Platão (428-347 a.C.) | ||||||||||||||||
Platão é com Aristóteles uma das referências fundamentais do pensamento ocidental. Platão, como diz François Châtelet inventou a Filosofia: "definiu o que a cultura daí em diante vai entender por Razão". Nasceu em Atenas, ou na ilha de Egina, em Maio -Junho do primeiro ano da 88ª. Olimpíada, ou seja, cerca de 428-27 a.C. Era originário de uma antiga família aristocrática ateniense, contando entre os seus antepassados, por parte da mãe o célebre legislador Sólon (c.639-559 a.C.), e do pai, o rei Codro. O pai, Aríston deve ter morrido cedo, pois a mãe Perictíone, voltou a casar com o seu tio Pirilampo, de quem teve um filho, Antífion. O seu verdadeiro nome era Arístocles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão (significa literalmente "ombros largos"). Frequentou com assiduídade os ginásios, obtendo prémios por duas vezes nos Jogos Istímicos. Começou por seguir as lições de Crátilo, discípulo de Heraclito, e as de Hermógenes, discípulo de Parménides. Em princípio, por tradição familiar deveria seguir a vida política. Contudo, a experiência do governo dos trinta tiranos que governaram Atenas por imposição de Esparta (404-403 a.C.), e da qual fazia parte dois dos seus tios Crístias e Cármides, distanciaram-no desta opção de vida, pelo menos do modo como a política era exercida. O facto que mais o marcou foi a influência que sobre ele exerceu Sócrates, tendo-se feito seu discípulo por volta de 408, quando contava vinte anos. Nele encontrou o mestre, que veio a homenagear na sua obra, fazendo-o interlocutor principal da quase totalidade dos seus diálogos. A condenação de Sócrates (399), e a sua ação para o salvar, obrigaram-no a exilar-se nesse ano. Desiludido com o regime aristocrático, mas também com a democracia ateniense, passou a defender que as leis e os costumes dos povos deviam ser baseadas em concepções filosóficas. Depois de 399 iniciou uma série de viagens durante cerca de doze anos, o que lhe abriu novos horizontes. Em Megara conviveu com o célebre Euclides e Terpsíon, discípulos de Sócrates. Regressou a Atenas para servir na cavalaria, como os seus irmãos. Voltou a viajar, desta vez foi ao Egipto onde teria sido iniciado nos mistérios de Isis Depois foi a Cirene onde estudou matemáticas com Teodoro, fazendo-o depois seu interlocutor no diálogo Teeteto. No sul da Grande Grécia (Itália), em Taranto, aprendeu a filosofia pitagórica através de Filolau, Arquitas e Timeu. Em Creta estudou legislação de Minos. Há quem afirme que terá estado na Judeia, onde contactou com a tradição dos profetas, e até nas margens do Ganges terá conhecido místicos hindus. Em 388 visitou a Sicília, então governada por Dionísio, o Antigo, com o propósito de converter este tirano às suas ideias filosóficas. Não tendo êxito nesta primeira investida, regressou a Atenas, em 387, onde nos jardins de Academo, junto dum templo consagrado às Musas fundou uma escola, denominada, por este fato, Academia. Esta rapidamente se tornou no maior centro intelectual da Antiga Grécia, tendo por ela passado filósofos e políticos, como Aristóteles, Eudoxo de Cnido, Xenócrates, Fócion, Esquines, Demóstenes e outros. À entrada uma legenda proibia o acesso a todos aqueles que não soubessem geometria. A academia era um verdadeiro centro de investigação, tendo como centro aquilo que podíamos designar por uma "ciência da alma humana". Ficou em Atenas, cerca de vinte anos, até que em 367, voltou à Sicília, com a ideia de converter o novo monarca - Dionísio, o Moço -, num filósofo-rei. Os resultados não foram brilhantes, o que não o impediu de voltar à ilha em 361, com idênticos propósitos. O resultado desta última viagem foi terrível: suspeito pelas suas ideias políticas, foi perseguido e feito escravo, sendo como tal vendido no mercado de Egina, acabando por ser comprado por um dos seus amigos. Voltou a Atenas onde morreu em 347, numa altura que a cidade lutava contra Filipe da Macedónia, e cujo desfecho lhe foi fatal. A direcção da Academia foi inicialmente assumida pelo seu sobrinho Espeusito, por morte deste sucedeu-lhe Xenócrates. A Academia subsistiu até 529 da nossa era, quando foi mandada encerrar por Justiniano. A corrente filosófica conhecida por platonismo -originada do pensamento de Platão-, aparece constantemente na história do pensamento, influenciando não apenas filósofos, mas também artistas e cientistas até aos nossos dias. Obras de Platão Ao contrário das obras de Aristóteles que chegaram até nós, as de Platão foram escritas para o grande público. O conjunto das obras que lhe são atribuídas é constituido por 35 diálogos, algumas cartas, definições e 6 pequenos diálogos apócrifos: Axíoco, Da Justiça, Da Virtude, Demódoco, Sísifo, Eríxias. Os diálogos hoje considerados autênticos, reduzem-se todavia apenas a 24, sendo em geral dividos em quatro grupos, de acordo com a sua maior ou menor proximidade às ideias socráticas.- Diálogos de juventude, onde é nítida a influência socrática: Laques, Cármide, Eutrifrom, Hipias Menor, Apologia de Sócrates, Críton, Ion, Protágoras, Lísis; - Diálogos dirigidos contra os sofistas: Górgias, Ménon, Eutidemo, Crítias, Teeteto; - Diálogos de maturidade, onde é desenvolvida de forma admirável a sua teoria das idéias: Fedro, Banquete, Fédon e República; - Diálogos onde realiza uma revisão crítica da sua filosofia: Parménides, Sofista, Político, Filebo, Timeu, e as Leis, esta obra não foi concluída.
Principais Domínios de Investigação Platão parte sempre do todo para as partes. Apreender a sua Filosofia é descobrir um sedutor modo de pensar em que tudo remete para tudo, e nada pode ser separado.Teoria do Conhecimento Recusou que se pudesse falar num conhecimento baseado no mundo sensível, pois este apenas nos pode dar opiniões mutáveis e ilusórias. Defendeu por isso que o verdadeiro conhecimento estava em ideias eternas que existiam num mundo separado das coisas sensíveis. Estas foram eram imitações, mais ou menos prefeitas das ideias. Sustentou ainda que todos os seres humanos, em graus variáveis, quando nascem já possuem muitas destas ideias. Neste sentido, conhecer ou aprender é recordar aquilo que está obscurecido na alma.Moral Combatendo o relativismo dos valores, defendido pelos sofistas, sustentou que o único dever do homem é procurar o Bem, que identifica com o Belo e o Uno. Para o atingir, a única via possível passa pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais.Política A política é entendida como o estudo normativo dos príncípios teóricos do governo dos homens, encontrando o seu fundamento no estudo da alma humana. Estética A sua estética é indissociável da teoria das ideias. Como as idéias são imutáveis e eternas, se pretendemos apreciar as obras de arte devemos seguir estes príncípios, exigindo que elas se aproximem das idéias, o mesmo é dizer da perfeição. Neste sentido, Platão não pode admitir qualquer mudança ou inovação no campo artistíco. Um vez atingida a obra de arte ideal, isto é, perfeita, só resta aos artistas continuar a replicá-la eternamente.Cosmologia Fédon, de Platão Considerações Gerais -Textos Provisórios Antes de iniciar a leitura desta obra de Platão, sugiro que leia a sua biografia e algumas notas sobre a sua filosofia.Teorias Platónicas que devem ser previamente analisadas Teoria da idéias. Platão parte do pressuposto que existem dois mundos. O primeiro é constituído por ideias eternas, invisiveis e dotadas de uma existência diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das ideias (coisas sensíveis). Com base neste pressuposto afirmou que os sentidos estão permanentemente a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos, mas só pode ser intuida através da razão, e está no mundo das ideias. Esta teoria surge em diálogos como Fédon, como um pressuposto aceite pelos vários interlocutores. Teoria das Ideias (Ideia e Cópias) Teoria da Participação. Esta teoria assenta no pressuposto que existe uma relação entre as coisas sensíveis e as ideias (eternas, belas, unas, imutáveis). As coisas sensíveis são belas porque participam da ideia de belo. Todas as coisas que existem no mundo sensível foram feitas à imagem das Ideias. Um única ideia tem uma multiplicidade de cópias-coisas. As provas desta participação, afirma Platão, podem reconhecer-se na harmonia e organização do mundo sensível. Teoria da Metempsicose. Esta teoria pressupõe a imortalidade da alma e as sucessivas reincarnações. Ao incarnar num corpo, a alma irá recordar o que outraora contemplou no mundo das ideias. Esta teoria serve de fundamento à da Reminiscência. Teoria da Reminiscência. Esta teoria pressupõe a existência de um saber inato que pode ser recordado. Principais questões colocadas no Fédon Imortalidade da alma. A questão central deste diálogo.Platão procura dar neste diálogo uma fundamentação filosófica da Psyké (princípio vital, alma) até então muito envolto em concepções mágico-religiosas (cfr.E.R.Dodds).Todas as provas que apresenta para a imortalidade da alma são apoiadas na sua teoria das ideias: a) O conhecimento como reminiscência das ideias contempladas; b) o conhecimento das ideias pela alma demonstra a semelhança desta com aquelas; c) As coisas são o que são devido à sua participação nas ideias. Dualismo antropológico. O corpo é associado a um túmulo que aprisiona a alma e a impede de pensar-se a si própria e a toda a realidade. A alma só o poderá fazer separando-se das necessidades e fruições corporóreas, o que só acontecerá após a morte, na outra vida, mas para que isso aconteça é necessário que a alma esteja preparada. Teoria do conhecimento. Platão começa por distinguir neste diálogo, o mundo sensível do mundo inteligível.O primeiro só nos permite um conhecimento aparente do mundo e portanto não um verdadeiro conhecimento. Os sentidos constituem verdadeiros obstáculos para a alma de atingir o verdadeiro conhecimento, o que só o poderá obter afastando-se ou libertando-se do corpo (sentidos).A fim de garantir a possibilidade do próprio conhecimento Platão sustentam que as coisas sensíveis são cópias (sombras) das ideias que a alma contemplou no mundo inteligível. Quando esta reincarna num corpo trás consigo recordações destas formas (ideias inatas), transformando deste modo toda a aprendizagem numa recordação. Ideias Inatas. O ciclo de reincarnações da alma fundamenta a teoria da reminiscência e a do conhecimento. Questão que emerge desta concepção: Qual o valor do conhecimento sensível e da aprendizagem ?. Isomorfismo da Alma com o Cosmos (107d-114c). A concepção da alma em Platão, dividida em três partes (Alma Racional, Alma Irascível e Alma Concupiscente) tem um paralelismo na sua concepção de Estado (Polis), onde encontramos também três funções básicas (função económica, defensiva e legislativa), mas também na sua concepção do cosmos onde sustenta a existência de três terras (Fédon, Cap.VIII). Política.A teoria política de Platão está intimamente relacionada com a sua teoria das ideias. Só um Estado governado por quem tem o conhecimento dos fundamentos da ordem e da justiça, pode ser ordenado e justo. Moral.O renascimento das almas após a morte, sob formas desiguais, fundamenta a justiça que transcende os homens e que os julga pelas escolhas que fizerem durante a vida. Teoria do Conhecimento Nesta obra Platão desenvolve um conjunto de questões sobre o conhecimento com enormes repercussões na história do pensamento ocidental. O objecto da ciência não são as coisas sensíveis, mas as ideias (eternas, unas e imutáveis). As ideias são o objecto visado pelo conhecimento racional Os sofistas não foram além das aparências, limitaram-se a emitir opiniões sobre as aparências sensíveis Os filósofos são os únicos que procuram o verdadeiro conhecimento ultrapassando o domínio das aparências sensíveis. A tarefa da filosofia é afastar a alma da investigação feita com o olhos, com os ouvidos e os outros sentidos, levando- a a concentrar-se em si própria para aí descobrir o Ser, aquilo que é. A alma deve assim separar-se o mais possível do corpo (mundo sensível), preparando-se para a morte (o regresso ao mundo das ideias). As ideias são os critérios ou princípios de julgamento das coisas sensíveis As ideias permitem-nos julgar as coisas, quer quanto à sua semelhança, perfeição ou imperfeição. Servem-nos igualmente para julgar do que é bom, justo, belo e outros valores que atribuímos ás coisas As ideias são as causas das coisas no mundo sensível As ideias são as causas das coisas do mundo sensível, a sua razão de ser (fim). Isomormisfismo entre a Alma e o Cosmos lmortalidade da Alma As "provas" da imortalidade da alma constituem o núcleo central do Fédon, para a fundamentação das quais serão evocadas as várias teorias (Teoria da Ideias, da Reminiscência e da Reincarnação). 1º. Argumento: O devir faz-se através da sucessão ciclica de coisas contrárias. Esta teoria que remonta a Heraclito. Os contrários sucedem-se alternadamente. Do pequeno se faz o grande e do grande o pequeno. O sonho sucede à vigilia, a decomposição à composição, como a morte se sucede à vida e esta àquela. De acordo com este princípio, a existência terrena seria precedida de uma vida anterior oposta à morte (teoria da metempsicose). Neste processo é contudo necessário, que algo permaneça através dos ciclos de vida e da morte: a alma, enquanto princípio da vida. 2º. Argumento: Reminisciência. Para que alguém recorde algo, é necessário que antes tenha aprendido.Aquilo que recordamos aprendemos numa outra existência, na qual a lama contemplou as ideias. Platão afirma deste modo que a alma pré-existe ao corpo e sobrevive à sua morte. 3º. Argumento: Simplicidade da alma e sua afinidade com a Ideias . As coisas simples simples - as Ideias -, distinguem-se das compostas -os corpos -, por serem eternas, invisiveis e imutáveis. Num homem podemos distinguir a alma e o corpo. A alma é simples e o corpo é composto.Logo, temos que convir que à alma pertencem todas as características que são próprias das ideias, sendo portanto imortal. 4º. Argumento:Incompatiblidade dos Opostos. As coisas particulares do mundo sensível tem existência e realidade quando participam nas ideias. Mas uma coisa não pode participar da Ideia que lhe é oposta (par no impar, calor no frio, saúde no frio, bom no mau). Ora a vida e a morte são opostos. A alma participa na ideia de vida, logo exclui a sua ideia contrária, a morte. A alma ao aproximar-se da morte ( o seu contrário) afasta-se, libertando-se. Podemos pois concluir que a alma é imortal.
Carlos Fontes Navegando na Filosofia http://afilosofia.no.sapo.pt/platao1.htm | ||||||||||||||||
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
PLATÃO
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