Líderes que tiveram o mesmo fim de Khadafi
A sangrenta imagem do corpo de Muammar Khadafi, na Líbia, remete a outros casos em que as transformações políticas passam pela necessidade de apagar (fisicamente) a imagem do líder anterior
As imagens do ex-ditador líbio Muammar Khadafi serviram de epitáfio definitivo para o regime que durou 42 anos. A morte dele em Sirte, sua terra natal, pode simbolizar um avanço no processo de paz e reconstrução da Líbia. Mas as circunstâncias da morte e a imagem de impotência de um líder que tiranizou uma região por décadas remeteram a outro déspota apeado do poder: Saddam Hussein, preso em 2003 no porão de uma fazenda perto de Tikrit, sua cidade natal, e enforcado em 30 de dezembro de 2006. O vídeo de Saddam inerte na forca correu o mundo.
A história mostra outros casos em que a morte de um líder funcionou como um rito de passagem para um novo modelo político. Na maioria deles, o desaparecimento do governante anterior simbolizou uma catarse de quem era subjugado e desejava se vingar. Selecionamos alguns exemplos desde o século XVIII, quando os revolucionários franceses levaram à guilhotinha Luís XVI.
A história mostra outros casos em que a morte de um líder funcionou como um rito de passagem para um novo modelo político. Na maioria deles, o desaparecimento do governante anterior simbolizou uma catarse de quem era subjugado e desejava se vingar. Selecionamos alguns exemplos desde o século XVIII, quando os revolucionários franceses levaram à guilhotinha Luís XVI.
SADDAM HUSSEIN Iraque Morto em 30 de dezembro de 2006 Quando foi capturado por americanos, em dezembro de 2003, era ditador do Iraque desde 1979. Condenado por um júri iraquiano, a imagem de Saddam enforcado foi vendida para o mundo como símbolo de libertação dos iraquianos | |
NICOLAE CEAUSESCU Romênia Morto em 25 de dezembro de 1989 Tiranizou a Romênia por 24 anos, em um dos regimes mais fechados e violentos do bloco soviético. Uma revolta popular tirou Ceausescu do poder, em 22 de dezembro de 1989. Três dias depois, ele e a mulher, Elena, foram condenados e fuzilados em uma transmissão ao vivo para o país | |
BENITO MUSSOLINI Itália Morto em 28 de abril de 1945 Mussolini (esq.) e sua amante, Clara Petacci, foram capturados pela resistência italiana em 27 de abril de 1945, quando tentavam fugir para a Alemanha. Executados no dia seguinte, os corpos deles e de outros fascistas ficaram pendurados de cabeça para baixo na Piazzale Loreto, em Milão | |
FAMÍLIA ROMANOV Rússia Morta em 17 de julho de 1918 A dinastia Romanov governou o Império Russo por três séculos e foi posta abaixo durante a Revolução Russa de 1917. O czar Nicolau II, a mulher, os cinco filhos e quatro acompanhantes foram presos em Ekaterinburg, na parte central da Rússia. Lênin mandou executá-los para simbolizar o fim do czarismo | |
LUÍS XVI França Morto em 21 de janeiro de 1793 A Revolução francesa derrubou a monarquia em 21 de Setembro de 1792. Luís XVI, rei da França por 18 anos, foi preso para exemplificar o fim do absolutismo e da monarquia frente à República. Foi condenado à morte na guilhotina, como mostra esta ilustração da época |
OSAMA BIN LADEN ?
Montagem?
A quem e a qual governo mundial interessa essa farsa?
Comemorar nietzschianamente a morte de Kadafi
Quando Jesus tentou ensinar o perdão para os homens de seu tempo, ele colocou para eles uma barreira intransponível. Ele pediu que seus contemporâneos não julgassem para não serem julgados. Ele acusou todos de hipócritas. Com isso, ele conseguiu que muitos aprendessem o perdão, mas, ao mesmo tempo, ele criou um discurso vazio.
O discurso
que denuncia a hipocrisia
é um discurso vazio.
Quando Nietzsche lançou a pergunta “quanto de verdade suportaria um homem?”, ele se pôs do lado contrário dos desprezadores da vida, principalmente Jesus.
A vida individual
só é uma vida individual porque social,
comunitária.
E se o homem é alguém que vive em rebanho, que vive comunitariamente, ele não tem outra escolha senão adotar como inerente à sua condição algum nível de hipocrisia. Na vida comunitária a própria verdade, Nietzsche disse, não seria outra coisa senão uma mentira socialmente aceita. Não podemos querer toda a verdade e, ao mesmo tempo admitir a existência da vida social.
Ora, mas sem a vida social não existe a vida.
Então, se a vida do homem deve ser afirmada,
e não desprezada, algum nível de hipocrisia
tem de ser cultivado.
Entender isso é entender não só a base da vida social, mas é, também, compreender o que Nietzsche queria que entendêssemos: que toda vez que alguém chama o outro de hipócrita, como se o outro pudesse não ser hipócrita, o que o xingador faz é nada mais nada menos que desprezar a vida. Afirmar a vida é viver a vida. É não criar condições para amaldiçoar a vida a ponto de se querer sair dela. Jesus queria sair da vida. Sua vida era um caminho para sair da vida. Por isso ele podia xingar todos de hipócritas, porque o parâmetro que ele tinha como o melhor para a existência era a situação pós-vida, a situação de morte, ou que ele chamou, por eufemismo, de vida eterna.
Quando
queremos desprezar a vida
chamamos os outros de hipócritas.
Assim, alguns de nós, diante do que ocorreu com Kadafi e outros ditadores, acredita que o correto não é comemorar e, sim, vir a público dar uma de Jesus e denunciar o Ocidente pela “hipocrisia”.
O Ocidente teria dado a mão para Kadafi e, depois, diante de uma nova conjuntura, por motivos (PETRÓLEO) que não são só os da liberdade e da democracia, ajudaram na morte do ditador. Quem diz isso, acusa os líderes ocidentais de hipocrisia. Então, agem como Jesus e não como Nietzsche. Não compreendem que nenhum líder ocidental poderia ser líder se viesse a público para dizer toda a verdade.
Os líderes são porta vozes de sociedades,
de toda a cultura, inclusive do necessário trato social
que as sociedades cultivam para serem sociedades.
Pedir a um lider que abstenha-se da hipocrisia é pedir não só que ele deixe de ser líder, mas que ele deixe de ser humano, obviamente um pedido imbecil.
Uma sociedade
sem um pingo de hipocrisia
não teria nenhuma regra,
porque não teria nenhum convívio social,
aliás, não teria crenças comuns e,
portanto, não seria uma sociedade.
Chamar as sociedades ou as pessoas de hipócritas é não dizer nada, ao menos quando se trata de fazer isso entre nós, pessoas como eu, que são antes afirmadores da vida que negadores dela. Os afirmadores da vida sabem que a vida e a hipcrisia são sinônimos. Um homem que agissse sem trato social, sem verniz, sem polidez, sem esconder o que pensa e sem ponderar o que pode dizer e o que não pode não seria civillizado, aliás, nem homem seria. Seria um anjo ou mesmo Jesus. Para uma mãe, seria um menino mal criado. Só os que não vivem nesse mundo ou que estão para sair dele podem xingar o mundo de “o mundo”.
Cada um de nós conta a verdade
que é a mentira socialmente aceitável.
Quando achamos que somos Jesus, aquele que sempre esteve a caminho da Cruz e, portanto, sempre crente de que iria abandonar o mundo para estar em outro reino, então podemos achar que há alguma denùncia ao falar “hipócritas”. Quem não é Jesus sabe que falar que os outros são hipócritas é o mesmo que falar que os outros humanos são humanos.
Quando entendemos isso, podemos dosar nossa hipocrisia e até conseguirmos melhorar nossas sociedades, mas quando teimamos em sermos Jesus, então ficamos diante da televisão para começar a sentir nojo de nossos líderes, de nossa sociedade, do Ocidente, de nossa democracia, de nossa política, de nossos ideais.
Perdemos o orgulho.
Perdemos o orgulho próprio.
Degradamo-nos e, então, estamos prontos
para cuspirmos em nós mesmos.
Chegamos então à condição cristã sem sermos Cristo. Torma-nos humildes não por virtude, mas por impotência. Tormamo-nos obrigatoriamente enojados de tudo e de nós mesmos.
Não queremos mais viver.
Estamos paralisados diante da TV. Tudo que fizermos estará no conjunto da hipocrisia que denunciamos. Passamos a não mais saber que essa condição de viver sob um determinado ethos, que sempre implica em uma hipocrisia, é a condição básica para reclamarmos por uma ética. É nossa condição não como pessoas errradas, mas simplesmente como pessoas. Não conhecemos uma outra situação.
Não estávamos na condição humana
quando a evolução ainda não havia nos mostrado
as possibilidades que adquirimos quando do bando
nos tornamos comuntários.
Quando vemos na TV Kadafi morto, não temos que cobrar de Obama ou de nós um discurso que não seja este: o de que fizemos o certo. Porque fizemos o certo mesmo. Eliminamos Kadafi porque ele era pior que nós, não importa que façamos coisas, entre nós, que nos lembre bem dele e de nossa amizade com ele. O que importa é que, em determinado momento, pudemos colocá-lo sob avaliação e, então, dizer: “não somos santos, não somos mesmo, mas ele é pior que nós”.
É assim que vivemos.
É assim que podemos afirmar a vida.
Quando fazemos outra coisa, quando começamos a denunciar o que é a nossa própria condição vital, estamos cansados da vida. Somos cristãozinhos sem Cristo. Pobres diabos.
NOSSA!!!
2011 Paulo Ghiraldelli Jr. , filósofo, escritor e professor da UFRRJ
Entrevista na TV (Rio)Filosofia e Cotidiano na TV por pgjr23
P.Picasso
Fontes:
Revista ÉPOCA
http://ghiraldelli.pro.br/2011/10/21/comemorar-nietzschianamente-a-morte-de-kadafi/
http://ghiraldelli.pro.br/2011/10/21/comemorar-nietzschianamente-a-morte-de-kadafi/
Sejam felizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres
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