Vida e Obra
Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig, a 1° de julho de 1646, filho de um professor de filosofia moral. Desde muito cedo, teve contato, na biblioteca paterna, com filósofos e escritores antigos, como Platão (428-347 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e Virgílio (c. 70-19 a.C.), e com a filosofia e a teologia escolásticas.
Aos quinze anos começou a ler Bacon (1561-1626), Hobbes (1588-1679), Galileu (1564-1642) e Descartes (1596-1650), passando a dedicar-se às matemáticas. Ainda aluno da Universidade de Leipzig, escreveu, em 1663, um trabalho sobre o princípio da individuação; depois foi para Iena, a fim de seguir os cursos do matemático Ehrard Wigel.
Desde essa época, Leibniz se preocupou em vincular a filosofia às matemáticas escrevendo uma Dissertação Sobre a Arte Combinatória. Nesse trabalho procurou encontrar para a filosofia leis tão certas quanto as matemáticas e esboçou as premissas do cálculo diferencial, que inventaria ao mesmo tempo que Newton. Por outro lado, no estudo da lógica aristotélica, Leibniz encontrou os elementos que o levaram à idéia de uma análise combinatória filosófica, vislumbrando a possibilidade de cria um alfabeto dos pensamentos humanos, com o qual tudo poderia ser descoberto.
Nos anos seguintes, doutorou-se em direito na Universidade de Altdorf e, em Nuremberg, filiou-se à Sociedade Rosa-Cruz. O ingresso nessa Sociedade valeu-lhe uma pensão e, ao que tudo indica, permitiu que ele se iniciasse na vida política.
A partir de então, a vida de Leibniz, segundo o historiador Windelband, apresenta muitas semelhanças com a de Bacon: Leibniz sabia mover-se agilmente em meio às intrigas da corte a fim de realizar seus grandes planos, sendo dotado também daquela "ardente ambição que levara Bacon à ruína".
Em 1670, foi nomeado conselheiro da Alta Corte de Justiça de Mogúncia. Com esse título, Leibniz foi encarregado de uma missão em Paris, em 1672.
Pretendia convencer o rei Luís XIV
a conquistar o Egito, aniquilando, assim, a Turquia
e protegendo a Europa das invasões "bárbaras".
Esperava, desse modo, desviar as atenções do rei e evitar que ele utilizasse sua potência militar contra a Alemanha. Seu projeto foi rejeitado, mas os três anos de estada em Paris não lhe foram inúteis. Entrou em contato com alguns dos mais conhecidos intelectuais da época: Arnauld (1612-1694), Huygens (1629-1695). Em 1676, Leibniz descobriu o cálculo diferencial, situando-se entre os maiores matemáticos da época.
Fora, no entanto, precedido por Newton, que, desde 1665, já inventara, embora sob ponto de vista diferente, um novo método de cálculo, o método das fluxões. Em Newton, as variações das funções são comparadas ao movimento dos corpos, sendo, portanto, a idéia de velocidade que fundamentava seu cálculo. Leibniz, ao contrário, parte de uma colocação metafísica, introduzindo a noção de quantidades infinitamente pequenas, o que o leva a empregar o algoritmo.
Em 1676, Leibniz encontra-se em Amsterdam com Espinosa, com quem discute problemas metafísicos. No mesmo ano torna-se bibliotecário-chefe em Hanôver, cidade na qual passaria ao restantes quarenta anos de sua vida. Saiu de Hanôver apenas para percorrer, durante três anos, a Alemanha e a Itália, realizando pesquisas em bibliotecas e arquivos destinadas a fundamentar suas missões diplomáticas.
Em 1711, viajou para a Rússia a fim de propor ao czar Pedro, o Grande, um plano de organização civil e moral para o país. Em seguida, esteve em Viena, onde conheceu o príncipe Eugênio de Savóia, ao qual dedicaria a Monadologia. Nessa época, realizou seus principais trabalhos filosóficos.
De volta a Hanôver, Leibniz encontrou diminuído seu prestígio, com a morte de sua protetora, a princesa Sofia, apesar de ter sido um dos maiores responsáveis para que Hanôver se transformasse em eleitorado e para que fosse criada a Academia de Ciências de Berlim. Relativamente esquecido e isolado dos assuntos públicos, Leibniz veio a falecer a 14 de novembro de 1716.
Racionalismo e Finalismo
Apesar de sua intensa e agitada vida pública, Leibniz deixou uma obra extensa, em que trata de quase todos os assuntos políticos, científicos e filosóficos de seu tempo. Dentre seus escritos destacam-se: Sobre a Arte Combinatória, Monadologia, Discurso de Metafísica, Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano, Sobre a Origem Radical das Coisas, O que é Idéia, Cálculo Diferencial e Integral, Característica Universal, Correspondência com Arnauld, Correspondência com Clarke, Sobre o Verdadeiro Método em Filosofia e Teologia, Sobre as Noções de Direito e de Justiça, Ensaio de Teodicéia, Considerações Sobre o Princípio da Vida, Sobre a Sabedoria, Sobre a Liberdade e Correspondência com Padre Bosses.
Parte considerável da obra de Leibniz e constituída por escritos de circunstância, com os quais – segundo muitos historiadores – tentava apenas obter favores dos governantes, fazendo todas as conciliações possíveis. Dilthey, ao contrário, considera que Leibniz perseguia um sincero ideal de síntese de todos os conhecimentos e das diferentes confissões religiosas de seu tempo. Outra parte (a volumosíssima correspondência e os trabalhos publicados somente após sua morte) revela – segundo Russel e outros – um pensador bastante diferente do Leibniz público Acrescentando-se a essa dupla face de seus escritos o fato de que muitos deles sequer foram concluídos, torna-se bastante difícil uma interpretação da filosofia leibniziana que não dê margem a dúvida e não suscite polêmica.
De qualquer modo – e embora Leibniz tenha criado um amplo sistema de idéias dotado de "múltiplas entradas" –, pode-se tomar para ponto de partida da compreensão da sua filosofia dois temas provenientes de fontes distintas: um da filosofia de Descartes, outro de Aristóteles e da escolástica medieval.
Descartes forneceu-lhe o ideal de uma explicação matemática do mundo; a partir dessa idéia, Leibniz pretendia lançar as bases de uma combinatória universal, espécie de cálculo filosófico que lhe permitiria encontrar o verdadeiro conhecimento e desvendar a natureza das coisas. De Aristóteles e da escolástica,
Leibniz conservou a concepção
segundo a qual o universo está organizado
de maneira teleológica, ou seja, tudo aquilo que acontece,
acontece para cumprir determinados fins.
As duas doutrinas foram sintetizadas pela filosofia de Leibniz, aparecendo unificadas na concepção de Deus. Para Leibniz, a vontade do Criador (na qual se fundamenta o finalismo) submete-se ao Seu entendimento (racionalismo); Deus não pode romper Sua própria lógica e agir sem razões, pois estas constituem Sua natureza imutável. Conseqüentemente, o mundo criado por Deus estaria impregnado de racionalidade, cumprindo objetivos propostos pela mente divina.
Essa síntese entre o racionalismo cartesiano e o finalismo aristotélico apresenta como núcleo uma série de princípios de conhecimento, dos quais se poderiam deduzir uma concepção do mundo e uma ética dotada inclusive de implicações políticas.
O primeiro desses princípios é o de razão. O princípio de razão consiste em submeter toda e qualquer explicação ou demonstração a duas exigências. A primeira funda-se no caráter não-contraditório daquilo que é explicado ou demonstrado; é a razão necessária ou princípio de não-contradição. A Segunda exigência consiste em que, além de explicado ou demonstrado não ser contraditório (e sendo, portanto, possível sua existência), a coisa em questão também existe realmente; é a razão suficiente. O princípio de razão afirma, portanto, que uma coisa só pode existir necessariamente se, além de não ser contraditória, houver uma causa que a faça existir.
Para Leibniz, além da causa eficiente que produz as coisas segundo o princípio de razão (não-contadição e suficiência), intervém também nessa produção a causa final. A primeira é de tipo matemático e mecânico, a Segunda é dinâmica e moral. O fim da produção das coisas é a vontade justa, boa e perfeita de Deus, que deseja essa produção.
O finalismo
é que sustenta o princípio do melhor:
Deus calcula vários mundos possíveis,
mas faz existir o melhor desses mundos.
O critério do melhor é sobretudo moral; com ele Leibniz pretende demonstrar que o mal é a simples sombra necessária do bem. O finalismo sustenta, desse modo, o otimismo leibniziano do melhor dos mundos possíveis.
Além dos princípios de razão (não-contadição e suficiência) e do princípio do melhor, que dão conta da produção das coisas, Leibniz faz com que intervenham também os princípios da continuidade e dos indiscerníveis.
O princípio da continuidade afirma que a natureza não dá saltos; assim como não há vazios no espaço, assim também não existem descontinuidades na hierarquia dos seres.
Leibniz afirma, por exemplo,
que as plantas não passam de animais imperfeitos.
O princípio dos indiscerníveis daria conta da multiplicidade e individualidade das coisas existentes. Leibniz afirma que não há no universo dois seres idênticos e que sua diferença não é numérica nem espacial ou temporal, mas intrínseca, isto é, cada ser é em si diferente de qualquer outro. A diferença é de essência e manifesta-se no plano visível das próprias coisas.
Os princípios do melhor, da não-contradição, da razão suficiente, da continuidade e dos indiscerníveis são considerados, por Leibniz, constitutivos da própria razão humana e, portanto, inatos, embora apenas virtualmente. Nos Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano, Leibniz rejeita a teoria empirista de Locke (1632-1704), segundo a qual a origem das idéias encontra-se na experiência, apenas uma "tabula rasa", uma folha de papel em branco.
Para Leibniz, ao contrário, a experiência só fornece a ocasião para o conhecimento dos princípios inatos ao intelecto: "Não se deve imaginar que se possa ler na alma, sem esforços e sem pesquisa, essas eternas leis da razão, como o édito do pretor é lido em seu caderno; mas é bastante que as descubramos em nós por um esforço de atenção, uma vez que as ocasiões são fornecidas pelos sentidos". Os empiristas teriam razão ao afirmar que as idéias surgem do contato com o mundo sensível, mas errariam ao esquecer o papel do espírito. Por isso, Leibniz completa a fórmula de Locke –
"Nada há no intelecto
que não tenha passado primeiro pelos sentidos"
– com o adendo "a não ser o próprio intelecto".
Os Fundamentos da Monadologia
Os princípios do conhecimento formulados por Leibniz levaram-no a uma concepção do mundo oposta à cartesiana. Enquanto Descartes formula uma concepção geométrica e mecânica dos corpos, Leibniz constrói uma concepção dinâmica. Nesse sentido, explica os seres não como máquinas que se movem, mas como forças vivas: "Os corpos materiais, por sua resistência e impenetrabilidade, revelam-se não como extensão mas como forças; por outro lado, a experiência indica que o que se conserva num ciclo de movimento não é – como pensava Descartes – a quantidade do movimento, mas a quantidade de força viva".
A partir da noção de matéria como essencialmente atividade, Leibniz chega à idéia de que o universo é composto por unidades de força, as mônadas, noção fundamental de sua metafísica. Essa noção, contudo, não se esgota na adição do atributo força ao conceito da matéria, formulado por Descartes. Leibniz chega também à noção de mônada mediante a experiência interior que cada indivíduo tem de si mesmo e que o revela como uma substância ao mesmo tempo una e indivisível.
As notas que caracterizam as mônadas leibnizianas são a percepção, a apercepção, a apetição e a expressão. Pela percepção as mônadas representam as coisas do universo; cada uma de per si espelha o universo todo.
A apercepção é a capacidade
que a mônada espiritual tem de auto-representar-se,
isto é, de refletir; a mônada é a consciência.
A apetição consiste na tendência de cada mônada de fugir da dor e desejar o prazer, passando de uma percepção para outra. Finalmente, as mônadas, não tendo "portas sem janelas", não recebem seus conhecimentos de fora, mas têm o poder interno de exprimir o resto do universo, a partir de si mesmas; a mônada é um ponto de vista.
Cada representação por parte das mônadas é um reflexo obscuro, jamais havendo consciência clara de todas as impressões. Isto se deve ao fato de que o universo é múltiplo e infinito, enquanto toda a substância, isto é, toda mônada, com exceção de Deus, é necessariamente finita. Portanto, não é possível "que nossa alma (mônada superior) possa atingir tudo em particular".
O corpo humano, para Leibniz, é afetado, de alguma forma, pela mudança de todos os outros; todos os seus movimentos correspondem certas "percepções" ou pensamentos mais ou menos confusos da alma. Assim, a alma também tem algum pensamento de todos os movimentos do universo. "É verdade", diz Leibniz, "que não nos apercebemos distintamente de todos os movimentos de nosso corpo, como por exemplo o da linfa (...), mas é preciso que eu tenha alguma percepção do movimento de cada vaga de um rio, a fim de poder me aperceber daquilo que resulta de seu conjunto, isto é, esse grande ruído que se escuta perto do mar".
A percepção consciente (apercepção) resulta do conjunto das "pequenas percepções", como o ruído do choque de duas gotas de água, que se deve ouvir mesmo sem ter consciência. Isso explicaria a conservação das lembranças, o trabalho da imaginação nos "bastidores da consciência", assim como a realidade dos sonhos, mesmo quando esquecidos no estado de vigília. Dessa forma, os estados sucessivos da alma estariam ligados uns aos outros e a todo universo.
O inconsciente seria inerente a todas as substâncias criadas e seus diferentes graus seriam paralelos aos graus de perfeição dessas substâncias; a continuidade existente entre os seres não anula a diferença de natureza entre as simples mônadas e os espíritos. Leibniz afirma ainda que existem dois tipos de inconscientes: o inconsciente de percepção, próprio das simples mônadas enquanto são apenas "espelhos do universo", e o inconsciente da imitação, pertencente apenas aos espíritos enquanto não são apenas espelhos, mas espelhos dotados de reflexão.
A razão dessa diferença, encontra-se no fato de que as mônadas não possuem o mesmo grau de perfeição: acima das "mônadas nuas" (corpos brutos que só têm percepções inconscientes e apetições cegas) existem "mônadas sensitivas" (animais dotados de apercepções e desejos) e as "mônadas racionais" , com consciência e vontade.
O Melhor dos Mundos Possíveis
O racionalismo leibniziano tende à constituição de um saber globalizador, de uma mathesis universalis. Do ponto de vista lógico, o sistema de Leibniz estrutura-se como um conjunto de múltiplas séries que convergem e se entrecruzam; cada ponto de uma das séries é definido, dentro da complexa teia, por seu lugar, sua posição; por conseguinte, o conjunto todo organiza-se numa topologia.
A noção de ordem, em Leibniz, assume feição diferente da que possuía em Descartes: desliga-se da de nexo linear e passa a se vincular à noção de "situação" (as situações resultantes das diversas séries que se entrecruzam). O sistema todo, assim estruturado, conduz à possibilidade de tradução de uma ordem em outra.
O pluralismo das séries convergentes
que constituem o universo pode assim apresentar-se
como pluralismo conciliado e harmônico.
Em Leibniz, revive o modelo estóico: o universo é concebido à semelhança de um organismo pleno, cujas partes convivem numa harmonia natural e onde tudo é análogo a tudo.
Para Leibniz, os atos de cada mônada
foram antecipadamente regulados de modo a estarem
adequados aos atos de todas as outras;
isso constituiria a harmonia preestabelecida.
A doutrina leibniziana da harmonia preestabelecida sustenta que Deus cria as mônadas como se fossem relógios, organiza-os com perfeição de maneira a marcarem sempre a mesma hora e dá-lhes corda a partir do mesmo instante, deixando em seguida que seus mecanismos operem sozinhos. Assim, Deus teria colocado em cada mônada, no instante da criação, todas as suas percepções, criando-as de tal modo que cada uma se desenvolve como se estivesse só; seu desenvolvimento, todavia, corresponde, a cada instante, exatamente ao de todas as outras. Graças a essa harmonia preestabelecida, os pontos de vista de cada mônada sobre o universo concordariam entre si. Ao mesmo tempo, Deus escolhe o melhor dos mundos dentre todos aqueles que se apresentam como possíveis. Coloca-se então a questão: como explicar a presença do mal no mundo?
Leibniz tentou responder a esse problema, afirmando inicialmente que o mal se manifesta de três modos: metafísico , físico e moral . O mal metafísico seria a fonte do mal moral, e deste decorreria o mal físico. O mal metafísico é a imperfeição inerente à própria essência da criatura, pois se ela não fosse imperfeita, seria o próprio Deus. A imperfeição metafísica original de definiria, assim, apenas como uma não-perfeição, metafísica original se definiria, assim, apenas como uma não-perfeição, um não-ser, retomando Leibniz a concepção neoplatônica e agostiniana.
O mal metafísico é a raiz do mal moral, pois aquilo que é perfeito pode contemplar o Bem, sem possibilidade de erro, mas uma substância imperfeita não é capaz de aprender o todo, tem percepções inadequadas e se deixa envolver pelo confuso. Não se deveria, contudo, responsabilizar o criador pela existência do mal, porque Deus proporciona a todos as mesmas graças, mas cada um pode se beneficiar delas de acordo com sua limitação original.
Leibniz afirma que, assim como a correnteza é a causa do movimento do barco, mas não de seu atraso, assim também Deus é a causa da perfeição da Natureza, mas não de seus defeitos. Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo de bem e o mínimo de mal.
Na própria origem das coisas, diz Leibniz, exerce-se uma certa matemática divina, ou mecânica metafísica, responsável pela determinação do máximo de existência, tão rigorosa quanto as dos máximos e mínimos matemáticos ou as leis do equilíbrio.
O mal físico é entendido por Leibniz
como conseqüência do mal moral,
podendo ser considerado, ao mesmo tempo,
uma conseqüência física da limitação original
e uma conseqüência ética, isto é, punição do pecado.
Em decorrência da harmonia preestabelecida, a dor física seria expressão da dor metafísica, que a alma experimenta por causa de sua imperfeição. Segundo Leibniz, Deus autoriza o sofrimento porque este é necessário para a produção de um Bem Superior: "Experimenta-se suficientemente a saúde, sem nunca se ter estado doente? Não é preciso que um pouco de Mal torne o Bem sensível, isto é, Maior?"
A teoria do Mal, formulada por Leibniz, concluiria assim sua tentativa de síntese sistemática de uma filosofia que concebe o mundo como rigorosamente racional e como o melhor dos mundos possíveis. Algumas passagens das obras do próprio Leibniz, contudo, deixam uma réstia de dúvida sobre seu otimismo: "Pode-se duvidar se o mundo avança sempre em perfeição ou se avança e recua por períodos. (...) Pode-se pois questionar se todas as criaturas avançam sempre, ao menos no final de seus períodos, ou se existem também aquelas que perdem e recuam sempre, ou, enfim, se existem aquelas que realizam períodos no final dos quais percebem não ter ganho nem perdido; da mesma forma que existem linhas que avançam sempre, como a reta, outras que voltam sem avançar ou recuar, como a circular, outras que voltam e avançam ao mesmo tempo, como a espiral, outras, finalmente, que recuam depois de terem avançado, ou avançam depois de terem recuado, como as ovais".
Posted on 30/05/2011 by mauro castro
Márcio Henrique da Silva[1]
A existência de uma mente inteligente superior à humana e ilimitada é para o pensamento filosófico de Gottfried Leibniz certa. Leibniz denomina essa mente de Deus, um ser que ao longo dos séculos causa questionamentos aos mais diversos pensamentos; com isso, sua existência se torna afirmação de uns e negação de outros. A pertinência deste tema se dá pelo fato de ser uma indagação de muitos, e tal é sua relevância para o homem, antigo e hodierno, que podemos dizer que está inerente ao pensamento humano, por isso o nosso desejo de aprofundá-lo.
Partimos da existência de um ser eterno, perfeito, inteligente, capaz de governar toda a existência; tendo como hipótese a capacidade intelectiva do homem de conhecer esse Ser, cuja inteligência abarca a totalidade das coisas. Propomo-nos a explanar o pensamento leibniziano acerca da existência de Deus, valendo-nos do método dedutivo.
Estamos contidos numa realidade física. Porém há uma outra realidade para além desta, a qual denominamos de metafísica, que se ocupa das realidades não-físicas. Dentro dessa metafísica, o filósofo Leibniz procura desvelar a existência de um ser eterno, perfeito, imutável, onipotente, qual a compreensão que podemos ter a respeito desse ser supremo.
Na incansável busca pelo conhecimento das coisas, o homem se torna autor sedento de conhecer uma possível mente que tudo move; e só o é capaz porque lhe foi incutida a faculdade racional da qual faz uso para conhecer. Essa possibilidade de conhecimento, diz Leibniz, é dom de Deus:
Deus tendo dado à nossa alma as faculdades de que está ornada, não deixou de imprimir nela o seu testemunho; pois os sentidos, a inteligência e a razão nos fornecem provas manifestas de sua existência. (LEIBNIZ, 1988, p.151)
Através desse dom divino, a capacidade humana consegue conhecer esse ser que tudo move sem ser movido ou se mover. Após apresentar a faculdade da razão, presente na alma, Leibniz passa a apresentar argumentos que, segundo ele, são provas concludentes a respeito da existência de Deus; não sendo necessária a fé, mas aquilo que é próprio a cada um: a razão. Primeiramente, Leibniz se utiliza da palavra Substância para dizer que ela é a responsável pelo universo, ou seja, razão pela qual todas as coisas são.
E assim a razão última das coisas deve estar em uma substância necessária, no qual o detalhe das mudanças se encontre de modo eminente, como na própria fonte: e é esta Substância aquilo que chamamos Deus. (REALE, 2006, p. 65)
Todas as coisas que têm sua razão última convergem para uma razão suficiente, que subsiste por si própria, sem dependência de outrem. Nessa substância não encontramos mudança, pois sendo imutável, permanece desde sempre e para sempre na mesma forma. Leibniz, denomina essa substância de Deus.
(…) Deus é o maior, ou – como diz Descartes – o mais perfeito dos seres, ou então um ser de uma grandeza e de uma perfeição suprema, que envolve todos os graus. Esta é a noção de Deus. Eis como a existência se conclui desta noção. Existir é algo mais do que não-existir, ou seja: a existência acrescenta um grau à grandeza ou à perfeição, e, como afirma o Sr. Descartes, a própria existência constitui uma perfeição. (LEIBNIZ, 1988, p. 153)
O pensamento leibniziano encontra respaldo no pensamento de Descartes, sobre as definições acerca de Deus, cuja característica e/ou atributo, dentre outros, é a perfeição; entendida aqui como a excelência no existir. Aquilo que não existe já se apresenta de modo imperfeito, pois existir é mais perfeito que não existir, e a perfeição de Deus confirma sua existência. “A perfeição, com efeito, é a grandeza exata da realidade positiva, captada prescindindo dos limites ou confins das coisas finitas” (REALE, 2006, p. 65).
Leibniz escreve ainda sobre o intelecto de Deus, pois é n’Ele que está contida toda a forma de existência possível. No intelecto divino há uma certa organização que permite as realidades serem. Porém, se a mente divina não existisse, certamente estaria presente o nada, e algo estaria impossibilitado de vir a ser.
A organização do cosmos,
a constituição dos seres, os mínimos detalhes
que permitem uma ordem no universo se devem
ao controle mental desse ser divino.
O intelecto de Deus é, com efeito, a região das verdades eternas, ou seja, das ideias das quais tais verdades dependem. Sem o intelecto divino, portanto, nenhum real estaria contido no possível, e não só nada existiria, mas nada poderia jamais existir. (REALE, 2006, p. 65)
As provas apresentadas por Leibniz, sobre o conhecimento e a existência de Deus, são acessíveis a qualquer pessoa que as possa analisar. Isso o próprio filósofo nos assegura, e questiona aqueles que porventura podem afirmar o contrário.
Se houvesse alguém suficientemente irracional para supor que o homem é o único ser dotado de conhecimento e sabedoria, e que teria sido formado por puro acaso, e que é este mesmo princípio cego e destituído de conhecimento que conduz todo o resto do universo, eu o advertiria a examinar a censura inteiramente sólida e cheia de ênfase de Cícero (De Legibus, Livro II). Certamente – diz ele – ninguém deveria ser tão totalmente orgulhoso para imaginar que existe dentro dele um entendimento e uma razão,e que sem embargo não existe nenhuma inteligência que governe o céu e todo este vasto universo. (LEIBNIZ, 1988, p. 151-152)
Leibniz pretende, com seus argumentos, mostrar provas da existência de Deus. Para ele, o ser humano e as coisas que existem não são obra do puro acaso, não são fruto do nada, mesmo porque o nada, nada é. Uma pessoa que negue a existência divina, bem como a sua capacidade de ordenar as coisas, é desprovida de razão por crer que a própria razão seja suficiente. Porém o homem não se compõe simples e puramente de razão. Sua realidade está na capacidade de buscar e tentar compreender o que se lhe apresenta, e de maneira racional e sensitiva. Do contrário se tornaria escravo da própria razão, que não lhe pode dar o conhecimento ulterior das coisas que o rodeiam nem mesmo de si.
Em Leibniz, há a certeza da existência de Deus e do seu conhecimento pelo ser humano. Sabemos que o labor filosófico pode apresentar-nos evidências, bons argumentos, indícios, mas jamais um ser finito poderá ultimar sobre o infinito. Nenhum pensador pode querer esgotar a discussão sobre quaisquer assuntos. As vias teológica, científica, sociológica, dentre outras, podem apresentar pareceres sobre um mesmo assunto, mas é preciso que cada homem se interpele e busque respostas para seus questionamentos, seja em que campo for.
O homem não deve
se estagnar em um pensamento,
mas ir ao encontro de outros.
o blog de Filosofia da FAM – Mariana, MG
Fonte:
Mundo Dos Filósofos
Mundo Dos Filósofos
http://www.mundodosfilosofos.com.br/leibniz.htm#ixzz1cPiDd1xv
Posted on 30/05/2011 by mauro castro
http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2011/05/30/a-existencia-de-deusSejam felizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
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