terça-feira, 29 de março de 2011

OS SONS E A ÁGUA NA COSMOLOGIA DO ANTIGO EGITO




“NUMEROSAS SÃO AS FORMAS
DAQUILO QUE PROCEDE DA MINHA
BOCA”.
AMEN-RÁ


Flor de Lotus

            Na palestra anterior falamos da relação entre os sons, os chacras, e os elementais; dissemos que as doutrinas baseadas nos Vedas valorizam mais o som da voz do que o som dos instrumentos isto porque a voz é passível de ser acrescida de ritmo, melodia, harmonia, pausas, intensidade, entonações e outros recursos que os instrumentos geralmente não oferecem. 

Também dissemos que os sons são desdobramentos do OM e que esta sílaba tem correspondência em diversos sistemas com o mesmo sentido. Falamos que os Vedas associavam o OM ao Princípio Creador, assim como nas religiões judaico-cristãs falam de “O VERBO”. 

Nesta palestra vamos falar um pouco da cosmologia egípcia na Antigüidade e o que nela existe escrito sobre o som. 

O “Livro dos Mortos” do antigo Egito cita: “Numerosas são as formas daquilo que procede da minha boca”. O deus era também chamado de Amen-Ra, com o prefixo “Amen”. O termo AMEN, ou AMN conforme entendiam os sacerdotes egípcios da Antigüidade equipara-se ao OM dos hindus[1]

Praticamente todas as cosmogonias falam do som e da água no processo da criação; são dois elementos que quase sempre aparecem juntos.
Existe um papiro em que está escrito: 

Ra falou no princípio da Criação 
e mandou que a Terra e os céus 
se erguessem da imensidão das águas ”.


Segundo a cosmologia egípcia os deuses eram hábeis em pronunciar a palavra creadora. Com as “palavras de poder” a hierarquia dos deuses criavam e destruíam a forma, curavam os enfermos e davam vida aos mortos.  Assim foi que o Deus RA pronunciou palavras criadoras a fim de dar existência a todos os “deuses menores” da hierarquia celeste. Ra também revelou o segredo de certas palavras de poder ao clero terreno; palavras mediante as os répteis podiam ser dominados, e diversas enfermidades e outros males podiam ser vencidos. Isto revela que o poder criador da fala não se limitava àquilo que muitos podem chamar de mito da criação do universo. 

Segundo os escritos da Antigüidade egípcia o poder criador e transformador não era apanágio apenas dos deuses; os mortais que soubessem manejar as palavras de poder também podiam invocar e dirigir as energias dos céus, de conformidade com o que um papiro que aparece a figura de Rá ordenando:

Ouvi-me agora! 
Minha ordem é que todos os meus filhos 
sejam trazidos para junto de mim 
afim de que possam pronunciar palavras de poder
que serão sentidas na terra e nos céus.” 

Mesmo que tudo o que existe em alguns papiros, como o que mencionamos nesta palestra seja considerado por muitos como simples mitos ainda assim mostra a existência de um paralelismo com relação ao valor que era dado aos sons entre sistemas religiosos afastados no espaço e no tempo.

A religião egípcia[2] afirmava que do mesmo modo como os deuses criavam - pela visualização e pela fala, também era possível ao homem operar mudanças no mundo físico. Considerava que a visualização combinada com certos mantras e invocações era uma chave vital no sucesso na maioria dos atos de magia que ocupava um lugar de destaque nas atividades dos sacerdotes.

Indo mais adiante, afirmava que o homem, graças ao seu versátil aparelho vocal e à sua capacidade de construir instrumentos musicais, podia ser investido de um enorme poder desde que, conhecendo o som da nota tônica de um objeto e reproduzindo aquele som ele podia assimilar a energia daquele objeto, ou pessoa. Isto constituía a principal base da magia egípcia.

Tal como na China, também no antigo Egito era mencionada a existência de sete tons cósmicos, que eram chamados de “os sete tons principais do Amen”. Existe um texto egípcio gnóstico de data e origem desconhecida que diz talvez numa forma alegórica

“No princípio Deus riu sete vezes: 
Há -Há - Há - Há - Há - Há - Há. 
Deus riu e dos sete risos surgiram sete deuses
que abarcaram todo o universo
constituindo-se assim os primeiros deuses”. 

Vimos que a religião do antigo Egito de várias outras são concordes com a idéia da existência de seres que denominam de “os sete primeiros deuses” os quais na cosmologia das religiões védicas eram resultantes das sete primeiras diferenciações do Tom Único. 

Por sua vez os Hebreus chamavam a esses deuses Eloim.  Em muitas passagens do gênese como consta na Bíblia, quando Deus decreta a Criação, a expressão “Senhor Deus” é, na realidade, uma simples tradução da palavra hebraica plural Eloim. Existe uma versão hebraica original que atribui ao Creador à denominação de “Deus dos sete Tons”. 

A cada um dos sete primeiros deuses emanados da Trindade é atribuída uma nota tônica da escala musical, e por isso os cabalistas colocam os sete deuses no lugar dos sete sephirot da “Árvore da Vida” onde também cada sephirah corresponde a uma das notas da oitava musical.

O mesmo é dito em referência aos ensinamentos hindus; mas no Hinduísmo faz-se uma distinção entre cinco e mais dois em referência aos cinco tons e os dois semitons. (São considerados semitons duas das sete notas da escala diatônica). Dizem os brâmanes: “ Sete são os grandes Deuses abaixo do Trimurti e só cinco deles trabalham Indras, Vayu, Agni, Varuna, Kshiti” e dois estão ocultos.

Escaravelho


[1] A palavra Amem é ainda hoje usada naturalmente  como palavra final das orações do Catolicismo. ( mas sua verdadeira razão é o imperativo  do verbo AMAR -Amem !

[2] Na realidade não é de se esperar que os registros históricos dos ensinamentos, assim como dos costumes da sociedade sejam idênticos em afirmativas. Tem que ser levado em conta que a civilização egípcia perdurou, segundo a ciência oficial por cerca de quatro mil anos, e segundo os registros da Tradição cerca de doze mil anos. Em tão vasto espaço de tempo é natural que muitas variantes sobre os princípios religiosos hajam existido.
 
  José Laércio do Egito

 Fonte:
José Laércio do Egito
 
  http://www.laerciodoegito.com.br/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=26&Itemid=83

1998 - 3351
T E M A 0.884

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