segunda-feira, 27 de junho de 2011

SANTO AGOSTINHO - VIDA E OBRAS



Santo Agostinho          

  A Vida e as Obras

Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo.

Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.

Aurélio Agostinho  nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente.

Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores conseqüências do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por conseqüência, uma justificação da sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão.

Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual.
Entrementes - depois de maduro exame crítico - abandonara o maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma concepção cristã da vida - no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria.

Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e dalguns discípulos, perto de Milão.

Aí escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloqüência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade.

Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade.

Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música . Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem .

Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras teológicas e religiosas, especialmente:

Da Verdadeira Religião, 
As Confissões,
A Cidade de Deus, 
Da Trindade, 
Da Mentira.

O Pensamento: A Gnosiologia

Agostinho considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral. Todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida.
 
O problema gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual.

Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias platônicas. No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus.

Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.

A Metafísica

Em relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é provada, fundamentalmente, a priori , enquanto no espírito humano haveria uma presença particular de Deus. Ao lado desta prova a priori , não nega Agostinho as provas a posteriori da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era excluído pelo platonismo.

Deus é ainda ser, saber, amor.
Quanto, enfim, às relações com o mundo,
Deus é concebido exatamente como livre criador. 

No pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento cristão - agostiniano - temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo o mundo a Deus. No cristianismo, o mal é, metafisicamente, negação, privação; moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus.

O problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa com a criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência de coisas que vem-a-ser e são, portanto, criadas.

Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção aristotélico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria.

A alma nasce com o indivíduo humano e,
absolutamente, é uma específica 
criatura divina, como todas as demais. 

Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite.

Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como já mais acima se salientou, a natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso pelos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa doutrina dos germes específicos dos seres - rationes seminales .

Deus, a princípio, criou alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos. Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo , como alguns erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das espécies, negada pelo moderno evolucionismo.

A Moral

Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia do prático, da ação - própria do pensamento latino - , contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor.

Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica.

O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do pecado original - é: poder não pecar ; depois do pecado original é: não poder não pecar ; nos bem-aventurados será: não poder pecar . A vontade humana, portanto, já é impotente sem a graça.

O problema da graça - que tanto preocupa Agostinho - tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.

Quanto à família , Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimônio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto à política , ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural.

Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.

O Mal

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral.

A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz.

Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim chamado mal metafísico , que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico , que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal.
Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser.

O mal moral entrou no mundo humano
pelo pecado original e atual; por isso,
a humanidade foi punida com o sofrimento, 
físico e moral, além de o ter sido com a perda 
dos dons gratuitos de Deus. 

Como se vê, o mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda.

Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, conseqüência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas conseqüências - estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal.

Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico).

A História

Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus , e resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antigüidade cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história humana.

O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é, por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. O conceito de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo metafísico.

Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua função. Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus , é representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu advento.

Contra este cidade se ergue a cidade terrena , mundana, satânica, que será absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.
Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira concerne à história das duas cidades , após o pecado original, até que ficaram confundidas em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação.

Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus , recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois, fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e um progresso.

É o progresso para Cristo, sempre mais claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam diretamente o caminho. Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades ; elas se confundem como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais união caótica, mas configurada na unidade da Igreja.

Esta não é limitada por nenhuma divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar.

A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja - ainda que só na unidade dialética das duas cidades , para o triunfo da Cidade de Deus - a divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno.

É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é uma teologia, não uma filosofia da história.


Santo Agostinho: “A cidade de Deus” 

- (413 a 426 d.C.)

Do Livro XIX cap. 12: Paz, Suprema Aspiração dos Seres.

Quem quer que repare nas coisas humanas e na natureza delas reconhecerá comigo que, assim como não há ninguém que não queira sentir alegria, assim também “não há ninguém que não queira ter paz”. Com efeito, os próprios amigos da guerra apenas desejam vencer e, por conseguinte, anseiam, guerreando, chegar à gloriosa paz.

E em que consiste a vitória senão em sujeitar os rebeldes?

Logrado esse efeito, chega a paz. A paz é, pois, também o fim perseguido por aqueles mesmos que se afanam em demonstrar valor guerreiro, comandando e combatendo. 

Donde se segue ser a paz o verdadeiro fim da guerra. O homem, com a guerra, busca a paz, mas ninguém busca a guerra com a paz. Mesmo os que de propósito perturbam a paz não odeiam a paz, apenas anseiam mudá-la a seu talante.

Sua vontade não é que não haja paz, e sim que a paz seja segundo sua vontade. Se por causa de alguma sedição chegam a separar-se de outros, não executam o que intentam, se não têm com os cúmplices uma espécie de paz. Por isso, os bandoleiros procuram estar em paz entre si para alterar com mais violência a paz dos outros.

Do livro: Ishay, Micheline R. (org.). Direitos Humanos: Uma Antologia – SP Edusp, 2006 p.108 e 109.

A Filosofia Medieval 
 
350 - 900 DC. Agostinho foi a linha de separação entre a especulação patrística e escolástica na filosofia medieval. Agostinho o maior de todos os pais latinos da igreja e não houve igual filosofo, teólogo desde Paulo até Tomás de aquino. Além dele temos Boethius como um dos principais filósofos deste período. Jonhn Scotus Erigena foi precursor do escolasticismo.
 
A Filosofia Medieval de Santo Agostinho (354-430)
O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos, era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagarte, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e ,com a ajuda de um amigo foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um bom aluno. Na juventude, detestava estudar grego. Interessa-se pôr filosofia ao ler uma obra de Cícero. 

Quando criança era cristão, mas depois interessou-se pôr outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita, e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Com o seu espírito o homem pode transcender a matéria, para os maniqueístas. 

O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada pôr Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, pôr considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, interessava-se pôr questões mundanas e nasceu um filho, falecido ainda adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem.

De Roma foi para Milão, onde foi novamente professor de retórica. Foi influenciado pelos estóicos, pôr Platão e o neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor. Voltou a Tagaste onde funda uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que sem a fé a razão não é capaz de levar para a felicidade. 

A razão, para Agostinho serve de auxiliar da fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico de que a natureza humano contém parte da essência divina. Demonstra que há limites para a racionalidade, receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética.

Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos e expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona.

Agostinho ficou conhecido pôr "cristianizar" Platão, fazendo vários paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as sagradas escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo e a alma, que é atemporal., com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. 

Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. De fato ,para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus) Essa teoria encontra-se no livro O livre arbítrio.

Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade.

O amor de Deus é infinito.
A graça e a liberdade complementam-se.

Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos.

Essas cidades estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria. Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida nos números, que fazem parte da natureza.

A Filosofia Medieval de Santo Anselmo (1033-1109)

Anselmo nasceu em Aosta na Itália, filho de um nobre Gondolfo, e de uma mãe rica, Ermenberga. Seguiu a carreira religiosa, fez estudos clássicos e escreveu sempre em latim. Foi eleito prior em 1063, porque tinha muita inteligência e piedade. Sua biografia nos é contada pelo seu discípulo, Eadmero. Foi comum na Idade Média os religiosos buscavam o apoio da fé na razão. Anselmo escreveu uma obra sobre esse assunto.

É considerado um dos iniciadores da tradição escolástica. Buscava um argumento para provar a existência de Deus, e sua bondade suprema. Fala que a crença e a fé correspondem à verdade, e que existe verdadeiramente um ser do qual não é possível pensar nada maior. Ele não existe apenas na inteligência, mas também na realidade. Anselmo desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases, chamados de argumento ontológico, que foi retomada por Descartes e criticada por Kant, e ela estava numa obra chamada Proslógio. 

Parte do fato de que o homem encontra no mundo muitas coisas, algumas boas, que procedem de um bem absoluto, que é necessariamente existente. Todas as coisas tem uma causa, menos o ser incriado, que é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram totalmente aceitos. Anselmo chegou a arcebispo da Cantuária em 1093.

Escreveu outras obras importantes, Da Gramática e A Verdade, latim. Recebeu doações de terras para a igreja, mas brigou com Guilherme, o ruivo, rei da Inglaterra pois não queria fazer comércio com os bens da Igreja. Isso foi considerado um desrespeito ao poder Real, e Guilherme impediu Anselmo de Viajar para Roma, desafiando o poder da Igreja.

Num dos seus primeiros livros, Monológico, em que apresenta sua visão de Deus, Anselmo fala que a essência suprema existe em todas as coisas e tudo depende dela. Reconhece nela onipotência, onipresença, máxima sabedoria e bondade suprema. Ela criou tudo a partir do nada. Anselmo procurava desenvolver um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade, que estava contida na Bíblia. Para Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão.

Sua palavra é sua essência, e Ele é pura essência (essa noção não é nova) infinito, sem começo nem fim, pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para ela o presente, o passado e o futuro são juntos ao tempo, são uma coisa só. E Ela é imutável, uma substância, embora seja diferente da substância das outras criaturas. Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a consciência das criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas. O verbo e o espírito supremo são uma coisa só, pois este usa o verbo consubstancial para expressar-se. Mas a maneira intrínseca que o espírito supremo se expressa e conhece as coisas é incogniscível para nós.

O verbo procede de Deus por nascimento, 
e o pai passa a sua essência para o filho.
O espírito ama a si mesmo, 
e transmite esse amor.

Para Anselmo, a alma humana é imortal, e as criaturas seriam felizes e infelizes eternamente. Mas nenhuma alma é privada do bem do Ser supremo, e deve buscá-lo, através da fé. E Deus é uno. Para se contemplá-lo devemos nos afastar dos problemas e preocupações cotidianos e buscá-lo. Ele é onipotente embora não possa coisas como morrer ou mentir. É piedoso, em parte por ser impassível, o que não o impede de exercer sua justiça, pois ele pensa e é vivo. Anselmo fala muito da crença divina do Pai, do filho e do espírito humano. Grandes coisas esperam por aquele que aceitar Deus e buscá-lo. Santo Anselmo influenciou muito o pensamento teológico posterior.

A Filosofia Medieval de São Tomás de Aquino

Aquino nasceu em um castelo próximo à cidade de Aquino, Itália, de uma família nobre. Entrou cedo para a ordem Dominicana. Não se sabe com precisão os acontecimentos da sua vida. As universidades surgem no século XII, e elas começam a ter forte atuação e influência. Cria-se um ambiente cultural, nas capitais, em que irão atuar Alberto Magno e seu discípulo, São Tomás de Aquino. Há uma miscigenação cultural, pois os Sábios da Arábia vem para a Europa. São Tomás de Aquino entrou para a universidade de Nápoles, onde estudou filosofia. Sabia, falava e escrevia em latim fluentemente.
Escreveu um opúsculo quando ainda era jovem, O ente e a Essência, entre os anos de 1252 e 1253. 

Aborda questões metafísicas, explicando o percurso da consciência humana entre a sensação e a concepção . Diz, o que cai imediatamente no alcance do saber humano é composto. O homem se eleva do composto ao simples, do posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A substância composta é matéria e forma. A forma e matéria, quando tomadas em si, ou seja sem o aparato do entendimento racional considerando-as, é incognoscível, mas existem caminhos para a investigação das possibilidades. O intelecto quando está isento da materialidade, desvela que nada pode ser mais perfeito do que aquilo que confere o ser. São Tomás é famoso por ter cristianizado Aristóteles, à semelhança do que fez Agostinho com Platão, ele transformou o pensamento desse sábio num padrão aceitável pela igreja católica, Apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, como diz Tomás, e de sua obra ser original, autônoma e independente de dogmas, ele está em harmonia com o saber contido na Bíblia. E Tomás aplica o pensamento de Aristóteles na teologia.

No Ente e a Essência, ele comenta obras como a Física e a Metafísica. E as observações sobre Aristóteles vão permanecer em todas as suas obras. Além dessa influência podemos citar os padres da Igreja, o pseudo-dioníseo (mais cultura grega), Boécio e os árabes e judeus como influência. Tomás de Aquino afirma que podemos conhecer Deus pelos seus efeitos, ele é o último em uma escala evolutiva, a causa de todas as coisas. Antes de Deus vem os anjos, e antes desses, os homens. Ele comenta o gênero e a espécie, que pertencem à essência, pois o todo está no indivíduo.

A essência tem dois modos, um é dela própria, nada é verdadeiramente dela, senão o que lhe cabe como ela própria. Por exemplo o homem, por ser homem, será sempre racional. Mas o branco e o preto não são noções exclusivas da humanidade.

No outro modo, algo se predica da essência, por acidente daquilo que é específico, como o homem ser de cor branca. As formas são inteligidas na medida em que estão separadas da matéria e suas condições. A diferença da essência da substância compostas e simples é que a composta é forma e matéria, e a simples é apenas forma.

A inteligência possui potência e ato.

Santo Tomás de Aquino é mais um que fala (como o fez mais tarde Espinosa) que a essência de Deus é o seu próprio ser.
Concluindo, ele diz que há essência nas substâncias e nos acidentes.
Então virou professor e foi para Paris, onde escreve comentários sobre a Bíblia. Nessa cidade passa a vida, foi onde escreveu as duas Sumas que compõe a sua obra: A Suma contra os gentios e a Suma teológica, mais diversos opúsculos. São obras teológicas, com muitos aspectos filosóficos. Santo Tomás afirma que o homem possui uma capacidade, passada por Deus, de distinguir naturalmente o certo e o errado. 

Ele não tinha uma visão muito positiva da mulher, como Aristóteles, que dizia ser o homem ativo ,criativo e doador de energia vital na concepção, enquanto a mulher é receptora e passiva. Ele achava que isso estava de acordo com a afirmação da Bíblia que a mulher deriva de uma costela do homem. Na Bíblia está escrito como viver segundo a vontade de Deus, e daí Tomás tira seus argumentos sobre a vida moral. Ele demonstra que não há conflito entre a fé e a razão. 
O conhecimento verdadeiro 
é uma adição da inteligência
para o objeto a ser inteligido em si. 

Apesar de Deus ser a causa de tudo, ele não age diretamente nos fatos de sua criação. Mas a providência existe e governa o mundo, pois ele é abslouto e necessário. E a felicidade do homem só pode ser encontrada na contemplação da verdade.
A obra de São Aquino é imensa, alguns de seus trabalhos foram escritos por ele mesmo, outros ditados e outros ainda reportados. Aristóteles disse, e isso foi comentado por São Tomás, que o homem tem a sensação em comum com os animais, que sentem de maneira perfeita. 

A memória nasce pelo acúmulo de lembranças, 
e a lembrança nasce da experiência. 
Mas o homem se eleva ao raciocínio 
e produz a arte. 

A filosofia é um conhecimento 
das causas dos fenômenos.

Assim a filosofia deve considerar o senso comum e tem um aspecto coincidente com a teologia: seu saber provém da Sabedoria divina. Então, em menor grau o saber popular também. Mas a sabedoria divina deve ser procurada através da fé, dizia Tomás, e isso é comum entre os teólogos.

Ele distingue na natureza o ser real 
e o ser da razão (Espinoza nos Pensamentos metafísicos
também o faz, mais uma vez.).
O ser real existe independente 
de qualquer consideração da razão. 

O ser da razão é aquele que apesar de existir em representação, não pode ser independente do pensamento de quem o concebe. Assim a lógica humana só existiria no conceito, e não na realidade. Por outro lado, a alma é imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é imortal. Esse argumento como outras verdades teológicas pode ser agora combatido, mas durante séculos ele fundamentou o pensamento em que a Igreja se apoia.

Para Tomás, o conhecimento passa por vários graus de abstração cujo objetivo é conhecer a imaterialidade. O primeiro esforço da existência abstrativa consiste em considerar as coisas independentemente dos sentidos e da noção que tiramos dele. O segundo esforço consiste em considerar as coisas independentes das qualidades sensíveis. No terceiro esforço tem que se consideraras coisas independentes do seu valor material. Assim chega-se ao objeto metafísico, que é imaterial, espiritual.

Na Suma contra os Gentios faz uma exposição completa da religião católica, identificando o que há de verdade nela. Gentios eram os pagãos e os maometanos. Essa suma trata de Deus e suas obras, da fé no mistério da santíssima trindade, da encarnação, dos sacramentos e da vida eterna. Deus é a verdade pura, sem falsidade vontade que existe em si e para si e neste processo estende sua vontade para o que não é a sua essência. 

O que não é sua essência seriam só as coisas percebidas, pois Deus é tudo. Não tem ódio, não quer o mal, sua potência indica-se com a sua ação, mas ele não pode tudo. Santo Tomás de Aquino faz a distinção entre a filosofia e teologia. E as criaturas não existem desde sempre. Ele descreve o momento em que se inicia uma vida, quando mostra como a alma se junta ao corpo. É uma grande obra, que influenciou e influencia até hoje todos os que se querem católicos, além de filósofos e outros estudiosos.

O ESCOLASTICISMO
Alguns datam os primórdios deste movimento no século VII DC. Fazendo o prolongar-se até o século XV DC. Seja como for, chegou a o seu ponto culminante nos séculos XII e XIII.

Esse nome alude aos homens de escola os mestres universitários, filhos da igreja católica romana, que controlavam o sistema educacional da Europa, durante a idade média. O sistema estava alicerçado sobre o manuseio filosófico da fé cristã, destacando se as idéias filosóficas de Platão e Aristóteles mas, especialmente, a lógica e a metafísica do último deles. 

O maior filosofo deste período foi Tomas de Aquino. A filosofia dele continua sendo uma poderosa força tanto no seio da igreja católica romana quanto no mundo filosófico.
Os principais teólogos filosóficos deste período foram.
  • Anselmo 1033 - 1109
  • Roscelino 1050 - 1122
  • Guilherme de Cjampeaux 1070 - 1121
  • Pedro Abelardo 1079 - 1142
  • Pedro Lombardo + - 1164
  • Vernardo de Clairvaux 1091 - 1153
  • João de Salisbury 1115 - 1180
  • Alexandre de Hales falecido em 1245
  • Alberto Magno 1193 - 1280
  • Tomás de Aquino 1225 - 1274
  • Boaventura 1121 - 1274
  • Rogério Bacon 1214 - 1294
  • João Duns Scotus 1226 - 1308
Fonte:
Mundo dos Filósofos
http://www.mundodosfilosofos.com.br/agostinho.htm
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/
http://www.coladaweb.com/filosofia/a-filosofia-medieval
Sejam felizes todos os seres  Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres

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