terça-feira, 16 de julho de 2013

A AUTORIA DO TORÁ - O QUE É A VERDADE


A EVIDÊNCIA - A História dos Judeus - 21min.
 
A Origem do Judaísmo - 47min.
Nossas Leis:

A Autoria da Torá



Foto Ilustrativa

Edição 75 - abril de 2012
Um dos princípios fundamentais do judaísmo é que a Torá não foi escrita por Moshé nem por qualquer outro homem, e sim, pelo próprio Criador.

No artigo “A verdade histórica da Revelação Divina no Monte Sinai”, analisamos se há razão suficiente para se acreditar que D’us Se revelou ao Povo Judeu no Monte Sinai. Como vimos no artigo, à página 10, as fontes básicas de conhecimento sobre a Revelação Divina são a transmissão oral, de geração a geração, e um registro escrito, a dizer, os Cinco Livros da Torá. Caso haja uma razão sólida para acreditar que a Torá é de autoria Divina, a veracidade do que quer que a mesma nos relate, inclusive a Revelação Divina no Sinai, é, pois, inquestionável. No entanto, se a Torá tivesse sido escrita por um ser humano, ainda que por Moshé, sua veracidade e autoria poderiam ser questionadas – pois nenhum homem é dono da Verdade Absoluta.

Halachá LeMoshé MiSinai
Como o judaísmo advoga que a Torá é a Palavra de D’us, seria lógico presumir que não há desacordo ou discussão acerca de suas leis. Contudo, na realidade, o Talmud Babilônico, que elucida os Cinco Livros da Torá e constitui o pilar da Lei Judaica, é formado por uma série de divergências e debates entre nossos Sábios.

Cabe perguntar: se D’us transmitiu a Torá a Moshé, haverá o que discutir sobre suas leis? A resposta profunda a essa pergunta está além do escopo deste artigo, mas a resposta simplista, fornecida pelo Talmud de forma explícita e não apologética, é que no dia em que Moshé deixou este mundo, o Povo Judeu esqueceu muitas das leis da Torá Oral, que são as elucidações e explicações da Torá Escrita. Por isso, coube aos Sábios, através de discussões, lógicas e análises, tentar recuperar o conhecimento perdido. No entanto, os ensinamentos da Torá Oral que não foram esquecidos não estão sujeitos à discussão.

No Talmud, há uma frase “mágica” que coloca um ponto final em qualquer discussão: Halachá LeMoshé MiSinai – em português, “trata-se de uma lei transmitida a Moshé no Sinai”.
As divergências existentes no Talmud não contestam, mas até corroboram a Revelação Divina no Sinai e a Divina Autoria da Torá. Como a Revelação ocorreu apenas uma única vez e como a Torá foi criada por D’us e transmitida apenas a Moshé, não houve quem vivesse após Moshé que pudesse ensinar as leis que tinham sido esquecidas. Como ensina o Talmud (Tratado Temurá 16ª):

 “Um profeta não está autorizado a introduzir nada de novo”. A Torá deu aos Sábios o poder de decretar leis rabínicas, mas as leis bíblicas não podem ser alteradas, criadas ou abolidas. Como ensina o Midrash (Devarim Rabá, 8:6): “Moshé disse ao Povo Judeu: ‘Não digam que outro Moshé surgirá, com outra Torá dos Céus; já lhes estou anunciando, agora, não está nos Céus. Nada restou nos Céus’”.

O fato de que os Sábios do Talmud discordassem acerca da aplicação adequada de muitas das leis da Torá é uma indicação de que o judaísmo não é dogmático, mas é a busca da verdade. Por outro lado, o fato de que apesar de todas as suas discordâncias, os Sábios unanimemente concordam sobre tantos pontos, é uma boa evidência de que o judaísmo tem uma única origem comum; pois, de outra forma, os Sábios do Talmud debateriam sobre os mínimos pontos da Lei Judaica. Quando as pessoas que costumam discordar entre si estão de acordo sobre umas tantas coisas, geralmente é sinal de que há uma razão para tal. Se para os Sábios do Talmud, Halachá LeMoshé MiSinai não estava sujeita à discussão, significa que a veracidade da Revelação Divina no Sinai e da Autoria Divina da Torá eram incontestáveis para eles. Assim sendo, eles não desperdiçariam seu tempo e energia discutindo o óbvio.

 
Mas, se não tivesse ocorrido a Revelação Divina no Sinai e se a Torá não tivesse sido escrita por D’us, o conceito da Halachá LeMoshé MiSinai não existiria. Pois se a Torá foi escrita por Moshé, por que seria proibido a um profeta ou um sábio de um período posterior mudar qualquer de suas leis ou, ao menos, instituir decretos que pudessem solucionar todas as dúvidas sobre a Lei Judaica?

Na verdade, na ausência de uma Revelação Divina, será que deveríamos atribuir a um ser humano o poder de criar leis imutáveis e, de fato, nem sequer passíveis de discussão? Com todo o respeito a Moshé, ele não fundou o judaísmo, nem foi um de nossos Patriarcas. E se a Torá tivesse sido escrita por ele, por que razão deveríamos acreditar, como diz a Torá, que ele foi o maior profeta de todos os tempos? Além disso, a tradição judaica não mede palavras em sua tentativa de humanizá-lo. É inconcebível que os judeus atribuíssem autoridade divina a o que quer que fosse que Moshé lhes ensinasse, a menos que soubessem que a Torá não era dele, mas realmente do D’us de Israel.

Se a Torá não tivesse sido escrita pelo Todo Poderoso, os profetas e Sábios que vieram após Moshé poderiam ter mudado algumas de suas leis – coisa que nunca ocorreu. No curso da História Judaica, criaram-se leis rabínicas, que foram modificadas e até rechaçadas, mas ninguém jamais ousou tocar na lei bíblica. Ninguém ousou argumentar com a Halachá LeMoshé MiSinai. Se todos os profetas e Sábios que viveram após Moshé se recusaram categoricamente a substituí-lo ou mesmo a tentar replicar o que ele conquistara – nem mesmo pela nobre razão de tentar recuperar o conhecimento que foi perdido com sua morte – é porque sabiam que a Torá era a Palavra de D’us, que fora transmitida apenas a Moshé; e agora que ele se fora, não havia como novamente trazer a Torá dos Céus à Terra.

Um livro de lendas?
É possível que o Povo Judeu tenha aceitado primeiramente a Torá como um livro de lendas e que, com o passar do tempo, após o transcurso de muitas gerações, quando já não era mais possível corroborar a veracidade de seus relatos, tenha sido aceita como verdade? Consideremos a seguinte teoria: alguém no deserto – quiçá Moshé, quiçá alguém outro – redigiu a Torá, inclusive o relato da Revelação Divina no Sinai, e todo o povo o aceitou, apesar de ser tudo invenção, pois eles nem o levaram a sério: consideraram que tudo fosse mitologia judaica. Passado o tempo, no entanto, um número cada vez maior de judeus começou a acreditar que aquelas histórias eram verdadeiras.

Esta teoria é popular entre ateus e agnósticos. Mas é uma teoria relativamente fácil de ser rechaçada.

Primeiro, nos últimos 3.000 anos, apesar de todas as diferenças e divergências existentes entre o Povo Judeu, nunca houve uma tradição que dissesse que a Torá é obra de ficção. Mesmo os Caraítas, que não aceitavam os ensinamentos da Torá Oral, acreditavam categoricamente que cada uma das palavras da Torá Escrita era a Palavra de D’us. É possível que toda a geração do deserto tenha adotado a Torá como obra de ficção, mas, em algum momento da História Judaica, esse fato foi esquecido ou negligenciado por todos os judeus e todos começaram a acreditar que a Torá foi historicamente precisa? Para exemplificar quão improvável é essa teoria, pensemos em quão improvável é que todos os gregos vivos hoje mudassem de ideia sobre a Ilíada e a Odisseia e começassem a crer que esses trabalhos não são lendas, mas fatos históricos.

Segundo, há apenas uma versão da Torá, e não há relatos conflitantes sobre os eventos que descreve.

Através da história, muitos judeus, especialmente os insolentes Reis de Israel, poderiam ter justificado seu comportamento pecaminoso alegando que a Torá era uma invenção ou um livro de lendas. Se essas pessoas apenas pudessem apresentar alguma evidência de que a Torá não fosse Divina – de que foi escrita por Moshé ou por outros seres humanos – eles poderiam ter algum tipo de desculpas para muitas de suas próprias ações, especialmente sua idolatria, que não prejudicou nenhum outro homem. Mas nos últimos três milênios, mesmo os judeus que mais se beneficiariam levantando dúvidas sobre a autoria da Torá, não o fizeram. Eles poderiam ter questionado a Justiça Divina, mas nunca tiveram a audácia de questionar a verdade da Revelação no Sinai e a legitimidade e a Divina autoria da Torá. E por quê? Porque como explicamos no artigo anterior, um evento público que envolveu milhões de pessoas é praticamente impossível de ser negado.

Terceiro, é inconcebível que pessoas sensatas inventassem muitas das leis que constam na Torá, e, ainda mais, que inventassem o conceito de que o Criador do mundo os fizesse responsáveis por respeitá-las (Este Criador a quem jamais teriam visto se o relato da Revelação Divina fosse invenção). Exemplificando: a lei da Shemitá – os ordenamentos ao Povo Judeu de abrir mão do trabalho agrícola na Terra de Israel de sete em sete anos (Levítico 25:1-24). A Torá ordena aos judeus que sigam esta lei e não se preocupem com a falta de alimento, pois D’us os abençoará com fartura de provisões no sexto ano para compensar o sétimo em que se absterão de trabalhar a terra.
Consideremos: Por que os seres humanos escreveriam uma tal lei? Será que colocariam sua própria sobrevivência e a de seus filhos em risco? Será que inventariam promessas de um Fiador e diriam às gerações futuras que deviam cumprir esse mandamento porque o Criador do mundo proveria a eles, quando, na realidade, eles mesmos sabiam que uma tal promessa Divina jamais havia sido feita? E o que aconteceria quando, no ano antes do Sabático, a colheita não fosse mais farta do que nos anos anteriores e os judeus não tivessem alimento para o ano seguinte?

Escrever essa lei e fazer os demais confiarem numa falsa promessa de bênçãos Divinas, seria o cúmulo da tolice e da irresponsabilidade. Contudo, os judeus aceitaram as leis do Sabático e se comprometeram a segui-las. E se o fizeram, é porque sabiam que era uma lei criada por D’us. Nem Moshé nem nenhum outro ser humano poderia fazer um povo inteiro colocar sua sobrevivência em risco. Na verdade, se D’us não tivesse escrito a Torá, os judeus teriam que ser muito tolos para concordar de viver segundo a maioria de seus mandamentos.

Por exemplo, por que eles aceitariam a lei da circuncisão? Três mil anos atrás ninguém sabia que a circuncisão pode evitar a disseminação de várias doenças terríveis. Podemos entender a razão para um povo aceitar leis relativas ao funcionamento adequado da sociedade, como as que proíbem o assassinato, adultério e roubo, mas por que os judeus aceitariam as muitas leis rituais da Torá – algumas das quais, extremamente complexas e esotéricas – e concordariam em não violar muitas de suas leis que os privam de vários dos prazeres da vida? Por que os judeus concordariam em não comer frutos do mar e carne não-casher? Por que eles aceitariam todas as leis da Torá sobre as relações sexuais proibidas?

Vejamos, será que milhões de pessoas aceitariam a Torá se não a tivessem recebido diretamente de D’us e soubessem, de fato, que era Sua Vontade que seguissem suas leis? Há um famoso Midrash que ensina que antes de outorgar a Torá ao Povo Judeu, D’us a ofereceu a todas as demais nações do mundo que a recusaram. Mas trata-se de um Midrash metafórico, que ensina que D’us, por ser Onisciente, sabia que somente os judeus aceitariam seguir as leis da Torá; não se trata de um relato histórico. Já houve um caso na história em que a Torá foi ofertada a grandes grupos de pessoas que se recusaram a aceitá-la? Sim, houve.

Muitas pessoas não o sabem, mas os fundadores do Cristianismo eram judeus seguidores da Torá. O Cristianismo se iniciou como um movimento messiânico judaico. O propósito dos primeiros cristãos não era começar uma nova religião, mas ganhar o máximo de adeptos para seu movimento – judeus ou não. E como eles consideravam seu movimento messiânico autenticamente judaico, somente seriam aceitos os não-judeus que se convertessem ao judaísmo.

Mas, segundo relato da Bíblia cristã, quando os fundadores do Cristianismo saíram em suas primeiras missões proselitistas , não tiveram sucesso em sua tentativa de converter os pagãos ao judaísmo. Apesar de terem ouvido que a Torá era a Palavra de D’us, os gentios ficaram assombrados com seus mandamentos – as leis de Casherut, do Shabat e, sobretudo, da circuncisão.

Os primeiros cristãos somente conseguiram converter pagãos a seu recém-criado movimento quando abandonaram a exigência de que os não-judeus aceitassem as leis da Torá. Eles provavelmente perceberam que nenhuma nação, exceto os judeus, se sujeitaria àquelas leis.

Quem pode culpar os pagãos por recusar a Torá?
 É compreensível que os judeus a tenham aceitado – eles testemunharam a Revelação Divina no Sinai, e, na verdade, não tinham muita escolha. Mas por que um povo que não testemunhou a Revelação e a outorga da Torá iria aceitar a responsabilidade de cumprir todos os seus difíceis mandamentos?

Um cético implacável pode alegar que os judeus escreveram a Torá e inventaram todas as suas complicadas leis para difundir o próprio argumento que aqui defendemos: como nenhum povo seria capaz de criar tais leis para si, a Torá certamente é de autoria Divina.

Seria possível que os judeus propositalmente se colocassem numa camisa de força para ludibriar o mundo, inclusive seus descendentes, dizendo que D’us lhes teria aparecido, apenas a eles, e os teria escolhido para lhes entregar Suas Leis? Novamente, a resposta é que isso seria altamente improvável. E se esse era o seu plano, o tiro saiu pela culatra, pois a Revelação no Sinai não rendeu aos judeus o amor e a admiração do resto da humanidade. Milênios antes de ocorrer a Inquisição e o Holocausto, o Talmud já tinha previsto que os judeus seriam odiados por terem sido escolhidos por D’us para receber a Sua Torá e testemunhar a única Revelação Divina na História.

O Rabi Yehoshua ben Levi assim ensina no Talmud: Por que a montanha onde a Torá foi entregue se chama Sinai? Porque ela causaria Sinat – ódio – entre o restante do mundo contra o Povo Judeu.

Um Livro nada lisonjeiro
Além de conter inúmeras leis de difícil cumprimento, a Torá narra muitas histórias, a maioria das quais não são nada lisonjeiras para nosso povo. Mesmo o relato mais espetacular da Torá – o da Revelação Divina – não foi uma ocasião inteiramente feliz, pois apenas 40 dias após sua ocorrência, o povo já adorava um bezerro de ouro, fazendo com que Moshé quebrasse as Tábuas da Lei. Até o Livro de Gênese é pouco lisonjeiro ao nosso povo. Pois enquanto muitas outras nações santificam seus fundadores e criadores, a Torá descreve nossos Patriarcas e antepassados como seres humanos falíveis, que suportaram provações e infortúnios e que tiveram fraquezas e cometeram erros.

Um cético poderia novamente alegar que Moshé ou os judeus escreveram a Torá de tal forma que provasse o argumento que acabamos de defender: nenhum povo poderia escrever relatos tão pouco lisonjeiros sobre si próprio; portanto, a Torá certamente foi escrita por D’us.

Mas, muito sinceramente, os relatos da Torá não são apenas pouco elogiosos – o que serviria para torná-los ainda mais críveis – eles são simplesmente prejudiciais. Algumas histórias negativas talvez servissem para tornar as boas um pouco mais críveis, mas a Torá é repleta de relatos que colocam os judeus sob um prisma muito negativo. Pode ser difícil, mesmo, encontrar uma porção da Torá que não contenha uma ação negativa de nossos antepassados. Será que as pessoas escreveriam relatos tão danosos sobre si próprias?

 Será que quereriam ser lembradas dessa forma por seus filhos e seus futuros descendentes?

O que é ainda mais incrível é que apesar das muitas leis de difícil cumprimento e das histórias nada lisonjeiras, nós, judeus, reverenciamos a Torá. Não há objeto inanimado mais sagrado ao judaísmo do que um rolo contendo os Cinco Livros da Torá. E por quê? Porque nós, como nossos antepassados, não temos dúvidas acerca de sua autoria. Quando o Mestre do Universo escreve um livro e elenca nosso povo como protagonistas, nós o reverenciamos, mesmo que seu conteúdo nem sempre nos favoreça.

Alucinógenos e alucinações
Seria possível que Moshé e os três milhões de judeus que ele liderou não tenham tramado um plano mentiroso, mas se tenham confundido com o que imaginaram ter visto? Um professor israelense de Filosofia da Universidade Hebraica, Benny Shannon, apresentou a seguinte hipótese: a Revelação Divina no Sinai teria sido, na realidade, uma alucinação decorrente do fato de Moshé e os judeus terem tomado uma substância altamente psicodélica, encontrada na árvore da acácia, frequentemente mencionada na Bíblia. O professor fez a seguinte declaração: “No que toca ao Monte Sinai e a Moshé, o que ocorreu foi um evento cósmico sobrenatural – o que não acredito – ou uma lenda – no que tampouco acredito – ou, finalmente e mais provável, um evento que uniu Moshé e o Povo de Israel sob o efeito de narcóticos”.

Antes de analisar a hipótese do prof. Shannon, é interessante observar que mesmo ele – que não crê em uma Revelação Divina – não acredita que o relato seja uma lenda. Isso serve como exemplo verdadeiro do que discutimos no artigo anterior: que é muito difícil negar um evento público ocorrido diante de milhões de pessoas. Como o professor não pode negar o evento, mas tampouco pode aceitar que tenha havido uma Revelação Divina, ele necessita recorrer a outra explicação – o uso de alucinógenos.

O problema na teoria do acadêmico é que é necessário ter muito mais fé para se acreditar na mesma do que para acreditar que D’us Se revelou aos judeus no Monte Sinai. Senão, como teria Moshé conseguido encontrar a quantidade de alucinógenos para três milhões de pessoas? Segundo, como Moshé convenceu todos eles a ingerirem a droga? A própria Torá atesta que o povo frequentemente se rebelava contra ele. E mesmo se os milhões que lá estavam concordassem em se drogar, teriam-na consumido, todos, ao mesmo tempo? E teria a droga afetado milhões de pessoa exatamente ao mesmo tempo e da mesmíssima forma? Sabemos que diferentes pessoas reagem de diferentes maneiras à mesma droga. Alguns organismos reagem intensamente; outros, não. Algumas pessoas levam muito tempo para reagir a um alucinógeno, ao passo que outras reagem quase que imediatamente após sua ingestão. Além disso, como essas substâncias afetam o cérebro, e como não há duas pessoas – que dizer de milhões delas – que pensem de forma igual, as pessoas veem coisas diferentes quando ingerem essas drogas. Portanto, seria quase uma impossibilidade estatística que milhões de pessoas tomassem uma droga e tivessem simultaneamente uma mesma experiência ilusória e ouvissem a mesmíssima mensagem...

Mas, o mais revelador acerca da hipótese do Prof. Benny Shannon é que além de ter admitido não ter “nenhuma prova direta de sua interpretação”, ele fez a seguinte declaração: ”Mas nem todos que usam a tal planta alucinógena trazem a Torá... Para tanto, você tem que ser um Moshé”...

A pergunta que deveria ser feita ao professor é: de onde exatamente Moshé trouxe a Torá? De onde veio a Torá? Se ele acredita que Moshé a escreveu e que sua teoria da droga alucinógena está correta, por que o Povo Judeu deveria viver de acordo com as leis criadas por um homem que era tão drogado que tinha alucinações sobre uma suposta Revelação Divina?

Indo mais além, a teoria de que Moshé dopou o povo para trapaceá-los e os fazer crer que D’us Se revelara a eles não é crível por uma razão adicional. Se os inimigos de Moshé tivessem sequer suspeitado de alguma desonestidade – se eles acreditassem que ele os estivesse drogando para induzi-los a algum tipo de experiência coletiva – eles o teriam acusado de ser um falso profeta, um charlatão. Moshé tinha sua quota de inimigos entre o povo. É triste admiti-lo, mas muitos dos judeus a quem ele conduziu inventaram e disseminaram mentiras terríveis contra ele.

Acusaram-no de não ter habilidades para liderar, de nepotismo, de roubo, de adultério e até de assassinato. Mas, interessante, ninguém ousou acusá-lo de ser um falso profeta. Até mesmo Korach, quando tentou depor Moshé e Aaron, nunca sequer sugeriu que ele tivesse enganado o povo. Ele questionou o direito de Moshé de liderar os judeus, mas nunca o acusou de charlatão. Nem mesmo Korach poderia questionar a veracidade da Revelação Divina no Sinai ou a autoria Divina da Torá.

Ele sim questionou a aplicação de alguns dos mandamentos da Torá por Moshé, mas jamais sequer ousou alegar que ele os tivesse criado. E por quê? Porque a verdade estava evidente para todos os judeus. A Revelação Divina tinha sido um evento público; todos a tinham vivenciado. Ninguém poderia alegar que Moshé a tinha maquinado - nem mesmo seu pior inimigo.

E não foram apenas Korach e os inimigos de Moshé que não puderam negar a veracidade da Revelação Divina e a autoria Divina da Torá. Através dos milênios, os inimigos históricos do Povo Judeu tampouco conseguiram argumentar que eram falsidades.

No decorrer da história, muitas inverdades e maldades foram ditas sobre os judeus, mas nunca fomos chamados de “povo inventado”, um povo que inventou sua própria história. Alguém disse, muito apropriadamente, que o elogio de um inimigo vale muito mais do que o de um amigo. Quando mesmo nossos inimigos admitem a veracidade da Revelação Divina e da Torá, é porque a evidência é muito óbvia para ser negada.

A Essência do Povo Judeu
Muitos perguntam como é possível que, apesar de 2.000 anos de exílio, a queda do Templo, os massacres, a Inquisição, as expulsões, os pogroms e, acima de tudo, o Holocausto, nós, judeus, sobrevivemos e permanecemos fiéis a D’us. A resposta é que a Revelação Divina no Sinai ficou gravada no inconsciente coletivo do Povo Judeu. A Voz que se ouviu no Monte Sinai reverbera até hoje no coração de todos nós, mesmo que disso não tenhamos consciência. Cinquenta dias após o Êxodo, D’us Se fez ver a nosso povo e nos deu uma missão. Foi uma missão tão extraordinária que mesmo 2.000 anos de exílio e o Holocausto não foram capazes de abortar.

Que missão foi essa? Está escrito no Livro de Isaías: “Vós sois Minhas testemunhas, diz o Eterno, e Eu sou D’us” (43:12). O Midrash faz uma declaração espantosa: “Enquanto fordes Minhas testemunhas, Eu sou D’us; se deixardes de ser Minhas testemunhas, deixarei de ser D’us”. Como dissemos no artigo anterior, se não fôssemos nós, judeus, toda a humanidade seria deísta1. Nós somos o canal através do qual D’us se tornou conhecido no mundo.

Nossa missão é manter nossa própria existência e, por meio disso, preservar a existência de D’us no mundo. Esta é a missão maior que pode ser atribuída a um povo e a cada um dos indivíduos que o compõem. É uma missão árdua e desafiadora, mas que por ela vale a pena viver e lutar, e que, sem dúvida, constitui o propósito e a essência do Povo Judeu.

Bibliografia:
Rabi Simmons, Shraga, "Sabbatical and Sinai". Artigo publicado  no site: www.aish.com
"Was Moses high on Mount Sinai?". Artigo publicado no site www.msnbc.com

1 O deísmo é uma doutrina que considera a razão como a única via capaz de assegurar a existência de D'us, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada.


SABEDORIA

A verdade: o que é e onde se encontra?
por Rabino Avraham Cohen


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Edição 57 - junho de 2007

Desde que Aristóteles questionou o que seria "a verdade", muitas mentes brilhantes têm tentado defini-la; lamentavelmente, sem o lograr.

Neste mundo em que vivemos, infelizmente há muita mentira. Regimes políticos e profissões, ciências e religiões, artes e literatura, crenças místicas e filosofias, nada está imune a esse mal.

Vivemos sob o império da falsidade. Esta se encontra nos relacionamentos humanos, nas pregações de pseudo-gurus, no discurso político e mesmo na linguagem "convenientemente" dita diplomática, em que vemos grandes líderes fazerem declarações quando, de fato, querem dizer algo totalmente diferente. A realidade é que vivemos cercados da própria mentira camuflada.

O que esperar, então, como resposta, ao tentar falar sobre verdade àqueles que vivem envoltos em falsidade? Ao tratar do tema, não temos a presunção de cobri-lo por inteiro. Nosso intuito é tentar demonstrar aquilo que o judaísmo tem a oferecer acerca de um assunto tão antigo quanto a própria criação do homem.

É muito difícil despertar nas pessoas o desejo de buscar a verdade. Muitos têm uma noção um tanto ilusória a respeito da palavra "verdade". Só estariam dispostos a admitir que o homem pode chegar a conhecer a Verdade se alguém lhes mostrar a verdade total - aquela resposta universal e completa sobre as questões mais profundas e difíceis, para as quais o homem tem procurado resposta desde que o mundo é mundo. E, como ninguém consegue satisfazer esta exigência, concluem, com o ceticismo clássico, que toda verdade é incognoscível. Mas esse tipo de exigência não expressa uma busca sincera pela verdade. A busca sincera inclui descobrir tanto as verdades corriqueiras quanto as supremas, sem exigir, desde logo, respostas definitivas para todas as perguntas.

O que seria, pois, a Verdade? Existiria uma verdade única, intangível e absoluta? Antes de analisar o que o judaísmo tem a dizer a respeito, vejamos algumas opiniões de grandes filósofos e pensadores dos séculos passados.

Há uma corrente de pensamento que sustenta não haver nenhuma verdade além daquilo que é perceptível aos órgãos sensoriais. A "verdade" é a realidade como ela é. Em grego, a palavra para verdade é alithia, a dizer, o não-oculto, não-escondido, não-dissimulado. Verdade é tudo o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito. Verdade é a manifestação de tudo o que é ou existe tal como é. Por exemplo, se ao comer certo alimento, percebermos que é amargo, o gosto do alimento deixa de ser uma suposição, torna-se um dado, uma certeza. E, se virmos que a cor de uma flor é vermelha, não nos caberá dúvidas quanto à sua coloração. Outra corrente de pensamento, no entanto, advoga que cada um tem sua própria verdade, não existindo, portanto, a verdade única. Segundo estes pensadores, não há percepções e sensações uniformes. Estas diferem de ser para ser e de situação para situação. Um exemplo: coloca-se uma mão na água fria e a outra na água quente; e, a seguir, ambas em água morna. Uma mão terá a sensação de que a água está fria enquanto a outra, a de que está quente. Afinal, em qual das mãos está a razão?

Certamente, as duas sensações são verdadeiras, pois cada mão tem uma experiência anterior que justifica a sua afirmação.

Já o judaismo defende a existência de uma verdade única e absoluta, sendo que o ser humano pode, até um certo nível, chegar a alcançá-la.

Perguntamo-nos, qual das opiniões acima seria "a" verdadeira? Talvez todas o sejam; talvez não. Trata-se de uma discussão controversa. Rabi Nachman de Breslav afirmava: "A verdade é uma só. Mas muitas verdades' são mentiras". Refletindo um pouco sobre suas sábias palavras, poderemos entender o ensinamento do grande mestre chassídico.

O judaísmo e a verdade
O Talmud afirma que "o selo de D'us é a verdade". O Eterno é a fonte de todas as virtudes e da absoluta perfeição. Por que então, o "selo" de D'us é a verdade e não um dos outros Atributos Divinos, como a compaixão ou a justiça? De acordo com o sábio Maharal de Praga, isto demonstra que assim como D'us é Único, a verdade também é uma só, e assim como o Eterno é imutável, também a verdade o é. Todos os outros atributos são, de certa forma, relativos. Ao encarar uma situação específica, podemos demonstrar pouca ou muita compaixão, pouca ou muita paciência. Mas, quando se trata da verdade, não há verdades parciais; a verdade é ou não é.

Como reconhecer então o que é verdade? O "Aurélio", Dicionário da Língua Portuguesa, define verdade como sendo a "conformidade com o real". Isto é bastante complicado, já que determinar o que é ou não "real" não é tarefa simples. O que é real para uns, por exemplo, anjos e alma, pode não ser para outros. Segundo essa definição, para determinar o que é verdadeiro, necessitamos conhecer muito bem a realidade.

E como consegui-lo? Como distinguir o que é real? Como separar o fato concreto da opinião subjetiva; como distinguir aquilo que é real, "de verdade", daquilo que é apenas fruto de uma visão pessoal ou da crença de um determinado grupo de pessoas? Ilustrando-o com um exemplo: quatro homens cegos encontram um elefante. O primeiro agarra a pata do animal e acredita ter agarrado o tronco de uma árvore. O segundo segura a cauda e pensa tratar-se de um chicote. O terceiro toca a trompa do elefante e julga ser uma mangueira, enquanto que o quarto homem apalpa o lado do corpo do elefante e tem certeza de que se trata de uma parede. Qual a moral desta história? Muitos usam esta parábola para explicar que tudo, na vida, é relativo. Outros usam-na para exemplificar como agem os diferentes povos: cada povo tira suas próprias conclusões, diferentes entre si, e, presumindo estar com a razão, luta para impor "a sua verdade".

Mas cabe a pergunta: o elefante existe? Naturalmente! O elefante é real e lá está! É uma realidade objetiva, independente de qualquer opinião. A verdade não muda, é uma só, incontestável, ainda que a maioria não concorde com a mesma. Onde, então, teriam errado os quatro cegos? Tiraram suas conclusões sem ter informações suficientes. O que, então, deveriam ter feito? Deveriam ter compartilhado as respectivas impressões e, unindo as partes, obteriam uma "visão", uma idéia mais clara e objetiva. Daí a chegar à identificação do elefante, pouco faltaria. Quando isolamos uma única informação de um conjunto, muito provavelmente, a análise resultante será distorcida. Imaginem um pai que, ao entrar no quarto das crianças, vê o filho se aproximar para bater na irmãzinha. O pai pune apenas o filho, mas o que ele não viu foi que a menina havia provocado o irmão pouco antes dele chegar. Para descobrir a verdade e fazer justiça, precisamos analisar o todo.

A palavra Emet, verdade, em hebraico, é composta de três letras: Alef, Mem e Tav. Alef é a primeira letra do alfabeto hebraico; Mem, a do meio, e Tav, a última. Há uma mensagem contida nesta palavra: para alcançar a verdade é necessário analisar o começo, o meio e o fim, senão, teríamos apenas uma faceta da questão em pauta. Assim sendo, seria impossível ter uma visão clara e verdadeira do assunto.

A verdade é complexa, multifacetada e, por vezes, muito difícil de ser depreendida. No entanto, não é relativa; é objetiva e real. Quando, face a uma questão qualquer, assumimos o compromisso e a franqueza de descobrir o maior número possível de informações sobre a mesma, passamos a ter um retrato mais claro da realidade objetiva. Ou seja, só estando constantemente abertos a desvendar as partes do enigma na busca pelo conjunto completo, pelo todo, chegaremos à verdade.

Pensar por si próprio é ser capaz de alcançar a verdade por meios próprios. Aliás, uma das condições para o desenvolvimento da inteligência é não fazer questão de ter uma opinião diferente apenas para "ser diferente". O importante é fazer questão de tudo analisar por si só e chegar a uma conclusão, sem necessitar da aprovação do grupo ou de quem quer que seja. É mais importante ser capaz de examinar qualquer questão por si próprio do que ter uma opinião diferente dos demais.

O atributo místico para a verdade é Tiferet, que literalmente significa beleza, harmonia. O Maharal define verdade como sendo uma figura inteira e completa - algo que inclui passado, presente e futuro, que inclui a realidade interna e externa. A verdade é a síntese de um todo - a harmonia. Se algo for verdadeiro, deve ser por completo espiritual, física e matematicamente, bem como filosoficamente. Se uma idéia é aplicável apenas em um nível, mas não em algum outro, não pode ser considerada uma verdade absoluta. O Maharal considera a verdade transcendental como a única verdade real, na mais pura acepção da palavra.

Conta-se que Rabi Shneur Zalman de Liadi, grande sábio chassídico, dedicou-se durante 21 anos a alcançar a tão bela e valiosa virtude. Nos primeiros 7 anos, lutou para entender qual a definição exata da verdade. Nos 7 seguintes, afastou-se totalmente da mentira. E ainda precisou de mais 7 anos para introduzir a verdade no mais profundo de seu ser.

Cada um de nós deve esforçar-se para atingir um nível tão elevado de veracidade a ponto de alcançar aquilo que diz o Salmista: "Falar a verdade em seu coração". O Talmud (Macot 24a) relata um exemplo de alguém que incorporou a verdade a tal ponto que lhe era impossível agir de forma diferente. Rav Safra tinha um artigo a vender. Alguém interessado em comprá-lo se aproximou do Rabino, oferecendo seu preço. Como o sábio estava recitando o Shemá, não pôde responder a seu interlocutor. Este não havia percebido que Rav Safra rezava e pensou que sua oferta fora muito baixa. Então, elevou a oferta. Novamente não obteve resposta do Rabino e novamente imaginou que este não aceitara a oferta. Dobrou mais uma vez o valor. O Rabino, que ainda estava absorto em meio ao Shemá, não podia interromper a oração e continuou em silêncio. O outro lançou mão de uma última tentativa, aumentando ainda mais o valor. Depois que Rav Safra terminou a leitura, disse ao comprador que o negócio estava fechado, mas que só aceitaria vender o objeto pelo primeiro preço oferecido, já que, em pensamento, concordara originalmente com aquela oferta.

Eis um trecho do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, que ilustra o comportamento de Rav Safra: "Por onde começa o treinamento da consciência para admitir a verdade? O primeiro grau no aprendizado da verdade consiste em aprender a reconhecer aquelas verdades que só você sabe e que ninguém, fora você, pode confirmar ou negar. Por exemplo, só você conhece suas intenções, só você conhece os atos que praticou em segredo, só você conhece os sentimentos que não confessou. Você, nesses casos, é a única testemunha, e é aí que você vai conhecer a diferença radical e intransponível entre verdade e falsidade. As pessoas que vivem negando a existência de verdades não conhecem essa experiência, nunca deram senão falso testemunho de si mesmas ante o tribunal da consciência, mentem para si mesmas e por isto sentem que tudo no mundo é mentira".

 Fontes:
http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=186&p=2
 http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos.asp?idtipo=3&idsubtipo=3
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