quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ARTES E GUERNICAS PRA QUÊ?



 ARTE: Guerra fraticida - obra do homem
 

Eles disseram que só queriam destruir uma ponte. Mas o 26 de abril de 1937, quando os pilotos alemães bombardearam Guernica Legion, devastou a cidade e matou centenas de civis. Foi o primeiro grande crime de guerra da Luftwaffe, a força aérea alemã.  
  
Uma história carregada de emoção e cinzas agita os pincéis na tela do tamanho do negrura da alma dos fraticidas de braços e ferro e corações apodrecidos no cenário do mundo.

Era após era a selvageria se faz numa segunda-feira, abril 26, 1937, pouco depois de cinco horas, bem na horinha que o Sol no céu está surgindo no convite diário do acordar, pra de pé, as gentes sairem dos sonhos e recomeçarem a lida do bom combate sob a luz festiva  amorosa  após 
a tempestade dos últimos dias ,renovando ânimos em cada fresta viva pelo Golfo da Biscaia. Apenas algumas nuvens cirrus refletiam a doçura da luz solar entoando a música de mais um amanhecer na terra em construção.

E eis que a turba de feras aos brados irropem com chuva de tiros , bombas certeiras arrombam portas e mentes,invadem casas, prédios e lares de gente ainda necessitado de repouso no refazer as forças para cumprir sua parte na organização da cidade e de si mesmos. 

  Adeus silêncio da madrugada  , adeus mansa labuta, agora corpos estraçalhados despencam   no solo  tinto de sangue sob escombros maquinados pela selvageria sem compaixão - gabirus armados e sob comando da ferocidade, roem e corroem as vigas da sociedade carente de trabalho e de paz.
 E eles disseram
que só queriam destruir a ponte!

Que enigmático labirinto de mistério
ronda na mente dos guerreiros?
Não sabem que a natureza humana 
é um grande milagre a se realizar  no tempo,
consolidado nos laços da irmandade natural
e celeste  do amor universal?

 

Guernica

ou o manifesto político de P. Picasso

por 

Ângela Veríssimo   

Um dos quadros que melhor transmite todo o desespero advindo da guerra é o intemporal Guernica de Pablo Picasso, fazendo plena justiça à expressão "uma imagem vale por mil palavras". No início de mais um ano, quase no fim do milénio, aqui neste cantinho do Mundo Ocidental, é tempo de pensar no outro Mundo, cujos povos vivem em palco de guerra, e para os quais nada resta senão esperar por dias de paz.



Guernica 




Picasso não tinha sido muito afectado pela I Guerra Mundial e só com a Guerra Civil Espanhola se interessou por política, tornando-se vivamente solidário com os republicanos. As fotografias que aparecem na imprensa no ínicio de Maio de 1937 relativas ao bombardeamento de Guernica (antiga capital do País Basco) em 26 de Abril de 1937 tocam-no profundamente. 

Passado pouco mais de um mês e após 45 estudos preliminares, sai do seu atelier de Paris o painél Guernica (3.50 x7.82 m) para ser colocado na frontaria do pavilhão espanhol da Exposição de Paris de 1937 dedicada ao progresso e à paz.
Rapidamente o painél se transforma
num objecto de protesto e denúncia 
contra a violência, a guerra e a barbárie: 

"O quadro converte-se numa manifestação
da cultura na luta política, ou melhor dizendo,
no símbolo da cultura que se opõe à violência:
Picasso opõe a criação do artista 
à destruição da guerra"(1).
Donde vem a genial monumentalidade que faz de Guernica uma obra tão singular? Na minha opinião, o seu poder advém da carga emotiva que possui. Efectivamente, o painél não representa o próprio acontecimento, o bombardeamento de Guernica, mas "evoca, por uma série de poderosas imagens, a agonia da guerra total"(2), chegando a constituir uma visão profética da desgraça da guerra que nos ameaça hoje e que nos ameaçará no próximo século que segundo S. Huntington "se caracterizará por muitos conflitos de pequenas dimensões"(3), devido em grande parte à existência, na actualidade, de mais de meia centena de estados fragéis e desintegrados. 

De facto, a destruição de Guernica foi a primeira demonstração da técnica de bombardeamentos de saturação, mais tarde empregue na II Guerra. Picasso já em fase pós-cubista, consegue aqui tornar o acto pictórico na narração objectiva da ideia que formou perante o acontecimento e da emoção que sentiu. 

Com ele,"a pintura carrega consigo o seu património de experiências emocionais" deixando de ser "um ideal abstracto de beleza formal ou de representação lírica da aparência vísivel"2. Citando o artista:  

"Quando alguém deseja exprimir a guerra,
pode achar que é mais elegante e literário 
representá-la por um arco e uma flecha, 
que de facto, são estéticamente mais belos,
mas quanto a mim (...)
utilizaria uma metralhadora"(4).
 
Tecnicamente tudo em Guernica contribui para a transmissão de emoções avassaladoras a começar pelo uso da técnica de "collage" de que Picasso e Braque tinham sido pioneiros em 1911-12 e que o primeiro aqui retoma, já não "colando" objectos na superfície do quadro mas pintando como se fizesse colagens; com este Cubismo de Colagens cria-se um conceito de espaço pictórico radicalmente novo não criado por nenhum artifício ilusionista mas pela sobreposição dos "recortes" planos, neste caso especifíco em tons de preto e cinzento atravessados por claridades brancas e amareladas, numa total ausência da cor, inexoravelmente evocativa da morte.
 
A par disso, Picasso recorre a formas
dramáticas, violentas, a fragmentações e metamorfoses
anatómicas que se por um lado criam figuras 
que não aderem a nenhum modelo "real",
por outro exprimem toda a realidade
e agonia da dor insuportável. 
A comprovar isso atente-se nas várias figuras que o pintor representa neste quadro que aparentemente livre, obedece contudo a um rigoroso esquema em termos de construção (imagine-se a tela dividida em 4 rectângulos, com um triângulo cujo vértice corresponde ao eixo vertical que a divide em duas partes iguais): a mãe chorando a morte do filho (descendentes da Pietà...) e o ameaçador touro de cabeça humana, 

- 1º rectângulo, 
a mãe chorando a morte do filho (descendentes da Pietà...) e o ameaçador touro de cabeça humana,

2º retângulo,
o "olho" luminoso do candeeiro que derrama uma luz inóspita 

- 3º retângulo
a mulher com a lâmpada na mão recordando-nos a Estátua da Liberdade 

 e no 4º retângulo, o homem  em desespero levanta os braços ao céu .

Repare-se ainda no cadáver empunhando a espada partida (um emblema da resistência heróica) e o cavalo ferido que aparecem no referido triângulo. O cavalo é à semelhança do touro uma figura saída da mitologia espanhola; representa o povo que agoniza sob o jugo opressor do touro, símbolo da brutalidade, das forças do mal. 
Hoje, olhar para Guernica  
é ver apenas o primeiro ato do  um ensaio satânico 
- repetição do horror que Picasso esboçou 
das ações imperalistas no mundo atual. 
Olhar Guernica - silenciada nos fragmentos rústicos de um cubismo nascente, não dá a dimensão apocalíptica da indústria de matança que os países  imperialistas, mais ricos  e por isso mais civilizados , se orgulham de mais seus geniais artefatos de  engenharia bélica para matanças de menor custo em menos tempo; produzem initerruptamente ferramentas de  ações rápidas e certeiras contra alvos humanos, com a dupla finalidade de invadir nações alheias, incorporá-las ao seu obceno domínio e o que é mais trágico e vergonhoso, enriquecerem no nefasto comércio de mais e mais armas de destruição de povos e da natureza.

Esses vermes imundos 
que  portam diplomas e se intitulam engenheiros ,
acaso não são também homens, pais de família,
exemplos de gerações futuras?
Que raça é essa que constrói Catedrais,Escolas ,Hospitais,Laboratórios de Pesquisas, Centrais de ciências para humanização e na mesma determinação destrói seu próprio berço,seu caminho e sua possibilidade de evoluir na harmonia presente e futura?

A tela Guernica 
estampa há 74 anos 
a vergonhosa expressão da índole dos homens 
ou é um alerta para reflexão urgente,
absolutamente necessária ,
à preservação da raça humana? 
-
Se não é nada disso 
pra quê nascemos e queremos 
a Arte?
 
P.Picasso
Fontes:
ISA - ISIS

http://www.isa.utl.pt/campus/6_pablo.htm
Sejam felizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres

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