picture : Oura Catholic Church Nagasaki Japan
cond. Kurt Masur
orch. The Leipzig Gewandhaus Orchestra
Kyrie 0:00~08:01
Gloria 08:03~24:46
Credo 24:50~44:20
Sanctus 44:21~58:29
Agnus Dei 58:31~
cond. Kurt Masur
orch. The Leipzig Gewandhaus Orchestra
Kyrie 0:00~08:01
Gloria 08:03~24:46
Credo 24:50~44:20
Sanctus 44:21~58:29
Agnus Dei 58:31~
Se existe o mal, existe Deus?
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
«Os Salmos podiam afirmar que Javé
“chovia” ou “trovejava”,
que era ele que causava a guerra e mandava a
peste.
O Novo Testamento podia supor que determinada enfermidade era
causada pelo demônio. Hoje, porém, isso não é mais possível. Mesmo que o
quiséssemos, não podemos ignorar que a chuva e o trovão têm causas
atmosféricas bem definidas; que a doença obedece a vírus, bactérias ou
disfunções orgânicas; e que as guerras nascem do egoísmo humano.
Ao
falarmos de fenômenos acontecidos no mundo, impôs-se a evidência de que a
“hipótese Deus” é supérflua como explicação. Mais ainda, é ilegítima e,
obstinar-se nela, acaba fatalmente prejudicando a credibilidade da fé»
É com estas e outras considerações que Andrés Torres Queiruga procura explicar a ação de Deus no mundo em dois de seus livros:
“Um Deus para hoje” e “Repensar o mal”.
Dada a importância do assunto, permito-me aprofundá-lo em quatro
artigos, deixando-me conduzir, nos três primeiros, pelo teólogo espanhol
e, no último, por Bento XVI, que ratificará – ou retificará – o
pensamento do Pe. Andrés.
Queiruga começa com um questionamento:
«O
problema mais sutil – e, por isso mesmo, a tarefa mais difícil –
aparece pelas posições de meio-termo, em que ou se aceitam os
princípios, mas não se tiram as consequências, ou se admitem alguns
elementos, mas se resiste a aceitar outros que, no entanto, são
solidários. Assim, não se pensa mais que Deus “chova”, mas, em alguns
lugares ou ocasiões, se fazem preces para pedir chuva; não se crê mais
que Deus mande a guerra, mas se celebram missas por suas campanhas;
reconhecem-se os gêneros literários na Bíblia, mas continua-se tomando à
letra o sacrifício de Isaac. A intenção pode ser boa, mas os danos
acabam sendo muito graves».
A raiz do problema foi sintetizada no
que se costuma denominar
“O dilema de Epicuro”. Nele, o filósofo grego
nega a existência de Deus a partir da presença do mal na história
humana: «Ou Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode; ou pode,
mas não quer; ou não pode nem quer; ou pode e quer. Se quer e não pode, é
impotente; se pode e não quer, é mau; se nem quer nem pode, é fraco e
perverso; se pode e quer, então, por que não o elimina?».
Queiruga comenta o dilema com estas palavras: «Em
vista dos grandes males que afligem o mundo, um Deus que, podendo, não
os elimina, acaba por força aparecendo como ser mesquinho e insensível,
indiferente e, até mesmo, cruel. Porque, quem, se pudesse, não
eliminaria – sem pergunta prévia de qualquer tipo – a fome, as pestes e
os genocídios que assolam o mundo? Seremos nós melhores que Deus? Como
disse Jürgen Moltmann, diante da recordação de Verdun, Stalingrado,
Auschwitz ou Hiroxima, um Deus que permite tão escandalosos crimes,
fazendo-se cúmplice dos homens, dificilmente se pode chamar Deus».
Para Santo Tomás de Aquino, porém, o que
o argumento de Epicuro prova é... a existência de Deus: «Se existe o
mal, existe Deus. O mal não existiria se não existisse o bem, do qual é
privação. E o bem não existiria se Deus não existisse». Outro teólogo
para quem o sofrimento não impede a crença em Deus é o mártir evangélico
Dietrich Bonhoeffer, morto num campo de concentração nazista em 1945.
Para ele, a vida brota do amor – o qual, por se identificar com a busca
do bem, exige uma constante conversão.
Contudo, de acordo com o Pe. Andrés, tais conceitos precisam ser bem entendidos: «Bonhoeffer
encontrou a melhor resposta para o nosso tempo:
“Só o Deus sofredor
pode salvar-nos”. Mas essa afirmação só é válida se se situa dentro do
paradigma de um Deus não intervencionista e delicadamente respeitoso da
autonomia do mundo. Enquanto se mantiver, de modo acrítico e talvez
inconsciente, o velho pressuposto de uma onipotência abstrata e
definitivamente arbitrária, no sentido de que Deus poderia, se quisesse,
eliminar os males do mundo, converte-se a resposta em pura retórica,
que a longo prazo mina pela raiz a possibilidade de crer.
De nada serve a
própria proclamação de que Deus sofre com nossos males, se antes pôde
tê-los evitado, pois, nesse caso, chegariam tarde demais sua compaixão e
sua dor. Pode até provocar o riso, como se diz do espanhol rico e
piedoso que construiu um hospital para os pobres... depois de tê-los
empobrecido!»
Fontes:
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