quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
AS NOVE SINFONIAS DE BEETHOVEN E OS MISTÉRIOS ESPIRITUAIS
Corinne Heline
AS NOVE SINFONIAS DE BEETHOVEN
Correlacionado com os Nove Mistérios Espirituais
Fraternidade Rosacruz Max Heindel
Centro Autorizado do Rio de Janeiro
AS NOVE SINFONIAS DE BEETHOVEN
Correlacionado com os Nove Mistérios Espirituais
Corinne Heline
BEETHOVEN - O HOMEM
O que segue é a descrição de Beethoven por um amigo do grande compositor, transcrito por Ernest Newman em seu livro intitulado O Inconsciente Beethoven:
Um grupo de amigos estava em um restaurante quando Beethoven entrou. Era um homem de média estatura com cabeça leonina, cabeleira comprida e grisalha, e olhos brilhantes e penetrantes. Ele se moveu como num sonho e sentou-se com olhar atordoado. Ao falarem com ele, levantou suas pálpebras como uma águia que acorda assustada e esboçou um sorriso triste. De vez em quando, tirava um livro de seu casaco e começava a escrever. Um dia, alguém perguntou o que ele estava escrevendo: “Ele está compondo, mas escreve palavras e não notas musicais. A arte tornou-se uma ciência com ele e ele sabe o que pode fazer. Sua imaginação obedece à sua insondável reflexão.”
Para um amigo íntimo, Beethoven uma vez descreveu seu método de trabalho: “Eu carrego minhas idéias comigo por longo tempo antes de escrevê-las. Minha memória é tão precisa que tenho a certeza de não esquecer um tema que me vem à mente mesmo no decorrer de vários dias. Eu o altero muitas vezes até ficar satisfeito, e, então, começa o trabalho em minha cabeça; e já que estou consciente do que quero, a idéia fundamental nunca me abandona; ela sobe, ela cresce. Eu vejo diante de minha mente a imagem em toda a sua extensão, como se estivesse numa simples projeção e nada deixa de ser feito a não ser o trabalho de escrever. Isto caminha de acordo com o tempo que tenho para escrevê-la, pois, às vezes, tenho vários trabalhos para fazer ao mesmo tempo, mas nunca confundo um com outro”.
“Beethoven foi mais do que um simples músico. Foi um super homem... Sua riqueza de idéias o coloca ao lado de Shakespeare e Miguelângelo na história do espírito humano... Suas sinfonias são para ele o que o Sermão da Montanha é para a vida de Jesus; suas sonatas são a luta interna de Jesus no Jardim de Getsêmani.” - Edmond Bordeaux em LUDWIG VON BEETHOVEN
“Beethoven foi o Titã do mundo musical. Outros músicos famosos podem ser comparados uns com os outros, mas Beethoven não tem comparação. Ele está sozinho. Ele foi o Prometeus que foi erguido para trazer para nós a música espiritual do céu – música que cativa e encantará a humanidade enquanto o mundo existir. Este foi Beethoven. “ - Ibid
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P R Ó L O G O
“Diante da Sinfonia de Beethoven, nós estamos frente a um marco de um novo período na história da arte universal, pois, através dela, apareceu um fenômeno raríssimo no mundo da arte musical de todos os tempos.” . Richard Wagner
LUDWIG VON BEETHOVEN nasceu em Bonn, Alemanha, em 16 de dezembro de 1770. Ele veio à Terra com uma missão definida. Citando as palavras de Johan Herder em seus estudos filosóficos da História da Humanidade: “Deus age sobre a Terra por intermédio de homens superiores escolhidos.”
Beethoven não nasceu para uma vida de facilidade e felicidade. Como a maioria das almas avançadas, desde a juventude, ele foi “um homem cheio de tristeza e familiarizado com a desgraça”, pois geralmente estava em pobreza desesperadora, cercado de pessoas incompatíveis e ambiente desarmônico. Ele disse para si mesmo: “Eu não tenho amigos, tenho que viver só; mas sei que em meu coração Deus está mais perto de mim do que de outros. Eu me aproximo d’Ele sem medo e sempre O conheci. Também não estou preocupado com minha música, que possa ser levada por um destino adverso, pois ela libertará aquele que a compreenda da miséria que aflige outros”.
O gênio musical de Beethoven tornou-se evidente muito cedo. Ainda bem jovem, ele foi mandado para Viena onde estudou por algum tempo. Fez sua primeira apresentação naquela cidade em 1795, tocando seu concerto para piano em si bemol maior.
“Na meia idade”, escreve Charles O’Connell no livro Victor Book of the Symphony, “numa época em que o republicanismo era uma traição, ele ousou ser republicano mesmo quando recebia o apoio de cortesãos e príncipes. Quando ser liberal era ser herege, ele viveu uma grande religião de humanista sem desrespeitar a ortodoxia estabelecida. Quando aristocratas perfumados olhavam de esguelha sua figura atarracada, de maneiras grotescas, traje ridículo, ele reagia rispidamente à mesquinhez. Grande demais para ser ignorado, pobre demais para ser respeitado, excêntrico demais para ser amado, ele viveu, uma das mais estranhas figuras em toda a história.”
“A tragédia o seguiu como um cão. Ficou surdo e seus últimos anos foram vividos num vazio de silêncio. Silêncio! De onde tirava os sons que o mundo todo adorou ouvir e ele deve ter ouvido antes de todos!”
No início da civilização, os Mistérios foram instituídos com o propósito de ensinar à humanidade suas faculdades e poderes latentes, de modo a se capacitar para investigar a vida e o trabalho do astral superior, veículos mental e espiritual que pertencem ao homem e à Terra.
Muitos clássicos literários contêm informação relativa aos Mistérios, por exemplo, a Divina Comédia de Dante e o Paraíso Perdido e Recuperado de Milton. Beethoven os descreveu musicalmente em suas Nove Sinfonias.
O caminho da Iniciação conduz a uma investigação das maravilhas e glórias que pertencem aos planos internos deste planeta.O homem é muito mais do que um corpo como é visto pelos olhos físicos. Ele é composto de outros veículos sutis que o interpenetram e também se estendem além da periferia do corpo físico. Assim, também a Terra está composta de mais que um globo físico. Ela tem veículos que a interpenetram e que se estendem para o espaço a dentro. Por meio da Iniciação, o homem se torna ciente de seus corpos mais sutis e de suas funções e adquire conhecimento dos vários veículos da Terra e de suas funções.
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Durante o século XIX, espíritos evoluídos reencarnaram para trazerem à compreensão vários conceitos de verdade espiritual relativos à Iniciação - conceitos que foram deixados de lado e esquecidos durante os séculos do materialismo que envolveu o mundo. Estas verdades eram para serem revividas por aqueles que as aceitassem, de modo que pudessem ser fortalecidas e preparadas para os árduos e trágicos dias do século XX.
Richard Wagner, outro grande músico Iniciado, entendeu e apreciou a grande missão de Beethoven no mundo. Ele percebeu o sublime significado interno e o êxtase da alma na Nona Sinfonia. Ele a considerou a suprema dádiva musical para a humanidade. Quando construiu seu lindo santuário da música em Bayreuth, ele a inaugurou com as cordas imortais da celestial Nona de Beethoven.
Berlioz escreveu sobre a Nona Sinfonia: “Qualquer coisa que se possa dizer desta sinfonia, o fundamental é que, quando terminou seu trabalho e contemplou a grandiosidade do monumento que tinha acabado de erguer, Beethoven deve ter dito a si mesmo: ` Deixe a morte vir agora, minha tarefa está cumprida ‘.”
A culminância do trabalho de Beethoven foi alcançada nas suas nove sinfonias. Ele começou a primeira quando o mundo estava no limiar do século XIX. A Primeira Sinfonia foi escrita em 1802. A nona e última foi completada e dada ao mundo em 1824. Com esta sublime composição, sua missão terrestre se aproximava de sua conclusão gloriosa. Seu chamado veio em 1827.
No seu mais alto aspecto, as Nove Sinfonias de Beethoven são uma interpretação musical dos passos iniciatórios conhecidos como os Nove Mistérios Espirituais. A primeira, a terceira, a quinta e a sétima são poderosas, vigorosas e imponentes, tipificando características masculinas centradas na cabeça ou no intelecto. A segunda, a quarta, a sexta e a oitava são gentis, graciosas, ternas e belas, tipificando as características femininas centradas no coração ou na intuição. Quando um aspirante passa através de vários passos iniciatórios dos Mistérios, ele aprende a equilibrar as forças da cabeça e do coração. Sua união é conhecida como o Casamento Místico. É este lindo rito que Beethoven descreve na sublime música da Nona Sinfonia.
Cada Iniciação é acompanhada por música celestial - música que Beethoven trouxe para a Terra e traduziu para os humanos nas Nove Sinfonias. Quando o ser alcança o exaltado lugar da Nona Iniciação, ele chega à mais alta fase das Iniciações. Torna-se um Adepto. Então, ele é capaz de chegar à presença do Senhor Cristo e receber Sua suprema bênção.
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CAPÍTULO I
PRIMEIRA SINFONIA - DÓ MAIOR-OPUS 21
É reconhecido, sem sombra de dúvida, que, em Beethoven, a maior e mais poderosa forma de música instrumental encontrou seu maior e mais poderoso expoente. – E. Markham Lee em The Story of Symphonies.
A primeira das Nove Sinfonias teve sua pré-estréia em Viena sob a direção do próprio Beethoven em 2 de abril de 1800. Esta foi a primeira da grandiosa e imortal série que é o monumento colossal da música deste tempo. O ano em que foi produzida sugere que foi o “canto do cisne” instrumental do século XVIII.
A missão de Beethoven foi a de servir como mensageiro da música cósmica. Era seu destino alcançar além da superfície deste plano e trazer para a humanidade a gloriosa música do espaço, e esta missão foi cumprida em suas Nove Sinfonias. Nestas composições, Beethoven, nas palavras do Sr. Lee, “reserva algumas de suas maiores e mais graves declarações. A perspectiva, ” ele continua, “é invariavelmente grande, todo o método de concepção é de uma grandiosidade e de uma força titânica. Ele enfoca o assunto com seriedade e o resultado é grandioso e sereno.”
A nota-chave espiritual da Primeira Sinfonia é Poder. O número um é indicado por uma coluna vertical, o primeiro símbolo da Divindade, como foi adorada pelo homem primitivo do início da civilização. O número um também significa o Ego, o indivíduo, cujo propósito de sua jornada através da evolução é manifestar sua divindade inata.
Fiel à forma sinfônica, esta sinfonia está dividida em quatro movimentos. Um Allegro, que é precedido por um Adagio introdutório expressando poder, dá as notas-chaves da composição. O segundo movimento, um Andante, e o terceiro, um Minueto que é mais um Scherzo, sustentam uma convicção de uma fidelidade a este poder que tudo permeia, mas que está latente. O Finale, num espírito de exaltação, chega a um clímax nas cordas triunfantes: “E Deus criou o Céu e a Terra e tudo o que está nela; Ele viu que Seu trabalho era bom”.
A Primeira Sinfonia é uma precursora das belezas e glórias dos Nove Graus de Iniciação pelos quais o homem se torna um super-homem e um homem-deus. Nela, Beethoven sobe às alturas e desce às profundezas de um modo que poucos no seu tempo puderam prever ou compreender. Aquele que consegue perceber os valores incorporados na estrutura interna desta sinfonia irá colocá-la entre as melhores inspirações deste magnífico gênio musical.
As composições de Beethoven seguem modelos pré-concebidos. Este grande músico não fez nada sem um objetivo claro. Assim, por exemplo, não se pode considerar como acidental que a introdução da Primeira Sinfonia seja formada por doze compassos, cada um dos quais pode ser considerado como abrindo a porta a cada um dos doze signos zodiacais, cujas forças desempenham seu papel na música verdadeiramente cósmica em sua expansão e natureza. Os doze compassos estão divididos em três grupos de quatro, cada grupo dos quais anuncia a melodia que se seguirá. Os quatro formam uma amalgamação das forças que fluem através dos quatro elementos da natureza: Fogo, Ar, Terra e Água.
O Adagio introdutório consiste de doze compassos, iniciando em Fá Maior e continuando em Dó Maior, tonalidades que têm rico poder tonal. Em contraste, o segundo tema expressa os atributos femininos de gentileza e doçura, soando as vozes combinadas e alternadas dos sopros de madeira.
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O Minueto, arauto do Scherzo, é um tempo rápido. Um crítico musical escreveu: “Ele se move livremente sobre extravagâncias divinas de modulação de um modo que perturbava os ortodoxos de 1800”.
O Finale é introduzido por três compassos nos quais os primeiros violinos revelam a escala ascendente do tema pouco a pouco. As progressões tonais e as passagens rápidas pressagiam o término da Idade Antiga e a busca para o começo da Nova.
No terceiro movimento, a música recapitula o trabalho dos dois movimentos anteriores num andamento acelerado que representa o júbilo do alcance espiritual. Este movimento contém 353 compassos cujo valor numérico é 11, o número da perfeita polaridade. Tanto o Minueto como o Trio estão em Dó.
No Finale, que é descrito por um rondó, a métrica numérica é oito, o número da sabedoria. “O primeiro motivo cadencia na dominante dentro de oito compassos e é seguido por um motivo acompanhando de mais oito compassos que levam ao completo final”.
Este movimento se centraliza em um diálogo entre os sopros de madeira e as cordas, tipificando os sentidos purificados, a mente espiritualizada. Trompetes e tímpanos acrescentam forças amalgamadas do homem completo. Aqui, o três-oito-sete, que soma dezoito ou nove, indica as bases da Grande Obra.
O fraseado do Allegro é composto de quatro compassos e é dividido em dois-mais-dois que acentua o princípio fundamental da polaridade sobre a qual toda a criação está baseada e que forma a pedra angular de todos os ensinamentos iniciatórios. Beethoven aqui projeta princípios cósmicos ou dá uma cópia do universo como é ensinado nas Escolas de Iniciação Musical que, como todos os antigos Templos de Mistérios, incluindo os da antiga Maçonaria, incluíam em seus currículos matemática e astronomia além da música. O Allegro consiste em 288 compassos que soma o valor numérico nove, que é o número do homem e da Iniciação.
O segundo movimento compõe-se de 250 compassos, o valor numérico do sete, um número fundamental na evolução humana. Ele define o movimento que é introduzido por sete compassos não usuais. Mais adiante, há o retorno dos quatro compassos, após o qual é empregado um simples compasso para confirmar o começo da individualização.
Beethoven introduz neste movimento um solo dos tímpanos independente. Ele está nos dizendo que o homem deve aprender a refletir o espírito na ação. Este fato é produzido pelo tema principal, sendo primeiramente dividido entre as cordas agudas e as graves, tipificando o caminho entre as naturezas inferior e superior. Mais adiante, o tema principal é outra vez repetido entre as cordas e as madeiras, definindo assim o caminho musical da transmutação pela qual o desejo é transmutado em espírito.
PRIMEIRO MISTÉRIO
A Iniciação nos Mistérios capacita a pessoa, quando envolvida por seus melhores e mais diáfanos corpos, a entrar e estudar as verdades maravilhosas que estão escondidas nas mais altas e sutis camadas da Terra.
No Primeiro Mistério, o candidato penetra nos planos internos da Terra. As forças e as atividades que se manifestam nestes planos, que são nove estratos, correlacionam-se com cada um dos Nove Mistérios
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Espirituais. Em cada um destes Nove Mistérios, o candidato é ensinado a estudar estas várias atividades e a trabalhar com estas poderosas forças dos planos internos.
Quando a humanidade se tornar suficientemente clarividente para ser capaz de investigar estes planos, um admirável mundo novo será revelado a ela e a geologia será uma das mais fascinantes ciências materiais. Esta última expressão é um falso nome, pois, na realidade, não há uma ciência material, pois quando o coração de qualquer ciência é totalmente revelado, ela se torna verdadeiramente espiritual em sua natureza essencial. Assim, ela revela o amor e o cuidado de Deus por seu planeta Terra e todas as ondas de vida em evolução que vivem nela. A música da Nove Sinfonias, quando musicalmente interpretada, abre novas visões de idealismo e compreensão até agora não sonhadas.
O Primeiro Mistério está relacionado com a Terra física. Na Memória da Natureza, estão escondidos os maravilhosos segredos relativos ao longo período evolucionário deste planeta. No Primeiro Mistério, aquele que se tornou capaz é ensinado a ler no Registro Etéreo e a aprender algo das maravilhas da história passada da Terra. Neste registro, ele é capaz de ver as enormes florestas verdes e os gigantescos animais da Lemúria. As majestosas florestas vermelhas da Califórnia são vestígios do Antigo Período Lemuriano.
Esta época foi seguida pelo, o cinzento e enevoado continente Atlante. As formas dos animais se tornaram menores e a flora mais variada e delicada em sua textura e cor. Depois da Atlântida, a presente idade do arco-íris nasceu, uma idade em que o Sol brilha claro numa atmosfera oxigenada e a presente humanidade Ariana, a Quinta Raça Raiz, surgiu.
A majestade da Primeira Sinfonia é a descrição da tremenda transformação da Terra. Em seus quatro movimentos, é como se o compositor estivesse colocando em música o fiat criador de Deus. A música cresce cada vez mais, culminando no voo do Finale que traduz em imortal som o pronunciamento do final dos seis dias da Criação registrado no Gênesis de que tudo o que foi feito era bom, “era muito bom”.
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CAPÍTULO II
SEGUNDA SINFONIA -RÉ MAIOR -OPUS 36
Esta sinfonia é música que transpira serenidade, beleza, jovialidade e coragem. - Philip Hale em “Boston Symphony Notes”
A segunda das Nove Sinfonias foi apresentada pela primeira vez em Viena em 5 de abril de 1803. Sua nota espiritual é Amor. O número dois expressa o feminino ou o princípio materno de Deus. Este princípio se manifesta como amor supremo, poder que anima toda a sinfonia, conferindo à música tal beleza e doçura que muitos devotos das sinfonias de Beethoven declararam ser a mais bonita de todas. A proteção aconchegante do espírito materno brota em alguns de seus movimentos. Em outros, o espírito do sacrifício, inseparável do amor materno, encontra expressão em certas melodias ternas. O Scherzo transpira felicidade tão refinada que é como uma brisa de ar perfumado. Tem o efeito de elevar e refrescar um espírito desanimado.
A surdez crescente de Beethoven serviu para livrá-lo das distrações do mundo físico, de modo que ele deve ter captado as harmonias celestiais que estão sempre vibrando através de nosso cosmos ordenado.
A qualidade tonal da Segunda Sinfonia é cheia de cores orquestrais que conferem à sua música uma qualidade e uma luminosidade desde o seu início até o final.
O primeiro movimento produz um efeito de um brilhante nascer do Sol. O Larghetto soa em cores suaves como um variado jogo de luz e sombra numa superfície clara. O Scherzo brilha e faísca em júbilo vivaz e beleza, explodindo em contrastes dinâmicos no Finale.
Sob apelos melódicos delicados e um tom de esplendor, esta sinfonia está cheia de “episódios ousados” com insinuações de outros mundos e ecos tênues que confundiram os críticos da época.
Este movimento com suas súbitas explosões de acordes e modulações caprichosas foi severamente criticado pelos revisores do tempo de Beethoven, mas foram também eles que reconheceram seus efeitos tonais como verdadeiramente magníficos. Beethoven sempre trabalhou dentro de estrutura de espaços ilimitados.
Berlioz, em seu comentário sobre esta sinfonia, afirma que “o Andante é uma canção pura e franca... cujo caráter não é removido do sentimento de ternura que forma o estilo nítido da idéia principal. É uma figura encantadora” , ele continua, “de prazer inocente que é dificilmente obscurecida por uns poucos acentos melancólicos”. Berlioz então descreve o Scherzo como “francamente alegre na sua fantástica volubilidade como o Andante foi completo e serenamente feliz; pois esta sinfonia está sorrindo o tempo todo; as explosões do primeiro Allegro estão totalmente livres de violência; há só o ardor juvenil de um nobre coração no qual as mais bonitas ilusões da vida são preservadas imaculadas. O compositor ainda acredita em glória imortal, em amor e devoção. Que naturalidade em sua jovialidade... É como se você estivesse vendo os esportes mágicos dos espírtos graciosos de Oberon”.
“O Finale”, ele acrescenta, “ é da mesma natureza. Um segundo Scherzo em binário e sua jovialidade tem talvez algo ainda mais delicado, mas picante.”
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Depois de uma das primeiras apresentações desta sinfonia em Leipzig em 1804, um crítico de discernimento maior que o contemporâneo asseverou que era uma composição de idéias tão boas e ricas que permaneceria viva e que “sempre seria ouvida com renovado prazer mesmo quando mil coisas que hoje estão em moda estivessem enterradas”.
Como esta sinfonia foi escrita sob circunstâncias de uma natureza depressiva, devido a enfermidades físicas que o compositor sofria e as notícias esmagadoras sobre Guilietta Guicciardi, uma aluna por quem tinha se apaixonado e que se casara com o Conde Gallenberg, os críticos não deixaram de comentar a contradição entre o sentimento pessoal melancólico do compositor e a música jovial e adorável que ele escreveu em sua Segunda Sinfonia.
A resposta à questão feita por esta circunstância é geralmente dada por um comentarista que conclui que “ em vista da tragédia daquele verão, esta sinfonia deve talvez ser vista como um escape” .
Se Beethoven tivesse vivido para fins pessoais, tal explicação seria, com toda a probabilidade, completamente verdadeira. Mas Beethoven viveu para servir a objetivos universais e impessoais. Ele dedicou sua vida para trazer para a humanidade a cura e as forças redentoras da beleza através da mais elevada de todas as artes, a arte da música. Beethoven foi um ego titânico funcionando dentro das limitações de uma forma pessoal. Quando ele se entregou para trazer do mundo celeste suas comunicações musicais inspiradas, sua consciência ascendeu a níveis onde o que é puramente pessoal se perde no universal. Daí, concluímos sobre o caráter de Beethoven e sobre o propósito espiritual que, no caso da composição da Segunda Sinfonia, a alegria e o amor que ela irradia não é o resultado de um esforço desesperado da vontade de escapar da sua provação pessoal e atribulação, mas a renúncia às suas preocupações pessoais, sejam elas de natureza pesarosa ou de natureza exultante de alegria, a transmissão impessoal daquilo que o mundo do som era capaz de conferir ao homem através de um ego qualificado para servir com tão exaltada capacidade.
Marion M. Scott, em “Master Musicians Series” , observa, com relação à Segunda Sinfonia, que enquanto Beethoven andava nas campinas de Heiligenstadt, sua mente perambulava pelos Campos Elíseos. Em outras palavras, enquanto sua pessoa estava andando aqui em baixo, seu eu superior estava voando lá em cima. Foi então que ele viu, nas palavras de Marion Scott, “como acontece nas cadeias de montanhas além do mar e nas cadeias de montanhas intermediárias uma radiante visão das montanhas distantes no horizonte - ele viu a Alegria”. Aquela visão, ele nos deixou na Segunda Sinfonia.
Como previamente foi dito, o tema principal da Segunda Sinfonia é Amor. Do amor brota confiança, serenidade, alegria e aquela grande paz que ultrapassa a compreensão. Todas estas qualidades são lindamente expressadas através da sinfonia que conclui na nota triunfante de que o espírito é supremo e que é possível para ele permanecer liberto e intocado por todas as desarmonias e desilusões do mundo externo. Emerson expressou isso muito apropriadamente quando escreveu: “ É só o finito que tem trabalhado e sofrido; o Infinito descansa em repouso sorridente”. Esta é a mensagem inspiradora da Segunda Sinfonia.
SEGUNDO MISTÉRIO
O Segundo Mistério está conectado com o segundo envoltório da Terra chamado de Estrato Fluídico. Nele, estão refletidas as forças harmoniosas e pulsantes da região etérea. O trabalho deste Mistério tem a ver com o
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segredo dos éteres, incluindo os seres que habitam esta região. Neles, estão incluídos os espíritos da natureza que fazem muito para embelezar a Terra. A região etérea transcende a esfera de escuridão e morte. Aqui o ser se move em luz perpétua e numa região de vida imortal.
Existem quatro éteres com os quais o homem está relacionado. Os dois éteres inferiores estão relacionados com sua vida no plano físico; quanto mais terreno é seu caráter, mais densos são estes dois éteres. Os dois éteres superiores se relacionam com as atividades espirituais e estéticas do homem. Têm a ver com suas faculdades superiores. Por isso, quanto mais sensível sua natureza, mais se torna orientado para o desenvolvimento espiritual e mais rápido é o seu avanço no caminho.
São Paulo se referiu ao corpo do homem como o templo do Deus vivo. Os dois pilares que apoiam este templo são os dois sistemas nervosos, o cérebro-espinhal e o simpático. Estes dois sistemas estão diretamente relacionados com os Mistérios. Diz-se que, nestes tempos caóticos e incertos, a grande maioria da humanidade está afetada de certa maneira por desajustamentos nervosos. Isto é porque o homem não aprendeu a adaptar corretamente sua vida e atividades ao fluxo e refluxo das forças etéreas. Quando ele entender estas forças internas e viver mais em harmonia com as leis que governam os planos etéreos, ele se tornará sensível e receptivo a esta bela e sutil influência. O corpo humano do futuro será enormemente diferente do que é hoje. Possuirá faculdades de tal ordem que dificilmente são imaginadas no presente.
O primeiro movimento com suas súbitas explosões de acordes caracteriza a Hierarquia Angélica que é especialista na manipulação das forças etéreas. Os Anjos que prestam auxílio à Terra entram em contato com ela através do plano etéreo. Embora estejam presentes no espaço que a envolve, sua presença não é sentida por causa da falta de visão etérea. Esta oitava superior da visão se tornará bastante comum no curso da Idade de Aquário. Uma maravilhosa irmandade e um companheirismo serão então estabelecidos entre os reinos humano e angélico.
Na terna beleza e delicadeza, na doçura e pureza de muitas passagens desta Segunda Sinfonia, Beethoven descreve algo da sublimidade desta região e a beleza e luz dos seres angélicos que a habitam.
Novamente citando o Sr. Scott, “ Havia em Beethoven algo que transcendia a ética de Aeschylus e Sófocles - algo que o colocava ao lado do cego Homer e Virgílio cujos altos pensamentos refletiam o brilho de algum dia misterioso que ainda não chegou.” Como eles, ele podia passar pela tragédia para um conhecimento maior além, onde nascimento e morte, alegria e sofrimento são só lados diferentes da mesma moeda dourada da vida cunhada por Deus na eternidade.
O grande poder espiritual dos Mistérios aumenta com cada grau ascendente. Na gloriosa música da Segunda Sinfonia, soa um eco e uma repetição deste eco daquela força espiritual que só atingirá sua perfeição e plenitude na música da Nona Sinfonia.
Beethoven se inspirou nas montanhas durante a composição desta sinfonia. Os picos mais altos que ele frequentemente contemplava com enlevo podem bem ser vistos como um reflexo físico do elevado reino espiritual no qual seu espírito era envolvido em êxtase, quando ele se empenhava em transcrever em música o elevado significado dos Mistérios.
No Segundo Mistério, entramos na Região Etérea para estudar os mistérios das flores e das plantas e o ministério dos Anjos conectados com elas. A peculiar doçura da Segunda Sinfonia é fragrante com esses segredos raros.
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Com a aproximação da Nova Era, o homem se tornará cada vez mais clarividente. Isto revelará um fascinante mundo novo. Ele será capaz de observar a vida e as atividades dos espíritos da natureza e também a dos mensageiros angélicos que dirigem e supervisionam suas atividades através de todo o reino vegetal. Como resultado deste desenvolvimento, a botânica se transformará em uma das mais interessantes de todas as ciências.
Um dos mais fascinantes aspectos da botânica da Nova Era será a experimentação que lida com os efeitos do pensamento humano concentrado sobre a vida e o crescimento do reino vegetal. Algumas experiências importantes neste assunto estão sendo conduzidas neste país (USA) e notavelmente na Índia. Seus resultados certamente serão enormemente importantes e muito mais abrangentes do que podemos prever agora. Significará expansão de fronteiras em termos de consciência humana e uma amplitude de sua esfera de vida.
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CAPÍTULO III
TERCEIRA SINFONIA -MI BEMOL MAIOR- OPUS 55
( HEROICA )
“O coração de Beethoven estava cheio de fogo divino e ele não conhecia a fronteira; todo o Céu e toda a Terra eram seus campos de exploração onde ele amava, sonhava, sofria imensamente e despejava seus sentimentos dentro de sua arte. Transformava tudo o que tocava, tornando luminoso com fogo divino.
Em Viena, ouvi pela primeira vez uma de suas sinfonias, a Heroica. A partir daí, tive só um pensamento: estar em contato com este grande gênio e vê-lo pelo menos uma vez.” - Rossini
“ Seus gloriosos temas e a majestosa beleza de seu pensamento musical permitem que ela permaneça mais de cem anos após sua composição como uma das principais obras da criatividade musical.” - E. Markham Lee
“ A música da Heroica é profunda, magnificamente ilustrativa de um heroísmo idealístico. Tipifica o puro espírito do heroísmo idealizado e universalizado. O Primeiro Movimento expressa o heroísmo da intrepidez dentro da qual a fé se torna o grande poder transformador que purifica e exalta. A Marcha Fúnebre não contém a representação da morte como tal, mas eleva, exalta e proclama os poderes da Vida Eterna, pois o amplo perfil do conceito de Beethoven não contém nenhuma sombra da morte.
O Scherzo expressa e mantém esta confiança e serenidade enquanto o Finale é ansioso e alegre com todo o conhecimento consciente do grande profeta musical, um brilhante prenúncio das forças do nascer do Sol mais tarde realizadas nos inspiradores compassos da Nona Sinfonia.” - John N. Burk em “Life and Works of Beethoven”
A Terceira das Nove Sinfonias foi iniciada em 1803 e finalizada no ano seguinte. Foi apresentada pela primeira vez em Viena em 1805.
A nota-chave espiritual da Terceira Sinfonia é Força. O número três é formado pela união do um (poder) com o dois (amor). Dessa união, nasce o terceiro atributo, a força. É este poder anímico da força que se torna o tema básico da Terceira de Beethoven.
A verdadeira grandeza de Beethoven começou a se manifestar neste estupendo trabalho. Aqui está a música de força concentrada e dinâmica. Sua concepção é tão vasta que a caneta era incapaz de acompanhar o esquema cósmico que foi revelado a ele em todas as suas proporções colossais. Cada compasso traz um heroico timbre. Esta não é uma música convencional, mas uma transcrição de celestiais melodias que, como uma melodia não interrompida, move-se em longas correntes de altos e baixos, uma poderosa sinfonia na qual as correntes da vida e da morte, ou vida transcendente, competem entre si em glória celestial.
Todos os críticos concordam com o espírito de universalidade que permeia esta Sinfonia. A magia tonal sobe aos picos das montanhas e desce aos vales subterrâneos, banhando toda a Terra com luz fulgurante. A recapitulação reafirma os temas num ritmo de crescente força e beleza.
A Terceira Sinfonia foi especialmente querida ao coração de Beethoven. Muitos dos que o conheceram intimamente disseram que esta sinfonia, a Heroica, era sua favorita. A maioria dos comentaristas associaram esta sinfonia a um significado político especial. No entanto, são os mais profundos e esotéricos aspectos nos quais estamos primeiramente interessados.
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Esta sinfonia, como todas as Nove Sinfonias de Beethoven, está dividida em quatro partes designadas de Allegro, Marcha Fúnebre, Scherzo e Finale.
A natureza e sequência das quatro partes ocasionaram muitas e variadas especulações sobre o que o compositor tinha em mente quando criou a sinfonia. O alegre Scherzo que segue a Marcha Fúnebre tem deixado os comentaristas perplexos, mas, nas palavras de Robert Bagar e Louis Biancolli no livro “Concert Companion”, “ ao musicólogo, ao historiador e ao romancista podem ser permitidas interpretações, mas a música permanece como um monumento à uma mente grande e poderosamente expressiva cujos pensamentos e imaginações, quaisquer que tenham sido, se cristalizaram no brilhante e irresistível modelo de uma criação eterna.
Com relação à impropriedade do alegre Scherzo vir imediatamente depois da Marcha Fúnebre que alguns sentiram, isto não apresenta dificuldade de interpretação à luz da profunda experiência anímica. Quando um aspirante entra sinceramente no caminho da transmutação da natureza inferior em superior, as experiências adquiridas são frequentemente cheias de falhas e frustrações, com dor e tristeza. Muitas vezes, os sons no coração do buscador, os solenes e enlutados tons da marcha fúnebre, retratam a renúncia do eu inferior. Com o alcance desta recém encontrada força anímica, no entanto, o espírito renovado canta sua alegria e deleite, como expressado no Scherzo. Nas palavras de Davi, o doce cantor de Israel,
“A tristeza permanece à noite, mas a alegria vem de manhã”.
O Iniciado músico Richard Wagner expressou-se sobre os valores internos e profundos incorporados nesta sinfonia com tal “insight” espiritual que nós transcrevemos aqui. Em suas palavras inspiradas, o primeiro movimento “ é para ser considerado em seu sentido amplo e de forma alguma para ser entendido como relacionado meramente a um herói militar. Se nós entendemos, no sentido amplo, por “herói”, o homem total e completo no qual estão presentes todos os sentimentos de amor puramente humanos, de dor, de força em sua mais alta suficiência, então nós iremos corretamente entender o que o artista desperta em nós nas acentuações de seu trabalho tonal. O espaço artístico deste trabalho está cheio de variados e crescentes sentimentos de uma individualidade forte e consumada, para a qual nenhum humano é um estranho, e inclui verdadeiramente dentro de si todo o sentimento humano, exprimindo isso de tal maneira que, depois de manifestar francamente toda a paixão nobre, termina dentro de uma enorme suavidade de sentimento, apegado à mais energética força. A tendência heroica deste trabalho artístico é o progresso em direção à conquista final.”
Para Wagner, o primeiro movimento “abraça, como num forno brilhante, todas as emoções de uma natureza ricamente abençoada no auge de uma juventude inquieta, contudo, todos estes sentimentos brotam de uma principal faculdade e esta é a Força... Vemos um Titã lutando com os deuses”.
Do segundo movimento, com sua “força destruidora que alcança a crise trágica, o poeta musical reveste sua proclamação na forma musical de uma Marcha Fúnebre. A emoção subjugada por profunda aflição, movendo-se em tristeza solene, conta-nos sua história em tons agitados”.
Romaine Rolland considerou a Marcha Fúnebre “uma das mais grandiosas coisas em música. É um cortejo”, ele observa, “das atribulações mundanas mais do que uma elegia para Napoleão” e Pitts Sanborn denominou-a “uma das mais tremendas lamentações concebidas em qualquer arte”.
Do terceiro movimento, Wagner diz: “força roubada de sua arrogância destrutiva - pela castidade de seu profundo pesar - o terceiro movimento mostra em si toda a sua flutuante alegria. Sua indisciplina selvagem modelou-se em fresca e alegre atividade; temos diante de nós agora este adorável homem feliz que passa cordial pelos campos da Natureza”. Este é o primeiro Scherzo de Beethoven e é considerado por muitos como sendo um entre os melhores.
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No Finale, tremendas doses de força exultante são libertadas proclamando o alcance do auto-domínio. É música dentro da qual cada átomo físico se afina com a música das esferas.
Como entendido por Wagner, o Finale representa o homem todo, isto é, “o homem profundamente sofredor e o homem feliz e alegre , os dois vivendo harmoniosamente nestas emoções onde a memória do sofrimento se torna a força formadora de nobres feitos”.
As citações wagnerianas nós devemos a Laurence Gilman em seu livro “Stories of Symphonic Music”.
A linguagem humana pode, no máximo, transmitir muito deficientemente a essência espiritual e o significado de trabalhos artísticos que brotam de uma consciência capaz de afinar com os mais altos planos espirituais através de uma personalidade que possui a rara habilidade de transcrevê-las para uma clara audição humana. Que Wagner tenha a percepção de reconhecer valores internos na Terceira Sinfonia de Beethoven, mais completa e claramente que outros mortais, está amplamente demonstrado no esoterismo que forma a estrutura interna de todos os seus trabalhos imortais. Então, o que ele tem a dizer sobre a Terceira de Beethoven é mais do que uma coisa superficial, mais do que alcançar seu significado por uma mera audição.
Por exemplo, quando Wagner fala do Finale como sendo um resumo das Tristezas e lutas do homem finalmente combinadas harmoniosamente em suas experiências criativas e alegres, das quais brota uma forma de arte que possui “força para nobres realizações”, ele está concordando com Pitágoras, que deu ao três o atributo da harmonia e também afirmou a verdade de que as experiências adquiridas estão sempre repletas de falhas, e o simbolismo do número três da Maçonaria que suporta os pilares da sabedoria, da força e da beleza.
Mais do que isto, Wagner fala do Finale como representativo do “homem total”, o “Homem total que grita para nós a declaração de sua Divindade”.
Considerem esta afirmativa em relação ao campo vibratório do três dentro do qual a Terceira Sinfonia toma forma. Em toda parte entre os antigos, o número três era considerado o mais sagrado dos números. Não há símbolo mais importante do que o triângulo equilátero usado como símbolo da Divindade. Platão viu nele a imagem do Ser Supremo e, de acordo com Aristóteles, o número três contém dentro de si o princípio e o fim. Era na Trindade que Platão se identificava com o Ser Supremo que criou o homem ou, nas palavras de Wagner, “o todo, o homem total, o homem que grita para nós a declaração de sua Divindade”. Neste breve comentário de Wagner, nós temos uma declaração de um Iniciado interpretando o que um ser de eminente criatividade compôs para a audição de ouvidos que percebem menos.
Da Terceira Sinfonia, Pitts Sanborn tem para dizer: “O Três incorpora os desenvolvimentos com os quais Beethoven revolucionou a sinfonia. Em amplitude e opulência, nenhum movimento sinfônico igualou ou mesmo se aproximou do inicial Allegro con brio, e podemos duvidar se algum o exceder subsequentemente. Ouvintes sensíveis, ouvindo-o pela primeira vez, poderiam bem ter gritado como Miranda: “Ó bravo novo mundo!
A luta suprema que confronta todo ser humano é a conquista da personalidade pelos poderes do espírito. Esta é a batalha na qual todo ego está engajado muitas vezes em todo ciclo de vida e, quando a vitória é finalmente consumada, o espírito se levanta livre, emancipado, vitorioso. É este conflito e vitória que Beethoven descreveu tão magnificamente em sua Heroica. É sem dúvida por esta razão que Beethoven afirmou que esta composição era a sua sinfonia favorita.
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TERCEIRO MISTÉRIO
O Terceiro Mistério está conectado com o terceiro estrato da Terra conhecido como Estrato Vaporoso. Neste estrato, está refletido o Mundo do Desejo. Aqui, compreendemos como nunca a relação entre o homem e o planeta em que vive. Ele entende como sua indomável natureza de desejo influencia e libera certas forças sinistras dentro da correspondente camada na Terra. Ele também compreende como o controle dos desejos dentro dele tende a impedir a operação das forças destrutivas dentro do corpo da Terra. Por exemplo: se a totalidade da humanidade tivesse completo domínio sobre a sua natureza de desejos, haveria menos devastação pelo fogo, pela água, ciclones, erupções vulcânicas e outros violentos transtornos da natureza. Isso pode, à primeira vista, parecer estranho e inacreditável para aquele que não penetrou nos segredos internos da natureza e do homem. Foi o completo controle da natureza inferior nos três homens sagrados descritos no Livro de Daniel que os capacitou a se manterem vivos na “fornalha de fogo”. Pela mesma razão, homens sagrados na Índia e em outros lugares atravessam florestas sem serem molestados por animais ferozes e répteis venenosos. Ao meditar sobre estes fatos, compreendemos mais profundamente o significado das palavras de Salomão: “Aquele que controla a si mesmo é maior do que o que toma uma cidade”. Richard Wagner expressou esta mesma verdade em Parsifal dando como sua nota-chave
“Grande é a força do desejo, mas maior é a força da superação”. Este é o poder que forma o tema da Terceira Sinfonia de Beethoven.
Somente aquele que atingiu o completo domínio de si mesmo, tal como Beethoven descreve na Heroica, pode entrar com segurança e investigar os reinos do desejo da Terra.
No Terceiro Mistério, as magníficas cores do mundo astral se refletem no terceiro ou Estrato de Vapor da Terra e se transformam em um verdadeiro arco-íris de beleza translúcida. Muitas das cores ali refletidas nunca foram vistas no plano físico, pois suas frequências vibratórias são altas demais para serem captadas pela visão física. Ali, o candidato aprende a controlar os ritmos do desejo dentro de seu corpo e a transformá-los em poder espiritual. Nos mistérios maiores, ele também aprende como controlar as correntes de desejo no mundo externo como, por exemplo, em certos ajuntamentos de pessoas onde as emoções tendem a disparar como numa corrida; esta pessoa evoluída possui o poder de dominar estas emoções e assim evitar o desastre ou a tragédia.
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CAPÍTULO IV
QUARTA SINFONIA - SI BEMOL MAIOR - OPUS 60
A Quarta Sinfonia é como “uma donzela grega entre dois gigantes Nórdicos” - Robert Schumann
A Quarta das Nove Sinfonias foi composta no verão de 1806. Foi feita numa das mais agradáveis cercanias e sob condições de serenidade interna e externa. À sinfonia que então surgiu, Romaine Rolland se referiu poeticamente como “uma pura e perfumada flor que guarda como um tesouro o perfume daqueles dias”.
Foi dito anteriormente que o número três (força) é uma emanação masculina dos valores vibratórios combinados do número um (poder) e do número dois (amor). O número quatro (beleza) é uma emanação feminina formada pela mistura do número um (poder), número dois (amor) e número três (força). Assim, há uma íntima relação entre força e beleza. As duas principais colunas na entrada do Templo de Salomão têm gravadas as palavras força e beleza. É interessante notar que vários escritores encontram nas sinfonias de Beethoven uma estreita relação entre a Terceira e a Quarta. A Terceira está centralizada em poder e força e a Quarta, em amor e beleza. “Em suas características masculinas”, escreve Alexander Wheelock Thayer, “Beethoven atinge o cimo das montanhas com fogo celestial; em suas características femininas, ele enche os vales com doçura celestial”. Esta, a proeminentemente feminina Quarta Sinfonia, ele ouve como a “sinfonia do sonho”.
No desenvolvimento da força anímica pura, a beleza está sempre latente em seu coração, e a essência da verdadeira beleza espiritual será sempre encontrada para possuir uma certa força interna. A Quarta Sinfonia tem sido chamada de sinfonia da felicidade e seus quatro movimentos identificados com as qualidades de Serenidade, Felicidade, Beleza e Paz.
Considerando as quatro partes, o introdutório Adagio é caracterizado por uma doçura angelical; possui uma profunda e mística serenidade. “Sua forma é tão pura e o efeito de sua melodia tão angelical”, escreve Hector Berlioz, “e tão irresistível ternura que a arte prodigiosa através da qual esta perfeição é atingida desaparece completamente. Desde os primeiros compassos, somos tomados por uma emoção que chega ao final tão poderosa em sua intensidade, que só entre os gigantes da arte poética podemos encontrar algo comparável com esta sublime página do gigante da música”; ele conclui, “a impressão produzida por este Adagio se parece com aquela que experimentamos quando lemos o comovente episódio de Francesca da Rimini na Divina Comédia.
O segundo movimento, um Adagio em Mi bemol Maior, respira um fervor que outra vez alguns comentaristas procuraram ligar à vida amorosa pessoal do compositor. Mas aqui, Berlioz, como Wagner, percebe a verdadeira, sublime e impessoal fonte de inspiração de Beethoven. “O ser que escreveu tal maravilha de inspiração como este movimento”, diz Berlioz, “não é um homem. Deve ser a canção do Arcanjo Miguel quando contempla a sublevação do limiar do Céu”.
O terceiro movimento ( Allegro Vivace ) invoca um completo deleite. É brilhante e fascinante. Há felicidade nas cordas, nos instrumentos de sopro e no harmônico soar dos tambores. É uma verdadeira canção de beleza que a alma receptiva vem realizar como imortal em si mesma, não tendo nem começo nem fim. Neste ponto, somos levados a exclamar com Wagner de que é música que não pode ser entendida de outra forma a não ser através da “idéia de magia”.
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O Finale termina numa “brilhante perspectiva onde a harmonia dos mundos visível e invisíveis se encontram e se comunicam. Ele respira uma doce e terna bênção de paz. É a paz que vem só para a alma que aprendeu a transmutar as dificuldades e problemas em pura beleza anímica. O mais alto significado do número quatro é esta habilidade do iluminado ou cristianizado se elevar sobre as limitações da vida humana e, vagarosa mas certamente, transformar o áspero Ashler no perfeito Cube.
QUARTO MISTÉRIO
O Quarto Mistério está relacionado com a quarta camada da Terra chamada de Estrato Aquoso. Lá estão refletidas as forças da esfera mental da Terra conhecida como Região do Pensamento Concreto. O Terceiro Mistério tem a ver com a superação da natureza de desejo. O próximo passo na realização é a iluminação ou espiritualização da mente. Isto envolve longos e árduos processos e necessita de muitas vidas para sua completa consumação. Para a pessoa comum, a mente é escrava da personalidade. A vida está completamente centrada no “Eu” ou naquilo que se relaciona com a vida pessoal. Quando o ser entra no Caminho, aprende a desligar a mente da personalidade gradualmente e a ligá-la com o espírito. É então que a mente se torna uma luz, uma luz que ilumina o mundo. A vida e o trabalho de tal ser traz a marca da imortalidade.
Um dos mais profundos livros da Bíblia e uma das mais belas lendas iniciáticas em toda a literatura mundial é o Livro de Jó. É a história do Grande Triunfo. Enquanto o espírito está ligado aos três amigos, o corpo físico, a natureza de desejos e a mente, a personalidade está sujeita a todas as dificuldades e limitações da vida física tais como pobreza, doença e morte.
O acontecimento supremo na vida de Jó foi o aparecimento de Elihu. Sua vinda vitoriosa representa a separação da mente da personalidade e sua união com o espírito. Essa iluminação ou cristianização da mente é a realização relatada no Quarto Mistério e descrita musicalmente na Quarta Sinfonia. Quando Jó alcança este estágio de desenvolvimento espiritual, seu corpo físico é recuperado, sua saúde se restabelece e até a vida de seus filhos é restituída. Jó é agora, nas palavras do poeta, “ o senhor de seu destino e o capitão de sua alma”.
No Quarto Mistério, as forças do Mundo do Pensamento estão refletidas na quarta camada, chamada de Estrato Aquoso. Este reino não é composto de água como pensamos deste elemento, mas é cheio de uma névoa luminosa e prateada, na qual estão refletidos os modelos arquetípicos que estão por trás de todas as coisas criadas.
O Mundo do Pensamento Concreto, conhecido como Segundo Céu, é o lar de todos estes modelos arquetípicos. É lá, entre as vidas na Terra, que o Ego passa muito tempo aprendendo como construir o arquétipo que será o modelo do seu próximo corpo terreno.
É importante notar que é no plano mental que estes modelos arquetípicos são construídos, pois isto nos dá um conceito mais claro do tremendo poder do pensamento criador. No Quarto Mistério, o candidato aprende como usar o poder construtivo e criativo do pensamento e a realização de que, por este modo, ele constrói ou destrói sua vida. Pelo poder do pensamento, ele pode degradar-se ou glorificar-se. Os movimentos metafísicos como a Ciência Cristã, Unidade e Ciência Divina estão prestando um importantíssimo serviço no mundo de hoje ao considerarem o poder do pensamento construtivo como seu ensinamento fundamental. É verdade que os pensamentos são coisas. A Bíblia expressa esta profunda verdade na citação: “ Como um homem pensa em seu coração, assim ele é”
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CAPÍTULO V
QUINTA SINFONIA - DÓ MENOR - OPUS 67
“ O espírito de Beethoven está encarnado em sua música e aquele que ouviu a Quinta Sinfonia, ouviu Beethoven” - Sir Oliver Lodge
A Quinta Sinfonia é uma canção dos Quatro Elementos - Fogo, Ar, Terra e Água. É surpreendente em sua intensidade e poder. As pessoas sensitivas que viviam nos dias de Beethoven disseram ter sido lançadas em convulsões pelas grandes marés de verdadeiro fogo cósmico.
Assim é como Wagner descreve a “gigantesca energia” do primeiro movimento desta sinfonia: “Ele (Beethoven) rouba as ondas do mar e deixa vazio o fundo do oceano que pára as nuvens em seu curso, dissipa o nevoeiro e revela o puro céu azul e a face ardente do Sol”.
Nas suas quatro partes, a sinfonia canta a canção de cada Elemento. Enquanto cada uma destas partes está separada e distinta da outra, elas estão magicamente ligadas por uma linha dourada de harmonia. Os críticos frequentemente comentam sobre a concordância rítmica dos Quatro Elementos.
O primeiro movimento (Allegro con brio) é a chave do Elemento Fogo. O segundo (Andante con moto) está relacionado com o Ar. É o mais irregular dos quatro movimentos. O terceiro (Allegro) está intimamente ligado ao primeiro, embora não se torne, de modo algum, uma repetição dele. Ele exprime um misterioso caráter tremeluzente e aquoso. Então, no Finale, é como o corpo todo da Terra que se estende em triunfo para receber, unido e integrado, este cósmico poder dos quatro elementos.
A Quinta Sinfonia foi composta no final do ano de 1807 ou no início de 1808. Tanto ela como a sua sucessora, a Sexta, foram apresentadas pela primeira vez em 22 de dezembro de 1808 em Viena.
A nota-chave espiritual da Quinta Sinfonia é Liberdade.
Das nove grandes sinfonias de Beethoven, esta é provavelmente a mais popular. Foi considerada “infalível na concepção e sem falhas na construção... um sublime e resistente monumento ao gênio incomparável e habilidade executiva de seu autor”. É música que se eleva acima do pessoal e transitório na vida; não contém nenhuma referência à cena externa e passageira, mas incorpora dos níveis cósmicos uma força moral designada para reforçar o ser interno de todos os que a ouvem. É música pura, refinada e abstrata com o objetivo de agitar a alma do homem dentro da lembrança de sua natureza divina e imortal, e aumentar seus poderes para dar um passo para cima. E isto ela realmente faz, haja reconhecimento consciente do fato ou não. Aqui está uma estrutura tonal erguida para uma “declaração cósmica”. Ela fala de modo redentor ao espírito interno do homem porque seus modelos sonoros são completamente harmoniosos com as atividades do Grande Homem do Universo e Sua reflexão no homem microcósmico da Terra.
Cada um dos quatro movimentos é por si mesmo uma brilhante criação. Considerados em conjunto, constituem um trabalho de imponente grandiosidade.
O primeiro movimento, Allegro con brio, inicia com quatro notas em uníssono que Beethoven uma vez explicou que soam como o Destino batendo à porta. O segundo movimento, Andante con moto, carrega uma nota de
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tristeza; no entanto, é maravilhosamente lindo e é realçado mais adiante por um daqueles temas marciais que só Beethoven pôde conceber.
Considerando o primeiro e o segundo movimento juntos, eles são uma verdadeira explosão de desafio da vontade que cresce mais veemente e intensa até que as forças de resistência são derrotadas. Como um comentarista expressou, os dois primeiros movimentos são a canção de um ego de forte vontade, determinado a quebrar os laços do destino e elevar-se acima de suas limitações.
Destino, deve ser acrescentado, é outro nome para a lei kármica universal de causa e efeito. Não é uma abstração fria e isolada. É um poder vivo e ativo entretecido numa fábrica de vida. Assim como um homem ou uma nação semeia, assim eles devem também colher. O homem, tanto individual como coletivamente, ressente-se desta verdade antes de estar espiritualmente acordado. Ele se recusa a aceitar o fato de que seus sofrimentos e desgraças são o resultado de seus próprios erros e más ações. A raiva, a amargura, a indiferença e a contradição que a alma desperta enfrenta estão representadas nos dois primeiros movimentos da Quinta Sinfonia.
Com o terceiro movimento, uma grande transformação ocorre. Agora, a música se torna linda e cheia de um estranho misticismo que pressagia grandes baixos e impenetráveis altos, até agora não alcançados e inexplorados. Aqui, gradual mas inevitavelmente, tão suaves e lindas como as pétalas de uma flor que se abre, o espírito é despertado mais profundamente para o verdadeiro propósito e mistério da vida. Uma nova e mais profunda realização nasce, mas, quando as leis da vida são entendidas e harmoniosamente aplicadas, vemos que não são más e sim boas.
O terceiro movimento, ou Scherzo, tem algumas passagens básicas eloquentes e suas figuras ritmico-tonais são cheias de velado mistério e pesadas com presságios escuros. Ele se insinua dentro do “orgulhoso e ardente” Finale perto da coda que é de surpreendente brilho, finalizando com um Presto.
Não há nada mais etereamente lindo em toda a música do que a transição do Scherzo para o Finale, dentro do qual esta realização nasce completamente dentro da alma que desperta ou se ilumina. É então, com uma canção de júbilo, que o espírito se liberta por toda a existência e eternidade, para não mais ficar atado à lei kármica. A música gloriosa do Scherzo e do Finale soa como a canção triunfante de alguém que alcançou a espiritualidade. Esta sublime “música de liberdade” é a divina herança de toda alma que aprende a se emancipar, passando da condição finita da vida pessoal para a condição infinita do ser eterno.
Nas palavras de Charles O’Connell, “ No sentido amplo, esta não é a expressão do pensamento ou sentimento de um homem. Esta é a declaração de uma humanidade confusa e sarcástica – e finalmente triunfante. Esta é a voz do povo, de um mundo sofredor e débil; embora contendo dentro de si os elementos da grandeza final ... certamente, a Quinta Sinfonia tem um apelo à natureza humana mais poderoso, direto e universal do que qualquer outra grande música existente”.
O Finale é de tal magnitude e riqueza que, em comparação com ele, há poucas peças musicais que possam ser tocadas sem ser completamente esmagadas.
E. Markham Lee em “The Story of the Symphony” escreve sobre a Quinta Sinfonia: “Colossal em seu poder majestoso, romântica em sua essência e titânica em suas idéias inerentes, a Sinfonia em Dó Menor levanta-se como uma das mais nobres e mais características dos trabalhos de Beethoven. Vinda no meio das suas nove sinfonias, não é como suas companheiras, e, por sua nobreza e majestade, mantém sua cabeça orgulhosa com
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uma dignidade que é bem capaz de sustentar. Beethoven começou a compô-la logo após terminar a Heroica e a mesma seriedade é óbvia”.
Esta poderosa, magnífica e ao mesmo tempo maravilhosa música descreve a gloriosa liberdade que só o espírito pode conhecer quando quebra a cadeia que o prende à personalidade e desperta para o êxtase do puro espírito. Esta sinfonia é a sublime canção da emancipação. É a interpretação musical da luta épica do homem em níveis anímicos. É uma exultante canção de triunfo na qual o ser emancipado quebra os laços do finito e passa vitoriosamente para a gloriosa liberdade do infinito.
QUINTO MISTÉRIO
O Quinto Mistério está conectado com a quinta camada ou Estrato Germinal da Terra, como é determinado na terminologia oculta. Nesta camada da Terra, está refletida a mais alta região do Mundo do Pensamento que é conhecida como Região do Pensamento Abstrato. É neste nível ou plano que a mente está ligada ao espírito.
É de conhecimento geral que a origem da vida se encontra na semente. No entanto, geralmente não é compreendido que a origem do pensamento se encontra também na semente. No Estrato Germinal ou quinta camada da Terra, estão armazenados os pensamentos gerados por toda a humanidade. Se uma pessoa pensa intensamente por um período de tempo numa idéia específica, um pensamento-forma desta natureza ficará implantado neste reino. Lá, irá germinar e dará nascimento a um fruto semelhante. Sendo estes os efeitos do poder criativo da mente, não só a pessoa que pensou irá colher os resultados dele, mas outros também serão influenciados ou afetados em vários graus de acordo com sua afinidade. Então, por exemplo, quando um poderoso indivíduo como um Alexandre, o Grande, ou um Napoleão direciona sua mente para conquistar o mundo, o resultado pode afetar outros de mente semelhante por séculos, sendo multiplicado muitas vezes. Naturalmente, a lei opera de maneira semelhante em aqueles que possuem pensamentos elevados e nobres. Os bons pensamentos gerados por São Francisco de Assis, por exemplo, não pararam de dar frutos, e assim ele continua sendo semeado em nosso mundo por um santo moderno como Mahatma Gandhi.
Quando um homem está para começar uma nova peregrinação na Terra, ele é trazido a esta quinta camada para começar a construção de seu novo veículo, pois, como o homem vive hoje, ele está construindo o amanhã. É no Quinto Mistério onde se ensina a ler o registro das vidas passadas na Terra, na Memória da Natureza, e projetar a vida futura.
Há uma linha de demarcação que separa os cinco primeiros Mistérios Menores dos quatro últimos. Através dos cinco primeiros Mistérios, o aspirante recapitula e leva à perfeição o trabalho que é dado ao noviço. Isto envolve purificação e controle da natureza de desejo e uma espiritualização que entrega a mente receptiva e obediente aos ditames do espírito mais do que sujeita às inclinações e impulsos da personalidade.
Quando se passa através dos cinco primeiros Mistérios Menores , o Cristo interno do homem é despertado e começa a governar suas ações. Quando ele passa pelos quatro finais e elevados Graus, o Cristo interno floresce completamente. De agora em diante, ele é um homem-deus que participa dos ritos sagrados iniciatórios.
A Quinta Sinfonia é geralmente conhecida como a Sinfonia da Vitória. Esta designação é mais significativa em sua interpretação espiritual. Ela significa muito mais do que uma vitória do homem sobre o homem ou de uma nação sobre outra nação, pois se refere à conquista de si mesmo. O mais sábio de todos os sábios bíblicos sabia
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bem o significado desta conquista de si mesmo quando disse: “Aquele que controla a si mesmo é maior do que o que conquista uma cidade”.
O Quinto Mistério marca um período de transição na vida do aspirante. É aqui que os últimos grilhões da vida pessoal são quebrados, de modo que o espírito pode elevar-se livre nas alturas. Este período de transição marca a fusão do temporal com o atemporal e o finito com o infinito. São Paulo descreveu esta mudança como “livrar-se do velho homem e despertar o novo”.
Em sua magnífica Quinta Sinfonia, Beethoven descreve este período de transição no qual o apelo da carne é quebrado e o poder do espírito reina supremo. Nunca se pode compreender e apreciar totalmente a tremenda força e impacto da Quinta Sinfonia até que se esteja qualificado para interpretá-la espiritualmente. Então, é que o ser se levanta em espírito sobre as praias de um vasto e encantado mar iluminado pela maravilha do mistério, sim, e com o terror, bem como a beleza, do novo e do inexplorado, enquanto acima, miríades de vozes celestiais são ouvidas cantando triunfalmente. O ser agora se levanta diante o limiar da vida eterna que o guia finalmente para uma união com o Abençoado que é a Luz do Mundo.
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CAPÍTULO VI
SEXTA SINFONIA - FÁ MAIOR - OPUS 68
Existe música no suspiro de um junco,
Existe música no alvoroçar de um riacho,
Existe música em todas as coisas, se o homem tiver ouvidos.
A Terra é somente o eco das esferas.
Lord Byron
A Sexta Sinfonia é uma das melhores peças musicais em toda classe de música absoluta. Beethoven nem uma vez transgrediu os grandes princípios da forma e do equilíbrio nesta sinfonia. O movimento de abertura é um verdadeiro retrato campestre cheio de tônicas e dominantes da alegria do verão. O aroma do riacho com seu sonolento e repetido desenho na corrente das cordas é o refrão sempre soando na Natureza. - Romaine Rolland em BEETHOVEN
Beethoven foi um grande poeta que segurou a natureza com uma das mãos e o homem com a outra. - Autor Desconhecido
A Sexta Sinfonia foi terminada em 1808 e primeiramente apresentada em Viena no mesmo ano.
Há um triângulo cósmico composto por Deus, o Homem e a Natureza. O homem é o pequeno deus no Grande Homem. Quanto mais próximo o homem entra em sintonia com Deus, mais profundamente ele penetra nos mistérios da natureza.
É bastante significativo que, para a Sexta ou Sinfonia da Natureza, Beethoven tenha escolhido o tom de Fá Maior. A Sra. Blavatsky declara na “Doutrina Secreta” que Fá é a nota-chave musical da Terra e que verde é a sua cor. Estudantes de musicoterapia estão cientes do fato de que o uso de composições musicais nesta tonalidade produzirão efeitos benéficos sobre várias formas de tensão nervosa e sobre nítidos e prolongados efeitos da insônia. Qualquer pessoa que tenha ficado cansada ou debilitada por excesso de tensão e que tenha passado apenas uma só noite numa floresta de pinheiros, respirando sua suavizante fragrância, não duvida da força curadora da natureza nem dos efeitos rejuvenecedores da cor verde, pois, na verdade, esta é a cor da vida.
Em seu livro “Essaes de Technique et d’Esthetique Musicales”, M. W’lie Poiree observa que a Sinfonia Pastoral de Beethoven que está escrita em Fá Maior tem a “cor-auditiva” correspondente à cor verde. Compreendendo como ele compreendia a profunda importância espiritual das diferentes tonalidades, Beethoven escolheu com o maior cuidado a nota-chave de cada uma das nove sinfonias.
Também deve-se notar o fato de que a nota-chave da Sexta Sinfonia está correlacionada com Virgo, o sexto signo do Zodíaco. Virgo é um signo feminino e pertence à triplicidade da Terra. Está, portanto, afinado com a Mãe Natureza. Seu símbolo é a Virgem segurando um feixe de trigo. Entre as notas-chaves espirituais de Virgo, está o Serviço por meio do Som e da Beleza. Estes atributos também caracterizaram os motivos musicais da bela Sexta de Beethoven ou, como é popularmente chamada, a Sinfonia Pastoral.
Nesta sinfonia, que é verdadeiramente “um Hino sublime à Natureza”, Beethoven procurou transcrever algo das harmonias existentes nas operações do triângulo cósmico de Deus, Natureza e Homem. Daí, ela exprimir muito mais que uma viagem através dos bosques ou uma caminhada entre cenas silvestres. Na repentina tempestade de verão, tão graficamente expressa no quarto movimento, Beethoven está descrevendo a batalha pela supremacia entre os espíritos da natureza que sempre ocorre numa tempestade. O trovão é a voz do Ar, o relâmpago, do Fogo, e a chuva, da Água, sendo a tempestade a sua luta pelo domínio sobre a Terra. Esta é uma
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magnífica visão e um som magnífico para aqueles que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir. A linda Canção no Finale é uma transcrição direta para a percepção humana da música daqueles Seres Celestiais que guiam e dirigem a vida e as atividades de toda a natureza. Como Beethoven mesmo declarou, “Nos campos, parece que eu ouço cada árvore repetindo ‘Sagrado, Sagrado, Sagrado’”.
Do segundo movimento, o Andante, chamado pelo compositor de “Uma Cena perto de um Riacho”, Vincent d´Indy diz: “É a mais admirável expressão da natureza genuína em existência”, acrescentando que “só há algumas poucas passagens em Siegfried e em Parsifal de Wagner que podem ser comparadas com ela”. A propósito da comparação aqui feita, pode ser lembrado que Wagner, em seu trabalho, procurou combinar em seus dramas musicais o que Beethoven procurou expressar em suas sinfonias, e Shakespeare em seus dramas. Pode ser que Wagner, em suas passagens sobre a natureza, tenha se inspirado na Sinfonia Pastoral de Beethoven.
Ainda citando Vincent d´Indy em seu comentário sobre o segundo movimento: “Enquanto o fluxo do riacho proporciona base para todo o segundo movimento, melodias adoráveis brotam expressivamente e o tema feminino do allegro inicial emerge de novo sozinho, como se estivesse inquieto com a falta de seu companheiro. Cada seção do movimento é completada pela entrada de um tema de algumas notas, puras como uma prece. É o artista que fala, que reza, que ama e que se delicia em coroar as partes de seu trabalho com um tipo de aleluia. Este tema expressivo termina as exposições sobre os passos do desenvolvimento, no meio dos quais as tonalidades obscuras provocam uma sombra por cima da terra. Então, seguindo os episódios leves do canto dos pássaros, o tema e repetido três vezes, para concluir com uma afirmação comovente”.
A mensagem desta sinfonia, como Beethoven disse, é “Uma aproximação ao conhecimento de Deus através da Natureza”.
Um escritor definiu admiravelmente a fé de Beethoven que era cósmica e não cega, dizendo: “A Natureza era a Divindade para Beethoven; dela, ele tinha aprendido a aceitar todos os fenômenos como reflexões da mente de Deus. Ele se sentia um ser escolhido de revelação sobrenatural, um herói, um salvador que tinha sofrido e, elevando-se, tinha sentido a vida divina dentro dele... À doutrina da Natureza em Deus e Deus na Natureza, de Deus iminente no universo, ele acrescentou uma mística compreensão de Deus como habitando em um simples indivíduo artístico e criativo”.
Há uma grande sinfonia soando para sempre através da natureza, uma rara sinfonia de harmonia e beleza que é inaudível para os ouvidos humanos e invisível para os olhos humanos até que se tenha elevado a consciência ao ponto onde ela possa se comunicar com os poderes que funcionam no lado interno da vida. O som do vento nas árvores, o estrondo da tempestade, o tamborilar da chuva, o melancólico chamado do cuco e o terno som da canção do rouxinol que são tão graficamente transcritos nesta sinfonia, não são mais do que um aspecto da beleza e da harmonia da natureza. Em sons musicais refinados e etéreos, o compositor transmite a música rarefeita do brotar da tenra grama, o desdobrar das pétalas das flores, o movimento das novas forças vitais nas folhas que brotam, no movimento rítmico dos espíritos do ar e no canto alegre de seres angelicais - todas estas coisas delicadas e intangíveis que pertencem ao lado oculto da natureza, Beethoven expressou no segundo e terceiro movimentos com tal delicadeza e beleza que suas maiores interpretações provavelmente não conseguiram descrever.
Beethoven era um filósofo musical profundo que possuiu não só a faculdade de perceber o lado vital da natureza, mas também teve o incomparável dom de transcrever algo da linguagem espiritual para que todos a ouvissem. Todos, no entanto, não desenvolveram a sensibilidade para perceber os tons superiores espirituais que ele foi capaz de colocar dentro de suas composições divinamente inspiradas. Mas eles estão lá esperando
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reconhecimento, enquanto a humanidade se eleva suficientemente em consciência para acompanhar o compositor aos planos dos quais ele retirou sua sublime inspiração. Nesse meio tempo, aqueles que não são ainda capazes de compartilhar completamente em tudo o que o compositor experimentou na criação de seus trabalhos imortais são, no entanto, beneficiários do que eles realmente ouvem num maior sentido vital do que geralmente é reconhecido.
A música origina-se no mundo celeste e, se o homem está ciente do fato ou não, ela serve para preservar nele, embora de maneira muito tênue, alguma recordação das esferas divinas das quais ele veio e para as quais ele está destinado a voltar. Torna-se um fator importante prevenir o homem de cair no esquecimento de seu verdadeiro lar.
E assim, ouvindo a Sinfonia Pastoral de Beethoven, o espírito do homem é realmente colocado em contato com mais do que impressões de natureza externa qualquer que possa ser o grau de sua percepção consciente do que é então conectado. Lá está; ela colide com seus veículos mais sutis e deixa uma impressão que é refinadora, sensibilizadora, construtiva e redentora.
Portanto, não é somente música da natureza, como este termo é geralmente compreendido, que Beethoven deu ao mundo em sua Pastoral. Não é uma tentativa de descrever programaticamente cenas físicas e efeitos atmosféricos. Para aqueles que podem perceber as nuances espirituais desta criação sinfônica, melodias alegres de pássaros transportam comunicações angélicas, águas correntes carregam uma paz interior, os campos abertos expandem os horizontes, enquanto florestas são transformadas em grandes catedrais e montanhas em elevadas cidadelas de Deus.
SEXTO MISTÉRIO
A nota-chave espiritual da Sexta Sinfonia é Unidade. Seis é um número que expressa luz, amor e beleza. Estes são os ...moods... musicais prevalecentes da Sexta Sinfonia.
A Sexta Sinfonia está relacionada com a sexta camada da Terra. É o Estrato Ígneo. Nesta conexão, não temos que considerar o fogo no sentido literal, pois esta sexta camada é luminosa. O ocultista entende a diferença entre Fogo e Chama. Fogo é uma força espiritual e Chama é o aspecto material daquela força. Moisés esteve diante da sarça ardente que não era consumida, o que significa que ele esteve na presença do ser espiritual da Luz que queimava, mas não se consumia.
Esta sexta camada da Terra reflete as forças espirituais daquele plano elevado que é conhecido metafisicamente como o Mundo da Consciência Crística. É o plano no qual todo o sentido de separatividade foi transcendido e a verdadeira universalidade de toda a vida é realizada. Aqui, a unidade completa prevalece. Se, em obediência à admoestação de São João, nós andamos na luz como Ele está na luz, teremos fraternidade entre todos. Este é o efeito da música da Sexta Sinfonia que podemos supor que foi escrita sob a inspiração da sublime visão da inclusiva e harmoniosa fraternidade. Existente neste plano espiritual elevado.
Beethoven estava sempre nutrindo em seu coração o ideal da fraternidade humana. Era profundo e intenso; isso tocava o incomum e o cósmico. Na Sexta Sinfonia, estão projetadas estas qualidades com relação à Natureza, a exteriorização de Deus no qual o homem vive, se move e tem seu ser. É sobre este mesmo ideal de fraternidade que ele leva o ouvinte nas asas do êxtase para os altos planos da glória no Finale da sua Nona poderosa. É só quando este estado de consciência está desenvolvido que as glórias internas da Natureza podem ser reveladas e o sublime trabalho do Sexto Mistério pode ser empreendido com sucesso.
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Como foi dito anteriormente, depois da quinta Iniciação, o trabalho se torna tão elevado que pouco pode ser dito sobre ele. Para interpretar algo sobre o Sexto Mistério, Beethoven invocou o espírito da Natureza. Ao estudar a natureza com reverência e devoção cada vez mais crescentes, mais seus sublimes mistérios são revelados ao homem, e mais próximo ele se afina com Deus. Um sábio mestre advertiu os aspirantes que procuram entrar nos profundos mistérios da vida dizendo que eles “estudassem a natureza , pois ela contém a marca da divindade”.
Beethoven considerava esta admoestação. É como ele expressou sua fé na sabedoria a ser aprendida, um texto que ele copiou de forma a tê-lo sempre com ele e também diante dele. Assim: “O ser pode corretamente denominar a Natureza de escola do coração; ela nos mostra claramente nossos deveres para com Deus e nosso vizinho. Portanto, eu desejo me tornar um discípulo desta escola e oferecer a Ele o meu coração. Desejoso de instrução, eu tentaria obter aquela sabedoria que nenhuma desilusão pode rebater; eu ganharia um conhecimento de Deus e através este conhecimento, eu obteria um antegozo da felicidade celestial”.
O Sexto Mistério está relacionado com a Iniciação do Fogo. O segredo da vida está conectado com o fogo e é neste Sexto Mistério que a pessoa chega diante desta poderosa verdade. Aqui, ela aprende a distinguir a chama do fogo. A chama é reconhecida pelos cinco sentidos físicos, enquanto o espírito do fogo é percebido só através das faculdades espirituais. Aquele que conhece os segredos da Iniciação do Fogo pode passar sem se queimar através da chama. Vários exemplos disto estão registrados no mais profundo dos livros ocultos, a Bíblia. Tal é a trasladação de Elias para o céu numa carruagem de fogo, a passagem dos três homens sagrados através do fogo como está escrito no Livro de Daniel e as línguas de fogo que estão colocadas nas cabeças dos Discípulos em Pentecostes. Estas são todas descrições dos vários estágios ou aspectos da Iniciação pelo Fogo, e todas relatam em certo grau o Sexto Mistério.
Os ciclos de encarnação através dos quais o espírito individualizado tem que passar é o processo pelo qual as potencialidades divinas são despertadas e desenvolvidas em chama vivente. Esta é a luz a que São João se referiu quando disse: “Se nós andamos na luz como Ele está na luz, teremos fraternidade uns com os outros” . É só quando o homem desperta esta luz em si mesmo que ele pode conhecer o verdadeiro significado da fraternidade. A humanidade não pode oferecer ao Criador maior presente do que aquele de manifestar uma fraternidade universal e um mundo unido.
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CAPÍTULO VII
SÉTIMA SINFONIA - LÁ MAIOR - OPUS 92
Beethoven compôs a Sétima das Nove Sinfonias em toda a exuberância de sua maturidade criativa, e cada um dos seus quatro movimentos transbordam a ardente essência de sua inspiração. O ouvinte é dominado pela abundância de sua beleza. Nesta sinfonia, você sente o gênio de Beethoven como algo inesgotável, glorificado em sua própria força titânica, como se fosse uma divindade ignorando sua casta, orgulhoso de seu conhecimento de força invencível, liberto, despreocupado, salvo quando o Allegretto admite uma divina melancolia. – Pitts Sanborn
A primeira apresentação desta sinfonia foi em Viena, em 8 de dezembro de 1813, fazendo assim um intervalo de cinco anos entre a Sexta e a Sétima. Durante este período, Beethoven esteve aprofundando sua consciência espiritual e captando uma afinação mais próxima às forças da música celestial. O que ele produziu na Sétima oferece ampla evidência da verdade que a avaliação do Sr. Sanborn fez acima.
A nota-chave espiritual da Sétima Sinfonia é Exaltação. Sete marca a conclusão de um ciclo em termos de duração de tempo. A trindade do espírito se eleva triunfante sobre o quatro da matéria. O espiritual se torna agora primário e o material, secundário. É este triunfo do Espírito que é o glorioso tema da Sétima. Tanto Richard Wagner como Franz Liszt olharam a sinfonia como a “apoteose da dança”. O mais profundo espírito da dança representa ritmicamente a ascensão no caminho da Iniciação que termina em divina harmonia com a Eterna Luz. Do ponto de vista da interpretação, a Sétima Sinfonia é verdadeiramente uma Apoteose da Dança.
Wagner identificou esta Sinfonia com a dança em sua mais alta expressão como a realização do corpo em forma ideal. Ninguém melhor que ele sabia que a dança teve sua origem nos movimentos das esferas planetárias e que a missão de Beethoven era recapturar algo destas harmonias estelares.
No primeiro movimento (Poco sostenuto, vivace), acordes exultantes e dominantes repetem esta canção triunfante acompanhada do inebriante ritmo do tema principal. Esta introdução desdobra os temas que se seguem numa sucessão de escalas ascendentes que foram descritas como escadas gigantes. Beethoven aqui está afinando os ouvidos humanos com os ritmos planetários. Ele traz à Terra insinuações da música das esferas pelas quais os sistemas solares são impelidos em seus movimentos? Assim, sua música se torna uma escada que vai até as estrelas. Ele carrega o ouvinte para as grandes alturas e profundezas, transcendendo a pequena e limitada esfera na qual o homem mortal se move em seu estado sem inspiração.
No segundo movimento (Allegretto), um tom de solenidade é introduzido. Ele passa de Lá Maior para Lá menor, já que é mais fácil recapturar os ecos da música celestial em tons menores. É como se o espírito estivesse estupefato na realização da responsabilidade que vem com tal consecução. Este tom solene e misterioso persiste por todo o movimento. Foi comparado a uma procissão através das catacumbas.
O terceiro movimento (Presto, presto meno assai) toca uma nota ainda mais exultante do que a que foi ouvida no primeiro movimento. Ritmos alegres e emocionantes são introduzidos pelas cordas com uma resposta alegre dos instrumentos de sopro. Há arpejos dançantes e um espírito de scherzo nele todo.
O Finale (Allegro com brio) é colossal e magnífico. É como se o Céu e a Terra se juntassem num poderoso coro de majestade e poder. É a voz do espírito extaticamente proclamando: “ Estou livre, estou livre, para sempre e para toda a eternidade. Estou livre”.
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Este espírito de exultante liberdade naturalmente trouxe à expressão a companhia da arte da dança. Wagner, que anteriormente se referiu à essa conexão, sentiu que não havia nada tão torpe e surdo que pudesse resistir à fórmula mágica; os galhos, as latas e as xícaras, o cego e o aleijado, etc., cairiam na dança.
A celebrada Isadora Duncan dançou todos os movimentos desta Sinfonia, exceto o primeiro, no Metropolitan Opera House em Nova York em 1908, e o Ballet Russo de Monte Carlo também transcreveu o trabalho todo em poesia do movimento. A coreografia que a sinfonia evoca tem um caráter mais etéreo e espiritual do que físico; isto foi declarado por um comentarista que pensou nela expressando uma dança cerimonial que deve ter sido realizada pelos coribantes, os sacerdotes de Cibele em volta do berço do infante Zeus.
UMA VISÃO DO CAMINHO
Um viajante se aproxima de uma enorme e elevada montanha, cujo topo coberto de neve brilha à luz do Sol como uma coroa de diamantes. A subida desta montanha é íngreme e perigosa, o caminho estreito e escarpado.
Frequentemente, o viajante perde seu passo e cai de bruços no chão, mas sempre a silenciosa Voz interior firmemente o impele “Para frente e para cima para sempre”. Às vezes ele toma o caminho errado e tem que retroceder pelo longo e estreito caminho, mas sempre a Voz interior, gentil, mas insistente, é ouvida dizendo: “Você nunca falhará enquanto persistir, pois a única falha está em parar de tentar”. Outra vez, o caminho leva através de escuras e estreitas fendas onde o Sol está longe da vista. É então que em sua visão mental ele pode ver o pico coberto de neve acima. O topo está rodeado por grandes conjuntos de rochas perpendiculares, escondendo toda a visão do caminho. Para concluir a subida, o viajante tem que possuir muita coragem, persistência e uma vontade que é dominada pelo espírito.
Finalmente, o topo é alcançado e oh! a maravilhosa glória da vista! Lá em baixo, ao longe, estão as planícies e os vales rodeados por montes humildemente entremeados por cintilantes riachos. Há também grandes cidades nas quais a humanidade se ocupa com sua rotina diária, a maioria estando tão ocupada e tão descuidada para levantar seus olhos e pegar a inspiração dos lindos picos brancos lá em cima.
Quando o viajante eleva seus olhos, ele se enche de espanto, pois o topo no qual ele está, o qual ele pensou estar tão alto e ser o final, está diminuído por montanhas mais altas cujos picos estão completamente longe da vista no imenso azul. As palavras do poeta místico Kalil Gibran vêm à mente com um novo significado: “Quando você chega ao topo da montanha, então é que você começará a subir”.
É então que o viajante grita: “O que está além dos majestosos picos cujas alturas se perdem nos céus?” E a Voz, em alegre exaltação, responde: “Infinito”. “E o que está além do Infinito?” Como uma bênção vinda de lugares distantes, em sons de doçura sobrenatural, a Voz responde: “Um Infinito de Infinitos”.
Esta é a canção de alma da Sétima Sinfonia de Beethoven, o espírito triunfante e exultante cantando “Sempre para frente e para cima, pois o Caminho da Verdade não tem fim e a Busca é Eterna”.
SÉTIMO MISTÉRIO
O Sétimo Mistério está conectado com o sétimo estrato da Terra conhecido como Estrato Refletor. Este estrato está correlacionado com o Mundo do Espírito Divino e está permeado com o poder espiritual deste mundo celestial.
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Fiel ao seu nome descritivo, o estrato refletor na Terra reage exatamente à natureza dos pensamentos e desejos do homem que podem ser construtivos ou destrutivos, pois, sob a lei kármica de causa e efeito, tanto os homens como as nações colhem como semeiam. Assim age a Lei Divina ao operar no Mundo do Espírito Divino que é a contraparte superior do Estrato Refletor da Terra.
A história oculta registra a submersão do Continente Atlante e a destruição de sua adiantada civilização devido à muito difundida prática da magia negra. Nos tempos históricos, lemos sobre a queda da Babilônia, uma das mais famosas e bonitas cidades da Terra, seus jardins suspensos tendo sido classificados entre as Sete Maravilhas do Mundo. Em Pompéia, os arqueologistas descobriram evidências do descuido moral e depravação que existia entre os habitantes, que agiam através das forças localizadas no Estrato Refletor da Terra, no desastre natural que enterrou a cidade sob lava e cinzas. Também, na Bíblia, lemos a destruição de Sodoma e Gomorra devido às maldades desenfreadas nestas cidades.
O homem é um ser sétuplo. O tríplice espírito está conectado com o tríplice corpo pelo elo da mente. O propósito principal das peregrinações dele na Terra é capacitar o tríplice espírito a trabalhar sobre o tríplice corpo para refinar, sensibilizar e espiritualizar estes corpos mais inferiores e transmutá-los em poderes anímicos.
Antes que esteja pronto para passar através do portal que se dirige ao Sétimo Mistério, grande parte desse trabalho tem necessariamente que estar realizado. Na sétima ou camada refletora da Terra estão guardados os chamados sete grandes segredos da Natureza. Estes segredos estão conectados com os quatro elementos - Fogo, Ar, Água e Terra. Neste grau, aprendem-se os muitos e variados modos nos quais estes elementos são transmutados com resultados que capacitam o controle das muitas Leis da Natureza. O Sétimo Mistério é o Grau da Divina Sublimação. Quando se passa por este Grau, o poder alcançado torna possível a jornada dentro dos lugares mais profundos da Terra e nas alturas do espaço interplanetário.
O Iniciado do Sétimo Mistério é ensinado a investigar e compreender mais profundamente algo dos quatro poderes conhecidos como Fogo, Ar, Água e Terra. Estes poderes operam sob a direção dos altos seres celestiais. Muito pouco pode ser dito abertamente com relação a este trabalho, exceto que, sob o poder do Fogo e do Ar, novos e maiores segredos são ensinados com relação à transmutação e, sob o poder da Água e da Terra, são ensinados os mais profundos significados relativos ao equilíbrio e à polaridade.
Nesta elevada esfera para onde o Iniciado é trazido e colocado face a face com as verdades pertencentes ao Sétimo Mistério, ele se torna um verdadeiro trabalhador milagroso. Ele aprende o que é passar sem se molestar através do fogo e da água, a dominar a lei da gravidade e a trabalhar em harmonia com a lei da levitação. Ele agora é um verdadeiro mago branco, havendo aprendido a transformar os metais em ouro. Ele ganhou a liberdade da limitação que este planeta impõe a ele. É algo deste maravilhoso Espírito de Liberdade que é descrito na gloriosa e inesquecível música da Sétima Sinfonia.
Tal é a magia exercida pela música da Sétima Sinfonia de Beethoven, que o comentarista Philip Hale fez a seguinte observação: “Toda vez que a música é tocada, toda vez que ela entra na mente, ela desperta novos pensamentos e cada um sonha seus próprios sonhos”.
Há tal poder místico impregnado nesta sinfonia que ela tem a magia de despertar na alma de um aspirante a visão dos passos que guiam progressivamente na escada ascendente da realização. Mais do que isso, ela realmente irradia energias tonais que emprestam uma força para a alma no caminho da Iniciação, para seguir os passos até que a busca seja finalmente consumada nas glórias celestiais do Reino Celeste.
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CAPÍTULO VIII
OITAVA SINFONIA - FÁ MAIOR - OPUS 93
Nunca a arte ofereceu ao mundo algo tão sereno como as Sinfonias em Lá e em Fá Maior e todos aqueles trabalhos tão intimamente relacionados a elas que o mestre produziu durante o período divino de sua surdez. O seu primeiro efeito sobre um ouvinte é colocá-lo livre de um sentimento de culpa, enquanto dá nascimento a um sentimento de paraíso perdido ao retornar ao mundo dos fenômenos. Deste modo, estes maravilhosos trabalhos preconizam arrependimento e reparação no sentido da divina revelação.
Nesta sinfonia, há pensamentos musicais intensos, há passagens que, por um momento, soam as profundezas e alcançam as alturas... Sem a grandiosidade da Quinta Sinfonia ou o romance da Sétima, ela contém um final perfeito e um rico estoque de bom humor. - Romaine Rolland
A Oitava Sinfonia teve sua primeira apresentação em Viena, em 20 de abril de 1813. Sua nota-chave espiritual é Harmonia.
Os antigos declararam que o número oito contém a marca da divindade e isto é o que a Oitava Sinfonia representa. Berlioz declara que o modelo desta sinfonia foi formulado no céu e caiu dentro do cérebro do compositor. Um crítico de arte, escrevendo sobre esta sinfonia, diz que ela é um brinquedo divino na região do pensamento tonal. Mais adiante, ele diz que a Sétima é uma arte épica ao máximo, então a Oitava Sinfonia é arte lírica em sua plenitude. A Oitava tem sido chamada de “um épico de humor”. Suas quatro divisões são permeadas com um sopro de alegria e transbordam em excêntrico humor. Um leve e caprichoso espírito de felicidade se difunde completamente. É deliciosa em sua totalidade. Dizem que Beethoven olhava-a com ternura e se referia a ela como sua “pequenina”. Talvez fosse por causa de seu espírito despreocupado e também porque é a menor das nove.
As duas primeiras partes estão cheias de alegria e suas harmonias extasiantes continuam a tecer e a entretecer através de toda a terceira parte. Ao invés do usual Scherzo, este terceiro movimento é um lindo e majestoso minueto. Embora delicadamente caprichoso, ele, ao mesmo tempo, toca uma nota mais grave. Foi comparado por alguns escritores a uma exultante risada. E é verdade. Ele soa uma gargalhada triunfante de uma alma emancipada que encontrou sua própria herança divina de imortalidade consciente e a divina bem-aventurança da liberdade cósmica. Como Pitts Sanborn diz “não é o riso de regozijo infantil ou de frivolidade desesperante e imprudente”. Pelo contrário, é o “ vasto e interminável riso de que Shelley fala em Prometheus Unbound. É o riso de um homem que amou e sofreu e, escalando as alturas, alcançou o cume. Só uma ou outra nota de rebeldia se intromete momentaneamente; e, às vezes, em repouso lírico... uma intimidação da Divindade mais do que o ouvido descobre”.
O Finale sobe a alturas ilimitadas em ritmo e fantasia. Irregularidades repentinas e ritmos interrompidos servem para criar uma atmosfera de mistificação deliberada. É fantasia altamente carregada designada para levar o ouvinte além dos estreitos confins da mente concreta.
A Oitava Sinfonia é, no entanto, uma outra composição que o grande gênio criativo de Beethoven deu ao homem para ajudá-lo em seus objetivos espirituais, que era seu verdadeiro destino perseguir e cumprir.
Erwin Grove, em seu trabalho “Beethoven´s Nine Immortals” descreve o poder de Beethoven de abstrair-se do mundo externo e viver num mundo de sonho dele próprio. Seu ideal, como o de todos os grandes heróis, teve pouco interesse no mundo e nas poucas pessoas em volta dele. Ele foi um pico de uma montanha solitária e elevada que olhava para os vales. Seus olhos testemunhavam um solitário homem espiritualmente faminto. Seu idealismo sobrepassava seu julgamento. Era difícil para ele aceitar coisas realmente diferentes das que ele
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idealizava. Nos seus últimos anos ele mergulhou em profunda ternura e doce melancolia, resultando no que ele denominou sua “tendência feminina”.
Beethoven foi um instrumento usado pelo Espírito da Música para se realizar mais do que um homem que meramente compôs música. Em sua música, sempre criando novos mundos, seu grande gênio foi mostrado em seus movimentos rápidos, pois eles refletem os ritmos das órbitas celestes que se movem com mais velocidade que a luz.
Gustav Nottebohn, em seus Sketches of Eroica, observa que Beethoven alcançou um tipo de melodia que alguns chamaram de absoluta e, compondo seus últimos trabalhos, ele ficava verdadeiramente “possuído”. Sua Mente Superior assumiu a direção. Então, não trabalhou do pormenor para o todo, mas começou do todo para o pormenor. Sob um estado subconsciente, uma composição era como um todo antes que ele começasse a pensar nos detalhes. Um poeta expressou esta mesma verdade nas palavras: “Você não teria me procurado a menos que já tivesse me encontrado”.
Referimo-nos repetidamente às Nove Sinfonias como música cósmica. Quando Beethoven as escreveu, elas eram obviamente para demonstrar musicalmente as verdades fundamentais da Polaridade. As sinfonias ímpares possuem a grandiosidade, a rapidez, a ousadia, a coragem, a inovação e todas as qualidades masculinas dominantes. As de números pares são doces, ternas, dóceis, calmas, características do feminino.
A Quinta em Dó Menor teria seguido a Terceira, ou a Heróica. Beethoven colocou em prática esboços como elas originalmente chegaram a ele, de acordo com seus biógrafos. Algo em sua natureza antecipou isto até que a mais gentil sinfonia em Si Maior, a Quarta, inseriu-se num modelo divino que a colocou imediatamente depois da poderosa Terceira. Então, seguindo a Épica Quinta, segue-se a Sexta ou Sinfonia Pastoral como um companheiro contemplativo.
Outra vez, após um espaço de quatro anos, Beethoven produziu outro par de afinidades complementares: a Sétima, de força masculina, e a Oitava, de atributos femininos, as duas produzidas em 1862 em sequência.
Finalmente, quase dez anos mais tarde, apareceu a magnífica mistura de opostos, que tinham se alternado nas precedentes oito sinfonias e culminou na grandiosidade da Nona.
OITAVO MISTÉRIO
O Oitavo Mistério está relacionado com a oitava camada da Terra conhecida como Estrato Atômico. O poder deste Mistério é tal que um objeto situado nesta camada, quando usado como um núcleo, pode ser multiplicado à vontade. Era o poder deste oitavo mistério que o Senhor estava demonstrando aos discípulos quando multiplicou os cinco pães e os dois peixes e alimentou cinco mil - com doze cestas cheias de sobra.
Muito pode ser dito sobre este Mistério, excetuando que o participante tem que ter conquistado domínio sobre si mesmo e sobre o mundo material. Uma harmonia básica é um requisito para a entrada neste elevado Rito. As essências da experiência adquiridas através dos mistérios que precederam são aqui transformadas em poder anímico de tal força que uma tão esperada harmonia se torna a nota-chave da vida. O ser nunca mais explodirá numa experiência emocional, nem será indevidamente sacudido por eventos dolorosos ou agradáveis. Ele achou
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agora para sempre aquela profunda e intensa calma e paz à qual São Paulo se referiu quando disse que de fato nenhuma das coisas do mundo exterior o comoviam.
A esfera celestial chamada no ocultismo de Mundo dos Espíritos Virginais está refletida na oitava camada da Terra. É neste nível de vida que Deus diferencia dentro d´Ele as entidades que constituem uma onda de vida evolutiva. É deste plano que estes seres divinos em embrião entram em sua jornada evolutiva eterna através do tempo, espaço e matéria. Neste estágio, os Espíritos Virginais possuem só consciência divina. O fim a ser atingido através de sua involução dentro da matéria é a auto-consciência, quando o processo evolutivo o leva de volta à consciência Divina.
No Oitavo Mistério, o Iniciado é levado para muito além do mundo humano. As palavras são inadequadas para descreverem as maravilhas e as glórias daquele mundo espiritual no qual ele é permitido entrar. A sublime música da Oitava Sinfonia transcreve algumas das maravilhas daquele mundo.
Toda alma iluminada canta sua própria canção de realização. Esta canção é às vezes uma expressão de aspiração, busca, agonia, desilusão e mesmo de completa escuridão. Então, como a agonia continua, segue-se uma nova, fresca e sempre profunda dedicação, que culmina eventualmente numa vitória de completa conquista de si próprio. Esta foi a canção de alma que Moisés cantou na vitória do Mar Vermelho, uma vitória que se referiu não tanto a uma ocorrência física, mas a uma transmutação perfeita em seu interior. Outras canções de alma de tal alcance são o imortal Salmo de Davi e a melhor de todas as canções de amor, o 13º capítulo da 1ª Epístola aos Coríntios. Também a Canção do Cisne de Lohengrin naquele magnífico drama musical que leva o seu nome.
É esta mesma Canção de Realização que é ouvida na Oitava Sinfonia de Beethoven composta não em palavras, mas na linguagem tonal trazida inspiradamente do mundo celeste do som. O Finale desta sinfonia ressoa toda a profunda alegria do Ser Emancipado. É a Canção de Alma daquele que aprendeu, por sua divindade inata, a reivindicar sua herança que é a Liberdade Cósmica. Esta é a nota-chave do Oitavo Mistério e o elevado tema musical da Oitava Sinfonia.
O elevado trabalho deste Oitavo Mistério está exemplificado na música desta Sinfonia que é tão suave, linda e cheia de tal corrente de força que parece cantar a habilidade de acalmar a violenta tempestade ou de remover montanhas de seus lugares. A música da Oitava Sinfonia é a expressão do Feminino altamente aperfeiçoado, aquele poder espiritual que o alquimista descreveu como o Feminino em Exaltação.
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CAPÍTULO IX
NONA SINFONIA - RÉ MENOR - OPUS 125
(Com Coro Final “Ode à Alegria” – poema de Schiller)
A música é a entrada não corpórea no mundo superior do conhecimento que abrange a humanidade, mas que a humanidade não pode compreender. Por sua transparente beleza de idéia, há pouco no mundo da música que possa se aproximar desta obra prima em beleza melódica. Suas idéias são tão ricas em variedade, tão delicadas em orquestração e também tão profundamente simpáticas, que deve ser um ouvinte endurecido de fato aquele que escuta este movimento sem alguma percepção de uma visão dos céus se abrindo e um olhar distante no mundo além deste. Aqui, temos Beethoven como um expoente do sublime ... Ninguém pode negar que aqui está uma obra prima inigualável na tremenda vastidão de sua concepção e inigualável por sua originalidade, poder e belezas prodigamente espalhadas. - Autor desconhecido
Mais de dez anos se passaram depois da performance inicial da Oitava Sinfonia antes que Beethoven trouxesse à luz sua sucessora, a Nona e última, em 7 de maio de 1824. Durante este intervalo, houve evidentemente uma profunda preparação em seu interior para poder criar o glorioso clímax que é a Nona Sinfonia.
Quando os Senhores do Destino procuram um mensageiro cuja missão beneficiará o mundo e elevará a humanidade, muito tempo e cuidado são dedicados à sua escolha. Precauções especiais são tomadas para que o escolhido não se transforme em uma presa das seduções do mundo material. Beethoven foi um mensageiro escolhido. Ele nasceu na pobreza e se criou sob as mais adversas circunstâncias. Todos os anos de sua vida foram cheios de solidão, desapontamento e desilusão com as coisas do mundo exterior.
Um mensageiro assim escolhido para uma grande missão no mundo raramente conhece as alegrias do companheirismo humano, que é privilégio da maioria dos mortais. Ele tem necessariamente que viver uma vida mais ou menos isolada. Muito tempo tem que ser gasto sozinho para que possa alcançar aquelas alturas inspiradas que o capacitará a tornar-se um canal claro e livre para seu objetivo.
No funeral de Beethoven foi dito: “ele não tinha esposa para chorar por ele, filho, filha - mas o mundo todo lamenta junto ao seu ataúde”. A vida de uma pessoa como ele não está centrada em um, mas em muitos. Então, quando Beethoven chegou ao apogeu da vida, chegou para ele, de acordo com a compreensão humana, a maior desgraça que pode acontecer a um músico - a perda da audição. No entanto, do ponto de vista espiritual, isto foi talvez sua maior bênção. Ele era um mensageiro da gloriosa música celestial das Hierarquias Criadoras. Esta música é tão sublime e etérea que os sons dissonantes e desarmônicos da Terra não podiam obstruir e prejudicar sua pureza e beleza. E assim, quando Beethoven perdeu sua audição física, ele se tornou cada vez mais sensível às harmonias dos planos internos e, por isso, um transmissor mais perfeito para esta música celeste. Muito embora o espírito possa estar ciente de seu alto destino, enquanto ele está confinado dentro do corpo humano, terá que lutar com as limitações de seu instrumento mortal. E assim, havia momentos em que Beethoven dava espaço à melancolia e desespero, às vezes voltando-se contra o Destino.
O verdadeiro propósito do sofrimento é servir de agente purificador e redentor. No livro “Luz no Caminho” que é um dos manuais mais iluminados e espirituais já escritos, lê-se que “antes que os olhos possam ver, eles devem ter perdido seu senso de separatividade e que, antes que os ouvidos possam ouvir, eles devem ter perdido sua sensibilidade e, antes que os pés possam estar na presença dos Mestres, eles devem ser lavados no sangue do coração”.
Como Edward Carpenter escreve sobre Beethoven em seu livro Angel´s Wings, “Embora sua vida exterior, pela surdez, doença, preocupações financeiras e pobreza, fosse despedaçada em mil miseráveis fragmentos, em seu
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grande coração ele abraçou toda a humanidade; penetrou intelectualmente em todas as falsidades até atingir a verdade e, em seu trabalho artístico, deu um esboço aos religiosos, aos humanos, aos democráticos, aos amores, ao companheirismo, às individualidades ousadas e a todos os altos e baixos do sentimento, o esboço de uma nova era da sociedade. Ele foi de fato e deu expressão a um novo tipo de homem. O que esta luta deve ter sido entre suas condições internas e externas - de seu eu real com os solitários e pobres arredores nos quais estava encarnado - nós só sabemos através de sua música. Quando nós a ouvimos, compreendemos a tradição antiga de que, de vez em quando, uma criatura divina dos céus distantes toma uma forma mortal e sofre para que isto possa abraçar e redimir a humanidade”.
A nota-chave espiritual da Nona Sinfonia é Consumação. Nove é o mais importante número relacionado com o presente estágio de evolução da humanidade. É o número da humanidade. É também o número da Iniciação, aquele reto e estreito caminho pelo qual o homem retorna à união com Deus.
Notou-se previamente que as sinfonias de Beethoven retratam uma variedade de experiências. Estas experiências são recapituladas nos passos sempre ascendentes ao caminho espiritual da realização, cada repetição proporcionando força aumentada e glória de desdobramento de alma, até a consumação alcançada na divina unidade tão magnificamente interpretada pela Nona.
Como foi dito anteriormente, as sinfonias ímpares corporificam os atributos masculinos e as pares, os femininos, enquanto que a última, ou a Nona, os dois atributos são trazidos em perfeito equilíbrio, um estado de unidade que, em linguagem esotérica, é chamada de Matrimônio Místico. Esta união marca o supremo alcance do homem sobre as coisas terrenas. Beethoven captou o lindo coro do Querubim na glória da Nona para que os ouvidos humanos pudessem sentir a poderosa efusão de seu poder espiritual.
O escritor John Maglee Burk, em seu livro “Life and Works of Beethoven”, se refere a estes ecos celestiais como “murmúrios misteriosos”; então, é como se os murmúrios do mundo celestial que Beethoven interiormente percebia tornaram-se cada vez mais claros e mais fortes enquanto o tema inicial se desenvolvia, há “um crescendo de suspense até que o tema em si é revelado... e proclamado fortíssimo pela orquestra toda em uníssono. Ninguém ”, ele acrescenta, “igualou este poderoso efeito – nem mesmo Wagner que teve por esta página em particular uma mística admiração e que, sem dúvida, lembrou-a quando descreveu a serenidade elementar do Reno de maneira muito parecida na abertura de O Anel dos Nibelungos”.
“A Nona Sinfonia”, escreve Ralph Hill em seu trabalho intitulado The Symphony, é comparável aos vigorosos trabalhos como a Heroica e a Quinta sinfonia, num plano psicológico tonalmente diferente que levanta questões mais amplas do que nas composições sinfônicas anteriores de Beethoven. Cada um de seus movimentos é incomparável em poder construtivo e na extensão e magnitude de suas idéias musicais. A abertura é de um mistério e intensidade. De uma região na qual tudo parece nebuloso e mal definido.. .emerge o primeiro tênue prenúncio de um tema que é presentemente atirado violentamente com a força dos raios de Júpiter. Esta abertura portentosa é em seguida reformulada... e o tema todo é transferido, ainda fortíssimo, para o tom de Si Bemol. Por enquanto, é a terminação deste tema gigante que temos e este, em sequências que se elevam, marcha para frente sem remorso até encontrarmos a transição para o segundo tema que se supõe conter leve semelhança com a Alegria, tema do Finale.
“É difícil se encontrar algo mais requintado em toda a música”, escreve E. Markham Lee no livro “The Story of the Symphony” do que o movimento de abertura, tão serenamente simples e ao mesmo tempo tão majestoso em suas idéias. Tecnicamente, sua complexa manipulação do material é maravilhosa e suas qualidades expressivas... são excelentes.”
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O segundo movimento, um Scherzo, embora realmente não rotulado assim, foi considerado por muitos críticos musicais como uma das mais notáveis realizações de Beethoven. Um escritor se referiu a seu “ágil modo de andar” como “fortemente misturado com uma mística veia, um pouco como uma dança ”. Berlioz comparou-o ao ar puro e claro que acompanha o nascer do Sol numa manhã brilhante de maio.
“As palavras nos faltam”, escreve Markham Lee, “para comentar adequadamente o Adagio ( terceiro movimento), uma das mais perfeitas e lindas peças de música orquestral que já foram escritas”. Bernard Shore, falando deste terceiro movimento em seu trabalho “Sixteen Symphonies”, afirma que é música que “deve estar nos céus” e nota como o incomparável Toscanini ao apresentar esta parte “fez todo o esforço para transferir o toque de brilhante e incisiva vitalidade para a mais silenciosa e suave ternura. “ No Paraíso! ”, ele exclamava. As cordas acariciam particularmente sua música e nunca foi permitido que se tornssem apaixonadas - só etéreas.
Os três primeiros movimentos da Nona Sinfonia estão no mais alto plano de toda a música. O tema de abertura do primeiro movimento é grandioso em inspiração, vigoroso em poder. O Scherzo é talvez o melhor de Beethoven. O Adagio começa com uma melodia de extrema nobreza - perfeito em curva e de uma serenidade maravilhosa. O sentimento de misticismo devoto e admiração aumenta até o coro final.”
UM ARAUTO MUSICAL DA NOVA ERA
Beethoven experimentou uma grande liberdade interior de espírito, um grande estado enlevado de alma. Consequentemente, ele foi capaz de transcrever para a audição humana a mais sublime música que este mundo já conheceu. Sigmund Spaeth em seu livro “A Guide to Great Orchestral Music” exprimiu perfeitamente: “A sinfonia alcançou em Beethoven o seu apogeu. Durante o século que veio após o dele, grandes músicos compuseram muita música bonita na forma, mas nós temos só que contemplar Beethoven para compreender que o zênite está ultrapassado e que toda a música daí por diante é música numa longa tarde.
Ludwig Von Beethoven foi um dos mais importantes evangelhos da Nova Era que vieram à Terra. Em cada uma e em todas as suas composições magníficas soa a nota da liberdade, da emancipaçãp, da igualdade e a eventual e permanente conquista do bem sobre o mal.
Beethoven também mostrou sua completa harmonia com os impulsos da Nova Era em seu ideal de feminilidade e no profundo respeito e reverência que ele dedicou ao sexo feminino. Ele nunca pôde entender como Mozart pôde usar seu grande gênio retratando tantas mulheres superficiais e frívolas.
Beethoven deu ao mundo só uma ópera, Fidélio, o fiel. Em sua heroína, Leonora, ele dá um quadro perfeito da mulher da Nova Era. Na última das três aberturas de Leonora, que é ouvida no ato final da ópera, está uma rapsódia descritiva da exaltação do Divino Feminino que tem que ser despertado em toda a humanidade antes que as verdades gloriosas que pertencem à Nova Era possam tornar-se realidade sobre a Terra. A ópera Fidélio conclui com um triunfante Coral retratando o alegre dia em que a liberdade e a fraternidade se tornará universal por todo o mundo. São estas mesmas notas de Liberdade, Fraternidade e Universalidade que são ouvidas no coral com o qual ele conclui seu trabalho final e supremo, a Nona Sinfonia.
CORAL DA NONA SINFONIA
O cantor está traduzindo sua canção em canto, sua alegria em formas e o ouvinte tem que traduzir o canto de volta em alegria original; então, a comunhão entre o cantor e o ouvinte é completa. A alegria infinita está manifestando-se em múltiplas formas, levando em si a servidão da lei e preenche nosso destino quando voltamos da forma para a alegria, da lei para o amor, quando desatamos o nó do finito e voltamos para o infinito. - Rabindranath Tagore
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Como foi mencionado anteriormente, Beethoven foi um mensageiro selecionado para transcrever a música cósmica para a audição humana. Esta “pressão interna levou-o a escolher uma vida de auto abnegação e retidão. Ele via através, por cima e além das ilusões e tentações do mundo numa época, e entre pessoas amplamente entregues à busca do prazer”.
Por música cósmica, queremos dizer música das Hierarquias Celestes. Foi a música triunfal soada pelos Querubins e Serafins na celebração dos Ritos do Matrimônio Místico do Nono Mistério que Beethoven gravou no magnífico Coral da Nona Sinfonia.
A humanidade não poderá vivenciar a alta exaltação espiritual deste Rito até que tenha aprendido a construir e a viver em um Mundo Unificado - um mundo em que a Paternidade de Deus e a Irmandade dos Homens se tornará realidade. Promover o ideal da fraternidade universal foi seu supremo objetivo; para este fim, seu grande gênio estava completamente dedicado.
Para o Coral, Beethoven usou o poema de Schiller, Ode à Alegria. Este poema, que foi escrito durante a Revolução Francesa, apresenta em seu tema a Fraternidade Universal.
Louve a alegria, a descendente de Deus
Filha do Elysium !
Raio de alegria e matizada de êxtase
Deusa, ao teu santuário viemos !
Por tua magia está unido
O que o rígido costume separou.
Toda a humanidade é formada de irmãos angustiados
Onde tuas asas gentis são fiéis.
Ó, milhões de vós, eu os abraço
Com um beijo para todo o mundo !
Irmãos, sobre a longínqua esfera estrelada,
Certamente habita um Pai amoroso.
Ó milhões de vós, ajoelhem-se diante d´Ele.
Mundo, não sentes teu Criador mais perto?
Procure-O sobre a longínqua esfera estrelada,
Sobre as estrelas entronizadas, adore-O !
Alegria, ó filha do Elysium,
Por tua magia está unido
O que o rígido costume separou.
Toda a humanidade é formada de irmãos angustiados
Onde tuas asas gentis são fiéis.
Por razões políticas, Schiller não usa a palavra “Liberdade” e a substitui pela palavra alegria. Beethoven entendeu assim. Para ele, o poema era sua expressão de liberdade espiritual. Queria dizer a emancipação da alma; a liberdade do espírito de todas as limitações físicas e materiais. Significava liberdade para perambular à vontade através dos planos espirituais superiores, para contatar seres celestes que habitam aqueles planos e ouvir a gloriosa música das esferas.
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No primeiro movimento, os céus emitem poderosos sons de evocação através do profundo misticismo do Ré Menor que é proclamado pela orquestra toda em uníssono. Mais tarde, o tema é repetido e a orquestra toca a mesma nota de triunfo em Ré Maior que nos diz musicalmente que as proclamações do coro celeste desceram ao plano terrestre.
O segundo movimento, Berlioz descreve em toda a sua inata beleza como parecendo com o “efeito do ar fresco da manhã e os primeiros raios do sol nascente de maio”.
O Adagio se expressa em variações de crescente complexidade e ornamentação melódica daquela rara e indescritível beleza que caracteriza Beethoven no seu apogeu. Cada movimento de suas sinfonias é uma divina aventura em espírito. O espírito, quando despertado (iluminado), não pode estar completamente satisfeito com apenas as dádivas que este plano físico tem para oferecer.
O Finale nos fala sobre isto. Ele questiona e procura avidamente por mais luz. Uma sugestão desta alta realização cantada pelo tema coral ecoa suavemente nas madeiras de sopro. O tema é então gradualmente desdobrado em Ré Maior ( ainda uma experiência no plano terrestre).
No quarto movimento, Beethoven, pela primeira vez, introduz palavras numa sinfonia. A “Ode à Alegria” de Schiller é a base do Finale cantada por solo, quarteto e pelo coro. Beethoven usou esta Ode para expressar solidariedade humana. Este coro sublime eleva a Terra para perto do Céu e aproxima os seres celestiais em comunhão mais íntima com os mortais. Ela soa a mais alta nota-chave da realização humana que é a emancipação própria.
NONO MISTÉRIO
O Nono Mistério conduz ao coração da Terra. Neste centro, está refletido o plano espiritual mais alto, o Mundo de Deus. Este é um plano onde reside o Absoluto . Aqui, o espírito se une com a matéria, o finito funde-se com o Infinito e Deus e o homem se encontram face a face.
É aqui que os Deuses de outros sistemas planetários comungam com o Deus deste sistema. É aqui que os sagrados Mistérios da Criação são revelados. Nenhuma música que tenha sido dada a este planeta pode traduzir a maravilha e a glória desta sublime experiência, excetuando o magnífico Coral com o qual o mestre Beethoven conclui a Nona Sinfonia.
O diagrama 18 do “Conceito Rosacruz do Cosmos” mostra a escada de ascensão celestial. Poucos existem sobre a Terra que tenham alcançado seus mais altos degraus. Somente aqueles que trocaram o pessoal pelo impessoal, o terrestre pelo celeste, o humano pelo divino e que se tornaram verdadeiramente indivíduos Cristianizados alcançando as mais altas esferas da consciência. Porém, este é o alto e glorioso destino que está esperando por toda a humanidade até que ela se faça merecedora da ascensão divina.
Na Noite Santa, quando o Nono Mistério é celebrado, inumeráveis hostes angélicas enchem o ar com sua canção de êxtase. Os ecos desta gloriosa música dos céus foram captados por Beethoven e dados ao mundo no sublime Coral de sua grande Nona Sinfonia.
No coração da Terra, há três centros de poder que se relacionam com os três centros principais no corpo-templo humano, que são a cabeça, o coração e os órgãos reprodutivos. Entre a cabeça e os centros reprodutores há
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uma íntima relação. Entre esses dois pontos focais das energias criadoras, há uma constante corrente de força vital sagrada. Ela toma a forma de lemniscata, o ponto de junção sendo o coração. Um modelo igual de energias criadoras divinas está em ação dentro do coração da Terra.
A participação no Nono Mistério é possível somente depois que as correntes acima descritas alcançaram um estado de perfeito equilíbrio, com a mente espiritualmente iluminada, o coração um transmissor da ainda pequena voz interna e o centro reprodutor um assento da força vital regenerada. Esta realização alcança o clímax encontrando-se face a face com o supremo Senhor deste mundo, o Abençoado Cristo. É esta a gloriosa experiência que espera a alma que alcança o nono degrau da escada da vida, o Nono Mistério.
A única música que pode adequadamente descrever o êxtase da alma desta experiência é a magia que Beethoven teve o sucesso de tecer na Nona Sinfonia. É só por meio desta música celestial que sua importância espiritual pode ser entoada. É música que pode vir somente da mais profunda experiência espiritual da qual o homem é capaz de registrar em sua presente e limitada existência. É a principal dádiva sem preço de um mágico à humanidade para ajudar em sua realização consciente e inconsciente para cima, para recapturar algo mais do seu puro estado divino.
Com a composição da Nona Sinfonia, o trabalho de Beethoven estava completo, seu destino se cumpriu. Este é o seu canto do cisne, sua mais magnífica realização. Esta composição incomparável, como foi dito anteriormente, foi dada ao mundo em 1824. Três anos mais tarde, em 1827, ele recebeu a chamada para subir. Então, sem dúvida, ele também se tornou capaz de estar diante da divina presença e ouvir as palavras benignas que têm soado através dos tempos, “Muito bem, servo bom e fiel! Vem alegrar-te com o teu Senhor!”.
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E P Í L O G O
AS NOVE SINFONIAS E OS NOVE MISTÉRIOS
Ao olhar a música instrumental pura, notamos que na sinfonia de Beethoven reina a maior desordem e, contudo, debaixo de tudo, está a mais absoluta ordem, a mais violenta luta que imediatamente se torna a mais doce concórdia. É “rerum concordia discors”, um verdadeiro e completo retrato da natureza essencial do mundo que se movimenta em complexidade, sem melodia e em inúmeras formas, e suporta a si mesma pela constante destruição. Ao mesmo tempo, todas as emoções e paixões falam a partir desta sinfonia, amor e ódio, medo e esperança, tudo somente no abstrato e sem nenhuma particularidade; é realmente a forma de emoção, um mundo espiritual sem matéria. É verdade, no entanto, que nós estamos inclinados a compreendê-la enquanto a ouvimos, vesti-la em nossa imaginação com carne e sangue, e contemplá-la nas várias cenas da vida e da natureza. - Arthur Schopenhauer
Os Nove Mistérios que são descritos neste livro são observados em certas épocas especiais. Estas Observâncias têm lugar nos Templos de Mistérios das Grandes Fraternidades que estão localizadas na esfera etérea.
O Primeiro Mistério acontece à meia-noite de sábado. Uma parte deste sublime trabalho é uma recapitulação daquele tempo na história da Terra, conhecida pelos ocultistas como Período de Saturno, e é biblicamente descrita como o Primeiro Dia da Criação.
O Segundo Mistério é observado no domingo à meia-noite. Este, além do trabalho que foi anteriormente mencionado, recapitula o Período Solar da evolução da Terra que é biblicamente o Segundo Grande Dia da Criação
O Terceiro Mistério é observado à meia-noite da segunda-feira e recapitula o trabalho do Período Lunar ou o Terceiro Grande Dia da Criação.
O Quarto Mistério é observado não só em um dia, mas em dois. O primeiro à meia-noite de terça-feira e o segundo à meia-noite de quarta-feira. Esta observância dupla é porque o presente Período Terrestre é dividido em duas metades distintas. A primeira metade vem sob a direção de Marte, sob cuja natureza marciana os céus do planeta têm escurecido com guerras e rumores de guerra. A segunda observância à meia-noite de quarta-feira revela algo das maravilhas da segunda ou metade mercurial do Período Terrestre. A humanidade terá então que alcançar ardentemente o seu sonho de um mundo de paz e de unidade.
O Quinto Mistério é observado à meia-noite de quinta-feira quando as glórias do próximo Período da evolução da Terra, o Período de Júpiter, será realidade.
O Sexto Mistério é observado à meia-noite de sexta-feira e contém as revelações gloriosas que pertencem a um estágio ainda mais alto do desenvolvimento deste planeta que leva a designação de Período de Vênus.
O Sétimo Mistério é observado em datas específicas fixadas em cada noite da semana e se relaciona com o trabalho do último Dia Evolutivo deste planeta, que é conhecido como Período de Vulcano.
O sublime Oitavo Mistério é observado cada mês nas noites de Lua Nova e de Lua Cheia.
A glória do Nono Mistério é consumada nos dois pontos espirituais mais altos do ano, a saber, a meia-noite dos Solstícios de Inverno e de Verão.
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Beethoven falou de uma décima sinfonia que era, sem dúvida, para descrever musicalmente este trabalho mais elevado. Embora ele tenha deixado uma quantidade de notas para esta composição, ela nunca foi completada. Isto, evidentemente, não estava no escopo de seu trabalho divino específico. Quando a humanidade for capaz de alcançar algo de seu glorioso destino, como o relacionado ao primeiro dos Grandes Mistérios Crísticos, e somente então, um intérprete musical ainda mais elevado será enviado pela Hierarquia para transmitir musicalmente algo de poder transcendente pertencente aos Grandes Mistérios Crísticos.
Quando o aspirante passa através do quarto dos nove Mistérios Menores, ele é saudado com grande regozijo por seus irmãos Iniciados e é conhecido como “o recém nascido”.
O trabalho do quinto dos Mistérios Menores tem relação com a amalgamação das essências do Fogo, Ar, Água e Terra. Este trabalho está relacionado não só com a operação destes elementos por toda a natureza, mas também com o homem em si. O Fogo relaciona-se com a natureza de desejo do homem, o Ar, com a mente, a Água, com a natureza emocional e a Terra, com o corpo físico. Quando o aspirante aprende a controlar estas forças dentro dele, também ganha controle de sua operação através da natureza. Isto dá a ele a habilidade de andar sobre a água, passar sem dano através do fogo, viajar à vontade pelo ar e passar à vontade sem obstrução pelos planos internos da Terra. Estas coisas são conhecidas como os milagres do Iniciado.
Como muito poucos no presente possuem a habilidade de realizar estes assim chamados milagres, eles são geralmente considerados superstição e fantasia e são associados só com os nomes do Conde de St. Germain e Christian Rosenkreuz, o ilustre fundador da Escola de Mistérios da Ordem Rosacruz. No entanto, estas coisas são perfeitamente possíveis de serem alcançadas por todos aqueles que têm vontade de pagar o preço que este desenvolvimento acarreta. Significa a renúncia de “coisas” e completa dedicação ao espírito. Cristo nos transmitiu esta verdade quando disse “Meu reino não é deste mundo” e “Minhas ovelhas conhecem minha voz e me seguem”.
Do amálgama dos quatro Elementos, um novo e quinto elemento é formado. Ao entrarmos cada vez mais em harmonia com a vindoura Era de Aquário, os viajantes do espaço do futuro serão capazes de contatar este novo Elemento e muitas das gloriosas maravilhas que ele revelará. Talvez a melhor descrição disto seja dada por São João em sua Revelação a qual ele descreve como um “mar de vidro”. Sobre este mar de vidro, ele afirma, serão reunidos os redimidos e regenerados de toda a humanidade.
Antigos Mestres da Sabedoria previram a descoberta deste novo Elemento. Alguns o chamaram de Azoto, outros de Rebis. Ambas as palavras têm cinco letras, ou mantras de poder, e ambas significam a consumação de todas as coisas. Daí notar-se que este novo Elemento tipifica o Espírito da Unidade. Antes que o homem seja capaz de explorar suas maravilhas, o mundo tem que alcançar a realização da Paternidade de Deus e da Fraternidade dos Homens.
O Sexto, o Sétimo, o Oitavo e o Nono dos Mistérios Menores lidam com um alcance espiritual ainda mais alto e mais elevado. No Nono Mistério, o participante passa dentro do Coração da Terra e lá se encontra na presença do Senhor Cristo, para ser preparado por Ele para um trabalho ainda maior mo primeiro dos Grandes Mistérios.
A mais valiosa de todas as dádivas de Cristo a esta Terra foram os Quatro Mistérios Maiores ou os Mistérios de Cristo, completando assim treze ao todo, delineando o Caminho da completa emancipação sob o regime de Cristo.
O Primeiro dos Grandes Mistérios de Cristo levará o homem ao fim deste Dia de Manifestação na Terra. É aqui que o Iniciado muda seu Corpo de Iniciado em Corpo de Adepto. Ele agora descobre o poder da Palavra Perdida
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e adquire a Palavra Criadora. Cada pensamento pode ser agora revestido em forma pela vontade. Tal pessoa iluminada se libertou do ciclo de vida e morte. Este foi o sublime alcance do amado São João, o mais avançado entre todos os discípulos e o único que não passou através do interlúdio chamado morte.
Os poderes desenvolvidos no primeiro dos Grandes Mistérios foram demonstrados pelos discípulos no dia de Pentecostes. Foi quando eles experimentaram sua primeira comunhão interna com o elevado Ser conhecido como Espírito Santo. Pela força espiritual agora despertada dentro deles, manifestaram muitos dos mesmos poderes que Cristo exerceu durante Seu ministério na Terra. Estes são só alguns dos extraordinários poderes que esperam o homem quando ele se tornar capaz de entrar no primeiro dos Grandes Mistérios de Cristo.
A Primeira Sinfonia e o Primeiro Mistério estão sob a direção da Hierarquia de Peixes, os Mestres Adeptos ou a humanidade aperfeiçoada.
A Segunda Sinfonia e o Segundo Mistério estão sob a jurisdição da Hierarquia de Aquário, os Anjos.
A Terceira Sinfonia e o Terceiro Mistério estão sob a direção da Hierarquia de Capricórnio, os Arcanjos.
A Quarta Sinfonia e o Quarto Mistério estão sob a direção da Hierarquia de Sagitário, os Senhores da Mente.
A Quinta Sinfonia e o Quinto Mistério estão sob a supervisão de Escorpião, os Senhores da Forma.
A Sexta Sinfonia e o Sexto Mistério estão sob a jurisdição de Libra, os Senhores da Individualidade.
A Sétima Sinfonia e o Sétimo Mistério estão sob a influência da Hierarquia de Virgo, os Filhos da Sabedoria.
A Oitava Sinfonia e o Oitavo Mistério estão sob a direção da Hierarquia de Leo, os Senhores do Amor e da Luz.
A Nona Sinfonia e o Nono Mistério estão sob a supervisão da Hierarquia de Câncer, os Querubins.
Há uma íntima relação entre o Nono dos Mistérios Menores e o Primeiro das Grandes Iniciações de Cristo. O coro triunfante dos Querubins forma uma ponte musical entre os dois. É aqui que o ser se defronta com o sagrado segredo da Vida.
A Primeira das Grandes Iniciações de Cristo está sob a direção da Hierarquia de Gêmeos, os Serafins. A nota-chave de Gêmeos é Polaridade e a nota-chave da Primeira Grande Iniciação é também Polaridade. É aqui que o corpo do Iniciado é trocado pelo corpo do Adepto, o que significa corpo perfeitamente polarizado ou andrógeno.
A Segunda das Grandes Iniciações está sob a guia e direção da Hierarquia de Touro, os Terafins.
A Terceira das Grandes Iniciações está sob a direção de Áries, os Xeofins.
É na Quarta e última das Grandes Iniciações que todas as doze Hierarquias do Zodíaco derramam sua magia e seu poder. É aqui que o grande coro celestial soa num poderoso hino de glória. Este coro triunfante nem ouvido humano pode ouvir, nem é possível para a linguagem humana tentar descrever sua sublimidade. Podemos só dizer que, neste longínquo tempo, o Senhor Cristo é o perfeito modelo da raça aperfeiçoada que virá a este elevado lugar de experiência, pois o homem então terá se tornado cristianizado e o sonho de São Paulo realizado quando ele disse: “Deixe o Cristo formar-se em ti”. Isto marcará o término da Dispensação de Cristo
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sobre a Terra e Ele retornará ao Reino do Pai. Então, uma humanidade perfeita estará pronta para uma lição ainda mais espiritual que será a Religião do Pai.
A Parte I deste volume - “Música - Seu Poder e Magia” - lida com a música em relação à evolução humana. Ela tenta relatar como, pelo poder e a magia da mais elevada das artes, o homem tornou-se homem. Num futuro distante, por meio deste mesmo poder e magia musicais, o homem se tornará mais do que homem; ele se tornará um homem-deus.
A alta nota-chave espiritual que está ressoando através de toda a criação, que Beethoven fez articular em suas incomparáveis criações é “ Para frente e para cima para sempre ”.
41 Í N D I C E- PÁGINA
Beethoven o Homem . 2
Prólogo . 3
Capítulo I - Primeira Sinfonia em Dó Maior – Opus 21 .5
Primeiro Mistério
Capítulo II-Segunda Sinfonia em Ré Maior – Opus 36 . 8
Segundo Mistério
Capítulo III -Terceira Sinfonia em Mi Bemol Maior (Heroica) – Opus 55 .12
Terceiro Mistério
Capítulo IV - Quarta Sinfonia em Si Bemol Maior – Opus 60 .16
Quarto Mistério
Capítulo V - Quinta Sinfonia em Dó Menor – Opus 67 . 18
Quinto Mistério
Capítulo VI - Sexta Sinfonia em Fá Maior (Pastoral) – Opus 68 . 22
Sexto Mistério
Capítulo VII - Sétima Sinfonia em Lá Maior – Opus 92 . 26
Sétimo Mistério
Capítulo VIII - Oitava Sinfonia em Fá Maior – Opus 93 29
Oitavo Mistério
Capítulo IX - Nona Sinfonia em Ré Menor – Opus 125 32
Coro “Ode à Alegria” de Schiller
Nono Mistério
Epílogo 38
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Beethoven's nine symphonies Correlated with the nine spiritual mysteries
Published 1963 , Calif.
Written in English.
Publisher: New Age Bible & Philosophy Center.
Versão em português da Fraternidade Rosacruz Max Heindel, Rio de Janeiro, Brasil.
CIRCULAÇÃO INTERNA
VENDA PROIBIDA
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CORINNE HELINE
(1882 - 1975)
Por António de Macedo
CORINNE HELINE
(1882 - 1975)
Uma luminosa «teia do destino» desde muito cedo se teceu na vida da rosacruciana Corinne Heline, autora de 28 volumes de obras esotéricas.
Antes de prosseguir o alinhavo do breve esboço biográfico que compilei de diversas fontes, sobre esta autora, cumpre-me esclarecer dois pontos que ao leitor de formação Rosacruciana podem parecer de problemática aceitação. São eles:
(1) A utilização, por Corinne Heline, do termo «New Age» — Nova Era —, termo que se divulgou a partir dos anos 70 do século XX como veículo de um conjunto heteróclito de ideologias mais ou menos «esotéricas», sendo que algumas, inclusivamente, se contrariam entre si e em que se mistura um pouco de tudo, desde o tantrismo hindu à iniciação egípcia, passando por técnicas meditacionais de realização pessoal, etc. [NOTA: Não tenho nada contra o tantrismo, a iniciação egípcia ou as diversas formas de meditação; acho apenas que se não devem misturar — cada coisa em seu Raio];
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(2) A intensa devoção de Corinne Heline à Virgem Maria, em aparente contradição com a doutrina expendida por Max Heindel nas suas obras, em geral, e em especial em A Maçonaria e o Catolicismo.
Quanto ao primeiro ponto, basta esclarecer que a «New Age» citada nas obras de Max Heindel, Theodore Heline e Corinne Heline no primeiro quartel do século XX, ao contrário da «New Age» de segunda vaga dos anos 70, não se refere apenas à iminente Era do Aquário, embora estes três pioneiros a ela façam frequente menção. No espírito da Filosofia Rosacruciana a verdadeira Nova Era é a Sexta Época, ou Nova Galileia, também designada, ocultamente, por «Reino de Deus»[1] e «Nova Jerusalém». Actualmente encontramo-nos na Quinta Época, Ariana. Ouçamos Max Heindel:
«Nas primeiras duas Épocas [Polar e Hiperbórea] o ser humano evolucionou um corpo e vitalizou-o ; na Terceira Época, Lemúrica, desenvolveu o desejo ; na Quarta Época, Atlante, produziu a astúcia ; e na Época actual, Ariana, incrementou a razão. Na Nova Galileia a humanidade terá corpos mais finos e etéreos do que actualmente, a Terra será transparente, e os corpos serão mais facilmente responsivos aos impulsos espirituais. […] A Nova Galileia será formada por Éter Luminoso permeado de luz solar, nela não haverá noite e será uma terra de Paz (Yeru-Shalem) onde se realizará a Irmandade Universal de todos os seres, unidos pelo Amor» (The Rosicrucian Christianity Lectures, Lecture 14: «Lucifer: Tempter or Benefactor?», p. 240).
No Conceito Rosacruz do Cosmos, Max Heindel acrescenta: «Os cristãos esotéricos e os estudantes de todas as escolas ocultas estão esforçando-se por atingir o grau mais elevado, que será alcançado, genericamente, na Sexta Época, ou Nova Galileia, quando a unificante Religião Cristã abrir os corações dos seres humanos, tal como o seu entendimento está sendo aberto agora» (Cap. XII - Evolução da Terra), e também: «Na Nova Galileia, que é a vindoura Sexta Época, o Amor tornar-se-á inegoísta e a Razão aprovará os seus ditames. A Irmandade Universal realizar-se-á porque cada um trabalhará para o bem de todos, e as propensões egocêntricas serão coisa do passado» (Cap. XIII - Em Direcção à Bíblia).
É a Nova Jerusalém descrita no Apocalipse:
«E vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido; e o mar já não existia. E vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, ornamentada como uma noiva que se ataviou para o seu esposo» (Apocalipse 21, 1-2).
Esta Nova Jerusalém, construída no Primeiro Céu (região superior do Mundo do Desejo, ou do Mundo Astral como lhe chamava Paracelso) pelos cristãos devotos, tornar-se-á visível durante a Sexta Época ou Nova Galileia, estando por conseguinte muitíssimo distanciada, no futuro, da Era do Aquário. Por isso Max Heindel tanto insiste no serviço amoroso e desinteressado aos demais:
«O serviço constrói o corpo anímico [soul body], o glorioso Trajo de Núpcias sem o qual ninguém pode entrar no Reino de Deus, designado ocultamente como «Nova Galileia», e não importa o grau de consciência que o candidato tenha ou não do percurso, desde que cumpra o seu dever. Além do mais, como o luminoso corpo anímico se desenvolve por dentro e em torno da própria pessoa, a sua luz ensinar-lhe-á os Mistérios sem necessidade de livros, e quem tenha sido assim instruído por Deus conhece mais do que tudo quanto esteja contido em toos os livros do mundo» (Max Heindel, Gleanings of a Mystic, pp. 135-136).
Uma vez que a Nova Idade, ou Nova Galileia, se cumprirá nos tempos apocalípticos como «Nova Jerusalém», tal significa que ocorrerá então o Segundo Advento, do Cristo Glorioso — tempos esses em que «seremos arrebatados às nuvens ao encontro do Senhor, nos ares», tal como nos diz o Iniciado Paulo na sua primeira epístola aos Tessalonicenses (4, 17), significando «nos ares», aqui, «em corpo etérico», ou melhor, no subtil «corpo anímico» formado pelos dois éteres superiores:
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Luminoso e Reflector; então, cantaremos ao Senhor (Cristo) «um Cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro e de lhe abrir o selos, pois foste degolado e com o teu sangue resgataste para Deus gente de toda a tribo, língua, povo e nação; fizeste deles reis e sacerdotes para o nosso Deus»
Trata-se duma profecia, sem dúvida, mas sobretudo duma promessa, em que a condição conjunta de rei e sacerdote se verificará como recompensa desejável para essa vindoura Nova Era — «New Age» —, de santidade e de paz.
É esta condição conjunta, de rei e sacerdote, que nos vai esclarecer em seguida o segundo ponto referido acima, acerca da (aparentemente) contraditória devoção da rosacruciana Corinne Heline à Virgem Maria.
No seu livro A Maçonaria e o Catolicismo, Max Heindel põe em paralelo as duas grandes linhagens da espécie humana, segundo uma interessante lenda maçónica que diverge nalguns pontos da tradicional génese bíblica: antes de conhecer Adão, Eva conheceu o anjo luciferino Samael, e dele teve Caim.
Como entretanto Samael se revoltou contra Jahvé, foi expulso por este, e o filho de ambos, Caim, foi chamado «o filho da Viúva». Jahvé criou Adão, que se uniu a Eva e nasceu Abel. Mas Abel foi morto por Caim e Adão e Eva tiveram um novo filho, Seth, para substituir Abel.
O anjo Samael representa as forças marcianas de Lúcifer, que fizeram a sua morada no planeta Marte, são as «Hierarquias do Fogo» e deram origem à Ordem Maçónica e à «luz interna», aprisionada, que permite ver e conhecer. É a linhagem do intelecto, ou «linhagem mental» (Ocultismo — Escolas de Mistérios). Caim e seus descendentes são os seus representantes humanos.
Por sua vez o anjo Gabriel, anunciador dos nascimentos, representa as Hierarquias Lunares presididas por Jahvé, ou seja, as «Hierarquias da Água» que deram origem à Igreja católica e à «fé devocional», e se opõem à Gnose; é a linhagem do coração, ou «linhagem cordial» (Misticismo — Igrejas). Seth e seus descendentes são os seus representantes humanos.
Desde tempos imemoriais que existe antagonismo entre ambas as linhagens:
(a) A do homo faber que trabalha o fogo: — o aparelho de Estado e os reis, os artífices, a indústria, descendentes de Caim e associados ao luciferino planeta Marte, deus do ferro, do fogo e da guerra, cuja Organização Iniciática, a Ordem Maçónica, tem como ideal Hiram Abiff, descendente de Caim e construtor do Templo de Salomão, modelo da «linhagem mental», também chamada «linhagem real»;
(b) A do homo pius submetido à água benta: — os clérigos, os devotos, os sacerdotes, descendentes de Seth e associados à húmida Lua, planeta da alma, da fecundação, das emoções, cuja Organização Sacramental é a Igreja; o seu ideal feminino é a Virgem Maria, modelo da «linhagem cordial», também chamada «linhagem sacerdotal».
Houve porém um tempo, recuadíssimo, em que aquele antagonismo não existia, simbolizado pelo mito de Melquisedec, misteriosa personagem bíblica que, sendo Rei e Sacerdote (união das duas linhagens) fez um sacrifício de pão e vinho (Génesis 14, 18-20), prefigurando a vindoura Dispensação Crística, que eliminou os sacrifícios de carne e sangue.
A desunião deu-se na quarta Idade, onde começa o terceiro capítulo do Génesis, e tem-se mantido até aos nossos dias — e manter-se-á ainda por toda a Época Ariana.
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A Idade Vindoura, ou Nova Galileia, promoverá a re-união em Cristo, também Ele Rei e Sacerdote, «proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedec» (Hebreus 5, 10). Esta Ordem de Melquisedec, regida por Cristo, Rei e Sacerdote, justo e santo, reinará portanto na Sexta Época, a Nova Jerusalém do Apocalipse, em que todos os seres se reunirão em perfeito AMOR.
Por conseguinte, ambas as vias são indispensáveis, na fase actual, para se chegar a uma desejável, ainda que futura, plena convergência, e para que os seres humanos atinjam a perfeição de sentir com a mente e pensar com o coração.
Está assim explicada a perplexidade de certos estudiosos de Max Heindel que encontram, nos seus escritos, ora desenvolvimentos místicos (cordiais), ora desenvolvimentos ocultos (mentais); é que Heindel já se encontrava num grau de avanço em que a convergência começava a fazer-se sentir de forma marcante, ao longo de ambas as linhas. O mesmo sucede com Corinne Heline: sendo uma Iniciada numa Escola de Mistérios (Ocultismo), o seu avanço exige igualmente o desenvolvimento devocional feminino. Assim, a sua devoção à Virgem Maria, ou à Divina Mãe, é a indispensável via cordial (mística) paralela e complementar à via mental (oculta), sendo esta proporcionada não só pelo intelectualismo imperante na nossa Época (razão científica e filosófica) mas também pelas Escolas
de Mistérios, como por exemplo a actual Escola de Mistérios Rosacruzes.
Após esta ressalva prévia, esbocemos em breves linhas o percurso espiritual de Corinne Heline.
Desde menina, já evidenciava uma mente brilhante e inquisitiva, a par duma consciência muito avançada; passava horas a visitar e a contemplar uma belíssima escultura da Virgem Maria na igreja católica que ficava do outro lado da rua onde se situava a Escola Dominical Metodista, onde estudava. Mais tarde, lembrar-se-ia que foi este primeiro e inspirador contacto com a Divina Mãe que haveria de constituir uma presença permanente, amorosa e protectora, para tudo quanto veio a escrever. Toda a sua dedicação, ao longo da vida, centrar-se-ia na Virgem Divina.
Corinne teve a consciência da sua missão desde a mais tenra idade. Tinha ela quatro anos e costumava reclinar a cabecita sobre a Bíblia aberta, que a mãe lia, e explicava: «Há uma coisa maravilhosa e muito bonita neste Santo Livro, e um dia hei-se saber o que é». Era ela uma alma que devido à sua preparação anterior, pôde facilmente imprimir na mente consciente, desde a infância, a importância do trabalho que lhe estava cometido na presente encarnação.
Na adolescência, descobriu o fascínio da literatura oculta na vasta biblioteca particular duma vizinha que a recebia carinhosamente, e que se interessava por Teosofia e Rosacrucianismo. Leitora ávida da Bíblia, Corinne verificou que a podia entender melhor com o auxílio dos livros de filosofia oculta que a vizinha lhe emprestava. Os livros sobre reencarnação, sobretudo, desvendaram-lhe um novo mundo, dando-lhe resposta a muitas questões. Um dia a vizinha ofereceu-lhe um exemplar do Conceito Rosacruz do Cosmo, de Max Heindel, e toda a sua vida mudou a partir de então.
Corinne nascera em Atlanta, na Geórgia, em 13 de Agosto de 1882, no seio duma família abastada. A mãe morreu-lhe quando ela tinha 16 anos, deixando-lhe uma confortável herança que Corinne mais tarde utilizou para editar livros. A jovem sofreu profundamente com a morte da mãe, até que uma noite a mãe lhe apareceu dizendo que se encontrava feliz nos Mundos Superiores, e lhe pediu que deixasse de chorar e procurasse alegrar o pai, minorando-lhe o desgosto. Disse-lhe mais, que fosse a um velho baú onde estava guardado o dinheiro do Natal, e que comprasse uma Bíblia nova. Foi esta Bíblia que Corinne usou durante todo o tempo que levou a escrever a sua monumental obra New Age Bible Interpretation.
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