terça-feira, 1 de novembro de 2011

A VIDA DE LEIBNIZ




Introdução

Atualmente os biógrafos 
costumam dividir a vida profissional de Leibniz
em quatro períodos:

  1. infância, de 1646 a 1667, em Leipzig e Nuremberg
  2. primeiros passos na política, teologia e filosofia, de 1667 a março de 1672, em Frankfurt e Mainz
  3. período parisiense (incluindo viagens a Londres), de março de 1672 a novembro de 1676
  4. Hanover, de 1676 até sua morte em 1716

I. Leibniz em Leipzig e Nuremberg (1646-1667)
Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu em Leipzig em 1º de julho de 1646, filho de Friedrich Leibniz, professor de filosofia moral na Universidade de Leipzig, e de Catharina Schmuck. Tendo perdido o pai em 1652, sua mãe se encarregou de sua educação. O garoto ingressou na escola aos sete anos e tão logo aprendeu a língua latina (que, segundo o próprio Leibniz, decorreu de seu próprio esforço autodidata), passou a freqüentar a biblioteca do seu falecido pai. Lá empreendeu várias leituras: poetas, oradores, juristas, filósofos, matemáticos, historiadores e teólogos – de Lívio a Cícero; de Heródoto, Xenofonte e Platão a historiadores do Império Romano. 

O hábito de empreender uma leitura universal e assídua o fez dominar muitos campos do saber.Ele mesmo nos relata que a História, a poesia e a Lógica 
estavam entre seus primeiros interesses:

“Antes que alcançasse a classe escolar na qual a Lógica era ensinada, aprofundei-me na leitura dos historiadores e poetas, pois, tão logo aprendi a ler passei a desfrutar dos seus versos. Porém, assim que aprendi Lógica fiquei impressionado com a ordem dos conceitos.” (GP VII 516) [cf. Ariew, p.18]

Leibniz freqüentou a universidade dos 14 aos 21 anos, inicialmente na Universidade de Leipzig (1661-1666) e, depois, na Universidade de Altdorf (1666-1667). Nos anos seguintes, dedicou-se à jurisprudência e à filosofia. Aparentemente, teve seu doutorado em Direito recusado em Leipzig em virtude de sua pouca idade (embora uma outra versão afirme que o doutorado lhe tenha sido negado pelo Deão da faculdade sob influência de sua esposa, a quem Leibniz granjeara a antipatia). Seja como for, obteve o doutorado em Altdorf defendendo uma tese intitulada De Casibus Perplexis in Jure.

Durante esse mesmo período, Leibniz travou conhecimento com o barão Johann Christian von Boineburg (1622-1672), Ministro de Philipp von Schönborn, Eleitor de Mainz e uma das mais eminentes figuras políticas da época. Embora Leibniz tenha sido convidado, à época, a integrar o corpo docente da Universidade de Altdorf, preferiu ingressar no serviço público, sob o patronato de Boineburg, vindo a ocupar diversos cargos em Mainz e Nuremberg. 


II. Leibniz em Frankfurt e Mainz (1667-1672)
As primeiras publicações leibnizianas, além de sua tese de doutorado, abordavam temas políticos e jurídicos. Assim, em 1669, sob o pseudônimo de Georgius Ulicovius Lithuanius, Leibniz escreveu uma obra acerca da sucessão real polonesa. Quando Johann Casimir, Rei da Polônia, abdicou de sua coroa em 1668, o Príncipe Palatino Phillip Wilhelm von Neuburg tornou-se um dos pretendentes. Leibniz argumentava que não poderia haver melhor escolha que von Neuburg.

No mesmo ano, Leibniz publicou um novo método para o ensino e aprendizagem da jurisprudência: Nova methodus discendae docendaeque jurisprundentiae, dedicando-o a von Schönborn.

Contudo, uma das mais importantes atividades políticas desenvolvidas por Leibniz em Mainz consistiu na elaboração de um plano, endereçado a Luis XIV, sugerindo que a Holanda (enquanto potência mercantil com vastos negócios no Oriente) seria prejudicada pela eventual conquista do Egito pela França – tal plano incidentalmente satisfaria os interesses expansionistas franceses para além do continente europeu. Embora não tenha frutificado à época, de algum modo tal esquema permaneceu latente nos círculos militares franceses até sua realização por Napoleão. Embora a missão, iniciada em 1672, de promover tal plano tenha sido mal sucedida, a viagem a Paris revelou-se de suma importância para o desenvolvimento intelectual de Leibniz ao propiciar-lhe um contato direto com o centro do mundo erudito da Europa. 


III. Leibniz em Paris e Londres (1672-1676)
No fim de março de 1672, Leibniz chegou a Paris a serviço de Johann Christian von Boineburg (que morreria em dezembro daquele mesmo ano). Para Leibniz o período em Paris revelou-se um dos mais intensos e frutíferos de sua vida intelectual.

O mundo da intelectualidade, na segunda metade do século XVII, passara por inúmeras transformações. A filosofia aristotélica, que havia dominado o pensamento europeu desde o século XIII, quando um volume de obras do Estagirita fora redescoberto e traduzido do grego ou árabe para o latim, via nascer novas doutrinas com Galileu, Torricelli, Cavalieri; com Descartes, Pascal e Hobbes e muitos outros.

Embora Galileu houvesse sido condenado, em 1632, e os trabalhos cartesianos tenham sido acrescentados ao Index, em 1663, a nova filosofia fazia-se prevalecer. As formas substanciais e a matéria primeira dos escolásticos davam lugar ao novo mundo mecanicista dos corpos geométricos e do movimento. Com esse novo mundo advieram novas ferramentas matemáticas. Velhos problemas ressurgiram, incluindo questões sobre a necessidade, a contingência e a liberdade em um mundo de átomos governados pelas leis do movimento; o lugar da alma e sua imortalidade; de Deus e Sua Criação.

A despeito de ter recebido cuidadosa educação acadêmica em sua terra natal, quando chegou a Paris, Leibniz possuía pouco ou nenhum conhecimento dos recentes desenvolvimentos nas matemáticas; em filosofia, ele próprio admitiria que, antes de 1675, seu contato com a filosofia cartesiana era basicamente de segunda mão, baseado em exposições vulgares.

A capital francesa lhe permitiu superar essas deficiências. A cidade reivindicava, com justiça, o papel de centro intelectual da Europa. O próprio Leibniz nos revela:

“Paris é um lugar onde apenas com muito esforço se pode alcançar a fama. Encontram-se aqui os mais notáveis homens de nosso tempo, em todos os ramos do conhecimento. É necessário trabalhar muito e com determinação para se estabelecer uma reputação.” (carta a Johann Friedrich, 1675 [A I, 1, 491] apud Parkinson)

Exatamente determinação e capacidade de trabalho eram atributos dos quais Leibniz não carecia e imediatamente foi aceito nos círculos intelectuais que incluíam eminentes matemáticos e filósofos, tais como: Huygens, Arnauld e Malebranche. Buscou, também, ter acesso aos manuscritos de Pascal e de Descartes (de fato, alguns dos textos cartesianos chegaram até nós graças a cópias de Leibniz).

Em janeiro de 1673, Leibniz viajou a Londres em uma outra missão política. Lá travou amizade com membros da Royal Society, dentre os quais Henry Oldenburg. Expôs a essa academia uma máquina de calcular que inventara; mais versátil do que a de Pascal. Já em abril de 1673, pouco depois de retornar a Paris, Leibniz foi eleito membro da Royal Society.
Em Paris, dedicou-se às matemáticas, especialmente à geometria, iniciando uma série de estudos originais que culminariam com o desenvolvimento do cálculo infinitesimal. 


IV. Leibniz em Hanover (1676-1716)
Leibniz retornou a Hanover em dezembro de 1676. No caminho de volta, deteve-se na Inglaterra e na Holanda, onde se encontrou com Espinosa.
Embora freqüentemente viajasse e assumisse responsabilidades em outras localidades, Hanover viria a ser seu principal domicílio para o resto da vida. Lá assumiu atribuições variadas: foi engenheiro de minas; um não bem sucedido supervisor de exploração das minas de prata das montanhas Harz; bibliotecário-chefe de uma vasta coleção de livros e manuscritos; diplomata; conselheiro; historiador da corte.

Escreveu uma história geológica da região da Baixa Saxônia: Protogaea, que se revelou um importante trabalho na história da geologia quando foi finalmente publicada, em 1749.

Ademais, publicou numerosos volumes de documentos históricos por ele encontrados quando de suas pesquisas em arquivos visando coletar material para a história da nobreza de Hanover, bem como empreendeu as primeiras pesquisas sobre as línguas européias, suas origens e evolução.
Porém, através de uma sucessão de empregadores em Havover e alhures, Leibniz continuou a desenvolver o sistema filosófico que iniciara em Paris e mesmo antes, em uma série de ensaios e cartas. Em 1686, ele escreveu a Ernst von Hessen-Rheinfels:

“Compus, recentemente, um pequeno discurso de Metafísica sobre o qual ficaria contente de ter a opinião do senhor Arnauld. Pois as questões da graça, do concurso de Deus com as criaturas, da natureza dos milagres, da causa do pecado e da origem do mal, da imortalidade da alma, das idéias etc. são abordadas de uma maneira que parece dar novas aberturas capazes de esclarecer algumas grandes dificuldades.” (GP II, 11)

Leibniz não enviou a Arnauld todo o Discurso de Metafísica, mas sim, os resumos dos parágrafos. Tais resumos foram preservados como cabeçalhos de cada parágrafo.
Porém, embora Leibniz tenha elaborado, visando a publicação, o conjunto Discurso/correspondência não foi efetivamente tornado público durante a vida do filósofo. A primeira exposição do seu sistema metafísico ocorreu em 1695, no Journal des Savants: Sistema Novo da Natureza e da Comunicação das Substâncias.

Com prodigiosa energia, habilidade e esforço, Leibniz conseguiu desempenhar três papéis: o de erudito; de servidor público; e de cortesão. Possuía espantosa energia para o trabalho; muitas vezes, fazia as refeições à mesa de trabalho e dormindo muito pouco.

Era um homem de estatura mediana, esbelto; sua calvície coberta por uma peruca do tipo comum na Paris de sua juventude. Embora com vida sedentária, possuía boa saúde – um sono profundo com boa digestão. Por costumar trabalhar até tarde da noite, não gostava de levantar-se cedo, tal como Descartes. E embora a leitura fosse sua atividade favorita, gostava de se misturar com as pessoas sempre buscando aprender algo. Seus contemporâneos o descreviam como possuindo hábitos moderados.

Glossário de termos leibnizianos

Convenções:
DM = Discurso de Metafísica (citação por parágrafo);
M = Monadologia (por parágrafo);
SN = Sistema Novo da Natureza (por parágrafo);
Correspond. = Correspondências com Arnauld ou von Hessen-Rheinfels.

Ação:
A ação é a operação da força de agir própria das substâncias. Ela define a substância como essencialmente ativa. Apenas Deus age sem sofrer a ação de outrem. Nas substâncias finitas, a ação é inseparável da paixão. Estando todas as coisas reguladas idealmente umas às outras pela harmonia, a uma ação em uma deve corresponder uma paixão nas outras. [M. 49-52; DM 15]
Agregado:
É um conjunto resultante de elementos ou indivíduos justapostos que não formam um ser (ou aquilo que Leibniz denomina, seguindo a tradição, uma substância, mas, um simples conjunto de seres. Um agregado não é por si, mas, por acidente. Por exemplo: um exército, uma tropa, um colar de pérolas, um monte de pedras. [M 2; Correspond. 57-67]

Alma:
Realidade imaterial e dinâmica que funda a unidade e a identidade de um vivente, a alma é um princípio de vida e de unidade para um corpo orgânico. Substância simples, princípio ativo, pode-se denominar também forma ou força primitiva, tardiamente, enteléquia. Ela é a fonte da ação. As almas comuns são os espelhos vivos que expressam o universo. As almas racionais ou espíritos são as imagens de Deus. [M. 14, 18, 62-67, 70-90; DM. 26-37; SN 14]

Apercepção:
Consciência reflexiva do estado interior, a apercepção acompanha as percepções distintas. Ato pontual, a apercepção acrescenta-se, então, à percepção, permanente atividade expressiva do mundo a partir de um ponto de vista individual. Em resumo, percepção consciente. [M. 14, 19, 23, 29-30]
Apetição, inclinação:
A apetição é a tendência que nos impele, continuamente de uma percepção a outra; o princípio de mudança interna. É regida pelas leis das causas finais do bem e do mal. A apetição exprime a mobilidade das almas, as quais não estão jamais em repouso e tendem continuamente a uma melhor harmonia interior. [M. 15, 79]

Causa e razão:
Uma causa é uma razão real que reside em um ser real cuja ação explica por que uma coisa (um fenômeno, um acontecimento) existe e é o que é. A razão suficiente é o conjunto das condições requeridas para a produção de um ser ou de um acontecimento (ou seja, a variação do ser). [M. 56; DM. 14; Correspond. 32-45]
Compossibilidade:
Esfera lógica mais restrita que aquela da possibilidade lógica. Para que algo exista não é suficiente que seja possível; é necessário que aquela coisa seja compossível com outras que constituem o mundo real.

Contingência:
Contingente significa aquilo que não é necessário e cujo oposto é possível porque não implica contradição. Todos os seres, exceto Deus, são contingentes: suas existências não decorrem de suas essências. Porém, as proposições, as verdades, são necessárias ou contingentes. As proposições necessárias podem ser reduzidas a proposições idênticas, tais como A = A; já as proposições contingentes não podem, por um número finito de operações, ser reduzidas a identidades.

Destino:
Não se trata de um poder misterioso que fixaria antecipadamente todos os acontecimentos, mas, um encadeamento inevitável das coisas e dos acontecimentos que decorre de uma escolha livre de Deus. Há uma escolha na criação, a qual implica uma série infinita de conseqüências previstas por Deus como envolvidas na Sua livre escolha. Deus prevê, por exemplo, a traição livre de Judas. O traidor, contudo, é responsável por seu ato. Deus é responsável pela escolha desse universo que contém Judas. Há, por conseguinte, uma co-responsabilidade entre o homem e Deus nas ações livres. [DM 8]

Deus:
Deus é o nome que se dá, habitualmente, à razão última das coisas; a um ser existente em ato e exterior à série de coisas existentes e que possui a responsabilidade de atualizá-las. [M. 43-48; DM 1-6]

Enteléquia:
É uma palavra formada a partir do grego entelecheia segundo a qual Aristóteles designou o ato, no sentido de uma realização, de uma perfeição. O termo é inicialmente citado como exemplo de uma noção obscura. Leibniz o utiliza muito tarde como sinônimo de força metafísica primitiva, aquela força de agir constitutiva da substância. [M.18, 48, 63, 70]

Espírito:
Um espírito é uma alma virtualmente reflexiva, uma substância capaz de agir por si mesma; portanto, capaz de referir-se e de conversar com outros espíritos. [DM 36]

Expressão:

Correspondência meramente formal, tal como uma analogia matemática, entre realidades diversas ou mesmo heterogêneas: basta que existam relações ou propriedades em uma coisa que correspondam às relações ou propriedades de uma outra para que possamos afirmar que uma exprime a outra. [M. 56-57, DM. 14, 16; Correspond. 91-105]

Harmonia pré-estabelecida:
A harmonia é a justa proporção, a unidade na multiplicidade ou a diversidade compensada pela identidade. Descobrir prazer em alguma coisa é vivenciar sua harmonia, sua variedade contrabalançada pela semelhança. Deus é, Ele mesmo, princípio de beleza e harmonia das coisas. A harmonia é, portanto, o objeto natural de amor. No sistema da harmonia, da concomitância ou hipótese dos acordos, todas as coisas e acontecimentos do universo conspiram em conjunto para o mais belo. [M. 56; DM. 9, 15; SN. 14-15]
Idêntico:
Uma proposição é dita idêntica quando o predicado está contido, expressamente, no sujeito.

Indivíduo:
Tradução do grego atomon (indivisível), o termo indivíduo designa o ser singular, único, diferente dos demais, correspondendo ao termo escolástico species infima ou à substância primeira de Aristóteles. [M. 9; DM. 8]
Inerência:
Tudo aquilo que é dito de forma verídica de qualquer coisa é inerente à noção daquela coisa.

Liberdade, livre arbítrio:
Definido negativamente por Leibniz, o livre arbítrio opõe-se ao que é restrito, à ignorância e ao erro, que reduzem ou eliminam a possibilidade positiva de fazer o que se deseja. Portanto, liberdade ou livre arbítrio não devem ser confundidos com um poder mágico, como viria a ser uma vontade superior à inclinação e indiferente às apetições e percepções. [DM. 13, 30]

Mal:
Relativo ao bem, que o limita ou enfraquece, o mal não possui realidade clara. Sua natureza é relativa ou privativa: “o mal é uma privação do ser, ao passo que a ação de Deus é positiva” (Teodicéia § 29). Leibniz o compara com a inércia natural dos corpos. Sem realidade ontológica, corresponde a uma limitação de perfeição do ser. O mal, estritamente falando, não é nada.

Matéria:
Designa o constituinte passivo de tudo que existe. Como princípio passivo de resistência e de impenetrabilidade, ela supõe formas ativas tais como as almas. Considerada à parte de todas formas, almas ou forças ativas, é apenas uma abstração. Unida a uma forma substancial ou alma, a matéria forma uma substância verdadeiramente una; uma unidade per si. [M. 4, 65-67]

Melhor:
Fim último de todas as coisas, o melhor é aquilo que é desejado por Deus. Conforme um decreto de Deus que as cria à sua imagem, o melhor é igualmente desejado por todas as criaturas, mas, somente na medida de suas capacidades perceptivas ou afetivas, isto é, mais ou menos confusamente. [M. 55]

Mônada:
Uma mônada (do grego monas, unidade) é uma unidade por si mesma, analisável em princípio ativo denominado alma, forma substancial ou enteléquia e em um princípio passivo dito massa ou matéria primeira. A mônada encerra um tipo de percepção e de apetição. É uma substância simples, sem partes. Toda mônada é um espelho vivo do universo, a partir de seu ponto de vista. Já que tudo que existe é uma mônada, um composto de mônadas, estas são átomos substanciais. [M. 1-21]

Necessidade:
É necessário aquilo que não pode não ser. Deve-se distinguir entre uma necessidade absoluta e uma necessidade hipotética. É necessário absolutamente aquilo cujo contrário é impossível, isto é, que implica contradição. Por exemplo, o triângulo possui necessariamente três ângulos. É necessário hipoteticamente aquilo que é a conseqüência necessária de uma decisão contingente. Assim, supondo-se que Deus criou o mundo no qual Judas trairá o Cristo, é certo que Judas trairá o Cristo. Mas não é necessário que Deus tenha criado tal mundo contendo Judas: Sua decisão de criar sendo livre e contingente, o que não significa que seja arbitrário ou sem razão. Por conseqüência, um outro Judas é concebível, não-contraditório.

Noção completa:
A noção completa contém tudo aquilo que pode ser dito, afirmado ou enunciado de um indivíduo: ela é capaz de estabelecer a distinção entre todos os indivíduos semelhantes. [DM. 8, 13, 24; Correspond. 6-10]
Percepção:
A percepção é a ação própria de toda Alma ou substância que consiste em expressar o universo sob um determinado ponto de vista. Ela envolve uma múltipla unidade interna, que expressa ao mesmo tempo o universo; corresponde a um esforço da substância. A percepção, índice da existência, é sempre confiável como percepção imediata e as experiências iniciais são as primeiras verdades de fato. [M. 14-17, 21, 23, 63; DM. 33]

Perfeição:
A perfeição é a realidade em sua intensidade positiva, suas afirmações essenciais. A cada grau de perfeição corresponde um grau de poder e, correlativamente, uma certa limitação. Ao grau superior de perfeição corresponde um poder infinito, sem limites: aquele de Deus. Toda perfeição provém de Deus que continuamente produz aquilo que há de positivo, de bom, de perfeito, nas criaturas; as imperfeições são atribuíveis a uma limitação original de toda criatura. [M. 41-42, 54; DM. 1-6]

Possível:
A essência ou a possibilidade de um ser é sua capacidade de ser pensado, o conteúdo nocional que Deus pôs na existência ao criar a substância. As proposições que dizem respeito às essências são as verdades eternas. Os possíveis dependem somente do entendimento divino, enquanto que as coisas atuais dependem também de sua vontade. A ciência dos possíveis é a ciência da inteligência pura, enquanto que a ciência das coisas atuais (do mundo trazido à existência) é denominada ciência da visão. [M. 43, 57]
Predeterminação:
A doutrina da predeterminação é uma doutrina delicada, inseparável daquela da contingência, onde Leibniz tenta evitar o necessitarismo e preservar o livre arbítrio das criaturas mantendo, ao mesmo tempo, a presciência e a providências divinas. Deus prevê as futuras escolhas das criaturas; prevê, assim, sua predeterminação futura, que não necessita: dá à vontade humana sua eficácia, pois é o concurso de Deus às operações humanas. [DM. 4, 8, 13]
Princípio de razão:
Princípio segundo o qual nada existe que não tenha uma razão de ser. A razão não é, então, outra coisa que a série infinita dos requisitos dos fatos, que envolve o universo em sua integralidade (passado, presente e futuro), como os decretos de Deus relativos à existência do mundo. [M. 27-39; DM. 8, 31]
Razão:
A razão é, primeiramente, uma realidade imaterial que produz pela sua ação, uma ligação, uma conexão, entre ela e um acontecimento ou uma coisa. A razão é, também, a capacidade espontânea de apreensão das razões e relações dos espíritos. Deus é a razão última das coisas.

Substância:
Ser individual concreto e completo que responde a um possível ponto de vista sobre o universo e que Deus tornou efetivo através da criação. Toda substância está perpetuamente agindo e atuando, com o concurso de Deus, encontrando-se suas operações internas coordenadas com as operações das demais substâncias, o que forma um sistema de substâncias: o universo. Uma substância distingue-se de um agregado por um princípio de unidade que lhe permite permanecer o que é através da contínua mudança de suas operações e modificações. [M. 1-2, 16; DM. 8, 14, 16, 34]

Verdade:
Proposições cujo conceito do predicado está contido no conceito do sujeito. O modelo da proposição verdadeira mais simples é uma identidade (A é A). O lugar natural dessas proposições é o entendimento de Deus, região das verdades. Todas as verdades ou bem são verdades de fato, ou bem são verdades da razão. [M.29-36; 43-46; DM. 13; Correspond. 23-32]



Obras de Leibniz

traduções comerciais

Apenas uma pequena proporção das obras de Leibniz está disponível em língua portuguesa:

a) Leibniz no Brasil
  • A Monadologia e outros textos. Trad.: Fernando Luiz B. G. e Souza. São Paulo: Hedra. 2009 
  • Discurso de Metafísica. São Paulo: Abril Cultural. 1983 (Col. Os Pensadores)
  • Discurso de Metafísica e outros textos. (PNG. e M.). Trad.: Marilena Chauí e Alexandre da C. Bonilha. São Paulo: Martins Fontes. 2004
  • Monadologia. Trad.: Marilena Chauí. São Paulo: Abril Cultural. 1983 (Col. Os Pensadores)
  • Monadologia. Trad. e notas: Remy de Souza. Salvador: FCFB. 1965 (tradução não-comercial)
  • Novos Ensaios sobre o entendimento humano. Trad.: Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural. 1997
  • O que é idéia. São Paulo: Abril Cultural. 1983 (Col. Os Pensadores)
  • Correspondência com Clarke. São Paulo: Abril Cultural. 1983 (Col. Os Pensadores)
  • Origem Primeira das Coisas.São Paulo: Abril Cultural. 1983 (Col. Os Pensadores)
  • Protogaea: uma teoria sobre a evolução da Terra e a origem dos fósseis. São Paulo: Plêiade/Fapesp. 1997
  • Sistema Novo da Natureza e da Comunicação das Substâncias e outros textos. Trad. e org: Edgar Marques. Belo Horizonte: Ed. UFMG. 2002
  • Correspondência com Arnauld. Trad.: Viviane de Castilho. sd. sl (tradução não-comercial. Digitado)
b) Leibniz em Portugal:
  • Discurso de Metafísica. Trad.: João Amado. Lisboa: Edições 70. 1997
  • Discurso de Metafísica. Trad. e notas: Adelino Cardoso. Lisboa: Colibri. 1995
  • Discurso sobre a teologia natural dos chineses. Lisboa: Colibri. 1991
  • Princípios de filosofia ou Monadologia. Trad.: Luis Martins. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda. 1987
  • Princípios da Natureza e da Graça e Monadologia. Lisboa: Fim de Século. 2001

 
P.Picasso
Fonte:
LeibnizBrasil
http://www.leibnizbrasil.pro.br/leibniz-vida.htm
Copyright © 2003-2011
Web design em Salvador Bahia: www.pagina-uno.com
hospedagem de sites: www.compumundo.com.br 
Sejam felizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Que tal comentar agora?