaginam essas virtudes chegando à
Terra e as pessoas sendo capazes de vivê-las. Esse dia virá como parte
da evolução e nós temos um papel a desempenhar. E, quanto mais cedo
realizarmos esse papel, melhor. Por isso, estou sugerindo o ativismo
quântico para as pessoas. Estou propondo às pessoas o uso das lições da
física quântica, da forma como estão sendo reveladas pela nova ciência,
para mudarem a si mesmas e o mundo ao seu entorno.
Mônica Teixeira:
E, dr. Amit, quando é que o senhor começou essa sua carreira de
propagandista dessas idéias? Depois de escritor, inclusive de livros de
auto-ajuda? Como é que foi isso na sua vida?
Amit Goswami:
Bom, passei muito tempo construindo e trabalhando bastante as idéias, e
estas não se firmavam até bem mais tarde na minha vida. Eu estava
beirando os 60 anos quando finalmente as idéias se firmaram e eu escrevi
o livro O universo autoconsciente. Desde então se tornou um pouco mais fácil. As idéias começaram a surgir em circunstâncias variadas, o que seria chamado por Carl Jung.
Eu sempre fui guiado pela sincronicidade. Eu nunca entrei em nenhum
campo apenas por causa da minha vontade ou outro tipo de motivação.
Obviamente, ninguém que faz ciência ou ciência alternativa pode ser
motivado por dinheiro. Você não consegue dinheiro fazendo esse tipo de
coisa. Então, isso nunca foi parte da minha motivação. Mas,
estranhamente, a sincronicidade sempre acabou me arrastando para um
assunto em particular. Um
biólogo em Berkeley me convidou inesperadamente para participar de uma
conferência restrita sobre evolução que ele estava organizando. Até
então eu nem pensava sobre evolução. De repente, ele me forçou a pensar
sobre evolução. Foi assim que o meu trabalho sobre a evolução biológica
começou. É assim: eu já expliquei a vocês como eu ingressei na pesquisa
da alma. O caso da economia é o caso interessante mais recente. O
presidente da organização chamada World Business Academy me ligou um dia
e disse: “Amit eu gostaria que você se tornasse um membro desta
academia.” Eu disse: “Eu não sei nada sobre negócios, nem mesmo sobre
economia. Então, por que você me quer?” Ele respondeu: “Não, mas você
tem algo a dizer sobre visão de mundo e nós do meio empresarial
precisamos conhecer as conseqüências dessa visão de mundo para os
negócios”, da mesma forma que me perguntaram agora há pouco. Então, eu
aceitei, e a condição foi de contribuir ocasionalmente. Assim, depois de
um bom tempo, eu tive uma inspiração de que a economia espiritual pode,
sim, ser construída. Escrevi, então, algumas páginas e, muito
hesitante, as enviei para o editor da revista deles. “Quanta besteira
estou escrevendo. Eu nem mesmo sou um economista, certamente eu nem
mesmo entendo economia direito. Então, o que dirá o editor?” E, para
minha imensa surpresa, o editor respondeu: “Esdas idéias são
extremamente interessantes e nós as publicaremos”. E, assim, esse tipo
de coisa se repete na minha vida.
Mirna Grzich:
Dr. Amit, dr. Amit, por favor. Eu quero colocar, discordo profundamente
da Mônica quando ela diz que são livros de auto-ajuda, eu acho que são
livros de divulgação e popularização de um aspecto muito novo da ciência
e que precisa... que as pessoas, enfim... pode trazer muita
transformação na sociedade. Mas eu queria perguntar ao senhor: dentro
desse seu raciocínio, que o senhor estava explicando, a sua visão de
Deus, como o senhor vê a criatividade? O que é a criatividade? E se Deus
é a criatividade.
Amit Goswami: Obrigado
pela pergunta. Sim, Deus é a fonte de todas as idéias criativas. Por
isso pessoas criativas freqüentemente dizem que a idéia nasceu por
intermédio da graça de Deus. Carl Friedrich Gauss [(1777-1855),
“príncipe dos matemáticos”, astrônomo e físico alemão que fez diversas
contribuições importantes para diversos campos da ciência] disse isso
[nas palavras de Gauss: "Cada análise profunda da Natureza conduz ao
conhecimento de Deus"]. O grande músico [Johannes] Brahms [(1833-1897),
compositor alemão de origem humilde que figura entre os grandes nomes do
romantismo] disse isso. Rabindranath Tagore [(1861-1941), escritor e
músico indiano cuja obra é extensa e marcada pelo caráter humanista.
Recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1913, "em reconhecimento aos
seus versos profundamente sensíveis, frescos e harmoniosos"], um grande
poeta, disse isso. Einstein disse: “Eu não descobri a teoria da relatividade
somente por meio do pensamento racional”. E em outros lugares ele disse
que passou a confiar em Deus por causa de sua criatividade. Dessa
maneira, essa repentina experiência que chamamos de criatividade é uma
experiência comum entre as pessoas. Esse “aha!”, essa surpresa. Algo
completamente novo. O próprio contexto do pensamento se modifica. É
precisamente nessa experiência que o poder da causação descendente e
essa liberdade quântica de escolha se revelam. Comumente nós nos
tornamos condicionados e, portanto, nossa escolha é muito restrita. Por
causa do nosso condicionamento, nós apenas escolhemos o que antes já
experimentamos, já respondemos. Em experiências criativas nada disso
importa, nenhum condicionamento passado e nada conhecido tem relevância.
Significa uma total exploração do desconhecido. Dessa forma, realmente
podemos chegar ao poder da causação descendente, de olhar para todas as
possibilidades e, então, escolher aquela gestalt [palavra alemã
sem tradução exata para o português, quer dizer algo como “o que está
exposto diante dos olhos”, considerando que esses olhos vêem mais do que
um amontoado de linhas, curvas e outras formas geométricas. Remete à
noção de um funcionamento holístico do cérebro e de que o todo
psicológico do ser humano é mais do que a soma de partes] específica que
será uma solução para esse problema. É claro que escolhemos no nosso
inconsciente. Não somos conscientes do processo de escolha. A
consciência cósmica – Deus – escolhe por nós. Mas perceba o que está
ocorrendo: Deus está no inconsciente e o "eu", no ego, está dançando com
Deus, porque aquela idéia, aquela escolha deve ser manifesta em
pensamento. E somente o ego pode fazer isso. Porque, para tal,
necessita-se de toda a experiência aprendida. Então, perceba como as
pessoas já descreveram esse processo. No teto da Capela Sistina,
Michelangelo pintou uma imagem onde Deus e Adão estão estendendo as mãos
um para o outro [Goswami se refere à pintura “A criação de Adão”] Esta é
a imagem do processo criativo, a experiência do fluxo da criatividade
que os pesquisadores estão descobrindo. Isso é o que a nova ciência
quântica nos diz. Mas note como já foi intuído nas grandes mentes
criativas como a de Michelangelo. É uma comprovação do trabalho deles.
Então, o que você está esperando? A sabedoria e o conhecimento já
existem. A nova ciência está apenas redescobrindo, justifica e embasando
cientificamente toda a sabedoria que precedeu o meu tempo. Em tudo
isso, não há mérito meu nenhum.
Heródoto Barbeiro:
Uma pergunta pequenininha que o nosso tempo está acabando.
Metaforicamente falando e guardadas as devidas proporções, se o
[Nicolau] Copérnico [(1473-1543) astrônomo e matemático polonês que
elaborou a teoria do heliocentrismo, colocando o Sol como centro do
sistema solar – e não a Terra, como no modelo anterior, do grego Claudio
Ptolomeu– e lançando as bases para o desenvolvimento da astronomia
moderna] voltasse hoje para anunciar o destronamento na terra, o senhor
acha que ele seria aceito incolumemente ou teríamos controvérsias e
discussões?
Amit Goswami: Bem,
você sabe o que aconteceu com Copérnico. Por cem anos ninguém deu
ouvidos para nada do que ele disse. Até Galileu [(1564-1642) astrônomo e
matemático. Melhorou significativamente o telescópio refrator e com ele
pôde observar a composição estelar da Via Láctea, os satélites de
Júpiter, entre outros. Foi a partir da observação das fases de Vênus que
passou a defender a teoria de Copérnico] assumir
um enorme risco e fazer algo em defesa de suas idéias. O que,
obviamente, também lhe custou bastante. Hoje, felizmente, não precisamos
passar por isso. Não somos queimados num poste por publicar idéias
radicais, e tais idéias possuem hoje maior apoio, como nessa sala. Eu
sinto que estou entre amigos. Mesmo as perguntas que parecem um pouco
difíceis são feitas de forma amigável. Nós, portanto, conquistamos isso.
Isso, em si, é uma evolução da consciência. Desde Copérnico nós
evoluímos. O que estou dizendo é que não precisamos esperar cem anos –
somente mais algumas décadas –, e a nova ciência atingirá a sua
maturidade. Por enquanto, estamos apenas pedindo que vocês a chamem de
ciência alternativa, da mesma forma que chamamos os métodos alternativos
da medicina de medicina alternativa, a psicologia transpessoal de
psicologia alternativa. Semelhantemente deixem uma biologia alternativa
se desenvolver. Esse nome, inclusive, já foi dado por muitos biólogos
desenvolvimentistas descrentes do darwinismo, mas que acreditam na
importância do desenvolvimento no darwinismo, que eu também defendo em
minha teoria... Enfim, deixem a ciência alternativa florescer.
Justamente por incluir a velha ciência, com o tempo essa nova ciência
vai, automaticamente e sem esforço, se tornar o paradigma da ciência,
porque os dados experimentais vão crescer e superar as objeções da
ciência normal a essas teorias. É assim que sempre acontece. E irá
acontecer mais uma vez.
Heródoto Barbeiro: Dr. Amit, muito obrigado.
Amit Goswami: De nada.
Heródoto Barbeiro: Bem, nós queremos agradecer a presença do nosso convidado de hoje – o Roda Viva
está chegando aqui ao fim – e também da nossa bancada, aqui, de
entrevistadores. Agradecemos também a sua atenção e a colaboração,
lembrando que o Roda Viva estará de volta na
próxima segunda-feira às 10h40min da noite. Queremos desejar a você uma
excelente noite, uma excelente semana e até a próxima segunda. Obrigado
pela sua atenção.
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