“Levanta a rocha e ali me encontrarás, racha a madeira e ali estou eu.”
(Fragmento de um evangelho apócrifo de origem egípcia, as Logia de Oxyrhinchus)
“Pode alguma coisa que preste vir de Nazaré?”
(João, 1,46)
Nazareth, o lugar onde nasceu o nabi Joshua Bar Yosef, era um vilarejo da Galiléia, no extremo norte da província romana da Judéia, hoje, Israel.
Nas ruelas estreitas entre as casas pequenas, crianças brincam os eternos jogos da infância, sem saber que, muitas léguas dali, existe uma cidade imensa chamada Roma, onde reina o imperador Augusto, poderoso como um deus, que, com três palavras num papiro, pode colocar em movimento a mais eficaz máquina de guerra que a antiguidade conheceu: o exército romano.
Disso tudo, nada sabem as crianças judias de Nazareth.
Seus pais são pequenos agricultores, cultivadores de uvas e oliveiras, alguns mercadores e muitos artesãos, tecelãos, pedreiros, oleiros, ferreiros, car¬pinteiros.
De um carpinteiro chamado Yosef e de sua mulher Maria, nasceu Joshua.
Seu nome era muito comum entre os judeus, sendo uma ligeira alteração do nome de Josué, o sucessor de Moisés e cappo das tribos hebréias que invadiram a Palestina depois da morte do grande patriarca.
Entre as crianças de Nazareth, brinca um menino que, um dia, vai mudar o mundo como ninguém.
lhoshuha, Joshua, Josué, Jesus: longa viagem vai fazer este nome.
As tradições apostólicas e os relatos evangélicos cercaram seu nascimento e primeiros anos de toda sorte de lendas das mil e uma noites, de que o Oriente gosta.
Desde o nascimento de uma virgem até a visita de três Magos ao menino recém-nascido, cada um por¬tando presentes, ouro, incenso e mirra.
As contradições entre uma história verdadeira e lendas e fábulas que se teceram em volta de Joshua aparecem à primeira vista.
O evangelho atribuído a Mateus abre com a enume¬ração da genealogia de Joshua, desde o patriarca Abraão.
Na lista dos antepassados de Joshua, está o rei David, o que o faz herdeiro legítimo do trono de Israel.
Esta genealogia termina na pessoa de Yosef (José), pai de Jesus.
Imediatamente após, Mateus reporta a lenda da concepção virginal de Jesus, nascido de Maria, fecun¬dada por força divina, sem concurso de homem.
Ora, a ser assim, para que a genealogia de seu pai?
Versões evangélicas também o dão como nascido em Belém, Beth-Lehem, em hebraico, “a casa do pão”, muito ao sul de Nazareth.
Isso se deve a um fato muito estranho.
A vida do profeta Jesus foi toda profetizada antes de ser vivida.
Inúmeros episódios de sua vida foram, eviden¬temente, moldados sobre a profecia. Mateus é espe¬cialista nisso. Seu relato é todo percorrido por construções do tipo: “isso se fez, para que se reali¬zasse a profecia que diz...”
O nascimento de Jesus em Belém, por exemplo, é resultado de uma leitura do profeta Miquéias, que viveu, pelo menos, seis séculos antes dele.
E tu, Beth-Lehem
da terra de Judá,
não és a menor
entre as principais de Judá:
de ti, vai sair o chefe,
que reja Israel, meu povo.
Beth-Lehem era a cidade natal do rei David, sob cuja direção o povo hebreu conheceu um clímax de glória militar.
Nada mais natural que fazer Jesus nascer na terra do seu antepassado, do qual herdava o título de rei: o messianismo judeu nasceu e se desenvolveu com os profetas, quando a nação perdeu a independência (séculos VI e V antes de Cristo).
Na teocracia semita, o líder religioso é sempre chefe político. E vice-versa. Basta ver o caso, hoje, do Irã do Ayatolah Khomeyni.
Descendente do rei David, Jesus era o líder caris¬mático do povo numa guerra de libertação contra o imperialismo romano.
Sua condenação final diante do poder de Roma, encarnada na pessoa do procônsul Pôncio Pilatos, é significativa: o povo o aclamava, abertamente, como rei.
Ao colocar sobre a cruz onde o supliciavam uma placa com a inscrição “Jesus de Nazareth, Rei dos Judeus”, os romanos mostravam que não estavam brincando em serviço.
Deixemos de lado as lendas messiânicas sobre o nascimento em Belém.
Jesus sempre é chamado de “nazareno”, natural de Nazaré.
E os primeiros cristãos eram chamados de “galileus”.
A fábula da fuga ao Egito deu margem a muitas outras lendas. Está em Mateus.
Jesus nasce, os magos vêm visitá-lo, o rei Herodes fica sabendo, consulta os sábios para saber onde nasceria o Messias. Citando Miquéias, os sábios apontam Beth-Lehem: Herodes ordena o massacre de todas as crianças com menos de um ano de idade.
Avisado por um anjo, José pega a mulher e o filho e foge para o Egito, donde só volta depois que o mesmo anjo, pontual funcionário do Senhor, lhe avisa, em sonho, que dá para voltar, tudo está limpo. Daí, José volta.
A fábula é inverossímil.
Só ver a distância a percorrer entre a Galiléia e o Egito, numa época quando as estradas da Ásia viviam infestadas de assaltantes e ainda havia grande quanti¬dade de leões, depois extintos pela caça contínua e sistemática.
Não é assim, no entanto, que se trata uma fábula: uma lenda vale por seus significados simbólicos.
A fuga da família de Jesus para o Egito era uma volta às origens. Afinal, foi lá que o povo hebreu viveu escravo dos faraós. De lá, Moisés o tirou, para a liberdade, a plenitude, a maioridade, depois da invasão de Canaã (a Palestina), realizada com implacáveis hecatombes, massacres e aniquilação, ao estilo assírio, de cidades inteiras, como conta o Livro de Josué.
Enquanto as lendas correm, as crianças continuam a brincar nas ruas da aldeia de Nazareth.
Brincam de esconde-esconde.
O mais difícil de encontrar é Joshua Bar Yosef. Ele sempre se esconde nos lugares mais difíceis.
Isso tudo é fantasia. Pelos evangelhos, nada sabe¬mos da infância nem da adolescência de Jesus.
Há inúmeros evangelhos apócrifos dos primeiros séculos da era cristã, chamados “Evangelhos da Infância”, tecidos de lendas fabulosas sobre um garoto Jesus cheio de poderes e os exercendo com arbitrariedade. Num episódio de um desses evangelhos apócrifos, um menino pula nas costas de Jesus e morre imediatamente, só para Jesus ressuscitá-lo, diante do desespero dos pais.
Numa rua de Nazareth, o filho do carpinteiro continua brincando.
Sobre ele, um dia, haverá lendas, como a de que nasceu de uma virgem, um dos arquétipos religiosos da humanidade, encontradiço nos mitos do nascimento de Buda, do rei persa Ciro ou do deus azteca Quetzalcoatl. Virgem/Mãe: coincidência dos contrários.
Nas ruas de Nazareth, os meninos procuram atrás de cada parede, de cada porta, de cada pedra. Nin¬guém encontra Joshua.
Uma lenda evangélica conta que, um dia, ele desapareceu. Sua mãe o procurou e foi encontrá-lo numa sinagoga lendo textos sagrados e os explicando aos doutores.
Nas ruas de Nazareth, ainda nada.
Pisamos em terreno seguro, provavelmente, quando o encontramos apresentando-se, no rio Jordão, para ser batizado por João, o Batista.
Conforme os evangelhos, Jesus está agora com trinta anos, na força da idade.
Israel tem um novo nabi, como Elias, Eliseu, Isaías, João.
Onde esteve Jesus até ser batizado por João?
Essa elipse, esse hiato, esse vácuo, já produziu bibliotecas de hipóteses, desvarios teosóficos, delírios esotéricos, em que Jesus teria frequentado, no Egito, escolas de altos saberes.
Alguns gostam de imaginá-lo iogue na Índia.
Outros imaginam-no monge essênio, egresso do mosteiro judeu de Qumran.
Nas vielas de Nazareth, continuam a procurá-lo.
O menino continua desaparecido.
Mas, um jovem nabi, de 30 anos, começa a agitar a Galiléia, repetindo o apelo de seu mestre João, que repetia Isaías: “o reino de Deus vem aí”. O menino escondido tem três anos para desembocar no destino de todos os profetas de Israel: serrado como Isaías, decapitado como João, crucificado pelos romanos.
O jovem nabi é nazir.
Nazir, entre os antigos judeus, era alguém devotado a Adonai (Deus), desde a infância, ao que tudo indica, por sua mãe.
Essa devoção consistia na privação de várias coisas: o vinho, os prazeres sexuais, a aparência pessoal.
Os evangelhos nada nos informam sobre a aparência física de Jesus. Não sabemos se era alto ou baixo. Gordo ou magro. De olhos negros ou castanhos.
O menino continua escondido.
As igrejas fizeram dele um retrato hiper-idealizado, lindo rosto, quase andrógino, com grandes olhos sonhadores, às vezes, absurdamente azuis num semita sefardi: excessos do amor.
Tudo o que podemos saber de Jesus, fisicamente, é que usasse cabelos compridos: os nazir não corta¬vam o cabelo.
Talvez usasse roupa branca: era um traço ritual dos essênios. E não devia ser pessoa de compleição frágil: basta ver o episódio da expulsão dos vendi¬lhões do templo, quando fustigou e expulsou dezenas de pessoas das escadarias do mais célebre santuário de Israel.
Fora isso, só temos a tradição da Igreja primitiva, que registra que Jesus era feio, talvez o reflexo de uma profecia de Isaías, onde o Messias é apresentado como pessoa de aspecto desprezível, metáfora do estado político do povo hebreu, na época da invasão de babilônios e assírios.
Onde está o menino?
A brincadeira de esconde-esconde prossegue, nas vielas da pequena Nazareth da Galiléia.
Todos já foram encontrados, menos Joshua.
Uns pensam encontrá-lo debaixo duma pedra, como se fosse um escorpião.
Outros imaginam vê-lo do lado de uma nuvem, um falcão, quem sabe.
Para alguns, ele desaparece como um fantasma, na luz forte do meio-dia. Nos evangelhos, seus dados de parentesco são muito embrulhados.
Parece ter sido o mais velho numa família nume¬rosa, com vários irmãos e irmãs.
Ao que tudo indica, no começo de seu “nabinato”, sofreu a oposição e a negação de seus irmãos diretos.
Seus primeiros discípulos teriam sido seus primos, dentro de uma tradição muito semítica de conversões em sua própria casa (a primeira pessoa convertida ao Islam por Maomé foi sua própria mulher Kadidja).
Alguém acaba de ver Jesus desaparecer por trás de uma porta.
O menino Joshua sabe se esconder muito bem.
Em que ano mesmo que ele está? Esse menino vai à escola? Que tipo de escola?
Nos pequenos vilarejos judeus, o mestre-escola era o hazzan, o leitor das sinagogas, aquele que ensinava a ler as belas letras do alfabeto com que se lia a Lei de Moisés, sem o que não se podia realizar a mitzvah, o mandato: a cultura judaica é uma cultura escritural, baseada em textos (para o Islam, os judeus fazem parte da categoria privilegiada dos “ahl al-Kitab”, os povos do livro, as minorias cuja fé se baseia em textos).
Em seus melhores anos, Joshua deve ter assimilado o repertório textual básico de qualquer judeu de sua época: a Torah, a Lei de Moisés, os Profetas, tesouro escriturai de sua tribo.
Seu processo de aprendizagem da escrita hebraica deve ter sido o do Oriente Médio, ainda usado entre os árabes.
Um processo sintético, no qual o professor faz os alunos memorizarem uma frase, oralmente, após o que distribui a frase escrita correspondente fazendo os alunos repetirem, olhando para a frase escrita, até que a leitura começa a fluir.
Um processo pedagógico que começa ao contrário do ocidental, onde o aluno aprende primeiro o ABC, o código em estado puro, para depois aprender a combiná-lo em palavras e orações.
O processo oriental vai da frase para o alfabeto, o nosso vai da letra para a frase.
Como qualquer garoto judeu da Galiléia, Joshua ia dos conjuntos para os elementos. Das totalidades para as partes. Do geral para o particular.
Mas onde é que esse menino se meteu?
Na sinagoga de Nazareth, com o hazzan, Jesus ouviu/leu o tesouro textual de sua comunidade: Torah, Profetas, Salmos, Livros Sapienciais.
Sua leitura, estudo, compreensão e prática consti¬tuem a mitzvah, a via judaica. Dela, Joshua vai ter um entendimento profundo, radical, intransigente. Parecia reinar nas antigas sinagogas da Galiléia uma grande liberdade de expressão, sem restrições de hierarquia eclesiástica.
Pelos evangelhos, lá vai que era possível alguém na assembléia, possuído pelo Espírito (nefesh Adonai) sentar no lugar principal, ler os textos sagrados e interpretá-los para os circunstantes. O povo de Israel era uma espécie de povo de sacerdotes, onde as distinções entre leigos e eclesiásticos eram mínimas.
Daí, aquilo de Mateus, no capítulo 13:
E chegando em sua terra
os ensinava nas sinagogas,
até que se espantaram e disseram:
— Donde lhe vêm estes saberes e poderes?
Esse não é o filho do operário?
Os meninos continuam a procurá-lo nas esquinas e becos de Nazareth.
André quase o viu. Bartolomeu pensa conhecer seus truques, quando se esconde. Tiago desconfia que ele esteja atrás daquela árvore.
Pedro Cefas lança as redes. Mateus dá um desconto. Cada um dos futuros doze discípulos diretos lança suas sortes.
Como sempre, Joshua desapareceu.
Nada mais emocionante que brincar de esconde-esconde com o filho do carpinteiro.
Após. Apóstolos. Apostas.
Discípulo de João, Joshua terá discípulos, porta¬dores da sua doutrina e de seus poderes milagrosos, dar luz ao cegos, curar doenças, expulsar demônios. Assim, Eliseu herdou o manto e a força taumatúrgica de mestre Elias.
Os discípulos diretos de Jesus foram conquistados entre a gente simples da Galiléia, pescadores e artesãos de forte fé e tardo entendimento. Simples, Joshua amará os simples:
Naquela hora,
chegaram os discípulos
dizendo:
— Quem é o maior no reino dos céus?
E chamando um menino
Jesus o colocou de pé
no meio deles e disse:
— Assim digo a vocês,
se vocês não mudarem
e ficarem parecidos com crianças
como esta,
vocês não vão entrar no reino dos céus.
Cadê Joshua?
Entre os simples, depois, o acharão.
Uma pergunta, nunca feita, pode, agora, ser per¬guntada.
De que vivia Jesus durante os três anos de sua pregação e docência?
Que fosse carpinteiro como seu pai Yosef, pouca dúvida, os ofícios, no Oriente, passando de pai para filho, ao longo dos séculos.
Curioso, porém, que nenhuma parábola sua tenha como tema a arte da carpintaria. Suas metáforas e apólogos são todos extraídos da vida agrícola. Ou piscatória.
Para um poeta como ele, talvez, seu ofício do dia-a-dia não oferecesse estímulo bastante para a poesia.
Talvez, à luz de uma estética da recepção, adequasse seu discurso ao universo dos pequenos lavradores e pescadores dentre os quais arrebanhou seus primeiros seguidores.
De qualquer forma, nessa fértil e verde Galiléia de seu tempo, não devia haver muita distância entre as atividades artesanais e agrícolas.
O fato é que, em nenhum momento, os evangelhos o mostram trabalhando.
A não ser aquele trabalho superior, que é o exer¬cício da vida do espírito.
Em nenhum momento, Jesus planta, colhe, cozinha, serra, tece ou pesca.
Tudo que faz é pregar.
Seu pai Josef também pregava pregos na madeira, coisa que Jesus devia saber fazer bem.
Só que a pregação de Jesus é feita de outros pregos. Pregos conceituais. Pregos-signos. Os pregos que um dia pregariam a ele, carpinteiro, numa cruz de madeira.
Afinal, onde está Joshua?
Em seus anos de pregação, Jesus viveu, de aldeia em aldeia, de casa em casa, sustentado por amigos, mulheres, discípulos, admiradores ou até por estra¬nhos, nesse Oriente onde o hóspede é um rei na tenda do seu anfitrião.
Onde, diabo, esse menino se meteu?
Pelos evangelhos, Jesus fez, basicamente, duas coisas: curou doenças e pronunciou sentenças. Fez o bem para o corpo. E para a alma.
Sua virtude taumatúrgicas significa sua força doutri¬nária: saber, poder.
Ah, Joshua, deste vez, eu te pego!
Muitos amigos teve Jesus. Dentre os mais caros, Lázaro, com suas duas irmãs, Marta e Maria, amigas do doce rabi da Galiléia.
Jesus parece ter sido muito livre na escolha de suas companhias. Os evangelhos estão cheios das queixas dos fariseus pelo fato de Jesus frequentar pecadores, estrangeiros, publicanos (coletores de impostos para Roma), meretrizes e até gente pior.
Jesus se saía com coisas do tipo:
Não vim para salvar os justos.
Justos não precisam de salvação.
Quem sabe ter sido meio chegado ao vinho. O que estranha. A abstinência de vinho era regra essênia. E uma das proibições de quem fosse nazir.
Um dos milagres mais conhecidos de Jesus é a transformação de água em vinho num casamento, em Caná.
E, na última ceia, quando codifica um rito para seus discípulos, identifica o fruto da vinha com seu próprio sangue (embora, aqui, o relato pareça ter sido moldado sobre o rito, um rito comemorativo da Igreja primitiva, embrião da missa).
Êta garoto bom de se esconder!
Quando se aproximava a Páscoa judaica, Jesus teve vontade de ir celebrá-la na capital, em Jerusalém, a cidade de Davi.
O Pesach, a Páscoa judaica, é a celebração da passagem do Mar Vermelho, da saída do povo hebreu do cativeiro do Egito para a liberdade, metáfora máxima para a libertação do espírito.
Para comemorá-la, comia-se um cordeiro assado, em companhia de amigos. Mal sabia Jesus que, nesta Páscoa, o cordeiro a ser comido seria ele mesmo.
Aquela sombra, não seria Joshua?
Lá vai o cordeiro entre os lobos, o provinciano rabi da Galiléia, entra na Grande Cidade.
Na época da Páscoa, Jerusalém regurgitava de gente vinda de todas as partes, judeus de todos os lugares para celebrar a Páscoa à sombra do Templo, objeto de uma veneração geral, santuário máximo de Israel.
Jesus tem um trocadilho no qual confunde seu corpo com o Templo, quando diz, diante da impo¬nente arquitetura, que a destruirá e a reconstruirá em três dias. Falava de sua própria morte e ressurreição, comenta o evangelista.
Em Jerusalém, Jesus sabe que está mais em perigo do que nunca. Aí, imperam os fariseus, saduceus, levitas, escribas, sacerdotes, toda a alta hierarquia do judaísmo oficial, mancomunada com o poder romano, guardado por legiões imbatíveis, sob o comando de uma autoridade nomeada diretamente pelo Imperador.
Os donos da religião não gostam de seus comentá¬rios à lei de Moisés. Os romanos, donos da situação, não gostam de judeus se reunindo em torno de líderes, ligados por idéias orientais que eles não entendem. Uns, sentem cheiro de heresia. Outros vêem subversão da ordem. Jesus entra em Jerusalém.
A cidade ferveu daquela vida frenética de uma metrópole das mil e uma noites.
Mil mercadores ambulantes apregoam seus produtos, compra-se, vende-se. Ouve-se, pelas esquinas, dezenas de línguas e dialetos, aramaico, grego, latim, árabe, siríaco ou essas misturas que o comércio sempre improvisa.
As autoridades já tinham sido alertadas sobre sua presença na cidade, onde ele entra cercado de seus discípulos e simpatizantes.
Jesus caiu na armadilha.
É preciso distingui-lo, porém, nessa multidão que vai e vem, onde passam profetas, nabis, pequenos mestres e seus séquitos.
Os donos da religião logram contato com um dos discípulos do galileu, Judas Iscariotes, que, por dinheiro, concorda em denunciá-lo.
Denunciado por Judas, Jesus é preso pelas autori¬dades.
Depois de ter sido submetido a mil sevícias e ultrajes, é condenado pela autoridade romana ao suplício, tipicamente romano, da cruz.
Como é duro de achar esse Joshua!
Fonte:
JESUS a.C -Paulo Leminski
Editora Brasiliense
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