VINCENT VAN GOGH
FRAGMENTOS -
Cartas ao irmão Theo
" Escrevo-lhe um pouco ao acaso o que me vem à pena,
ficaria muito contente se de alguma maneira você pudesse
ver em mim mais que um vagabundo
Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade
é digno de amor,e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes,nulas e insípidas,obteremos pouco a pouco mais
luz e nos tornaremos mais fortes,mais humanos,mais felizes.
O que é que sou aos olhos da maioria - uma nulidade ou um
homem excêntrico ou desagradável - alguém que não tem
uma situação na sociedade ou que não terá;enfim,pouco
menos que nada...então eu gostaria de mostrar por minha
obra o que existe no coração de tal excêntrico,de tal nulidade...
Ainda que frequentemente eu esteja na miséria,há contudo
em mim harmonia e uma música calma e pura.
O sentimento e o amor pela Natureza encontram cedo
ou tarde um eco naqueles que se interessam pela arte.
- Eu sinto que há coisas de cor que surgem em mim enquanto
pinto,coisas que eu não possuia antes,coisas importantes e intensas.
- Sinto em mim a força de produzir,tenho consciência de que
chegará um tempo em que poderei,por assim dizer,cotidianamente
fazer uma ou outra coisa boa, e isto,regularmente.
- Estou possuido pelos novos prazeres que sinto nas coisas que vejo,
uma nova esperança de fazer algo que tenha alma.
- Tudo aqui é belo,aonde quer que eu vá
Tudo aqui é perfeitamente belo,como eu gosto.
Quero dizer que aqui é a paz.
- Não é fácil encontrar no verão um efeito de sol
que seja rico,tão simples e tão agradável de ver quanto os efeitos característicos das outras estações.
- Na Primavera hà o trigo novo verde tênue
e as macieiras rosas em flor.
- No Outono há o contraste das folhas amarelas com os tons violetas. - No inverno há a neve e os pequenos personagens negros.
Estou num furor de trabalho,já que as árvores estão em flor
e eu gostaria de fazer um pomar da Provence de uma alegria monstruosa.
Estou de novo em pleno trabalho,sempre,
como pomares em flor
Me falta uma noite estrelada com ciprestes ou talvez
sobre um campo o trigo maduro.
O pessegueiro rosa é o que me dá mais trabalho.
são milhares de florzinhas a brotar das minhas mãos...
- Quero agora absolutamente pintar um céu estrelado.
Frequentemente me parece que a noite é ainda mais
ricamente colorida que o dia,colorida de violetas,
de azuis e os mais intensos verdes.
- Quero evocar o brilho misterioso de uma pálida estrela
no infinito,os laranjas fulgurantes como o ferro abrasado,
daí os tons de ouro velho luminoso em meio às trevas.
- A grande revolução: a arte aos artistas,meu Deus,talvez seja
uma utopia e então tanto pior.Sei que não devemos desanimar
só porque a utopia não se realiza.
- Acho que a vida é tão curta e passa tão rápido;
ora,sendo pintor é preciso portanto pintar.
- Fazer estudos,no meu entender,é semear e fazer quadros, é colher.
- Não devemos nos poupar. Se durante algum tempo estamos esgotados, depois nos restabelecemos,e ganhamos com o faro de os estudos estarem armazenados,exatamente como o trigo ou o feno do camponês.Quanto a mim,não penso provisoriamente em descansar.
- A loucura é salutar por isto,
porque nos tornamos talvez menos exclusivos...
porque nos tornamos talvez menos exclusivos...
- O trabalho me distrai infinitamente mais que qualquer outra coisa
e se por uma vez eu pudesse nele me lançar com toda minha energia,
este seria possivelmente o melhor remédio.
- Não esqueçamos que as pequenas emoções são os grandes timoreiros de nossas vidas,e que as obedecemos sem saber. Em todo caso procurar permanecer verdadeiro talvez seja um remédio para combater a doença que continua fomentando em nossa mente.
- Quando você prestar atenção,verá que certas estrelas
são cor de limão,outras têm brilho cor-de-rosa,verdes,
azuis miosotes
- Sou este ser sem sorriso,mas de cujo olhar partem
vibrações coloridas que me envolvem,criando um mundo
onde elas - cores,vibrações - substituem a luz e a matéria.
O que é o mundo?
O que é o mundo?
- Cores,cores lindas que vibram.
E eu,quem sou?
Vincent e Théo
Vincent - 1888
Vincent -
O Suicidado pela Sociedade
Não,Van Gogh não estava louco, mas suas telas eram jorros de substância incendiária, bombas atômicas cujo ângulo de visão, ao contrário de toda a pintura com prestígio em sua época, teria sido capaz de perturbar seriamente o conformismo espectral da burguesia do Segundo Império. Pois a pintura de Van Gogh ataca, não um determinado conformismo dos costumes, mas das instituições. E até a natureza exterior, com seus climas, suas marés e suas tormentas, não pode mais manter a mesma gravitação depois da passagem de van Gogh pela Terra. O que mais me surpreende em Van Gogh, o mais pintor de todos os pintores, foi que,sem sair do que chamamos de pintura, sem sair dos limites do tubo, do pincel e da tela, ele conseguiu imbuir a natureza e os objetos de tamanha paixão que qualquer conto fabuloso de Poe, Melville, Hawthorne, Nerval ou Hoffman em nada superam, no plano psicológico e dramático,suas modestas telas.
No momento de escrever essas linhas vejo o rosto ensanguentado do pintor vir na minha direção, numa muralha de girassóis eviscerados, numa formidável combustão de fagulhas de jacinto opaco e relvas de lápis-lazúli. Tudo isso no meio de qualquer coisa como um bombardeio meteórico de átomos em que cada partícula se destaca...
Num incêndio, numa explosão, para vingar a pedra de moinho que o pobre Van Gogh, o louco, teve que carregar durante toda sua vida.
O fardo de pintar sem saber por que ou para quê.
(Suicidado pela Sociedade - texto de Antonin Artaud, publicado pela L&PM nesta edição)
Título original: Letres de Vincent Van Gogh a son frère Théo
- Edição L&PM - Inverno de 1986
Estrela Aldebaran - Alfa de Taurus
AMARGURA E SOLIDÃO NAS CARTAS DO PINTOR MALDITO
Hoje, Van Gogh é cultuado. Mas, enquanto vivo, esse pintor de sóis silenciosos e girassóis de ouro vendeu apenas um quadro. nas cartas ao irmão Théo*, todo o relato de seu desespero.
*Théo, não por acaso , era um reconhecido Marchand de Arte, e porque invejava o irmão Vincent, foi o principal responsável pelos muitos trágicos e pobres dias de Vincent.
Théo , não suportava a superioridade do irmão ,impedindo-o de entrar no Mercado de Arte Europeu. Amontoava as centenas de quadros,ao final, 700 obras ao todo ,num depósito e para "se livrar dos apelos constantes em inúmeras cartas reclamando mais tintas, telas e alimento" - ele respondia aos poéticos pedidos, com meros 50 francos - o bastante para saciar temporariamente o artista sedento de viver para registrar a mágica da sua alma imperiosa.
Tanto é verdade isso, que o remorso o corroeu e Théo veio a falecer exatamente 6 meses após Vincent.
Starry Nigth -Homenajem a Vincent van Gogh -4m
Tributo a VanGogh Borges-Piazzolla -5m
A dança das faces de Vincente van Gogh
Vincent van Gogh a quatro mãos - o II é meu (Radeir) - 1988
Vincent chegou
de olhar triste suplicante
- magica no meu pincel.
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