José Américo Motta Pessanha
Que terá levado o homem, a partir de determinado momento de sua história, a fazer ciência teórica e filosofia? Por que surge no Ocidente, mais precisamente na Grécia do século VI a.C., uma nova mentalidade, que passa a substituir as antigas construções mitológicas pela aventura intelectual, expressa através de investigações científicas e especulações filosóficas?
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Embora a questão do início histórico da filosofia e da ciência teórica ainda contenha pontos controversos [...], a grande maioria dos historiadores tende hoje a admitir que somente com os gregos começa a audácia e a aventura expressas numa teoria.
Às conquistas esparsas e assistemáticas da ciência empírica e pragmática dos orientais, os gregos do século VI a.C. contrapõem a busca de uma unidade de compreensão racional, que organiza, integra e dinamiza os conhecimentos. Essa mentalidade, porém, resulta de longo processo de racionalização da cultura, acelerado a partir da demolição da antiga civilização micênica. A partir daí, a convergência de vários fatores – econômicos, sociais, políticos, geográficos – permite a eclosão do “milagre grego”, que teve na ciência teórica e na filosofia sua mais grandiosa e impressionante manifestação.
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O complexo processo de formação do povo e da cultura grega determinou o aparecimento, dentro do mundo helênico, de áreas bastante diferenciadas, não só quanto às atividades econômicas e às instituições políticas, mas também quanto à própria mentalidade e suas manifestações nos campos da arte, da religião, do pensamento.
À Grécia continental, mais presa às tradições da polis arcaica, contrapunham-se as colônias da Ásia Menor, situadas em regiões mais distantes pelo intercâmbio comercial e cultural com outros povos. Da Jônia surgem as epopéias homéricas e, a partir do século VI a.C., as primeiras formulações filosóficas e científicas dos pensadores de Mileto, de Samos, de Éfeso.
Entre esses dois momentos de manifestação do processo de racionalização por que passava a cultura grega, situa-se a obra poética de Hesíodo – voz que se eleva da Grécia continental, conjugando as conquistas da nova mentalidade surgida nas colônias da Ásia Menor com os temas extraídos de sua gente e de sua terra, a Beócia.
(PESSANHA, José Américo Motta. Do mito à filosofia. Os Pré Socráticos.
Col. Os Pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000, pp. 9-14)
Pablo Picasso
Li
Fonte:
http://oficinadefilosofia.wordpress.com/2011/04/02/do-mito-a-filosofia-por-jose-americo-motta-pessanha/
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