PRIMEIRA PARTE

O termo Mundos Internos é uma expressão frequente na Sabedoria Iniciática das Idades. Utiliza-se, contudo, na maioria das escolas tradicionalistas que facultam uma preparação básica, para designar certos graus de interiorização da consciência alcançáveis especialmente através de práticas de meditação ou outras afins que levem ao mesmo resultado. No entanto, em algumas dessas mesmas escolas, nos seus graus mais avançados, o discípulo é instruído de modo a identificar e conotar a expressão de forma diversa. Conhecem-se indícios e afirmações que o demonstram sem que, todavia, se lhes dê dimensão e divulgação suficientes que permitam o seu inter-relacionamento e levem, só por si, à pesquisa e aprofundamento deste tema pelos que não se encontrem nos graus estipulados para o estudo dessas realidades.

Antanho e hoje, os discípulos integrados nos graus mais avançados de alguma das Confrarias Iniciáticas a que se afiliavam, à medida que se interiorizavam nos seus Mundos Internos da Alma, através de práticas espirituais estipuladas para o efeito, iam estabelecendo, por analogia simbiótica, um contacto mais íntimo e directo com as realidades interiores da Mãe-Terra, isto por o Sol Espiritual Interior (Atmã) do discípulo ser parcela individualizada (Jiva) do Grande Sol Espiritual que palpita no Centro do Globo, qual seja o Criador Único ante a criatura diversa.

Mas os “Mistérios da Terra Oca” eram uma inviolável da Sabedoria Iniciática das Idades, intransmissível a todos menos ao que a “lesse”, isto é, penetrasse a sua realidade pela Iniciação e consequente Iluminação, dando a morte antecipada a quem tivesse a ousadia de os divulgar prematura e publicamente, logo os profanando, não tendo nenhuma autoridade autorizada para tanto. Esta regra mantêm-se hoje mesmo, e por muito e impensável que aqui venha a escrever para o público geral, não tendo eu morrido, então é mais que prova cabal de estar autorizado a tanto!…

Autoridade concedida aos seus mais próximos pela maior eminência do assunto, ou seja, o Professor Henrique José de Souza, o principal promotor das verdades da “Terra Oca” e da realidade da mesma a quem a queira integrar ingressando o Caminho da Verdadeira Iniciação, o qual é, no fim de conta, o da transformação da Vida-Energia em Vida-Consciência.

Todavia e apesar do silêncio cerrado envolvendo o assunto, o que é absolutamente compreensível atendendo a quanto está em jogo, um estudo atento da história das religiões e dos cultos através dos tempos, dá a perceber que sempre houve uma interrelação estreita entre a Humanidade aparente e uma outra ausente, melhor dita, oculta, escondida. É assim que se fala em homens misteriosos vivendo em não menos misteriosos castelos ou mansões plenas de enigmas (quase sempre de localização imprecisa), ou então em torres labirínticas em lugar incerto ou em grutas profundas de difícil ou impossível acesso, etc., etc., variando as narrativas de tradição para tradição local, mas todas de acordo quanto a situar esses Retiros Privados no interior de concavidades sitas num Norte mais magnético que geográfico!…

É assim que os textos sagrados hindus, o Mahabharata e o Ramayana, por exemplo, falam da “Guerra nos Céus” entre “os Filhos da Lua e os do Sol”, os Chendra-Barishads e os Surya-Agnisvattas, adiantando a tradição literária conservada nessa Biblioteca verdadeiramente planetária que é o chamado Mundo de Duat, como Alma da Terra, que isso tem sobretudo a ver com o estado andrógino do Homem Perfeito mas que era comum ao estado primordial da Humanidade, e que agora o comum homem imperfeito guerreia ou demanda no ciclo infindável da “Roda das Reencarnações”, ora como mulher (Lua), ora como homem (Sol), na meta fixa, primeiro inconsciente e depois consciente, de unir em perfeito equilíbrio as duas polaridades.

Ainda abordando as escrituras hindus, estas também referem a aparição de misteriosos engenhos voadores em diversas ocasiões, especialmente aquando das grandes bodas (místicas, sobretudo) dos maiores Reis e Condutores da Índia, a primitiva Ariavartha. Pode ler-se no Ramayana e no Drona Parva:

«As máquinas voadoras vimanas tinham a forma de uma esfera e navegavam no espaço devido ao mercúrio, que provocava um grande vento propulsor. Desta forma, os homens alojados nos vimanas podiam percorrer enormes distâncias num tempo maravilhosamente limitado. Os vimanas eram conduzidos segundo a vontade do piloto, voando de cima para baixo, para a frente e para trás, segundo a disposição do motor e a sua inclinação.»

Convém não esquecer que os textos védicos datam de 3.000 a 10.000 anos e que, como todos sabem, a aviação só começou a tomar forma definida ao início do século XX…

Mas em muitas outras obras ancestrais se depara com um sem-número de referências àquilo que os hindus apelidam de vimanas, os chineses poeticamente de dragões de fogo, e os mongóis de vaidorges. O Popul-Voh dos queshuas e as obras tibetanas Tantjua e Kantjua, não esquecendo a própria Bíblia, também se referem ao assunto, que deve ser encarado não da maneira fenoménica usual no “espiritualismo sensacionalista” mas com as bases que a Ciência Iniciática propicia, pois, em contrário, “é pisar um ninho de vespas”…
 
 
Aparição de vimana em antigo mural relevado de pagode hindu

O Tibete também possui o seu historial acerca dos Mundos Subterrâneos, dizendo-se que é aí, em vales maravilhosos acessíveis unicamente por passagens subterrâneas, que vive boa parte dos Mestres Ocultos da Humanidade, e ser daí que promanam as suas directrizes para a governação do Mundo. A extraordinária Helena Petrovna Fadeev Von Blavatsky fala disso, apesar dum tanto nebulosamente, nos seus fascinantes livros Pelas Grutas e Selvas do Hindustão e O País das Montanhas Azuis, e mesmo ao longo dos volumes de Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta são vastas as referências aos Mahatmas e Lamas Perfeitos da Índia e do Tibete, como também às guptas lokas, isto é, “criptas secretas” que levam ao País de Shamballah, esta cuja existência é a base doutrinal do Kala-Chakra Tantra, obra antiquíssima do Budismo Tibetano.
 
Desenho de H. P. Blavatsky mostrando um templo subterrâneo

Posteriormente Charles Webster Leadbeater, o famoso teósofo, também referiu o interior da Terra e ao seu Centro como Laboratório do Espírito Santo, e igualmente as Bibliotecas ocultas no interior de vastas cavernas, nos seus livros Os Chakras e Os Mestres e o Caminho.

O grande viajante e ocultista russo, Ferdinand Ossendowsky, do início do século XX, no seu livro Animais, Homens e Deuses fornece um importante relato da ligação dos dignitários superiores do Clero Lamaísta com o Rei do Mundo e o Reino de Agharta, vindo confirmar o que dissera antes, no século XIX, o Marquês Saint-Yves d’Alveydre na sua Missão da Índia na Europa, sobre o “Colégio de Agharta” e os “Templários de Agharta”.

Precioso testemunho igualmente o dá esse outro explorador russo do começo do século XX, Nicholas Roerich, no seu valoroso tomo Shamballah, a Resplandecente.
 
 
N. Rerich no Tibete com a Bandeira ou Tanka de Shamballah

René Guénon, baseado nos testemunhos de Saint-Yves e de Ossendowsky, escreveu a meio do século passado uma obra tanto interessante como importante levando de título O Rei do Mundo, mas temendo dar forma viva ao símbolo estático em repúdio aberto à Teosofia, esquecendo ou ignorando que os autores em que se baseou eram… teósofos, um ligado a Loja inglesa e outro a Loja russa. Seja como for é obra que merece ser consultada, tanto que o próprio Professor Henrique José de Souza a traduziu da língua francesa com comentários seus.

Também a meio da centúria transacta aparece um Mestre Tibetano, Djwal Khul Mavalankar, ditando informações a uma sua condiscípula, Alice Ann Bailey, fundadora da Escola Arcana, com bases claramente teosóficas de cuja Sociedade ela saíra, falando ele dum modo discreto mas claro de comunidades subterrâneas, principalmente nas obras, assinadas pela autora, Iniciação, Humana e Solar, Tratado sobre Magia Branca e Tratado sobre o Fogo Cósmico.

Já referi os testemunhos de H. P. Blavatsky, de Ossendowsky, de Saint-Yves d´Alveydre (iniciado em 1885 por um “misterioso emissário” que dizia ser príncipe afegão e chamar-se Hadji Scharipf), de Roerich, de Leadbeater, de Guénon e de D. K. – A. Bailey. Poderei ainda apontar as referências aos Mundos Subterrâneos pelo Mestre Koot Hoomi Lal Sing na obra Cartas dos Mahatmas, Carta IV, e pelo ocultista Papus no seu Tratado Elementar de Ocultismo. Já o grande Ateneísta ibérico Mário Roso de Luna, com a sua eloquente intuição e clarividência, desvela páginas maravilhosas do Mundo Jina em seu Libro que Mata a la Muerte o El Libro de los Jinas, este que era o seu livro de cabeceira onde “encontrava sempre coisas novas”, como confessava ao seu Mestre Henrique José de SouzaEl Cabrero (o Caprino ou Kumara), como o apelidava respeitosa e reconhecidamente, tanto mais que sabia ser o seu 7.º Filho Espiritual e Membro N.º 7 da Sociedade Teosófica Brasileira.

Também o rosacruciano Raymond Bernard fala dos seus encontros com os Mestres Soberanos do Mundo em lugares secretos ou criptas ferratas da Europa, inclusive em Lisboa e arredores, nos seus livros Encontros Insólitos e As Mansões Secretas da Rosacruz. Igualmente o esoterista Omraam Mikhael Aivanhov falou em diversas palestras suas do Reino de Agharta, segundo indicou a sua discípula Agnés Lejbowicz. E Peter Deunov, fundador da organização espiritualista “Fraternidade Branca Universal”, na Bulgária, também se referiu a esse Mundo Interdito em vários livros seus: O Mestre Fala e A Palavra da Augusta Fraternidade Universal, onde alude à Irmandade Secreta dos Senhores do Sol.

Nos círculos adiantados da Maçonaria Especulativa, oficialmente fundada em 1717, há um Grau que merece particular atenção por ter a ver com este tema: trata-se do 30.º Grau do “Ilustre Chefe Grande Comendador da Águia Branca e Negra, Grande Eleito Kadosh”. Este Grau relaciona-se com a “Pedra Cúbica” Kah´Bah disposta ao Norte da Loja dos Soberanos Kadosh, o que indica o trabalho directo com as Forças Primordiais ou Polares da Terra, e por Pólo se subentende a Agharta Primordial, na linguagem cifrada dos hermetistas ocidentais. Mais ainda: este Grau é auspiciado por Júpiter e por Saturno, o que dá a conjunção planetária Asga-Laxa, donde os Kadosh ou Sabaoth herdam o nome e a “Escada d´Ouro” a Oeste da Loja, necessária para descer (hoje tão-só de maneira figurada e, vale dizer, não raro desfigurada) ao mundo ctónico de Saturno e realizar o Shabattai ou Sabat, a “Festa da Luz” promanada do mesmo Júpiter a Saturno, seu aspecto inferior ou interior.
 
 
Com efeito, a águia bicéfala, simbólica deste Grau, era atribuída pela Antiguidade clássica a Júpiter pelos romanos e a Vishnu pelos hindus. A “Escada d´Ouro” do Kadosh (do hebreu, “consagrado”) está adiante de Tsedek (em hebreu, “Justo” e “Júpiter”), sendo, pois, o lugar ocidental por onde se desce, e sendo a descida ao mesmo tempo uma subida, sim, desce o corpo de consciência subida, elevada, e para tanto serve a “Escada d’ Ouro”, metal do Sol, designativa da verdadeira Iluminação. Por isto, os Kadosh são os Príncipes Sabaoth ou os Principais expressivos da Divindade no Seio mesma da Mãe-Terra. Muito mais poderia ainda dizer, mas creio que o que aí está já basta, principalmente para quem, hoje em dia, se apregoando muito maçom, em boa verdade de Maçonaria raramente sabe coisa alguma…

Júpiter tem ainda a ver com Portugal e essa misteriosa Plêiade Jina no Passado agregando-se em São Lourenço dos Ansiães, Trás-os-Montes, como Milícia Secreta ou de Sigilo sob o nome Ordem de Mariz, os mesmos “Barões Assinalados” por Camões em Os Lusíadas.

Já na tradição alquímica medieval o seu maior mistério é aquele ocultado na fórmula VITRIOL (cuja sete iniciais são as da frase latina Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem – “Visita o Interior da Terra, rectificando descobrirás a Pedra oculta”), adoptada como sigla para santo-e-senha pela Maçonaria do século XVIII.
 
 
Paracelso 
denominava o Vitriol de “Panaceia Universal” 
e Basílio Valentim associava-o ao terceiro princípio, 
o “Sal Rectificado” ou passado pelo lume brando do
 athanor ou forno filosófico. 

É a Matéria Purificada pelo Fogo do Sol Central da Terra, esse mesmo “Laboratório do Espírito Santo” da Tradição Iniciática das Idades. Aliás, Henrich Kunrath, no seu Amphitheatrum Sapientiae Aeternae, ilustra em doze figuras que o Vitriol só será realizado quando o candidato transpuser a Mina da Vida (Vitae Mina, donde “Vitamina”), deixando para trás o medo e a dúvida, e chegar finalmente à “Cidadela da Alquimia”, ela mesma soerguida no ventre lapidar da Mater-Rhea ou Mãe-Terra como Matéria, como corporificação do Terceiro Logos ou Espírito Santo.

Consequentemente, ao contrário do que hoje muitos julgam, a “descida maçónica” ao “Interior da Terra” não é somente o confronto psicológico com o subconsciente, pois tal é uma condição puramente profana e até exterior, o que desdiz tanto a Tradição Iniciática quanto o sentido original que lhe conferiram os próprios progenitores da Maçonaria Especulativa, sob a direcção invisível dos seus Superiores Incógnitos.

Esse Vitriol alquímico identificado ao Azoto ou “Mercúrio” dos Filósofos, é a Luz Astral dos Magos, o Fluído Etérico dos Ocultistas, a Luz Akáshica dos Orientais, o Vril referido pelo Rosacruciano Bulwer Lytton no seu livro consagrado aos Mundos Subterrâneos, A Raça Futura, como o mesmo Mash-Mask dos Atlantes. É esta Energia Vital a “Alavanca de Arquimedes” que faz mover o Universo e… os vimanas dos Mundos Interiores. É esta Energia, direccionada pelo Pensamento (Vril+Manas…), quem abre o Portal do Mundo Jina ao selecto Peregrino da Vida. Sem ela, sem a sua justa conquista e controle interno-externo, afirmo que é infrutiferamente tempo perdido e mais que isso, perigosamente gasto!

Enfim, são muitos os testemunhos da realidade dos Mundos Subterrâneos que a Tradição Iniciática das Idades reconhece e logo dá avalo (por haver meios para o fazer…), mesmo que a Ciência oficial, ou seja, a Academia intelectualmente preconceituosa, teime na pretensão de conhecer melhor a crosta lunar, cadáver psíquico da Terra, que o Globo em que todos vivemos, indo limitar-se a teorizar, por vezes usando de experimentalismo sobre experimentalismo logo à partida viciado por teorias preconcebidas, geralmente redundando em erros sobre desenganos, assim cometendo as maiores “barbaridades” que vulgariza por meio dos manuais de carteira, e para as quais não faltam exemplos, como o de não saber destrinçar correctamente a ambiguidade da duplicidade magnética/geográfica das calotas polares, situando com exactidão a sua posição, como ainda não saber explicar o que têm a ver as auroras boreais com os pólos magnéticos, as embocaduras que se abrem periodicamente nos pólos geográficos por influência da cintura magnética do subsolo e do núcleo central da Terra, coisas que não sabe explicar devidamente… como também não sabe ou não quer saber ou, pior ainda, não deixa saber um número infindável de outros factos capazes de darem um entendimento mais exacto do Mundo em vivemos. 

Mesmo assim, a Ciência Iniciática nunca deixou de apelar à sua ensurdecida e desavinda filha, a Ciência Académica, demonstrando hoje e sempre que, afinal, nos “absurdos” preconceituosos do racionalismo dialéctico está, como sempre esteve, a solução, a luz.
 
 
Foto feita pela NASA mostrando a dilatação da calota polar

Com tudo, ainda assim abundam por todo o Mundo alusões a uma misteriosa Civilização Intraterrena. Se toda a tradição asiática faz referência à Asgardi dos tibetanos, como o mesmo Asgard dos Edas dos povos eslavos, e à Ermedi dos mongóis, se nos Vedas hindus se menciona Hemâdri, a Montanha de Ouro, se as escrituras persas a citam como sendo a Alberdi ou Aryana-Vaejo e os hebreus como a Canaan, igualmente os povos do Novo Continente faziam referências frequentes à Cidade Sagrada, oculta, morada original donde dimanavam ciclicamente os Grandes Iluminados e Renovadores da Humanidade, os Manco-Capacs, os Bochicqs, os Quetzal-Coatls, os Viracochas, os Sumés, os Osíris, os Budas, os Cristos, os Lao-Tseus, os Zoroastros, enfim, os Supremos Instrutores de todas as raças e em todos os tempos. Os aztecas referenciavam-na como a Tulân, os mayas como a Maya-Pan, a cidade que os conquistadores espanhóis, mais tarde, procuraram freneticamente na miragem do ouro, o El-Dorado, que os autóctones chamavam de Manoa, a cidade dos tectos de prata cujo rei usava vestes de ouro.

Ela é o País de Tertres, a pátria de Lug, o Iniciador de face resplandecente dos Celtas e Lusitanos e Herói dos Tuatha de Danand, estes que um dia, tão subitamente como tinha vindo da Ibéria à Hibérnia, a Irlanda ou verde Terra de Erim, abandonaram esta de regresso a Duat, à região misteriosa. É tanto a Cidade dos Doze Ases dos Edas escandinavos quanto a Ilha de São Brandão dos argonautas lusitanos, como a Shamballah transhimalaia ou a mesma Walhallah germânica, em quem Richard Wagner se inspirou para compor as figuras de Parcifal e Lohengrin, heróis cuja Pátria inacessível era o Mons Salvat, em cujo pico estava o templo guardião do precioso cálice, o Santo Graal, algures nos confins do Ocidente, junto ao mar oceano, portanto, nos confins da Ibéria…

E é assim que em todo o ciclo literário da Bretanha, ou Arturiano, perpassa o sentimento de nostalgia pela Belovedye, a Bela Aurora, Pátria dos Galaazes imortais e aspiração suprema na demanda do Santo Vaso.
«Adeus, Belovedye, parto para a terra onde não cai granizo, onde não chove, onde não existe a doença nem a morte, para o país da eterna juventude.» – diz o Rei Artur, despedindo-se de um dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Na tradição cristã, são inúmeras as referências a Agharta, palavra páli significando “Terra da Suprema Bem-Aventurança”. Quem não se recordará das famosas epístolas de São Paulo, conforme o texto grego: Agharta-al-Ephesim, Agharta-al-Galatim, Agharta-al-Romin, isto é, de Agharta aos Efésios, de Agharta aos Gálatas e de Agharta aos Romanos…

Sempre a misteriosa Mansão dos Eleitos cuja memória ou inconsciente colectivo da Raça retém como exigência primordial e necessária, postulada à sobrevivência do seu próprio ser. Daí a permanência do Mito em toda a Europa face ao lendário Reino do Pai ou Preste João, já que frequentemente considerado na sua dupla função de Rei e Sacerdote, como símbolo e realidade, mas jamais surpreendido em seu enigma profundo, fugidio, pois está localizado no seio mesmo do Terra, no Sanctum-Sanctorum da mesma, como Aquele a quem Abraão tributou o seu dízimo e rendeu culto celebrado com vinho e pão – Melki-Tsedek, o Ancião dos Dias, sem genealogia terrena.
 
Pintura grega antiga mostrando uma cidade subterrânea

Mas foi sem dúvida a insigne figura magistral do Professor Henrique José de Souza quem mais e melhor aprofundou e desvelou o tema dos Mundos Subterrâneos, em seu livro A Verdadeira Iniciação, em inúmeros artigos publicados na revista Dhâranâ – órgão oficial da Sociedade Teosófica Brasileira – e, sobretudo, no material reservado que compendiou em forma de Livros de Revelações para os membros mais adiantados do seu Colégio e os da Ordem do Santo Graal, que ele (re)fundou no dia 28 de Dezembro de 1951 como o Grande-Ocidente Ibero-Ameríndio.

Segundo a tese de Henrique José de Souza, de resto confirmada pela antiquíssima tradição inserta, por exemplo, no Vishnu-Purana, através do diálogo metafórico entre Parasava e Maitri, o Globo terrestre divide-se em três zonas diferenciadas e dispostas concentricamente, ainda que se deva compreender esta distinção mais quanto ao nível relativo à evolução da consciência do que ao aspecto geológico propriamente dito.

Verifica-se uma dada correlação entre os diversos estratos nos quais se situam os vários universos hominais e os seus níveis de evolução respectivos. Há como que uma convergência que vai do mais externo para o mais interno. Quanto mais o mundo está interiorizado, mais elevado se apresenta o seu padrão evolucional, mais privilegiado o nível das suas instituições culturais, sociais, científicas e tecnológicas. Por isso, a Humanidade evoluindo à face da Terra constitui o núcleo menos civilizado.

Um pouco por todo o planeta, entre o mundo exterior e o mundo interior, indo até 60-90 km de profundidade, situa-se o Mundo de Badagas: é uma zona intermediária que tem o nome de um povo Sedote o qual, como os Todes, Xavantes, Jívaros e outras tribos, guarda as Embocaduras para os Mundos Interiores.
Badagas é um Mundo já muito superior ao da superfície caracterizando-se, contudo, pela tónica do desenvolvimento tecnológico, o que mais surpreende o visitante vindo de cima.

De Badagas, onde estão instalados os Retiros Privados dos Adeptos Perfeitos da Humanidade e as verdadeiras Moradas físicas das 7+1 Ordens Iniciáticas secretamente dirigindo o Mundo, dentre elas a de Mariz, no todo perfazendo a Grande Fraternidade Branca reunida na Capital deste mesmo Mundo Subterrâneo, Meka-Tulan, dizia, de Badagas tem-se acesso ao Mundo de Duat onde se encontram Seres ainda mais espiritualizados, parte dos quais possui fisiologia semelhante à do homem da superfície. E se o visitante da superfície tiver o privilégio de deslocar-se a Duat, primeiro terá de passar um período de treino e preparação de cerca de três meses em Badagas, para que o seu veículo de consciência não sofra perturbações irremediáveis.

Faço agora um pequeno interregno para demonstrar o mais que óbvio: a descida ao Mundo dos Deuses não é coisa fácil nem acessível a qualquer um por muito douto e instruído em espiritualidade que acaso seja, e muitíssimo menos é comparável às facilidades de viajar de metropolitano, seja física, seja emocional, seja mentalmente! Não. Tal implica Iniciação Real e, em boa verdade, só um Chrestus, um Arhat se poderá vangloriar de tal… Quanto ao resto, tampouco comento, e só voto que os meus eternos plagiadores não venham a induzir outros menos avisados em maus e perigosos caminhos a que fantasia desregrada, ausente de conhecimento verdadeiro, leva. Posto isto, resta-me prosseguir a descrição geral e genérica do Mundo Jina, por motivo exclusivamente didáctico e reservando-me de enunciar outros pormenores de teor mais reservado.

Em Duat existem imensas Bibliotecas e Museus impressionantes, contendo todo o tesouro literário e artístico dos ciclos anteriores. Essas Bibliotecas subterrâneas são acessíveis apenas a certos Iniciados, e somente Senhor do Mundo e os seus principais Acessores (Rigden-Djyepo e Polidorus Isurenus – Mama Sahib) detêm a chave total do catálogo dessa Biblioteca verdadeiramente Planetária. É aqui que se encontram os Devas-Lipikas, os Senhores do Karma Planetário, que como Excelsos Escribas (Lipika quer dizer isto mesmo em sânscrito, “Escriba”) registam todos os actos, pensamentos e palavras no Livro das Vidas, o Kamapa, conforme os ensinamentos do Venerável Mestre JHS. Os registos daqueles que se encontram na Corrente Iniciática são conservados no Livro das Consciências, o Manapa, em posse dos Divinos Maharajas, os Senhores do Karma Universal.

O Mundo de Duat é constituído por sete enormes anfractuosidades subterrâneas que se ligam a uma oitava central por enormes galerias. Nessa última encontra-se a sua Capital e Templo Supremo de nome Caijah, frequentado por Cavaleiros trajando de dourado e Damas de azul. Caijah, ligado directamente em linha vertical ao Templo de Maitreya, em S. Lourenço, representa em Duat o Oitavo Princípio ou Atmã Universal.

Mais interiorizado ainda está o Mundo de Agharta com as suas sete Cidades chamadas Dwipas, governadas pelos Santíssimos Sete Reis de Edom ou do Éden, que é ela mesma. Como se fora um Oitavo Chakra, a sua Oitava Cidade e Capital é Shamballah, governada pelo Rei e Senhor do Mundo, o Soberano, o Eterno Jovem das 16 Primaveras – Sanat Kumara, apoiado lateralmente por seus dois Ministros da Pax e da Lex. Esse é o Mundo do Silêncio Móvel, onde só aquele que por direito próprio tem assento no Conselho do Rei, pode morar. 

Daí o dizer-se que é a Morada dos Deuses,
 o Reino dos Imortais.
Três dos Dwipas de Agharta relacionam-se com a evolução passada do Homem, outros três com a sua evolução futura, e um quarto com o seu actual desenvolvimento, e é por isto que Agharta é o “Celeiro das Civilizações e das Mónadas, ou Civilizações Monádicas”, no dizer de JHS. 

De maneira que no momento em que o Iluminado da superfície se une aos seus Princípios Superiores, de imediato se liga aos Princípios Superiores do Logos Planetário e se transporta ao Mundo de Agharta, na qual esses mesmos Princípios Divinos estavam como “Sementes em sono paranispânico, paranirvânico ou monádico” no seio mesmo do Divino Logos, e daí os ir “resgatar” para manifestá-los à superfície como Iluminado Perfeito, para sempre e ininterruptamente mantendo a sua Consciência Imortal ligada à mesma Agharta

Este é o estado puro de Jina, de Génio divino. 
Donde o paradoxo aparente da descida ser
 simultaneamente uma subida… consciencial.
Nos subúrbios de Agharta existem cinco milhões de Dwijas e Yoguis, Sábios e Místicos montando guarda ao Reino possuidores dos 8 Poderes Místicos e Mágicos, antes, Teúrgicos da Yoga, com os quais soerguem uma muralha intransponível de forças cósmicas que só os Eleitos no mesmo diapasão vibratório conseguem transpor. Seguem-se os cinco mil Pundits, Panditas ou Pandavan, o Corpo de Instrutores, correspondentes ao número de raízes herméticas da Língua Védica, ou melhor, Devanagari. Depois destes e mais para centro estão os 365 Bagawandas, Cardeais, representando os Génios dos dias do ano. Os 12 Membros do Círculo Supremo, os Goros, relacionam-se, entre outras coisas, com as 12 Hierarquias Universais representadas pelos signos do Zodíaco. 

Muito mais haveria para dizer
, mas creio já ter dito o suficiente…(Jesus, idem)
 tanto mais que o Mistério ao Silêncio obriga. 
Só por Iniciação a Revelação completa é conferida.
Todavia, o conhecimento e divulgação dos Mundos Subterrâneos é indispensável, pois, no contexto da crise mundial hoje em dia varrendo todos os continentes, os Seres interiorizados têm um papel fundamental a desempenhar, os Discípulos de Aquarius têm de os expressar, trabalhando em grupo harmonicamente coeso, a fim de que se cumpra o Desígnio Divino na face da Terra. Como tal, é de suma importância que sejam lançadas sementes de forma a criar novas ideias, capacitando-nos para acções e modos de encarar os problemas de forma diversa da usual, profana, comprovadamente falível e falida em todos os sectores da vida humana, a começar pelo educacional.

Tanto mais que a Nova Vinda do Cristo, o Avatara de Aquarius, MAITREYA, está intrinsecamente ligada a este tão sublime quão sibilino tema onde, à face da Terra, Portugal e Brasil jogam papel preponderante na realização da Sinarquia Universal, que é dizer, a Concórdia Universal da Humanidade.

Só unida a Humanidade vencerá 
nesta derradeira Batalha de Tomada do Facho da Luz, 
do Tosão de Ouro, enfim, do Santo Graal.

Spes messis in semine
  (a esperança da colheita reside na semente).
Lance-se, pois, as sementes em solo bem adubado,
 a fim de que floresça plena a Nova Era 
e o Reino do Pai se dissemine por todo o Orbe.

ADVENIAT REGNUM TUUM

AT NIAT NIATAT


SEGUNDA PARTE

Passo a transcrever o capítulo “O Mistério dos Mistérios – O Rei do Mundo” do livro Animais, Homens e Deuses, de Ferdinand Ossendowsky, narrativa da vivência do autor, em fuga ao bolchevismo soviético em 1920-1922, na Mongólia e no Tibete junto das mais altas dignidades do seu clero, estando o texto devidamente anotado e comentado no final por mim. Repare-se que o que o Rei do Mundo profetizou há mais de 100 anos está se cumprindo integralmente nos dias d´hoje. Isso traz-me à memória uma outra Profecia do Rei do Mundo, feita em 1962, referente a Portugal e Espanha, que diz em termos bem fatais: «PORTUGAL e ESPANHA, por si sós, já de há muito foram condenados, por sua responsabilidade como Países da origem da Nova Civilização, principalmente, para nós, PORTUGAL. A ameaça para este pode chegar até a uma convulsão cósmica, por meio de um TERRAMOTO em Lisboa, como já o teve há muito anos»…

Essa Profecia fatídica do Rei do Mundo (Melki-Tsedek) respeitante a Portugal, cumpriu-se como sismo geológico e político. Com efeito, em 1968 chuvas torrenciais inundaram o País causando milhares de mortos, feridos e desalojados, o que a propaganda política, censora, centrípeta ou tamásica de Salazar noticiou como caso de “somenos importância”, mas que foi consequência kármica da proibição pelo ditador da divulgação e expansão da Obra de JHS em Portugal, perseguindo os seus membros, chegando a prender vários deles, de maneira que esse caudal fatal foi o eco inverso, catastrófico ou destrutivo do construtivo da Montanha Aquosa (APAVANA-DEVA – Fohat = Akasha – Apas) de Itaparica, em 1899. 

Logo no ano seguinte, 1969, um fortíssimo tremor de terra, quase redundando em terramoto, abalou o País de Norte a Sul, causando inúmeros estragos e vítimas, e que foi o eco inverso, catastrófico ou destrutivo do construtivo da Montanha Rochosa (MITRA-DEVA – Kundalini = Tejas – Pritivi) de São Lourenço, em 1921. A queda do regime político repressivo salazarista, a consequente abertura do País ao Mundo e a divulgação e expansão livre da nossa Obra em Portugal, a partir de 25 de Abril de 1974, o que tudo redunda em acção sátvica ou centrífuga (VAYU em acção, como PRANA expansivo, numa fusão harmónica ou equilibrada de Fohat – Kundalini) permanentemente alimentada por toda a nossa acção Cultural-Espiritualista no País, veio a afectar positivamente no ano imediato de 1975 a vizinha Espanha do regime ditatorial de Franco, que viu a sua queda e extinção, vindo assim permitir que a Profecia do Rei do Mundo ainda não se realizasse em proporções maiores, dantescas. 

E, causalidade das causalidades, esta mesma página escrita às 5 horas da madrugada de 29 de Dezembro de 2005, agora mesmo a terra acaba de tremer em Portugal, ainda que por escassos segundos mas de maneira bastante sensível. Mais uma prova incontestável de que não há fantasia ou quimera nas palavras proféticas do Rei do Mundo. O Munindra que medite…

O REINO SUBTERRÂNEO

– Parem! – murmurou o meu guia mongol num dia que estávamos atravessando a planície perto de Tangan Luk. – Parem!
Deixou-se cair do lombo do camelo; este logo se deitou sem que fosse necessário dar-lhe ordem.
O mongol levantou as mãos à altura do rosto em sinal de oração e começou a repetir a frase sagrada:
– Om Mani Padme Hum (1).

Outros mongóis também desceram de seus camelos e começaram a rezar.
“Que será que aconteceu?” – perguntava a mim mesmo enquanto observava em minha volta o verde brilhante do capim que se estendia até ao horizonte, onde um céu sem nuvens recebia os últimos raios do sol.
Os mongóis rezaram durante algum tempo, conversaram entre si, e depois de apertar os arreios dos seus camelos, prosseguiram a viagem.

– Você notou como os camelos remexiam as orelhas de medo – perguntou-me o mongol – e como a manada de cavalos na planície ficou imóvel? Você viu que até os carneiros e outro gado se deitaram no chão? Você notou que as aves pararam de voar, as marmotas pararam de correr e os cães emudeceram? O ar vibrava suavemente e trazia, de longe, as notas de uma canção que penetravam no coração dos homens, dos animais e das aves. O céu e a terra não se movem, o vento não sopra e o sol pára a sua trajectória; num momento como esse, o lobo, que se está aproximando sorrateiramente dos carneiros, não continua no seu propósito de rapina, o rebanho de antílopes apavorados pára a sua fuga precipitada; a faca cai da mão do pastor que está para sacrificar a ovelha, e o voraz arminho deixa de perseguir a confiante perdiz salga. Todos os seres vivos ficam assustados e rezam, esperando que se cumpra o seu destino. Foi o que aconteceu agora. É o que acontece toda a vez que o Rei do Mundo, em seu palácio subterrâneo, reza procurando saber o destino dos povos da Terra.

Assim falou o velho mongol, que era um simples pastor sem cultura.
A Mongólia, com as suas montanhas terríveis e nuas, as suas planícies imensas cobertas pelas ossadas esparsas dos seus antepassados, é o berço de um mistério. O seu povo, apavorado pelas tempestuosas manifestações da Natureza ou acalentado pela sua quietude de morte, sente a profundeza desse mistério. Os Lamas amarelos o conservam e o celebram poeticamente, os Pontífices de Lhassa e de Urga conhecem a sua explicação.

Durante a minha viagem pela Ásia Central tomei conhecimento disso, pela primeira vez, o que não posso chamar de outra forma: o Mistério dos Mistérios. No início não prestei realmente muita atenção, porém percebi em seguida o quanto era importante quando comparei e analisei alguns testemunhos esporádicos, que algumas vezes estavam sujeitos a controvérsias.

Os anciãos das margens do Amyl contaram-me uma lenda antiga a respeito de uma tribo mongol que, querendo fugir das exigências de Gengis Khan, foi esconder-se num país subterrâneo. Mais tarde, um soyote dos arredores do lago de Nogan Kul mostrou-me a porta, envolta em neblina, pela qual se vai ao Reino de Agharta. Por essa porta um caçador penetrou outrora no Reino, e quando voltou contou tudo o que viu. Os Lamas cortaram a sua língua para que nunca mais falasse do Mistério dos Mistérios. Quando ficou velho voltou à entrada da caverna e desapareceu no Reino Subterrâneo, cuja memória tinha alegrado imenso o seu coração de nómada.

Recebi informações mais minuciosas pela boca do Hutuktu Lelyp Djamarap de Narabanchi Kure. Ele contou-me a história da chegada do Rei do Mundo quando saiu do seu Reino Subterrâneo, a sua aparição, os seus milagres e as suas profecias. Compreendi então, pela primeira vez, que detrás dessa lenda, dessa hipnose, dessa visão colectiva, da forma como ela seja interpretada, ocultava-se não somente um mistério, mas uma força real e soberana que tinha a capacidade de influenciar a vida política da Ásia. Foi a partir desse instante que comecei a fazer as minhas pesquisas.
 
 
Pintura tibetana mostrando o Rei do Mundo em Shamballah

O Lama Gelung, favorito do príncipe Chultun-Beyli, e o próprio príncipe descreveram-me o Reino Subterrâneo.

– Neste mundo – disse-me Gelung – tudo está em perene estado de transição e mudança: os povos, as religiões, as leis e os costumes. Quantos impérios, quantas brilhantes civilizações já desapareceram! Só não desaparece o Mal, instrumento dos maus espíritos. Já faz mais de seis mil anos que um santo homem desapareceu com toda uma tribo no interior da Terra e nunca mais reapareceram na superfície. Depois disso, porém, muitas pessoas já visitaram esse Reino. Sakia Muni, Undur Gheghen, Paspa, Baber e muitos outros estiveram lá. Ninguém sabe onde realmente ele se encontra. Alguns dizem que é no Afeganistão, e outros que na Índia. Todos os homens daquela região estão protegidos do Mal, e o crime não existe no interior de suas fronteiras. 

 A Ciência conseguiu desenvolver-se ali com inteira tranquilidade, não havendo ameaça alguma de destruição. O povo subterrâneo alcançou os mais altos graus da Ciência. Agora é já um grande Reino que tem milhões de súbditos governados pelo Rei do Mundo. Ele conhece todas as forças da Natureza, lê em todas as almas humanas e no grande Livro do Destino. Ele reina, invisível, e mais de oitocentos milhões de homens estão prontos a executar as suas ordens.

O príncipe Chultun Beyli continuou a explicação: – Esse Reino chama-se Agharta, e estende-se por todas as passagens subterrâneas do mundo inteiro. Eu ouvi quando um sábio Lama chinês disse ao Bogdo Khan que todas as cavernas da América são habitadas pelo antigo povo que desapareceu debaixo da Terra. Existem ainda vestígios seus na superfície. Esse povo e esse domínio subterrâneo são governados por chefes que reconhecem a soberania do Rei do Mundo. Nisso não há nada de extraordinário. Você sabe que nos dois maiores oceanos do Leste e do Oeste haviam noutros tempos dois continentes (2).

 Eles foram engolidos pelas águas, mas os seus habitantes foram levados para o Reino Subterrâneo. Aquelas cavernas profundas são iluminadas por uma luz especial que permite o crescimento dos cereais e dos vegetais e proporciona aos seus habitantes uma vida longa e sem doenças. Estão lá muitos povos, muitas tribos. Um velho Brahmane budista do Nepal estava cumprindo a vontade dos Deuses, viajando para o antigo reino de Gengis Khan, o Sião, quando encontrou um pescador que lhe pediu que entrasse no seu barco e remou para o mar. No terceiro dia chegaram a uma ilha onde viviam homens que tinham duas línguas e podiam falar, separadamente, dois idiomas diferentes. Mostraram-lhe animais curiosos: tartarugas com dezasseis patas e um só olho (3), enormes cobras que tinham a carne muito saborosa, aves que tinham dentes e que apanhavam no mar os peixes que depois levavam aos seus amos. Esses homens disseram-lhe que tinham vindo do Reino Subterrâneo e descreveram algumas das suas regiões.

O Lama Turgut que me acompanhou durante a viagem de Urga a Pequim, deu-me mais informações.
– A capital de Agharta é contornada de cidades onde moram os grandes Sacerdotes e os Sábios. Ela se parece com Lhassa, onde o palácio do Dalai-Lama, o Potala, se encontra no topo de uma montanha toda coberta de templos e mosteiros. 

O Reino do Rei do Mundo está cercado por dois milhões de deuses encarnados. Eles são os Santos Panditas (4). O próprio palácio está cercado pelos palácios dos Goros (5) que possuem todas as forças visíveis e invisíveis do Inferno, da Terra e do Céu, e que tudo podem fazer pela vida e pela morte dos homens. Se a nossa Humanidade tresloucada quisesse uma guerra contra eles, eles seriam capazes de fazer explodir a superfície do nosso planeta, e reduzi-lo a um deserto. Eles podem ressecar os mares, transformar os continentes em oceanos ou reduzir montanhas a areias do deserto. Eles podem criar as árvores, os canaviais e fazer com que a relva brote; sabem transformar em moços viris homens velhos e fracos, e até conseguem ressuscitar os mortos. 

Sem que saibamos e vejamos, eles transportam-se, em estranhos e velocíssimos veículos, através dos estreitos corredores do interior do nosso planeta. Alguns Brahmanes da Índia e vários Dalai-Lamas do Tibete chegaram a escalar cumes de montanhas jamais pisados por pés humanos, e encontraram inscrições gravadas nas rochas, restos de passos na neve ou as marcas deixadas pelos rodados de viaturas. O Bem-Aventurado Sakya Muni encontrou no topo de uma montanha estelas de pedra com palavras inscritas que não conseguiu decifrar senão quando já tinha uma idade avançada, tendo em seguida penetrado no Reino de Agharta, de onde voltou trazendo algumas migalhas da Ciência Sagrada que a sua memória conseguira reter. Aí, em maravilhosos palácios de cristal moram os Chefes Invisíveis dos fiéis, o Rei do Mundo Brahytma (6), que pode falar com Deus como estou falando consigo, e os seus dois Auxiliares, Mahytma (7), que conhece os lances do futuro, e Mahynga (8), que conhece as causas dos eventos.

Os santos Panditas estudam o mundo e suas forças. Ocasionalmente os mais sábios dentre eles se reúnem, e enviam delegados a um lugar que os olhos humanos jamais viram. Isso foi descrito pelo Tashi-Lama que viveu há oitocentos e cinquenta anos atrás. Os mais altos Panditas, pondo uma mão sobre os olhos e outra sobre a nuca dos sacerdotes mais jovens, adormecem-nos profundamente, lavam os seus corpos com uma infusão de ervas tornando-os imunes à dor, endurecendo-os como pedras, e após tê-los envolvido em faixas mágicas, oram a Deus. Os moços, deitados e petrificados, mas de olhos e ouvidos alerta vêem, ouvem, entendem e observam todo o passado, todo o presente, todo o futuro. Seguidamente um Goro aproxima-se e fita-os longamente. Os seus corpos astrais soltam-se da carne desaparecendo em seguida. Mas o Goro fica sentado, junto dos corpos inertes, de olhar fixo no ponto para onde os enviou. Por fios invisíveis eles ficam subordinados à sua vontade; alguns deles viajam como estrelas, observando acontecimentos e povos desconhecidos, suas vidas e suas leis. Por lá eles ouvem as conversas, lêem os livros, conhecem a sorte e a miséria, a santidade e o pecado, a piedade e o vício. Alguns misturam-se às chamas e conhecem a criatura do fogo, viva e voraz, e encetam labuta incessante fundindo e martelando os metais nas profundezas do planeta, fazendo ferver as águas dos “geysers” e das nascentes térmicas. Fundem as rochas e enviam as massas em fusão à superfície da Terra pelas bocas dos vulcões. Outros, ainda, juntam-se às criaturas do ar, infinitamente pequenas, evanescentes e transparentes, e estudam o mistério e a razão de sua existência. Outros mais deslizam até aos abismos do mar observando e estudando o reino das sábias criaturas das águas, as quais transportam e disseminam o alento vital por toda a Terra, fazendo mover os ventos, as ondas e as tempestades (9). Noutros tempos, viveu no mosteiro de Erdeni Dzu o Pandita Hutuktu que veio de Agharta. Quando estava para morrer, falou do tempo em que, pela vontade de um Goro, ele viveu numa estrela vermelha a Leste, onde flutuou sobre um oceano coberto de gelo e voou entre os fogos acesos no interior da Terra (10).

Ouvi essas histórias nas “yurtas” dos príncipes e nos mosteiros lamaístas. Pela maneira como elas me foram contadas, não tive a possibilidade de deixar transparecer a menor dúvida.
Mistérios…


O REI DO MUNDO PERANTE DEUS

Durante a minha estadia em Urga esforcei-me por encontrar uma explicação para a lenda do Rei do Mundo. Por muitas razões a pessoa mais indicada para me dar qualquer informação nesse sentido era o Buda Encarnado, e procurei interrogá-lo sobre o assunto. Durante uma conversa, citei o nome do Rei do Mundo. O velho Pontífice virou bruscamente a cabeça para o meu lado e fixou-me com os seus olhos sem vida. Mantive-me calado contra a minha própria vontade. O silêncio foi-se prolongando e o Pontífice voltou a falar de uma tal maneira que percebi não desejar abordar o assunto. Pude ver nos rostos das outras pessoas presentes, especialmente no bibliotecário do Bogdo Khan, uma expressão de admiração e medo. É, portanto, bem compreensível como esse incidente só contribuiu para aumentar a minha impaciência e a vontade de obter maiores informações.

Quando estava saindo do gabinete de trabalho do Bogdo Khan encontrei o bibliotecário que saíra antes de mim, e perguntei-lhe se me daria autorização de visitar a biblioteca do Buda Encarnado. Utilizei uma táctica muito simples.

– Sabe, caro Lama – disse-lhe – um dia estava eu numa planície, na hora em que o Rei do Mundo falava com Deus, e fiquei impressionado com a majestosa solenidade daquele momento.

Foi enorme a minha surpresa quando o velho Lama me respondeu calmamente:
– Não acho certo que o Budismo e o Lamaísmo o ocultem. O reconhecimento do mais Santo e Poderoso dos Homens, do Bem-Aventurado Reino, do Grande Templo da Santa Ciência, é de tamanho conforto para os nossos corações de pecadores e para as nossas vidas corruptas, que escondê-lo é uma lástima.

Ouça – continuou ele – durante o ano inteiro o Rei do Mundo dirige as tarefas dos Panditas e dos Goros de Agharta. Só em momentos determinados Ele penetra na cripta do Templo onde repousa o corpo embalsamado de seu predecessor, num ataúde de pedra negra. A cripta está sempre sombria, mas quando o Rei do Mundo penetra nela as suas paredes ficam rajadas de fogo, e da tampa do ataúde irrompem longas chamas. O decano dos Goros fica erecto à sua frente, com a cabeça e o rosto cobertos e as mãos cruzadas sobre o peito. O Goro também nunca retira o capuz ensombrando a sua face, por sua cabeça ser uma caveira nua com olhos purpúreos e uma língua que fala, comunicando-se com as almas daqueles que já se foram (11).

O Rei do Mundo fala longamente e em seguida aproxima-se do ataúde e estende a destra. As chamas resplandecem então com maior vivacidade; as rajadas de fogo nas paredes aumentam e crepitam, entrelaçando-se e formando as letras misteriosas do alfabeto “Vatanã” (12). Do ataúde irrompem espirais transparentes de luz quase invisíveis: são os pensamentos de seu predecessor. Logo o Rei do Mundo fica envolto nessa aura luminosa e as letras de fogo escrevem, escrevem sem cessar sobre a pedra críptica o desejo e a vontade de Deus. Nesse momento o Rei do Mundo comunica-se com todos aqueles que dirigem os destinos da Humanidade: os reis, os czares, os khans, os chefes guerreiros, os grandes sacerdotes, os sábios e os homens poderosos. Ele conhece todas as intenções e ideias deles. Se elas agradarem a Deus, Ele favorecerá a sua realização com o seu auxílio invisível; mas se elas desagradarem a Deus, o Rei do Mundo providenciará o seu fracasso.

 É a Ciência misteriosa do Om 
que dá esse poder a Agharta, 
e é com essa palavra que iniciamos as nossas orações. 
Om é o nome de um antigo Santo, do primeiro Goro, o qual viveu há trezentos mil anos. Ele foi o primeiro Homem que conheceu a Deus, o primeiro que ensinou à Humanidade a acreditar, a esperar, a lutar contra o Mal; então Deus deu-lhe o poder de dominar todas as forças do mundo visível (13).

Após conversar com o predecessor, o Rei do Mundo reúne o Grande Conselho de Deus e julga as acções e os pensamentos dos grandes homens, e ora os auxilia ou aniquila. Mahytma e Mahynga encontram o lugar dessas acções e desses pensamentos entre as causas que governam o mundo. Finalmente, o Rei do Mundo entra no Grande Templo e reza na sua solidão. O fogo irrompe sobre o altar e comunica-se aos altares próximos (14), e na chama ardente desenha-se o Rosto de Deus. Respeitosamente o Rei do Mundo anuncia a Deus as decisões do Conselho, e o Todo-Poderoso lhe comunica os Seus Mandamentos.

 Quando sai do Templo
, o Rei do Mundo irradia a Luz Divina (15).

REALIDADE OU FICÇÃO MÍSTICA?

– Alguém já viu o Rei do Mundo? – perguntei.
– Sim – respondeu o Lama –, o Rei do Mundo apareceu por cinco vezes consecutivas durante os períodos dos festejos do Budismo Antigo no Sião e na Índia. Ele vinha instalado num esplêndido carro puxado por elefantes brancos, enfeitados de ouro, pedras preciosas e seda; trajava uma túnica branca e coroava-lhe a cabeça uma tiara púrpura, da qual pendiam franjas de diamantes ocultando-lhe o rosto. Abençoava o povo com uma maçã de ouro encimada por um cordeiro (16).

 Os cegos voltaram a ver, os surdos voltaram a ouvir, os paralíticos voltaram a andar e os mortos ressuscitaram em todos os lugares por onde o Rei do Mundo passou. Faz cento e quarenta anos que Ele apareceu em Erdeni Dzu, tendo depois também visitado os mosteiros de Sakia e Narabanchi Kure.

Um dos nossos Budas Encarnados e o Tashi-Lama receberam Dele uma mensagem escrita em letras desconhecidas sobre estelas de ouro. Ninguém sabia decifrar a escrita. O Tashi-Lama entrou no templo, colocou as estelas sobre a sua cabeça e começou a orar. Por intermédio da oração, os pensamentos do Rei do Mundo penetraram no seu cérebro e ele conseguiu compreender e executar a mensagem do Rei do Mundo, apesar de antes não ter compreendido aquelas letras.

– Quantas pessoas conseguiram chegar a Agharta? – perguntei-lhe.
– Muita gente já lá foi. – disse-me o Lama – Todos, porém, mantiveram segredo sobre as coisas que viram. Quando os Olets destruíram Lhassa, um dos seus destacamentos que estava nas montanhas a sudoeste, chegou até onde começa a Agharta. Eles aprenderam algumas coisas das ciências misteriosas e trouxeram esse conhecimento para a superfície da Terra.

Isso explica porque os Olets e os Calmucos são bons magos e profetas. Algumas tribos escuras do Leste também conseguiram chegar a Agharta e lá viveram alguns séculos. Mais tarde, porém, foram escorraçadas do Reino e voltaram à face da Terra, mas trouxeram consigo a ciência misteriosa de prever o futuro nas cartas, nas ervas e nas linhas das mãos. Estou falando dos ciganos (17). Em determinada região, ao Norte da Ásia, existe uma tribo em vias de extinção e que veio das cavernas de Agharta. Os membros dessa tribo sabem invocar as almas dos mortos que povoam o espaço (18).

O Lama ficou calado durante algum tempo. Mas voltou a falar como se adivinhasse os meus pensamentos.
– Em Agharta, os sábios Panditas escrevem sobre estelas de pedra toda a Ciência do nosso planeta e dos outros mundos. A sua Ciência é a mais elevada e pura. Em cada século cem Sábios da China reúnem-se num lugar secreto, à beira-mar, e cem tartarugas imortais saem das profundezas do oceano. Sobre as suas carapaças, os Sábios escrevem as conclusões a que chegou a Ciência nesse século.

Lembro-me, a esse respeito, de uma história que me foi contada por um Bonzo chinês no Templo do Céu, em Pequim: disse que as tartarugas vivem mais de três mil anos, sem ar e sem alimento, e que por essa razão todas as colunas azuis do Templo estavam apoiadas em tartarugas vivas, e dessa forma a madeira jamais apodrecia (19).

– Muitas vezes os pontífices de Lhassa e de Urga enviaram mensageiros ao Rei do Mundo – disse o Lama bibliotecário – mas nunca O conseguiram encontrar. Um dia um chefe tibetano, depois de combater contra os Olets, encontrou a caverna que leva a inscrição: “Esta porta conduz a Agharta”. Um homem de bela aparência saiu da embocadura e ofereceu-lhe uma estela de ouro com uma escrita misteriosa, dizendo: “O Rei do Mundo aparecerá a todos os homens quando chegar o tempo de conduzir os homens bons na guerra contra os homens maus. O tempo, porém, ainda não chegou. 

Os piores da Humanidade ainda não nasceram”.

O “chiang-chun” Barão Ungern enviou o jovem príncipe ao Rei do Mundo com uma mensagem, mas ele regressou com uma carta do Dalai-Lama. O Barão voltou a enviá-lo, e o jovem príncipe não mais voltou.

A PROFECIA DO REI DO MUNDO – EM 1890

Quando visitei o mosteiro de Narabanchi, no começo de 1921, o Hutuktu contou-me o seguinte:
– Quando o Rei do Mundo apareceu, aqui no mosteiro, aos Lamas favoritos de Deus – e já se passaram trinta anos – Ele fez uma profecia respeitante aos tempos futuros. Eis o que Ele disse:

«Os homens, cada vez mais, esquecerão as suas almas
 para se ocuparem apenas dos seus corpos. 

A maior corrupção irá reinar sobre a Terra. 

Os homens assemelhar-se-ão a animais ferozes,
 sedentos do sangue de seus irmãos.
O Crescente apagar-se-á, caindo os seus adeptos na guerra perpétua. Cairão sobre eles as maiores desgraças e acabarão por degladiar-se entre si. As coroas dos reis, grandes e pequenos, cairão: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito… Eclodirá uma guerra terrível entre todos os povos. Os oceanos rugirão… A terra e o fundo dos mares cobrir-se-ão de ossadas… desaparecerão reinos, morrerão povos inteiros… haverá a fome, a doença, crimes não previstos pelas leis, nem vistos nem sonhados ainda pelos homens. Virão, então, os inimigos de Deus e do Espírito Divino, os quais jazem nos próprios homens. Aqueles que levantarem a mão sobre outro também perecerão. 

Os esquecidos, os perseguidos,
 erguer-se-ão depois e atrairão a atenção do mundo inteiro. 
Haverá nevoeiros espessos, tempestades horríveis. Montanhas até então escalvadas se cobrirão de florestas. A Terra inteira tremerá… Milhões de homens trocarão as correntes da escravidão e das humilhações pela fome, a peste e a morte. As estradas se encherão de multidões de pessoas caminhando ao acaso de um lado para o outro. As maiores, as mais belas cidades desaparecerão pelo fogo… uma, duas, três… 

O pai erguer-se-á contra o filho, o irmão contra o irmão, a mãe contra a filha. O vício, o crime, a destruição dos corpos e das almas seguir-se-ão a tantas calamidades. As famílias serão dispersas… A fidelidade e o amor desaparecerão… Por cada dez mil homens sobreviverá um, o qual ficará nu, destituído de todo o entendimento, sem forças para construir a sua habitação ou procurar alimentos. E estes homens sobreviventes uivarão como lobos ferozes, devorarão cadáveres e, mordendo a sua própria carne, desafiarão Deus para combate. 

A Terra inteira ficará deserta e até Deus fugirá dela. Sobre a Terra vazia a noite e a morte. Então Eu enviarei um Povo, desconhecido até agora, o qual, com mão forte, arrancará as ervas daninhas da loucura e do vício, e conduzirá aos poucos que restarem fiéis ao Espírito no Homem na batalha contra o Mal. Fundarão uma Nova Vida sobre a Terra purificada pela morte das nações. 

Dentro dos cinquenta anos que se seguem,
 somente três grandes reinos brilharão, 
vivendo felizes durante setenta e um anos. 

Em seguida, 
haverá dezoito anos de guerra e destruição.
 Então os Povos de Agharta 
sairão das suas cavernas e aparecerão à face da Terra.»
Mais tarde, quando em viagem para Pequim, eu perguntava frequentemente a mim mesmo:
– Que aconteceria se realmente povos inteiros, raças, religiões, tribos diferentes começassem a emigrar para Oeste?

Agora, enquanto escrevo estas últimas linhas, os meus olhos viram-se involuntariamente na direcção do coração infinito da Ásia, por onde tanto andei em minhas peregrinações. Vejo, através de um torvelinho de neve ou de uma tempestade de areia no Gobi, o rosto do Hutuktu de Narabanchi quando, em voz pausada e a mão apontando o horizonte, me revelava o segredo dos seus pensamentos mais íntimos.

Vejo, nas margens do Ubsa-Nof, os imensos campos coloridos, as manadas de cavalos e de gado, as “yurtas” azuis dos chefes. Acima delas vejo as bandeiras de Gengis Khan, dos reis do Tibete, do Sião, do Afeganistão e dos príncipes indianos; os emblemas sagrados dos pontífices lamaístas; os brasões dos Khans e dos Olets, e os pendões mais simples das tribos mongóis do Norte. Não ouço o burburinho das multidões agitadas. Os cantores já não cantam as melodias nostálgicas das montanhas, das planícies e do deserto. Os jovens cavaleiros já não galopam velozmente as suas briosas montadas… 

Há somente multidões infindáveis de velhos, mulheres e crianças, e, mais além, para Norte e para Leste, até onde os meus olhos alcançam, o céu é vermelho como fogo, ouvindo-se o rugido crepitante do incêndio e o eco da batalha onde os guerreiros, sob um céu vermelháceo, derramam o seu próprio sangue e o dos outros! Quem conduz essas multidões de desgraçados desamparados? Vejo uma ordem austera, uma compreensão profunda do ideal, da paciência e da tenacidade; uma nova emigração dos povos, a última marcha dos mongóis (20).

Talvez o Karma tenha aberto uma nova página na História.
Que sucederá se o Rei do Mundo estiver com eles?
Mas, contudo, o maior Mistério de todos os Mistérios continua sem resposta.

NOTAS (V.M.A.)

1) O mantram-oração principal do Budismo Tibetano que sintetiza toda a doutrina lamaísta, tanto a exotérica (pública) como a esotérica (privada). Om Mani Padme Hum, significa: “Salve, ó Jóia do Lótus Sagrado”, sendo a Jóia o Buda Místico na Morada do Coração (o Lótus); daí também possuir o significado de: “Ó Deus que estais em Mim”. Este mantram, consagrado ao Dhyani-Buda Avalokitesvara, designa o Atmã ou Espírito Universal, e com isso o Caminho da Universalidade.
Om Mani Padme Hum

2) Respectivamente, o continente da Lemúria a Leste, onde floresceu a 3.ª Raça-Raiz, e o continente da Atlântida a Oeste, berço da 4.ª Raça-Raiz, progenitora da actual 5.ª, a Ariana.

3) Ou o autor “fumou e pirou”, ou então, e é o mais provável, trata-se de uma alegoria carregada de forte simbolismo, junta à alusão a espécimes animais acaso sobreviventes à última Era Glaciar, possivelmente ainda subsistindo restos esparsos nas profundezas de certas cavernas sitas no que se consideram regiões badagas. Como símbolo esotérico, a tartaruga é a imagem zoomórfica perfeita do Universo com o único e só “Olho que tudo Vê” (Olho de Druva) no seu centro, designando o Sol Central. As “16 patas” é referência velada ao Arcano 16 do Tarot, o Arcano dos Atlantes, e que cosmogonicamente expressa “A Queda do Espírito na Matéria”, ou seja, a manifestação objectiva do Universo, a sua “encarnação” como Espaço Com Limites.

4) Ossendowsky fala em “dois milhões de deuses encarnados” montando guarda ao Reino do Senhor do Mundo. Creio haver aqui uma imprecisão numérica, pois tanto o Professor Henrique José de Souza quanto a referência de Saint-Yves d´Alveydre, na sua Missão da Índia na Europa, que o autor certamente conheceu e consultou, indicam o número preciso de Dwijas, Yoguis e Pandavans como de cinco milhões e cinco mil, isto é, repartidos em dois milhões e meio de Dwijas (“Nascidos duas vezes”, isto é, pelo Corpo ou Maternidade e pelo Espírito ou Iniciação), dois milhões e meio de Yoguis (“Unidos com Deus”, pela mais elevada Mística) e cinco mil Pandavans ou Panditas (“Instrutores” na Sabedoria dos Deuses, tanto valendo por Teosofia).

5) Goros, “Sacerdotes de Deus”. O Palácio do Rei do Mundo, em que está o seu trono onde resplandece um Sol de 32 raios, sendo Ele próprio o 33.º sintético, é um 13.º cercado em Shamballah (antes, à sua volta) por 12 outros, cada qual assessorado por um Goro relacionado a determinada Hierarquia Criadora do Universo encarnada num signo zodiacal específico.

6) Ou Brahmatmã, “O Apoio dos Espíritos no Espírito de Deus” – o Rei do Mundo em sua dupla função de Monarca e Pontífice Universal, indo corresponder ao Chakra-Varti védico e ao Melki-Tsedek bíblico. É Sua Majestade Rigden-Dyepo, isto é, “Rei dos Jivas”, que está para o seu sucessor Akdorge. Dirige o Governo Oculto Espiritual e Temporal do Mundo.

7) Ou Mahanga, “A Expressão de toda a Organização Material do Cosmos” – o Poder Temporal ou Real identificado ao Adonay-Tsedek hebraico. É o Excelso Polidorus Isurenus, em ligação directa ao seu sucessor Kadir. Dirige o Governo Oculto Temporal do Mundo.

8) Ou Mahinga, ou ainda Mahima e Mahatma, “O Representante da Alma Universal” – a Autoridade Espiritual ou Sacerdotal relacionada ao Kohen-Tsedek hebreu. É a Excelsa Mama-Sahib ligada ao seu sucessor Akadir. Dirige o Governo Oculto Espiritual do Mundo.

9) Esta Iniciação Real feita de Escola – Teatro – Templo e conferida pelos Panditas aos instruendos, possibilita o conhecimento e domínio perfeitos dos quatros elementos naturais e respectivas essências ou “espíritos”, a partir do quinto, com isso podendo dirigir a massa energética da Terra e do Universo cuja quintessência é o próprio Akasha ou Éter sob o domínio da Força Mental, logo sendo também o Pater Aether Omnipotens.

10) Referência velada à “Estrela Baal” e aos seus mistérios fatídicos que agora revelo parcialmente: quando há milhões de anos atrás a parte salina ou cristalizada da Terra foi separada de si, dela nasceu a Lua que principiou uma órbita muito diferente da actual em torno da progenitora, fragmentando-se em duas que vieram a iluminar as noites da Lemúria e da Atlântida. Uma das Luas, a existente ainda hoje, estabeleceu a sua rotação sazonal nos meados da terceira Raça; a outra, mais pequena, passou a orbitar em torno da maior, fragmentando-se lentamente até acabar por desprender-se dela um gigantesco fragmento incandescente que precipitou-se sobre a Terra, na região do Yukatan (que quer dizer precisamente “pedaço lunar”), alterando fatalmente o metabolismo desta e com isso provocando a extinção de grande parte da sua vida hominal, animal e vegetal. Isto nos finais da Lemúria, o que coincidiu com a morte dos dinossauros e o início da Era Glaciar provocada pela queda da “Estrela Baal”, esse mesmo fragmento selenita. Por fim, já perto do final da Raça Atlante, despenhou-se no mar oceano (que assim ficou salitrificado…) da Terra um outro fragmento da mesma Lua (o retorno da “Estrela Baal”…), tendo então se desintegrado por completo. Esse fragmento foi a “mola” impulsionadora dos cataclismos que destruíram por completo o Continente Vermelho (chamado assim por causa da cor epidérmica dos seus naturais).

11) Os abnegados e heróicos Antepassados, os Progenitores ou Pitris, os Santos Jinas baluartes imortais da Ciência Iniciática das Idades como Padres, Pais, Mentores ou Manus dirigentes da mesma Humanidade.

12) Ou Vatan, a Língua dos Dwijas, órgão simbolicamente bifurcado nestes por falarem simultaneamente a Linguagem do Céu e a da Terra. O Vatan é também conhecido como Senzar, a Fala Búdhica, a do Silêncio (de Shamballah…), do Coração ou Intuicional vibrando em toda a Natureza. Um dia, a dar-se a ressurreição à face da Terra dos Povos de Agharta, ela decerto será o idioma universal por que se entenderão todos os povos como som e objecto perfeitamente unidos numa exteriorização vocal proveniente do Mundo da Pura Intuição. 

Sim, é como se canta no Mantram Búdhico: “Senzar é minha vida, vive em meu coração”… Raciocine-se sobre o fenómeno da linguagem, pense-se um pouco sobre o fenómeno da palavra. Alguém tem uma ideia, uma imagem vem-lhe ao cérebro, os órgãos vocais são movimentados e pronuncia-se um som convencional. 

A vibração transmite-se pelo ar, atinge o ouvido de outra pessoa, dá-se uma série de fenómenos ainda não bem explicados pela ciência académica e aquela vibração, aquele som é interpretado pela outra pessoa com a mesma ideia que havia surgido no cérebro da primeira. Assim nas línguas sagradas, nas línguas primevas, havia uma correlação directa entre os sons e os objectos, isto é, os sons eram a expressão sonora dos objectos ou dos pensamentos. As línguas foram-se deturpando, corrompendo e, hoje em dia, raros idiomas ainda mantêm essa ligação. 

O Tupi, o Latim, o Luso-Galaico e o Hebraico são alguns dos que ainda detêm algo desse poder. Daí a razão da Kaballah, do estudo das letras do idioma hebraico. Combinam-se as letras hebraicas como se combinam os símbolos da Química e obtêm-se sentidos e ideias. Todos estes idiomas são oriundos do Aghartino, da Linguagem Universal de Agharta. Segundo a Tradição, esta é a futura Linguagem que será ouvida e compreendida por todos os homens por exprimir directamente as ideias. Logicamente, cada qual terá a impressão de que está a ouvir o seu próprio idioma natal.

13) OM escreve-se por extenso AUM. Como sílaba sagrada é o Nome do próprio Logos Planetário, da Divindade “em quem todos somos e temos o nosso ser”, parafraseando Santo Agostinho. Quanto à definição de mantram, é a seguinte: composição em que harmonia, melodia e ritmo estão combinados de acordo com as leis da Natureza.

14) Agni, o Fogo Sagrado, “ardendo em chamas brilhantes sobre o Altar… A Alma Gloriosa do Sol”.
15) No seu livro Missão da Índia na Europa, Saint-Yves d´Alveydre fala do Ritual do Brahmatmã actual (ou seja, o Planetário da Ronda vigente, a 4.ª) sobre a tumba (isto é, Shamballah, o Mundo do Silêncio Móvel, Morada dos Adormecidos passados e futuros) do anterior Rei do Mundo (ou da 3.ª Ronda Lunar), usando de uma terminologia profundamente simbólica, que não interpretarei aqui, a qual se aproxima muitíssimo da descrição feita por Ferdinand Ossendowsky. Passo a citar:
– O traje cerimonial do Brahmatmã resume todos os símbolos da Organização Aghartina e a Síntese Mágica, fundada no Verbo Eterno, de quem é a Imagem Viva.
E assim, as suas sucessivas roupagens até à cintura levam os grupos de todas as letras que são os elementos do Grande Aum.

Sobre o seu peito, brilha o racional com todos os fogos das pedras simbólicas consagradas às celestes Inteligências zodiacais, podendo o Pontífice renovar à-vontade o prodígio de acender espontaneamente a Chama Sagrada do Altar, como Aarão e seus sucessores.
A sua tiara de sete coroas, rematada pelos santos hieróglifos, expressa os sete graus de descenso e ascenso das Almas através desses Esplendores divinos que os Kabalistas chamam Sefirots.
Porém este Alto Sacerdote parece-me ainda mais elevado quando, despojado das suas insígnias, entra sozinha na Cripta sagrada onde jaze o seu predecessor e, longe da pompa cerimonial, de todo o adorno, de todo o metal, se oferece ao Anjo da Morte com a mais absoluta humildade.
Terrível e bem estranho Mistério Teúrgico!
Ali, sobre a tumba do Brahmatmã, há um catafalco cujas franjas indicam o número de séculos e de Pontífices que se sucederam.
A esta ara fúnebre, sobre a qual repousam certas alfaias da Magia Sagrada, sobe lentamente o Brahmatmã com as rezas e gestos de seu antigo ritual.
É um Ancião, descendente da belíssima Raça Etíope, de tipo caucásico, Raça que depois da Vermelha e antes da Branca susteve o Ceptro do Governo Central da Terra, e levantou em todas as montanhas essas cidades e esses edifícios prodigiosos que encontramos em toda a parte, desde o Egipto e a Índia até ao Cáucaso.
Nesta cripta fúnebre em que ninguém senão Ele penetra, está o Brahmatmã completamente desadornado, desnudo da cabeça até à cintura; e esta humilde desnudez é o sinal mágico da Morte.
Ainda que ascético, o seu corpo é elegante e com uma musculatura forte.
No extremo superior do seu braço, chamam a atenção três delgadas argolas simbólicas.
Por cima do rosário e da capa branca ressaltando sobre o negro de sua pele e que cai dos ombros até aos joelhos, ergue-se uma cabeça de notável dignidade.
Os seus traços são muito finos.
A boca, apesar dos dentes apertados pelo hábito da concentração intelectual e da vontade, mostra uns lábios bondosos nos quais flutua a luz interior de uma inalterável caridade.
A barba é pequena, porém bastante saliente para indicar uma grande energia, confirmada pelo nariz aquilino.
As sobrancelhas deixam antever uns olhos bem delineados, fixos e tão profundos quanto bondosos.
Essas últimas, que geralmente costumam endurecer qualquer fisionomia, deixam intactas nesse rosto uma grande doçura unida a uma inabalável força.
A fronte é enorme, e o crânio desguarnecido em parte.
No conjunto, este Mago-Pontífice representa uma tipologia absolutamente fora do comum.
É certamente o Emblema Vivo do cume de uma Hierarquia por sua vez Sacerdotal e Universitária, unindo nela de modo indivisível a Religião e a Ciência.
Quando, concentrado na santidade do seu acto interior e da sua vontade, o Pontífice une as suas mãos, notáveis por sua pequenez, na base do catafalco, o ataúde de seu predecessor corre por um encaixe e sai por si mesmo.
À medida que o Brahmatmã prossegue as suas orações mágicas, a Alma que evoca age desde o alto dos Céus através de sete lâminas, ou melhor, sete condutores metálicos que, partindo do cadáver embalsamado, reúnem-se ante o Pontífice dos Magos em dois tubos verticais.
Um é de ouro, o outro é de prata, e correspondem, o primeiro ao Sol, a Cristo e ao Arcanjo Mikael, e o segundo à Lua, a Maomé e ao Arcanjo Gabriel.
Ante o Soberano Pontífice, porém a certa distância, estão colocadas as suas varas mágicas e dois objectos simbólicos: um é uma Romã de ouro, símbolo do Judaico-Cristianismo; o outro, um Crescente lunar, símbolo do Islamismo.
Pois a oração, em Agharta, reúne num mesmo Amor e numa mesma Sabedoria todas as Religiões que preparam na Humanidade as condições do retorno cíclico à Lei Divina de sua Organização.
Quando o Brahmatmã reza pela União, coloca a Romã sobre o Crescente e evoca juntamente o Arcanjo Solar, Mikael, e o Arcanjo Lunar, Gabriel.
À medida que a evocação misteriosa do Brahmatmã prossegue, as Potências vão aparecendo ante os seus olhos.
Sente ou ouve a Alma a quem clama, sendo esta atraída espiritualmente por suas evocações e magicamente pelo corpo que abandonou e por sua armadura metálica que corresponde à escala diatónica dos sete Céus.
Então, na Língua Universal de que falei, estabelece-se um diálogo teúrgico entre o Soberano Pontífice evocador e os Arcanjos que trazem até Ele, desde o cume dos Céus, as respostas às suas perguntas.
Os signos sagrados desenham no ar as letras absolutas do Verbo.
Enquanto se desenrolam estes Mistérios, enquanto se ouve a Música das Esferas celestes, um fenómeno surpreendente, ainda que semi-físico, sucede na tumba.
Do corpo embalsamado sobe lentamente para o Brahmatmã que está orando uma espécie de bruma perfumada, em que se podem ver numerosos filamentos e arborescências estranhas, semi-fluidicas e semi-tangíveis.

É o sinal que indica que, desde o longínquo Mundo que habita, a Alma do Pontífice anterior lança, através da Hierarquia dos Céus e de suas Potências celestes, os raios concentrados de todas as suas memórias sobre a Cripta sagrada onde repousa o seu corpo.
Assim se confirma, ainda hoje, tudo quanto Ram predisse sobre a animação sucessiva que dele receberiam os seus sucessores que conservassem santa e sabiamente a Tradição do Ciclo do Cordeiro e a Sinarquia do Carneiro.

Assim é em Agharta, assim foi nas pirâmides do Egipto, em Creta, na Trácia e até no templo druídico de Ísis na própria Paris, onde agora se eleva Notre-Dame, o Mistério Supremo do Culto dos Antepassados.

16) Símbolo andrógino por excelência do Sexto Luzeiro de Mercúrio, o Senhor dos “Fogos de São João” como Agnus Castu e Agni Dei resplandecente. Além de assinalar a ressurreição da Igreja Secreta de João, assinala igualmente a união do Trono (Poder Temporal – Pomo d’Ouro) com o Altar (Autoridade Espiritual – Cordeiro Pascal).

17) Os Ciganos, a cuja casta pertencem o que resta das 12 tribos de Israel e algumas tribos shivaítas idólatras e feiticistas da Índia, são os Bohami, “apartados de Mim” (o Manu), donde Boémios. A sua origem obscura remonta há cinco mil anos, ao Mundo de Badagas donde foram expulsos por desrespeito às ordens do mesmo Legislador Supremo. Como Kara-Maras, em aghartino, são o Povo que negou a Eleição divina para se condenar a errar pela face da Terra qual “Édipo de pés inchados”, enfim, qual “Judeu errante”…

18) Refere-se aos Badagas e Todes da Nilguíria e do Ceilão, apontados por H. P. Blavatsky no seu livro O País das Montanhas Azuis. Alguns Todes são de compleição semi-humana, mas, para todos os efeitos, tanto uns como outros são na face da Terra guardiões de Embocaduras para os Retiros Privados dos Adeptos Independentes. Quando os lugares onde se acham essas Embocaduras se tornam públicos, do conhecimento geral, já antes os seus guardiões se recolheram fechando atrás de si “as portas a sete chaves”, tornando-as completamente imperceptíveis, somente deixando para trás a tradição mítica e esotérica do lugar, que o vulgo se encarregará de cobrir de lenda e superstição. Só o raríssimo Iniciado saberá flanquear depois, se méritos e préstimos tiver para tanto, o umbral de tão encantada e decantada porta… E não será por excitação anímica e fantasias fantasmagóricas auto-criadas e auto-induzidas, mais ou menos conscientemente para cobrir um eventual “vazio existencial”, que se chegará a lado algum de mais-valia. Ademais, só quando o discípulo está pronto o Mestre aparece!

Aprofundando mais o tema do Mundo Jina e dos Seres Viventes nele, fazendo uso da Linguagem de Akbel que é a das Revelações do Futuro, tive ocasião de proferir numa carta privada de que respigo o seguinte trecho que ofereço ao respeitável leitor, muito especialmente aos condiscípulos da Obra de JHS em Portugal e no Brasil, indo demonstrar que este tema nada tem de afim com as especulações oníricas e fantásticas do propagado “espiritualismo sensacionalista”… auto-suficiente na pobreza da sua ignorância cega:
Já falei sobre os Mundos Subterrâneos de sobejo, e inclusive no meu livro Os Mestres e a Iniciação, no capítulo “Sinais de Shamballah”, descrevo em traços gerais a fisionomia dos habitantes do Mundo de Badagas. Mais não é possível por diversas razões, uma delas a do juramento de silêncio. Ainda assim, e como as duas classes TODES E MUNIS são constantemente evocadas pela nossa Obra em sua mecânica interna, posso adiante que tanto os Munis como os Todes são SERES ETÉRICOS de uma Evolução paralela: saíram do Reino Elemental para adentrar o Angélica ou Barishad sob a direcção directa dos Kumaras.

 Eles são as Forças Marutas da Natureza que desde os Mundos de Duat e Badagas actuam sobre a Face da Terra e nesta, nos lugares altos ou baixos próximos a Embocaduras, sendo dirigidos pelos Sete Reis de Edom ou Agharta que são os mesmos Kumaras. Quando actuam na Face da Terra a sua Consciência pode tomar o corpo físico de alguém, vivo ou morto (cujo corpo não esteja corrompido pela putrefacção), e assim agir «fantasticamente» junto dos chamados «vivos». Isto chegou a acontecer com o Roberto Lucíola (mas não só…) e com o próprio Professor Henrique José de Souza que  nos anos 30-40 do século XX andou de intimidades com o “Eremita do Parque das Águas” de São Lourenço (MG), com o seu nome profano ocultando o verdadeiro de RABI-MUNI! Não vale a pena perguntar-me desse nome profano do PAI JOÃO que deve permanecer na ignorância do vulgo… e por isso ninguém soube responder-me sobre o mesmo. Eu só queria ver até onde ia o conhecimento iniciático de certas e destacadas pessoas… mas tal resultou infrutífero.
 
V.M.A. no Horto Florestal de São Lourenço (MG),
 próximo dum Retiro Jina

Os MUNIS são Seres de compleição branca aloirada, de aparência «angélica» (FOHAT) e estão sob a direcção de RABI-MUNI e TARA-MUNI, pelos quais se manifesta a Consciência Cósmica de AKBEL e ALLAMIRAH ou AKBELINA (6.ª Sistema, 6.ª Cadeia, 6.ª Ronda). São os Guardiões do “Cone do Sol” e das Embocaduras Sagradas. Representam o Prémio da Evolução das Almas Salvas… por seus próprios esforços e méritos. Os TODES são Seres de compleição morena ruiva, de aparência «diáblica» (KUNDALINI) e estão sob a direcção de SAMAEL e LILITH, pelos quais se manifesta a Consciência Cósmica de ARABEL e ALGOL ou ARABELINA (5.º Sistema, 5.ª Cadeia, 5.ª Ronda). São os Guardiões do “Cone da Lua” e das Talas Sinistras que para aí levam. Representam o Castigo da Involução das Almas Perdidas… por seus próprios ócios e deméritos.

Numa escala inter-relacional acontece que o MUNI age através do TODE e este pelo BADAGA, portanto, o BADAGA é a “personalidade” do TODE ou SEDOTE que, como “individualidade”, expressa a Mónada Divina assinalada no MUNI.

A mitologia mexicana chama aos “Homens-Serpentes”, isto é, Iluminados Perfeitos, de SEDOTES, que são os mesmos BADAGAS da cultura religiosa na Nilguíria e Ceilão. São Seres físicos densos e também etéricos, por o Plano Físico Denso e Etérico se interpenetrar tal qual acontece com a Face da Terra interpenetrar o Submundo até 60-90 kms de profundidade, entremesclando-se os dois níveis do Plano Físico. Assim, temos:
PLANO FÍSICO
DENSO – MUNDO DA FACE DA TERRA (JIVAS) – MARTE
ETÉRICO – SUBMUNDO DE BADAGAS (JINAS, SEDOTES… TODES E MUNIS) – LUA
PLANO ASTRAL
MUNDO INTERMÉDIO DE DUAT (HADES, AMENTI… MUNINDRAS) – VÉNUS
PLANO MENTAL
SUPRAMUNDO DE AGHARTA (ASGARDI, CANAÃ… MAHATMAS) – MERCÚRIO
PLANO ESPIRITUAL
CENTRO DIVINO DO MUNDO (SHAMBALLAH, WALHALLAH ou SALÉM… MANASAPUTRAS e MATRADEVAS) – JÚPITER

Mais ainda, sendo os TODES de natureza KUNDALINI e os MUNIS de natureza FOHAT, tal qual os MANASA-PUTRAS (Anjos Terrestres cor de fogo e ruivos) e os MATRA-DEVAS (Anjos Celestes cor de branco e louros), representantes respectivos dos 3.º Trono ou Logos (Terra) e 2.º Trono ou Logos (Céu), e sendo por isso SHAMBALLAH o Mundo Divino plantado na Terra, ela acaba sendo na mesma o próprio Mundo Celeste do 2.º Trono como “extensão” Dele, temos:
SEGUNDO TRONO
FOHAT
AKBEL
MAITREYA
777 MATRA-DEVAS
RABI-MUNI
777 MUNIS
777 LOKAS  (7 Físicas, 7 Astrais, 7 Mentais)
TERCEIRO TRONO
KUNDALINI
ARABEL
MALIAK
777 MANASA-PUTRAS
SAMAEL
777 TODES
777 TALAS (7 Físicas, 7 Astrais, 7 Mentais)

As TALAS são as Sombras das LOKAS Luminosas. Razão de um Livro Jina da Biblioteca de Duat dizer a dado passo: “Sobre as cavernas tenebrosas riam e confabulavam os Deuses”…

19) Novamente o símbolo da tartaruga como insígnia dos “cem misteriosos Sábios chineses”: os Traixus-Marutas, cuja Maçonaria Universal Construtiva dos Três Mundos monta guarda aos 22 Templos Luni-Solares de Agharta. A parte superior que cobre a tartaruga corresponde ao Céu, por sua forma arredondada; a parte inferior que a suporta corresponde à Terra, por sua forma achatada. A concha é, portanto, uma imagem do Universo, e entre as suas partes o próprio animal representa, naturalmente, a parte mediana da Tríade Humana: a Alma, tendo “acima” o Espírito e “abaixo” o Corpo.

20) Trata-se de uma alusão à transferência dos valores espirituais do ORIENTE PARA O OCIDENTE, desde 1899, acelerando a decadência do que ainda resta do “podre e gasto” Ciclo de Piscis, para que cada vez mais brilhe e floresça o de Aquarius.
O Governo Oculto do Mundo, agindo de Agharta, sempre necessitou de uma representação na face da Terra, de um elo de ligação. Este elo estabeleceu-se nos últimos séculos por intermédio de um Governo Trino existente no Tibete. No ponto mais elevado desse Governo estava o Bogdo-Gheghen, o Buda-Vivo da Mongólia, tendo como Colunas-Vivas um Chefe Temporal, o Dalai-Lama, e um Chefe Espiritual, o Trachi-Lama. Esta Tríade representou, até 1921, o Governo Oculto do Mundo. Dali irradiavam as energias espirituais que, através de determinadas Organizações, controlavam a evolução da Humanidade. Dizem as Revelações que em 1921 “o Dragão voltou a cauda do Ocidente para o Oriente e a cabeça do Oriente para o Ocidente”. Isto quer dizer que se iniciou o Ciclo do Ocidente, EX OCCIDENS LUX, de acordo com outras profecias anteriores as quais afirmavam que com o 31.º Buda-Vivo da Mongólia terminava o Ciclo do Oriente. Ora, nesse mesmo ano o 31.º Buda-Vivo deixou de viver… passando o seu Espírito a animar o 32.º Buda-Vivo Baal-Bey, destarte nascido no Ocidente, em plagas virgens brasileiras fecundadas pelo nobre sangue real lusitano.

E assim, de seu Templo Subterrâneo, o Rei do Mundo, incansável e vigilante no silêncio do Mistério, do Coração de Shamballah continua a fazer girar a Roda do tear da Evolução, como Centro de todas as coisas sem que contudo comparticipe delas, possibilitando a todos os seres viventes percepções cada vez mais amplas, vivências cada vez mais rarefeitas no rumo à Grande Unidade Universal, onde se é Um com Todos e Todos com Um, o que vale por, na língua sagrada de Agharta, AT NIAT NIATAT.


OBRAS CONSULTADAS

1.ª Parte: A Ordem de Mariz (Portugal e o Futuro), por Vitor Manuel Adrião. Editorial Angelorum, Lda, Carcavelos, Maio de 2006.
2.ª Parte: Bestas, Homens e Deuses (O enigma do Rei do Mundo), por Ferdinand Ossendowski. Hemus – Livraria Editora Ltda, São Paulo, 1978.