Maria Antonieta - 85min
Santo Agostinho 
- A Queda do Império Romano - 102min
A Ciência como Ciência do Sagrado - 35min.
Do ser da pessoa à doença existencial
A vida é  um verdadeiro mistério! Quando pensamos em 
todas as condições necessárias para  o seu aparecimento na terra, quando
 tentamos evocar as probabilidades da sua  eclosão e do seu 
desenvolvimento, permanecemos sonhadores. Mas a vida é apenas um dos múltiplos fenómenos  que nos fazem perder o pé, se de repente a nossa atenção se vira para a consciência de si que caracteriza o ser humano. 
O ensaísta  Bill Bryson, no seu livro A Short History of Nearly Everything, começa a sua análise ao sublinhar a remotíssima  probabilidade do surgimento do eu, no
 termo de uma evolução de que o espírito humano não consegue  
representar a duração; com efeito, a quantidade de zeros que constituem 
os  milhões de anos da existência da vida na terra deixou longe atrás de
 si as capacidades  da imaginação, para ceder o passo a um conhecimento 
meramente racional. 
E se logo  a seguir pensamos na fugacidade da 
existência de cada um de nós, o contraste  entre os milhões de anos da 
vida na terra e os setenta, oitenta ou, na melhor  das hipóteses, 
noventa anos que nos são reservados, tornam ainda mais  impressionantes a
 série desses contrastes. 
O filósofo  hegeliano francês Pierre-Jean Labarriere 
deu por título a um livro de poesia  que escreveu «Mille ans comme un 
jour», retomando parcialmente o verso de  um salmo bíblico (para o 
Senhor, mil anos são como um dia, e um dia como mil  anos). E após o 
contraste entre a vida na terra e a consciência humana,
 temos  ainda o mistério do espírito humano, com todas as suas 
realizações que se  elevam por cima das necessidades mais básicas da 
sobrevivência. 
Do  ponto de vista da sua duração, as realizações 
objetivas, materiais e  civilizacionais do espírito desafiam os séculos,
 mas será que daqui a cem mil  anos ainda restará qualquer coisa das 
mais belas catedrais, basílicas e  palácios, das mais extraordinárias 
obras de arte e dos livros mais universais  das nossas mais preservadas 
bibliotecas? Perante o oceano do futuro  desconhecido, a nossa atenção 
prefere voltar-se para a nossa existência  singular,
 por mais limitada que seja; porque é nossa, e é, no fim de contas, a  
única na qual se joga hoje, para cada um de nós, o futuro da humanidade e
 na  qual mergulham as raízes da nossa presença, tanto corpórea como 
pessoal. 
1. Do ser da pessoa...
o olhar que  tenta cingir-se à sua existência descobre 
rapidamente uma camada de estratos  sedimentados nos alicerces da 
própria vida. É aqui  que podemos, seguindo uma sugestão da magnífica 
meditação de Pierre Teilhard de  Chardin, no seu livro O meio divino, descobrir,
 mesmo fora de todo o seu  contexto religioso, que o ser humano é feito 
de um entrelaçamento de atividades  e de passividades. 
As  atividades que nos constroem provêm dos nossos 
projetos que conseguimos  realizar, das iniciativas que contribuem para a
 edificação de um mundo mais  humano. Mas não há atividades sem 
passividades e, se olharmos com atenção, o  campo das passividades é 
consideravelmente mais extenso do que o reino das  atividades. 
As  passividades abrangem tudo aquilo que nos constitui
 sem a nossa intervenção e  que recebemos, não à maneira de um 
sofrimento, mas como base involuntária
 da  nossa identidade. «De facto, as duas partes, ativa e passiva, das 
nossas vidas  são extraordinariamente desiguais. Nas nossas perspetivas,
 a primeira ocupa o  primeiro lugar, porque nos é mais agradável e mais 
percetível. Mas na realidade  das coisas, a segunda é, sem dúvida, a 
mais extensa e a mais profunda» (pp.  72-73). 
No  seio das passividades, isto é, tanto na matéria do 
nosso corpo como nas  condições físicas da nossa identidade mental e 
psíquica, encontram-se dois  grupos distintos, as passividades de 
crescimento e as passividades de  diminuição. Cada um de nós que esteja 
atento a este olhar interior sobre si  mesmo pode compreender que o 
crescimento físico, psicológico, assim como  espiritual, é só possível 
porque recebemos predisposições que descobrimos à  medida que se nos 
apresentam em virtude dos frutos do nosso agir. 
Ouvimos  dizer que as passividades de crescimento 
provêm dos dons da natureza, desta  natureza pródiga que nos providencia
 tudo aquilo que permite a construção  progressiva da nossa identidade 
pessoal. Mas na outra vertente, simétrica,  surgem as «passividades de 
diminuição», que já fisicamente contribuem para o  meu declínio 
irremediável, irreversível e que desemboca na morte, com o meu  regresso
 aos elementos isolados e constitutivos da matéria universal. 
Assim,  diz Teilhard de Chardin, «recebo-me muito mais 
do que me faço. (...) Em último  lugar, a vida profunda, a vida 
«fontal», a vida nascente, escapam-nos absolutamente»  (p, 76). 
«Humanamente falando, as  passividades de diminuição internas formam o 
resíduo mais negro e mais  desesperadamente inutilizável dos nossos 
anos» (p. 83). 
Contudo, a nossa liberdade existe, não a podemos negar,
 e  o seu campo de intervenção é total no ângulo agudo das suas 
possibilidades  limitadas. Ou, para o dizer de outra maneira, a 
liberdade é finita,  enraizando-se num mundo inescrutável de condições 
passivamente recebidas e que  solicitam a nossa livre adesão. Eis o 
momento importante: a nossa adesão, o  nosso consentimento às limitações
 é imprescindível, mas livre e não  obrigatório; se não lha damos, nada 
muda objetivamente, mas subjetivamente a  existência corre o risco de se
 nos manifestar como absurda. É por isso que o exercício saudável da 
liberdade exige o  consentimento aos seus próprios limites. 
 Blaise Pascal
Na sua obra filosófica de 1990, Paul Ricoeur propôs 
como  centro da sua reflexão sobre o ser humano a expressão: «o homem 
simultaneamente  agente e sofrente», ativo e sofredor. Poder-se-ia 
confrontar  esta ideia com o famoso texto de Pascal, escrito à volta de 
1659, três anos  antes da sua morte. «o que é o homem na natureza? Um 
nada  relativamente ao infinito, um tudo relativamente ao nada, um meio 
entre nada e  tudo. Infinitamente afastado de compreender os extremos, o
 fim das coisas e o  seu princípio são para ele invencivelmente 
escondidos num segredo impenetrável,  igualmente incapaz de ver o nada 
de onde foi tirado, e o infinito no qual está  mergulhado» (Pensées, em Oeuvres completes, La Pléiade, p. 1107). 
Apesar dos extraordinários progressos da medicina, 
realizados principalmente neste último meio século, esta afirmação de 
Pascal ainda está plenamente atual. Talvez toda a reflexão sobre o ser 
humano que sofre de uma doença grave sinta mais do que nós o sentido 
deste pensamento, que Paul Ricoeur incorporou em 1960 no primeiro 
capítulo de um dos seus livros (L'homme faillible), capítulo intitulado:
 «O patético da "miséria"» e longamente comentado do ponto de vista 
filosófico. 
2. ... À doença existencial
Para nós, «o patético da miséria» está no horizonte de 
toda a reflexão sobre o sofrimento humano. Mas quem poderá ter as 
palavras mais justas quando se trata do sofrimento? A este propósito, 
vale a pena introduzir uma breve anotação prévia. A filosofia tenta 
refletir sobre a experiência vivida, mas, para este efeito, ela tem que 
adotar uma certa distância relativamente à realidade. 
Com efeito, quando queremos ter uma visão global de uma
 paisagem, o nosso olhar não pode aproximar-se excessivamente de um 
detalhe particular, sob pena de perder o sentido das relações entre as 
suas diferentes partes. Do mesmo modo, a filosofia convida-nos a não 
fixar uma experiência única e particular, mas a recuar para perceber 
melhor o sentido conceptual que subjaz a esta experiência que procuramos
 compreender. 
Em contrapartida, com esta distanciação a filosofia 
afasta-se do caráter único, vivo, das experiências concretamente 
vividas. Encontro um exemplo deste relacionamento na maneira de falar do
 sofrimento da doença grave nas palavras do Cardeal Pierre Veuillot, 
arcebispo de Paris de 1966 a 1968, e que nesse ano morreu de leucemia. 
Durante a sua doença, teve com os Padres o discurso seguinte: 
«Nós sabemos fazer belas frases sobre o sofrimento. Eu 
próprio falei dele com entusiasmo. Digam aos Padres para não dizer nada 
sobre ele: ignoramos o que ele é e chorei com ele» Com esta frase ele 
quis em primeiro lugar exprimir a diferença abissal que há entre a 
vivência pessoal do drama da doença e a linguagem teórica a seu 
respeito. 
Mas será que o sofrimento é absurdo, que proíbe deste 
modo toda a espécie de linguagem e obriga ao silêncio? Apesar de termos 
consciência da diferença abissal inerente ao diálogo entre o doente e os
 seus acompanhantes, podemos dizer que não poderíamos de modo nenhum ir 
em auxílio dos que sofrem se nos mantivéssemos totalmente silenciosos ao
 seu lado. 
Com efeito, entre os seres humanos, a palavra é ativa, 
pode ser e é criadora de luz e de relação. As grandes feridas morais vêm
 muitas vezes de palavras que cortam, mas as grandes alegrias ou 
reconciliações surgem também de palavras que têm a arte de criar vida, 
de ser portadoras de afeto e de abrir novos caminhos para o futuro. 
Neste sentido, também os doentes são ávidos de palavras de compreensão, 
em todos os sentidos do termo, desde que essas palavras não sejam dadas 
do alto de uma verdade teórica e meramente abstrata. Com efeito, apenas a
 linguagem que consegue uma aproximação respeitadora, marcada pelo signo
 da empatia, deve ter a capacidade de alcançar o coração do doente 
aquém, dentro e além do seu sofrimento. Mas qual será esta linguagem? 
A questão que volta inevitavelmente à superfície gira 
entorno ao sentido; por exemplo, terá o cancro sentido, além do sentido 
óbvio de destabilizar física, psíquica, existencial e emotivamente o 
doente? 
 Pierre Teilhard de Chardin
A primeira resposta a dar é que, em si, o sofrimento não tem 
senão um sentido negativo; ele é, na linguagem de Teilhard de Chardin, 
uma passividade de diminuição. Contudo, não estamos longe de compreender
 que a questão deve ser posta de outro modo. Não adianta muito tentar 
saber qual é, a priori, o sentido do sofrimento, mas mais adequadamente 
como é que o vamos encarar, qual será a resposta existencial e concreta 
que lhe vamos opor. Como é que é vivido? A esse respeito, quem se lembra
 do pequeno livro Oscar e a Senhora cor de rosa, de Éric-Emmanuel 
Schmitt, percebe imediatamente a diferença entre uma linguagem meramente
 teórica que fala da doença e o diálogo capaz de pôr vida onde não se 
está à espera de a ver surgir. 
3. As reações possíveis
A perspetiva inverteu-se; em vez de perguntar 
abstratamente se a doença grave tem sentido, é a nossa capacidade de 
resposta que constitui o desafio principal. E a questão existencial é 
precisamente essa: como é que reagimos, não apenas ao anúncio de uma má 
notícia, mas durante as fases ulteriores em que no decurso da doença 
estamos submetidos a tratamentos. 
O problema complica-se aqui porque cada pessoa terá a 
sua maneira de viver a doença; não há regras que mandam nesses casos 
eminentemente singulares. Os conselhos podem ser dados, mas quem os 
recebe irá necessariamente ou rejeitá-los liminarmente ou deixar-se à 
sua maneira inspirar por eles. 
Contudo, autores como Elisabeth Kübler-Ross conseguiram
 discernir padrões psicológicos das reações existenciais. Não é preciso 
lembrar em pormenor as cinco fases que discerniu no seu estudo Death and
 Dying, ao analisar as reações dos doentes do foro oncológico: a negação
 («não é verdade, não pode ser!»), a revolta «porquê precisamente eu, o 
que é que fiz para ter esta doença», a negociação («se fizer regime e 
seguir os tratamentos, vai correr bem. Vou rezar e devo curar-me!»), a 
prostração e depressão («não  há nada a fazer; acabou-se tudo»), a 
aceitação («não vale a pena irritar-se, é  mesmo assim e é melhor 
aproveitar o tempo que resta!»). 
Ela  sublinha que nem todos os doentes atravessam todas
 as fases e que não é raro  saltar uma ou várias dessas fases ou 
imobilizar-se numa delas. No que me diz  pessoalmente respeito, penso 
que passaria efetivamente por cada uma dessas  fases. Mas queria aqui 
permanecer no âmbito do contraste entre a segunda e a  última fase, 
entre a revolta interior e a aceitação. Com efeito, do ponto de  vista 
não apenas psicológico mas existencial, são esses os desafios mais 
agudos  da reação na doença oncológica. 
A revolta é sempre possível e há situações que, vistas 
de  fora, nos aparecem tão trágicas que suscitam em nós uma rebelião, 
assim como  uma aversão contra todas as teorias que nos falam do sentido
 e da grandeza da  existência humana. E este sentimento de absurdo não é
 vivido apenas por pessoas  que assistem passivamente ao desenvolvimento
 da doença, mas dos que põem todas  as suas forças para a combater: 
médicos, enfermeiros, outros agentes de saúde,  bem como familiares e 
acompanhantes. 
La peste de  Albert Camus é, de certeza, um 
dos exemplos de revolta contra o absurdo mais  paradigmáticos que a 
literatura nos ofereceu. Reciprocamente, a pura «aceitação  » está longe
 de se identificar com a  expressão de uma resignação meramente passiva 
diante da doença. Com efeito,  tanto a revolta como a aceitação são 
atitudes profundamente espirituais, no  sentido em que comprometem a 
dimensão espiritual do ser humano. O animal pode  sofrer e defender-se, 
mas a sua reação não chega ao nível da espiritualidade.  Aliás, esta 
dimensão espiritual vivida quer pelos doentes quer pelos agentes da  
saúde é atualmente objeto de estudos cada vez mais diversificados nas 
teses de  ética e bioética no seio das instituições académicas 
portuguesas. 
O que é a espiritualidade?, poder-se-á perguntar. Já 
tive  a oportunidade de apresentar em outros contextos elementos de 
resposta a esta  difícil questão, mas queria aqui limitar-me a comentar 
uma afirmação de  natureza geral. 
A aceitação consciente e lúcida das «passividades .. e a
  sua integração subjetiva é talvez um dos momentos de maior atividade 
interior  da existência humana. Esta verdade vale não apenas quando as 
passividades são  superáveis, por exemplo quando boas perspetivas de 
cura se perfilam no  horizonte da doença, mas talvez sobretudo quando se
 torna mais premente a  consciência da iminência da morte. 
Neste sentido, aceitar a própria morte quando se está  
confrontado com ela é a maior atividade interior no seio da maior 
«passividade  de diminuição», Esta aceitação pode então assumir  várias 
formas; uma delas é a compreensão, que podemos caracterizar como  
altruísta, da morte: se não morresse, se ninguém dos vivos 
desaparecesse, a  terra acabaria por não poder tomar conta de novas 
vidas humanas.
Assim, a nossa morte é também um serviço em proveito 
das  gerações futuras, serviço que, espiritualmente, somos chamados cedo
 ou tarde a  integrar na nossa compreensão da existência. Isso, com 
certeza, não «explica»  adequadamente o sofrimento que precede a morte. E
 será que existe uma  explicação para este sofrimento? De todo o modo, 
não é em poucas linhas que se  pode levantar esta temível questão, mesmo
 se longas análises acabam quase  sempre por exprimir uma grande 
perplexidade ou dúvida diante das respostas que  se queriam 
convincentes.
Que me seja permitido, contudo, no termo desta 
comunicação, evocar de modo brevíssimo a interpretação religiosa e 
especificamente cristã do sofrimento e da morte. Lembremos, entre 
parênteses, que o que se entende por espiritualidade é muito mais vasto 
que o campo da religião; isso não impede que a fé vivida de modo 
consciente e autêntico se integre genuinamente no campo do «espiritual» 
em geral. Aliás, numerosos estudos já mostraram que, de facto, a 
abordagem da morte é muitas vezes mais pacífica e pacificadora quando é 
vivida no ambiente de uma fé religiosa, qualquer que ela seja. 
Lembremos previamente um dado importante; a fé cristã 
nunca é uma evidência, não é um projetor que ilumina todo o caminho 
aquém e além da morte, mas é a luz suficiente para que se possa dar, até
 à morte, o passo seguinte para a frente. Por outro lado, a fé cristã 
enraíza-se na confiança num Deus que é Amor, que entra em diálogo com o 
ser humano, deixando-lhe contudo a sua liberdade. 
É tão verdade que o Deus da revelação cristã admite que
 o crente se queixe contra ele, lhe suplique para ter uma explicação, 
como se pode já ler no extraordinário livro de Job, do Antigo 
Testamento, no qual Job exige entrar numa disputa quase jurídica com 
Deus, antes de aceitar finalmente, face à manifestação da transcendência
 divina, que não tem a capacidade de compreender o «porquê» do 
sofrimento. 
No fim de contas, a resposta da fé cristã à questão do 
sofrimento e da morte é predominantemente prática e não teórica: esta 
resposta é o Cristo na cruz. Se a existência terrestre de Jesus Cristo é
 a mais genuína revelação daquilo que Deus é e do modo como se comporta 
com o ser humano, então a conclusão impõe-se: o nosso sofrimento e a 
nossa morte mergulham no próprio mistério da transcendência divina. 
É aquilo que, depois da morte de Cristo, São Paulo e os
 apóstolos perceberam, não ao exaltar o sofrimento pelo sofrimento, o 
sacrifício pelo sacrifício, mas ao propor que a «aceitação» ativa do 
sofrimento e da morte é também uma maneira de entrar mais profundamente 
no mistério de um Deus que é Amor. 
Um Deus amor, replicaram outros! Como é que um Deus 
amor pode permitir tantas catástrofes e tantos sofrimentos singulares e 
coletivos? O crente também não tem nem recebe uma resposta teórica; 
contudo, a especificidade da sua resposta é que ele mantém viva a sua 
confiança em Deus, apesar de todo o mal e de todo o sofrimento do mundo.
 Esta resposta acredita que Deus tem outros trunfos e outros meios que 
nos superam totalmente. Por isso, o crente espera que, na própria morte,
 ele chegue a perceber por que motivo não podia perceber. 
Num sentido novo e mais denso ainda, uma afirmação 
acima expressa mostra toda a sua pertinência: a aceitação da máxima 
passividade torna-se a máxima atividade interior. Nela, com efeito, o 
crente oferece a Deus a única coisa que este não lhe pode impor, isto é:
 fazer o dom da plena confiança, além de todas as aparências e até 
dentro da sua angústia de morrer. Não deve ser fácil aceder a este nível
 de fé, mas felizes os que o alcançam - e feliz seria eu se, na eventual
 e devida altura, o conseguisse. Esta fé, que para os não-crentes não 
pode aparecer senão como autossugestão ou mera projeção de uma mente 
humana pacificadora, é vivida e interpretada pelo crente como o dom de 
uma iniciativa que o supera. 
E termino com as palavras do início: a existência 
humana, nas suas facetas visíveis e invisíveis, é mesmo um verdadeiro 
mistério... 
Michel Renaud
Professor catedrático de Filosofia (jubilado) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Fontes:
 http://www.snpcultura.org/do_ser_da_pessoa_a_doenca_existencial.html
Licença padrão do YouTube 








Nenhum comentário:
Postar um comentário
Que tal comentar agora?