quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O TITÃ - Suite- Libreto - de Radeir




PROMETEU- Heinrich Friedrich Füger,1817

SUÍTE - "O TITÃ"
- SINFONIA No 1 - GUSTAV MAHLER

Gustav Mahler Symphony No. 1 in D major "Titan"
Conductor: Gustavo Dudamel La Scala Philharmonic Orchestra La Scala Theater Milan (2008) Part I. Langsam, Schleppend. Immer sehr gemächlich


Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part I 1/2
http://www.youtube.com/watch?v=GIweGXA-zF0
-9:45

Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part I 2/2
http://www.youtube.com/watch?v=QLtAZFG_7SA
- 6:54
______
Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part II
http://www.youtube.com/watch?v=XlyWBHmNAeM
- 8:46
_____
Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part III 1/2
http://www.youtube.com/watch?v=WtWv8BzWvM8
- 5:48

Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part III 2/2
http://www.youtube.com/watch?v=bxQmCwYnRmM
- 5:34
______
Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part IV 1/3
http://www.youtube.com/watch?v=orkyNBUUYiY
- 9:47

Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part IV 2/3
http://www.youtube.com/watch?v=EFVfPcTOmrE
- 7:37

Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part IV 3/3
http://www.youtube.com/watch?v=OadJjEwnJ74
- 3:14

SUITE " O TITÃ "
( ESBOÇO)

SINFONIA No 1 - Em ré maior Compositor:
: GUSTAV MAHLER

Parece loucura, mas foi numa tarde comum, enquanto eu pintava ouvindo repetidas vezes a Sinfonia No 1 - Titã, de Mahler,quando sem mais nem menos , me vi diante dum palco ,amando ver cada movimento,absurdamente real, num colorido espetacular, esta representação que agora descrevo.

PERSONAGENS

- Nove dançarinos :
dois homens , sete mulheres

- Três Titãs:
- o Vermelho
- o Azul
- o Amarelo

- Velho Zeus

CENÁRIO


Paisagem de deserto
- Pedras de vários tamanhos, empilhadas e espalhadas
- Alguns galhos modestamente floridos entre flores faíscantes
- Os dançarinos vestem algo como tangas ocres em longos panos
enrolados do joelho até a cabeça, prendendo-lhes os
braços,imitando múmias ou fetos,quase encobrindo os olhos.

- Os Titãs vestem faixas brilhantes, cada qual de uma cor, em tons
pastéis, contornando o peito e com as pontas descendo até aos tornozelos.

- Do Velho Zeus só se vê a enorme barba branca, entre tufos de nuvens
ao alto, no último plano do palco.

PRIMEIRO ATO

1' movimento - Langsam; Schleppend
& 2' movimento - Kräftig bewegt
http://www.youtube.com/watch?v=lFFgzziZrpk

http://www.youtube.com/watch?v=GIweGXA-zF0
-9:45
Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part I 2/2
http://www.youtube.com/watch?v=QLtAZFG_7SA
- 6:54


CENA
- Um silvo profundo e longínquo inicia e anuncia o nascer de um novo dia.
Muito do que parecia ser pedra espalhada no deserto,lentamente se mexe,
espreguiça forçando o levantar cambaleante.
Desajeitados os nativos ensaiam em mímica os primeiros passos, apalpam-se,
descobrindo o corpo, as pernas, depois os braços tentando sincronizá-los
em movimentos rudes de marionetes curiosas.
- Contorcem-se para livrarem-se das faixas que os prendem ,
trombando -se, caem, rolam uns sobre os outros recomeçando novos e
mais ousados toques. Agora mais ágeis experimentam passos e gestos
firmes,cadenciados,repetidos e imitados pelo grupo ora unido,ora .
disperso no entusiasmo de encontros , trombadas irritantes e enlaces .
amorosos até que amigáveis se guiam,caminham e se ajudam.

- A música distante colore com melodia de amanhecer num crescendo e a dança intensifica em ligeira agitação

- Sombras nublam cenário adormecendo-os .a imitar embalo de dias e
noites de sonhos e ao toque da luz recomeçarem dinâmicos e confiantes.

- Predominavam até agora os gestos instintivos que evoluem, ganham leveza;
vai-e-vens que delineiam o aguçar da sensibilidade nascente.

- Repetem o ensaio, lentos,até que surge entre raios festivos,os três Titãs, de .passos largos,certeiros e dominantes. O Titã de faixa amarela empunha uma .
tocha acesa.

- Á entrada dos Titãs, alvoroço, medo e correria para se esconderem atrás .
dos arbustos e das pedras que os Titãs vão retirando , deixando os nativos .
apavorados.

- Numa dança super nova, os Titãs aos poucos vão conquistando os
nativos,presos em suas faixas apertadas.

- Amigáveis, os Titãs dançam em volta da fogueira feita com a tocha e .
aos poucos os nativos vão perdendo o medo do fogo. Dançando mais .
íntimos, os Titãs desenrolam suavemente as faixas amarradas nos corpos .
dos efêmeros, libertando os braços presos nas faixas.

- Devagar,meio tímidos se contorcem,giram,se miram, num crescendo rodopiam alegres,se abraçam festivos.

(Debaixo das faixas, tangas e saiotes ao joelho, quase transparentes )
- Por longos minutos se olham, se apalpam e se enamoram.

- Os Titãs ensinam-lhes novos passos e todos se entregam febrilmente ao .
comando da música. Dos gestos saem trabalhos e em conjunto constroem a .
cidade em módulos ou blocos de pedras,abrindoespaço, desenrolando enormes faixas estampadas de bosque, prédios, fábricas , imponente metrópole, entre danças frenéticas, delírios, correria e novíssimos prazeres embriagadores,apaixonados,quase insanos.

" O Primeiro Ato" é composto dos dois primeiros movimentos :
 http://www.youtube.com/watch?v=lFFgzziZrpk

http://www.youtube.com/watch?v=GIweGXA-zF0
-9:45
Mahler Symphony No. 1 "Titan" Part I 2/2
http://www.youtube.com/watch?v=QLtAZFG_7SA
- 6:54

* Lamgsam; Schleppend
( devagar,vagaroso,lento,compassado;moroso -
lentamente,aos poucos, pé ante pé - arrastado;lânguido)

* Kräftig bewegt
(robusto,forte,substancioso, brioso,reforçado -
agitado,movimentado,encapelado,comovido,emocionado)

O andamento lânguido desenvolve-se para o brioso e emocionado,
longo o bastante para plasmar o mistério da origem e o alçar da
vontade de continuar descobrindo, desenvolvendo a força humana
e a coragem de se jogar à beleza do ritmo da alegria terrestre.
Escolados pelos Titãs, os homens vão modificando o cenário, agora
mais claro,enquanto dançam construindo moderna metrópole.
Unidos,montam uma forte escada,degrau por degrau,símbolo e caminho
de acesso aos céus. ( O cenário é montado rápido no gestual dançante )

Agora os homens já sabem construir organizados,obras de artes que
intensificam seus prazeres super novos. Sentem-se poderosos e audazes
tentam subir e rolam na escada que os levará às estrelas.

- Do alto, o velho Zeus que a princípio se divertia com a "dança" dos
pequenos, começa a se inquietar, sentir-se ameaçado e enfurecido
com os acertos da criatura. Irado, descontrola-se produzindo inúmeros
relâmpagos saídos das suas ventas que se transformam em tempestade.
Num lapso de cólera, conclui ser melhor eliminar as ameaças freqüentes
capazes de invadir seus poderosos sítios, seus segredos, sua majestade.

Com a vaidade ferida,o soberano deus dos céus, decide eliminar
os homens e suas obras.
Ameaçador, Zeus pisa na escada.

FECHA O PANO


SEGUNDO ATO

3o movimento - Feierlich und gemessen
http://www.youtube.com/watch?v=lFFgzziZrpk

O Titã - Radeir - ost-180x140cm

CENÁRIO
Estão no palco grandes faixas azuladas
 reproduzindo moderna cidade.
Bem ao centro destaca-se a sólida escada montada no ato
anterior, a esbarrar nas nuvens, onde Zeus se escondia
 e agora irado, pisa resoluto.
Relâmpagos anunciam a ira divina.

CENA

- Os homens assustados se armam e se empilham, unidos para
lutar e um dos Titãs, o que veste a faixa amarela, o mais corajoso e
sábio, toma para si o encargo de representar e defender a todos.

- Comovido, melódico o Titã começa a "cantar" agradecendo a Vida,
a união das criaturas, as conquistas diárias ao longo dos séculos. Relata poético, diante de Zeus, uma série de momentos árduos que lhes valeram os promissores avanços e conquistas.

Canta na dança a alegria de vencer as tempestades do meio e de si mesmos.
Recria solene cada frase poética captada na beleza deste mundo inculto.
Exalta as maravilhas descobertas nesta natureza.
Canta a mansidão dos rios, a imensidão dos mares, a serenidade
e a silenciosa quietude do carvalho altivo, oferecendo cor, frescor e .
segurança.
Dança cantante a delicadeza das milhares de flores dos caminhos, as belas formas seus distintos perfumes e da maravilha dos frutos coloridos e doces.

Fala da magia das cores, da música - canta a poesia que os nativos
conseguiram a duras penas, colher e recolher nos paradoxos dos
incontáveis enigmas.

Numa cena de extrema beleza o Titã , solene, sobe os degraus e descreve
em dança tântrica a batalha para organizarem-se na busca da razão de existir - Ser

No quarto degrau, ao meio da escada, quase junto de Zeus, o Titã repete
a magnífica cena , (e imitada na união e desdobramento dos corpos nas
laterais ) insistindo, tentando convencê-lo a cantar também, a se
unir neste coro sagrado para eternizá-lo com sua majestosa aprovação.

Insensível e irado Zeus estica o braço na direção ao peito do Titã e
dali pega um fio brilhante, cor de rosa , que ele, Zeus, vai puxando irado, em gestos largos e bruscos, contrastando com leveza dos passos e gestos do Titã, insistente para lhe comover.

Tomado de suprema inveja, fulgura dentro da súbita noite um vendaval
zoando entre raios e trovões estrondosos, enquanto o furor de Zeus
retumba e arranca de vez o fio brilhante da vida do Titã que finalmente
cai fulminado .

O caos impera derrubando a cidade ,transformando-a em escombros sobre
os corpos que repetiram incessantes a dança tântrica .

FECHA CORTINA

TERCEIRO ATO

4o movimento - Stürmisch bewegt
(Tempestuoso, fogoso agitado,movimentado.emocionado)
http://www.youtube.com/watch?v=lFFgzziZrpk


CENÁRIO

A destruição do ato anterior,destacando a escada de sete degraus ao fundo, entre as nuvens.

Zeus, no alto da escada lança um olhar fulminantemente vazio para baixo.
Olha para suas mãos, observa o brilho faiscante retirado do peito do Titã
e num largo gesto comovido empurra forte contra seu próprio peito, como querendo guardar ali a espiral de luz ,o motor da vida, poder e beleza do Titã.

E num lampejo de soberana consciência, constata o terrível silêncio, ao ver o
Titã vencido, inerte, incapaz de produzir o menor ruído , o mais leve movimento melódico...
Desesperado , Zeus gira, mostra-se inteiro, arranca sua enorme túnica branca e dourada, joga-a para cima espalhando uns turbilhãozinhos de estrelas que caem a cobrir o Titã desfalecido aos pés da escada.

Num gigantesco desesperado furor, Zeus vê seu estado real, estupidamente grave e a impiedosa arrogância. Dá-se conta do grande erro . Alucinado esbraveja ao mesmo tempo que uma explosão bombardeia o palco.
Ás últimas faíscas Zeus está de braços caídos - medita, se contorce
de arrependimento - destruíra sua mais bela obra.

Reflete angustiado: ( um côro distante canta seus pensamentos)
- Quem agora iria temê-lo, alegrá-lo ou adorá-lo?
- Quem reacenderia sua sede de poder no reinar?
- Um rei todo poderoso...sem vassalos!

Zeus vê o quanto fugiu dos seus propósitos embasados na razão e nas artes...
Atormenta-o ver endurecida sua sensibilidade e lucidez ao invejar pequenos
conquistadores de raras alegrias. Detém-se em lembrar a superioridade e a
nobreza das criaturas e conclui que só há uma maneira dele se perdoar,
só um modo e meio dele não mais merecer o próprio descomunal desprezo:

- Ele, Zeus, silenciosamente.... nascerá !

E virá nas mesmas condições que impôs às criaturas
Andará pelos mesmos caminhos escuros e pedregosos.
Buscará vencer os mesmos obstáculos das diversas naturezas.

E vai tentar recolher desta caminhada,sem sua "coroa de poder",
a mesmíssima beleza que viu brotar das criaturas indefesas e valentes,
desbravadores de si mesmo .

Num gesto de grande realeza, retira de sua cabeça a brilhante coroa,
arranca as enormes e pomposas barbas e solenemente começa a descer a
escada. Ao pisar o terceiro degrau, perde o equilíbrio e continua a descida
rolando entre raios e trovoadas.

Relâmpagos e cores desgovernados inundam o palco festejando a descida de
mais um ser que se dispõe a nascer.

- As luzes apagam num breve intervalo, depois , bem tênues a mostrar um corpo encolhido qual feto rente às pedras na escuridão.

Aos poucos é iluminado por uma e outra faísca, gerando nele pequenos movimentos.
Esforça-se, tenta livrar-se das amarras ,contorcendo com dificuldade.
O crescimento dele pode ser visto pelo alongamento gestual sempre mais amplo.
Com dificuldade Zeus espreguiça medindo seus limites e rompendo por fim a
imaginária envoltura, ensaia o primeiro sentar cambaleante, enquanto um surdo silvo vindo da escuridão mais densa ao fundo do palco o focaliza, iluminando-o e estimulando-o a levantar-se e seguir na direção do fio de luz azul. que o acordou.

Rápidos clarões.
Abrindo os olhos, assusta-se com a claridade forte avermelhada que lhe bate no rosto.
Tem medo e para vencê-lo contorna com os braços o novo corpo, se protegendo e neste toque vibra de prazer.

Por longo tempo olha cada membro do seu novo corpo, se apalpa carinhoso.
Demonstra o prazer do toque e se repete mais enérgico e confiante.

Devagar levanta, mira ao redor e avista um fio d'água ,toca-a saltitante e brincando se banha.
Todo molhado, dominando seus movimentos, gesticula meio dançante, meio brusco como quem trabalha e luta.

Luta contra o medo da noite, o calor do dia, o cansaço e o sono.
Recomeça arduo trabalho e interminavelmente e sofre.

Sofre abandono, perdas, lutas vãs e descobre quão difícil é sobreviver na natureza sob variações climáticas, nas tempestades que o obrigam a refugiar-se as pressas . Sofre por querer avançar,vencer-se e o buscar a paz inexistente.

Longos momentos de exaustão.
De vez em quando luzes fortes entrecortam o silêncio da impotência reconhecida.

Vai e vem, pula e dança , descansa e luta.
Desperta, levanta a cabeça a procura de ajuda e extático medita olhando o céu.
Volta à fonte, banha-se sereno e vai-se impregnando da música deliciosa que o chama para nova realidade.

Caminha meditativo, acaricia as pedras e empolgado colhe entre a folhagem uma pequenina flor nascida perto do fio d'água, que lhe inspira grande ternura.
Ama-a intensamente e afinal sorri rodopiando feliz
A custo contém-se segurando a florzinha, girando e abraçando a minúscula prenda e num gesto de máxima alegria, ajoelha, adora-a , beija-a e a levanta ao céu.

É agora um homem integrado, reconciliado com a vida e dança a alegria de viver.

Sua felicidade chega aos céus que se abalam movidos pela força da alegria.
Delira dançando sua felicidade de estar aqui,nesta terra tão rústica.

Relâmpagos insistentes jorram numa profusão de raios e uma chuva de flores
coloridas descem por todo o palco.

Reconciliado consigo mesmo, caminha-se confiante para a escada, sobe meio dançante e ao chegar no quarto degrau , contempla o mundo.

As luzes seguem agora a seqüência do arco-íris e quando chega ao violeta,
vê-se Zeus sentado em posição de lótus , em meditação, formando com a união dos dedos um triângulo junto ao peito.

O quarto degrau da escada é mais largo - um patamar no meio dos sete
degraus, e , em recolhimento, lentamente sobem do chão contornando-o ,
enormes pétalas de lótus rosada , tranparentes , leitosas delicadas.
Zeus sentado , ergue os braços e em dança tântrica suave dentro da flor
que lentamente se fecha até formar um gigante botão de lótus iluminado

A enorme flor recebendo foco de luz rosada, volta à cor branca original
radiando luzes ondulantes , e uma intensa luz azul formando um oceano em sua base
( Faixas azuis de plástico transparente, respingadas de tons prateados,
ondulam como mar na base da flor)

Do chão junto da enorme flor de lótus, aos poucos vão subindo raios de luz como se dela saíssem, formando um radiante Sol.
Ao chegar o último feixe de luz a sinfonia solta os últimos acordes.
Encerra a música e por vinte segundos, só fica o Homem-Sol no mais belo silêncio! ( dentro do Lótus branco iluminado.)

FIM ?

Fecha a cortina.
 Li-Sol-30
Fonte:
RADEIR
Autoria:AdeirT.Reis - 1987
Libreto para
Sinfonia No 1, em Ré Maior " O TITÃ "
(Texto de RADEIR,em 1987 e transcrita em 1991)

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