Hoje, vivem em Chicago 300 mil judeus. Os primeiros a chegar vieram da
Alemanha no ano de 1841 e encontraram uma cidade ainda jovem, aberta a
diversas possibilidades.
Em meados do século 19, a esquina das ruas Lake e Wells (foto acima) era
o centro da vida judaica alemã em Chicago. Historiadores supõem que os
primeiros imigrantes tenham chegado em 1841. Naquela época, a cidade
tinha apenas 30 mil habitantes, que viviam, em sua maioria, da indústria
madeireira e metalúrgica.
Muitos imigrantes judeus alemães ganhavam seu sustento, contudo, como vendedores ambulantes, levando mercadorias de casa em casa. Mais tarde, começaram a abrir pequenas mercearias ou lojas de roupas. E viviam, na maior parte dos casos, no andar de cima de seus estabelecimentos.
Cidade jovem e aberta
Na antiga Chicago, os judeus alemães eram apenas um entre os
diversos grupos de imigrantes, ao lado de irlandeses, britânicos ou
suecos. Eles eram aceitos na cidade e participavam da vida social e
política nas esferas mais altas, o que era impossível para muitos judeus
na Europa naquele momento.
"Os primeiros imigrantes judeus alemães encontraram uma cidade jovem e muito aberta", explica Libby Mahoney, curadora da exposição Shalom Chicago, que aborda a longa história da comunidade judaica da cidade no Museu Histórico de Chicago. "Não havia estruturas sociais solidificadas e por isso poucas barreiras ou obstáculos para os recém-chegados", diz Mahoney.
Neste contexto, os judeus de origem alemã encontraram todas as portas abertas. Muitos seguiram carreira no setor bancário, de seguros ou imobiliário. Eles se integraram perfeitamente à sociedade norte-americana e ocupavam altos postos nos clubes e associações locais.
Os judeus alemães fundaram também a primeira sinagoga de Chicago e do estado de Illinois. O templo Kehilath Anshe Maariv, KAM (Comunidade dos Homens do Ocidente), ocupava uma pequena sala em cima de uma loja de roupas, na esquina das ruas Lake e Wells. Seu primeiro rabino era o ultraortodoxo Ignatz Kunreuther.
Homens de negócios bem-sucedidos
Outra personalidade de destaque da comunidade judaico-alemã era
Julius Rosenwald, presidente da Sears, Roebuck and Company, um grupo de
lojas de varejo conhecido em Chicago. Sob a direção de Rosenwald, a
"Sears", como a empresa ainda se chama até hoje, se tornou o maior
varejista do mundo. Rosenwald usou sua influência como homem de negócios
bem-sucedido para incentivar a criação de uma comunidade judaica na
cidade.
Ele patrocinava entidades judaicas, mas também muitas outras, como escolas e museus. Em 1927, Rosenwald fundou e financiou, por exemplo, o Museu da Ciência e da Indústria da cidade, que está até hoje entre os maiores museus dedicados à tecnologia do mundo.
Até a virada do século 20, o número de judeus alemães em Chicago subiria para mais de 20 mil. Com 1,7 milhão de habitantes, a "cidade do vento" havia se transformado numa metrópole. Em 30 anos, ganhou mais de um milhão de habitantes. O crescimento galopante gerava também empregos.
"Com o crescimento da cidade, as empresas locais passaram a expandir seus negócios", diz Edward Mazur, presidente da Sociedade Histórica Judaica de Chicago. "Isso, por sua vez, aumentava a necessidade de empréstimos. Ou seja, o setor bancário era uma área promissora numa cidade em franca expansão. E alguns imigrantes judeus alemães souberam aproveitar essa situação", completa Mazur.
Elite e recém-chegados
Com o passar do tempo, muitos judeus de língua alemã mudaram-se do
centro para bairros melhores no sul da cidade. Por volta de 1900, surgia
o que se chamava de "gueto de ouro", como cita o historiador Irving
Cutler. Ali viviam famílias judias abastadas de origem alemã, que não
gostavam de se misturar – sobretudo quando o assunto era casamento. Pois
após 1880 começaram a chegar a Chicago cada vez mais judeus do Leste
Europeu, especialmente da Rússia czarista. Em breve, eles já formavam
quase 80% da população de judeus da cidade.
A elite no sul de Chicago separava-se dos recém-chegados, que permaneciam em sua maioria na zona oeste. As razões disso eram diversas, fala Mahoney. "Os judeus alemães tinham normalmente um nível de ensino mais alto e dispunham também de melhores recursos financeiros. Entre os judeus alemães, altamente assimilados, e os imigrantes do Leste Europeu, havia um abismo", completa Mahoney. Nunca houve, contudo, qualquer conflito concreto entre os dois grupos. E a distância entre eles diminuiu com o tempo.
Algumas comunidades judaicas se estabeleceram também na South Side, a zona sul da cidade. No lugar de uma sala claustrofóbica e pequena por cima de uma loja de roupas, a sinagoga KAM ganharia um prédio representativo, que refletia adequadamente a ascensão social de seus membros. Os judeus alemães fundaram no sul da cidade algumas instituições comunitárias, como o Hospital Michael Reese, que substituiu outro hospital financiado por judeus, destruído no grande incêndio na cidade em 1871. A nova clínica, contudo, era também aberta a pacientes de outras confissões religiosas.
E os habitantes judeus de origem alemã da cidade desempenharam
um papel importante também na fundação da Universidade de Chicago, em
1890. "A University of Chicago tinha, como muitas universidades
norte-americanas em suas fases de criação, grandes dificuldades
financeiras", conta Mazur. O rabino mais influente naquela época era
Emil G. Hirsch, que se empenhou muito pelo financiamento da
universidade", acentua. Graças às influências de Hirsch, fluía dinheiro
regularmente para a universidade. Hoje, ela é uma das mais renomadas
universidades particulares dos EUA.
Mazur aponta que, naquela época, bastava olhar para o lado para se deparar com as influências dos judeus alemães na cidade. Muitas das grandes lojas de departamento foram criadas por judeus de origem alemã, E o mesmo vale em relação a museus e entidades culturais. Mahoney acentua que a onda de imigração posterior, durante o Holocausto da Segunda Guerra, não teria sido viável sem a infraestrutura que já havia sido criada para a comunidade judaica. Pois os judeus alemães, que chegaram a Chicago em meados do século 19, já haviam fincado ali raízes sólidas e profundas, contribuindo até hoje para a atmosfera viva desta metrópole.
Autor: Jan Bruck (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Muitos imigrantes judeus alemães ganhavam seu sustento, contudo, como vendedores ambulantes, levando mercadorias de casa em casa. Mais tarde, começaram a abrir pequenas mercearias ou lojas de roupas. E viviam, na maior parte dos casos, no andar de cima de seus estabelecimentos.
Cidade jovem e aberta
Julius Rosenwald, empresário e mecenas
"Os primeiros imigrantes judeus alemães encontraram uma cidade jovem e muito aberta", explica Libby Mahoney, curadora da exposição Shalom Chicago, que aborda a longa história da comunidade judaica da cidade no Museu Histórico de Chicago. "Não havia estruturas sociais solidificadas e por isso poucas barreiras ou obstáculos para os recém-chegados", diz Mahoney.
Neste contexto, os judeus de origem alemã encontraram todas as portas abertas. Muitos seguiram carreira no setor bancário, de seguros ou imobiliário. Eles se integraram perfeitamente à sociedade norte-americana e ocupavam altos postos nos clubes e associações locais.
Os judeus alemães fundaram também a primeira sinagoga de Chicago e do estado de Illinois. O templo Kehilath Anshe Maariv, KAM (Comunidade dos Homens do Ocidente), ocupava uma pequena sala em cima de uma loja de roupas, na esquina das ruas Lake e Wells. Seu primeiro rabino era o ultraortodoxo Ignatz Kunreuther.
Homens de negócios bem-sucedidos
Henry Greenebaum (1833-1914),
um dos primeiros banqueiros influentes
Ele patrocinava entidades judaicas, mas também muitas outras, como escolas e museus. Em 1927, Rosenwald fundou e financiou, por exemplo, o Museu da Ciência e da Indústria da cidade, que está até hoje entre os maiores museus dedicados à tecnologia do mundo.
Até a virada do século 20, o número de judeus alemães em Chicago subiria para mais de 20 mil. Com 1,7 milhão de habitantes, a "cidade do vento" havia se transformado numa metrópole. Em 30 anos, ganhou mais de um milhão de habitantes. O crescimento galopante gerava também empregos.
"Com o crescimento da cidade, as empresas locais passaram a expandir seus negócios", diz Edward Mazur, presidente da Sociedade Histórica Judaica de Chicago. "Isso, por sua vez, aumentava a necessidade de empréstimos. Ou seja, o setor bancário era uma área promissora numa cidade em franca expansão. E alguns imigrantes judeus alemães souberam aproveitar essa situação", completa Mazur.
Elite e recém-chegados
Em 1890, a sinagoga KAM mudou-se para a zona sul de Chicago
A elite no sul de Chicago separava-se dos recém-chegados, que permaneciam em sua maioria na zona oeste. As razões disso eram diversas, fala Mahoney. "Os judeus alemães tinham normalmente um nível de ensino mais alto e dispunham também de melhores recursos financeiros. Entre os judeus alemães, altamente assimilados, e os imigrantes do Leste Europeu, havia um abismo", completa Mahoney. Nunca houve, contudo, qualquer conflito concreto entre os dois grupos. E a distância entre eles diminuiu com o tempo.
Algumas comunidades judaicas se estabeleceram também na South Side, a zona sul da cidade. No lugar de uma sala claustrofóbica e pequena por cima de uma loja de roupas, a sinagoga KAM ganharia um prédio representativo, que refletia adequadamente a ascensão social de seus membros. Os judeus alemães fundaram no sul da cidade algumas instituições comunitárias, como o Hospital Michael Reese, que substituiu outro hospital financiado por judeus, destruído no grande incêndio na cidade em 1871. A nova clínica, contudo, era também aberta a pacientes de outras confissões religiosas.
Influências de judeus alemães são perceptíveis até hoje
Imigrantes judeus do Leste Europeu em Chicago,
por volta de 1900
Mazur aponta que, naquela época, bastava olhar para o lado para se deparar com as influências dos judeus alemães na cidade. Muitas das grandes lojas de departamento foram criadas por judeus de origem alemã, E o mesmo vale em relação a museus e entidades culturais. Mahoney acentua que a onda de imigração posterior, durante o Holocausto da Segunda Guerra, não teria sido viável sem a infraestrutura que já havia sido criada para a comunidade judaica. Pois os judeus alemães, que chegaram a Chicago em meados do século 19, já haviam fincado ali raízes sólidas e profundas, contribuindo até hoje para a atmosfera viva desta metrópole.
Autor: Jan Bruck (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer
DW.DE
De Bochum à Cidade do Cabo
De navio rumo a um novo mundo: para a menina Miriam, de 13 anos, o ano de 1937 foi uma aventura. Mas também na África do Sul havia racismo: as vítimas ali eram os negros. (04.02.2013)Xangai, um dos destinos de judeus perseguidos pelo nazismo
Quando no fim dos anos 1930 cada vez mais judeus alemães e austríacos tentavam escapar das perseguições nazistas, restavam poucos lugares no mundo dispostos a acolhê-los. Um deles era Xangai. (06.02.2013)DW Cult 13.02.2013 | 19:00 UTC |
Cultura e Estilo |
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Hoje, vivem em Chicago 300 mil judeus. Os primeiros a chegar vieram da Alemanha no ano de 1841 e encontraram uma cidade ainda jovem, aberta a diversas possibilidades. |
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Ethan Bensinger quer mostrar em seu filme as histórias pessoais que se encontram por trás dessas referências. As recordações da fuga de sua própria família o inspiraram. |
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O Instituto Leo Baeck, sediado em Nova York, possui o maior acervo do mundo sobre história judaica. Uma empreitada bem-sucedida, garante sua diretora Carol Kahn Strauss. |
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Agora com acesso pela internet, o acervo singular do Instituto Leo Baeck documenta a vida dos judeus de língua alemã desde o século 18 até os dias de hoje. |
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Exposição em Frankfurt conta histórias de pessoas que arriscaram a vida
para salvar judeus durante a perseguição nazista. Eles ajudavam com
alimentos, documentos falsos ou esconderijos.
O empresário Oskar Schindler, que salvou mais de 1.200 judeus na
Polônia, viveu solitário depois da Segunda Guerra, empobrecido em um
pequeno apartamento perto da estação central de Frankfurt. Pouca gente
sabia de suas ações corajosas durante a guerra. Em vida, ele nem ao
menos sonhava que sua história seria contada, décadas mais tarde, e que
ele se tornaria o protagonista de um filme norte-americano.
Durante o regime nazista, Schindler não foi o único a ajudar os judeus. Outros também se arriscaram a auxiliar os perseguidos pelo regime nazista. São heróis desconhecidos, cujas histórias vão, aos poucos, sendo reveladas. A exposição Gegen den Strom (Contra a corrente), em cartaz no Museu Judaico de Frankfurt até 14 de outubro de 2012, dedica-se a alguns desses personagens.
Um deles é a mãe de Nicole Jussek-Sutton. Falecida em 1996, ela pouco falava sobre o que passou durante a guerra, mas manteve o sentimento de estar sendo perseguida até seus últimos dias de vida. "Minha mãe sobreviveu escondida em uma casa afastada. Embora ela corresse risco não somente por ser judia, mas também por causa de seu trabalho de resistência", conta Nicole.
Gestos de solidariedade
As pessoas que se empenhavam em ajudar os judeus eram cidadãos comuns, que auxiliavam por amor ao próximo, por amizade ou por não serem coniventes com a política nazista. Ou simplesmente porque se solidarizavam com as vítimas e, de outra forma, não conseguiriam dormir em paz. Eles ajudavam com pequenos ou grandes gestos de solidariedade: alimentos, documentos falsos e esconderijos – até mesmo salvando vítimas da deportação ou de campos de concentração.
Havia o zelador que tentava suavizar a dor dos moradores de um asilo de judeus. Ou o casal de Frankfurt, que escondeu em seu sótão um jovem refugiado do campo de concentração de Majdanek. Ou ainda um padre que servia de ajudante para fugas. E até mesmo um funcionário da polícia, que manipulava os registros policiais, possibilitando a sobrevivência de vários judeus em Frankfurt.
Pessoas conhecidas também ajudaram
A empresa Leitz, de Wetzlar, – uma das primeiras fabricantes de instrumentos óticos e câmeras – empregou propositalmente funcionários judeus depois de 1933, dando-lhes a possibilidade de obter uma formação profissional, que mais tarde lhes seria útil para construir uma nova vida depois da emigração. A Leitz empregou ainda 600 funcionárias ucranianas antes vítimas de trabalho forçado. Diariamente, o dono da empresa e sua filha controlavam se as mulheres estavam vivendo em condições dignas e, sobretudo, se tinham o suficiente para comer. A filha de Leitz acabou ficando presa durante meses em Frankfurt por isso e por causa de outras ações de apoio a perseguidos.
Já o cônsul britânico Robert T. Smallbones abrigou perseguidos em seu consulado durante o pogrom do 9 de novembro de 1938, tendo ajudado os mesmos a fugir a seguir. Com o apoio de Smallbones, 48 mil judeus puderam receber um visto de trânsito para o Reino Unido e, a partir dali, seguir viagem.
Tabu e polêmica
Durante muito tempo, nada se sabia a respeito dessa "resistência pela salvação" praticada por cidadãos comuns. Nos primeiros anos do pós-guerra, o tema "ajuda a judeus perseguidos" permaneceu um tabu na Alemanha. "No país, comparando-se a outras nações europeias, foram muito poucos os que realmente ajudaram", diz Raphael Gross, diretor do Museu Judaico de Frankfurt. E eles acabaram não sendo reconhecidos como mereciam, completa Gross.
"Para a sociedade alemã do pós-guerra, isso era uma provocação. A resistência através da salvação praticada por uns poucos explicitava a inércia da maioria, mostrando que a ajuda também é possível mesmo sob as mais difíceis condições políticas", diz Gross. Os ajudantes e salvadores também não ficaram propagando suas ações, que haviam sido, para eles, algo óbvio de ser feito. Ou se calavam porque o clima político da então recém-fundada Alemanha Ocidental não lhes permitia falar sobre o passado.
Discriminados e ignorados
Por muito tempo, os adversários do regime nazista foram considerados "traidores da pátria". Mais tarde, discutiu-se muito a respeito do que seria considerado "resistência", em um debate concentrado principalmente na resistência militar. Embora esta também tenha sido mínima, alerta o historiador Wolfram Wette. "A Wehrmacht tinha aproximadamente 18 milhões de soldados. O número dos salvadores até hoje conhecidos não passou de cem", compara.
As homenagens e pesquisas sobre o assunto só surgiram mais tarde. "Foi um processo árduo", diz Heike Drummer, curadora da atual exposição em Frankfurt. Segundo ela, é difícil encontrar fontes e não há até hoje nenhum arquivo central sobre o assunto. "Aqueles que agiram nesse sentido fizeram de tudo para não deixar rastros, pois corriam perigo de vida", salienta Gross.
Hoje, o Memorial da Resistência Alemã, em Berlim, exibe uma mostra sobre esses heróis discretos e suas ações corajosas. O Museu Judaico de Frankfurt contribui agora com exemplos de testemunhos. O Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, já homenageou 22 mil "justos entre as nações" – pessoas de todo o mundo, que tiveram coragem de ajudar judeus perseguidos. Um deles é Oskar Schindler.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Luisa Frey
Durante o regime nazista, Schindler não foi o único a ajudar os judeus. Outros também se arriscaram a auxiliar os perseguidos pelo regime nazista. São heróis desconhecidos, cujas histórias vão, aos poucos, sendo reveladas. A exposição Gegen den Strom (Contra a corrente), em cartaz no Museu Judaico de Frankfurt até 14 de outubro de 2012, dedica-se a alguns desses personagens.
Um deles é a mãe de Nicole Jussek-Sutton. Falecida em 1996, ela pouco falava sobre o que passou durante a guerra, mas manteve o sentimento de estar sendo perseguida até seus últimos dias de vida. "Minha mãe sobreviveu escondida em uma casa afastada. Embora ela corresse risco não somente por ser judia, mas também por causa de seu trabalho de resistência", conta Nicole.
Documentos falsos:
essencias para salvar os perseguidos
As pessoas que se empenhavam em ajudar os judeus eram cidadãos comuns, que auxiliavam por amor ao próximo, por amizade ou por não serem coniventes com a política nazista. Ou simplesmente porque se solidarizavam com as vítimas e, de outra forma, não conseguiriam dormir em paz. Eles ajudavam com pequenos ou grandes gestos de solidariedade: alimentos, documentos falsos e esconderijos – até mesmo salvando vítimas da deportação ou de campos de concentração.
Havia o zelador que tentava suavizar a dor dos moradores de um asilo de judeus. Ou o casal de Frankfurt, que escondeu em seu sótão um jovem refugiado do campo de concentração de Majdanek. Ou ainda um padre que servia de ajudante para fugas. E até mesmo um funcionário da polícia, que manipulava os registros policiais, possibilitando a sobrevivência de vários judeus em Frankfurt.
Pessoas conhecidas também ajudaram
A empresa Leitz, de Wetzlar, – uma das primeiras fabricantes de instrumentos óticos e câmeras – empregou propositalmente funcionários judeus depois de 1933, dando-lhes a possibilidade de obter uma formação profissional, que mais tarde lhes seria útil para construir uma nova vida depois da emigração. A Leitz empregou ainda 600 funcionárias ucranianas antes vítimas de trabalho forçado. Diariamente, o dono da empresa e sua filha controlavam se as mulheres estavam vivendo em condições dignas e, sobretudo, se tinham o suficiente para comer. A filha de Leitz acabou ficando presa durante meses em Frankfurt por isso e por causa de outras ações de apoio a perseguidos.
Já o cônsul britânico Robert T. Smallbones abrigou perseguidos em seu consulado durante o pogrom do 9 de novembro de 1938, tendo ajudado os mesmos a fugir a seguir. Com o apoio de Smallbones, 48 mil judeus puderam receber um visto de trânsito para o Reino Unido e, a partir dali, seguir viagem.
Cônsul britânico Smallbones abrigou perseguidos
Durante muito tempo, nada se sabia a respeito dessa "resistência pela salvação" praticada por cidadãos comuns. Nos primeiros anos do pós-guerra, o tema "ajuda a judeus perseguidos" permaneceu um tabu na Alemanha. "No país, comparando-se a outras nações europeias, foram muito poucos os que realmente ajudaram", diz Raphael Gross, diretor do Museu Judaico de Frankfurt. E eles acabaram não sendo reconhecidos como mereciam, completa Gross.
"Para a sociedade alemã do pós-guerra, isso era uma provocação. A resistência através da salvação praticada por uns poucos explicitava a inércia da maioria, mostrando que a ajuda também é possível mesmo sob as mais difíceis condições políticas", diz Gross. Os ajudantes e salvadores também não ficaram propagando suas ações, que haviam sido, para eles, algo óbvio de ser feito. Ou se calavam porque o clima político da então recém-fundada Alemanha Ocidental não lhes permitia falar sobre o passado.
Discriminados e ignorados
Mulher não judia com a estrela de Davi:
ato de solidariedade
Por muito tempo, os adversários do regime nazista foram considerados "traidores da pátria". Mais tarde, discutiu-se muito a respeito do que seria considerado "resistência", em um debate concentrado principalmente na resistência militar. Embora esta também tenha sido mínima, alerta o historiador Wolfram Wette. "A Wehrmacht tinha aproximadamente 18 milhões de soldados. O número dos salvadores até hoje conhecidos não passou de cem", compara.
As homenagens e pesquisas sobre o assunto só surgiram mais tarde. "Foi um processo árduo", diz Heike Drummer, curadora da atual exposição em Frankfurt. Segundo ela, é difícil encontrar fontes e não há até hoje nenhum arquivo central sobre o assunto. "Aqueles que agiram nesse sentido fizeram de tudo para não deixar rastros, pois corriam perigo de vida", salienta Gross.
Hoje, o Memorial da Resistência Alemã, em Berlim, exibe uma mostra sobre esses heróis discretos e suas ações corajosas. O Museu Judaico de Frankfurt contribui agora com exemplos de testemunhos. O Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, já homenageou 22 mil "justos entre as nações" – pessoas de todo o mundo, que tiveram coragem de ajudar judeus perseguidos. Um deles é Oskar Schindler.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Luisa Frey
DW.DE
Alemanha relembra Holocausto no dia da libertação de Auschwitz
Testemunha da saída dos judeus do Gueto de Varsóvia, de onde foram levados para campos de concentração, em 1942, Marcel Reich-Ranicki lembrou perante o Parlamento alemão as atrocidades cometidas pelos nazistas. (27.01.2012)Escritor reconstrói história familiar em "32 cartões-postais até a deportação"
Cartas e cartões-postais contam a verdadeira história de uma família de judeus durante o nazismo: os pais, em Hamburgo, escreviam para o filho no exílio sueco. Hoje, os documentos podem ser acessados em projeto online. (10.12.2011)1938: O pogrom da "Noite dos Cristais"
Em 9 de novembro de 1938, sinagogas foram incendiadas em toda a Alemanha. Polícia e bombeiros foram impedidos de agir pelo governo nazista. (09.11.2011)
Quando no fim dos anos 1930 cada vez mais judeus alemães e austríacos
tentavam escapar das perseguições nazistas, restavam poucos lugares no
mundo dispostos a acolhê-los. Um deles era Xangai.
Os países vizinhos na Europa haviam declarado a suspensão de vistos e os
Estados Unidos haviam limitado as cotas de entrada no país a 25 mil
pessoas por ano. Mesmo outras nações tradicionalmente de imigração, como
Austrália e Nova Zelândia, estavam recebendo pouquíssimos refugiados.
Para os judeus que viviam sob o regime nazista do então chamado Terceiro
Reich, que na época também englobava a Áustria, era praticamente
impossível emigrar.
Um dos últimos destinos dos judeus em fuga, Xangai, era
tradicionalmente uma cidade aberta. Desde a Guerra do Ópio, no século
19, partes da cidade estavam submetidas às potências coloniais: havia
uma parte francesa e uma área internacional, formada pelos setores
britânico e norte-americano, administrada por comerciantes locais.
Qualquer um podia desembarcar ali e se estabelecer.
A cidade vivia do comércio e atraía também dissidentes políticos de outras regiões da própria China. Em 1921, foi fundado ali o Partido Comunista Chinês. Depois da Revolução de Outubro, alguns russos fiéis ao czar se estabeleceram na cidade. Além disso, Xangai atraía aventureiros e criminosos de todo o mundo.
O crime organizado, o tráfico do ópio e a prostituição floresciam. Um missionário norte-americano teria dito: "Se Deus tolera Xangai, ele deve uma desculpa a Sodoma e Gomorra". No fim dos anos 30 do século passado, esta metrópole singular foi o último lugar do mundo disposto a acolher refugiados judeus sem necessidade de visto.
Um procedimento burocrático, contudo, era necessário: para
conseguir uma permissão de saída dos territórios comandados pelos
nazistas, os emigrantes precisavam provar que poderiam entrar nos países
aos quais se destinavam. Alguns consulados chineses forneciam esta
declaração, especialmente o cônsul chinês em Viena da época, Ho Feng
Shang, que ficou conhecido por ter assinado milhares de vistos, salvando
desta forma a vida de judeus. Até a eclosão da Segunda Guerra em 1939,
entre 15 e 20 mil judeus alemães e austríacos puderam fugir para Xangai.
Os refugiados judeus, que chegavam à cidade muitas vezes sem quaisquer recursos, passaram a viver no noroeste do setor internacional: o distrito de Hongkou era um dos mais pobres da cidade. Os japoneses, que haviam ocupado os setores internacionais a partir de 1941, determinaram que os refugiados judeus só poderiam viver em certas partes de Hongkou. Esta "área designada para refugiados sem pátria" é frequentemente denominada "gueto" de Xangai.
No entanto, a determinação não atingia todos os judeus da
cidade, mas somente os "apátridas", ou seja, os que haviam fugido da
Europa e precisavam se estabelecer ali. Em Hongkou, porém, os refugiados
judeus viviam, ao contrário do que acontecia nos guetos europeus, junto
de pessoas de diversas nacionalidades. Mas para deixar o gueto
precisavam de permissão. Somente depois do fim da Segunda Guerra é que
eles adquiriram liberdade de se movimentar livremente pela cidade.
Depois de 1945, a maioria dos refugiados judeus emigrou para os EUA, Palestina e Austrália. Apenas algumas centenas voltaram para a Alemanha.
Autor: Mathias Bölinger (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Pequenas ruelas do bairro Hongkou, em Xangai
A cidade vivia do comércio e atraía também dissidentes políticos de outras regiões da própria China. Em 1921, foi fundado ali o Partido Comunista Chinês. Depois da Revolução de Outubro, alguns russos fiéis ao czar se estabeleceram na cidade. Além disso, Xangai atraía aventureiros e criminosos de todo o mundo.
O crime organizado, o tráfico do ópio e a prostituição floresciam. Um missionário norte-americano teria dito: "Se Deus tolera Xangai, ele deve uma desculpa a Sodoma e Gomorra". No fim dos anos 30 do século passado, esta metrópole singular foi o último lugar do mundo disposto a acolher refugiados judeus sem necessidade de visto.
Passaporte de gueto,
expedido pouco antes do fim da Segunda Guerra
Os refugiados judeus, que chegavam à cidade muitas vezes sem quaisquer recursos, passaram a viver no noroeste do setor internacional: o distrito de Hongkou era um dos mais pobres da cidade. Os japoneses, que haviam ocupado os setores internacionais a partir de 1941, determinaram que os refugiados judeus só poderiam viver em certas partes de Hongkou. Esta "área designada para refugiados sem pátria" é frequentemente denominada "gueto" de Xangai.
Muitas habitações não têm cozinha até hoje
Depois de 1945, a maioria dos refugiados judeus emigrou para os EUA, Palestina e Austrália. Apenas algumas centenas voltaram para a Alemanha.
Autor: Mathias Bölinger (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer
DW.DE
Museu Judaico chega aos dez anos como uma das principais atrações de Berlim
Mesmo antes de sua inauguração, o Museu Judaico de Berlim já atraía milhares de pessoas com instalações ainda vazias. Desde que foi aberto ao público, em 2001, recebeu mais de sete milhões de visitantes. (25.10.2011)Exposição volta o olhar para o exílio dos judeus alemães
Mostra multimídia "Terra natal e exílio: emigração dos judeus alemães após 1933" reconstrói a história dos judeus que escaparam da Alemanha em direção a cem países diferentes. (31.05.2007)
Li-Sol-30
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