Johann Sebastian Bach - o Mestre da Música -91min
O pecado original é uma doutrina cristã que pretende explicar a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do homem. 1 Tal doutrina não existe no Judaísmo2 nem no Islamismo.3 Foi desenvolvida por bispo Irineu de Lyon (ca. 130 — 202), em sua controvérsia com o dualismo do Gnosticismo.
A doutrina do pecado original se apoia em várias passagens das Escrituras: a epístola de Paulo aos Romanos (5:12-21) e aos Coríntios (1 Co 15:22), e uma passagem do Salmo 51. Mas primeira exposição sistemática sobre o pecado original - de cuja interpretação derivaram todas as controvérsias - é a de Agostinho de Hipona, no século IV 4 . Foi também no século IV que se deu a conversão do Império Romano ao catolicismo. Segundo Le Goff, o dogma do pecado original teria contribuído para aumentar o poder de controle da Igreja sobre a vida sexual, na Idade Média. 5
Segundo a doutrina, os primeiros seres humanos e antepassados da humanidade, Adão e Eva, foram advertidos por Deus de que, se comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreriam. No entanto, instigados pela serpente, ambos comeram o fruto proibido, tendo Eva cedido primeiramente à tentação e posteriormente oferecido o fruto a Adão, que o aceitou. Ambos continuaram vivos, mas foram expulsos do Jardim do Éden. Existem polêmicas quanto ao significado real dessa narrativa, bem como em que se constituiria tal pecado, se é que seria realmente algum. Algumas denominações cristãs recentes chegam mesmo a negar a sua existência. Na perspectiva cristã, contudo, a morte (imerecida) de Cristo é recorrentemente suposta como necessária para salvar os seres humanos desse "pecado de origem", que seria congênito e hereditário.
Nenhum trecho bíblico traz esclarecimentos que possam colocar fim a essa que é uma das maiores questões do cristianismo. As doutrinas a respeito do pecado original têm sido historicamente um dos principais motivos para o surgimento de heresias e para os cisma entre os cristãos, desde os primeiros séculos da era cristã. Várias interpretações divergentes sobre o significado da narrativa contida no livro do Gênesis foram dadas por teólogos, antropólogos e psicanalistas.
Cristianismo
A questão do pecado aparece no cristianismo principalmente em Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), que associa o pecado à culpa herdada por todo o gênero humano depois que Adão e Eva sucumbiram à tentação do Diabo e, devido ao seu orgulho e egoísmo, rejeitaram o amor e a obediência devida a Deus. Assim sendo, o pecado original tem para Agostinho um caráter congênito e hereditário, pois em Adão toda a humanidade pecou, abrindo as portas para a entrada do mal, da morte física e espiritual e de todas as suas consequências.
Surge então a questão do Pelagianismo. Pelágio (360 - 435) vê no pecado uma espécie de exemplo a não ser seguido, o que faria com que a salvação dependesse exclusivamente do ser humano. Segundo Pelágio o pecado não seria congênito nem transmitido, mas seria adquirido por imitação. Para Pelágio, o homem nasceria bom e inocente. Agostinho discorda dessa tese e vê nas doutrinas pelagianas a manifestação da presunção humana que erroneamente levaria a supor que a salvação depende apenas de nossa vontade, de nossos próprio atos, escolhas e obras, negando o caráter salvador e redentor de Jesus Cristo. A visão agostiniana do pecado original foi herdada por todo o cristianismo ocidental e está presente em todas as denominações cristãs históricas católicas ou protestantes.
A semente da serpente
A semente da serpente é uma nova revelação doutrinária sobre a questão do pecado original. Esta nova revelação foi recebida por um evangelista americano que viveu no século XX (1909 - 1965), chamado William Marrion Branham. Baseado em tradições apócrifas judaicas e gnósticas, Branham afirmava ter recebido a revelação particular de que o Pecado Original teria sua origem no fato de Eva ter copulado com a serpente, a qual introduzira nas gerações humanas sua semente, dando origem a posteridade de Caim, a qual contaminou toda a humanidade.Judaísmo e Islamismo
Para o Judaísmo e o Islamismo, não há pecado original. Judeus e muçulmanos adotam a doutrina pelagiana, embora segundo a doutrina muçulmana todos os seres humanos ao nascerem sejam tocados pelo Diabo.Exceções
Todas as religiões cristãs compartilham a crença de que Jesus Cristo nasceu sem o pecado original. Sua natureza era em tudo igual à humana com exceção do pecado.A Igreja Católica Romana, no século XIX, mais precisamente no ano de 1854 através do Papa Pio IX acrescentou a seus dogmas mais uma exceção, a Virgem Maria, mãe de Jesus, que teria sido concebida sem o Pecado Original: é o dogma da Imaculada Conceição. Segundo este dogma, a Virgem Maria teria sido preservada desde sua concepção de toda contaminação do Pecado Original devido a providência divina, pois ela haveria de ser a Mãe de Jesus Cristo. Esta doutrina de origem Franciscana data da Baixa Idade Média, tendo sido combatida enfaticamente por grandes expoentes da doutrina católica especialmente pelos Dominicanos entre os quais São Tomás de Aquino e pelo Cisterciense São Bernardo de Claravaux.
O Islamismo afirma que a Virgem Maria não foi tocada por Satanás ao nascer.
As Igrejas Ortodoxas Orientais afirmam que a Virgem Maria nasceu com o Pecado Original. Entretanto, ela foi preservada devido a graça divina de todo e qualquer pecado atual, até ser completamente purificada do Pecado Original quando se deu a encarnação do Verbo durante a Anunciação.
Psicanálise
Na perspectiva psicanalista foi sugerido que o pecado mencionado no Gênesis teria sido o ato sexual. Esta explicação não encontra, contudo, raízes nas tradições judaicas pré-cristãs, em que a união carnal entre o homem e a mulher foi estabelecida por Deus. Entretanto se o pecado original fosse o ato sexual, Deus mesmo teria induzido o homem ao pecado, quando ordenou, crescei, multiplicai e enchei a Terra.Segue-se uma das explicações "antropológicas" (entendida no contexto de que o livro sagrado pretende a apresentação de uma explicação ou uma construção explicativa das origens do universo, do nosso mundo, da humanidade, da civilização em geral e da hebraica em particular, e por fim das origens do bem e do mal): Até atingir a fase da "civilização" o homem vivia no "estado de natureza", em oposição ao "estado de cultura", explicação essa totalmente compatível com o evolucionismo darwinista.
O comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal seria o divisor de águas, ou seja a ruptura da comunhão entre o ser humano e a natureza. A partir de então o homem passou a reconhecer-se como separado e independente da natureza, adquirindo consciência de sua morte e finitude, adotando valores, crenças e objetivos independentes da natureza. Deu-se a traumática transição do animal para o hominal, como definia Teilhard de Chardin.
Como consequência, o homem se envergonhou da nudez, tomou consciência da morte e da mortalidade, e passou a trabalhar para acumular.
O texto ainda lança uma espécie de enigma da transcendência: a árvore da vida com seu fruto, impedida ao homem pelas espadas flamejantes de querubins. Não se trata, evidentemente, de frutas nem árvores, mas de um simbolismo espiritual cujo significado vem desafiando a humanidade ao longo dos milênios: o desejo de viver eternamente.
Magnitude do Primeiro Pecado.
Por causa dele a Todos os que
Estiveram Fora da Graça do Salvador
é Devida a Pena Eterna
por
Santo Agostinho
Agostinho de Hipona
Uma pena eterna parece
dura e injusta para a sensibilidade humana porque, nesta fraqueza das nossas
faculdades destinadas à morte, falta aquele sentido da altíssima
e puríssima sabedoria com que se possa conceber quão grande
foi o crime cometido na primeira queda. Efetivamente, quanto mais o homem
gozava de Deus com tanto maior impiedade o homem abandonou a Deus e se tornou
digno dum mal eterno aquele que em si destruiu um bem que poderia ser eterno.
Daí resulta que se tenha tornado em massa condenada (massa
damnata) todo o gênero humano— porque o primeiro que esse
crime cometeu, foi punido com a sua estirpe, que nele estava radicada, de
maneira que ninguém é libertado deste justo e merecido castigo
a não ser por uma graça misericordiosa e imerecida; e assim
se distribui o gênero humano: nuns patenteia-se o que pode a graça
misericordiosa, e noutros a justa vindicta.
Não poderia mostrar-se
uma coisa e outra — graça e vindicta — em todos porque,
se todos ficassem nas penas duma justa condenação, em nenhum
se patentearia a graça misericordiosa e, ao invés, se todos
fossem transferidos das trevas para a luz, em nenhum se patentearia a verdade
da punição. Neste caso estão muitos mais homens do
que naquele para que, assim, se mostre o que a todos era devido. E, se a
todos fosse dado esse devido, ninguém teria a reprovar justificadamente
a justiça do vingador; porque, porém, são em tão
grande número os libertados, é caso para que sejam dadas as
maiores graças pelo dom gratuito do libertador.
Se o fogo da Geena é corporal poderá ele,
por
seu contato, queimar os espíritos malignos,
isto é, os demônios incorpóreos?
por
Santo Agostinho
Aqui ocorre-nos perguntar: se o fogo não for incorpóreo, como o é a dor da alma, mas corpóreo, molesto ao contato, de modo a poder torturar os corpos — como é que nele se verificará o castigo dos espíritos malignos? Realmente, conforme disse Cristo, o mesmo fogo será destinado ao suplício tanto dos homens como dos demônios:
Afastai-vos de mim,
malditos,
para o fogo eterno que já está preparado
para o
Diabo e os seus anjos. [1]
A não ser que os
demônios tenham também um certo tipo de corpos, como julgam
alguns homens doutos, corpos esses constituídos por esse ar espesso
e úmido de que sentimos o movimento quando o vento sopra. Esse gênero
de elemento, se nada pudesse sofrer no fogo, posto em ebulição
nos banhos não queimaria. De fato, para queimar deve antes ser queimado
e atua ao mesmo tempo que é afetado.
Mas se se pretende que os demônios
não têm corpos, não há que trabalhar mais numa
afanosa pesquisa nem que trabalhar em teimosas discussões. Porque
é que, realmente, não dizemos que os espíritos incorpóreos
podem ser atormentados com a pena de um fogo corpóreo, de forma real,
embora maravilhosa, se os espíritos dos homens, sem dúvida
incorpóreos eles também, puderam ser agora encerrados em membros
corpóreos e poderão depois ficar ligados aos seus próprios
corpos por vínculos indissolúveis?
Se não têm
corpos, aderirão, estes espíritos dos demônios, ou melhor,
estes espíritos-demônios incorpóreos, a fogos corpóreos
para por estes serem torturados: não é que estes fogos, a
que eles se hão-de ligar, nesta união recebam um sopro de
vida (inspirentur) e se tornem em seres animados, compostos de
espírito e de corpo, mas, como já disse, nesta forma maravilhosa
e inexprimível de vida; porque também este outro modo, em
conformidade com o qual os espíritos se unem aos corpos e os tornam
vivos, é a tal ponto maravilhoso que nem pelo próprio homem
pode ser compreendido — e, no entanto, isso é o próprio
homem.
O que eu diria é
que esses espíritos sem qualquer espécie de corpo arderão,
como ardia nos infernos aquele rico quando dizia:
Sou atormentado nesta
chama [2],
se eu não notasse
que me poderiam propositadamente responder que tal chama era da mesma natureza
que os olhos que ele levantou e lhe fizeram ver Lázaro, da mesma
natureza que a língua para a qual desejou que lhe derramassem um
pouco de líquido, da mesma natureza que o dedo de Lázaro ao
qual pediu que isto lhe fosse feito — e, todavia, as almas estavam
lá sem corpo. Se, portanto, é incorpórea esta chama
que queima e esta gotinha que ele suplica, são então como
as visões dos que dormem ou dos que, em êxtase, vêem
coisas incorpóreas apresentando, porém, as aparências
dos corpos.
É que o próprio homem, quando está em tais
visões em espírito e não com o corpo, vê-se então
tão semelhante ao seu corpo que não é capaz de dele
se distinguir. Mas essa geena que também se chama lago de fogo
e de enxofre (stagnum ignis et sulphuris) será um fogo
corpóreo e atormentará os corpos dos condenados, quer dos
homens quer dos demônios — sólidos os dos homens, aéreos
os dos demônios — ou apenas os corpos dos homens com os seus
espíritos e os dos demônios-espíritos sem corpos, unindo-se
ao fogo corpóreo para dele absorverem a pena sem com ele partilharem
a vida. Um só, realmente, será o fogo para uns e outros, como
o afirmou a Verdade.
Resposta
a Dar aos que Julgam que a Ressusrreição
diz
Respeito apenas aos Corpos e Não às Almas Também
Respeito apenas aos Corpos e Não às Almas Também
por
Agostinho
Há os que pensam que não se pode falar senão da ressurreição dos corpos e por isso entendem que também esta primeira ressurreição se há-de verificar nos corpos.
Efectivamente, dizem eles, levantar-se (resurgere) é próprio de quem cai. E os corpos, quando se morre, é que caem. É até do facto de caírem que tomam o nome de cadáver [Embora etimologistas como Bréal e Bailly se limitem a referir o termo cadaver sem o filiarem no étimo cado - cair - (V. Michael Bréal et Anatole Bailly - Leçons de Mots, Dict. Etym. latin, 11.ª ed., p. 28) é opinião geral que a etimologia de "cadaver" apontada por Santo Agostinho é correcta (V. Ernout-Meillet, Dict. Etym. de la langue lat., p. 145).
É fantasista a etimologia de cadáver como proveniente de caro data vermis - carne dada aos vermes.].
Não pode, portanto, haver ressurreição das almas, dizem eles, mas dos corpos. Mas que responderão ao Apóstolo que a isto chama ressurreição ? Efectivamente , foi segundo o homem interior e não segundo o homem exterior que ressuscitaram na verdade aqueles de quem disse:
Se ressuscitastes com Cristo, saboreai as coisas do Alto (Si resurrexistis cum Christo, quae sursum sunt sapite - Colossenses 3:1).
Este mesmo sentido o expressa ele noutra passagem por outras palavras:
Assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós caminhamos numa vida nova (Ut quem ad modum Christus resurrexit a mortuis per gloriam Patris, sic et nos in novitate vitae ambulemus - Romanos 6:14).
Daí ainda isto:
Levanta-te tu que dormes e sai do meio dos mortos e Cristo te iluminará (Surge qui dormis et exurge a mortuis, et inluminabit te Christus - Efésios 5:14).
Os que dizem que só se podem levantar os que caem e por isso julgam que a ressurreição pertence aos corpos e não às almas porque cair é próprio dos corpos, - porque não prestam eles atenção ao seguinte:
Não vos afasteis dele, para que não caiais (Non recedatis ab illo, ne cadatis - Eclesiastes 2:7);
e a isto:
Que se mantenha de pé ou que caia, isso é com o Senhor (Suo Domino stat aut cadit - Romanos 14:4);
e ainda a isto:
O que julga que se aguenta de pé tenha cuidado não caia (Qui se putat stare, caveat ne cadat - 1 Coríntios 10:12)?
Penso que estas quedas devem ser evitadas na alma e não no corpo. Se, portanto, a ressurreição é própria dos que caem, e as almas também caem, então temos que reconhecer que também as almas ressuscitam.
E depois de ter dito:
Sobre eles não tem a morte poder (In istis secunda mors non habet potestatem - Apocalipse 20:6),
diz em acrescentamento:
Mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e com eles reinarão durante mil anos (Sed erunt sacerdotes Dei et Christi et regnabunt com eo mille annis - Apocalipse 20:5),
com certeza que isto não foi dito apenas dos bispos e dos presbíteros, que são propriamente os que se chamam na Igreja sacerdotes; mas, assim como nós chamamos a todos Cristos por causa do crisma místico, assim também a todos chamamos sacerdotes porque são membros de um sacerdote único: é destes que diz o apóstolo Pedro:
Povo santo, sacerdócio real
(Plebs sancta, regale sacerdotium - 1 Pedro 2:9);
É certo que, embora brevemente e de passagem o Apocalipse insinue que Cristo é Deus ao dizer:
Sacerdotes de Deus e de Cristo (Sacerdotes Dei et Christi - Apocalipse 20:6),
isto é, do Pai e do Filho, não obstante a sua aparência de escravo, como um filho de homem, Cristo foi instituído sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquísedec. Já mais de uma vez falamos deste assunto nesta obra. - Extraído de: A Cidade de Deus - De Civitate Dei.
Dos que Julgam que para Ninguém
Haverá Penas de Duração Eterna
Haverá Penas de Duração Eterna
por
Santo Agostinho
E agora reparo que devo ocupar-me dos nossos misericordiosos e pacatamente discutir com aqueles que não querem crer que venha a haver uma pena eterna nem para todos os homens que o mais justo dos juízes julgar merecedores do suplício da Geena nem mesmo, para alguns deles. Julgam que, decorridos certos períodos de tempo, mais longos ou mais breves, conforme a importância do pecado de cada um, serão todos libertados.
Nesta
questão o mais misericordioso foi com certeza Orígenes,
que acreditou que o próprio Diabo e os seus anjos, após suplícios
mais graves e mais prolongados, conforme as suas culpas, devem ser tirados
dos seus tormentos e associados aos santos anjos. Mas, não sem razão,
a Igreja condenou-o por causa disso e por causa de outros casos, principalmente
por causa daqueles períodos de felicidade e de desgraça, que
se alternam sem cessar, e daquele vaivém sem fim, desta para aquela
e daquela para esta, em períodos fixos de séculos.
De resto,
ele perdeu aquilo que o fazia parecer misericordioso, criando para os santos
verdadeiros misérias pelas quais eles sofreriam penas e falsas beatitudes
nas quais já não teriam o gozo do bom sempiterno, verdadeiro
e seguro, isto é, certo e sem receios. Mas quão diversamente,
devido ao sentimento humano, se desencaminha a misericórdia dos que
consideram temporais os sofrimentos dos homens condenados por tal juízo,
mas eterna a felicidade de todos os que, mais cedo ou mais tarde, foram
libertados!
Se esta opinião é boa e verdadeira porque é
misericordiosa, será tanto melhor e mais verdadeira quanto mais misericordiosa
for. Alargue-se, portanto, e torne-se mais funda a fonte dessa misericórdia
até aos anjos condenados e que sejam libertados das suas penas, pelo
menos depois de muitos e larguíssimos séculos, tanto quantos
quisermos!
Porque é que ela se derrama por toda a natureza humana
e, quando chegar à natureza angélica, logo se estanca? Não
ousam, porém, estender a sua compaixão até chegarem
à libertação do próprio Diabo. Na verdade, se
alguém o ousasse, venceria, sem dúvida, os outros. Todavia,
cairia num erro tanto mais exagerado e contrário ao reto sentido
da palavra de Deus, quanto maior sentimento de clemência julga ter. (A
Cidade de Deus, Volume III, Fundação Calouste Gulbenkian,
páginas 2185-2186).
Se
os Corpos das Mulheres Ressuscitarão
Mantendo-se no Seu Sexo
Mantendo-se no Seu Sexo
por
Agostinho
Alguns, baseados nestas palavras:
Até que cheguemos todos à unidade da fé, ao homem
perfeito, à medida da plenitude da idade de Cristo (Donec
occurramus omnes (in unitatem fidei) in virum perfectum, in mensuram aetatis
plenitudinis
Cristri - Efésios 4:13),
e nestas outras:
Conformes à imagem do Filho de Deus
(Conformes
imaginis filii dei - Romanos 8:29),
não acreditam que as mulheres hão de ressuscitar com o sexo
feminino, mas todas no sexo masculino, porque Deus fez apenas o homem de
barro e, à mulher, tirou-a do homem. Mas a mim parece-me que são
mais judiciosos os que não duvidam de que ambos os sexos hão
de ressuscitar. É que, lá no Alto, não haverá já a
paixão (libido) que é a causa de toda a perturbação.
Realmente, homem e mulher, antes de pecarem, estavam nus e nem por isso
se sentiam perturbados. Desses corpos serão extirpados os vícios
e será conservada a natureza.
O sexo feminino, porém, não é vício,
mas natureza, embora, na verdade, doravante liberta do coito e do parto;
subsistirão, porém, os órgãos femininos, não
já acomodados ao antigo uso mas a uma nova beleza com que já não
será aliciada a concupiscência, que se anulará, dos
que para ela reparam, mas com que serão louvadas a sabedoria e a
clemência de Deus que fez o que não era e libertou da corrupção
o que fez.
Que, na verdade, no princípio do gênero humano,
se formou a mulher com uma costela tirada do lado do homem adormecido - é um
fato com que convinha fossem profetizados então Cristo e a Igreja.
Na verdade, este sono do varão significava a morte de Cristo, cujo
lado, quando estava inanimado ainda suspenso da cruz, foi atravessado pela
lança, e dele saiu sangue e água - que, como sabemos, são
símbolos dos sacramentos com que se edifica a Igreja. Foi precisamente
desta palavra que se serviu a Escritura - lendo-se nela, não a palavra
formou nem a palavra modelou mas antes:
Edificou-a (à costela) em
mulher
(Aedificavit eam in mulierem -
Gênesis 2:22);
é por isso que o Apóstolo diz a edificação do corpo de Cristo que é a Igreja. Tal como o varão, a mulher é,
portanto, uma criatura de Deus; se ela foi formada à custa do homem,
foi para pôr em destaque a unidade; e quanto à maneira como
foi formada, figura ela, como já se disse, Cristo e a Igreja. Portanto,
quem instituiu os dois sexos, os dois restabelecerá. Por fim, o
próprio Jesus, a quem os Saduceus, que negavam a ressurreição,
perguntaram de qual dos sete irmãos seria a mulher que eles, uns
após outros, tinham desposado, pois a cada um pertencia, como a
lei preceituava, perpetuar a descendência do irmão falecido,
respondeu:
Estais enganados
porque não conheceis
as Escrituras nem o poder de Deus
(Erratis
nescientes scripturas, neque virtutem Dei - Mateus 22:29);
e embora fosse ocasião para dizer:
- Essa de quem me falais será também ela um varão
e não uma mulher - não disse isto, mas disse antes:
Pois na ressurreição nem elas nem eles casarão, mas
serão como os anjos de Deus no Céu (In
ressurrectione enim neque nubent neque uxores ducent sed sunt sicut angeli
Dei in Caelo - Mateus
22:30);
na verdade, iguais aos anjos na imortalidade
e na felicidade, mas não
na carne - nem também na ressurreição, de que não
tiveram necessidade os anjos porque não puderam morrer. O Senhor
negou, portanto, que na ressureição haverá núpcias
mas não negou que haverá mulheres e negou-o precisamente
quando se tratava de tal questão; tê-le-ia resolvido mais
rápida e facilmente negando que então houvesse sexo feminino
se soubesse que ele não existiria lá. Mas, ao contrário,
confirmou que o (sexo) havia de subsistir ao dizer, referindo-se às
mulheres:
Nem elas casarão
(Non
nubent. - Mateus
22:29),
e, referindo-se aso homens:
Nem eles casarão
(Nec
uxores ducent.
- Mateus 22:29).
Haverá lá, portanto, casados e casadas de cá: mas lá é que não voltarão a casar.
A
Vontade Eterna e Imutável de Deus
por
Agostinho
É certo que muitas coisas más são pelos maus praticadas contra a vontade de Deus. Mas tão grande é a Sua sabedoria e tamanha é a Sua virtude que tudo, mesmo o que parece contrário à Sua vontade, tende para os fins e resultados que Ele antecipadamente viu como bons e justos. Por isso, quando se diz que Deus muda de vontade, que, por exemplo, fica irado contra aqueles para quem era brando, - não foi Ele mas foram os homens que mudaram e de certo modo o acham mudado nas mudanças que experimentam: tal qual como o Sol muda para os olhos enfermos - de suave torna-se de certa maneira áspero, de deleitosos torna-se molesto, embora ele próprio continue a ser o mesmo que era. Também se chama de Deus a vontade que Ele suscita nos corações dos que obedecem aos seus mandamentos e da qual diz o Apóstolo:
É Deus que opera em nós o próprio querer
(Deus enim est, qui
operatur in nobis et velle - Filipenses 2:13);
como se chama de Deus não só a justiça pela qual Ele próprio é justo, mas também a que Ele faz no homem que por Ele é justificado. Da mesma forma se chama de Deus a lei que é antes dos homens mas que por Ele foi dada; pois eram realmente homens aqueles a quem Jesus dizia:
Está escrito na vossa lei
(In lege vestra scriptum est -João
8:17),
embora noutra passagem leiamos:
A lei
do seu Deus está no seu coração
(Lex Dei ejus
in corde ejus -Salmo 37:31).
Conforme esta vontade que Deus produz nos homens, diz-se que Ele quer o que Ele próprio não quer, mas faz com que os seus isso queiram, como se diz que Ele conheceu o que Ele fez que fosse conhecido por aqueles que isso ignoravam. Pois, nem quando o Apóstolo diz:
Mas conhecendo agora a Deus, ou melhor, conhecidos de Deus
(Nunc autem
cognoscentes Deum, immo cogniti a Deo -Gálatas 4:9),
é lícito que acreditemos que Deus conheceu então
os que conhecia antes da criação do mundo; mas diz-se que
conheceu então o que fez com que então fosse conhecido. Destas
formas de expressão recordo-me que já se tratou nos livros
anteriores. É, pois, conforme essa vontade (pela qual, como dizemos,
Deus quer o que faz querer ao outros, pelos quais são ignoradas
as coisas futuras) que Ele quer muitas coisas mas não é Ele
que as faz.
Com efeito, os seus santos, com uma vontade
santa por Ele inspirada, querem que se façam muitas coisas que não chegam a ser feitas; como
rogam piedosa e santamente por alguns, mas Ele não faz o que lhe
pedem, sendo Ele quem, pelo Seu Espírito, causa neles essa vontade
de orar. Por isso, quando os santos querem e rogam, em conformidade com
Deus, que cada um seja salvo, podemos dizer, segundo esse tipo de expressões:
Deus quer mas não faz; dizemos então que Ele quer no sentido
de que Ele faz com que os outros queiram. Mas, conforme essa vontade, que é sua
e eterna como a sua presciência, claro está que tudo o que
quis no Céu e na Terra, tanto passado e presente como futuro, fê-lo
já. Mas antes que chegue o tempo em que se cumprirá como
Ele quis o que antes de todos os tempos Ele previu e determinou, nós
dizemos: Acontecerá quando Deus quiser; mas se ignoramos dum acontecimento,
não só o momento (tempus) em que virá a acontecer,
mas também se chegará a acontecer, então dizemos:
Acontecerá se Deus quiser: não porque Deus venha a ter então
uma vontade nova que antes não tinha, mas porque só então
acontecerá aquilo que desde toda a eternidade está preparado
na sua vontade imutável.
- Extraído
de: A Cidade de Deus - De Civitate Dei.
Haverá uma Razão de Justiça para que a
Duração das Penas
Não Seja Mais Extensa do que a dos Pecados?
Não Seja Mais Extensa do que a dos Pecados?
por
Santo Agostinho
Alguns daqueles, contra os quais defendemos a Cidade de Deus, consideram injusto que, pelos pecados, por muito graves que sejam, cometidos, sem dúvida, num curto espaço de tempo, alguém seja condenado a uma pena eterna — como se a justiça legal vez alguma tomasse isso em consideração, para impor a cada um uma pena proporcional ao tempo que o delito levou a cometer. Escreve Cícero que nas leis há oito gêneros de penas: a multa (damnum), a prisão (vincula), os açoites (verbera), o talião, a ignomínia, o exílio, a morte, a servidão.
A não ser a de talião,
qual destas é a que restringe a sua duração à
brevidade própria de cada delito, de maneira a ser punido durante
um tempo estritamente igual àqueles de que se usou para o cometer?
Realmente, o talião exige que cada um pague o que fez. Daí
a expressão da lei:
Olho por olho, dente
por dente [1]
Pode-se, de fato, fazer
com que alguém perca um olho, devido a severa punição,
em tão breve tempo quanto ele próprio demorou em arrancá-lo
a outrem por criminosa perversidade. Pelo contrário, se é
razoável castigar como azorrague o beijo dado à mulher de
outrem — não é verdade que aquele que o fez num instante
seja açoitado durante horas, tempo incomparavelmente mais longo,
e que a doçura duma breve volúpia seja castigada por um longo
sofrimento? Quê! algum juiz decidirá que deve estar aprisionado
durante tanto tempo quanto o que demorou ao fazer o que lhe valeu as cadeias?
Nesse caso não expia com toda a justiça durante longos anos
um escravo, aferrolhado em grilhões por ter ferido ou atingido seu
senhor, de palavras ou com um golpe, no mais célere instante?
Na
verdade, a multa, a ignomínia, o exílio, a servidão,
que, a maior parte das vezes são impostas sem nenhuma indulgência
a amenizá-las, não são, parece, em relação
à extensão desta vida, semelhantes às penas eternas?
Claro está que não podem ser eternas porque nem a própria
vida que por estas penas é castigada se prolonga pela eternidade.
Todavia, os pecados que são punidos com penas de muita longa duração,
são cometidos num brevíssimo espaço de tempo e jamais
houve quem pensasse que os tormentos dos que cometem o mal devem terminar
num espaço de tempo tão rápido como aquele em que foi
cometido o homicídio, o adultério, o sacrilégio ou
qualquer outro crime a avaliar, não pela duração do
tempo utilizado, mas pela magnitude da iniqüidade ou da impiedade.
O que é condenado à morte por um crime grave, será
que as leis avaliam o seu suplício pelo tempo, que é brevíssimo,
em que é executado e não porque o tiram para sempre da sociedade
dos vivos? Tirar os homens desta sociedade mortal pelo suplício da
primeira morte corresponde a tirar os homens da cidade imortal pelo suplício
da segunda morte. Efetivamente, assim como as leis da cidade mortal não
fazem com que à vida volte um homem executado, assim também
as leis da cidade imortal não fazem com que volte à vida eterna
um condenado à segunda morte.
Como é então verdade,
replicam eles, o que diz o vosso Cristo:
Pela medida com que
medirdes, por essa medida sereis medidos [2],
se um pecado temporal é
punido com um suplício eterno? Não reparem que se disse que
esta medida é a mesma, não devido a um igual espaço
de tempo mas devido a uma igual troca de mal, isto é, quem tiver
feito o mal pagará com o mal.
NOTAS:
[1] - Oculum pro oculo,
dentem pro dente. Êxodo, XX, 24.
[2] - In qua mensura mensi fueritis, in ea remetietur vobis. Lucas, VI, 38.
Fonte: A Cidade de Deus, Volume III, Fundação Calouste Gulbenkian, páginas 2167-2169.
[2] - In qua mensura mensi fueritis, in ea remetietur vobis. Lucas, VI, 38.
Fonte: A Cidade de Deus, Volume III, Fundação Calouste Gulbenkian, páginas 2167-2169.
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Salvação
A salvação é um termo que genericamente se refere à libertação de um estado ou condição indesejável. O conceito de salvação eterna, salvação celestial ou salvação espiritual faz referência à salvação da alma, pela qual a alma se livraria de uma ameaça eterna (castigo eterno ou condenação eterna) que esperaria depois da morte. Na teologia, o estudo da salvação se chama soteriologia e é um conceito vitalmente importante em várias religiões.
A palavra salvação, tem sua origem no grego soteria, transmitindo a ideia de cura, redenção, remédio e resgate; no latim salvare, que significa `salvar´, e também de `salus´, que significa ajuda ou saúde.
Visões da salvação
Cristianismo
A salvação é um dos conceitos espirituais mais importantes no cristianismo, junto com a divindade de Jesus Cristo e a definição do Reino de Deus.Após a queda do gênero humano, através da desobediência a Deus, é o Próprio Deus quem salva os homens. Através da sua Graça (dom, favor).
Deus ama os homens desde toda eternidade, mesmos sabendo que iriam desobedecê-lo. Assim, já tinha o remédio para a humanidade, Ele entregaria seu Filho, Jesus, que daria sua vida como resgate de muitos, para o perdão dos pecados e para a santificação do gênero humano.
O Catecismo da Igreja Católica ensina em seu parágrafo §614: (Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios. Ele é primeiro um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos consigo. É ao mesmo tempo oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor, oferece sua vida a seu Pai pelo Espírito Santo, para reparar nossa desobediência.)
Tudo começa em Deus, ele amou os homens primeiro. Tudo que os homens podem fazer de bom vem de Deus. Diz o parágrafo §2011 da Catecismo da Igreja Católica: A caridade de Cristo em nós constitui a fonte de todos os nossos méritos diante de Deus. A graça, unindo-nos a Cristo com amor ativo, assegura a qualidade sobrenatural de nossos atos e, por conseguinte, seu mérito (desses nossos atos) diante de Deus, como também diante dos homens. Os santos sempre tiveram viva consciência de que seus méritos eram pura graça.
Tradicionalmente, entre os cristãos, uma meta principal é obter a salvação. Outros sustentam que a meta principal do cristianismo é cumprir a vontade de Deus, aceitando seu reinado, ou que os conceitos são equivalentes. Em muitas tradições, obter a salvação é sinônimo de "ir para o Céu" depois da morte, enquanto que muitos também enfatizam que a salvação representa uma troca de vida enquanto se permanece na terra. Vários elementos da teologia cristã explicam por que a salvação é necessária e como se obter.
A idéia de salvação se baseia em que existe um estado de não-salvação, do qual o indivíduo (ou a humanidade) necessita ser redimido. Para a maioria dos cristãos católicos e protestantes, este é o juízo de Deus sobre a humanidade devido a sua culpa no pecado original (devido ao Lapso ou a "Queda" de Adão) e a outros pecados atualmente cometidos por cada indivíduo, já que se reconhece pecados em todos.
As igrejas ortodoxas rejeitam o conceito agostiniano de pecado original, expressão que nem sequer existe na patrística grega, e vêem a salvação como uma escala de melhoramento espiritual e purificação da natureza tanto humana como geral, que foi danificada na queda.
Catolicismo
Ver artigo principal: Salvação e Santidade na Doutrina da Igreja Católica
Segundo a soteriologia católica, a salvação, que é oferecida por
Deus, realiza-se, após a morte, no Céu. Essa salvação, que conduzirá o
homem à santidade, à suprema felicidade e à vida eterna, deve ser obtida
através da fé em Jesus Cristo e da pertença à Igreja fundada e
encabeçada por Ele. Assim é dada a Salvação...Protestantismo - Para os protestantes a Salvação vem pela graça de Deus. Tendo Jesus sofrido na cruz do Calvário o castigo do pecado, pode agora dar a salvação ao pecador. É qual uma permuta: Jesus Cristo leva sobre si o pecado do ser humano e este pode obter o perdão que Cristo dá, ao se tornar o único e pessoal Salvador do pecador confesso e crente. (Fonte ABC Doutrinário // Ilgonis Janait. 7ª edição revisada - Rio de Janeiro: JUERP, 2000.)
Islamismo - Para os muçulmanos, o propósito da vida é viver de forma de agradar a Allah para poder ganhar o Paraíso. Se crê que na puberdade, uma conta de dívidas de cada pessoa se abre e isso será usado no Dia do Juízo para determinar seu destino eterno. O Corão também sugere a doutrina da predestinação divina. Corão 4:49, 24:21, 57:22. O Corão ensina a necessidade de fé e boas obras para a salvação. A doutrina muçulmana da salvação é que os incrédulos (kuffar, literalmente ‘o que recusa a verdade’) e os pecadores estão condenados, mas o arrependimento genuíno dá como resultado o perdão de Allah e a entrada ao paraíso ao morrer.
Hinduísmo - A salvação, para o hindu, é a libertação da alma do ciclo da morte e da reencarnação e se obtêm ao alcançar o nível espiritual mais alto. É a meta final do hinduísmo, que considera o "céu" e o "inferno" ilusões temporárias. Este conceito se chama mokṣa (em sanscrito, ‘libertação’) ou mukti.
Budismo- As Quatro Nobres Verdades delineiam a essência da soteriologia budista. O sofrimento (dukkha) é tratado como uma enfermidade, da qual se pode curar pelo entendimento das causas e ao seguir o Nobre Caminho Óctuplo. O Nobre Caminho Óctuplo inclui moralidade e meditação. Os meios para alcançar a libertação e se desenvolvem com mais profundidade em outros ensinamentos budistas.
Legado de Pitágoras - 41min
Wikipédia
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Agostinho:Fonte: A
Cidade de Deus, Volume III, Fundação Calouste Gulbenkian,
página 2171.
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