sábado, 25 de junho de 2011

O LIVRE-ARBÍTRIO, SEGUNDO JOCAX

O Livre-Arbítrio, segundo Jocax
Joao Carlos Holland de Barcellos, Marco/2001

 revisão: junho, 2011.


"A ação consciente vem do 'acaso',
isto é, 
de ações inconscientes da fisica cerebral"
 (jocax)

-Introdução

A importância do Livre-Arbítrio (LA) relaciona-se não somente à ética, através da responsabilidade pelos atos e escolhas, mas também ao nosso próprio sentimento de que estamos no controle de nossas ações: seriam estes sentimentos simples alucinações?

Costuma se dizer que se temos LA então somos responsáveis pelos nossos atos, e, portanto, passiveis de sermos julgados e punidos por eles.  É pré-requisito do LA a liberdade de escolha, pois sem esta liberdade não existiria a possibilidade de mudarmos nossos atos, e assim não poderíamos ser responsabilizados por eles.

O LA esta associado à consciência, e sua ausência implicaria a falta de arbítrio.

Como o conceito de LA esta intrinsecamente relacionado à liberdade - como condição necessária - então o estudo da liberdade seria uma possível forma de delimitar ou mesmo refutar a existência do LA.

O Filosofo David Hume [1] dizia sobre o LA:

"Ou nossas ações são predeterminadas,
caso em que não somos responsáveis por elas, 
ou bem resultam de eventos aleatórios, 
caso em que também não somos responsáveis por elas".

E, como consequência, estaríamos livres das penas que nos são impostas pelo julgamento de nossos atos?

Não necessariamente, pois poderíamos arguir que nossa sociedade, o júri, ou o tribunal, também estaria predeterminado a fazer o julgamento e promulgar o veredicto da mesma forma que o réu que praticou o ato em questão. Ou seja, a inexistência do LA não absolveria o réu de seu julgamento e de sua pena, pois as razões que levaram o réu a praticar o crime (predeterminadas ou aleatórias) poderiam ser as mesmas que levariam a sociedade a imputar-lhe o julgamento e a pena.

-O Determinismo
Antes do advento da mecânica quântica pensava-se que de posse das leis físicas e do estado inicial do universo se poderia predizer todo o comportamento futuro do cosmo. Isto é o universo seria intrinsecamente determinista, era o “Universo Laplaciano”.

Devemos observar que neste modelo laplaciano tudo já estaria previamente determinado a acontecer, pois as leis físicas, que se acreditava verdadeiras na época, eram deterministas e bastaria um hipotético ‘supercomputador’ para que pudéssemos prever o futuro de tudo, e até mesmo o que cada ser humano estaria pensando em qualquer instante. Como disse Joao Miranda neste contexto: "As coisas são como são porque não poderiam ser diferentes".

Este determinismo físico absoluto implicaria na existência do destino. O destino seria então a predeterminação total, não só da vida das pessoas, mas também de todo o universo.

É importante notar que mesmo que não dispuséssemos de uma máquina capaz de realizar tais operações, esta impossibilidade pratica não significaria a existência da liberdade e sim que esta não existiria.  Isto quer dizer que no modelo de Universo Laplaciano a liberdade seria uma ilusão e o LA definitivamente não poderia existir.

- Indeterminismo
Contudo, com o advento da mecânica quântica (MQ), e o Principio da Incerteza (Heisemberg-1926) [3], que estabelece a impossibilidade da determinação da posição e velocidade de uma partícula num dado instante com precisão arbitrária, todo o modelo do Universo determinista cai por terra e o cosmo volta a não ser determinista.  Poderíamos pensar que a própria MQ poderia ser refutada no futuro e o universo poderia voltar a ser determinista, entretanto, mesmo sendo esta hipótese extremamente improvável, Jocax conjecturou (2001), usando o teorema da incompletude de godel, que, independente das leis físicas vigentes, o universo sempre será não determinista [2].

 
- Dentro da Hipótese Materialista
Se o LA não pode mais ser refutado pela impossibilidade do determinismo universal ser válido, isto não implica que ele exista.  Sendo impossível determinar o estado futuro do universo não significa que não possamos predeterminar o estado futuro de um subsistema físico com suficiente precisão, como, por exemplo, saber o que um determinado cérebro iria escolher num determinado contexto.

O LA está associado à mente e a consciência que são produtos do processamento cerebral. Mas como o cérebro é um sistema físico poderemos razoar que pelo menos parte de nosso LA possa ser predeterminado por certas condições de contorno de modo que não poderíamos escapar de certas escolhas.

E aqui entra um ponto importante: Embora sintamos e pensamos que temos LA para uma livre escolha de opções isso, na verdade, pode não passar de uma ilusão: "a ilusão do livre arbítrio":

Se tivéssemos o conhecimento do funcionamento do cérebro e o de sua configuração interna, poderíamos, em princípio, prever, em determinados casos, quais reações seriam tomadas (outputs) para um dado estimulo (input) externo.

Mas estas previsões estariam limitadas pela precisão teórica de nossas leis físicas. E, quanto mais dependente de fenômenos aleatórios quânticos fossem os processos cerebrais envolvidos, menor seria nossa certeza na previsibilidade do comportamento.
Uma pergunta poderia surgir naturalmente:

Se o determinismo não mais existe, e se fenômenos aleatórios participam de nossas escolhas podemos dizer que o LA ainda pode existir?
O imbróglio todo deste problema está na conceituação do que seja o “eu”: O que seria o “eu” que faz as escolhas?

Dentro da hipótese materialista, que estamos assumindo desde o início, e que é a hipótese mais aceita pela ciência atualmente, a consciência e a mente, são um produto do funcionamento do cérebro. Então o “eu-consciente” está contido neste cérebro.  Mas, como mostrou Libet [4], a consciência não funciona sozinha. No “Experimento de Libet”, Libet demonstrou que a consciência, tal qual a sentimos, é resultado de processos cerebrais internos e inconscientes (Ver apêndice abaixo).

Estas evidências implicam que nosso “eu” que faz escolhas envolve uma boa parcela do cérebro que faz processamentos internos inconscientes, da qual nossa percepção consciente é apenas uma parte.  Mas nosso corpo físico também é parte de nosso ser, o cérebro é a parte principal de nosso ser. Então os processos físicos que o cérebro processa são, na realidade, o nosso ‘eu’ em processamento! Isto é, as reações físico-químicas que ocorrem no cérebro e que produzem a mente são o nosso próprio ser em funcionamento.  E não importa se existem dados-quânticos, i.e., fenômenos aleatórios (ou não) determinando nosso pensamento: 

Eles são o nosso eu em processamento, estes fenômenos físicos fazem parte do nosso ser, do nosso próprio ‘eu’.

- A Hipótese não materialista
Embora eu (e os cientistas da mente e do cérebro em geral) não concorde com a "consciência fora do corpo", posso elucubrar um pouco sobre esta hipótese anticientífica.

Assim sendo, SUPONHA que exista algo que não dependa de entidades físicas, responsável por nosso arbítrio. Chamemos este algo de alma.

Podemos então perguntar "como a alma chega a uma escolha?”
Se a alma faz algum tipo de processamento lógico para avaliar e fazer uma escolha (por exemplo, quando a pessoa joga uma partida de xadrez) pode-se arguir que este processamento lógico seria dirigido por módulos menores algo que poderíamos chamar de a "física das almas".
Neste caso, cairíamos no mesmo "problema" que tínhamos originalmente só que trocando o materialismo-físico pela "física das almas"!

De modo que nosso arbítrio seria determinado pelas reações de causa e efeito da "física das almas". E se a “física das almas” for determinista? Então a alma não poderia ter arbítrio!

Agora, se o processamento lógico das almas não for feito por entidades logicas mais simples então seria o caso de perguntar: “-Como uma alma faz uma escolha lógica?”.

Bom, se não temos uma resposta para esta questão também não podemos afirmar - da mesma forma - que temos um livre arbítrio, pois não sabemos se o "processamento espiritual" de causas e efeitos da “física das almas” não deixa escolha alguma à alma!

- Conclusões

E finalmente chegamos num ponto importante: A capacidade do cérebro de escolher pode ser decomposta em duas partes:

Uma parte determinada pela sucessão de causas e efeitos governada em última instância pelas leis da física-clássica. A outra parte, talvez de menor peso, seria devido à aleatoriedade inerente aos processos eletroquímico-quânticos da maquinaria cerebral.

Podemos concluir então que o Livre-Arbítrio-clássico não é uma entidade real e sim um pseudo-conceito atrelada a uma pequena parte do cérebro conhecida como o “eu-consciente” que, pelas evidências apontadas por Libet, não é a responsável por nossas escolhas e sim uma parte “inconsciente” [5] de nosso cérebro.

Uma revisão deste conceito deveria propor que devemos encarar nossa capacidade de escolha como fruto da complexidade neurológica cerebral, em grande parte pré-determinada geneticamente, como também dos dados nele armazenados no decorrer da vida e de fenômenos aleatórios da mecânica quântica.

Se o LA não existe no sentido clássico do termo –como uma entidade una e consciente que controla nossas escolhas- podemos dizer que existe como produto da complexidade inconsciente cerebral que é parte integrante de nosso ser: Somos também nosso corpo, nosso cérebro.

Nossa mente não pode separar-se de nosso cérebro da mesma forma que o fogo não pode separar-se do combustível que o produz. 

Assim, os impulsos sinápticos que percorrem os neurônios, bem como as interações eletroquímicas e quânticas- aleatórias produzidas, somos nós que os estamos produzindo, pois é disso que somos feitos. Então podemos dizer controlamos nosso livre-arbítrio, pois é nosso cérebro que produz as escolhas, e não com o nosso arcaico “modulo-consciente” que parece servir apenas como um módulo cerebral mais passivo que ativo, talvez para sentirmos as ações tomadas e compartilha-las com outros módulos internos do cérebro.

Apêndice
O articulista Luiz Felipe de Castro Silva postou no Fórum Cético o texto do qual eu extraio o seguinte fragmento:

 1 - O Experimento de Libet   (Wikipédia)

1.1 Equipamentos

Para avaliar a relação entre o potencial de prontidão inconsciente e sentimentos subjetivos de vontade e ação, Libet necessitou de um método objetivo de marcar a experiência subjetiva consciente da vontade de executar uma ação no tempo, e depois comparar essas informações com dados de registro da atividade elétrica do cérebro durante este mesmo intervalo. Para isso, Libet necessitou de equipamentos especializados.

O primeiro deles foi o osciloscópio de raios catódicos, um instrumento tipicamente usado para o gráfico da amplitude e freqüência de sinais elétricos. Com alguns ajustes, entretanto, o osciloscópio pode ser feito para funcionar como um cronômetro: em vez de exibir uma série de ondas, a saída foi um único ponto que poderia ser feito para viajar em um movimento circular, similar aos movimentos de um segundo mão em torno de um relógio.

Este timer foi ajustado para que o tempo que levou para o ponto de viajar entre os intervalos marcados no osciloscópio fosse de aproximadamente quarenta e três milésimos de segundo. Como a velocidade angular do ponto permanecia constante, qualquer mudança na distância poderia facilmente ser convertida em tempo gasto para percorrer essa distância.

Para monitorar a atividade cerebral durante o mesmo período, Libet utilizado um eletro-encefalograma (EEG). O EEG usa pequenos eletrodos colocados em vários pontos no couro cabeludo que medem a atividade neuronal no córtex, a parte exterior do cérebro, que está associado com maior potência. A transmissão de sinais elétricos em todas as regiões do córtex causas diferenças na tensão medida entre os eletrodos de EEG. Estas diferenças de tensão refletem mudanças na atividade neuronal em áreas específicas do córtex.

Para medir o tempo real do ato motor voluntário, um eletromiógrafo (EMG) registrou o movimento do músculo através de eletrodos na pele sobre o músculo do antebraço ativado. O tempo de EMG foi tomado como tempo zero em relação à qual todas os outros tempos foram calculados.

1.2 Metodologia


Pesquisadores que realizarem o experimento de Libet deverão pedir a cada participante que se sentem em uma mesa na frente do timer osciloscópio. Eles deverão fixar os eletrodos de EEG no couro cabeludo do participante, e, então, instruir os indivíduos para realizarem alguns pequenos e simples movimentos, como pressionar um botão, ou flexionar um dedo ou o pulso, dentro de um determinado período de tempo. O número de movimentos que os indivíduos deverão realizar neste intervalo de tempo não necessita ser limitado.

Durante o experimento, o indivíduo voltará a ser convidado a observar a posição do ponto no timer osciloscópio quando "ele / ela ficaram, pela primeira vez, ciente do desejo ou vontade de agir" (ensaios de controle com o equipamento de Libet demonstram uma confortável margem de erro de apenas -50 milissegundos).

 Pressionando o botão, também se registra a posição do ponto sobre o oscilador, desta vez por via electrónica. Ao comparar a hora marcada do botão de empurrar e da decisão consciente do sujeito para agir, os pesquisadores conseguirão calcular o tempo total do ensaio da vontade inicial do indivíduo através da ação resultante. 

Em média, cerca de duas centenas de milissegundos decorrem entre a primeira aparição de vontade consciente para pressionar o botão e o ato de pressioná-lo. A partir de 2008, o resultado próximo de uma decisão pode ser encontrada no estudo da atividade cerebral no córtex frontal e parietal até 7 segundos antes que o indivíduo tornava-se ciente da sua decisão [5].

Os pesquisadores também analisaram as gravações de EEG para cada ensaio em relação a cronologia da ação. Notou-se que a atividade do cérebro envolvida na iniciação da ação, centrada principalmente no córtex motor secundário, ocorreu, em média, cerca de cinco centenas de milissegundos antes do desejo em realizar o movimento, que terminou com o pressionar do botão.

Ou seja, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de da área motor, inconsciente, três milésimos de segundo antes dos indivíduos relatarem a primeira percepção consciente da vontade de agir. Em outras palavras, as decisões aparentemente consciente de agir foram precedidos por acúmulo de carga elétrica no cérebro, na área inconsciente(motora) - esse acúmulo veio a ser chamado potencial Bereitschaftspotential ou potencial de prontidão.

2 – Conclusões do Experimento   (Wikipédia)

Os experimentos de Libet sugerem que os processos inconscientes do cérebro são os verdadeiros “iniciadores” dos atos volitivos e, o livre-arbítrio, portanto, não desempenha nenhum papel no seu início. Se o cérebro já tomou medidas para iniciar uma ação antes que nós estejamos cientes de vontade de realizá-la, o papel causal da consciência na vontade é totalmente eliminada.

Libet considera que vontade consciente é exercida sob a forma de "poder de veto" (às vezes chamado livre-não); Tornar-se consciente do movimento é necessário para permitir que o acúmulo inconsciente do potencial de prontidão possa ser “transformado” em um movimento. Enquanto a consciência não desempenha nenhum papel na instigação de atos volitivos, ele mantém um papel a desempenhar na forma de supressão ou recusa de determinados actos instigado pelo inconsciente. Segundo Libet, todo mundo já experimentou a retenção de realizar um desejo inconsciente.

Uma vez que a experiência subjetiva da vontade consciente de agir precedeu a ação de apenas 200 milissegundos, isto deixa apenas a consciência 100-150 milissegundos para vetar uma ação (isto é porque o final de 50 milissegundos antes de um ato são ocupados pela ativação da medula neurônios motores do córtex motor primário, e a margem de erro é indicado por testes utilizando o oscilador também devem ser considerados).

A interpretação de Susan Blackmore's, que é o  senso comum, é "que a experiência consciente demora algum tempo a construir e é muito lenta para ser responsável por fazer as coisas acontecerem."

Extraído de : 
Fonte:
"Genismo"
De:
Para:Genismo@yahoogroups.com
 

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