sábado, 27 de julho de 2013

TEOLOGIA DA EVOLUÇÃO: Teilhard de Chardin e o darwinismo teológico


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Teologia da Evolução:

 Teilhard de Chardin e o darwinismo teológico

Um dos acontecimentos religiosos que mais despertaram o interesse dos teólogos no fim da década de cinqüenta foi a popularidade póstuma do cientista e místico jesuíta Pedro Teilhard de Chardin (1881-1955), fundador de um sistema teológico que ficou conhecido como teologia da evolução. Durante sua vida, este teólogo foi impedido de publicar seus livros, considerados pela igreja católica como sendo nocivos e de conteúdo herético. Porém, quinze anos depois da sua morte, esses livros suprimidos durante toda a sua vida começaram a aparecer.

Embora ele tenha sido um teólogo católico, alguns dos seus comentaristas mais apaixonados são cientistas e teólogos protestantes. Sua influência pode ser percebida até mesmo nos países que compõem o nosso terceiro mundo. Francisco Bravo, estudioso equatoriano, publicou uma obra meticulosa sobre Teilhard. Suas idéias lograram arrancar elogios até mesmo de Dom Hélder Câmara, arcebispo do Recife.

Muitos fatores ajudam a explicar a repentina popularidade que alcançou a teologia de Teilhard. Sua destacada personalidade e seu caráter humanitário podem ser percebidos por qualquer pessoa que o tenha conhecido ou lido algo acerca da vida deste destacado sacerdote católico, que apesar das restrições que o Vaticano impôs aos seus livros, permaneceu fiel a sua ordem durante toda vida. Seus conhecimentos de geólogo e paleontólogo são grandes atrativos para o mundo científico.
12.1- Conhecendo a proposta teológica de Teilhard de Chardin.

O ponto de partida do pensamento teológico de Telhard é a evolução, a qual ele chama de “luz que ilumina todos os fatos, curva a que devem seguir todas as linhas”. A terra, segundo ele, foi formada ente cinco e dez milhões de anos e desde então vem se desenvolvendo através da evolução. Este processo evolutivo avança segundo o que Teilhad chama de “lei da consciência e da complexidade”, com o que ele alude que na evolução existe uma tendência por parte da matéria, que a faz tornar-se cada vez mais complexa.

 O processo, segundo ele, pode ser resumido como consta no seguinte esquema: Partículas elementares (chamadas de Ponto Alfa) => Átomos => Moléculas => Células Vivas => Organismos Pluricelulares. Ele admite que a terra veio a existir por meio de um lento processo, que pode ser descrito na seguinte ordem: Barisfera (época da “terra derretida”) => Formação da crosta => Formação da água e do ar => Formação da atmosfera. Esta é a fase da história evolutiva da terra aparece a vida biológica na terra, ou biosfera. Para descrever a etapa seguinte, em 1920, Chardin criou o termo noosfera, que significa a “camada mental” da terra. Essa noosfera  nada mais é do que o surgimento do homem pensante sobre a terra. Esta é a etapa mais importante na história do mundo, e também é chamada de hominização. Nesta fase, o processo evolutivo adquire consciência de si mesmo.

Nessa etapa de sua teoria evolutiva, Teilhard começa a se apoiar na teologia para predizer o futuro da evolução. Ele vê todo o processo evolutivo que começa com as partículas, o ponto Alfa; e converge no que ele chama de Ponto Ômega, ou seja, a união sobrenatural de todas as coisas em Deus. Assim sendo, Deus vem a ser a causa final, mais que a causa eficiente do universo, dando a perfeição a todas as coisas. Nesta etapa, Deus será tudo em todos (1Coríntios 15.28), numa forma superior de panteísmo, a expectativa da unidade perfeita, na qual cada um dos elementos alcançará sua consumação, ao mesmo tempo que o universo.

Na teologia darwiniana de Teilhard, Cristo é o centro do processo evolutivo e o seu princípio básico. O Cristo de Teilhard é o reflexo no coração do processo do ponto Ômega, e se encontra no final do processo. Por meio de um ato pessoal de comunhão, Cristo incorpora em si o “psiquismo” total da terra, e o universo se auto-realiza em Cristo. Esse movimento para o centro, para Teilhard, é o processo de amor. O amor, segundo ele, não é exclusividade humana, e sim propriedade geral de toda a vida, sendo ele a afinidade do “ser” com o “ser”. Movidos pelas forças do amor, os fragmentos do mundo se buscam para que o mundo possa chegar a “ser”.

12.2- Principais objeções a teologia evolucionista de Chardin.
Os princípios de Teilhard de Chardin apresentam várias dificuldades para o crente ortodoxo. Sua linguagem é obliqua e seu esforço hercúleo para fazer de Cristo o centro da evolução é desonesto e contraditório. Sua teologia é o reflexo do pensamento naturalista do seu tempo. Sua ênfase na personalidade autônoma que, desde Kant aparece e reaparece na teologia contemporânea, é também contrária a Bíblia.

Dessa síntese filosófico/naturalista procedem as demais divergências de Teilhard com a teologia ortodoxa. Assim como as teorias evolutivas seculares, a teologia evolucionista deste teólogo descaracteriza a criação, tal como aparece na Bíblia. Há muitos teólogos contemporâneos que concordam com a teoria da antiguidade da terra, e com a evolução das espécies à partir das espécies criadas por Deus (Gênesis 1.21-25), fazendo diferenciação entre microevolução e macroevolução. Microevolução é a mutação que ocorre dentro das espécies e seria o fator responsável pelas diferentes raças de cães, diferentes tons de pele, etc., mas nenhuma dessas concessões desabilita o esquema de criação conforme narrado em Gênesis.

Ao contrário disso, a teoria de Teilhard é macroevolucionista e negligencia completamente o ponto mais básico da criação que é Deus fazendo todas as coisas do nada pela sua palavra, e criando cada ser em conformidade com a sua espécie. Assim como todas as teorias evolucionistas seculares, a teologia de Teilhard Chardin parte do pressuposto de que o homem alcança sua verdadeira dignidade e plenitude espiritual por meio do processo evolutivo. Isso também é contrário a doutrina da graça, segundo a qual o aperfeiçoamento advém da comunhão com Cristo Jesus.

Como todas as teorias evolucionistas, a teologia da evolução de Teilhard é demasiado otimista. Ele divaga pela senda do universalismo e do panteísmo, prometendo um final feliz para todos, sem fazer nenhuma alusão à graça de Deus. Talvez essa seja uma das razões da sua difusão rápida. O homem moderno está disposto a aceitar qualquer tipo de droga entorpecente que se apresente sob o pseudônimo de ciência.

A teologia de Chardin não permite que a graça seja graça, e nem permite que o pecado seja pecado. A proclamação da evolução constante por parte de Chardin nunca se vê alterada pela realidade bíblica do pecado no homem. Por essa mesma razão, a doutrina bíblica do juízo quase não se vê na obra de Teilhard. O mal, para ele, é uma superabundância da estrutura de um mundo em evolução, que se manifesta em planos diferentes, através da desordem material, morte, solidão e angústia.
A idéia de Teilhard de união do universo com Cristo, sendo que o universo representa o corpo orgânico de Cristo ainda em evolução, apresenta dois grandes inconvenientes: Primeiro, tal união tem como conseqüência lógica a deificação da criação (panteísmo). Em segundo lugar, a cristologia de Chardin transforma o Cristo da Bíblia em um Cristo cósmico. Em última análise, o resultado de tal união é a perda tanto do mundo, como de Cristo.

A teologia da evolução, bem como as teorias evolucionistas seculares, é antagônica a Bíblia. Não há como sustentar esse sistema teológico sem perder a identidade cristã. Teilhard foi um homem totalmente deslumbrado com as teorias científicas do seu tempo, chegando ao ponto de afirmar que a evolução é “o sucesso mais prodigioso que a história jamais se referiu”. Ele se emociona tanto com a evolução que se esquece que, segundo a fé cristã, o maior sucesso da história é a vinda de Cristo, e não a teoria da evolução.
Darwin e sua presença na teologia
Jorge Pinheiro*
A linguagem humana é profunda como o mar,
 e as palavras dos sábios são como os rios que nunca secam
(Provérbios 18.4).
Charles DarwinPierre Teilhard de Chardin 









Charles Darwin continua polêmico duzentos anos após seu nascimento e cento e cinqüenta anos depois da publicação de A Origem das Espécies. O medo que teólogos no correr desses cento e cinqüenta anos tiveram de Darwin nos leva a esta pequena reflexão sobre o assunto. Serei breve, não pretendo, nem acho possível esgotar o assunto, desejo apenas apresentá-lo. Creio que o medo referido é mantido por tradição baseada mais em desconhecimento do que em fatos.
É importante entender que Darwin sempre conviveu com o cristianismo inglês, o anglicanismo. Nosso cientista nasceu durante as guerras napoleônicas, quando os conservadores governaram em estreita associação com a igreja. Embora o alto clero tenha adotado uma postura que se aproximava em muito do fundamentalismo, a família de Darwin procurou não se afastar de sua tradição iluminista, quando os não-conformistas levantavam a bandeira da “unidade sem uniformidade”. Assim Darwin, seguindo uma tradição escandalosa para o anglicanismo oficial da época, se posicionou no campo do unitarianismo, que prega a unidade absoluta de Deus, a liberdade de cada pessoa para buscar a verdade e a espiritualidade sem a necessidade de dogmas ou instituições, como fizera um de seus avós, Erasmus, que era livre-pensador. Aliás, Charles foi batizado numa capela unitarista. Quando sua mãe faleceu, ele tinha oito anos e foi estudar em Shrewsbury School, uma escola pública sob administração da igreja anglicana.
O pai de Charles, Robert Darwin, era médico e livre pensador como Erasmus. Quando a família constatou que Charles não pretendia fazer medicina, como o pai, sugeriu que seguisse a carreira eclesiástica. Mais tarde, Darwin escreveu: "Gostei da idéia de ser pastor no interior. Passei a ler com atenção o Credo de Pearson e livros sobre Deus. E como não tinha a menor dúvida sobre a verdade absoluta e literal de cada palavra da Bíblia, logo me convenci de que os nossos princípios deveriam ser aceitos integralmente”. E, assim, foi matriculado no Christ's College Cambridge para o bacharelado em Artes exigido.
Mas, por obra do destino (ops!), ele freqüentava as aulas de história natural ministradas pelo pastor John Stevens Henslow, que também era professor de teologia. E passou a ler os textos de outro pastor, William Paley, que trabalhava Filosofia Moral e Política e dava umas aulas muito criativas sobre As Evidências do Cristianismo. Darwin escreveu que apreciava tanto os textos de Paley que poderia expor todos seus argumentos, embora não com a mesma precisão. Disse que gostou tanto do livro A Teologia natural, obra maior de Paley, que era quase capaz de recitá-lo de memória.
Depois de ter sido aprovado nos exames de teologia, Charles não abandonou a Teologia Natural de Paley, que apresentava provas da existência de Deus recorrendo à complexidade dos seres vivos, que foram colocados num mundo organizado e feliz, conforme escolha e finalidade definidas pelo Criador. E foi assim que Charles começou a se interessar pela ciência. E tal escolha aconteceu num momento em que Cambridge recebia a visita de dois missionários que nadavam contra a corrente, Richard Carlile e Robert Taylor. Aliás, Taylor, “o capelão do Diabo”, já tinha, inclusive, sido preso por blasfêmia. A presença dos dois e suas posturas não-conformistas geraram tumultos e ambos foram expulsos de Cambridge. Essas surumbambas fizeram Charles repensar sua escolha.
A teologia deu lugar à ciência. E a viagem na expedição do Beagle foi um acontecimento benfazejo. Quando retornou à Inglaterra e desenvolveu a teoria da seleção natural, então sim, começou a entrar em conflito com o argumento teleológico que marcara seus estudos teológicos.
A morte esteve presente na vida de Darwin: pensou sobre ela e sua leitura cristã e acabou por considerar a construção da fé produto e desenvolvimento da própria sociedade. Mas, foi com a morte da filha Annie que se afastou da crença em um Deus bom, deixando o cristianismo de lado, embora não tenha rompido formalmente com sua igreja local: continuou a ajudar financeiramente suas ações sociais e missionárias. Aos domingos, no entanto, preferia sair para caminhar, enquanto a família ia aos cultos. É interessante notar que quando escreveu A Origem das Espécies ainda era teísta: acreditava na existência de Deus como causa primeira.
Foi no final da vida que Darwin passou a questionar a religião como avalista da ciência. Disse que a ciência não pertence a Cristo e que o hábito da investigação científica faz um homem sábio quando busca e admite o óbvio. Disse não crer que houvesse sempre revelação, embora sobre a futura vida, caberia a cada um julgar por si próprio entre probabilidades vagas e contraditórias. Nunca afirmou ser ateu, preferia ser visto como agnóstico.
Caso convidássemos Darwin para uma conversa tranqüila, e se isso fosse viável hoje, muito possivelmente nos contasse que não tinha ouvido para música a ponto de questionar como poderia tirar algum prazer dessa arte. Ou dizer como, em um período em que colecionava besouros, tendo encontrado dois deles segurou um em cada mão. Mas eis que um terceiro aparece! Então, sem pensar, coloca um deles na boca para liberar uma das mãos. O inseto libera um líquido que queima sua língua e como resultado dois besouros se perdem.
História simples, quase sem importância, uma bobagem, mas serve para situar o homem. Alguém que não teve vergonha de incluir estes detalhes em suas memórias.
Às vezes, um de meus estudantes, querendo se fazer apologista, diz em sala de aula: “Não concordo que viemos dos macacos!” Bem, quem quiser atacar a teoria de Darwin, que ataque, não ficarei no caminho. Mas descartar ou abominar o que não se conhece é base segura para o fundamentalismo, para o preconceito, para a violência. Ainda hoje, mesmo na Europa e nos Estados Unidos, a teoria da evolução só é bem aceita em meios científicos. Mas muito possivelmente as reservas por parte da população possam ser explicadas pelos equívocos e folclores atribuídos a Darwin, como a afirmação prematura de meu aluno em sala de aula. De todas as maneiras, sabemos como é difícil para a fé simples aceitar que o ser humano visto enquanto elemento de um ecossistema não é autônomo e independente em relação às outras espécies.
Mas voltemos aos equívocos e folclores. Um exemplo de equívoco é o chamado “darwinismo social", que afirma existir raças superiores e raças inferiores. O que foi amplamente utilizado pelo nazismo. Darwin não defendeu tais idéias. Ao contrário, quando deixou o Brasil disse que não voltaria mais a um país escravagista. Já folclore é a idéia linear da evolução, presente naqueles desenhos de um macaco de quatro, outro semi-ereto na frente e, por último, o homo sapiens. De acordo com Darwin, o homo sapiens não veio do macaco, mas de um ancestral comum tanto ao homo sapiens como aos macacos. E, mais ainda, não há uma espécie menos evoluída e outra mais evoluída: todas emergem como ramificações da vida que se espraia.
Assim, Darwin nos apresenta a probabilidade de termos um antepassado comum com os macacos, que não era homem e não era macaco, ao menos não como os conhecemos hoje. Este antepassado, por sua vez, provavelmente tinha antepassados comuns com vários mamíferos de seu tempo e assim por diante.
Mas alguém que vê sua fé ameaçada pela teoria da evolução poderia dizer: “Mas dá na mesma, a alternativa é ainda mais primitiva!”. É verdade. Por isso, eu diria ao estudante de religião: tão primitiva quanto os vários estágios do processo da produção de um vaso. Neste caso partimos de terra, moldamos até obter a forma desejada, deixamos secar, levamos ao forno, e por aí vai. É algo que não sei fazer, mas admiro os que sabem. É uma arte. Se eu disser que acredito que exista a etapa da modelagem da argila ninguém me acusaria de não acreditar que o oleiro fez o vaso. Se eu for em frente com a metáfora do vaso posso dizer que ambos são fruto de um processo de criação. É certo que Darwin não disse isso, nem pensava assim. Estou apenas construindo pontes.
No livro dos princípios, o de Gênesis, os períodos de tempo nomeados normalmente são traduzidos como dias, mas podem ser qualquer unidade de tempo, yom ou eras como aparece no hebraico. Quanto tempo é uma era? Pode ser muito tempo. Talvez tempo bastante para o surgimento dos primeiros pedacinhos unicelulares de vida através de variações genéticas e seleção natural, equivalentes ao processo de modelagem dos animais, do vaso-humano, da vida neste planeta. Esta opinião pode ser questionada, como tudo sob o sol. É perfeitamente possível questionar Darwin. Ele mesmo questionava suas descobertas o tempo todo. Mas, podemos crer no oleiro, na existência do vaso e em sua modelagem.
O evolucionismo cristão
A origem das espécies de Darwin levou a teologia a repensar o surgimento do universo e do ser humano. E quem fez essa caminhada inusitada e criativa foi o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, precursor do evolucionismo cristão: cientista e teólogo proibido pela igreja. Só depois da morte, em 1955, aos poucos suas pesquisas e produção saíram do ostracismo. Hoje é leitura obrigatória quando em teologia se discute cristianismo e evolução.
Assim, as discussões sobre a origem da vida continuam a gerar polêmicas, principalmente porque leitores tomam o relato de Gênesis, em seus três primeiros capítulos, como literalidade absoluta. Por isso, as idéias de Darwin causam tanto desconforto hoje como quanto em 1858, quando apresentou a teoria da evolução à comunidade científica.
Quase setenta anos depois daquele desconforto, em 1926, Teilhard de Chardin, com 45 anos de idade, vivendo e trabalhando como paleontólogo em Tientsin, na China, escreveu à sua prima Margueritte Chambom. Disse que estava decidido a relatar o mais simplesmente possível a experiência ascética  e mística que vivia e ensinava. Mas não pretendo abandonar o rigor do cristianismo. Queria, antes que nada, ir adiante.
Na época de Darwin, outra leitura sobre a origem da vida, defendida pelo pastor William Paley, ganhara força: dizia que a adaptação dos organismos vivos era fruto de um projeto inicial, de um desenho inteligente. Mas, como vimos, Darwin rompeu com as ideias de Paley e partiu uma hipótese radical: os seres vivos se desenvolveram a partir de mudanças aleatórias e as particularidades do humano se deram por razões adaptativas.
Para Chardin, ir adiante era uma postura de paleontólogo. Mas ele não era só um paleontólogo, era teólogo e místico. Assim, ir à frente significava que arriscaria tornar-se o Darwin da teologia. E em Tientsin, onde a Companhia de Jesus acabara de abrir um instituto de estudos superiores e para onde foi mandado numa espécie de exílio, pois lá suas idéias não repercutiriam, mergulhou em pesquisas de campo e produção teórica.
É interessante ver que as oposições que Darwin e Chardin enfrentaram foram semelhantes.
A Companhia de Jesus sem desejar colocou Chardin no lugar certo, pois em Tientsin estavam sendo realizadas escavações e expedições paleontológicas. De 1923 a 1946, ele permaneceu lá. E não se afastou de suas pesquisas. Aprofundou-se na ciência, a procura de um novo pensar teológico. E foi assim que surgiu sua principal obra: O fenômeno humano (1955), onde apresentou os conceitos que passaram a balizar o evolucionismo cristão. Mas escreveu também outros trabalhos importantes: O coração da matéria (1950), O surgimento do homem (1956), O lugar do homem na natureza (1956), O meio divino (1957), O futuro do homem (1959), A energia humana (1962), Ciência e Cristo (1965).
Chardin formatou novas leituras da evolução, da estrutura orgânica do universo e da tendência do ser a alcançar um estado cada vez mais orgânico, de unificação. O fim da existência passou a ser visto como a convergência das consciências individuais na consciência do centro ômega, momento de completude do processo evolutivo.
"Uma só liberdade, tomada isoladamente, é fraca, incerta e pode facilmente errar nos seus tateios. Uma totalidade de liberdades, agindo livremente, acaba sempre por encontrar o seu caminho. E eis por que, incidentemente, sem minimizar o jogo ambíguo da nossa escolha em face do Mundo, eu pude sustentar implicitamente, no decurso desta conferência, que nós avançávamos, livre e inelutavelmente, para a Concentração através da Planetização. Na evolução cósmica, poder-se-ia dizer, o determinismo aparece nas duas pontas, mas, aqui e lá, sob duas formas antitéticas: em baixo, uma queda no mais provável por defeito, - em cima, uma subida para o improvável por triunfo de liberdade".[1]
O universo, para Chardin, está impregnado de pensamento, o que se torna patente com a evolução, através da crescente complexidade estrutural que a matéria alcança. Chardin intuiu laivos de consciência nos graus ínfimos da existência, no plano físico do universo. A evolução levou esta consciência a revelar-se mais avançada no ser humano. Ora, a organicidade do todo implica uma lógica, seria absurdo determo-nos neste ponto do caminho sem continuá-lo.
Assim, para Chardin, o fenômeno humano não completou a sua trajetória e não alcançou a necessária conclusão, mas tal movimento está implícito na lógica do desenvolvimento do próprio fenômeno. Então o Cristo, para este cientista e teólogo, pode ser proposto à ciência como biótipo do fenômeno humano, como modelo que o humano poderá atingir com a evolução, e o Evangelho como a lei social da unidade coletiva representada pela humanidade do futuro. Esse é o processo da evolução, numa correlação da compreensão da ciência e da espiritualidade cristã. E o humano faz parte deste processo.
Chardin constrói, assim, uma teologia da evolução, onde a santificação se dá por meio da presença universal do pensamento imanente da divindade. É a sagração da evolução. Chardin caminhou no terreno do cristianismo, mas fez uma nova leitura da origem da existência, onde a estrutura mais íntima do ser é de natureza psíquica, para concluir que a vida é pensamento coberto de morfologia e a espiritualidade é o ápice da evolução.
Ou como disse numa oração:
"Rico da seiva do Mundo, subo para o Espírito que me sorri para além de toda conquista, revestido do esplendor concreto do Universo. E, perdido no mistério da Carne divina, eu já não saberia dizer qual é a mais radiosa destas duas bem-aventuranças: ter encontrado o Verbo para dominar a Matéria, ou possuir a Matéria para atingir e receber a luz de Deus".[2]
A partir de Darwin e de sua presença na teologia, através de Chardin, podemos dizer que pensar a existência humana é tarefa aberta e permanente para a ciência e a teologia. Mais do que perder-se em formulações dogmáticas, quer na ciência ou na teologia, o desafio humano é a busca para compreender como (ciência) e por que (teologia) estamos conectados à existência e ao Universo.
Referências

Teilhard de Chardin - Oeuvres, 13 volumes, Paris, Seuil, 1955-1976.- O fenômeno humano, São Paulo, Herder, 1965.- L’ambiente divino, Milão, Il Saggiatore, 1968. - Le Coeur de la Matiére, Paris, Seuil, 1976.

* Jorge Pinheiro, 64, é cientista da religião e teólogo. 
É Pós-Doutor em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutor e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Pós-Graduado e Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. É professor de Teologia e História na Graduação e no Mestrado da Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Entre suas principais obras estão Deus é brasileiro, as brasilidades e o Reino de Deus, São Paulo, Fonte Editorial, 2008; História e religião de Israel, origens e crise do pensamento judaico, São Paulo, Editora Vida, 2007; e Teologia e Política, Paul Tillich, Enrique Dussel e a Experiência Brasileira, São Paulo, Fonte Editorial, 2007.
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Sedevacantismo

O brasão da Sede vacante, usado pela Santa Sé da morte do Papa para a eleição de seu sucessor.
Sedevacantismo é a posição defendida por uma minoria resoluta de católicos tradicionalistas que afirmam que a Santa Sé está vaga desde a morte do Papa Pio XII, em 1958, ou de Angelo Roncalli João XXIII em 1963. Entretanto, nem todos os tradicionalistas são sedevacantistas, exemplo é a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Sedevacantistas acreditam que Paulo VI (Giovanni Battista Montini, 1963-1978), João Paulo I (Albino Luciani, 1978), João Paulo II (Karol Wojtila, 1978-2005) e Bento XVI (Joseph Ratzinger, 2005-2013) não foram católicos verdadeiros nem, portanto, papas legítimos, em virtude de, alegadamente, terem abraçado a heresia do modernismo, ou de terem negado ou contrariado solenemente dogmas católicos definidos. Alguns deles classificam Roncalli (1958-1963) também como um antipapa modernista.
Segundo o livro Men of a Single Book, de Mateus Soares de Azevedo:
"O concílio Vaticano Segundo permitiu que a nova ideologia humanista do ‘progresso’, ciência e tecnologia invadisse os sacros limites antes reservados para o conhecimento e o amor de Deus. Mas, desde que a religião nunca pode ser um suporte para a mentalidade materialista como estruturada pela Renascença e o Iluminismo, e de fato está em completa oposição a ela, os chefes do concílio buscaram uma pacto e uma acomodação com a mentalidade moderna. Tal meta constitui, contudo, uma clara traição do espírito cristão. Muito antes do Vaticano II, ainda na década de 1920, René Guénon escreveu: qualquer compromisso entre o espírito religioso e a mentalidade moderna enfraqueceria o primeiro e só beneficiaria a segunda, cuja hostilidade não seria por isso diminuída, dado que o modernismo almeja a aniquilação total de tudo que, na humanidade, reflete uma realidade superior a ela mesma (in: A Crise do Mundo moderno). Palavras proféticas.
O principal arquiteto desta revolução dentro da igreja foi o jesuíta francês Teilhard de Chardin; ele foi o ‘elo perdido’ entre o Renascimento, o Iluminismo e o Vaticano II. Com seu evolucionismo panteísta com verniz cristão, Teilhard dizia que Cristo representou um grande 'salto evolutivo' e que Deus também está sujeito à 'evolução'! Seu ‘testamento intelectual’ pode ser resumido num extrato de seu livro Cristianismo e Evolução (p.99): 'Se, como resultado de alguma revolução interior, eu perdesse sucessivamente minha fé em Cristo, minha fé no Deus pessoal e a fé no espírito, creio que continuaria a crer de forma invencível no mundo. O mundo, seu valor, sua bondade, sua infalibilidade, é isso, ao final das contas, a primeira, a última e a única coisa em que creio.' Não é sem razão que um comentário espirituoso diz que se Lutero foi um cristão que deixou a Igreja, Teilhard foi um pagão que permaneceu nela!"1
O termo "sedevacantismo" é derivado da frase em latim sede vacante, que significa literalmente "a cadeira vaga", onde o cadeira em questão é a de um bispo. A utilização específica da frase está no contexto da vacância da Santa Sé, entre a morte ou renúncia de um Papa e a eleição de seu sucessor. Para os sedevacantistas, a Igreja Católica não tem actualmente um Papa para a governar e guiar.
Alguns pequenos grupos de católicos tradicionalistas, oriundos do sedevacantismo, têm a sua alternativa própria: elegeram e reconheceram um dos seus como o verdadeiro e legítimo Papa. Devido ao facto de eles afirmarem que a Santa Sé é dirigida pelo seu candidato, eles não são sedevacantistas em sentido estrito, por isso são chamados de "conclavistas". No entanto, o termo "sedevacantista" é também frequentemente aplicado a eles, porque eles rejeitam a actual sucessão papal aceite pela Igreja Católica, pelas mesmas razões do que os sedevacantistas.
 JARDIM DO ÉDEN - YHWH E A SERPENTE - 30min
 Os mistérios do jardim do Éden (fora da Biblia) 45min.
 Deus está no jardim: 

 Mundo cristão em ciência, evolução, criação e fé

Molly Peterson



17 de abril, 2013, 15:00 - cortesia On Being

Pierre Teilhard de Chardin.



 
"Nós evoluímos de uma espécie menor que iniciou a sua vida no oceano. Nós temos uma afinidade natural para o oceano ", disse o padre Christian Mondor. Nem sempre é fácil dizer a partir de uma história de rádio, mas o padre Mondor tinha um jeito de falar, onde se pensou que iria combinar perfeitamente para o próximo. Eu o entrevistei para o meu "Deus está no jardim" série.
Desta forma, ele saltou para as conexões entre a fé ea ciência. "Eu acho que [Pierre] Teilhard de Chardin, o grande teólogo jesuíta francês e paleontólogo, viu na evolução de uma nova maneira maravilhosa de compreender os evangelhos: que estamos realmente evoluindo, e isso está acontecendo o tempo todo," Pai Mondor me contou. "Estamos evoluindo para o divino, sem, surpreendentemente, perder a nossa humanidade."

    
"Por meio de todas as coisas criadas, sem exceção, os assalta divinos nós, nos penetra, e moldes de nós", escreveu Teilhard. "Nós imaginado como distante e inacessível, quando na verdade vivemos mergulhados em suas camadas de gravação." [O Meio Divino]
O fato de que ele trouxe Teilhard de Chardin disse-me que o Pai Mondor foi, no mínimo, ao mesmo tempo, um tipo suave de rebelde. Teilhard serviu como um portador de maca durante a I Guerra Mundial, ele recebeu um doutorado em geologia na Sorbonne depois. Mas ele passou a maior parte de sua vida mais tarde exilado na China, o que é sem dúvida o seu mais famoso livro, The Phenomenon of Man, não obter a aprovação da liderança da igreja antes de morrer.
Claro, não é controverso agora dizer que a evolução e a fé podem co-existir. Mas quando o Pai Mondor estava no seminário, Teilhard de Chardin estava a caminho de ser colocado em uma lista de autores que foram não muito proibidos, para passar sua vida acadêmica incorporar as duas ideias.
As conexões entre as formas Teilhard de Chardin, Francisco de Assis, e Mondor cristã de Huntington Beach acha que são fortes. Ao enfatizar o valor de plantas e animais, criaturas que não são pessoas, eles fizeram seus cantos do catolicismo menos humancentric. E o pensamento de todos os três homens apontou para um destino comum para todos os seres vivos. Aqui de Teilhard de novo:

    
A frase "Sense da Terra" deve ser entendida como a preocupação apaixonado pelo nosso destino comum, que desenha a parte pensante de vida cada vez mais para a frente. A unidade humana só verdadeiramente natural e real é o espírito da Terra. . . . O sentido da Terra é a pressão irresistível que virá no momento certo para uni-los (a humanidade), em uma paixão comum. [A construção da Terra]
Pai Mondor ler me Cântico do Sol de São Francisco. Teilhard tinha seu próprio tipo de oração que pode ser apropriado para os ambientalistas, embora mais moderna:

    
Bendito sejas, poderoso matéria, marcha irresistível da evolução, a realidade sempre recém-nascido, você que, constantemente quebrando as nossas categorias mentais, nos forçar a ir cada vez mais e mais em nossa busca da verdade. [Hino do Universo]
Pai Mondor falou mais sobre Teilhard de Chardin. Você pode ouvir à esquerda.


 Fontes:
Wikipédia
Licença padrão do YouTube
http://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/
teologia-da-evolucao-teilhard-de-chardin-e-o-darwinismo-teologico/
www.espacoacademico.com.br/1095/95esp_pinheiro.htm
 http://www.scpr.org/blogs/environment/2013/04/17/13334/
god-is-in-the-garden-christian-mondor-on-science-e/

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