VEDÃNTA
Um sistema filosófico que tem mútua correspondência com o sistema Mimãmsã; ambas representam o princípio transcendente Brahma além do dualismo purusha-prakriti (espírito-matéria).
Na tradição ariano-védica o Eu - Ser universal - habita o indivíduo e lhe dá a vida; transcende o corpo físico, o corpo sutil psíquico e não dispondo de órgãos sensoriais para experienciar, é quem lhes dá a força vital para agir. A filosofia Vedãnta avança pela relação entre a criatura fenomênica e seu anônimo núcleo imperecível, encoberto por diversos envoltórios perecíveis; expressa-se em estrofes adivinhatórias enigmáticas:
“O cego encontrou a jóia;
O sem-dedos a pegou;
O sem-pescoço a vestiu;
E o mudo a elogiou.”
O sem-dedos a pegou;
O sem-pescoço a vestiu;
E o mudo a elogiou.”
O possuidor do corpo não tem olhos, mãos, pescoço e voz, mas realiza tudo através dos corpos denso e sutil, que lhe servem de moradia e veículo; é o verdadeiro ator de todos os atos, mas a eles permanece indiferente, seja na alegria ou no sofrimento.
Ortodoxamente, o supremo dever religioso do homem relativamente aos deuses e aos ancestrais tem sido sempre o de oferecer sacrifícios; o habitante do corpo que preside as obras do indivíduo é quem desempenha este ofício, bem como todas as ações das criaturas, presentes, passadas ou futuras - para ele não há tempo. A autodescoberta e a autoexpressão nunca foram estudadas como meios pelos quais o indivíduo poderia realizar-se.
A primitiva filosofia védica representava o Eu Universal como o supremo reitor de todos os centros de atividade fenomênica e, ao mesmo tempo, testemunha indiferente a tudo - correspondia ao Ser Supremo das mitologias populares indianas: o Senhor Criador, Conservador e Destruidor do mundo. Assim, a realização do indivíduo era buscada anulando a própria individualidade: cada um era tudo.
As filosofias pré-ariano-védicas da Índia, por outro lado (Jainismo, Sãnkhya e Yoga), atribuíam um papel passivo ao Eu Universal, descrevendo-o não como uma força e substância do cosmo, mas como uma mônada vital individual - não havia um Ser divino único que emana energia e substância desde um abismo transcendental. Toda a ação pertencia ao mundo da matéria. Cada mônada vital era uma entidade individual e, segundo o Jainismo (Mimãnsã), um habitante solitário da matéria cósmica, ou conforme a Sãnkhya, o reflexo do redemoinho daquela mesma matéria.
As mônadas são comparadas a rolhas flutuantes passivas no grande rio das águas cósmicas dos ciclos de nascimentos e mortes. Não eram reflexos de um poder divino universal, faíscas de eterna chama, substancialmente idênticas a ele e entre si, nem pretendiam fundir-se em algum ser único - procuravam realizar seu próprio e intrínseco isolamento, desembaraçando-se da matéria na qual se via inserido e flutuando, e, com isto, libertando-se. Isto os diferenciava dos hinos védicos, das Upanishad e dos ensinamentos do Bahgavad Gitã.
Sãnkhara, fundador deste Sistema não dualista, consta ter vivido apenas 32 anos. Lendariamente um discípulo de Govinda. Filosofava sobre Brahmasutra, Bahgavad Gitã e os Upanishad, deixando a importante obra de Vivekacudamãni; sistematizou a doutrina que tomava o Eu Universal (Ãtman) como única realidade e tudo o mais como produto da ignorância (avydia) , incluindo o cosmo e o ego interior ; afirma que, quando o Eu Universal é conhecido, não há mayã.
A Vedãnta postula que o Eu Universal está oculto por 5 envoltórios psicossomáticos:
ENVOLTÓRIO PSICOSSOMÁTICO | COMPOSIÇÃO | CORPO | PLANO DA CONSCIÊNCIA |
Anna-mãyã-kosha | Alimentação | Denso | Vigília |
Prana-mãyã-kosha | Respiração | Forças vitais | Adormecida |
Mano-mãyã-kosha | Sentidos | Sutil | Sonho |
Vijnãna-mãyã-kosha | Compreensão | Mais sutil | Sonho |
Ãnanda-mãyã-kosha | Beatitude | Causal | Sono profundo |
O Eu Universal está além do corpo causal; não brilha como água num tanque coberto por grossa massas de matéria densa criada de seu próprio poder.
Tal como na filosofia Sãnkhia, a Vedãnta estabelece que somente a sabedoria consegue atingir a liberação (moksa) dos envoltórios e cadeias de ignorância. Esta sabedoria já está presente no interior de cada um - a liberação é a realização de nossa natureza e pode ser obtida pelo pensamento crítico (segundo a Sãnkhia) e pelas práticas de expansão da mente (segundo a Yoga).
As virtudes morais são praticadas como exercício preparatório da transposição final. O candidato à Escola vedantina tem de haver cumprido os deveres sociais e religiosos (Dhãrma); estar qualificado por nascimento, estudado os 4 Veda, ser capaz de discriminar as coisas permanentes das transitórias, possuir 6 virtudes, ter fé e assistência de um guru qualificado.
O grande tema do pensamento vedantino é a identidade da mônada vital individual com Brahma, cuja natureza é pura consciência. Significa que o caminho da devoção tem de ser transcendido.
Fonte:
http://acaohindu.sites.uol.com.br/filosofia2.htm
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