JS Bach Sacred Cantatas BWV 180,197,52,Leusink
Julho de 2005 - Cosmo-Egiptologia
José Pimentão
A Cosmogonia Egípcia
Cosmogonia é o termo utilizado para determinar uma ou mais teorias sobre a formação do nosso universo. Actualmente, não existem muitas dúvidas acerca do principal autor dessa "melodia secreta"- a energia, no entanto há cerca de 6000 anos atrás o homem necessitou de uma explicação para o inexplicável, para aquilo que não se conseguia explicar com simples palavras e simples actores. E no entanto, aquela que mais fez foi sem sombra de dúvidas a mais complexa de todas - a Natureza, nela se escondiam as bases da criação.Para os Antigos Egípcios, que depressa iniciaram as suas bases cosmogónicas nos primórdios da sua civilização, a natureza era uma fonte rica em personagens mistificadas e adoradas. As tribos nómadas que durante o período pré-histórico e pré-dinástico (cerca de 4000 anos antes de Cristo) dominaram as planícies e oásis no actual Saara, construíram as fundações para aquilo que seria uma das cosmogonias mais espantosas do género humano. Essas ideias cosmogónicas representam o primeiro aspecto da civilização egípcia a chegar até nós. Graças a elas o clero1 pode explicar a criação do mundo e do cosmos cuja visão da época dava conta de duas forças antagónicas em constante luta: a Ordem e o Caos.
Nesse último dogma, os sacerdotes tiveram a rude tarefa de agradar a todas as tribos unificadas. É no entanto evidente que não houve passividade em tal acto, surgindo diversas guerras internas que duraram todo o período da 0 Dinastia.
Mas qual a relação com a astronomia?
Existe evidentemente uma relação directa entre os conceitos cosmogónicos e as concepções do cosmos para os antigos egípcios. A arqueo-astronomia é hoje uma ciência sobejamente estudada, no entanto ainda permanecem centenas de mistérios por resolver. A Astronomia egípcia – Cosmo-Egiptologia - não é excepção à regra, e é necessário para todo o estudioso desta ciência saber os conceitos religiosos que levaram ao conhecimento do cosmos.
Voltando à historia em si…
Desde o período pré-histórico os egípcios olharam para os céus diurnos e nocturnos, cedo aperceberam-se da periodicidade de certos corpos celestes, como é o nascer e ocaso do Sol. Para além destes fenómenos naturais de que voltaremos a falar ao longo das próximas semanas, é importante relacionar estes fenómenos com a própria natureza envolvente, isto é, relacionar determinado fenómeno natural com poderes sobrenaturais dos animais. Assim sendo, um dos animais mais frequente dos céus egípcios – o falcão, tornou-se um dos maiores deuses do panteão Egípcio.
Apesar de aceite por todas as diferentes tribos, o deus falcão Horus – deus do bem e protector do Egipto unificado, é frequentemente confundido e inter-conectado com outros aspectos. Horus identifica-se sobre vários aspectos:
- Identificação de origem solar com o falcão "senhor dos céus", filho de Hathor (relacionada com Ísis) que surge como criadora.
- Identificação de origem Osiriana "filho de Ísis" e Osíris, nascida da morte do seu pai, surge aqui como ponto de união a pequena e a grande Eneida de Heliópolis.
- Identificação com os deuses da Eneida mediana, o Horus irmão de Ísis e Osíris, concebido de forma mágica quando seus pais se encontravam no seio materno de Nut.
- Identificação de Horus com o rei.
Apesar de Horus ser um deus adorado em diferentes centros religiosos que se edificaram ao longo das primeiras dinastias, essa versão de um deus único não explicava a complexidade das leis do Maat (a ordem cósmica), surgindo no reinado do faraó Unas (2355 a 2325 a. C. – V Dinastia) para resposta a esse dilema, um complexo conjunto de textos, denominados de "Textos das Pirâmides".
Descobertos em 1881 em Saqqara, os "Textos das Pirâmides" despertaram a curiosidade dos académicos do mundo inteiro, sendo Gaston Maspero o primeiro a tentar decifrar a sua lógica. A primeira publicação é da autoria de K. Sethe, Die altagyptischen pyramidentexte, 4 volumes, Leipzig, 1908-1922.
Os textos das pirâmides fazem parte de uma colecção de textos religiosos gravados nas paredes das pirâmides a partir da V dinastia. Estes textos constituíam rituais fúnebres, fórmulas mágicas e cerimónias religiosas para facilitar ao faraó a sua longa caminhada pela morte até a vida no Além, isto é, para aquilo que os Egípcios acreditavam ser o Além – as Estrelas. As ideias cosmogónicas representadas nas paredes das pirâmides datam do início da ideologia da civilização egípcia, havendo passagens que se assemelham em parte a Estelas da I Dinastia, isto demonstra-nos existir, já naquele tempo, um sistema religioso complexo, existente antes mesmo dos textos serem reescritos no interior das pirâmides.
Nestes textos está particularmente bem patente uma ordem lógica da cosmogonia em relação contínua com a astronomia. Na época, Heliópolis era um dos centros religiosos mais importantes, os restantes centros eram: Hermanópolis, Menfis e Tebas, todos eles com sua própria cosmogonia.
A datação das suas cosmogonias são incertas, no entanto os primeiros passos foram dados no pré-dinástico. Estes estão ligados entre eles por princípios fundamentais no "Oceano Primordial" - o Nun, de onde saiu o poder da vida, aquilo que para nós se pode assemelhar ao nosso Universo antes do suposto "Big Bang":
- Aqui existe um paralelismo estreito com o rio Nilo. Os habitantes do Delta entendiam o Cosmos como um espaço limitado, a vida fluía e o renascimento era periódico como as cheias do rio Nilo;
- Outra ligação era a "Colina Primogénita", local onde se origina a vida periodicamente devido as cheias do Nilo;
- A terceira ligação era o Sol, como entidade de poder que provoca o renascimento.
- A existência na época pré-dinástica de diferentes divindades com cabeça de falcão demonstra a importância dada pelos egípcios às observações do céu e consequentemente ao que por lá voa;
- O culto de Horus sobre as suas diversas formas foi-se assimilando ao longo da evolução dos conceitos cosmogónicos a partir da II dinastia, assim, Horus transformou-se num dos principais deuses do panteão egípcio a partir de Guerzense o Nagada II.
A lenda de Heliópolis - ordem cosmogónica.
Assim sendo, a cosmogonia inicial foi: - Rá – Deus solar e criador. O grande deus Egípcio e senhor do Maat, a Harmonia Universal. Tríada de Heliópolis com – Atum (Sol do anoitecer), Rá (Sol do meio-dia) e Khepri (Sol da manhã). Aparece pela primeira vez associado ao Deus-Faraó na II dinastia - Nebra (2800 a.C.), e a três nomes da IV dinastia – Didufri, Kefren e Mikerinos, estes intitulam-se filhos de Rá, um dos apelidos clássicos dos faraós a partir da V dinastia.
- Geb – Deus da Terra. No Egipto o céu é um factor feminino, a terra um factor masculino. Na Origem Geb e Nut encontram-se estreitamente unidos. Pedem a Shou (a Atmosfera) que os separe, sobre ordem de Rê. Geb é representado como um homem dominado por Nut.
- Nut – Deusa do céu estrelado, não se quer unir com Geb, Nut é representada como uma mulher atravessando o hemisfério. Nut é também a mãe do Sol, que decresce antes de ser engolido por Ela e renasce todas as manhãs.
- Este casal constitui o segundo casal primordial, depois de Shou (o Ar / Fogo) e Tefnou (a Água).
Para além dos "Textos das Pirâmides", surgiram vários outras fontes de conhecimentos das suas relações com o cosmos, o "Livro dos Mortos" é o fac-símile de maior importância para completar a nossa compreensão.
1 Castel E., Los Sacerdotes en el Antigo Egipto, Madrid 1998.
2 Coroa personificando o Alto e o Baixo Egipto.
Julho de 2005 - Cosmo-Egiptologia
José Pimentão
Li-Soi-30
Fontes:
Portal do Astrónomo-PT
http://www.portaldoastronomo.org/tema_pag.php?id=18&pag=1
Vídeo:Publicado em 11/09/2012 por TheGravicembalo
info text translations here: http://www.bach-cantatas.com/
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