terça-feira, 9 de agosto de 2011

ESPÍRITO E NEUROTEOLOGIA




Bernardino da Silva Moreira


No século XIX o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) criou o super-homem e tentou matar Deus e desencarnou louco. No séc. XX (final do século) o biólogo Edward O. Wilson em seu livro Consiliência –

A Unidade do Conhecimento  
(Editora Campus), 
baseado em novas descobertas da neurobiologia, 
chegou à conclusão que a busca de Deus 
é fruto de uma herança genética 
dos nossos antepassados.


No início do séc. XX a psiquiatria e a psicologia viam os estudos com as experiências religiosas com indiferença e remeteram as experiências místicas para o quarto escuro do inconsciente, isto é, experiência mística seria o mesmo que desvio mental ou doença mental. Hoje, com as descobertas da neuroteologia, a religião e a fé deixam o quarto escuro do inconsciente preconceituoso de outrora para fazer parte das experiências neurológicas e psicológicas, que apontam para uma interação entre espiritualidade e o cérebro, daí podermos considerar a neuroteologia como uma aproximação da biologia com a fé.


Na década de 90 foi feita uma pesquisa pelo Instituto Gallup, que apurou o seguinte: 53% dos americanos adultos admitiram terem vivenciado um momento súbito de despertar espiritual. No Brasil, o Instituto Vox Populi apurou em uma pesquisa que 99% da população compartilham a crença em Deus. Pelos resultados podemos concluir que as experiências transcendentais não se limitam apenas aos círculos religiosos.


As pesquisas neuroteológicas foram iniciadas nos anos 70 pelo psiquiatra e antropólogo Eugene d’Aquili (já desencarnado). No início da década de 90 d’Aquili se juntou ao radiologista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, que aos 35 anos tornou-se uma das principais figuras da emergente ciência da neuroteologia, que explora as ligações entre espiritualidade e o cérebro. 


O radiologista Andrew Newberg submeteu a exames tomográficos o cérebro de budistas tibetanos mergulhados em profunda meditação e um grupo de freiras franciscanas, que rezavam fervorosamente durante 45 minutos.

O resultado da pesquisa mostrou que as imagens do lobo parietal superior acusavam uma queda na atividade dessa região, que chegava a ficar bloqueada no momento mais intenso, isto é, no momento que o meditador experimenta a sensação de iluminação religiosa. 

O mais interessante é que essa área do cérebro proporciona ao homem o senso de orientação no espaço e no tempo. Isso levou os pesquisadores a concluírem que, privados de impulsos elétricos, os neurônios do lobo parietal desligariam os mecanismos das funções visuais e motoras do organismo. Isso levou Newberg a dizer: 
“O sentimento de unicidade 
parece paralisar os receptores 
sensórios da região parietal”. 

Exatamente por isso, o cérebro não consegue traçar fronteiras e por isso percebe o “eu” como um ente expandido, ilimitado e unido a todas as coisas. As imagens dos lobos temporais, na região do “cérebro emocional”, também conhecida como sistema límbico, indicam uma atividade intensa dessas áreas durante as experiências contemplativas.


Para ratificar essas experiências Michael Persinger, da Universidade Laurentian, em Sudbury, no Canadá, inventou uma engenhoca (um capacete) que, através de estímulos elétricos na base do sistema límbico, pode provocar alucinações ou a sensação de estar fora do corpo e o senso do divino.


Os resultados dos testes foram apresentados no livro “Why God Won’t Go Away: Brain Science and the Biology of Belief” (Por que Deus não vai embora: a ciência do cérebro e a biologia da fé”), ainda sem tradução no Brasil.

Allan Kardec esclarece que 

“a Ciência e a Religião 
são duas alavancas da inteligência humana” 

porque “uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral.” Daí conclui que: “Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.”


Entre as causas de conflito está o reducionismo (“tendência que consiste em reduzir os fenômenos complexos a seus componentes mais simples e a considerar estes últimos como mais importantes que o fenômenos observados”) que é um dos principais argumentos do materialismo; ora, o Espiritismo é o antípoda do materialismo.

O Livro dos Espíritos na questão 367 aborda o tema materialismo e mostra o erro do reducionismo científico: 


“Unindo-se ao corpo, 
o Espírito se identifica com a matéria?


- A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.”

O atributo essencial do ser humano é sem dúvida a inteligência, mas a causa da inteligência não reside no cérebro humano, mas sim no ser espiritual que sobrevive ao corpo físico. 


A neuroteologia na verdade levantou apenas uma ponta do véu, pois a matéria é como um “vidro muito opaco” que embaça a visão dos cientistas reducionistas. Kardec, comentando a questão 368, esclarece que: “Pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito a de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.”


Na questão 369 Kardec pergunta: “O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?” E os Espíritos respondem com sabedoria: “Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinação ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”


Bem sabemos que a ciência sempre tentou encerrar o Espírito no cérebro, como se ele fosse um prisioneiro, para dissecá-lo e provar que o cérebro é a causa de tudo, mas o Espírito sempre escapa do reducionismo cientificista ileso.


Kardec, conhecedor das idéias de Franz Josef Gall (1758-1828), médico alemão e anatomista renomado e também fundador da frenologia (“que liga cada função mental a uma zona do cérebro”), pergunta aos Espíritos: “Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?” A resposta não deixa margens para dúvidas: “Não confundais o efeito com a causa. 

O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”

Não devemos confundir “alhos com bugalhos!” O Espírito é a causa e o cérebro a conseqüência.

Principais dúvidas dentro da Neuroteologia


A meditação pode levar a pessoa a ter emoções religiosas, como a sensação de estar em contato com Deus.

  • Evolução - Porque e como as experiências espirituais evoluiram?
  • Idade – Bebês ou crianças podem ter experiências espirituais? Quando o cérebro humano fica apto a ter experiências espirituais? Existe alguma relação neurológica com o fato de que a maioria dos líderes religiosos tiveram suas epifanias nos seus 30 anos?
  • Sexo – Como as experiências espirituais se diferem entre homens e mulheres? Podemos estabelecer uma relação entre essas diferenças com o Dimorfismo sexual do cérebro da espécie humana?
  • Sonhos - Qual é a relação entre experiências espirituais e sonhos? O indivíduo pode ter experiências espirituais enquanto dorme?
  • Hipnose – A experiências espiritual compartilha mecanismos com a hipnose?
  • Musica - Cerimônias religiosas quase sempre envolvem música, e música pode gerar sentimentos religiosos, e experiências espirituais . Porque isso acontece?
  • Genética – O herança genética pode influenciar na facilidade de ter experiências espirituais. O gene o (VMAT2) chamado de gene divino da ao ser humano a predisposição de ter experiências espirituais?
  • Espécies – Primatas e mamíferos com inteligência avançada como o elefante ou golfinhos podem ter experiências espirituais? Humanos primitivos podiam ter experiências espirituais, elas eram semelhantes a de humanos modernos??

 Definindo e medindo a experiência e sentimentos espirituais/religosos


Neuroteologia tenta explicar a atual base neurológica para aquelas experiências, que são popularmente chamadas de espirituais, religiosas, ou místicas (e outros termos) para formas anormais de cognição, que quase sempre envolvem um ou mais dos seguintes itens:


A gravura de Flammarion é usada frequentemente para ilustrar a experiência religiosa.


Exercícios de respiração como o Pranayama podem causar experiências religiosas.[6]

  • Inefabilidade - a experiência não pode ser adequadamente ser colocada em palavras;
  • Noético : o indivíduo sente que ele aprendeu alguma coisa de valor da experiência;
  • Inexistência do espaço e tempo : a experiência causa a sensação de que não existe mais tempo e espaço;
  • Sagrado : a experiência cria a sensação de que tudo é sagrado e divino;
  • União : sentimento de união com tudo no universo, união com Deus ou alguma força maior que o indivíduo. 
  • Outra Realidade : sentimento de que uma nova realidade ou a realidade definitiva foi revelada a ele.
    • Realidade Divina
    • Consciência do absoluto

  • Sensações Positivas : a experiência é bem prazerosa e causa sentimento profundamente positivo;
  • Efemeridade : a experiência é temporária; o indivíduo rapidamente volta ao estado normal da mente;
  • Passiva : a experiência acontece para o indivíiduo quase sem o seu controle.
  • Dissolução do Ego : consciência do "eu" desaparece.

Essas experiências são vistas como base de diferentes formas de religião e crenças .

Eventos que podem causar experiências espirituais


  • Técnicas de concentração, meditação ,contemplação e que focam a atenção
  • Experiências de quase morte
  • Exercícios de respiração (Ex : Pranayama)

Partes do cérebro relacionadas a experiências espirituais



Lobo frontal em azul;
Lobo parietal em amarelo; Varias partes do cérebro estão relacionada com experiências místicas. São elas:
*Lobo occipital em vermelho; Lobo temporal em verde.

  • Lobo parietal : Diminuição de neuro-sinapses levando a sensação de união como o universo.
  • Lobo frontal : Concentração ampliada (meditação) bloqueia impulsos neurais externos, como sons, toque, frio , calor.

História e Metodologia de estudo


Cientistas há muito tempo têm especulado que sentimentos religiosos poderiam estar ligados a lugares específicos no cérebro. Um dos mais antigos escritos sobre o assunto datam de 1892, nos quais alguns textos sobre doenças cerebrais falavam de uma ligação entre "emoção religiosa" e epilepsia.


Em estudos na década de 1950 e de 1960 , foram tentados o uso de EEGs para estudar o comportamento das ondas cerebrais relacionado com estados espirituais. Em 1975, o neurologista Norma Geschwidn descreveu pacientes epilépticos com intensa experiência religiosa.


Durante a década de 1980s o Dr. Michael Persinger estimulou o lobo temporal de pacientes humanos com um campo magnético fraco usando um equipamento que ele chamava de capacete de Deus (God helmet). Os pacientes relataram ter a sensação de "uma presença celestial no quarto". Esse trabalho ganhou atenção na época, mas não foi explicado o mecanismo que causava esses efeitos. Em 1987, Michael Persinger publicou um livro sobre o assunto intitulado "Neuropsychological Bases of God Beliefs".


Numa tentativa de focalizar o crescente interesse no campo, em 1994, o professor Laurence O. McKinney publicou o primeiro livro com o termo neuroteologia no título: "Neurotheology: Virtual Religion in the 21st Century" (Neuroteologia: Religião Virtual no Século XXI), escrito para uma audiência leiga. O livro ganhou grande interesse de pessoas como o Dalai Lama e o eminente teólogo Harvey Cox.


Um livro de 1998 sobre o assunto ganhou muita atenção foi "Zen and the Brain", escrito pelo Neurologista e Praticante de Zen, James H. Austin.

No final da década de 90, os neurocientistas Andrew Newberg e Eugene d’Aquili usaram varias tecnicas de neuroimagem em budistas experientes em profunda meditação, e nos anos subseqüentes fizeram testes em freiras enquanto estavam rezando. Andrew Newberg e Eugene d’Aquili escreveram vários livros sobre o assunto:

  • em 2002, "Porque Deus não quer ir embora: Ciência do cérebro e a biologia da crença".
  • em 2006, "Porque acreditamos no que acreditamos: Descobrindo sobre nossa necessidade biológica por significado, espiritualidade e verdade"
  • em outubro de 2007, "Nascidos para acreditar: Deus, Ciência, e a origem da crença ordinária e extraordinária".

Alguns recentes estudos com o uso de neuroimagem para localizar as regiões no cérebro ativas durante experiências que os pacientes associam como espiritual. David Wulf, um psicólogo da Wheaton Universidade de Massachusetts, disse que o "estudo de imagens do cérebro com os novos e poderosos aparelhos de neuroimagem como o MRIscanner (imagem), junto com a consistência do histórico de experiências espirituais por várias culturas, pela história e por religiões, sugerem um ponto em comum , e que isso reflete a estrutura e processos no cérebro humano.

Ecoando antigas teorias de que sentimentos associados com experiências místicas ou religiosas são aspectos normais do funcionamento do cérebro sob circunstâncias extremas, e não comunicação direta com Deus ou outras entidades."


Alguns cientistas dizem que a neuroteologia pode reconciliar religião e ciência, mas, se não conseguir, a neuroteologia pode desevolver métodos seguros e precisos de indução a experiências espirituais para pessoas que nao conseguem tê-las facilmente. Por causa dos efeitos positivos que essas experiências causam em pessoas que já a tiveram, alguns cientistas especulam que a habilidade de induzí-las artificialmente pode tranformar a vida de algumas pessoas, tornando-as mais felizes, saudáveis e com melhor concentração.

"Gene Divino"


A hipótese do gene divino propõe que alguns seres humanos carregam um gene que lhes dão a predisposição para episódios interpretados por algumas pessoas como revelação religiosa. A idéia foi postulada e promovida pelo geneticista Dr. Dean Hamer, diretor da Unidade Estrutura do gene e regulação , no Instituto nacional do câncer nos Estados Unidos .

Hamer escreveu um livro sobre o assunto intitulado, O gene divino : Como a e pré-programada dentro dos nossos genes . (The God Gene: How Faith is Hardwired into our Genes)


De acordo com a hipótese, o gene divino (VMAT2), não é “codificado” para a crença em Deus, mas é arranjado fisiologicamente para produzir sensações associadas, por alguns, com a presença de Deus ou outras experiências místicas, ou mais especificamente espiritualidade como um estado da mente.


Que vantagens evolutivas isso pode levar, e de que esses efeitos vantajosos são efeitos colaterais , são questões que ainda estão para serem totalmente exploradas. Dr. Hames teorizou que a transcendência faz as pessoas ficarem mais otimistas, o que leva elas a ficarem mais saudáveis e com mais probabilidade de terem muitos filhos.
"Neuroteologia", também conhecida como Bioteologia ou Neurociência Espiritual  estuda os processos cognitivos que produzem experiências subjetivas tradicionalmente categorizadas com religiosas ou espirituais e relacioná-las com padrões de atividade no cérebro, descobrir como e porque elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas experiências. O assunto tem formado a base de vários livros de ciência popular.

Áreas de estudo da Neuroteologia


O MRIscanner é um instrumento que ajuda a estudar o cérebro em funcionamento. É um instrumento de grande ajuda para a Neuroteologia.
Existem varias áreas de estudo dentro da neuroteologia. Algumas delas sao:
  • Estudo sobre como o cérebro humano pode ter evoluído para produzir experiências ( Neuroteologia evolutiva)
  • Estudo do desenvolvimento espiritual , do sentido de Deus e do Sagrado , e de experiências religiosas em crianças. Do nascimento ate a infância (Neuroteologia desenvolvimental)
  • Estudo do comportamento espiritual e religioso da raça humana por toda a história, e de ancestrais de humanos como o Homo habilis e o Homo erectus, e espécies próximas como o Homo de Neanderthal (Neuroteoantropologia)
  • Estudo do comportamento religioso e experiências religiosas em primatas e outros mamíferos com inteligências avançada (Zooneuroteologia)
Fonte:
Portal do Espírito
Wikipédia
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/bernardino/espiritismo-e-neuroteologia.html
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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